sexta-feira, 11 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18622: Notas de leitura (1065): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (34) (Mário Beja Santos)

BNU - Bissau


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Dezembro de 2017:

Queridos amigos,
A Guiné não é só uma colónia-modelo na conceção imperial, a produção agrícola de um salto. O BNU, já um grande proprietário, também sonha com a expansão, imiscuiu-se desde a produção até à exportação agrícola, vai lançando os olhos à Sociedade Comercial Ultramarina, a empresa competidora dos interesses da CUF. Se até agora os relatórios mostravam uma impressionante desafetação ao poder político, a agulha mudou de rumo, bajula-se o poder instituído, basta ler aqui a louvaminha totalmente despropositada do gerente à viagem do General Craveiro Lopes.

Um abraço do
Mário

BNU - Bissau


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (34)

Beja Santos

A década de 1950 é marcante na vida do BNU da Guiné: na colónia sopram ventos de desenvolvimento, e por isso a Sociedade Comercial Ultramarina é cada vez mais atrativa para investimento. O património do Banco é gradualmente mais valioso, composto de prédios, de propriedades, não esqueçamos que inicialmente funcionou como casa de penhores, o aliciante agrícola é indisfarçável, será assim até ao período da independência. Em Maio/Junho de 1953 há uma nova inspeção ao Banco, determinada por Lisboa, no relatório subsequente aparece um documento revelador dessa aproximação entre a banca e os investimentos abarcando a produção, a transformação, o transporte, a exportação, nomeadamente para a metrópole. É do seguinte o documento que surge solto dentro do relatório da inspeção:

“Exma. Administração da Sociedade Comercial Ultramarina
Exmos. Senhores:

A Sociedade é uma grande organização, espalhada por toda a Guiné, é bem administrada.
Tive ocasião de visitar as suas actividades comerciais e industriais e fiquei com a impressão de que é organismo que pode viver e expandir-se mais. A Guiné é rica, está a desenvolver-se, não fica longe de Portugal e portanto da Europa, importante vantagem para os fretes, por isso as actividades podem seguramente, com a prudência necessária, encarar com confiança o futuro.

Ainda que a cotação das oleaginosas venha um dia a cair fortemente, como se supõe, é certo que fica o recurso da exploração orizícola, cuja produção é hoje insuficiente para as necessidades internas da Província e para a exportação, e pode ser muitíssimo aumentada, dada a extensão de regiões próprias para a sua cultura. Haverá apenas que preparar tais regiões e mecanizar a cultura.
Ainda outros recursos existem que podem ser explorados; portanto, não há motivos para desanimar, antes pelo contrário para, com entusiasmo, se explorarem. O clima da Guiné tão mortífero há algumas dezenas de anos, e raros eram os que pensavam em se fixar aqui, está profundamente alterado para melhor. Isto também é um factor importante pois mais fácil é o concurso de europeus.
Não obstante o que deixo dito do clima, ele não é bom e há muitos pontos da Província em que a modificação não é tão acentuada.

Se V. Exas. pensarem, um dia, em virem até aqui, e ainda que seja na época melhor, devem contar com violento calor principalmente em Farim e Bafatá, poeira vermelha e incómoda, e, por vezes, grandes vespas a entrarem no carro e há que ter atenção à mosca transmissora da doença do sono, já não falando nos incómodos mosquitos.
Não vi a mosca do sono, posto que um médico da respectiva missão me dissesse que ela estava muito espalhada e havia muitos casos.

Os vapores que daqui vão para a metrópole ficam ao largo e não atracam, dizem que por causa da febre-amarela, todavia pergunto se há casos e ninguém os conhece. Parece que não missão médica especial para esta doença.
Nos desembarques nas margens dos rios, se a maré está em baixo ou ainda pouco alta, a grande extensão de lodo só pode ser atravessada dentro de pirogas deslocadas à força de braços dos pretos e às vezes até é necessário aceitar a ‘cadeirinha’ que fazem com os braços para pequenas travessias, ou onde não há pirogas.
Na navegação dos rios é necessário, contar por vezes, com os encalhes, e esperar que a maré suba, no rio Cumbijã ali estivemos encalhados três horas.

Nas residenciais do interior, onde há instalações para hospedagem, tirando Bafatá, elas deixam muito a desejar quanto a rudimentares comodidades.

As actividades da sociedade estão a ressentir-se com a falta de fundos, não porque não lhes tenham sido concedidos créditos mas pelo desvio destes e das suas disponibilidades para a construção do bloco industrial na Bolola.
Estão já ali investidos 9.500 contos. Esta soma tem saído parte dos créditos concedidos à Sociedade, parte das suas disponibilidades. Representa uma imobilização cuja importância faz falta às operações comerciais e há que atender que os produtos estão mais caros e por isso a sua aquisição demanda maior quantidade de dinheiro.
Em minha opinião devia conseguir-se um crédito especial de 15 mil contos garantido pelo bloco industrial, garantido pelo bloco industrial: edifícios existentes, em construção e a construir, maquinismos existentes e ainda a adquirir.
Com tal importância, creio que tudo se poderia concluir. Dele havia que retirar os 9.500 contos já ali empregados e reverterem para o maneio da sociedade. Se o Banco Nacional Ultramarino o não quiser conceder, poderia tentar-se de outra origem”.

