1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Fevereiro de 2016:
Queridos amigos,
Gosto de antemão conhecer os aspetos capitais do que me espera esta ou aquela visita, mas confesso que o melhor da viagem são os encantos do que não estava previsto nem era suposto.
Passei muitas vezes por Setúbal, quase sempre confinado a ir ou a vir da Arrábida, à procura de uma comezaina de peixe e a visitar os monumentos concelebrados, como é o caso do incontornável Convento de Jesus. Desta vez, meti-me lá para as vísceras do casco histórico, e até a casa de Bocage visitei, aprendi que na juventude foi andarilho, foi uma viagem ao proscénio e quanta e quanta surpresa.
Oxalá vos tenha sido útil para os vossos passeios.
Um abraço do
Mário
Ai, se Bocage soubesse ou visse… (3)
Beja Santos
Há casarões bem remodelados e com diversa aplicação. Por exemplo, a espampanante delegação do Banco de Portugal converteu-se em galeria municipal, há casas que transpiram fartura e proprietários ciosos dos imóveis que lhes couberam e os mantêm a preceito. Há aquele slogan turístico que muitas cidades exploram, mas aqui não é desadequado dizer que Setúbal tem tudo o que se prende com qualidade de vida, espaço de recreio, educação e cultura, é evidente que há altos e baixos, vi gente andrajosa e sem trabalho, ali à volta de espaços onde se presta serviço social; e surpreendeu-me a comunicação omnipresente, ali ainda se para na rua para dar dois dedos de conversa e quem não nos conhece não deixa de procurar a faísca da comunicação, dá os bons dias e as boas tardes, é um valor acrescentado que hoje não tem preço.
Aqui temos a Sé, austera, possui harmonia mas é pesadona, bem lhe podiam ter posto torres mais esguias, mas foi assim na Contra-Reforma. Há algumas preciosidades no seu interior, como não dispunha de luz nada se gravou, mais uma razão para voltar. Os céus toldavam-se, a noite seria de intensa chuva, ou era agora ou nunca. E aqui está, um frente a frente pouco iluminado, mas dá para ver como se erguem toneladas de pedra.
A manhã foi ensolarada, o mau tempo começa a apresentar a sua fatura, o céu escurece, sigo pela Baixa setubalense e não resisto a certos pormenores, uma porta pintada a capricho que dá mais relevo e elegância às formas, cativou-me um edifício Arte Deco sóbrio mais cheio de caráter e esta porta lateral da Igreja de S. Julião, bem perto do Bocage que domina Setúbal do alto de uma coluna é irresistível, tem um rendilhado que lhe dá uma singular leveza.
Numa outra era, os armadores de pesca tinha o seu clube, no tempo em que clube se escrevia sem e, agora é um espaço comercial bem aprazível, um kitsch bem controlado, vê-se que procurava ostentar riqueza, entre dourados e rosados e azulados. Está bem preservado, ali fiquei a beberricar café e a agradecer aos céus, em fim de dia, como foi bom ter vindo demoradamente a Setúbal, descobrir novidades, até deambulei por um mercado de velharias, apercebi-me que há muitas coisas a ver no Fórum Luísa Todi, esta noite aqui cantará o nosso melhor soprano, Elisabete Matos. A contragosto, dou por finda a viagem, dando graças por ter sido cumulado por tanta surpresa.
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Nota do editor:
Postes anteriores de:
20 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16320: Os nossos seres, saberes e lazeres (164): Ai, se Bocage soubesse ou visse… (1) (Mário Beja Santos)
e
27 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16338: Os nossos seres, saberes e lazeres (165): Ai, se Bocage soubesse ou visse… (2) (Mário Beja Santos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 3 de agosto de 2016
Guiné 63/74 - P16357: Notas de leitura (865): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte V: o caso do clínico geral Amado Alfonso Delgado (I): queria ir para o Vietname foi parar ao Fiofioli...
Mapa das regiões [frentes e bases] do PAIGC. Os símbolos azuis correspondem aos itinerários percorridos pelo médico Diaz Delgado (de julho de 1966 a dezembro de 1967). Os verdes correspondem ao médico Alfonso Delgado (de abril de 1968 a setembro de 1969). Infogravura adapt. de Supintrep nº 31, fevereiro de 1971, por Jorge Araújo.
Quinta parte, enviada a 13 de julho último, das "notas de leitura" coligidas pelo nosso camarada e grã-tabanqueiro, Jorge Alves Araújo. Trata-se de um extenso documento, que está a ser publicado em diversas partes (*), tendo em conta o formato e as limitações do blogue.
Foto à esquerda:
O nosso grã-tabanqueiro Jorge Araújo: (i) nasceu em 1950, em Lisboa; (ii) foi fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); (iii) fez o doutoramento pela Universidade de León (Espanha), em 2009, em Ciências da Actividade Física e do Desporto, com a tese: «A prática Desportiva em Idade Escolar em Portugal – análise das influências nos itinerários entre a Escola e a Comunidade em Jovens até aos 11 anos»; (iv) é professor universitário, no ISMAT (Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes), Portimão, Grupo Lusófona; (v) para além de lecionar diversas Unidades Curriculares, coordena o ramo de Educação Física e Desporto, da Licenciatura em Educação Física e Desporto].
1. INTRODUÇÃO
Caros tertulianos. Concluímos no P16304 (*) a publicação da primeira de três entrevistas realizadas pelo jornalista e investigador Hedelberto López Blanch a médicos cubanos que estiveram na Guiné Portuguesa [hoje Guiné-Bissau] em missão de “ajuda humanitária” ao PAIGC, na sua luta pela independência.
Estas três entrevistas, associadas a outras doze missões africanas ocorridas em situações e momentos diferentes, como foram os casos de Argélia, Congo Leopoldville, Congo Brazzaville e Angola, estiveram na origem do seu livro, escrito em castelhano, com o título «Histórias Secretas de Médicos Cubanos» [La Habana: Centro Cultural Pablo de la Torriente Brau, 2005, 248 pp. ].[Disponível "on line"em formato pdf, numa versão de pré-publicação].
Recordo que o primeiro entrevistado foi o cirurgião Domingo Diaz Delgado, elemento do primeiro grupo de clínicos chegados à Guiné em 1966, a quem foram formuladas vinte e oito questões relacionadas com a sua missão, desde a tomada de decisão pessoal [finais de 1965] e chegada a Concri,maio de 1966, até ao regresso a Havana, em janeiro de 1968.
Considerando que ela decorreu durante vinte meses, dos quais dezasseis nas matas das frentes Norte e Leste da Guiné [1966-1967], as respostas às questões formuladas dão-nos conta, com bastante detalhe, do modo como foi feita a preparação para a missão, da viagem (secreta) de barco e do processo de inclusão na estrutura do PAIGC.
O depoimento deste homem é interessante para quem quiser conhecer melhor o contexto da guerra de guerrilha, as condições logísticas vividas em bases improvisadas, precárias e com escassos recuros recursos, bem como as misérias e as grandezas da medicina que se podia praticar naquelas condições, cvom o médico opra socorrendo os guerrilheiros feridos nos combates, ora prestando cuidados àss populações sob o seu controlo. Descreveu, também, as actividades operacionais no interior de um bi-grupo durante os primeiros três meses de 1967, na frente Norte [Sambuia], até ao momento em que adoeceu, por paludismo, sendo transferido para Conacri aonde permaneceu durante mais três meses em recuperação. Faz, ainda, referência ao modo como foram passados os últimos seis meses de 1967 na frente Leste, acompanhando os guerrilheiros em actividades operacionais nos corredores entre Madina do Boé e Beli. Regressou a Cuba em janeiro de 1968.
Recordo que o primeiro entrevistado foi o cirurgião Domingo Diaz Delgado, elemento do primeiro grupo de clínicos chegados à Guiné em 1966, a quem foram formuladas vinte e oito questões relacionadas com a sua missão, desde a tomada de decisão pessoal [finais de 1965] e chegada a Concri,maio de 1966, até ao regresso a Havana, em janeiro de 1968.
Considerando que ela decorreu durante vinte meses, dos quais dezasseis nas matas das frentes Norte e Leste da Guiné [1966-1967], as respostas às questões formuladas dão-nos conta, com bastante detalhe, do modo como foi feita a preparação para a missão, da viagem (secreta) de barco e do processo de inclusão na estrutura do PAIGC.
O depoimento deste homem é interessante para quem quiser conhecer melhor o contexto da guerra de guerrilha, as condições logísticas vividas em bases improvisadas, precárias e com escassos recuros recursos, bem como as misérias e as grandezas da medicina que se podia praticar naquelas condições, cvom o médico opra socorrendo os guerrilheiros feridos nos combates, ora prestando cuidados àss populações sob o seu controlo. Descreveu, também, as actividades operacionais no interior de um bi-grupo durante os primeiros três meses de 1967, na frente Norte [Sambuia], até ao momento em que adoeceu, por paludismo, sendo transferido para Conacri aonde permaneceu durante mais três meses em recuperação. Faz, ainda, referência ao modo como foram passados os últimos seis meses de 1967 na frente Leste, acompanhando os guerrilheiros em actividades operacionais nos corredores entre Madina do Boé e Beli. Regressou a Cuba em janeiro de 1968.
Quanto à segunda entrevista, que agora se inicia, tem como principal interlocutor o médico de clínica geral, com experiência em cirurgia, Amado Alfonso Delgado. A sua missão teve início na véspera de Natal de 1967, na companhia de outro médico, voando de Havana até Conacri, com escala em Gander [Canadá], Praga, Paris e Senegal. A sua chegada a Boké, na Guiné-Conacri, aconteceu nos primeiros dias de 1968, aonde se manteve durante três meses, prestando serviço médico no Hospital local, na companhia de mais quatro clínicos cubanos: o cirurgião militar Almenares, um ortopedista, um analista de laboratório e um técnico de raio X.
