1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 26 de Outubro de 2017:
Queridos amigos,
Ponto final nos festejos do cinquentenário da arribação a S. Miguel. É bom ter como guia um jovem na casa dos 20 anos, desciam-se memórias, o jovem sorri com aquelas memórias que parecem histórias de encantar, o viandante fala de uma miséria que já não existe, a vida açoriana transfigurou-se na mobilidade e nas comunicações, na educação e na saúde, o que fica daquela passado é o perfil arquitetónico, uma crença religiosa sem paralelo, o gosto pelos jardins, uma hospitalidade sem rival, uma gastronomia de bivalves, queijos, pimentas, cozidos, estrugidos, queijadas e outras preciosidades conventuais.
Açorianidade é inquietação: emigração ou viagem, uma permanente saudade antes de partir, casas com rocha vulcânica, a humidade obsidiante, o roçagar da onda oceânica, uma maneira peculiar de permanecer e comunicar.
Um abraço do
Mário
À sombra de um vulcão adormecido (1)
Beja Santos
Aqui se põe termo final às festividades do cinquentenário do meu descobrimento de S. Miguel. Chegado em Outubro de 1967, regressei em Lisboa em Março de 1968, seguiu-se o Regimento de Infantaria n.º 1, na Amadora, dali sai com o labéu de “ideologicamente inapto para a guerra de contraguerrilha, mormente no Ultramar português, passei 26 meses na Guiné, no regresso voltei a Ponta Delgada, e com dulcificantes intermitências fui consolidando amizades e um afeto quase sobrenatural à região. Que melhor coroa de glória para o encerramento das festas que permanecer uma semana a fio no paraíso do Vale das Furnas? Foi o que aconteceu, segue-se o relato, uma verdadeira história de encantar.
A uma certa distância deste vale chegaram os primeiros povoadores à Povoação Velha, desbastaram mata e sentiam-se atraídos por um estranhíssimo fenómeno natural. Urbano de Mendonça Dias, numa edição de autor de 1936, exatamente com o título "História do Vale das Furnas", procura descrever a curiosidade e o temor dos primitivos povoadores: “Mas – uma língua de fogo – que por vezes aparecia estendida no espaço saído por detrás dos montes que lhes ficavam ao poente, do seu provisório acampamento, enchia-se, na verdade, de terror, se bem que ansiassem, ainda que com perigo, conhecer aquele fenómeno tão extraordinário que ocupava semelhante faixo de luz no céu”. Meteram ombros à obra, enveredaram pelo mato densíssimo com o padre capelão na vanguarda e avançaram para uma profunda cova que, pensaram, teria sido o assento de um altíssimo monte, e ali avistaram nuns sítios esbranquiçados e estéreis um vapor espesso, avermelhado, que parecia uma língua de fogo.
Subiram a cova, desceram ao vale, sempre riscando do caminho e descobriram uma bacia de vulcões – três sulfatares – e puseram-lhe nomes: Lagoa Escura, Lagoa Barrenta e Lagoa Grande. Estavam encontradas as furnas ou caldeiras e começava o escrutínio daquelas águas de sabor tão diferente que com o tempo foram metidas em três grupos: águas do sanguinhal, águas férreas, águas das quenturas e das grotinhas. Segundo Urbano de Mendonça Dias, sempre invocando a sapiência incontornável de Gaspar Frutuoso, foi assim que se descobriu e reconheceu este extenso vale, produto de várias erupções vulcânicas, fertilíssimo, verdejante, com as duas furnas formidáveis a vomitarem fogo e lama e água fervente.
Alguém lhe chamou “Rascunho do paraíso termal”, o que para o caso interessa é que os da Povoação Velha usaram o Vale das Furnas para pastoreio e propriedades. Ali por 1614, chegaram ermitas, foi sol de pouca dura porque a erupção vulcânica de 1630 queimou e assolou o Vale das Furnas. Aqui estiveram os Jesuítas, o local chamava-se Alegria, o viandante interroga-se se há alguma conexão entre este lugar e a igreja que tem hoje o nome de Nossa Senhora da Alegria. O que para o caso interessa é que o lugar ganhou fama edénica, que jamais perdeu, um cônsul norte-americano aqui fez casa e botou-lhe um tanque de água férrea, espaço que hoje pertence à Sociedade Terra Nostra, comprado aos herdeiros do Marquês da Praia e Monforte, em 1936, daí as linhas puríssimas Arte Deco do hotel. Para que a digressão e estadia ganhe alguma consistência, convém lembrar que o viandante saído do aeroporto foi regalar-se com bicuda grilhada no Borda d’Água, na Lagoa e foi rever uma paisagem esquecida, há decénios, a Caloura, aqui houve convento, recolhimento, aqui se pesca e se estadia numa atmosfera idílica.
Visitada a praia e o convento, alguém chama a atenção ao viandante que é do miradouro do Pisão que se desfruta a vista em anfiteatro da Caloura, vamos lá de seguida, tem-se muita sorte porque o céu não está forrado, nem minimamente plúmbeo, capta-se uma imagem do que é hoje um velho porto e um respeitadíssimo ermitério, da primitiva cristandade açoriana.
Pergunta alguém ao viandante: “Conhece o Santuário de Nossa Senhora da Paz?”. E a resposta veio humilde e sincera: “De certeza que não é do meu tempo, há cinquenta anos não estava cá”. Sobe-se ao Santuário, tem escadaria imponente, a primeira lembrança que vem à mente é a Senhora do Sameiro, mas aqui o desfrute impõe-se por que a Senhora da Paz tem plateia oceânica e um silêncio absoluto, derredor.
Não há estação do ano que não seja um cabaz de surpresas florais. Em pleno Outubro as bermas e os recantos aparecem marcados pela beladona ou bordões de S. José que aqui tem outro nome popular: “Meninos para a escola"; talvez porque a flor irrompa com o início do ano escolar, não se encontra outra explicação. E aqui se fica especado, a contemplar a formosura da paisagem, antes de partir para o Vale das Furnas, o acordado local de veraneio fora da época.
(Continua)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 20 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18112: Os nossos seres, saberes e lazeres (245): São Torpes, entre Sines e Porto Covo (2) (Mário Beja Santos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 27 de dezembro de 2017
Guiné 61/74 - P18145: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte V: Nova Lamego e São Domingos
Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > São Domingos
Foto 242 – O Dakota 655 a levantar voo da pista de S.
Domingos, talvez em abril ou maio de 68. Os abastecimentos e as deslocações
daquela zona eram feitas por avião ou barco, a via terrestre estava
interditado. As fotos das aeronaves eram feitas em muitas posições, e o normal
era captar o avião numa pequena vala, deitado e virado com a máquina para o ar.
Tenho fotos espectaculares, espontâneas, inéditas. A visita do Dakota
significava a vinda e ida de militares, e o correio, e os víveres frescos,
armamento e munições urgentes.
Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > São Domingos
Foto 408 – É um impressionante pôr de sol, em São Domingos, 1968, época
das chuvas, possivelmente entre maio e outubro. Tenho muitas destas, acho que
parece o cogumelo da bomba atómica de Hiroxima e Nagasáqui. Para conseguir isto
era preciso esperar às 6 horas da tarde, início da noite, e esperar a sorte
para apanhar o sol e nuvens. Até merece ir para o concurso das melhores
fotos!...
Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAªÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Nova Lamego
Foto 727 – Esta é uma rua de Nova Lamego, já era uma
cidadezinha com ruas e população, alguns civis brancos, mas muito poucos, e
eram Libaneses comerciantes. A tropa ocupava vários edifícios, isolados uns dos
outros, mas aqui era o centro das operações do sector Leste, comandado pelo
nosso Batalhão, tínhamos sob o nosso comando 17 unidades, entre várias
Companhias da metrópole, comandos locais, milícias, pelotões independentes num
total de cerca de 3000 homens, espalhados por Madina do Boé, Beli, Cabuca,
Piche, Canquelifá, Buruntuma, Pirada, e tantas outras. Aqui os abastecimentos
também eram feitos por via terrestre, organizavam-se colunas de muitas
viaturas, fazia-se o percurso de 70 km até Bambadinca, onde descarregavam no
porto os nossos abastecimentos. Também me coube a mim comandar algumas destas
colunas, nunca tivemos problemas de maior, tínhamos Bafatá pelo meio, e aquilo
era mais ou menos seguro. Estivemos lá entre outubro de 67 e fevereiro de 68.
Guiné > Região de Gabu >Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Foto s/n > Coluna Nova Lamego-Piche. De pé, o alferes mil SAM Virgílio Teixeira.
Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]
´
Quanto ao assunto da foto de Piche, é assim:
Eu fiz uma pesquisa completa nos meus papéis e fotos e em especial pelo livro original que tenho da 'História da Unidade - BCAÇ 1933'. Neste livro está cá tudo que passou sob o comando do BCAÇ 1933, quer em Nova Lamego, em Bissau - um mês - e em São Domingos.
Foram muitas unidades que no total não andam longe de 40 a 50, não vou contá-las agora. Parte das Companhias orgânicas, como a CCAÇ 1792 foi um mês mais tarde e para outras zonas, e a CCAÇ 1791 andou por Farim etc, só a CCAÇ 1790 esteve em Nova Lamego, mas a maior parte do tempo sob o comando doutro batalhão, BCAÇ 2832, salvo erro.
Faziam parte das Unidades sob o comando do nosso Batalhão de NL, a CCAV 1662, eles tinham um pelotão em Nova Lamego, e por isso fazíamos muitas deslocações entre estas duas unidades. Estive a ler ontem muita coisa à procura do Capitão da 1662. Realmente encontrei-o, é mesmo o Cap Mil António Sousa Pereira, e encontrei o nome dele nas páginas dos Louvores, recebeu um Louvor no dia 1-3-68 do Comandante do Batalhão, que nessa altura era o nosso Ten Cor Armando Vasco de Campos Saraiva, e foi feito mais ou menos na hora da despedida de Nova Lamego. O nosso Cap Sousa Pereira era um homem bem fixe, por isso eu gostava de ir lá, Não sei a qual Batalhão pertencia esta Companhia, eu julgo que era do BCAV 1915 que nós fomos render em Nova Lamego, mas não encontrei nada, inclusive no blogue da Tabanca Grande, por isso não afirmo.
Nunca mais osube deste camarada Capitão Sousa Pereira, pode ser que ele venha a ver a foto e dê sinais de vida, oxalá!
Curiosamente encontrei uma foto da autoria do alf mil médico Lema Santos, na hora do embarque, em 4 de agosto de 1969, mas tirada de terra para o mar, ao contrário das minhas, pois eu já estava no Uíge desde o dia anterior, e muita tropa também embarcou de terra no porto de Bissau, e foi essa que ele postou - é assim que se chama? - Pelos vistos ele anda por aí também na Tabanca Grande
Sobre a nossa foto, está à esquerda um Homem da terra, pertencia lá à religião cujo templo é o fundo da foto, depois temos o capitão [António Sousa Pereira, cmdt da CCAV 1622] o nosso médico, alf mil Lema Santos, eu, Virgilio Teixeira, e ao meu lado direito um cabo do meu batalhão que me lembro bem dele, mas não sei o nome nem o que fazia em concreto na nossa companhia.
Alf inf Gamboa Foto: Academia Militar,com a devida vénia |
Uma ou duas horas depois vem uma informação de uma emboscada com minas e a noticia que um dos mortos era o alf Gamboa. Foi um choque. Apanharam um turra que fez parte dessa emboscada e trouxeram-no para Nova Lamego já morto, foram os elementos do pelotão AML 1143 e foi exposto na praça pública. Tenho fotos dessa exposição pública, não sei se interessa mostrar isto. Sei que depois se fizeram algumas barbaridades e eu, apesar de fotografar alguma coisa, não participei nesse baile.
Nessa noite fizemos o velório do Gamboa, ele usava um chapéu de cowboy americano com as abas para cima. Foi uma grande perda, pois falamos algumas vezes. (***)
2. Continuação da publicação de um conjunto de fotos, selecionadas, do álbum do nosso camarada Vírgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) (*).
Cremos que o Virgílio Teixeira é o primeiro alferes miliciano SAM - Serviço de Administração Militar, a integrar a nossa Tabanca Grande. É economista reformado.
Recorde-se que o nosso camarada Virgílio Teixeira passou o Natal de 67 em Nova Lamego, e o Natal e Fim de Ano de 68 em São Domingos (**)
Como fez questão de partilhar connosco a sua vida militar, sabemos que o Virgílio Teixeira:
(i) entrou em Mafra, na Escola Prática de Infantaria (EPI), em 3 de janeiro de 1967, ainda antes de completar os 24 anos de idade:
(ii) como habilitações literárias, tinha já os dois primeiros anos da Faculdade de Economia do Porto;
(iii) ao fim de 9 meses, partiu de Figo Maduro em 20 de setembro desse ano num avião militar, com o comando avançado para render o outro batalhão., o BCAV 1915, que seguiu para Bula;
(iv) fez o serviço no CTIG como alferes miliciano, sendo a sua especialidade o serviço de administração militar (SAM), portanto chefe do conselho administrativo do BCAÇ 1933, ou seja. o oficial mais perto do comandante de batalhão;
(v) não sendo "operacional", não pode, por isso, "contar muita coisa sobre operações em concreto, embora tivesse feito muitas colunas militares de reabastecimentos, quer por rio ou por estrada, fazendo muitas patrulhas à volta dos aquartelamentos, e vivendo muitas vezes os bombardeamentos contínuos às nossas posições, pois como digo sempre, as balas e morteiros não traziam o código postal de destino, caíram muitas à porta do meu dormitório, da messe e em muitos outros lugares";
(vi) faz questão também de declarar que dá "um valor enorme ao sacrifício das nossas tropas": "conheço, por aquilo que leio agora, o que se passou e nós não sabíamos quase nada. Passaram mais de 40 anos até se perceber o que foi aquela guerra".