No relatório da gerência de 1954 a análise à situação das colheitas continua a merecer a melhor atenção. Volta a referir-se a mancarra como o pilar em que assenta a vida económica bem como todo o comércio da Guiné. Por grau de importância, a seguir às oleaginosas é o arroz, mantém-se como o produto base da alimentação dos guineenses. Não é esquecido o óleo de palma, o relator diz que é extraído dos palmares de cultura espontânea em toda a Província, predomina nos Bijagós e na circunscrição de Cacheu, cobrindo uma área de cerca de 90 mil hectares.

“Uma das primeiras medidas tomadas pelo novo governador foi convocar todos os régulos e ‘grandes’ de maior prestígio e tendo-os com ele reunido em Bissau, expôs-lhes as suas ideias quanto ao problema da produção, mostrando-lhes a necessidade de aumentarem as áreas agricultáveis e procurando, assim, interessar mais a massa indígena nos trabalhos agrícolas e implicitamente no aumento da produção desta província, pois é preciso que ela modifique as suas estatísticas que há dezenas de anos acusam os mesmos índices, sem animadoras oscilações, denotando o marasmo e rotina que, à primeira vista, se não explica, embora se creia que a produção tenha aumentado, dados os esforços desenvolvidos nos últimos anos. O que é certo, porém, é que o movimento da exportação, o único meio de que se dispõe, ainda que sem rigor, para se avaliar a produção agrícola, continua a não apresentar alterações que correspondam ao interesse e cuidados havidos.

Assim, servindo-nos dos dados respeitantes às exportações do ano findo de 1954, verifica-se que a produção da mancarra foi inferior em tonelagem. Declínio também se verificou na exportação do coconote, mas este resultante apenas de não ter sido possível a exportação de toda a produção, não só por desinteresse dos mercados estrangeiros como porque foi atingido o contingente destinado à metrópole.
Contudo, e tendo em consideração não só os quantitativos de mancarra exportados em anos anteriores, como a boa produção de arroz que, sem dúvida, foi superior à do ano anterior, pode-se afirmar que foi bom o ano agrícola que findou”.

Imagem extraída da revista "O Mundo Português"

O discurso do relator mudou radicalmente de agulha, aquilo que até agora era uma observação profunda e independente, quer na análise do mercado quer na observação socioeconómica e política, entra em sintonia com a mística do Estado Novo. Basta ler esta introdução à primeira parte do relatório de 1955:

“O facto de maior transcendência e importância, ocorrido na vida desta Província no ano findo, e pode dizer-se que em toda a sua História, foi, conforme toda a imprensa metropolitana e ultramarina o noticiou, a visita a esta Província de Sua Excelência o Senhor Presidente de República que, acompanhado do Senhor Ministro do Ultramar e das respectivas comitivas, aqui chegou no dia 2 de Maio e foi recebido com delirante patriotismo e entusiástica vibração.
Em cinco séculos de existência, foi esta a primeira vez que a Província da Guiné recebeu a visita do chefe de Estado.

Como em Bissau, o Senhor Presidente da República foi alvo de carinhosas manifestações patrióticas no interior da Província, que percorreu durante alguns dias e onde visitou grandes obras em curso, como seja a nova ponte sobre o rio Corubal, e inaugurou o importante melhoramento que constituiu a construção da ponte Salazar, em Bafatá, no rio Geba.
Várias foram as grandiosas cerimónias e festas realizadas em homenagem ao Senhor Presidente da República durante a sua estadia na capital da Província, tendo em, todas elas o nosso Banco sido representado pelo nosso Ilustre Administrador, Excelentíssimo Senhor Doutor António Júlio Castro Fernandes, e também pelo gerente desta Filial.
Porque muito bem se enquadrou no esplendor dessa visita presidencial, não queremos deixar de aqui fazer referência especial à cerimónia da inauguração em Bissau da nova estátua de Teixeira Pinto, pois constitui uma impressionante homenagem ao heróico e valente pacificador da Guiné”.

(Continua)
____________

Nota do editor

Poste anterior de 4 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18602: Notas de leitura (1063): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (33) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 7 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18614: Notas de leitura (1064): Retrato do colonizado e retrato do colonizador, por Albert Memmi; editado por Gallimard (2) (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 10 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18621: Os nossos seres, saberes e lazeres (266): VI Encontro de Teatro Sénior, de 11 a 13 de Maio de 2018, na Academia de Instrução e Recreio Familiar Almadense, em Almada (António José Pereira da Costa)



1. Mensagem do nosso camarada António José Pereira da Costa, Coronel de Art.ª Ref (ex-Alferes de Art.ª da CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69; ex-Capitão de Art.ª e CMDT das CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74), com data de 9 de Maio de 2018 dando-nos notícia de mais uma iniciativa do NAUS:

Espero ter uma boa fila, ou mais, de ex-combatentes bloguianos a aplaudir.
Devem ir ver, "cá o génio" a partir das 18H30 de Sábado. É o grupo de teatro da Associação Cultural da Terceira Idade de Sintra. 
Quero ver todos os ex-combatentes aos saltos nas primeiras filas da sala e aos gritos de "Napoleão dá-me os teus calções!"