Em abril de 1968 segue para a frente Leste substituindo o seu companheiro Daniel Salgado, na base de Kandiafara, por este se encontrar doente com uma forte crise palúdica. Nesta base encontravam-se vinte combatentes cubanos. Entre maio de 1968 e setembro de 1969 [dezassete meses], movimentou-se nas matas do Unal e Fiofioli [com passagens e histórias de locais míticos que marcaram a minha vida e a de muitos de nós, como foram os casos do Xime, Ponta Coli, Ponta Varela, Poindon, Ponta do Inglês e Enxalé].[vd. infogravura acima].
É de tudo isto, e de algo mais, que o médico Amado Alfonso Delgado aborda no seu depoimentos.
Porque se trata de uma tradução (com adaptação livre e fixação do texto em português, da minha responsabilidade), não farei juízos de valor sobre o conteúdo desta e das outras entrevistas: apenas coloquei entre parênteses rectos algumas notas avulsas de enquadramento sócio-histórico ao que foi transmitido, com recurso a imagens desse contexto retiradas da Net e dos arquivos do nosso blogue.
2. O CASO DO MÉDICO AMADO ALFONSO DELGADO [I]
Nesta longa entrevista, Amado Alfonso Delgado fala da sua família e dos seus estudos, bem como da decisão, amadurecida, de se oferecer para uma missão internacionalista em apoio à luta do PAIGC. Fala da sua longa viagem de Havana a Conacri, de Conacri a Boké, na fronteira Norte com a Guiné. Recorda as caminhadas longas de sete dias por matas e bolanhas, estas às vezes cheias de sanguessugas, dos terríveis suplícios que eram os mosquitos e as abelhas, enfim, das ofensivas das tropas portuguesas…
A entrevista tem com 25 questões. Hoje apresentamos a resposta (em itálico) às cinco primeiras, com adevdia vénia ao autor, conhecido jornalista cubano Hedelberto López Blanch (n. 1947).
“Cirurgias com a ténue luz de fachos de palha ardendo” (Cap XI, pp. 136 e ss)
“Para Alfonso Delgado foram dias aziagos, de sacrifícios, e por que não, de heroísmo, para servir um movimento de libertação que em meados da década de sessenta [do séc. XX] era o mais organizado e combativo de África”.
Nasceu em 1940 na cidade de Santa Clara [local da última batalha na Revolução Cubana, cujos combates foram liderados pela dupla do Exército Rebelde: Ernesto Che Guevara (1928-1967) e Camilo Cienfuegos Gorriarán (1932-1959), realizada no último dia do ano de 1958, levando ao exilio, nessa data, o então presidente de Cuba, Fulgêncio Batista (1901-1973), primeiro rumando à República Dominicana, depois até à Ilha da Madeira (Portugal) e, por último, a Espanha, onde morreu em Marbella, em 6 de Agosto de 1973, de enfarte do miocárdio].
Até à entrada para a universidade, estudou em colégio particular, dos antigos Maristas, não sem sacrifício opara a família, de origem modesta: a mãe era professora e i pai militar, “Os seus pais fizeram grandes esforços para lhe pagar, que frequentou desde o primeiro grau até ao quinto ano do bacharelato. Com a Universidade de Havana fechada, em 1957, pela ditadura de Fulgêncio Batista, teve procurar os seus pr+óprios meiso de subsistência, tendo trabalhado nomeadamente numa pequena fábrica de tubos em Cotorro [um município situado a sudoeste da Província e cidade de Havana].
Em 1959, a Universidade reabre e o nosso futuro médico começa a estudar medicina..
Na altura da entrevista, era cirurgião do Hospital Docente Clínico-Cirúrgico Dr. Salvador Allende, em Covadonga, Calçada del Cerro, em Havana. [A nova designação de Hospital Dr. Salvador Allende (1908-1973) verificou-se em 1973 em homenagem ao presidente chileno, também ele médico – morto em 11 de setembro de 1973, na sequência do golpe de estado liderado pelo seu chefe das Forças Armadas, Augusto Pinochet (1915-2006). Este estabelecimento de saúde chamava-se originalmenmte Casa de Saúde «Quinta Covadonga», tendo sido inaugurado em março de 1897.
“O início desta casa de saúde «Quinta Covadonga» é atribuído a acção desenvolvida, a partir de 1896, pelo emigrante asturiano (província espanhola) Manuel Valle, contando esta com vários pavilhões sanitários e onde existiam as tecnologias mais avançadas da época. A comunidade asturiana em Cuba passou a contar, desde o seu início, com apoio médico qualificado a preços simbólicos. De referir que esta instituição de saúde dependia do «Centro Asturiano de La Havana», uma sociedade de beneficência que promovia a solidariedade e a assistência entre os naturais das Astúrias e que no início do século XX chegou a ter cem mil sócios. Durante a década dos anos noventa, o governo do Principado decidiu apoiar a reconstrução e modernização deste centro, considerado o maior do sistema sanitário público cubano. Desde 2001 o edifício actual, reconstruído em 1927 por efeito de um incêndio em 1918, serve de sede a colecções de arte universal do Museu Nacional de Belas Artes Cubano]".
Cuba > La Habana > Cerro > Quinta Covadonga > Hospital Docente Clínico Quirúrgico "Dr. Salvador Allende"
[Imagem da respetiva página no Facebook, reproduzida com a devida vénia[
(i) Como eram os estudos de medicina
nesses primeiros anos?
Em setembro de 1959 reiniciaram-se as aulas e eu pertencia ao primeiro grupo de estudantes de medicina depois do triunfo da Revolução. Nessa altura, inscrevíamo-nos sem fazer exame de ingresso. Antes, praticamente não tínhamos de assistir às aulas todos os dias, bastava ir a algumas sessões. Tinham-me dito que para ser bom médico tinha que trabalhar em hospitais, e no primeiro dia perguntei a um estudante se conhecia algum médico.Levou-me, então, ao Hospital Kourí, actual Oncológico, aonde me apresentou a um médico que por sinal era cirurgião, e graças a essa coincidência continuei nessa área desde o início do trabalho como estudante de cirurgia no Kourí. Depois consegui outros locais para praticar, em particular a Clínica Cirúrgica de Havana. Este primeiro grupo de médicos graduou-se em 1965, no Pico Turquino [mapa abaixo], com a presença de Fidel de Castro (n-1926.08.13). Estivemos cinco dias a andar pelas colinas. Apesar de não ser muito desportista eu gostava de andar, e acabei por ser o segundo a chegar ao Pico Turquino entre os mais de trezentos que subimos.
Após a graduação perguntaram-me se queria fazer o Serviço Médico Rural nalgum local específico e perguntei-lhes aonde é que faria falta. Indicaram-me o de Realengo 18, em Guantánamo [enquadramento histórico em http://www.ecured.cu/Ejercito_ Rebelde], um dos lugares mais complicados.
Fui nomeado director da policlínica e depois transferiram-me para o Hospital de Gran Tierra de Baracoa. Ali trabalhava de manhã, à tarde e à noite, e praticamente não descansava para prestar apoio à população. Em Gran Tierra [município do oriente] passei oito meses e quando estou a terminar o Serviço Médico Rural, por volta de agosto de 1967, o director municipal dá-me conta de que existia a oportunidade de cumprir uma missão internacionalista.
(ii) Alguma vez levantou a hipótese
de fazer essa missão?
Num determinado momento tinha expressado ao director do hospital a minha disposição de cumprir uma missão, sobretudo no Vietname pelo heroísmo desse povo, e na verdade sentia-me uma certa pena de não ter participado na guerra contra Batista. Estive afastado da acção política nesses primeiros anos. Creio que houve duas razões que me fizeram mudar, a primeira porque trabalhava com um grupo de cirurgia que ganhava muito dinheiro e quando operavam as pessoas no hospital nem falavam com o paciente. Em contrapartida, quando iam operar numa clínica privada, conversavam com a pessoa, a adulavam, e, por isso, desliguei-me do grupo. A outra teve a ver com “Crise de Outubro” (Crise dos Mísseis), em que fiquei indeciso sobre a posição a tomar.
[O princípio da crise dos misseis em Cuba, nome atribuído ao conflito entre os Estados Unidos, a União Soviética, ex-URSS, e Cuba em outubro de 1962, tem a sua origem na descoberta, por parte de espiões americanos, de bases de mísseis nucleares soviéticos em território cubano. De imediato, os Estados Unidos bloquearam a costa cubana e durante treze dias esteve eminente o início, em Cuba, de uma guerra nuclear, ou seja, a III Guerra Mundial, só ultrapassada pelo acordo a que chegaram as duas superpotências. Mesmo assim os Estados Unidos decidem bloquear totalmente a Ilha, impondo um embargo ao comércio com Cuba e proibindo os seus aliados de estabelecerem relações comerciais com aquele país [vd. enquadramento histórico aqui ].
Aí, as pessoas, ao conversarem sobre este episódio, diziam-me que havia que acordar, uma vez que uns pensavam no socialismo e outros no capitalismo, mas se ocorresse algum conflito, havia que estar do lado dos americanos. Esses dois factos levaram-me a cortar com as relações que tinha. Estive em Santa Clara e Guantánamo e quando regressei conclui a formação, embora os meus colegas de curso praticamente não me conheciam.
Voltando ao tema de partida, acrescento que o director municipal de saúde de Gran Tierra de Baracoa comunica-me que José Ramón Machado Ventura, então ministro da Saúde Pública, necessitava de alguém para uma missão, mas que devia ter absoluta garantia de que a cumpriria. Disse-lhe que iria até onde fosse necessário, perguntando-lhe se seria para o Vietname, mas apenas me foi dito que seria uma missão dura.
(iii) Encontrou-se com Machado Ventura
[, ministro da saúde]?
De Guantánamo apanhei um avião até Havana para me encontrar com Machado Ventura, o qual já conhecia do tempo da pós-graduação, pois esteve no hospital aonde fui director. Um dia ele apareceu por lá, quando estava cheio de utentes. Porque soube que ele vinha, pensando que era uma inspecção, preparei-lhe um quarto, e pus-lhe uma coberta limpa na cama. Mas, em vez de nela se deitar, fê-lo no chão. Perguntei-lhe porquê? Respondeu-me se eu gostaria que ele sujasse a coberta.
