[Foto à direita; Abílio Duarte , ex-fur mil, CART 2479, mais tarde CART 11 e, finalmente, já depois do regresso à metrópole do Duarte, CCAÇ 11, a famosa Companhia de “Os Lacraus de Paunca” (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70); est+a reformado como banc+ario do BNU - Banco Nacional Ultramarino]:
Olá, Luís,
Num almoço, aqui uns anos atrás, realizado em Coimbra, pelo nosso canarada Aurélio Duarte, o Umaru Baldé esteve presente, não sei quem o levou, mas quem o trouxe para a Amadora fui eu.
Tenho algumas fotos em que ele está, mas não consegui encontrá-las, mas continuarei a procurar, caso o Valdemar tenha ou outro camarada nosso, principalmente o alf [Mário] Pina Cabral ou o [1º cabo] cripto Leonel.
Vem este meu comentário, porque ao ler acima as tuas questões (*), veio-me á lembrança, a grande conversa que tivemos, os dois, desde Coimbra.
Contou-me todas essas aventuras, que já estão relatadas, e das dezenas de vezes que tentou entrar em Portugal, segundo me disse que quando veio para Portugal, veio da Líbia, onde conheceu alguém que o levou a trabalhar para a construção civil, e que trabalhou para a SOMEC. aquando da EXPO 98.
Pela primeira vez ouvi relatos do que aconteceu aos antigos nossos camaradas de armas, especialmente Fulas, e o assassínio de vários militares em armazéns de Bambadinca.
Penso que o alferes a que ele se refere é o alf [Mário] Pina Cabral, que foi o seu comandante, durante a instrução em Contuboel [, no CIMC - Centro de Instrução Militar de Contuboel], e a quem , pelo que ele me contou, escreveu muitas cartas. Foi com uma Carta de Recomendação, daquele Camarada, que ele veio para Portugal [, em 15/4/1999].
Naquela altura em que foi este almoço, ele já não trabalhava, estava doente e em casa, aqui na Amadora. Na altura deixou o seu NIB bancário para que o pudessem ajudar, o que felizmente alguns de nós fizeram.
Quando encontrar as fotos enviarei.
Agora um aparte, sobre uma conversa que tive com o ex-presidente Luís Cabral, quando este foi corrido pelo 'Nino', e veio, como outros, para Portugal!!!
Ele e o Vitor Saúde Maria e mais alguns, ficaram como exilados politicos numa casa que aqui há na Amadora, para o efeito.
Um dia deu-me na tampa. O Luís Cabral era cliente do BNU - Banco Nacional Ultramarino, na Amadora, eu estava lá colocado, e cada vez que via o dito, dizia para mim, "Porra, este gajo anda sempre bem disposto e a rir, parece que a ele não aconteceu nada". Então ele veio ter comigo, que estava a espera de uma transferência, referente a comissões de um negócio qualquer, tratei-me de informar e disse-lhe o que havia... Ao despedir-se, pedi-lhe para me dar um minuto de atenção, e perguntei-lhe se achava bem o acolhimento que o Governo Português, lhe estava a dar, comparado com aquilo qque o PAIGC fez aos soldados africanos PORTUGUESES, na Guiné.
A resposta foi: pegou-me na mão, olho-me com aquela cara de sorriso eternamente satisfeito, e afirmou: "A vida e a politica dá muitas voltas". E assim foi na sua paz de alma.
E nós a aguentar isto, depois dele foi o 'Nino' que foi corrido [do poder], e também veio para Portugal.
Só os nossos camaradas que juraram a nossa Bandeira, é que ficaram indefesos, nas mãos destes criminosos.
Por hoje um abraço.
Abílio Duarte´
Agora um aparte, sobre uma conversa que tive com o ex-presidente Luís Cabral, quando este foi corrido pelo 'Nino', e veio, como outros, para Portugal!!!
Ele e o Vitor Saúde Maria e mais alguns, ficaram como exilados politicos numa casa que aqui há na Amadora, para o efeito.
Um dia deu-me na tampa. O Luís Cabral era cliente do BNU - Banco Nacional Ultramarino, na Amadora, eu estava lá colocado, e cada vez que via o dito, dizia para mim, "Porra, este gajo anda sempre bem disposto e a rir, parece que a ele não aconteceu nada". Então ele veio ter comigo, que estava a espera de uma transferência, referente a comissões de um negócio qualquer, tratei-me de informar e disse-lhe o que havia... Ao despedir-se, pedi-lhe para me dar um minuto de atenção, e perguntei-lhe se achava bem o acolhimento que o Governo Português, lhe estava a dar, comparado com aquilo qque o PAIGC fez aos soldados africanos PORTUGUESES, na Guiné.
A resposta foi: pegou-me na mão, olho-me com aquela cara de sorriso eternamente satisfeito, e afirmou: "A vida e a politica dá muitas voltas". E assim foi na sua paz de alma.
E nós a aguentar isto, depois dele foi o 'Nino' que foi corrido [do poder], e também veio para Portugal.
Só os nossos camaradas que juraram a nossa Bandeira, é que ficaram indefesos, nas mãos destes criminosos.
Por hoje um abraço.
Abílio Duarte´
Lourinhã, Vimeiro_> 25º Convívio da CART 2479 / CART 11, "Os Lacraus" (Contuboel, Nova Lamego, Piche, 1969/70) > 30 de maio de 2015 > Da direita para a esquerda, o Pinheiro e o Pina Cabral.
Foto (e legenda): © Valdemar Queiroz & Renato Monteiro (2015). Todos os direitos rservados (Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
2. Comentário do editor:
O nosso "puto" Umaru Baldé, como eu lhe chamava, levou 24 anos (!) a chegar a Portugal [desde que, perseguido, foi forçado a sair da sua terra natal, em 31/12/1974, governada então por Luís Cabral (1931-2009)]...
Depois da última (?) estação do calvário, a Líbia, conseguiu por fim um visto para entrar na "Pátria Portuguesa" que ele tanto amava, .... Chegou doente a Portugal... Esteve internado cerca de 10 meses, ao longo do ano 2000, nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde, mesmo sem título de residência, segundo ele conta numa das suas cartas. Acabou por sobreviver mais cinco anos, tendo morrido, ao que sabemos, em finais de 2004 (, segundo o nosso amigo, camarada e grã-tabanqueiro, António Fernando Marques, ex-fur mil at inf, CCAÇ 12, Contuboel e Bambabinca, 1969/71. que deu em vida todo o apoio possível ao Umaru Baldé e que foi ao seu funeral).
Sabemos que o Umaru voltou à Guiné-Bissau, em 2003, e regressou, cada vez mais doente, a Portugal, para morrer no antigo Hospital do Barro (ou no Hospital Curry Cabral ?), onde, ironicamente, haveria também de morrer, cinco anos mais tarde, em 30/5/2009, o antigo presidente da Guiné-Bissau, igualmente vítima de doença prolongada, como o Umaru Baldé...
Hipoteticamente, poder-se-iam ter encontrado, no "terminal da morte" que era então o Hospital de Barro (hoje desativado), a "vítima" (Umaru Baldé) e o "carrasco" (Luís Cabral)... Há um forte simbolismo nesta eventual coincidência... De qualquermkodo, os dois passaram pelo Hospital do Barro, "terminal da morte", memso que em épocas diferentes, o Umaru Baldé, pelo menos em 2000, e o Luís Cabral, em 2008...
Não é preciso recordar que foi no tempo de Luís Cabral. que se assistiu à perseguição, prisão, tortura e, em muitos casos, execução brutal, sumária, pública ou clandestina, de antigos militares guineenses que integraram as nossas NT (incluindo milícias e polícia administrativa).
Não é preciso recordar que Luís Cabral, o primeiro presidente da Guiné-Bissau independente, foi derrubado por um golpe de Estado de 14 de novembro de 1980, levado a cabo pelo seu camarada 'Nino' Vieira (1939-2009).
Aberta a "caixa de Pandora" da violência revolucionária, os guerrilheiros no poder começaram, eles próprios, a matar-se uns aos outros. 'Nino' ´é cruelmente assassinado em 2/3/2009, dois meses antes da morte "natural" de Luís Cabral, exilado em Portugal e que o nosso camarada Abílio Duarte conheceu como "simples cliente" da agência do BNU na Amadora....
Enfim, ironias da História!... De resto, eu acredito mais na justiça dos homens (leia-se, da História) do que na justiça divina... Se há um "juízo final", é o da História, é a História que nos vai julgar a todos... (LG)
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Nota do editor:
Postes anteriores da série:
27 de setembro 2016 > Guiné 63/74 - P16527: (In)citações (100): As outras cartas da guerra... Do Umaru Baldé, da CART 11 e CCAÇ 12, para o Valdemar Queiroz (Parte II): "Portugal, os portugueses e os políticos que querem esquecer os passados" (sic)... Ou a Pátria portuguesa que lhe foi madrasta...
26 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16525: (In)citações (99): As outras cartas da guerra... Do Umaru Baldé, da CART 11 e CCAÇ 12, para o Valdemar Queiroz (Parte I): "Filho único e menino, minha mãe chorou quando, em 12 de março de 1969, alferes me foi buscar a Dembataco para defender a pátria portuguesa"