Um Ab.
J A Pereira da Costa
____________

Nota do editor

Último poste da série de 5 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18606: Os nossos seres, saberes e lazeres (265): De Estremoz para as Termas de S. Pedro do Sul (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18620: Parabéns a você (1432): Fernando Valente (Magro), ex-Cap Mil Art do BENG 447 (Guiné, 1970/72) e Henrique Matos, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Guiné, 1966/68)


____________

Nota do editor

Último poste da série de 5 de Maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18605: Parabéns a você (1431): Joaquim Gomes Soares, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 2317 (Guiné, 1968/69)

quarta-feira, 9 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18619: Documentos (30): Directiva n.º 5/71 do General Spínola para disciplinar a atribuição de Condecorações no TO da Guiné, perante a discrepância entre os 3 Ramos das Forças Armadas (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando)

1. Mensagem do nosso camarada Virgínio Briote, ex-Alf Mil da CCAV 489 (Cuntima e Alf Mil Comando, CMDT do Grupo Diabólicos, Brá; 1965/67), com data de 19 de Abril de 2018, trazendo em anexo a Directiva n.º 5/71 do General António de Spínola onde chama a atenção para a discrepância entre os três Ramos das Forças Armadas na atribuição de Medalhas Militares.

Boa tarde, Carlos!
Em arrumações, dei com uma pasta com documentos sobre a guerra na Guiné que tem alguns elementos que podem ter interesse, não só para os nossos Camaradas como para os curiosos da Guerra na Guiné.
Por hoje envio-te um documento, sem comentários porque o acho esclarecedor, sobre a premente Questão das Medalhas.
Espero que o apreciem.
Tenho, pelos vistos, mais alguns com interesse, especialmente dos tempos do Gen. Spínola.

Um abraço até Monte Real.
V Briote


____________

Guiné 61/74 - P18618: Consultório militar do José Martins (36): Registo Militar de Henrique Pedro Daniel de Duarte Silva Y Aranda

1. Mensagem do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 13 de Abril de 2018 com um trabalho sobre o Major Aranda:

Boa tarde
Oportunamente o nosso camarada de Engenharia Fernando Conde Vitorino escreveu-me, questionando-me se tinha elementos que o habilitassem a prestar uma homenagem ao seu Major Aranda, com quem conviveu no seu tempo da Escola Prática de Engenharia.
Consultei o processo do "nosso Major", que já não se encontra entre nós, e enviei-lhe os dados que recolhi no seu processo militar, junto do Arquivo Geral do Exército.
Como pode ter interesse, junto o referido texto que já se encontra publicado no facebook da Engenharia, juntando foto do TCor Aranda e foto da Medalha de Mérito Militar.

Bom fim de semana.
José Martins

********************

Tenente-Coronel Aranda

Mérito Militar

____________

Nota do editor

Último poste da série de 15 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18420: Consultório militar do José Martins (35): elementos para a história da CAÇ 727 (Nova Lamego, Canquelifá, Piche, 1964/66), que teve 18 mortos em campanha, incluindo o alf mil inf António Angelino Teixeira Xavier, natural de Carrazeda de Montenegro, Valpaços

Guiné 61/74 - P18617: Historiografia da presença portuguesa em África (114): Uma rivalidade bancária que ajuda a compreender a História da Guiné (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Janeiro de 2018::

Queridos amigos,
Convém situar este texto. No trabalho que levo em curso sobre a história do BNU na Guiné, cedo fui confrontando com a inexistência de documentação entre 1903 e 1917, praticamente nada existe no arquivo histórico do BNU. A documentação das duas agências é uma realidade a partir de 1917, ano em que a agência de Bissau se vê obrigada a pedir a Lisboa que dirima o contencioso que logo se levantou, em toda a linha das operações bancárias. Este documento solto tem a utilidade de deixar transparecer o que estava a mudar no processo socioeconómico da colónia: Bolama já não podia resistir aos ventos da história, os comerciantes do continente sentiam que as campanhas de pacificação de Teixeira Pinto lhes permitiam agora uma grande liberdade de circulação, os negócios ganhavam fluência e Bolama passara a ser um empecilho. É esse o valor, o significado que atribuo a este documento, o dar-nos um novo olhar sobre a história.

Um abraço do
Mário


Uma rivalidade bancária que ajuda a compreender a História da Guiné

Beja Santos

Em 1917, o BNU que instalara uma filial na capital da Província, em Bolama, criou uma agência na cidade de Bissau. Estamos em plena guerra, a documentação comprova sucessivas más escolhas para a governação e administração. Inúmeras são as carências, e vai avultar neste período a dura realidade que o desenvolvimento económico a partir de Bolama não tinha o mesmo dinamismo que estava a ocorrer em Bissau e as suas ligações comerciais no continente. Houvera guerras intensas e sangrentas na região do Forreá, com verdadeiras migrações e mudanças de peso no mosaico étnico. O Sul incrementava a orizicultura mas os empreendimentos em torno da mancarra e de outras produções encontrara maus gestores. Recorde-se que poucos anos depois, o empresário Vítor Gomes Pereira verá todos os seus bens hipotecados e transferidos para o BNU. Na investigação que levo a curso sobre o BNU na história da Guiné (1917-1974) encontrei um documento datado de 21 de Agosto de 1917, do gerente da agência de Bissau para a gerência do BNU em Lisboa que é revelador do que se estava a passar e indicia a decadência da capital, a sua transferência para Bissau começa a ser assunto corrente no final dos anos 1920, embora só se vá concretizar em 1941.