Após a entrevista, o dr Machado Ventura despediu-se e pediu-me que estivesse contactável. Três ou quatro dias depois, fui contactado para que comparecesse no Ministério onde dois funcionários se reuniram comigo e disseram-me que a missão era para a Guiné Portuguesa [hoje Guiné-Bissau]. Comecei a preparar-me, pois deram-me roupa, fiz uma carta de despedida e recebi um passaporte como engenheiro agrícola.
(iv) Teve algum treino militar?
Não. Por sorte, quando estive na pós-graduação havia uma companhia serrana, constituída por combatentes que participaram no Realengo 18 [enquadramento histórico identificado acima], e cada vez que acontecia uma mobilização, deslocava-me com eles e sabia já manejar perfeitamente as espingardas: a AK [sigla da arma automática «Kalashnikov», de fabrico soviético] e outras armas, imnagem à esquerda].
(v) Como e quando fez a viagem?
Eu e outro médico voamos do Aeroporto de Havana, fazendo escala em Gander (Canadá), Praga, Paris, Senegal e Guiné-Conacri. Embarcámos no dia 24 de dezembro de 1967, chegámos a Praga a 25 e seguimos para Paris, onde permanecemos dois dias. Na República da Guiné ninguém nos esperava. Recorremos a um carro de aluguer e pedimos para nos levarem até à embaixada cubana. Levaram-nos, então, a uma casa, tocámos e apareceu um companheiro que nos informou que havia uma reunião em casa do embaixador. Dirigimo-nos até lá. Estava a decorrer uma festa e pensei: “Disseram-me que isto era duro e quando chego encontro as pessoas comendo porco e bebendo rum”. A festa, afinal, tinha a ver com a despedida do primeiro e segundo grupos de internacionalistas que regressavam a Cuba [aonde estava, certamente, o cirurgião Domingo Diaz Delgado, o primeiro entrevistado neste trabalho].
O médico que viajou comigo era militante da Juventude [Comunista] e disseram-nos que um de nós iria para um pequeno hospital junto à fronteira com a Guiné-Bissau e o outro iria acompanhar a guerrilha. Pensei que muito provavelmente esta situação seria para o outro, mas foi para mim e que aceitei.
Porém, antes da nossa partida de Havana, tinha viajado por barco um outro grupo de trinta combatentes e seis médicos [final de novembro ou início de dezembro’1967] que, quando cheguei a Conacri, já estavam no interior da Guiné-Bissau.
Continua…
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 14 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16304: Notas de leitura (857): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos: o caso do cirurgião Domingo Diaz Delgado, 1966-68, segundo o livro de H. L. Blanch (2005) - Parte IV: depois de 3 meses em tratamento do paludismo, em Conacri, o médico vai para a frente leste, em junho de 1967, regressando a casa em janeiro de 1968
(*) Vd. poste de 14 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16304: Notas de leitura (857): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos: o caso do cirurgião Domingo Diaz Delgado, 1966-68, segundo o livro de H. L. Blanch (2005) - Parte IV: depois de 3 meses em tratamento do paludismo, em Conacri, o médico vai para a frente leste, em junho de 1967, regressando a casa em janeiro de 1968
(**) Último poste da série > 1 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16352: Notas de leitura (863): "África Misteriosa, Crónicas de viagem", de Julião Quintinha, Editora Portugal Ultramar, 1928 (Mário Beja Santos)
terça-feira, 2 de agosto de 2016
Guiné 63/74 - P16356: Memórias de um médico em campanha (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547) (2): Cadi suma outra mulher
1. Mensagem do nosso camarada Adão Pinho da Cruz, Médico Cardiologista, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com data de 22 de Julho de 2016:
Amigo Carlos
Aí vai mais um conto, rigorosamente verdadeiro, de alguns que escrevi e publiquei há vários anos, e que considero um dos mais belos poemas que me aconteceram na vida.
Adão Cruz
MEMÓRIAS DE UM MÉDICO EM CAMPANHA
2 - Cadi
Cadi era uma mulher esbelta. Uma verdadeira Balanta-Bravo. Não tão bonitas como as Futa-Fulas, as balantas tinham um corpo de fazer inveja a quaisquer outras. A Cadi era o ver-dos-olhos de soldados, sargentos e oficiais. Mas apenas o ver-dos-olhos. Mais do que isso Cadi não permitia. Nós vivíamos dentro de uma cerca de arame farpado, de onde só se podia sair, praticamente, de avioneta. Uma companhia militar e uma população rondando os mil e oitocentos negros. Não é de admirar que qualquer mulher pusesse “os olhos em bico” aos militares. Cadi sabia-o muito bem, e, com uma postura digna e distanciada, contrabalançava a sua condição de negra. Cadi sabia que todos gostariam de “fazer conversa gira” com ela (fazer amor), mas tinha grande orgulho em não deixar que lhe tocassem. Eu admirava muito a maneira de ser da Cadi, que assim se valia do que a natureza lhe dera para impor a sua dignidade de mulher, ainda que negra, faminta, e rudemente colonizada pela “supremacia” branca.
Um dia, começou a constar na tabanca que Cadi não era normal. Cadi “ca tem catota, Cadi ca suma outra mulher”. Na mais rudimentar tradução à letra, isto queria dizer que Cadi não era igual às outras mulheres, pois não tinha “buraquinho”, e, por conseguinte, não podia “fazer conversa gira” nem ter filhos. O boato explodiu como uma granada, e, em pouco tempo, a Cadi transformou-se em “avis rara”, vítima da vingança dos que nunca puderam tocar-lhe e da chacota dos que, mesmo assim sendo, gostariam de o comprovar pessoalmente.
Como as neuroses e as depressões não são apenas doenças de brancos e ricos, Cadi começou a andar muito triste e cabisbaixa. Não parecia a mesma, aquela que todos os dias atravessava a picada com ar garboso, peitos erectos, cabeça erguida e um menear de ancas capaz de provocar desmaios
O meu amigo e Chefe de Posto, cabo-verdiano, numa daquelas conversas que nos ajudavam a matar as intermináveis horas que faziam o eterno tempo de guerra que éramos obrigados a viver nestas paragens do norte da Guiné, disse-me com ar pesaroso:
-Doutor, ando chateado com aquele problema da Cadi. Coitada da moça, quer ir embora, quer ir viver para Binta. Sente uma grande vergonha por aquilo que dizem. Não seria possível fazer alguma coisa por ela? Por exemplo o doutor examiná-la? Ela aceitaria imediatamente. Apesar dos seus vinte anos e de nunca ter saído daqui, é uma rapariga com mentalidade evoluída e uma personalidade admirável.
Combinámos o dia e a hora do exame. Exigi a presença do Chefe de Posto e do meu enfermeiro, o qual, apesar de ser electricista de profissão, foi dos melhores enfermeiros que tive na Guiné.
O exame ginecológico da Cadi era absolutamente normal. Tinha “buraquinho” no mesmo lugar do buraquinho das mais famosas artistas de cinema, e com todos os demais apetrechos com que a natureza dotou as mulheres, brancas ou negras. Cadi podia fazer “conversa gira” com quem quisesse e podia ter filhos.
No dia seguinte, o Chefe de Posto reuniu, debaixo do mangueiro que ensombrava o pátio da sua pequena casa, todos os “Homens Grandes” da tabanca. Eram mais de dez, vestindo a túnica branca de cerimónia, e ostentando o turbante que a sua origem muçulmana impunha. Com ar grave, compenetrados da importância da sua presença, ouviram a comunicação em crioulo que o Chefe de Posto lhes fez.
Não sou capaz de reproduzir na íntegra, e tenho pena, mas posso dizer que foi das coisas mais bonitas que ouvi na minha vida de médico e de homem:
- Homem Grande de tabanca, toda gente conhece Doutor. Doutor ser aquele homem que cura meningite de tanto menino, que ensina maneira certa de parir, que faz fanado limpo de infecção, que levanta de noite toda hora para acalmar sezões. Doutor ter palavra sagrada. E Doutor disse: "Cadi suma outra mulher, Cadi ter catota suma outra mulher, Cadi pude fazer conversa gira e ter filho”.
Os “Homens grandes” da tabanca desfizeram-se em vénias e Cadi foi reabilitada. Ganhou até uma certa auréola de heroína, não só entre a população negra como entre os militares.
Eu tinha um jipe muito velho, quase só rodas e chassi. Com ele costumava ir ver o pôr-do-sol na orla da floresta, junto do arame farpado. Embora a distância não fosse grande, cerca de oitocentos metros, dava uma certa ficha e era motivo para entreter a pequenada em gincanas à volta da tabanca.
Já o sol se havia posto há muito. Demorei-me um pouco mais com a ternura desta gente negra e com as carícias que um velho cego de noventa anos me fazia, todos os dias, à volta da cara e nos cabelos, quando desligava o motor frente à sua palhota, onde me esperava sempre à hora do crepúsculo. Na pequena subida para a povoação, já fora da zona das palhotas, em contraluz, vi um vulto de mulher em estilo de aparição, com os pés na terra mas bem desenhado no céu, que parecia querer falar-me. Aproximei-me o mais possível e parei. Com o seu rosto de diamante negro espelhado de orgulho balanta, envolto num lenço negro como ele, eu tinha na minha frente a Cadi.
- Cadi, que surpresa!
- Dôtô, Cadi manga de satisfação, Cadi feliz, Cadi ca sabe como agradecê, dôtô tudo merece. Cadi mist conversa gira.
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Nota do editor
Último poste da série de 25 de junho de 2016 Guiné 63/74 - P16235: Memórias de um médico em campanha (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547) (1): O Parto - ou o nascimento do Adão Doutor em Bigene
Amigo Carlos
Aí vai mais um conto, rigorosamente verdadeiro, de alguns que escrevi e publiquei há vários anos, e que considero um dos mais belos poemas que me aconteceram na vida.