____________
Recorde-se que o nosso camarada Virgílio Teixeira passou o Natal de 67 em Nova Lamego, e o Natal e Fim de Ano de 68 em São Domingos (**)
O alf mil SAM Virgílio Terixeira |
(i) entrou em Mafra, na Escola Prática de Infantaria (EPI), em 3 de janeiro de 1967, ainda antes de completar os 24 anos de idade:
(ii) como habilitações literárias, tinha já os dois primeiros anos da Faculdade de Economia do Porto;
(iii) ao fim de 9 meses, partiu de Figo Maduro em 20 de setembro desse ano num avião militar, com o comando avançado para render o outro batalhão., o BCAV 1915, que seguiu para Bula;
(iv) fez o serviço no CTIG como alferes miliciano, sendo a sua especialidade o serviço de administração militar (SAM), portanto chefe do conselho administrativo do BCAÇ 1933, ou seja. o oficial mais perto do comandante de batalhão;
(v) não sendo "operacional", não pode, por isso, "contar muita coisa sobre operações em concreto, embora tivesse feito muitas colunas militares de reabastecimentos, quer por rio ou por estrada, fazendo muitas patrulhas à volta dos aquartelamentos, e vivendo muitas vezes os bombardeamentos contínuos às nossas posições, pois como digo sempre, as balas e morteiros não traziam o código postal de destino, caíram muitas à porta do meu dormitório, da messe e em muitos outros lugares";
(vi) faz questão também de declarar que dá "um valor enorme ao sacrifício das nossas tropas": "conheço, por aquilo que leio agora, o que se passou e nós não sabíamos quase nada. Passaram mais de 40 anos até se perceber o que foi aquela guerra".
____________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 21 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18117: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte IV: Bissau, ponte-cais, 4 de agosto de 1969, no regresso a casa.. O fotógrafo estava lá em cima, no N/M Uíge, a ver chegar as lanchas LDG, LDM e LDP, carregadas de tropas vindas do interior e que encostaram ao navio... Vinha tudo ao molhe e fé em Deus!
(**) Vd. poste de 23 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18129: Feliz Natal 2017 e Melhor Ano Novo 2018 (10): Virgílio Teixeira, ex-Alf Mil SAM da CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)
(***) Augusto Manuel Casimiro Gamboa, alf inf. QP, morto em 14/12/67. Era natural de São Tomé e Príncipe. Está sepultado no cemitério do Alto de São João, Lisboa.
Ver também poste de poste de 29 de junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6658: Lista alfabética dos 75 alferes mortos no CTIG, 54 (72%) dos quais em combate (Artur Conceição)
Ver ainda poste de 8 de julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6698: José Corceiro na CCAÇ 5 (14): Emissor receptor AN/PRC-10
(...) Em Canjadude, em 1971, pode-se testemunhar o seguinte: Durante uma flagelação do inimigo ao Aquartelamento, no dia 21 de Julho de 1971 ao escurecer, o fogo do IN danificou as duas antenas horizontais existentes do AN/GRC-9, que estavam instaladas e suportadas pelos ramos do embondeiro grande, que estava ao lado do campo de futebol e de uma mangueira que estava junto da Parada Alferes Gamboa. (O nome desta Parada, era uma homenagem ao Alferes Augusto Manuel Casimiro Gamboa, que segundo se dizia, já após o término da sua comissão de serviço na Guiné, perdeu a vida numa emboscada do IN, no dia 14 de Dezembro 1967, quando a coluna que o transportava de Canjadude para Nova Lamego sofreu um ataque, em Uelingará, entre Canjadude e Nova Lamego. Contava-se em Canjadude, que foi todo esquartejado no tórax para lhe arrancarem o coração, assim como o despojaram de todos os seus haveres). (...)
(*) Último poste da série > 21 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18117: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte IV: Bissau, ponte-cais, 4 de agosto de 1969, no regresso a casa.. O fotógrafo estava lá em cima, no N/M Uíge, a ver chegar as lanchas LDG, LDM e LDP, carregadas de tropas vindas do interior e que encostaram ao navio... Vinha tudo ao molhe e fé em Deus!
(**) Vd. poste de 23 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18129: Feliz Natal 2017 e Melhor Ano Novo 2018 (10): Virgílio Teixeira, ex-Alf Mil SAM da CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)
(***) Augusto Manuel Casimiro Gamboa, alf inf. QP, morto em 14/12/67. Era natural de São Tomé e Príncipe. Está sepultado no cemitério do Alto de São João, Lisboa.
Ver também poste de poste de 29 de junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6658: Lista alfabética dos 75 alferes mortos no CTIG, 54 (72%) dos quais em combate (Artur Conceição)
Ver ainda poste de 8 de julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6698: José Corceiro na CCAÇ 5 (14): Emissor receptor AN/PRC-10
(...) Em Canjadude, em 1971, pode-se testemunhar o seguinte: Durante uma flagelação do inimigo ao Aquartelamento, no dia 21 de Julho de 1971 ao escurecer, o fogo do IN danificou as duas antenas horizontais existentes do AN/GRC-9, que estavam instaladas e suportadas pelos ramos do embondeiro grande, que estava ao lado do campo de futebol e de uma mangueira que estava junto da Parada Alferes Gamboa. (O nome desta Parada, era uma homenagem ao Alferes Augusto Manuel Casimiro Gamboa, que segundo se dizia, já após o término da sua comissão de serviço na Guiné, perdeu a vida numa emboscada do IN, no dia 14 de Dezembro 1967, quando a coluna que o transportava de Canjadude para Nova Lamego sofreu um ataque, em Uelingará, entre Canjadude e Nova Lamego. Contava-se em Canjadude, que foi todo esquartejado no tórax para lhe arrancarem o coração, assim como o despojaram de todos os seus haveres). (...)
Guiné 61/74 - P18144: Parabéns a você (1364): José Pedro Neves, ex-Fur Mil Op Especiais da CCAÇ 4745/73 (Guiné, 1973/74)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 25 de Dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18136: Parabéns a você (1363): Ismael Augusto, ex-Alf Mil Manut do BCAÇ 2852 (Guiné, 1968/70)
Nota do editor
Último poste da série de 25 de Dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18136: Parabéns a você (1363): Ismael Augusto, ex-Alf Mil Manut do BCAÇ 2852 (Guiné, 1968/70)
terça-feira, 26 de dezembro de 2017
Guiné 61/74 - P18143: Tabanca Grande (456): Mais fotos do José Parente Dacosta, ou 'José Jacinto', nosso último grã-tabanqueiro (nº 764), ex-1º cabo cripto, CCAÇ 1477 (Sangonhá e Guileje, 1965/67).
Foto nº 1 > Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 1477 (1965/67) > 29/01/1967 > Duas lindas crianças
Foto nº 2 > Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 1477 (1965/67> 29/01/1967 > Com o Parente (do lado direito).
Foto nº 3 > Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 1477 (1965/67) > 25/01/1967 > Reabastecimento(s)...
Foto nº 4 > Paquete Niassa que nos transportou para a Guiné. Chegada no dia 26/10/65. Tempos que já lá vão...
Foto nº 5 > Guiné > Região de Tombali > Sangonhá > CCAÇ 1477 (1965/67) > 24/07/66 > Abrigo do pessoal de transmissões, que ficava por detrás do posto de rádio.
Foto nº 6 > Guine > Região de Tombali > Sangonhá > 20/10/1966 > O heli...
Foto nº 7 > Rádio Sharp > A minha companhia de todos os dias durante 22 meses na Guiné e de tantos outros camaradas nas mesmas condições, e que se encontra em perfeito estado de funcionamento depois terem passado 50 anos."
Foto nº 8 > CCAÇ 1477 (Sangonhá e Guileje, 1965/67) > Bolo do VIII Almoço convívio do pessoal da CCAÇ 1477 > Tomar, 5 de agosto 2017: "Nascemos sem pedir, / morremos sem querer, / o intervalo ]entre o nascer e o moerrer] a aproveitar, / temos uma missão a cumprir, / aos convívios comparecer, para os amigos abraçar".
Fotos (e legendas): © José Parente Dacosta (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. O José Parente Dacosta foi o último camarada a entrar na Tabanca Grande, com o nº 764.
Também conhecido por José Jacinto, trabalhou na empresa Automobiles Peugeot de agosto de 1969 a setembro de 2000; vive em Dijon, França; é natural da Covilhã, onde nasceu em 11 de setembro de 1943; tem página no Facebook.
Foi 1º cabo op cripto, CCAÇ 1477 (Sangonhá e Guileje, 1965/67). O processo de entrada na Tabanca Grande fica completado com a apresentação da foto atual do nosso camarada Dacosta [, à direita].
_______________
Guiné 61/74 - P18142: Feliz Natal 2017 e Melhor Bom Ano Novo 2018 (14): Bom Natal para TODOS! (Pe. Batalha, Ribamar, Lourinhã)
1. Mensagem do nosso amigo Padre Joaquim Batalha, pároco da freguesia de Ribamar, Lourinhã, terra de gente solidária com a Guiné-Bissau, nomeadamente através da ação da Fundação João XXIII - Casa do Oeste.
________
Nota do editor:
Último poste da série > 26 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18141: Feliz Natal 2017 e Melhor Bom Ano Novo 2018 (13): From Toronto with love (João e Vilma Crisóstomo)
Último poste da série > 26 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18141: Feliz Natal 2017 e Melhor Bom Ano Novo 2018 (13): From Toronto with love (João e Vilma Crisóstomo)
Guiné 61/74 - P18141: Feliz Natal 2017 e Melhor Bom Ano Novo 2018 (13): From Toronto with love (João e Vilma Crisóstomo)
1. Mensagem do nosso grã-tabanqueiro João Crisóstomo, com data de 24 do corrente, dirigido ao Eduardo Jorge Ferreira (régulo da Tabanca de Porto Dinheiro, que foi a Londres passar o Natal com os filhos e netos), com conhecimento ao nosso editor Luís Graça, ao Horácio Fernandes (ex-alf mil capelão, CCS/BART 1913, Catió, 1967/69) , ao Gaspar Sobral (, ativista timorense) e, por extensão, a todos os demais amigos e camaradas da Guiné:
Meus caros,
Agora não dá mais para chamar ao telefone: estou em Toronto e a minha gente nem tempo para uma mensagem ao computador me querem dar…
Com muita amizade, de coração,um abraço grande para ti e tantos outros meus queridos amigos a quem, como sucedeu contigo, não cheguei a telefonar agora.
Último poste da série > 26 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18140: Feliz Natal 2017 e Melhor Bom Ano Novo 2018 (12): mensagens de Adolfo Cruz, Jorge Cabral, A. Marques Lopes, José Pinela, Mário Leitão, António Manuel Sucena Rodrigues, Carlos Alberto e Irene Cruz
"Same here”: mea culpa!
Passei (literalmente ) os últimos três dias ao telefone a ligar para muitos amigos mundo fora a quem falo menos frequentemente; assim o faço todos os anos, para não perder contacto com tantos que me são queridos. Pelo menos uma vez ao ano eu quero ouvir a sua voz real do outro lado da linha.
Amizades são para ser alimentadas, senão com o tempo, relacionamentos que nos foram/são preciosos, a pouco e pouco desaparecem: esquecemo-nos uns dos outros. E perder a amizade de alguém que um dia foi preciosa é para mim devastador .
O teu email veio-me lembrar que, com tanto cuidado em telefonar a tanta gente acabei por deixar de chamar aqueles que na verdade são os meus mais chegados, mas a quem por estar em contacto mais frequente acabei por não telefonar durante esta maratona dos últimos dias. Mea culpa, mea culpa, mea culpa!
Agora não dá mais para chamar ao telefone: estou em Toronto e a minha gente nem tempo para uma mensagem ao computador me querem dar…
Com muita amizade, de coração,um abraço grande para ti e tantos outros meus queridos amigos a quem, como sucedeu contigo, não cheguei a telefonar agora.
João e Vilma
___________
Nota do editor:
Guiné 61/74 - P18140: Feliz Natal 2017 e Melhor Bom Ano Novo 2018 (12): mensagens de Adolfo Cruz, Jorge Cabral, A. Marques Lopes, José Pinela, Mário Leitão, António Manuel Sucena Rodrigues, Carlos Alberto e Irene Cruz
O presépio em 2017... Um diorama muito original de que desconhecemos a autoria, mas que nos chegou pelo correio do Adolfo Cruz... [Com a devida vénia ao autor desconhecido]´
1. Mensagem de Adolfo Cruz
[ex-fur mil at inf, CCAç 2796 (Gadamael, Vicente da Mata, Ome (Bijemita), Quinhamel, Biombo e Bissau, 1970/72)]:
Meus Amigos,
Renovo os meus votos de Boas Festas, com Saúde e Felicidade.
Se tudo correr bem, como planeado, beberemos um copo em 18 de janeiro 2018 [, na Tabanca da Linha].
Abç
2. Mensagem de Jorge Cabral
[ex-af mil art, Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, 1969/71] (foto da esquerda, ao centro, de pé];
[tem 200 referências no blogue];
[é mais conhecido como "alfero Cabral"]
Para ti. Luís, e para todos os Camaradas,
3. Mensagem de A. Marques Lopes:
Abç
2. Mensagem de Jorge Cabral
[ex-af mil art, Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, 1969/71] (foto da esquerda, ao centro, de pé];
[tem 200 referências no blogue];
[é mais conhecido como "alfero Cabral"]
Para ti. Luís, e para todos os Camaradas,
desejo que encontrem o Natal dentro de vós
e o partilhem na Amizade, no Amor e na Solidariedade.
Abraço Todos. Alfero Cabral
[tem 230 referências no nosso blogue];
[lisboeta, vive em Matosinhos]:
4. Mensagem de José Maria Pinela
[DFA, ex-1.º cabo trms, CCS/BCAV 3846,
Ingoré , 1971/1973]
Feliz Natal, próspero Ano Novo!
Um Feliz Natal para todos os amigos e um Ano de 2018 que, quando chegar ao fim, vos traga a satisfação de terem atingido todos os objetivos.
[Carlos Alberto Rodrigues Cruz [foto à direita, na Tabanca da Linha, com a esposa Irene, em 19/3/2015;
Tchim, tchim, boas festas!
[DFA, ex-1.º cabo trms, CCS/BCAV 3846,
Ingoré , 1971/1973]
Feliz Natal, próspero Ano Novo!
5. Mensagem de Mário Leitão:
[ hoje farmacêutico reformado, ex- Fur Mil na Farmácia Militar de Luanda, Delegação n.º 11 do Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos (LMPQF), 1971 a 1973];
[ hoje farmacêutico reformado, ex- Fur Mil na Farmácia Militar de Luanda, Delegação n.º 11 do Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos (LMPQF), 1971 a 1973];
[ natural de Ponte de Lima, autor do livro "História do Dia do Combatente Limiano"]Ao quinto dia de cama [, a 24,], aguentando heroicamente os tremeliques da febre, aqui vos desejo um Natal Feliz e um Ano Novo muito promissor!
Com um abraço, sem contágio!
6. Mensagem de António Manuel Sucena Rodrigues
[ex-fur mil, CCAÇ 12,
Bambadinca e Xime, 1972/74;
[hoje, engenheiro, vive em Oliveira do Bairro]
Com um abraço, sem contágio!
6. Mensagem de António Manuel Sucena Rodrigues
[ex-fur mil, CCAÇ 12,
Bambadinca e Xime, 1972/74;
[hoje, engenheiro, vive em Oliveira do Bairro]
Um Feliz Natal para todos os amigos e um Ano de 2018 que, quando chegar ao fim, vos traga a satisfação de terem atingido todos os objetivos.
7. Mensagem de Carlos Alberto e Irene Cruz
[ex-fur mil, CCAÇ 617/BCAÇ 619, Catió e Cachil, 1964/66]
Não precisamos de presentes de Natal, porque vocês, nossos amigos, são o melhor que algum dia recebemos.
Feliz Natal e Bom Ano de 2018.
__________
Nota do editor:
Último poste da série > 23 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18130: Feliz Natal 2017 e Melhor Ano Novo 2018 (11): Ex-Cap Mil Jorge Picado; ex-Fur Mil TRMS Luís Fonseca; 1.º Ten RN Manuel Lema Santos; ex-Fur Mil Carlos Vieira; ex-Sold At Art Jaime Mnendes; ex-Alf Mil Op Esp Joaquim Mexia Alves; ex-Fur Mil Cav Benito Neves e ex-Alf Mil Inf Domingos Gonçalves
Não precisamos de presentes de Natal, porque vocês, nossos amigos, são o melhor que algum dia recebemos.
Feliz Natal e Bom Ano de 2018.
__________
Nota do editor:
Último poste da série > 23 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18130: Feliz Natal 2017 e Melhor Ano Novo 2018 (11): Ex-Cap Mil Jorge Picado; ex-Fur Mil TRMS Luís Fonseca; 1.º Ten RN Manuel Lema Santos; ex-Fur Mil Carlos Vieira; ex-Sold At Art Jaime Mnendes; ex-Alf Mil Op Esp Joaquim Mexia Alves; ex-Fur Mil Cav Benito Neves e ex-Alf Mil Inf Domingos Gonçalves
Guiné 61/74 - P18139: História da Unidade - Pelotão de Morteiros 4580 (Bafatá, 1973 - 1974) (Carlos Vieira, ex-Fur Mil Inf)
1. Mensagem do nosso camarada Carlos Vieira[1], ex-Fur Mil do Pel Mort 4580 (Bafatá, 1973/74), com data de 15 de Dezembro de 2017:
Caro Carlos
Já vi a publicação da foto que te enviei.
Quanto ao tempo de demora, não tens de pedir desculpa, a minha única preocupação era qualquer problema no ficheiro anexo.
Conforme tinha prometido, em anexo, vai a história do pelotão.
Quanto à publicação é para quando tiveres tempo e disponibilidade pois temos o resto das nossas vidas para recordamos aquele período que fomos obrigados a viver.
Saudações para todos os tabanqueiros,
Carlos Vieira
____________
Nota do editor
[1] - Vd. poste de 20 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17993: Tabanca Grande (452): Carlos Vieira, ex-Fur Mil do Pel Mort 4580 (Bafatá, 1973/74), 761.º Tabanqueiro
Caro Carlos
Já vi a publicação da foto que te enviei.
Quanto ao tempo de demora, não tens de pedir desculpa, a minha única preocupação era qualquer problema no ficheiro anexo.
Conforme tinha prometido, em anexo, vai a história do pelotão.
Quanto à publicação é para quando tiveres tempo e disponibilidade pois temos o resto das nossas vidas para recordamos aquele período que fomos obrigados a viver.
Saudações para todos os tabanqueiros,
Carlos Vieira
____________
Nota do editor
[1] - Vd. poste de 20 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17993: Tabanca Grande (452): Carlos Vieira, ex-Fur Mil do Pel Mort 4580 (Bafatá, 1973/74), 761.º Tabanqueiro
segunda-feira, 25 de dezembro de 2017
Guiné 61/74 - P18138: Notas de leitura (1026): A luta armada na Guiné reexaminada por Mustafah Dhada (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Setembro de 2017:
Queridos amigos,
É de salientar que estas imagens terão sido captadas aí à volta de 1977, dá para perceber que o património arquitetónico deixado pela potência colonial ainda não foi desvirtuado, as ruas estão limpas, os jardins tratados. Este álbum terá sido encomendado para mostrar as potencialidades turísticas, o exotismo, a diversidade étnica, as potencialidades agrícolas. Tem um resumo propagandístico da história do PAIGC e da luta de libertação.
Vasco Cabral, o poderoso comissário da Economia, fala de plantações de cana-de-açúcar para 60 mil toneladas. René Dumont ficou alarmado quando ouviu estes números e fez as contas, teria um preço incomportável.
É um tempo de sonhos, de fantasias e de uma ingenuidade que custou muito caro.
Um abraço do
Mário
A luta armada na Guiné reexaminada por Mustafah Dhada
Beja Santos
Mustafah Dhada é um categorizado investigador de acontecimentos contemporâneos, incluindo as lutas de libertação em África. Pertence ao naipe de nomes sonantes como Basil Davidson, Gérard Chaliand, Patrick Chabal, R. H. Chilcote e Lars Rudebeck que durante e após a luta de libertação se têm debruçado atentamente sobre o ideal revolucionário de Cabral, a forma como liderou, no plano ideológico, militar e diplomático a condução da luta, e a vida do país depois da independência.
Tomámos a liberdade de pegar num seu ensaio datado de 1998, publicado no prestigiado The Journal of Military History, em que ele procede a um reexame da luta armada, com a finalidade de ver os aspetos essenciais da sua argumentação, ter uma postura crítica face ao acesso às suas fontes e tecer conclusões quanto à premência de os investigadores de diferentes proveniências (incluindo portugueses e guineenses) ponderarem as lacunas inaceitáveis que existem, reapreciarem as fontes consultadas e debateram informalmente o modo de superar fontes propagandísticas, muito úteis para a luta ideológica, inaceitáveis para elaborar uma primeira tentativa da história da Guiné-Bissau a partir da sua luta armada.
Mustafah Dhada inicia o seu trabalho com a fase de arranque da luta armada e a estratégia seguida. Os dados avançados parecem-me irrepreensíveis. Apostou-se no Sul, pelas suas dificuldades de acesso, desde o segundo semestre de 1962 a sublevação foi destruindo infraestruturas e comunicações, escolheu posicionamento em pontos naturalmente de muito difícil acesso. Enquanto decorria esta operação a Sul, criava-se a chamada frente Norte, no Oio. Tudo isto decorria ainda com armamento precário, recorria-se ao abatis e às emboscadas do “bate e foge”. O ano de 1963 marca a consolidação no Sul e uma progressiva extensão nas regiões de Cacheu, Bissorã e fronteira senegalesa. Em 1964, a guerrilha estende-se à região de S. Domingos, põe um pé no Gabu, aparece no Boé e ocupa o Corubal. Noutro capítulo fala da estratégia usada para combater a presença do PAIGC no Como e a resistência posta pela etnia Fula ao PAIGC. A economia no interior do país desarticula-se progressivamente, fecham as serrações, não se cultivam bolanhas, desaparecem as destilarias, o comércio do amendoim reduz-se. A resposta de Louro de Sousa e depois de Schulz é a criação de destacamentos, a formação de milícias, a proteção de tabancas, é uma malha de pequenas unidades gravitando à volta de batalhões que procura estender-se pelo território.
Faz-se aqui uma pausa para mostrar dois mapas. O primeiro, data de 1960 e parece-me demonstrativo da colocação das etnias por todo o território.
Dá-se entretanto uma transformação das FARP, são divididas em três forças regionais em que 200 a 300 militares estacionam nas principais bases do interior. Foram selecionados alvos privilegiados no Boé e na região de Guileje. Recordo que quando o capitão Tomé Pinto (o conhecido “capitão do quadrado”) chegou a Binta, em 1964, os grupos afetos ao PAIGC estavam implantados a escassos dois quilómetros do quartel e circulavam com toda a facilidade entre Binta e Guidage. Schulz obtém de Lisboa um elemento dissuasor fundamental: as bombas de fósforo e mais meios aéreos. O PAIGC é forçado a reduziras as bases, a torná-las mais contingentes, os grupos mais reduzidos, é uma flexibilidade que responde às destruições provocadas pelos bombardeamentos. O Corubal torna-se praticamente intransitável.
Hélio Felgas, que comandou um batalhão de Bula, escreverá anos depois um livro intitulado “Guiné 1965”, não ilude o tom laudatório para as atividades desenvolvidas na sua área, mas também não esconde que as FARP se aproximam de Bigene, Ingoré, Barro, Binar. No início de 1967, os helicópteros semeiam o terror, é uma arma nova que surpreende a guerrilha quando pretende fazer frente às tropas portuguesas em campo aberto. Vejamos agora um mapa em que Mustafah Dhada mostra a existência de conflito militar em 1967.
O mapa revela imprecisões, algumas delas com bastante gravidade. Falo do teatro de operações em que combati, a região do Cuor, limite, no Centro-Norte do mapa, vem lá referido Sinchã Corubal. Do lado de lá de Bambadinca, havia dois destacamentos no Cuor e um no Enxalé. Sinchã Corubal era uma tabanca abandonada, perto ficava o acampamento de Madina e a Norte, numa região profundamente árida, Belel, o início de um corredor que prosseguia por Sara-Sarauol, esta uma posição importante, dispunha de um hospital de campanha. A norte do Cuor havia a região de Mansomine, onde o PAIGC se posicionava sobretudo em Sinchã Jobel. Nós, no Cuor, podíamos calcorrear uma boa parte do regulado, fora dos destacamentos de Missará e Finete, as populações residentes em Madina e Belel vinham comerciar e obter informações nos Nhabijões (portanto próximo de Bambadinca, na outra margem do Geba) e em Mero, também na outra margem, tabanca habitada por população Balanta. Quem olhar para este mapa é capaz de pensar que não havia conflito latente/permanente no Xitole e em toda a região até Geba, em 1967, nada de mais errado. Seguramente que outros combatentes que estejam a ler este texto encontrarão outras anomalias no mapa referente a 1967.
De 1967 para 1968 assiste-se a uma penetração na região de Teixeira Pinto, no Sul o Comandante-Chefe Schulz determinou um conjunto de operações com forças especiais e na região Norte entraram em cena bombardeamentos em povoações afetas ao PAIGC próximo de Farim, Bissorã e S. Domingos, suspeitas de abrigar as FARP. Segundo Mustafah Dhada foi um período extremamente difícil para as FARP, perderam abastecimentos, passaram fome, é um período inclusivamente marcado por contestação à estratégia militar no interior do PAIGC. Cabral consegue o reequipamento das FARP e em 28 de Fevereiro de 1968 um comando atacou Bissalanca. Pretextando doença, Schulz retira-se e é substituído por Spínola. Abandonam-se quartéis e posições consideradas inviáveis, redesenha-se a guerra psicológica, reagrupam-se as forças, estabelece-se um plano de reordenamentos, e Dhada traz um elemento novo, o apoio de Spínola a uma força política opositora ao PAIGC, a frente unida de libertação. Dhada como outros autores, labora num equívoco que é atribuir a exclusividade a Spínola da criação de milícias, grupos em autodefesa e a formação de caçadores nativos, de um modo geral esta africanização já estava em curso no tempo de Spínola o que este conseguiu foi obter financiamento para acelerar a africanização inclusive ao nível das tropas de elite. Dhada, não se sabe qual a fundamentação e os documentos em que baseou, dá como certo e seguro a constituição da FUL onde cabiam dissidentes do PAIGC, Rafael Barbosa e nacionalistas guineenses.
A operação de ataque a Conacri acabou por minar a política externa portuguesa, teria começado aí a congeminação do plano para chegar às negociações diretas com Cabral, entretanto a agressividade militar de Spínola parecia imparável, o que obrigou a uma nova reformulação das FARP. Dhada fala sistematicamente das operações anuais das FARP, omite as operações de iniciativa portuguesa, o que é incompreensível em historiografia militar. Temos as conversações com Senghor e refere-se um plano para dividir o PAIGC entre a ala cabo-verdiana e a guineense, seria com esta, segundo Dhada, que Spínola contaria preparar um plano de autodeterminação.
Em Janeiro de 1973, tudo vai mudar com o desaparecimento físico de Cabral, o PAIGC envereda por ataques seletivos, cria infernos à volta desses objetivos selecionados. O autor detém-se sobre os acontecimentos de Copá, em Janeiro de 1974, os bombardeamentos sistemáticos das FARP e as emboscadas próximo de Pirada bem como a coluna vinda de Bajocunda em direção a Pirada que foi brutalmente atacada. Dhada refere um número de baixas para os efetivos portugueses que é manifestamente delirante, em 1973 diz que o número ultrapassou os 2 mil mortos, o segundo mais alto desde o início da guerra armada (!), isto quando há muito tempo já há dados sobre os mortos portugueses em campanha.
O que se pode depreender de um trabalho onde há uma indiscutível investigação séria, mas onde existem lacunas relativamente ao comportamento das Forças Armadas portuguesas (nem uma só palavra sobre o papel da Marinha que, como é de todos sabido, foi primordial), onde se usam mapas fantasiosos? Tudo leva a querer que personalidades como Mustafah Dhada, Julião Soares Sousa, António Duarte Silva, Leopoldo Amado, historiadores militares portugueses como Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes conversassem entre si, sobre as fontes probatórias e aquelas que ainda estão inquinadas pela propaganda (não é a primeira vez que vejo escrito que as tropas portuguesas tiveram 650 mortos no Como entre Janeiro e Fevereiro de 1964), e que depois de laborioso acerto sobre o rigor dos dados transmitissem o produto das suas reflexões para meio universitário e para as opiniões públicas dos dois países mais afetados pelo que aconteceu naquela luta armada, a Guiné-Bissau e Portugal. Quanto ao mais, de boas intenções está o inferno cheio.
Recomendo a todos os interessados a leitura integral do ensaio de Mustafah Dhada no site:
https://www.academia.edu/4022011/Mustafah_Dhada_The_Liberation_War_In_Guinea-Bissau_Reconsidered_Journal_of_Military_History_62_3_Summer_1998_571-593
____________
Nota do editor
Último poste da série de 22 de Dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18123: Notas de leitura (1025): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (14) (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
É de salientar que estas imagens terão sido captadas aí à volta de 1977, dá para perceber que o património arquitetónico deixado pela potência colonial ainda não foi desvirtuado, as ruas estão limpas, os jardins tratados. Este álbum terá sido encomendado para mostrar as potencialidades turísticas, o exotismo, a diversidade étnica, as potencialidades agrícolas. Tem um resumo propagandístico da história do PAIGC e da luta de libertação.
Vasco Cabral, o poderoso comissário da Economia, fala de plantações de cana-de-açúcar para 60 mil toneladas. René Dumont ficou alarmado quando ouviu estes números e fez as contas, teria um preço incomportável.
É um tempo de sonhos, de fantasias e de uma ingenuidade que custou muito caro.
Um abraço do
Mário
A luta armada na Guiné reexaminada por Mustafah Dhada
Beja Santos
Mustafah Dhada é um categorizado investigador de acontecimentos contemporâneos, incluindo as lutas de libertação em África. Pertence ao naipe de nomes sonantes como Basil Davidson, Gérard Chaliand, Patrick Chabal, R. H. Chilcote e Lars Rudebeck que durante e após a luta de libertação se têm debruçado atentamente sobre o ideal revolucionário de Cabral, a forma como liderou, no plano ideológico, militar e diplomático a condução da luta, e a vida do país depois da independência.
Tomámos a liberdade de pegar num seu ensaio datado de 1998, publicado no prestigiado The Journal of Military History, em que ele procede a um reexame da luta armada, com a finalidade de ver os aspetos essenciais da sua argumentação, ter uma postura crítica face ao acesso às suas fontes e tecer conclusões quanto à premência de os investigadores de diferentes proveniências (incluindo portugueses e guineenses) ponderarem as lacunas inaceitáveis que existem, reapreciarem as fontes consultadas e debateram informalmente o modo de superar fontes propagandísticas, muito úteis para a luta ideológica, inaceitáveis para elaborar uma primeira tentativa da história da Guiné-Bissau a partir da sua luta armada.
Mustafah Dhada inicia o seu trabalho com a fase de arranque da luta armada e a estratégia seguida. Os dados avançados parecem-me irrepreensíveis. Apostou-se no Sul, pelas suas dificuldades de acesso, desde o segundo semestre de 1962 a sublevação foi destruindo infraestruturas e comunicações, escolheu posicionamento em pontos naturalmente de muito difícil acesso. Enquanto decorria esta operação a Sul, criava-se a chamada frente Norte, no Oio. Tudo isto decorria ainda com armamento precário, recorria-se ao abatis e às emboscadas do “bate e foge”. O ano de 1963 marca a consolidação no Sul e uma progressiva extensão nas regiões de Cacheu, Bissorã e fronteira senegalesa. Em 1964, a guerrilha estende-se à região de S. Domingos, põe um pé no Gabu, aparece no Boé e ocupa o Corubal. Noutro capítulo fala da estratégia usada para combater a presença do PAIGC no Como e a resistência posta pela etnia Fula ao PAIGC. A economia no interior do país desarticula-se progressivamente, fecham as serrações, não se cultivam bolanhas, desaparecem as destilarias, o comércio do amendoim reduz-se. A resposta de Louro de Sousa e depois de Schulz é a criação de destacamentos, a formação de milícias, a proteção de tabancas, é uma malha de pequenas unidades gravitando à volta de batalhões que procura estender-se pelo território.
Faz-se aqui uma pausa para mostrar dois mapas. O primeiro, data de 1960 e parece-me demonstrativo da colocação das etnias por todo o território.
Dá-se entretanto uma transformação das FARP, são divididas em três forças regionais em que 200 a 300 militares estacionam nas principais bases do interior. Foram selecionados alvos privilegiados no Boé e na região de Guileje. Recordo que quando o capitão Tomé Pinto (o conhecido “capitão do quadrado”) chegou a Binta, em 1964, os grupos afetos ao PAIGC estavam implantados a escassos dois quilómetros do quartel e circulavam com toda a facilidade entre Binta e Guidage. Schulz obtém de Lisboa um elemento dissuasor fundamental: as bombas de fósforo e mais meios aéreos. O PAIGC é forçado a reduziras as bases, a torná-las mais contingentes, os grupos mais reduzidos, é uma flexibilidade que responde às destruições provocadas pelos bombardeamentos. O Corubal torna-se praticamente intransitável.
Hélio Felgas, que comandou um batalhão de Bula, escreverá anos depois um livro intitulado “Guiné 1965”, não ilude o tom laudatório para as atividades desenvolvidas na sua área, mas também não esconde que as FARP se aproximam de Bigene, Ingoré, Barro, Binar. No início de 1967, os helicópteros semeiam o terror, é uma arma nova que surpreende a guerrilha quando pretende fazer frente às tropas portuguesas em campo aberto. Vejamos agora um mapa em que Mustafah Dhada mostra a existência de conflito militar em 1967.
O mapa revela imprecisões, algumas delas com bastante gravidade. Falo do teatro de operações em que combati, a região do Cuor, limite, no Centro-Norte do mapa, vem lá referido Sinchã Corubal. Do lado de lá de Bambadinca, havia dois destacamentos no Cuor e um no Enxalé. Sinchã Corubal era uma tabanca abandonada, perto ficava o acampamento de Madina e a Norte, numa região profundamente árida, Belel, o início de um corredor que prosseguia por Sara-Sarauol, esta uma posição importante, dispunha de um hospital de campanha. A norte do Cuor havia a região de Mansomine, onde o PAIGC se posicionava sobretudo em Sinchã Jobel. Nós, no Cuor, podíamos calcorrear uma boa parte do regulado, fora dos destacamentos de Missará e Finete, as populações residentes em Madina e Belel vinham comerciar e obter informações nos Nhabijões (portanto próximo de Bambadinca, na outra margem do Geba) e em Mero, também na outra margem, tabanca habitada por população Balanta. Quem olhar para este mapa é capaz de pensar que não havia conflito latente/permanente no Xitole e em toda a região até Geba, em 1967, nada de mais errado. Seguramente que outros combatentes que estejam a ler este texto encontrarão outras anomalias no mapa referente a 1967.
De 1967 para 1968 assiste-se a uma penetração na região de Teixeira Pinto, no Sul o Comandante-Chefe Schulz determinou um conjunto de operações com forças especiais e na região Norte entraram em cena bombardeamentos em povoações afetas ao PAIGC próximo de Farim, Bissorã e S. Domingos, suspeitas de abrigar as FARP. Segundo Mustafah Dhada foi um período extremamente difícil para as FARP, perderam abastecimentos, passaram fome, é um período inclusivamente marcado por contestação à estratégia militar no interior do PAIGC. Cabral consegue o reequipamento das FARP e em 28 de Fevereiro de 1968 um comando atacou Bissalanca. Pretextando doença, Schulz retira-se e é substituído por Spínola. Abandonam-se quartéis e posições consideradas inviáveis, redesenha-se a guerra psicológica, reagrupam-se as forças, estabelece-se um plano de reordenamentos, e Dhada traz um elemento novo, o apoio de Spínola a uma força política opositora ao PAIGC, a frente unida de libertação. Dhada como outros autores, labora num equívoco que é atribuir a exclusividade a Spínola da criação de milícias, grupos em autodefesa e a formação de caçadores nativos, de um modo geral esta africanização já estava em curso no tempo de Spínola o que este conseguiu foi obter financiamento para acelerar a africanização inclusive ao nível das tropas de elite. Dhada, não se sabe qual a fundamentação e os documentos em que baseou, dá como certo e seguro a constituição da FUL onde cabiam dissidentes do PAIGC, Rafael Barbosa e nacionalistas guineenses.
A operação de ataque a Conacri acabou por minar a política externa portuguesa, teria começado aí a congeminação do plano para chegar às negociações diretas com Cabral, entretanto a agressividade militar de Spínola parecia imparável, o que obrigou a uma nova reformulação das FARP. Dhada fala sistematicamente das operações anuais das FARP, omite as operações de iniciativa portuguesa, o que é incompreensível em historiografia militar. Temos as conversações com Senghor e refere-se um plano para dividir o PAIGC entre a ala cabo-verdiana e a guineense, seria com esta, segundo Dhada, que Spínola contaria preparar um plano de autodeterminação.
Em Janeiro de 1973, tudo vai mudar com o desaparecimento físico de Cabral, o PAIGC envereda por ataques seletivos, cria infernos à volta desses objetivos selecionados. O autor detém-se sobre os acontecimentos de Copá, em Janeiro de 1974, os bombardeamentos sistemáticos das FARP e as emboscadas próximo de Pirada bem como a coluna vinda de Bajocunda em direção a Pirada que foi brutalmente atacada. Dhada refere um número de baixas para os efetivos portugueses que é manifestamente delirante, em 1973 diz que o número ultrapassou os 2 mil mortos, o segundo mais alto desde o início da guerra armada (!), isto quando há muito tempo já há dados sobre os mortos portugueses em campanha.
O que se pode depreender de um trabalho onde há uma indiscutível investigação séria, mas onde existem lacunas relativamente ao comportamento das Forças Armadas portuguesas (nem uma só palavra sobre o papel da Marinha que, como é de todos sabido, foi primordial), onde se usam mapas fantasiosos? Tudo leva a querer que personalidades como Mustafah Dhada, Julião Soares Sousa, António Duarte Silva, Leopoldo Amado, historiadores militares portugueses como Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes conversassem entre si, sobre as fontes probatórias e aquelas que ainda estão inquinadas pela propaganda (não é a primeira vez que vejo escrito que as tropas portuguesas tiveram 650 mortos no Como entre Janeiro e Fevereiro de 1964), e que depois de laborioso acerto sobre o rigor dos dados transmitissem o produto das suas reflexões para meio universitário e para as opiniões públicas dos dois países mais afetados pelo que aconteceu naquela luta armada, a Guiné-Bissau e Portugal. Quanto ao mais, de boas intenções está o inferno cheio.
Recomendo a todos os interessados a leitura integral do ensaio de Mustafah Dhada no site:
https://www.academia.edu/4022011/Mustafah_Dhada_The_Liberation_War_In_Guinea-Bissau_Reconsidered_Journal_of_Military_History_62_3_Summer_1998_571-593
____________
Nota do editor
Último poste da série de 22 de Dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18123: Notas de leitura (1025): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (14) (Mário Beja Santos)
Subscrever:
Mensagens (Atom)