O título do documento reservado que vai de Bissau para Lisboa tem como assunto relação entre as duas agências, mas vai suficientemente mais longe para permitir perceber que tudo mudara depois das campanhas de Teixeira Pinto, os negócios na Guiné continental eram prometedores e já havia queixas dos comerciantes quanto à necessidade de terem de viajar até Bolama podendo fazer as suas operações financeiras em Bissau. É também um documento esclarecedor que estava aberta uma rivalidade que irá crescendo ao longo dos anos 1930 até atingir o clímax de relações verdadeiramente intempestivas entre os dois gerentes. Enfim, um documento elucidativo do que estava em mudança, o que definhava e o que se expandia. Enquanto lia este documento ia folheando os volumes escritos por Carvalho Viegas, um governador que deixou marcas na Guiné, sobretudo nas obras públicas, isto no exato momento em que ele próprio procura acelerar a mudança da capital de Bolama para Bissau, acarretando discussões enormes entre os grupos económicos na cena, o que é bem visível nos relatórios de execução de Bolama e Bissau neste período, em que Bolama defende encarniçadamente a posição estratégica que aparentemente detém.

O documento reservado que sai de Bissau em 21 de Agosto de 1917 diz o seguinte:
“Tem havido entre esta agência e a de Bolama troca de correspondência a propósito dos clientes que devem fazer as suas operações nesta ou naquela agência, sem que tenhamos chegado a acordo e por isso vimos submeter o assunto à apreciação de V. Exas. para que, resolvendo-o como for de justiça, cada uma das agências saiba depois o que lhe cumpre fazer.

Primeiro, clientes de Bafatá. Pretende aquela agência que os fregueses de Bafatá façam ali os seus negócios contrariamente ao que a clientela deseja. Bissau fica em caminho para Bolama; quem de Bafatá vai para Bolama tem que forçosamente tocar em Bissau, de forma que o cliente chega aqui e nós temos de lhe dizer que vá a Bolama fazer as suas operações! Sucede que todo o negócio de Bafatá se faz exclusivamente com Bissau não indo a menor quantidade de produtos de Bafatá para Bolama, visto que os clientes, tendo aqui os seus correspondentes, preferem aqui fazer as suas operações. As letras que V. Exas. remetem para Bafatá vêm sempre pagáveis em Bissau por a clientela ter quase que diariamente aqui portadores; finalmente, o cliente podendo servir-se desta agência de Bissau e regressar sem demora a sua casa, indo a Bolama perde pelo menos mais 3 dias se tiver transporte imediato, de contrário tem que esperar em Bissau 8 e mais dias, fazendo despesas desnecessárias. Já expusemos isto para Bolama, mas sem resultado. Nas mesmas condições fica Farim e Cacheu, cujas transacções são somente feitas com Bissau que igualmente fica em caminho.

Segundo letras descontadas. Parece que tendo sido aberta esta agência para ela deveriam ter sido enviadas todas as letras que descontadas em Bolama os sacados residissem em Bissau. Pelo facto, porém, das letras terem sido descontadas – pagável em Bolama, por não existir esta agência – recusa-se a agência de Bolama com este fundamento a enviá-las para aqui, sucedendo por este motivo que os clientes têm de ir a Bolama tratar da regularização das suas letras e, se as reformam, de continuar a fazer em Bolama as suas operações. A clientela com isto sente-se prejudicada porque em nada foi beneficiada com a abertura desta agência e traz para nós o inconveniente de privar-nos de fazermos descontos por ignorarmos qual seja em dado momento a responsabilidade das firmas que figuram nas letras a desconto, pois na dúvida de podermos ser logrados preferimos a recusa a descontos, que talvez pudéssemos fazer sem risco algum.
Mas dado o caso do mesmo cliente ter letras em Bolama e em Bissau, não poderá dar lugar a que o cliente venha a ter a sua responsabilidade duplicada? Não poderá algum freguês aproveitar-se desta circunstância e no mesmo dia em que aqui faz um desconto ir a Bolama que dista daqui 3 horas em motor e fazer novo desconto, aumentado responsabilidades que não comporte? Parece-nos que para evitar este inconveniente a melhor maneira seria a agência de Bolama enviar para esta agência todas as letras ali descontadas cujos sacados residam em Bissau e cada uma das agências limitar os seus descontos aos clientes da localidade, dividindo em duas zonas as restantes povoações da Guiné. Assim, a agência de Bissau ficaria com Cacheu, Farim, Bafatá e Bambadinca que lhe fica em caminho e mais próximas de Bissau; e à agência de Bolama pertenceria Bolama, Buba, Cacine e Bijagós.
Para que se pudesse fazer uma rigorosa fiscalização, também entendemos que uma das agências fornecesse à outra, semanalmente, ou que permutasse uma relação de letras descontadas para conhecimento da responsabilidade da clientela, pois pode suceder que um cliente de Bissau se aproveite de um de Bolama para sacado ou sacador, ou vice-versa, e pela relação vínhamos a saber qual era a sua responsabilidade.

Terceiro, contas correntes. Foi com dificuldade que obtivemos a transferência para esta agência dos saldos das contas correntes referentes a clientes de Bissau. Tendo esta agência aberto em 14 de Junho, só em 24 de Julho nos foram enviados de Bolama os saldos das contas, apesar dos nossos reiterados pedidos e igualmente da clientela. Quando, em 8 de Junho, saímos de Bolama, ficava fechada a escrita de Maio, mas a agência de Bolama para poder contar juros nas contas até fim de Junho demorou a transferência das contas, dando lugar a que estivéssemos trabalhando durante todo este tempo apenas com as reminiscências que tínhamos das referidas contas. Ficou ainda na agência de Bolama a conta do Visconde de Thiene pelo facto deste cliente ter ali uma pequena casa comercial que a maior parte das vezes conserva fechada durante meses. Ora sendo a sede da casa em Bissau é aqui, em nosso entender, que deve estar a conta para boa fiscalização.