Adão Cruz
MEMÓRIAS DE UM MÉDICO EM CAMPANHA
2 - Cadi
Cadi era uma mulher esbelta. Uma verdadeira Balanta-Bravo. Não tão bonitas como as Futa-Fulas, as balantas tinham um corpo de fazer inveja a quaisquer outras. A Cadi era o ver-dos-olhos de soldados, sargentos e oficiais. Mas apenas o ver-dos-olhos. Mais do que isso Cadi não permitia. Nós vivíamos dentro de uma cerca de arame farpado, de onde só se podia sair, praticamente, de avioneta. Uma companhia militar e uma população rondando os mil e oitocentos negros. Não é de admirar que qualquer mulher pusesse “os olhos em bico” aos militares. Cadi sabia-o muito bem, e, com uma postura digna e distanciada, contrabalançava a sua condição de negra. Cadi sabia que todos gostariam de “fazer conversa gira” com ela (fazer amor), mas tinha grande orgulho em não deixar que lhe tocassem. Eu admirava muito a maneira de ser da Cadi, que assim se valia do que a natureza lhe dera para impor a sua dignidade de mulher, ainda que negra, faminta, e rudemente colonizada pela “supremacia” branca.
Um dia, começou a constar na tabanca que Cadi não era normal. Cadi “ca tem catota, Cadi ca suma outra mulher”. Na mais rudimentar tradução à letra, isto queria dizer que Cadi não era igual às outras mulheres, pois não tinha “buraquinho”, e, por conseguinte, não podia “fazer conversa gira” nem ter filhos. O boato explodiu como uma granada, e, em pouco tempo, a Cadi transformou-se em “avis rara”, vítima da vingança dos que nunca puderam tocar-lhe e da chacota dos que, mesmo assim sendo, gostariam de o comprovar pessoalmente.
Como as neuroses e as depressões não são apenas doenças de brancos e ricos, Cadi começou a andar muito triste e cabisbaixa. Não parecia a mesma, aquela que todos os dias atravessava a picada com ar garboso, peitos erectos, cabeça erguida e um menear de ancas capaz de provocar desmaios
O meu amigo e Chefe de Posto, cabo-verdiano, numa daquelas conversas que nos ajudavam a matar as intermináveis horas que faziam o eterno tempo de guerra que éramos obrigados a viver nestas paragens do norte da Guiné, disse-me com ar pesaroso:
-Doutor, ando chateado com aquele problema da Cadi. Coitada da moça, quer ir embora, quer ir viver para Binta. Sente uma grande vergonha por aquilo que dizem. Não seria possível fazer alguma coisa por ela? Por exemplo o doutor examiná-la? Ela aceitaria imediatamente. Apesar dos seus vinte anos e de nunca ter saído daqui, é uma rapariga com mentalidade evoluída e uma personalidade admirável.
Combinámos o dia e a hora do exame. Exigi a presença do Chefe de Posto e do meu enfermeiro, o qual, apesar de ser electricista de profissão, foi dos melhores enfermeiros que tive na Guiné.
O exame ginecológico da Cadi era absolutamente normal. Tinha “buraquinho” no mesmo lugar do buraquinho das mais famosas artistas de cinema, e com todos os demais apetrechos com que a natureza dotou as mulheres, brancas ou negras. Cadi podia fazer “conversa gira” com quem quisesse e podia ter filhos.
No dia seguinte, o Chefe de Posto reuniu, debaixo do mangueiro que ensombrava o pátio da sua pequena casa, todos os “Homens Grandes” da tabanca. Eram mais de dez, vestindo a túnica branca de cerimónia, e ostentando o turbante que a sua origem muçulmana impunha. Com ar grave, compenetrados da importância da sua presença, ouviram a comunicação em crioulo que o Chefe de Posto lhes fez.
Não sou capaz de reproduzir na íntegra, e tenho pena, mas posso dizer que foi das coisas mais bonitas que ouvi na minha vida de médico e de homem:
- Homem Grande de tabanca, toda gente conhece Doutor. Doutor ser aquele homem que cura meningite de tanto menino, que ensina maneira certa de parir, que faz fanado limpo de infecção, que levanta de noite toda hora para acalmar sezões. Doutor ter palavra sagrada. E Doutor disse: "Cadi suma outra mulher, Cadi ter catota suma outra mulher, Cadi pude fazer conversa gira e ter filho”.
Os “Homens grandes” da tabanca desfizeram-se em vénias e Cadi foi reabilitada. Ganhou até uma certa auréola de heroína, não só entre a população negra como entre os militares.
Eu tinha um jipe muito velho, quase só rodas e chassi. Com ele costumava ir ver o pôr-do-sol na orla da floresta, junto do arame farpado. Embora a distância não fosse grande, cerca de oitocentos metros, dava uma certa ficha e era motivo para entreter a pequenada em gincanas à volta da tabanca.
Já o sol se havia posto há muito. Demorei-me um pouco mais com a ternura desta gente negra e com as carícias que um velho cego de noventa anos me fazia, todos os dias, à volta da cara e nos cabelos, quando desligava o motor frente à sua palhota, onde me esperava sempre à hora do crepúsculo. Na pequena subida para a povoação, já fora da zona das palhotas, em contraluz, vi um vulto de mulher em estilo de aparição, com os pés na terra mas bem desenhado no céu, que parecia querer falar-me. Aproximei-me o mais possível e parei. Com o seu rosto de diamante negro espelhado de orgulho balanta, envolto num lenço negro como ele, eu tinha na minha frente a Cadi.
- Cadi, que surpresa!
- Dôtô, Cadi manga de satisfação, Cadi feliz, Cadi ca sabe como agradecê, dôtô tudo merece. Cadi mist conversa gira.
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Nota do editor
Último poste da série de 25 de junho de 2016 Guiné 63/74 - P16235: Memórias de um médico em campanha (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547) (1): O Parto - ou o nascimento do Adão Doutor em Bigene
Guiné 63/74 - P16355: Tabanca Grande (492): Fernando Cepa, ex-Fur Mil Art da CART 1689/BART 1913 (Catió, Cabedú, Gandembel e Canquelifá, 1967/69)
1. Mensagens do nosso camarada e novo tertuliamo Fernando Cepa, ex-Fur Mil Art da CART 1689/BART 1913, Catió, Cabedú, Gandembel e Canquelifá (1967/69), com data de 29 de Julho de 2016:
Caro Carlos Vinhal.
Conforme combinado, segue o material relacionado com o texto enviado em separado. Diz-me se recebeste em boas condições. Logo à noite, com mais vagar, faço a minha apresentação e outros esclarecimentos pertinentes.
Estive no inferno de GANDEMBEL, a comandar, sozinho (era o único graduado) um pelotão na terrifica, brutal e desumana operação BOLA DE FOGO. Falta-me tempo para contar a brutalidade das acções e do quotidiano dos arrepiantes e tenebrosos 38 dias vividos dentro dum bafiento, insalubre e consporcado buraco que nos serviu de "hotel" durante a tenebrosa operação BOLA DE FOGO.
O resto fica para depois.
Peço desculpa desta informalidade, mas acontece que não sou um "finório" na forma de lidar com estas modernices das novas tecnologias.
Até já.
Um grande abraço.
Fernando Cepa
Ex-Furriel Miliciano
Cart 1689
Caro Carlos Vinhal,
Cá estou novamente para terminar esta “operação” que teve origem no tema lançado na Tabanca Grande, sobre as facas de mato, objecto multifacetado que servia para tudo, inclusive para limpar as unhas. Já te disse que não sou nenhum prendado a lidar com as novas tecnologias (sou da velha guarda, e, como burro velho não toma andadura …) por isso, não sei o que vai sair desta primeira tentativa de chegar ao convívio da fantástica família da Tabanca Grande. Vamos ver a pessegada que a minha ignorância nos reserva.
Esta minha abordagem resulta do facto de as FACAS DE MATO serem objecto de análise no nosso blogue. Então, lembrei-me, caramba, a minha faca de mato tem direito a figurar no livro de honra da guerra colonial da ex-província da Guiné. E assim, seguiu para a tua superior apreciação, o extrato que retirei da história da CART 1689, registo que já comecei, mas que ainda não acabei.
Perguntarás! Mas porquê, escrever um livro sobre a história da CART 1689? Muito simples, Já fiz um filho, já plantei uma árvore, e, agora, sem grande jeito, para completar a trilogia, vou tentar escrever um livro.
Não gosto muito de falar da minha pessoa, mas para cumprir os “regulamentos” da Tabanca, aqui vai a apresentação da praxe.
2. Combati, forte e feio, na Guiné, de 1967 a 1969, como Furriel Miliciano, integrado na CArt 1689, BArt 1913.
Participei em toda a intensa actividade operacional da CArt 1689, com especial destaque na mítica operação BOLA DE FOGO (Abril e Maio de 1968) que decorreu no Corredor de Guileje para construir (não sei para quê?) o famigerado aquartelamento de GANDEMBEL, muito a propósito batizado de INFERNO DE GANDEMBEL. Para mal dos meus pecados, na ausência (férias e baixas por doença) de todos os graduados do meu pelotão, foi-me entregue o comando do mesmo, por só restar eu, disponível, dentre o alferes e os quatro furriéis. Não foi fácil.
Num ambiente infernal de stress permanente, com o inimigo a atacar todos os dias, consegui levar o barco a bom porto, aliás, na linha do excelente comportamento em combate, evidenciado por toda a CArt 1689, que já anteriormente tinha sido galardoada com a FLÂMULA DE HONRA. Só quem esteve em GANDEMBEL é que pode contar como foi.
Na Guiné, com a CArt 1689, estive estacionado em Fá Mandinga, Catió, Cabedú, Buba, Gandembel, Canquelifá, Dunane e Bissau.
Voltemos à minha apresentação.
Vivo em S. Bartolomeu do Mar (terra da secular e badalada romaria do banho santo, candidata a património imaterial da humanidade), concelho de Esposende e Distrito de Braga.