Quarto, contas hipotecárias. A agência de Bolama pretende ficar ali com a conta hipotecária de Joaquim de Pinheiro Figueiredo que tendo aqui a residência deseja a conta em Bissau. Alega a agência de Bolama que foi ela a procuradora na escritura, mas tendo sido o banco quem fez o contrato e havendo agora em Bissau uma sua dependência, cremos que deveria passar para Bissau a conta, visto o cliente aqui residir e ter aqui outras suas operações.
Tudo isto gira em redor dos lucros que cada uma das agências deseja apresentar no final do exercício, mas nós dentro desses lucros temos em mira principalmente a fiscalização que aqui podemos exercer na defesa dos interesses e dos capitais do nosso banco, fiscalização que, ficando as coisas no pé em que estão, nem nós nem aquela agência pode fazer.

Pelos factos apontados, V. Exas. resolverão como julgarem conveniente, dando-nos as suas instruções”.

Começara a competição, só findará com o encerramento da agência de Bolama, que durante um tempo ainda funcionará como uma correspondência. Quem em Lisboa procede a análise da carta do gerente de Bissau faz anotações a lápis, parece que foram feitas ontem, diz que o Gouveia confirma ou que está certo, seguramente que houve concordância e a clara perceção de que os negócios no continente iam de vento em pompa, terão dado depois crédito às petições de Bissau.

Uma amostra singela mas concludente de que questiúnculas interbancárias podem ajudar a entender as mudanças que a Guiné estava a viver, em plena I Guerra Mundial.

Vista sobre a praia da ilha de Bubaque, fotografia de Francisco Nogueira, reproduzida, com a devida vénia, no livro “Bijagós Património Arquitetónico”, Edições Tinta-da-China, 2016

Vista do porto de Bissau, década de 1910, imagem do nosso blogue inserida em 8 de Setembro de 2012
____________

Nota do editor

Último poste da série de 18 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18534: Historiografia da presença portuguesa em África (112): Imagens e relatórios dos actos de vandalismo praticados pelo MLG, na Praia de Varela, em Julho de 1961, encontrados no acervo documental do Banco Nacional Ultramarino (Mário Beja Santos)

terça-feira, 8 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18616: Convívios (855): XXXI Almoço de Confraternização, e comemoração do 46.º aniversário da chegada, dos Oficiais, Sargentos e Praças, e familiares, do BCAÇ 2879, dia 26 de Maio de 2018, em Folgosinho (Carlos Silva, ex-Fur Mil da CCAÇ 2548)


____________

Nota do editor:

Último poste da série de 2 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18595: Convívios (854): Encontro dos "Ilustres TSF" em Campanhã - Porto (Hélder Valério Sousa, ex-Fur Mil TSF)

Guiné 61/74 - P18615: XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (24): Monte Real, 5 de maio de 2018: o olhar do fotógrafo 'strelado' Miguel Pessoa - Parte I


O ex-ten pilav António Martins de Matos, hoje ten gen pilav reformado


Isabel e Tó Zé Pereira da Costa... "Fregueses de longa data" dos encontros nacionais da Tabanca Grande


Xico Allen e Agostinho Gaspar


Três "bandalhos" de o "Bando": ao centro o bandalho-mor, Jorge Teixeira; à sua esquerda, o Ricardo Figueiredo; à direita, o António Tavares.


Margarida Peixoto e Giselda Pessoa


O fotógrafo, Miguel Pessoa, com ar cansado... Há dias e dias que não sabe o que é dormir numa cama...


O régulo da Tabanca de Setúbal, Hélder Sousa


Mais dois históricos: o Idálio Reis e o Francisco Silva


Dina Vinhal, Germana e Carlos Silva


Manuel Augusto Reis: se houvesse uma tabanca em Aveiro, ele seria o régulo...


O casal Caseiro, à direita (Maria Celeste e Vítor Caseiro) e  a Irene, à esquerda, esposa do Luís R. Moreira


José Ferreira, António Tavares e Carlos Silva (um dos régulos da Tabanca dos Melros, em Gondomar)
                                                                        

Manuel Joaquim, António Graça de Abreu e António Joaquim Alves


Vítor e Maria Celeste Caseiro... O Vítor é o presidente da Junta de União de Freguesias de Santa Eufémia e Boa Vista, concelho de Leiria.


Da esquerda para a direita: Hélder Sousa, Alice Carneiro, Manuel José Ribeiro Agostinho e Elisabete

Monte Real > XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 5 de maio de 2018 >

Foto (e legenda): © Miguel Pessoa (2018). Todos os direitos reservados [Edição; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mesmo combalido, na sequência de um "acidente doméstico", o nosso Miguel Pessoa não quis deixar de vir a Monte Real, e fazer a sua cobertura fotográfica do evento...  

Obrigado, Miguel, pelas 52 fotos que nos mandaste. Aqui vai uma primeira seleção. Todos os amigos e camaradas da Guiné te desejam rápidas melhoras. E vê se finalmente consegues dormir na tua cama!... (LG)
____________

segunda-feira, 7 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18614: Notas de leitura (1064): Retrato do colonizado e retrato do colonizador, por Albert Memmi; editado por Gallimard (2) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Maio de 2016:

Queridos amigos,
Este documento de Albert Memmi não pode ser lido como um panfleto político de um dirigente revolucionário. É uma prosa lúcida, a articulação é perfeita, a análise deslumbra o leitor mais reticente, mesmo o mais incrédulo de que as relações entre colonizador e colonizado são assim tão poderosas como aqui se descrevem, do princípio ao fim. Aqui se desmonta mistificações, sonhos do colonizado em imitar o colonizador, até se chegar ao ponto fulcral em que nos apercebemos que quando se procura suprimir o colonizado, pela força das circunstâncias iria desaparecer a colonização e inclusivamente o colonizador. Trata-se de um ensaio impressionante, obviamente que datado e bastante circunscrito aos países do Norte de África, como a evolução dos acontecimentos veio comprovar.
Leitura que se recomenda a todos o que se interessam por procurar conhecer a essência do que foi o colonialismo e o que separava o colono do assimilado, o que separava o assimilado do nativo e as suas diferentes categorias intercalares. Jamais se perceberá a questão de fundo dos antagonismos e constrangimentos entre guineenses e cabo-verdianos sem entender a dimensão destas categorias.

Um abraço do
Mário


Reler um clássico do colonialismo: 
Retrato do colonizado e retrato do colonizador, por Albert Memmi (2)

Beja Santos

Albert Memmi partiu cedo da Tunísia e fez uma promissora carreira universitária em França, é autor de romances, poesia, entrevistas, ensaios, entre outros. Em meados da década de 1950, ainda antes de se ter desencadeado a guerra da Argélia entendeu escrever dois retratos para dimensionar o colonizado e colonizador. Obra de escândalo e aplauso. Acrescia o facto de o autor ter sido detido pelos alemães num campo de trabalho e a sua imagem política era de resistente de esquerda. Deu celeuma as suas considerações sobre o nacionalismo e a esquerda. Os próprios funcionários coloniais se sentiram visados pelas suas considerações no contexto da vida colonial.

A sua escrita é calma, um verdadeiro incentivo ao diálogo. Quando ele diz que o colonialista é a vocação natural do colonizador, não usa palavras de ordem, trabalha com argumentos. Quando ele diz que é corrente opor-se o imigrante ao colonialista que nasceu na colónia, ele desvela como se trata de uma falácia. O imigrante acabará por adotar a doutrina colonialista. Quem nasceu na colónia tem o ambiente familiar, os interesses constituídos, os privilégios recebidos, por natureza o colonialismo restringe a sua liberdade. Quem chega à colónia, forçosamente nela se vai inserir, mas há uma larga franja do grupo colonizador que a tudo se adaptará, ao sistema policial, ao desrespeito pelas culturas nativas: são uns medíocres, aqueles que não têm saída fora daquele contexto colonial e que acabarão por se resignar aos tiques e comportamentos do grupo colonizador, resignam-se ao ramerrão, constituíram a falange da maioria dos homens da colonização.

E chegamos a um dos pontos mais polémicos da obra, em que ele refere abertamente: a situação colonial fabrica colonialistas do mesmo modo como fabrica os colonizados. E di-lo serenamente, a propósito das comparações, inevitáveis a que o colonista procede quando fala da sua pátria: “O colonialista parece ter esquecido a realidade viva do seu país de origem. Ao longo dos anos, ele esculpiu, por oposição à colónia, um monumento da metrópole tal que a colónia lhe aparece necessariamente vulgar”. O colonialista nunca esquece de referir o calor, a humidade, as cobras, o verde interminável, tem sempre argumentos de contraposição em que a metrópole reúne tudo quanto há de positivo, a própria harmonia dos sítios, o melhor clima, a beleza, etc. O nacionalismo do colonialista tem as suas especificidades. A pátria tolera e protege a sua existência enquanto colonialista. Mas há também a tentação fascista, a máquina administrativa e política da colónia está ao serviço da exploração, funda-se na desigualdade e é garantida pelo autoritarismo das forças policiais, nas cidades e nos lugares mais remotos.

Não menos polémico é o que Memmi diz sobre o ressentimento que o colono guarda da metrópole. Diz sem ambiguidade que ao nível da mesma classe o colonialista está mais à direita que o metropolitano. Não tendo os mesmos interesses que o metropolitano, sente-se preterido na colónia. E temos depois o racismo que resume e simboliza a relação fundamental que une o colonialista e o colonizado. O racismo do colonialista é sustentado pela intensidade nas relações coloniais. E diz Memmi que a análise da atitude racista revela-se em três elementos importantes: descobrir e evidenciar as diferenças entre o colonizador e colonizado; valorizar essas diferenças a favor do colonizador e em detrimento do colonizado; e elevar estas diferenças a um nível absoluto. O colonizador encara esta relação com o colonizado como uma categoria definitiva. É neste ponto que Memmi introduz um elemento perturbador: as más relações entre a Igreja e os colonialistas; estes, quando percebem que o religioso (ou o missionário) apela à libertação espiritual do colonizado, tudo fazem para que a religião do colonizador seja encarada como a etapa indispensável da via da assimilação, o que pode levar à contestação, o religioso pode também entrar em confronto com o colonizador pela recusa do paternalismo, propondo direitos humanos, sindicais, sociais e o fim da discriminação.