Actualmente, continuo a dar o meu contributo à sociedade. Sou presidente duma IPSS – instituição particular de solidariedade social – que para além das causas sociais, também tem um fantástico e bem sucedido projecto desportivo, na área do andebol feminino. Para além de cento e muitas atletas, em todos os escalões, acabamos de ser campeões nacionais da 2.ª Divisão, em Seniores, e, para a próxima época, estaremos junto da elite do andebol feminino, a disputar o campeonato nacional da 1.ª Divisão.
Falo do Centro Social da Juventude de Mar – Esposende. Eh pá, esqueci-me do tempo. Já chega.
3. Vamos as fotos que te mandei.
A actual, é fresquinha, tem 30 dias. Já agora, nasci a 23 de Agosto de 1944.
Nota: Mantenho frequentes contactos com os tabanqueiros Alberto Branquinho e José Ferreira da Silva.
Tens carta branca para fazeres o que bem entenderes sobre o material que te enviei.
Um rijo abraço do
Fernando Cepa
Ex-Furriel Milicaino
CArt 1689/BArt 1913
4. Operação Inquietar
Mas que bela apresentação. Caríssimo camarada Fernando Cepa, sê bem-vindo à nossa caserna virtual, ou Tabanca Grande, tertúlia, essencialmente de ex-combatentes da Guiné, onde temos como missão deixar material escrito e fotografado que sirva, um dia, para ajudar a contar a história da guerra naquela pequena parcela de África onde tanto sangue se derramou.
Escusado será dizer-te para escolheres um bom lugar à sombra do nosso poilão, pois já nos conheces através dos teus especiais amigos e camaradas Alberto Branquinho e José Ferreira da Silva, ambos bons contadores de histórias, aos quais devemos as melhores páginas deste blogue.
Se o Branquinho já publicou, o Zé e tu estarão para fazê-lo também muito em breve. O Ferreira já sabe, e tu ficas agora a saber, que estamos ao vosso inteiro dispor para fazermos a divulgação dos vossos livros.
A Op Inquietar poderia ter sido para ti a primeira e a última. Olha se não tinhas saído da "casca"?
A situação que nos contas, de estares tu a desembarcar e o teu irmão a embarcar, foi infelizmente mais vulgar do que à partida possa parecer. Houve inclusive caso de irmãos ao mesmo tempo na mesma província.
Estou a lembra-me, assim de repente, de um caso semelhante ao teu, o do meu amigo Veiga Pereira da CCAÇ 2405 (1968/70), que sendo de Matosinhos é teu vizinho aí em Esposende, que chegado da Guiné em Junho, viu o seu irmão André embarcar em Julho, na 27.ª CComandos, também para aquele TO.
Lembro ainda os 6 Irmãos Magro que serviram nos três Teatros de Operações, talvez o caso mais emblemático da nossa guerra.
Pobres mães, o quanto sofriam naquele tempo. Elas sim foram as verdadeiras heroínas da Guerra do Ultramar.
Uma vez que és do Norte, tens pelo menos duas Tabancas que poderás visitar, a de Matosinhos, todas as quartas-feiras, e a dos Melros, em Fânzeres-Gondomar. Esta última, como saberás, é frequentada pelo Zé da CART. E por mim, de vez em quando. Não esqueças também a nossa reunião anual onde teremos muito prazer na tua companhia.
Muito obrigado por te juntares a nós.
Termino, deixando aqui, para ti, um abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores.
CV
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Nota do editor
Último poste da série de 26 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16335: Tabanca Grande (491): Adão Pinho da Cruz, Médico Cardiologista, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)
Caro Carlos Vinhal.
Conforme combinado, segue o material relacionado com o texto enviado em separado. Diz-me se recebeste em boas condições. Logo à noite, com mais vagar, faço a minha apresentação e outros esclarecimentos pertinentes.
Estive no inferno de GANDEMBEL, a comandar, sozinho (era o único graduado) um pelotão na terrifica, brutal e desumana operação BOLA DE FOGO. Falta-me tempo para contar a brutalidade das acções e do quotidiano dos arrepiantes e tenebrosos 38 dias vividos dentro dum bafiento, insalubre e consporcado buraco que nos serviu de "hotel" durante a tenebrosa operação BOLA DE FOGO.
O resto fica para depois.
Peço desculpa desta informalidade, mas acontece que não sou um "finório" na forma de lidar com estas modernices das novas tecnologias.
Até já.
Um grande abraço.
Fernando Cepa
Ex-Furriel Miliciano
Cart 1689
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Caro Carlos Vinhal,
Cá estou novamente para terminar esta “operação” que teve origem no tema lançado na Tabanca Grande, sobre as facas de mato, objecto multifacetado que servia para tudo, inclusive para limpar as unhas. Já te disse que não sou nenhum prendado a lidar com as novas tecnologias (sou da velha guarda, e, como burro velho não toma andadura …) por isso, não sei o que vai sair desta primeira tentativa de chegar ao convívio da fantástica família da Tabanca Grande. Vamos ver a pessegada que a minha ignorância nos reserva.
Esta minha abordagem resulta do facto de as FACAS DE MATO serem objecto de análise no nosso blogue. Então, lembrei-me, caramba, a minha faca de mato tem direito a figurar no livro de honra da guerra colonial da ex-província da Guiné. E assim, seguiu para a tua superior apreciação, o extrato que retirei da história da CART 1689, registo que já comecei, mas que ainda não acabei.
Perguntarás! Mas porquê, escrever um livro sobre a história da CART 1689? Muito simples, Já fiz um filho, já plantei uma árvore, e, agora, sem grande jeito, para completar a trilogia, vou tentar escrever um livro.
Não gosto muito de falar da minha pessoa, mas para cumprir os “regulamentos” da Tabanca, aqui vai a apresentação da praxe.
2. Combati, forte e feio, na Guiné, de 1967 a 1969, como Furriel Miliciano, integrado na CArt 1689, BArt 1913.
Participei em toda a intensa actividade operacional da CArt 1689, com especial destaque na mítica operação BOLA DE FOGO (Abril e Maio de 1968) que decorreu no Corredor de Guileje para construir (não sei para quê?) o famigerado aquartelamento de GANDEMBEL, muito a propósito batizado de INFERNO DE GANDEMBEL. Para mal dos meus pecados, na ausência (férias e baixas por doença) de todos os graduados do meu pelotão, foi-me entregue o comando do mesmo, por só restar eu, disponível, dentre o alferes e os quatro furriéis. Não foi fácil.
Num ambiente infernal de stress permanente, com o inimigo a atacar todos os dias, consegui levar o barco a bom porto, aliás, na linha do excelente comportamento em combate, evidenciado por toda a CArt 1689, que já anteriormente tinha sido galardoada com a FLÂMULA DE HONRA. Só quem esteve em GANDEMBEL é que pode contar como foi.
Foi demasiado mau, violento, vexante, imprudente, desumano, sem respeito pela dignidade dos soldados portugueses, reduzidos sem dó nem piedade, à condição de bichos do mato, encafuados durante 38 dias em buracos bafientos, escavados no chão, de pá e pica na mão.
Bem já me perdi, Gandembel fica para outras calendas.
Bem já me perdi, Gandembel fica para outras calendas.
Na Guiné, com a CArt 1689, estive estacionado em Fá Mandinga, Catió, Cabedú, Buba, Gandembel, Canquelifá, Dunane e Bissau.
Voltemos à minha apresentação.
Vivo em S. Bartolomeu do Mar (terra da secular e badalada romaria do banho santo, candidata a património imaterial da humanidade), concelho de Esposende e Distrito de Braga.
Depois de devolvido à vida civil, fiz carreira na área financeira (banca) passando à reforma com o posto de gerente bancário. Andei muitos anos na politica, exercendo funções como presidente de junta, vereador na câmara municipal e adjunto do presidente da câmara.
O que faço agora? Muita coisa!
Actualmente, continuo a dar o meu contributo à sociedade. Sou presidente duma IPSS – instituição particular de solidariedade social – que para além das causas sociais, também tem um fantástico e bem sucedido projecto desportivo, na área do andebol feminino. Para além de cento e muitas atletas, em todos os escalões, acabamos de ser campeões nacionais da 2.ª Divisão, em Seniores, e, para a próxima época, estaremos junto da elite do andebol feminino, a disputar o campeonato nacional da 1.ª Divisão.
Falo do Centro Social da Juventude de Mar – Esposende. Eh pá, esqueci-me do tempo. Já chega.
3. Vamos as fotos que te mandei.
A actual, é fresquinha, tem 30 dias. Já agora, nasci a 23 de Agosto de 1944.
Faca de mato que foi baleada na operação Inquietar - Caneta Parker, Rádio Sharp 7Transistor e ventoínha
Testando a poderosa bazooka em Gandembel.
A meus pés, a entrada do buraco que me serviu de alojamento durante 38 dias em Gandembel
Em Buba, fisicamente debilitado, passados três dias sobre o fim da operação Bola de Fogo em Gandembel.
Nota: Mantenho frequentes contactos com os tabanqueiros Alberto Branquinho e José Ferreira da Silva.
Tens carta branca para fazeres o que bem entenderes sobre o material que te enviei.
Um rijo abraço do
Fernando Cepa
Ex-Furriel Milicaino
CArt 1689/BArt 1913
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4. Operação Inquietar
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5. Comentário do editorMas que bela apresentação. Caríssimo camarada Fernando Cepa, sê bem-vindo à nossa caserna virtual, ou Tabanca Grande, tertúlia, essencialmente de ex-combatentes da Guiné, onde temos como missão deixar material escrito e fotografado que sirva, um dia, para ajudar a contar a história da guerra naquela pequena parcela de África onde tanto sangue se derramou.
Escusado será dizer-te para escolheres um bom lugar à sombra do nosso poilão, pois já nos conheces através dos teus especiais amigos e camaradas Alberto Branquinho e José Ferreira da Silva, ambos bons contadores de histórias, aos quais devemos as melhores páginas deste blogue.
Se o Branquinho já publicou, o Zé e tu estarão para fazê-lo também muito em breve. O Ferreira já sabe, e tu ficas agora a saber, que estamos ao vosso inteiro dispor para fazermos a divulgação dos vossos livros.
A Op Inquietar poderia ter sido para ti a primeira e a última. Olha se não tinhas saído da "casca"?
A situação que nos contas, de estares tu a desembarcar e o teu irmão a embarcar, foi infelizmente mais vulgar do que à partida possa parecer. Houve inclusive caso de irmãos ao mesmo tempo na mesma província.
Estou a lembra-me, assim de repente, de um caso semelhante ao teu, o do meu amigo Veiga Pereira da CCAÇ 2405 (1968/70), que sendo de Matosinhos é teu vizinho aí em Esposende, que chegado da Guiné em Junho, viu o seu irmão André embarcar em Julho, na 27.ª CComandos, também para aquele TO.
Lembro ainda os 6 Irmãos Magro que serviram nos três Teatros de Operações, talvez o caso mais emblemático da nossa guerra.
Pobres mães, o quanto sofriam naquele tempo. Elas sim foram as verdadeiras heroínas da Guerra do Ultramar.
Uma vez que és do Norte, tens pelo menos duas Tabancas que poderás visitar, a de Matosinhos, todas as quartas-feiras, e a dos Melros, em Fânzeres-Gondomar. Esta última, como saberás, é frequentada pelo Zé da CART. E por mim, de vez em quando. Não esqueças também a nossa reunião anual onde teremos muito prazer na tua companhia.
Muito obrigado por te juntares a nós.
Termino, deixando aqui, para ti, um abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores.
CV
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Nota do editor
Último poste da série de 26 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16335: Tabanca Grande (491): Adão Pinho da Cruz, Médico Cardiologista, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)
Guiné 63/74 - P16354: Manuscrito(s) (Luís Graça) (88): “Para cá do Marão mandam os que cá estão,/ Que até aqui Basto eu!” (Luís Jales Oliveira)
É costume dizer-se que Basto não é Minho nem Trás-os-Montes, é ambas as coisas. De facto, as Terras de Basto estão divididas administrativamente por dois distritos, localizadas numa zona de transição entre o Litoral Norte e o Interior de Trás-os-Montes. Contudo, os concelhos que as constituem (Cabeceiras de Basto, Celorico de Basto, Mondim de Basto e Ribeira de Pena) representam uma zona contínua e homogénea centrada sobre o Rio Tâmega, considerado, por si só, um elemento tradicionalmente aglutinador. Aliás, a água é o elemento sempre presente em Basto, quer pela sua qualidade e importância nas actividades rurais tradicionais, desde os vinhedos aos lameiros, quer pela beleza que confere à paisagem.As paisagens de Terras de Basto encontram-se dispostas em anfiteatro sobre o Tâmega e limitadas por um conjunto de formações montanhosas o que, em termos físicos, lhe confere uma grande coesão interna. Com vias de comunicação deficientes, tanto com o exterior como a nível interno, até há bem pouco tempo, constituem, hoje, com as novas acessibilidades, um “concentrado” de ruralidade de fácil acesso para uma partida à descoberta do Portugal genuíno – onde a terra ainda é medida em “carros de pão”, “pipas de vinho” e “cabeças de gado” que alimentam.”
In Terras de Basto, sítio da Probasto
1. Há terras do Portugal profundo que tem a sorte de ter o seu poeta, cantor ou músico... Mondim de Basto, ou melhor, as Terras de Basto, têm o privilégio de, a par da beleza telúrica, da tradição histórica e do património cultural, poderem orgulhar-se da voz que as canta. Se uma imagem vale mil palavras, um poema é um caleidoscópio. Não há fotografia que substitua um poema.
Luís Jales de Oliveira é filho de Mondim de Basto, nosso camarada, membro da nossa Tabanca Grande. Recorde-se que foi fur mil trms inf, Agrup Trms de Bissau e CCAÇ 20 (Bissau e Gadamael Porto, 1972/74). É autor de um dos mais belos poemas, que eu tenho lido, sobre a a Guiné e a guerra colonial: Se eu de ti me não lembrar, Jerusalém (Gadamael Porto, Guiné, 1973)" (*).
Já aqui fizemos referência ao seu livro "Corre-me um Rio no Peito" [ed. de autor, 2010, Mondim de Basto, 72 pp. ], que merece uma leitura mais atenta e saboreada, numa esplanada à beira mar, nestas tardes quentes de agosto.
Hoje trago, com notas rápidas, manuscritas, salpicadas de areia e maresia (**), um outro livrinho, mais antigo, onde o Tâmega, o seu "rio sagrado" e a sua "fonte de inspiração", a par do Monte da Senhora da Graça, antigo vulcão, continuam a ser dois pontes cardeais, balizas ou âncoras do poeta. O livrino, de 49 páginas, foi editado em 1995.
Dele tomo a liberdade de escolher e reproduzir, com a devida vénia quatro ou cinco poemas, que evocam com magia e emoção aquelas terras de que eu também sou vizinho (pelo lado da Alice), mas conheço mal, ou seja, como turista apressado, isto é, como "estúpido em férias", motorizado... Lido a esta distância (física e temporal), o livro do Luís Jales é um apelo a um visita, mais demorada e sentida, às "terras de Basto", numa próxima oportunidade.
Num exemplar autografado que o autor teve a gentileza de me remeter pelo correio, escreveu como dedicatória:
"Aqui vai um 'cheirinho' do nosso Basto, para o Luís Graça, com um enorme e reconhecido abraço".
Num exemplar autografado que o autor teve a gentileza de me remeter pelo correio, escreveu como dedicatória:
"Aqui vai um 'cheirinho' do nosso Basto, para o Luís Graça, com um enorme e reconhecido abraço".
Fonte: Luís Jales Oliveira – Basto (poemas). [Mondim de Basto], edição de autor, 1995, 49 pp. [Obra subsidiada pela programa LEADER Probasto]
GRAÇA
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 16 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16208: Blogpoesia (453): "Se eu de ti me não lembrar, Jerusalém (Gadamael Porto, Guiné, 1973)", de Luís Jales de Oliveira: um dos mais belos poemas da guerra colonial, inspirado pelo Rio Cacine, mas com o Rio Tâmega no coração, quando o poeta, vindo de Bolama, estava a caminho de Gadamel onde foi colocado com a sua CCAÇ 20
GRAÇA
No cimo do monte
há uma capela,
E cada veza
que olho para ela,
Apetece-me
voar…
E humilde
peregrino,
Vou em
ânsias de menino,
Lá rezar.
No cimo do monte
há uma capela,
E cada veza
que entro nela,
Vivo um
mistério profundi:
Senhora,
Senhora,
Que feitiço
derramais,
Que o mais comum dos mortais
Que o mais comum dos mortais
A teus pés é
Rei do Mundo ?
p. 43
CAMILO
Pairando em
redor como fantasma,
Da mais bela de Friúme,
Da mais bela de Friúme,
Camilo
viverá, segundo o plasma,
Do amor, da
loucura e do ciúme.
E aqui, “por
entre fragas,
Onde nascem
flores que são mulheres”,
Cumpre-se a
sina:
O estro de
Camilo ri-se das chagas,
Colhendo,
apaixonado, malmequeres,
Para o
túmulo de Joaquina!
p. 40
BASTO
Somos Minho
e Trás-os-Montes,
Somos
sequeiros e fontes,
Dualidade
assumida!..
Somos ânsia
de arado,
Somos vinha
de enforcado,
A
enroscar-se na vida!
p. 26
TERRAS DE BASTO
A Norte,
Quadrilátero
esqueratelado,
Que o
sagrado Tâmega escancara,
E franqueia,
Entre Douro
e Minho lhe fadou a sorte,
Avara,
Por entre fragas de epopeia.
Quinhão,
Que a coluna
vertebral do mundo,
No cilo
ardente dos castos,
Emprenha,
Lameira e
Alvão, Cabreira e Marão,
Padastros,
Da Rainha
montanha.
E feitiço
dos feitiços,por olhado ou condição,
O tempo
gerou o reino que o pr+óprio tempo escondeu:
Para cá do Marão mandam cá os que cá estão,
Para cá do Marão mandam cá os que cá estão,
Que até
aqui Basto eu!
p. 15
VISÃO
Desta meteórica fraga altaneira,
Partem sedentos os olhos quando te chamo:
Bendita sejas, ó terra, na terra inteira;
Este é o ditoso Basto que eu tanto amo!
p. 17
p. 15
VISÃO
Desta meteórica fraga altaneira,
Partem sedentos os olhos quando te chamo:
Bendita sejas, ó terra, na terra inteira;
Este é o ditoso Basto que eu tanto amo!
p. 17
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(*) Vd. poste de 16 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16208: Blogpoesia (453): "Se eu de ti me não lembrar, Jerusalém (Gadamael Porto, Guiné, 1973)", de Luís Jales de Oliveira: um dos mais belos poemas da guerra colonial, inspirado pelo Rio Cacine, mas com o Rio Tâmega no coração, quando o poeta, vindo de Bolama, estava a caminho de Gadamel onde foi colocado com a sua CCAÇ 20
segunda-feira, 1 de agosto de 2016
Guiné 63/74 - P16353: Meu pai, meu velho, meu camarada (48): No 10º aniversário da morte do meu pai (Victor Barata, fundador e comandante do blogue Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74,
30 de junho de 2016
[Reproduzido aqui com a devida vénia e um alfabravo fraterno para o Victor, um dos veteranos do nosso blogue]
Atendo recebendo a triste notícia de que o meu pai estava mal e tinha ido para o Hospital.
De imediato entro na minha viatura e percorro os 100 km que me separavam do local (Lousã) em 45m.
Chego ao centro de saúde deste concelho e deparo com a minha querida mãe, sozinha, sentada no muro com a mala â frente dos joelhos, um pouco despenteada, completamente desolada e a chorar. Tento ganhar forças para a enfrentar,pois a situação transmitia-me a notícia que menos esperava, não consegui. Já não tinha o meu QUERIDO E SAUDOSO PAI VIVO!
Chego ao centro de saúde deste concelho e deparo com a minha querida mãe, sozinha, sentada no muro com a mala â frente dos joelhos, um pouco despenteada, completamente desolada e a chorar. Tento ganhar forças para a enfrentar,pois a situação transmitia-me a notícia que menos esperava, não consegui. Já não tinha o meu QUERIDO E SAUDOSO PAI VIVO!
Neste momento sinto nos meus lábios a frieza da tua testa como quando, deitado naquela pedra fria, te beijei.
Ai. Paizinho, quantas saudades tenho de si, meu AMIGO! De seu olhar que dizia mais que mil de palavras.
Que saudade de sua mão que sempre me foi oferecida nos momentos em que eu mais me sentia só. Quantas vezes ela me guiou pelos caminhos do medo, das incertezas ?
Meu pai, quanta saudade tenho de si. Já passaram 10 anos sem o ver, sem o escutar. 10 anos de um silêncio assustador, mas compreensível pois você jamais concordaria que eu estivesse aí em seu lugar.
Sou o que você me fez ser. Um homem honesto, cheio de amor ao próximo, desprovido de soberbas, tolerante e amigo de todos os meus semelhantes.
Consigo aprendi a mais sublime das virtudes humanas: a solidariedade e o respeito, a liberdade e o direito de exercê-la.
Ter sido seu filho foi uma experiência única.
Sabe, pai, hoje eu derramei uma lágrima mas ela não foi muito amarga talvez porque você aí do céu, me tenha poupado e adocicado com boas lembranças, a saudade e o amargo que meus olhos teimaram em derramar.
Feliz de quem assim, como eu, teve um pai tão virtuoso no amar e educar, como tive.
A foto que apresento [, acima,] foi aquela,entre muitas que me deixou,tirado em 1952 no muro da Marginal junto á praia de São Amaro de Oeiras.
Victor Barata [, foto atual à esquerda]
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Nota do editor:
Último poste da série > 25 de outubro de 2015 >Guiné 63/74 - P15289: Meu pai, meu velho, meu camarada (47): A minha mãe terá adorado esta fotografia do seu namorado, pelo aprumo e elegância, realçados pela distinção da farda que lhe assentava tão bem, que se lhe assemelhava a um general conquistador (Francisco Baptista)
Último poste da série > 25 de outubro de 2015 >Guiné 63/74 - P15289: Meu pai, meu velho, meu camarada (47): A minha mãe terá adorado esta fotografia do seu namorado, pelo aprumo e elegância, realçados pela distinção da farda que lhe assentava tão bem, que se lhe assemelhava a um general conquistador (Francisco Baptista)
Guiné 63/74 - P16352: Notas de leitura (864): "África Misteriosa, Crónicas de viagem", de Julião Quintinha, Editora Portugal Ultramar, 1928 (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Julho de 2015:
Queridos amigos,
Li Mário Domingues às carradas na juventude. O pretexto era a história de Portugal, Mário Domingues constava do acervo da Biblioteca Municipal das Galveias, no Largo do Campo Pequeno, ali passava as tardes, sobretudo nas férias. E chegava a casa e o Mário Domingues era motivo de conversa, a propósito do Infante Dom Henrique ou do Marquês de Pombal, Domingues escrevia compulsivamente. Só muito mais tarde soube que ele escrevera mais de uma centena de livrinhos de aventuras extraordinárias com espiões e faroeste à mistura. Ora Domingues, fiquei a saber, era amigo de Julião Quintinha e este ofereceu-lhe África Misteriosa onde falou da Guiné, talvez o primeiro relato depois da pacificação.
Fica tudo explicado o que me levou hoje a recordá-los, e o pretexto foi a Guiné.
Um abraço do
Mário
Julião Quintinha, a Guiné e Mário Domingues
Beja Santos
Encontrei na Feira da Ladra "África Misteriosa, Crónicas de viagem", de Julião Quintinha, Editora Portugal Ultramar, 1928. Não é a primeira vez que falamos aqui de Julião Quintinha e até já se fez recensão desta “África Misteriosa” que lhe fez receber o Prémio da Literatura Colonial de 1928 da Agência Geral das Colónias. Para surpresa de muitos, a capa é de Bernardo Marques, um artista modernista então em fase ascendente e que marcou profundamente o design gráfico português até à década de 1960. Convém recapitular que a escrita de Quintinha era muito impressiva, lúbrica, o olhar penetrante do repórter é uma constante das suas crónicas. Quando ele se despede da Guiné descreve assim os Bijagós: “Chegam notícias de uma pequena rebelião nalgumas ilhas do arquipélago dos Bijagós. Uma questão de impostos prontamente debelada. Do arquipélago, além de Bolama, fazem parte as ilhas de Canhambaque, Bubaque, Agó Pequeno, Galinhas, Sogá, Eguba, Agó Grande, Orango, Uracene, Uno, Umbocomo, Caraxa, Caravela, Ponta, Maio, João Vieira e Formosa. E dizem-me que é interessante país, ainda bastante em, estado primitivo, onde há grande riqueza de palmares, coconote e algumas tentativas de industrialização europeia. Estes Bijagós veneram uma rainha, chamada Pampa, servida por um ministro Bufo; as mulheres usam saias de folhas de árvore e, quando virgens, cobrem a cabeça de barro; os homens têm o encanto dos chapéus velhos, e quase nus cobrem-se apenas com uma pequena tanga de coiro. Impossível visitar essas terras de conhecer a sua gente feliz. O navio vai largar. Pela última vez vejo Bolama à luz dos relâmpagos de uma grande trovoada. Dentro em poucas horas, a Guiné será no meu roteiro mais uma saudade…”.
Viajou pela Guiné entusiasmado mas nem sempre bem informado: inventou doze etnias, que a população andaria num milhão de habitantes… E desabafa perante tanta miséria e falta de tudo: “Só há pouco começamos a cumprir a nossa missão colonizadora. Nada fizemos nestes cinco séculos de ocupação”.
Fala da desordem, das doenças, da falta de dinheiro e da administração. É um relato a que não podemos ficar insensíveis, será mesmo primeiro depoimento depois da pacificação operada por Teixeira Pinto.
Mas a que propósito é que estamos a falar do que já foi falado sobre este livro de Julião Quintinha? É que este exemplar encontrado na Feira da Ladra tem uma dedicatória para Mário Domingues, um escritor que me fez muita companhia na juventude. Mário Domingues (1899-1977) foi uma figura apaixonante. Inventou aventuras extraordinárias com os heróis Anton Ogareff e Billy Keller, os autores seriam Henry Dalton e Philip Gray. Acontece que estes autores não existiam, o autor era Mário Domingues, um talentoso escritor são-tomense que escreveu às carradas de livros históricos: sobre Inês de Castro na vida de D. Pedro, a vida do Condestável, o Infante Dom Henrique, D. João II, D. Manuel I, o Padre António Vieira, Bocage, Fernão Mendes Pinto, Liberais e Absolutistas… É um nunca mais acabar de relatos históricos numa escrita verdadeiramente compulsiva. Foi também crítico de pintura, onde exaltou Almada Negreiros, Eduardo Viana, António Soares e Jorge Barradas. Fenómeno único para o seu tempo, decidiu viver só da escrita, e daí mais de uma centena de romances policiais e de aventuras extraordinárias.
E a ligação fica feita pelo mesmo Bernardo Marques que o desenhou.
A Guiné é capaz de abrir a boceta de Pandora a muitos mistérios e surpreender-nos como Julião Quintinha nos trouxe até Mário Domingues, oriundo também de África, e um espantoso plumitivo, injustamente esquecido.
Nota do editor
Último poste da série de 29 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16345: Notas de leitura (862): Os Vampiros, BD de Filipe de Melo e Juan Cavia, Tinta-da-China, 2016 (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Li Mário Domingues às carradas na juventude. O pretexto era a história de Portugal, Mário Domingues constava do acervo da Biblioteca Municipal das Galveias, no Largo do Campo Pequeno, ali passava as tardes, sobretudo nas férias. E chegava a casa e o Mário Domingues era motivo de conversa, a propósito do Infante Dom Henrique ou do Marquês de Pombal, Domingues escrevia compulsivamente. Só muito mais tarde soube que ele escrevera mais de uma centena de livrinhos de aventuras extraordinárias com espiões e faroeste à mistura. Ora Domingues, fiquei a saber, era amigo de Julião Quintinha e este ofereceu-lhe África Misteriosa onde falou da Guiné, talvez o primeiro relato depois da pacificação.
Fica tudo explicado o que me levou hoje a recordá-los, e o pretexto foi a Guiné.
Um abraço do
Mário
Julião Quintinha, a Guiné e Mário Domingues
Beja Santos
Encontrei na Feira da Ladra "África Misteriosa, Crónicas de viagem", de Julião Quintinha, Editora Portugal Ultramar, 1928. Não é a primeira vez que falamos aqui de Julião Quintinha e até já se fez recensão desta “África Misteriosa” que lhe fez receber o Prémio da Literatura Colonial de 1928 da Agência Geral das Colónias. Para surpresa de muitos, a capa é de Bernardo Marques, um artista modernista então em fase ascendente e que marcou profundamente o design gráfico português até à década de 1960. Convém recapitular que a escrita de Quintinha era muito impressiva, lúbrica, o olhar penetrante do repórter é uma constante das suas crónicas. Quando ele se despede da Guiné descreve assim os Bijagós: “Chegam notícias de uma pequena rebelião nalgumas ilhas do arquipélago dos Bijagós. Uma questão de impostos prontamente debelada. Do arquipélago, além de Bolama, fazem parte as ilhas de Canhambaque, Bubaque, Agó Pequeno, Galinhas, Sogá, Eguba, Agó Grande, Orango, Uracene, Uno, Umbocomo, Caraxa, Caravela, Ponta, Maio, João Vieira e Formosa. E dizem-me que é interessante país, ainda bastante em, estado primitivo, onde há grande riqueza de palmares, coconote e algumas tentativas de industrialização europeia. Estes Bijagós veneram uma rainha, chamada Pampa, servida por um ministro Bufo; as mulheres usam saias de folhas de árvore e, quando virgens, cobrem a cabeça de barro; os homens têm o encanto dos chapéus velhos, e quase nus cobrem-se apenas com uma pequena tanga de coiro. Impossível visitar essas terras de conhecer a sua gente feliz. O navio vai largar. Pela última vez vejo Bolama à luz dos relâmpagos de uma grande trovoada. Dentro em poucas horas, a Guiné será no meu roteiro mais uma saudade…”.
Viajou pela Guiné entusiasmado mas nem sempre bem informado: inventou doze etnias, que a população andaria num milhão de habitantes… E desabafa perante tanta miséria e falta de tudo: “Só há pouco começamos a cumprir a nossa missão colonizadora. Nada fizemos nestes cinco séculos de ocupação”.
Fala da desordem, das doenças, da falta de dinheiro e da administração. É um relato a que não podemos ficar insensíveis, será mesmo primeiro depoimento depois da pacificação operada por Teixeira Pinto.
Mas a que propósito é que estamos a falar do que já foi falado sobre este livro de Julião Quintinha? É que este exemplar encontrado na Feira da Ladra tem uma dedicatória para Mário Domingues, um escritor que me fez muita companhia na juventude. Mário Domingues (1899-1977) foi uma figura apaixonante. Inventou aventuras extraordinárias com os heróis Anton Ogareff e Billy Keller, os autores seriam Henry Dalton e Philip Gray. Acontece que estes autores não existiam, o autor era Mário Domingues, um talentoso escritor são-tomense que escreveu às carradas de livros históricos: sobre Inês de Castro na vida de D. Pedro, a vida do Condestável, o Infante Dom Henrique, D. João II, D. Manuel I, o Padre António Vieira, Bocage, Fernão Mendes Pinto, Liberais e Absolutistas… É um nunca mais acabar de relatos históricos numa escrita verdadeiramente compulsiva. Foi também crítico de pintura, onde exaltou Almada Negreiros, Eduardo Viana, António Soares e Jorge Barradas. Fenómeno único para o seu tempo, decidiu viver só da escrita, e daí mais de uma centena de romances policiais e de aventuras extraordinárias.
E a ligação fica feita pelo mesmo Bernardo Marques que o desenhou.
A Guiné é capaz de abrir a boceta de Pandora a muitos mistérios e surpreender-nos como Julião Quintinha nos trouxe até Mário Domingues, oriundo também de África, e um espantoso plumitivo, injustamente esquecido.
Julião Quintinha num desenho de Bernardo Marques
____________Nota do editor
Último poste da série de 29 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16345: Notas de leitura (862): Os Vampiros, BD de Filipe de Melo e Juan Cavia, Tinta-da-China, 2016 (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P16351: Álbum fotográfico de Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089, ao tempo do BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto, 1971/73) - Parte VIII: Visita do Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas Portuguesas (CEMGFA) , gen Costa Gomes, a Teixeira Pinto, em junho de 1973
Foto nº 35
Foto nº 34
Foto nº 36
Foto nº 37
Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > CCS/BCAÇ 3863 (1971/73) Foto nº 32 > Junho de de 1973 > Fotos nºs 34 a 37 > Imagens da visita do Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas Portuguesas (CEMGFA) , gen Costa Gomes, a Teixeira Pinto .
Fotos (e legenda): © Francisco Gamelas (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089 (Teixeira Pinto, 1971/73), adido ao BCAÇ 3863 (1971/73) (*).
Francisco Gamelas, que é engenheiro eletrotécnico de formação, quadro superior da PT Inovação reformado, vive em Aveiro, e publicou recentemente "Outro olhar - Guiné 1971-1973" (Aveiro, 2016, ed. de autor, 127 pp. + ilust; preço de capa 12,50 €). Os interessados podem encomendá-lo ao autor através do seu email pessoal franciscogamelas@sapo.pt. O design é da arquiteta Beatriz Ribau Pimenta, a partir da foto. nº 29. Tiragem: 150 exemplares. Impressão e acabamento: Grafigamelas, Lda, Esgueira, Aveiro.
_____________
Nota do editor:
(*) Último poste da série > 29 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16346: Álbum fotográfico de Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089, ao tempo do BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto, 1971/73) - Parte VII: No dia em que as motos correram na avenida
(*) Último poste da série > 29 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16346: Álbum fotográfico de Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089, ao tempo do BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto, 1971/73) - Parte VII: No dia em que as motos correram na avenida
domingo, 31 de julho de 2016
Guiné 63/74 - P16350: Blogpoesia (463): "Tapada real" e "Claudio Abado...", por J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728
1. Mais dois belíssimos poemas do nosso camarada Joaquim Luís
Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66), dos muitos que nos vai enviando ao longo da semana, e que nós recebemos com prazer:
Tapada real…
Tenho na frente,
Cercada dum muro,
Uma tapada silente.
Adormece e acorda comigo.
Foi mata real.
Um século a fio.
Mudaram os tempos.
Com eles os reis.
Vieram os tropas,
Tornou-se uma selva,
Preparando a guerra.
Exercícios reais.
A bonança da paz,
Mudou-lhe as cores.
Mudaram os hóspedes.
Um jardim zoológico,
Recreio do povo,
Um espaço de paz.
Bendiz Portugal…
Tapada de Mafra, 31 de Julho de 2016
Amanheceu cinzento
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Claudio Abado...
Sinto a falta de ver no palco,
este gigante de batuta em punho.
Galvanizando tudo.
Gestos largos. Abraçando todos,
Que bela arte!...
Num repente, nos elevava aos céus.
Incandescente, apegava o fogo.
Uma orquestra a arder.
Se elevava a música,
era tanta a força,
tudo arrastava.
Parava o tempo.
A alma ardia.
Rachmaninov em fogo.
Uma maravilha!
Que pena!
Claudio Abado.
Se quedou para sempre...
ouvindo Rachmaninov, concerto nº 2 piano e orquestra
Bar Caracol, 31 de Julho de 2016
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
____________
Nota do editor
Último poste da série de 24 de julho de 2016 Guiné 63/74 - P16327: Blogpoesia (462): "A mulher de bengala..." e "Densa carapaça de nevoeiro...", por J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728
Tapada real…
Tenho na frente,
Cercada dum muro,
Uma tapada silente.
Adormece e acorda comigo.
Foi mata real.
Um século a fio.
Mudaram os tempos.
Com eles os reis.
Vieram os tropas,
Tornou-se uma selva,
Preparando a guerra.
Exercícios reais.
A bonança da paz,
Mudou-lhe as cores.
Mudaram os hóspedes.
Um jardim zoológico,
Recreio do povo,
Um espaço de paz.
Bendiz Portugal…
Tapada de Mafra, 31 de Julho de 2016
Amanheceu cinzento
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
************
Claudio Abado...
Sinto a falta de ver no palco,
este gigante de batuta em punho.
Galvanizando tudo.
Gestos largos. Abraçando todos,
Que bela arte!...
Num repente, nos elevava aos céus.
Incandescente, apegava o fogo.
Uma orquestra a arder.
Se elevava a música,
era tanta a força,
tudo arrastava.
Parava o tempo.
A alma ardia.
Rachmaninov em fogo.
Uma maravilha!
Que pena!
Claudio Abado.
Se quedou para sempre...
ouvindo Rachmaninov, concerto nº 2 piano e orquestra
Bar Caracol, 31 de Julho de 2016
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
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Nota do editor
Último poste da série de 24 de julho de 2016 Guiné 63/74 - P16327: Blogpoesia (462): "A mulher de bengala..." e "Densa carapaça de nevoeiro...", por J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728
Guiné 63/74 - P16349: (Ex)citações (315): A minha faca de mato... Esta não foi emprestada para a foto, fazia parte do meu equipamento e tive que a devolver no final da comissão... Foi disponibilizada a todo o pessoal da minha companhia (Souisa de Castro, ex-1º cabo cripto, Xime e Mansambo, 1972/74)
Foto: © Sousa de Castro (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Ao contrário do que se diz no poste P16342 (*), a faca do mato não era só disponibilizada aos graduados, mas sim a todos soldados, pelo menos na CART 3494 foi assim.
Fazia parte do armamento que tive de entregar no fim, conforme a foto documenta... Esta não foi emprestada para a foto! Foi-me distribuída juntamente com a G-3 no Xime.
SdC
_______________Fazia parte do armamento que tive de entregar no fim, conforme a foto documenta... Esta não foi emprestada para a foto! Foi-me distribuída juntamente com a G-3 no Xime.
SdC
Nota do editor:
Último poste da série > 28 de julho de 2016 > ão original, que usávamos no CTIG... Um ícone que "passeou" comigo, de Guileje e Gadamael a Nhacra e Paunca, entre 1972 e 1974... (J. Casimiro Carvalho, ex-fur mil op esp / ranger, CCAV 8350 e CCAÇ 11)
Último poste da série > 28 de julho de 2016 > ão original, que usávamos no CTIG... Um ícone que "passeou" comigo, de Guileje e Gadamael a Nhacra e Paunca, entre 1972 e 1974... (J. Casimiro Carvalho, ex-fur mil op esp / ranger, CCAV 8350 e CCAÇ 11)
Guiné 63/74 - P16348: Parabéns a você (1113): Manuel Augusto Reis, ex-Alf Mil Cav da CCAV 8350 (Guiné, 1972/74)
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Nota do editor
Último poste da série de 30 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16347: Parabéns a você (1112): Amaral Bernardo, ex-Alf Mil Médico do BCAÇ 2930 (Guiné, 1970/72); Júlio Costa Abreu, ex-1.º Cabo Comando do Grupo Centuriões (Guiné, 1964/66) e Victor Tavares, ex-1.º Cabo Caç Paraquedista da CCP 121 (Guiné, 1972/74)
Nota do editor
Último poste da série de 30 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16347: Parabéns a você (1112): Amaral Bernardo, ex-Alf Mil Médico do BCAÇ 2930 (Guiné, 1970/72); Júlio Costa Abreu, ex-1.º Cabo Comando do Grupo Centuriões (Guiné, 1964/66) e Victor Tavares, ex-1.º Cabo Caç Paraquedista da CCP 121 (Guiné, 1972/74)
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