Vejamos agora o retrato do colonizado. A imagem apresentada pelo colonizador é de que o colonizado é preguiçoso, é ladrão, despido de valores, esbanjador, sanguinário, acriançado. Assim sendo, há que o vigiar, segui-lo de perto, dar-lhe os valores metropolitanos, os mesmos feriados que há na metrópole, fazê-lo estudar a história da metrópole, sujeitá-lo a muitas provas antes de lhe dar o estatuto assimilado. Perante esta couraça de imposições, só resta ao colonizado encontrar refúgio num conjunto de valores que são os da família, os princípios do clã, assim se impede a amnésia cultural imposta pelo colonizador que pretende demolir a memória do colonizado.

O autor questiona se nos apercebemos porque é que o colonizado possui uma literatura viva rudimentar. Há a língua oficial em que escreve o escritor assimilado e há a realidade dos outros idiomas em que os colonizados sem entendem. O escritor assimilado, por muito que goste da língua que recebeu do colonizador, tem quase sempre a impressão que escreve para um auditório de surdos. E sobre este assunto Memmi profere um juízo radical: a literatura colonizada de língua europeia parece destinada a morrer cedo. O colonizado procura mudar de condição mudando de pele, isto é casando com a branca ou com a mestiça, aderindo aos costumes, à indumentária, à alimentação, ao tipo de arquitetura do colonizador, procura captar-lhe os princípios e valores. É nesse contexto de inclusão, que passa por desfrisar o cabelo, descolorir a pele, o uso de bijuteria, rejeitando o artesanato secular, que o colonizado julga que encontrou a porta aberta para a assimilação. É um quadro idílico em que se esquece que a condição colonial só pode mudar com a supressão da relação colonial.

E assim chegamos a alguns dos postulados mais polémicos do trabalho de Memmi: a verificação de que só resta ao colonizado revoltar-se, que a libertação do colonizado se deve fazer pela reconquista de si e de uma dignidade autónoma. Mas há ambiguidades desta afirmação de si: devido ao processo de exclusão, o colonizado aceita-se como diferente, a sua originalidade é definida pelo colonizador. Na conclusão da obra, Memmi dá como demonstrado que o colonizador é uma doença do europeu, que o papel de colonizador de esquerda é insustentável, que a negação dos direitos do colonizado preparam a revolta e o quadro revolucionário, neste se operará a liquidação da colonização. É na reconquista das suas dimensões que o ex-colonizado se irá tornar num homem como os outros, assim se tornará num homem livre com as ditas e desditas de todos os homens de todos os continentes.

Libertação colonial: assim como não há colonizadores de esquerda, a esquerda europeia passa a desconfiar daquele nacionalismo que em caso algum tem a ver com a sua prática ideológica, tal como ele a conhece no seu país de origem.
____________

Nota do editor

Poste anterior de 30 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18582: Notas de leitura (1062): Retrato do colonizado e retrato do colonizador, por Albert Memmi; editado por Gallimard (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 4 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18602: Notas de leitura (1063): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (33) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18613: XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (23): um paraquedista, uma enfermeira paraquedista e um maluquinho das máquinas voadoras... O que faziam em Monte Real, no sábado, dia 5 de maio ?







Monte Real > XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 5 de maio de 2018 >  Jaime Bonifácio Marques da Silva, Giselda Antunes Pessoa e Mário Leão

Foto (e legenda): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados [Edição; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. O que é que têm em comum estes três camaradas nossos ?  

Bom, a Giselda era a única camarada presente em Monte Real, no sábado. Como se sabe, foi enfermeira paraquedista no TO da Guiné, entre 1972 e 1974... É casada com o coronel piloto aviador reformado, Miguel Pessoa... Costumamos chamar-lhes o casal mais 'strelado' do mundo... O Miguel apanhou com um e teve de ejectar-se, em 25 de março de 1973... A Giselda teve mais sorte, apanhou com dois, de raspão, mais tarde...

O Jaime foi alf mil paraquedista, no BCP 21, em Angola, entre 1970 e 1972. Era (e é) muito amigo da Rosa Serra, também enfermeira paraquedista. Estiveram os dois juntos em Angola. A Rosa Serra e as restantes enfermeiras paraquedistas foram homenageadas há dois anos, em Fafe, segunda terra, por casamento, do Jaime.  Foi na edição de 2016 do "Terra Justa - Encontro Internacional de Causas e Valores da Humanidade". A ideia partiu do Jaime.

Em Fafe, o nosso grã-tabanqueiro lourinhanense casou, teve dosi filhos, trabalhou como professor de educação física, foi autarca, com o pelouro da educação e cultura. Por doença da esposa, fixou-se definitivamente na sua terra natal, Seixa, Lourinhã, onde o casal, reformado, vive agora.

Desinquietei-o para vir a Monte Real. Nunca tinha vindo, mas costuma estar atento ao que se passa com os ex-combatentes, quer da FAP, quer do Exército, quer da Marinha. É sócio, inclusive, da AVECO . Associação dos Veteranos Combatebentes do Oeste, com sede na Lourinhã.

O Jaime veio, comigo e com a Alice, e gostou. E era o único paraquedista presente, além da Giselda. Trouxe inclusive 2 garrafas de aguardente vínica da Região Demaracada da Lourinhã. Foi com imensa alegria e sentido de partilha que ele abriu as duas garrafas e deu-a a  provar a mais de  três dezenas de camaradas presentes, no fim da refeição, depois do almoço. Foi um sucesso e um momento alto do nosso encontro: a maior parte dos camaradas desconhecia este produto da nossa terra, que é único no mundo, a par do Cognac e do Armagnac...

O Mário Leitão, hoje farmacêutico reformado, foi por sua vez  professor na Escola Superior de Enfermagem de Viana do Castelo. E é piloto civil  (com 300 e tal horas de voo)... Não sei se ainda é, depois de um grave acidente sofrido há uns anos. Tem, enfim, o "bichinho" dos aviões. Tal como o Jaime, que foi para os paraquedistas, porque lhe garantiram que saltar de paraquedas podia ser um dos melhores prazeres da vida... Andou muito a penantes no Norte e no Leste de Angola.  E tem guerra que chegue para contar aos filhos e netos....

E a Guiné? Tem quase meia centena de referências no nosso blogue, o que dá uma ideia do que temos em comum. É membro da nossa Tabanca Grande, vai a caminho da meia centena de referências no nosso blogue.

Não sei do que estavam a falar o Jaime e a Giselda quando lhes tirei estas "chapas"... Mas é fácil de adivinhar. O Mário, por sua vez, estava a preparar-se para oferecer dois dos seus livros ao casal Miguel & Giselda.

Aqui fica as fotos, para memória futura.

LG.
_______________

Guiné 61/74 - P18612: XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (22): bem hajam, camaradas e amigos/as, que não puderam vir, e tiveram a gentileza de nos mandar uma mensagem de saudações ou uma simples palavrinha de explicação...


Monte Real > XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 5 de maio de 2018 > Aspeto parcial do grupo de cerca de 130 que este ano marcou presença...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados [Edição; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Vários camaradas e amigos que não puderam estar presentes (, uma boa parte por razões de saúde, outros por compromissos de agenda, outros ainda por imprevistos de última hora) telefonaram ou mandaram mensagens a desejar um bom encontro em Monte Real, uns no próprio dia, outros na véspera, ou até uns largos dias antes. 

Correndo o risco de não me lembrar de todos, foi o caso do Joaquim da Silva Jorge e Esmeralda (Ferrel / Peniche), Sousa de Castro e Conceição (Viana do Castelo), C. Caria (Penamacor),  António Fernando Marques e Gina (Cascais), João Crisóstomo (Nova Iorque), Rui Chamusco (Timor), Eduardo Jorge Ferreira (Vimeiro / Lourinhã), Diana Andringa (Lisboa), João Martins (Lisboa), João Sacôto (Lisboa), Manuel dos Santos Gonçalves e Maria de Fátima (Tucha) (Carcavelos / Cascais),  Alcides Silva (Oliveira de Azeméis), Humberto Reis (Alfragide / Amadora), António Estácio (Sintra), Raúl Albino (Setúbal), José Cancela (Penafiel), Carlos Mota Ribeiro (Maia), António Rosinha (Alverca e Torres Vedras), Jorge Ferreira (Paço de Arcos / Oeiras), Virgílio Teixeira (Vila do Conde)...

Destaco estes três últimos:

(i) António Rosinha (Alverca):

Luís, almoços prolongados já não combinam com indicações médicas há uns anitos para cá, uma das razões de não comparecer em Monte Real.

Habito temporariamente entre Alverca hoje, Torres Vedras amanhã, 50/50.

Um abraço, Antº Rosinha

(ii) Jorge Ferreira (Oeiras);

Luís, tabanqueiro mor, votos de que o nosso Encontro esteja a decorrer como desejavas. Eu também estou aí em espírito,

Não te esqueças de apelar a todos os que têm fotos da sua passagem pela Guiné para que as disponibilizem para que as possamos divulhgra através do FOTOBOX, o programa de fotografia do Luís Carvalho, na RTP 3.

Aquele abraço para todos os nossos camaradas. JF

(iii) Virgílio Teixeira (Vila do Conde):

Caro amigo Luís:

Obrigado pela tua mensagem de ontem [, 4 de maio], não prometo que para o ano aí estou, em Monte Real, onde espero e desejo que passem um bom sábado,  de confraternização e camaradagem, com os nossos camaradas da Guiné, que tudo merecem.

Com certeza será mais certo eu ir ao encontro da Tabanca da Linha, pois resolvo o meu problema de transportes. Temos o Alfa, vou com a minha mulher calmamente no dia anterior, fico num hotel até o dia seguinte, posso comer e beber à vontade, e depois vou ficar no hotel até ao dia seguinte, e faço no Alfa a viagem de regresso, sem stress, sem problemas do condução, que já não aguento tantos quilómetros e com os problemas de dormir.

Está na hora da vossa convivência, por isso se receberes esta mensagem, manda aí um Alfa Bravo para todos, incluindo o Antº Rosinha se estiver também em Monte Real, (parece-me que ele não alinha muito com os meus postes, está sempre a lançar piadas, pois, tal como eu, também não é politicamente correcto, por isso o aceito tal como ele escreve, além disso merece o meu respeito pela sua mais longa idade, mas não é caso de estar sempre a lançar piadas sobre 'a minha guerra', os meus postes de Bissau, é preciso colocar mais uns, de São Domingos, Nova Lamego, Susana, Cacheu e outros sítios, tipo guerreiro, para merecer mais consideração, afinal todos andamos por lá, não tenho culpa de me darem uma função no Comando do Batalhão, que não era para todos, como é óbvio, eu sei).

Um bom regresso, e até a próxima,

Abraço do
Virgílio
____________

Nota do editor: