sábado, 28 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23303: "A Minha Passagem pela Guiné-Bissau em Tempo de Guerra" (António Sebastião Figuinha, ex-Fur Mil Enfermeiro) Parte VIII

1. Continuação da publicação do texto de memórias "A Minha Passagem pela Guiné-Bissau em Tempo de Guerra", de António Figuinha, ex-Fur Mil Enfermeiro da CCS/BCAÇ 2884 (BissauBuba e Pelundo, 1969/71)


A MINHA PASSAGEM PELA GUINÉ-BISSAU EM TEMPO DE GUERRA

António Sebastião Figuinha
Ex-Furriel Miliciano Enfermeiro
CCS/BCAÇ 2884
1969/1970/1971
Parte VIII

Debruçando-me sobre a saúde e os vários casos que durante a comissão tive que enfrentar não só com a parte militar como também com a parte civil.

Sobre a parte militar, como já deixei entender mais atrás, não tive casos de saúde muito graves na CCS do Batalhão 2884 ou seja, durante o tempo que estive no Pelundo.

Descrevendo sobre as necessidades de tratamentos de saúde dos militares, os casos de maior preocupação do Médico e meus, foram os ataques de paludismo “Malária”, doenças sexuais transmissíveis e saúde oral. Sobre a saúde oral, a ela se deveram a maiorias de consultas externas de militares enviados para o Hospital em Bissau.
Quantos aos casos de Paludismo, com mais ou menos dificuldade foram sendo resolvidos no local.

Mais graves e diversos foram os casos de saúde sexualmente transmissíveis. Devo começar por descrever que, casos houve, que tiveram início ainda na metrópole. Destes, lembro-me de um que não conseguimos curar durante toda a comissão.

Numa das minhas idas a Bissau e à Direção de Saúde, o chefe desta, chamou-me ao seu gabinete para trocar informações sobre a saúde dos militares e das populações. Devo confessar aqui, o grande apreço que tive por este militar com a patente de Brigadeiro. Só o conheci lá, mas, a forma carinhosa como sempre me tratou ficará sempre comigo. Eu era o seu menino! A revista do Exército já me tinha colocado na capa de uma das suas edições como militar exemplar a lidar com a saúde da população civil.

Naquele dia tinha uma informação importantíssima a transmitir-me em primeira mão, portanto, antes de ser enviada para o Comando do meu Batalhão.
Tratava-se dum tema ligado às doenças sexualmente transmissíveis e, sobre a forma como o PAIGC a estava a utilizar. Estes começaram a introduzir prostitutas infetadas para contaminação das nossas tropas, enfraquecendo-as moral e fisicamente. Os americanos utilizaram este esquema contra os japoneses na segunda Grande Guerra Mundial. Os japoneses, logo que descobriram, começaram a fuzilar os seus militares infetados para imporem regras.

Logo que naquela tarde e mal a escolta chegou ao Pelundo, fui de imediato falar com o Capitão da CCS dando-lhe conta do que pensava fazer em relação ao pedido do Brigadeiro Médico da Direção de Saúde da Guiné. A resposta do Capitão, que por sinal já tinha recebido as mesmas instruções de Bissau, deu-me carta branca para atuar junto das prostitutas que frequentavam o nosso meio e, proporcionou-me os meios para as trazer ao Quartel a fim de serem observadas por mim, já que o Médico se encontrava ausente em férias no Continente.

Alem das prostitutas, havia a necessidade de ter uma conversa muito séria com os militares sobre minha responsabilidade na saúde.
Uma a uma, elas me foram entregues pela patrulha destinada a esta missão. Dentro dos meus conhecimentos, fiz-lhes uma prévia observação.

Para espanto meu, logo que soube que já se encontrava a primeira no Posto Médico, encontrei a porta deste fechada, mas com som de música no seu interior. Bati na porta, dando ordem para que a mesma fosse aberta. Mal esta se abriu, encontrei um dos Maqueiros a querer ensinar a prostituta a tirar a roupa como se estivesse num cabaré. Não gostando do que vi, levantei a voz para que terminasse o espetáculo. Ordenei novamente que fosse fechada a porta do Posto Médico para, deste modo, tentar dar alguma privacidade à paciente.

Mal eu tinha dado esta ordem, senti a voz do Major ordenando que queria entrar para verificar o que se estava a passar. De imediato, dirigi-me à porta para saber o que o Major Pinho queria. Foi-me dizendo que tinha ouvido música e, como tal, queria observar as suas razões. Disse-lhe que era assunto interno e que o já tinha resolvido. Porém, ao aperceber-se que a mulher se encontrava meio despida tentou forçar a entrada, mas eu não deixei, dizendo-lhe que se tratava de assuntos de saúde com ordens superiores de Bissau e como tal, só a mim diziam respeito. Pouco convencido, lá foi praguejando.

Das cinco prostitutas por mim observadas, duas foram enviadas para o Hospital para melhor observação médica e, às outras três, apliquei-lhes um tratamento com antibiótico injetável correspondente a um tratamento diário de uma semana. De Jipe foram levadas cada uma para sua residência onde permaneceram sem poder exercer a sua profissão durante cerca de quinze dias por causa das dores que as suas nádegas lhe transmitiam.
Este tratamento começou a ser dado pelo Médico aos homens civis para evitar que nenhum não mais aparecesse no Posto Médico após a primeira injeção e, se tornassem possíveis doentes crónicos.

Quanto aos Soldados da Companhia, fui chamando um a um ao Posto Médico para lhes falar dos objetivos do PAIGC com as prostitutas e, como a partir dos meus conselhos, todo aquele que me aparecesse contaminado seria tratado. Em cima da minha secretária tinha colocado uma seringa de vinte centímetros cúbicos com uma agulha de doze centímetros de comprimento. Alguns deles desmaiaram só pela visão da agulha.
Às prostitutas, aconselhei-as a obrigarem os Soldados a usar o preservativo. Umas responderam-me que tinham receio que o preservativo ficasse dentro delas fazendo balão. Disse-lhes que tal não aconteceria. Tentei durante a comissão evitar este flagelo de saúde pública.

O interesse por aumentar os meus conhecimentos na saúde foram uma realidade com o tempo e a população civil deu-me esta possibilidade. A minha dedicação foi uma constante. Desde ajudar em partos, detetar apendicites e outras mazelas originais de África. Direi que o serviço militar em África foi uma grande escola de saúde para mim e para muitos dos Médicos que por lá passaram. Até aos dias de hoje, tenho ao longo destes anos tirado partido desses conhecimentos, não só para mim, como também para os meus familiares.

Como já referi em páginas anteriores, uma tarde o Comandante chamou-me ao seu gabinete para me anunciar que teria que ir para o Quartel de Có dar assistência sanitária aos nossos militares que lá se encontravam como também à população que de mim necessitasse.
Com um sentimento de revolta perguntei-lhe porque eu? Sendo o mais qualificado do Batalhão porque não era indicado outro? Respondeu-me que não havendo Médico nem Furriel Enfermeiro naquela Companhia, eu era o Enfermeiro mais bem preparado para dar confiança aos nossos militares que lá se encontravam. Agradeci o elogio, mas que bem o dispensava porque iria contrariado. Acabava de receber um balde de água fria na minha cabeça. Senti vontade de gritar pela revolta que sentia. Na minha mente senti a vingança dele pelas afrontas que lhe fiz não cedendo aos seus caprichos. Também o Médico que comigo se encontrava no Pelundo enalteceu os meus conhecimentos em saúde, mas para proveito próprio. Desta forma, evitava ter que se deslocar em escoltas a Có numa altura que se aproximava o fim da nossa estadia na Guiné.

Um dos motivos para ter havido necessidade de se deslocar para a povoação de Có um Furriel Enfermeiro deveu-se, primeiro, porque o Furriel Enfermeiro daquela Companhia e do meu curso ter sido preso de acordo um artigo das regras militares sobre a conduta que todo o militar devia ter naquela altura, bem como não possuírem lá Médico.
Dias antes deste acontecimento, fui surpreendido ao ver na prisão do Quartel do Pelundo o Furriel Enfermeiro de Có. O Lemos, de seu nome, era um daqueles que juntamente comigo tiraram o curso e dos mais pacatos e até divertidos, tendo muito jeito para o Teatro. Porem, quando soube das causas, não fiquei muito surpreendido. Nos dias de hoje, até ficaria famoso já que passou a ser um ato de afirmação que as minorias de hoje nos tentam impor. Devo ainda acrescentar, que sendo o Lemos natural de Braga, foi também para o Porto tal como eu, realizar o estágio do curso no Hospital Militar local. Um quase fim de Comissão drástico para ele. Anos mais tarde, e já em Lisboa, voltei a encontrá-lo na Calçada da Estrela, onde possuía uma loja de decoração.

Lá tive que fazer o saco e despedir-me daqueles que me eram mais próximos e parti em escolta para Có. Porém, antes de partir, vim a confirmar as minhas suspeitas que uma das razões porque tive que ser transferido se deve ao Médico que comigo se encontrava no Pelundo ter receio de alguma emboscada que sofresse sempre que tivesse que ir a Có dar consultas. Não me senti nada orgulhoso por este grau de confiança já que estava a pouco mais de cinco meses do fim da Comissão, e portanto, do regresso definitivo a casa.
Fiz as minhas despedidas dos Maqueiros e Cabo Enfermeiro que tinha a meu cargo, do Médico e de alguns amigos da população, mas de forma muito especial, de quem tinha o cuidado de zelar pela minha roupa.

Cheguei a Có e, surpresa minha, tinha já à minha espera uma jovem para tomar conta da minha roupa que tivesse necessidade de ser lavada. Perguntei-lhe porquê ela? Respondeu-me que tinha recebido ordens da sua amiga do Pelundo para ser ela e não uma outra pessoa a tomar conta da minha roupa a lavar. Fiquei sem fala. Não mais fiz perguntas e pensei para mim o quanto se preocupava comigo a jovem do Pelundo.
De seguida fui-me apresentar ao Capitão da Companhia, que já conhecia, mas apenas de vista, pois só tinha falado uma ou duas vezes com ele no Pelundo. O Capitão Miliciano Rodrigues era natural de Macau. Excelente pessoa que já não vive. Voltei a encontrar-me com ele anos mais tarde em Lisboa, na zona do Marquês do Pombal. Fomos beber café algumas vezes.

As apresentações continuaram de seguida, primeiro aos Sargentos (Primeiro e Segundo) e depois aos Cabos Enfermeiros que no momento lá se encontravam. De seguida fui conhecer os meus aposentos que ficavam junto ao Posto Médico e dar uma espreitadela a este.
Fiquei parvo com o que me era dado a observar. Era uma bagunça total. Além da desordem observada, toda a gente entrava e mexia a seu belo prazer e, numa das paredes laterais, por cima de um banco corrido que servia para se sentar quem lá fosse para consulta, qual escola, fotografias do Presidente da República e do Ministro do Ultramar na altura.
Chamei os Cabos Enfermeiros presentes nesse momento no Quartel para lhes comunicar que a partir daquele instante só eu autorizava as entradas ao Posto Médico.

Depois de uma pequena conversa com os Cabos Enfermeiros, dirigi-me ao gabinete do Primeiro-sargento (Gabinete da companhia onde eram tratados todos os assuntos com papeis) para o informar que não queria fotografias ou outros quadros no Posto Médico que não fossem alusivos à saúde e portanto, que enviasse alguém para retirar de lá tudo o que fosse estranho à saúde. Acrescentei que o lugar daquelas molduras seria na Escola como era natural na altura.
Reagiu mal. As ameaças começaram de seguida dizendo que não seriam retirados os quadros de lá. Respondi-lhe com um ultimato. Ou o Primeiro os retira ou enviava alguém para o fazer. Já os tirei da parede e foram colocados em cima do banco corrido, ou então, eu não vejo outra solução, que não seja colocá-los no bidão do lixo. Olhou para mim de feições iradas dizendo para que eu pensasse bem nas palavras que tinha acabado de proferir. Calmamente respondi-lhe que não me assustava. Leve o assunto para a política que não lhe tenho medo. Voltei-lhe a reafirmar que no Posto Médico eu só aceitava propaganda de saúde. Leve-os para a Escola, voltei a dizer-lhe. Arranjei mais um inimigo. Até ao último dia em que nesta Companhia permaneci, não mais nos demos bem e não mais lhe falei até aos dias de hoje.

Para agravar mais o nosso relacionamento e dado a aproximação do fim da Comissão, recusei-me a assinar um termo de responsabilidade de tudo o que se relacionava com material sanitário sem que fosse feito um inventário ao mesmo. Mais zangado ele ficou comigo. Com isto, o Segundo Sargente esteve até ao último dia que lá permaneci a trabalhar para mim elaborando autos de consumo ou extravio de materiais.

Um outro caso muito estranho lá fui encontrar nesta Companhia. Um dos quatro Cabos Enfermeiros não fazia mais nada que não fosse comer e dormir. Achei muito estranho este ter tirado o Curso de Cabo Enfermeiro e já se terem passados dezassete meses de Comissão e, vir a saber, que esta criatura nada fazia porque dizia não ter coragem para ver sangue e para dar qualquer injeção. Resumindo, este lorde diariamente castigava os outros três Cabos Enfermeiros com uma sobre carga de trabalho.
Fui primeiro ter uma conversa com o Capitão da Companhia acerca deste caso. Pedi-lhe que me fornecer dados sobre aquela situação.
Respondeu-me que nenhum militar confiava nele e, como tal, só os outros três acompanhavam as patrulhas e atendiam todas as necessidades do Posto Médico.

Este espertalhão natural de Almada passou até então meses gozando com o pessoal. Como foi possível darem-lhe o posto de Cabo Enfermeiro? Interroguei-me eu! Vou ter aqui mais uma dor de cabeça, mas não irá terminar a Comissão sem que vá nem que seja uma única vez numa patrulha para o mato, meditei de seguida.
Falando com o Capitão, acertei com ele os detalhes. Disse-lhe que a partir daquele dia eu iria verificar os conhecimentos de saúde daquele Cabo.

Pedi ao Cabo Enfermeiro para arranjar uma almofada velha para treinar à minha frente como espetar uma agulha. Recuou uns passos e foi dizendo que não ia resultar dado que muitas vezes tinha tentado e não conseguia sequer olhar para a agulha. Reafirmei-lhe que era uma ordem minha que teria de cumprir. Assim aconteceu, mas tentando sempre fazer batota.
Como o inventário que eu juntamente com o Segundo Sargento estávamos a realizar a todo o material sanitário, este trabalho ocupava-me muito tempo. Deste modo nem sempre era possível pôr o Cabo treinar a dar injeções como também fazer um penso.

Andava eu naquela azáfama, quando num dia, ao começo da tarde e encontrando-me a descansar um pouco no meu quarto, eis que surge o Cabo Enfermeiro Carlos Gomes muito aflito dizendo-me que se encontrava no Posto Médico um jovem com parte da rótula do joelho em mau estado e sangrando bastante.
Reagi logo e pedi-lhe para colocar o jovem em cima da maca, e esta em cima duma mesa que lá se encontrava. Também que fosse preparando o material como pinças, tesouras, estilete e tudo mais necessário para fechar o golpe, bem como, desinfetar e isolar o local do referido joelho para eu o tratar.

Vesti-me e passando água pelos olhos, lá me dirigi ao meu posto de trabalho.
Espanto meu quando o vi com os dedos segurando num pouco de algodão embebido em mercúrio ou cromo e, passando a medo em volta do golpe, mas com o rosto virado para as suas costas como tivesse nojo do que tinha na sua frente. Passei-me, e, com o meu braço esquerdo, segurei-o pelo pescoço encostando-lhe a cara ao joelho ferido do jovem, ao mesmo tempo que gritando com ele lhe dirigi palavras amargas. Nunca pensei ir encontrar tamanho malandro e matreiro com o posto de Cabo Enfermeiro.

Embora eu tivesse naquele momento os nervos à flor da pele, olhei para o jovem ferido que gemia de dores e dediquei-me sem demoras tratando-o.
Comecei por isolar devidamente a zona do joelho a tratar, mas sempre dizendo ao Cabo Enfermeiro para não deixar de olhar para as minhas mãos e para o golpe. Abri um buraco numa compressa para que a linha de sutura apenas tocasse em zona desinfetada. Lentamente fui retirando, com o auxílio de uma sonda, pequenos pedacitos de ossos da rótula e comecei a fechar-lhe o golpe sem que antes lhe tivesse aplicado anestesia local. Acabei de fazer a sutura, ensinei o Cabo a desinfetar de novo toda a zona, e a proteger devidamente o joelho do jovem com compressas e respetiva ligadura. Transpirei não só pelo calor que aquela hora se fazia sentir como também pela zanga que aquele traste me provocou.

Continuei a dar-lhe ensinamentos e, certo dia, combinei com um Alferes o levar numa das patrulhas que habitualmente fazia. Ficou receoso da responsabilidade que ele iria ter para com os seus homens no caso de poderem ser atacados pelo PAIGC.
Disse-lhe que estivesse tranquilo que ele iria dar conta do recado. Confesso que eu próprio continuava a não ter total confiança naquele traste. Foi ao mato e tudo correu bem para alívio do Capitão, do Alferes e meu. Deste modo deixou de gozar com o pagode. A partir daquele dia passou a dar injeções, mas só a pessoas da população já que os soldados continuavam a não confiar nele.

Vinte anos depois e no primeiro encontro de convívio do Batalhão, este cavalheiro fez queixas à mais tarde minha mulher dum tabefe que lhe tinha dado na Guiné. Disse-lhe que explicasse à minha mulher o acontecido e todos os porquês. Calou-se.

(Continua)

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Nota do editor

Último poste da série 26 de Maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23295: "A Minha Passagem pela Guiné-Bissau em Tempo de Guerra" (António Sebastião Figuinha, ex-Fur Mil Enfermeiro) Parte VII

Guiné 61/74 - P23302: Parabéns a você (2069): António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil, CMDT da 1.ª CCAV/BCAV 8320/72 e da CCAÇ 17 (Bula e Binar, 1973/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 26 de Maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23294: Parabéns a você (2068): Jorge Narciso, ex-1.º Cabo Especialista MMA da Força Aérea Portuguesa (BA 12, 1969/70)

sexta-feira, 27 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23301: Lembrete (39): Cerca de 80 participantes no 26º Convívio do Pessoal de Bambadinca 1968/71 + CCAÇ 1439 (1965/67), que se realiza amanhã, nas Caldas da Rainha



Lista dos cerca de oitenta inscritos no 26º convívio do pessoal de Bambadnca 1968/71 + CCAÇ 1439 (1965/67)



José Fernando Almeida, o organizador do 26º Convivio,
ex-fur mil trms, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (1969/71)


Guiné - Bambadinca 1968-1971


CCS/BCAÇ 2852, CCAÇ 2590/CCAÇ 12;
Pel Caç Nat 52, 54 e 63;
Pel Mort 22106 e 2268;
Pel Rec Daimler 2046 e 2206;
e outros, inclinida maeirense CCAÇ 1439 (1965/67)


1. Mensagem de José Almeida Fernando, organizador do 26º convívio de Bambadinca 1968/71:

Data - sexta, 20/05/2922, 11:49

Assunto - 26º  convívio do pessoal de Bambadinca 1968/71

Bom dia, Luís

Como decorre a tua recuperação, estás a responder bem à fisioterapia? Faço votos que recuperes bem.

Conforme combinado anexo a Lista dos participantes no 26º Convívio. Neste momento contabilizamos 81 com probabilidade de chegar aos 83. Aguardo a confirmação amanhã do Bernardo Valente.

Dia 17 por motivos de saúde desistiram cinco (5), e no dia 18 com receio do Covid, (dois vizinhos testaram positivo ) e a conselho dos filhos desistiram sete (7).

Temos o apoio do Pelouro de Turismo das Caldas da Rainha. Presidente da Câmara, que assume o Pelouro do Turismo

Anexo lista dos participantes.

Um abraço
Fernando Almeida

2. Comentário de LG:

Zé: alimentei-te a esperança de ainda poder aparecer aí amanhã, mas no outro fim de semana a Alice deu positiva para a Covid-19, no âmbito da 6ª vaga e eu também, no dia seguinte. O meu isolamento acaba no domingo. Não quero, em consciência, poder contaminar alguém. 

Fica posta de lado a hipótese inclusive de ir aí dar uma salto para tomar café e dar dois dedos de conversa. O João Crisóstomo ficou desolado, e eu também. Mas ele leva um grande abraço meu para todos, CCS/BCAÇ 2852, CCAÇ 2590/CCAÇ 12, outras subunidades adidas e ainda a CCÇ 1439 (a cujo convívio já fui uma vez, o último, na Ericeira). 

Acredita que tenho muitas saudades desses bambadinquenses todos!... Não são muitos, mas são bons, pelos nomes que vejo na lista

Que corra tudo bem, mas protejam-se. 

Só há dias tirei os pontos mas ainda tenho a recuperação atrasada. Só para a semana começo a fisioterapia, parte dos/das fisioterapeutas do hospital também esteve de baixa com Covid.  Em suma, a pandemia ainda não terminou nem dá tráguas. 
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Nota do editor:

Últmo poste da série > Último poste da série > 20 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23279: Lembrete (38): Convívio do pessoal de Bambadinca (1968/71), Caldas da Rainha, 28/5/2022: a participação especial da madeirens CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67) (João Crisóstomo, Nova Iorque)

Guiné 61/74 - P23300: Blogpoesia (766): O Canchungo e Avenida, por Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845

1. Em mensagem do dia 23 de Maio de 2022, o nosso camarada Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70), enviou-nos mais um trabalho em verso, agora dedicado a Teixeira Pinto (Canchungo) e à sua Avenida. 


O Canchungo e Avenida

Por Albino Silva


Muitas vezes tenho dito
Escrevo aquilo que sinto
hoje lembro da Avenida
que tinha Teixeira Pinto.

Era uma grande Avenida
com certeza não me engano
com piso de terra batida
e bem ao estilo africano.

Era grande a Avenida
como eu a via assim
começava no Quartel
terminava no Fortim.

Numa grande rotunda
este Fortim lá ficava
e no centro da rotunda
o Teixeira Pinto lá estava.

Naquela grande Avenida
casas em ambos os lados
frequentada por todos
fossem civis ou soldados.

No começo da Avenida
os Correios e Administração
também lá tinha o Clube
e tudo aquilo era bom.

Lá tinha a casa do Médico
tinha a Messe de Oficiais
tinha o Hospital Cívil
uma Escola e muito mais.

No Canchungo na Avenida
onde passei muitas vezes
em muitas lojas entrei
e que eram de Libaneses.

Libaneses que vendiam
artigos de porcelana
vendiam roupas bem feitas
e abertos toda a semana.

Carpetes e muitos tapetes
em muitas casas haviam
muitas vindas de Macau
e eles lá tudo vendiam.

No Canchungo na Avenida
tinha um mercado e bom
lá se comprava de tudo
roupas alimentos e sabão.

Mais à frente na Avenida
tinha a Igreja que então
sempre aberta para todos
os que tinham devoção.

Naquela pequenina Igreja
tinha lá um Capelão
era sempre auxiliado
por um tal Sacristão.

Quando não estavam na Igreja
estavam na Sacristia
e quer um e também outro
eram da minha Companhia.

Logo ao fim da Avenida
a Casa Escada lá estava
era a maior do Canchungo
onde toda a tropa comprava.

Era grande a Casa Escado
e nela nada faltava
roupa louças gravadores
e rádios que a tropa comprava.

Na Rotunda da Avenida
um Libanês lá vivia
tinha bombas de combustíveis
e muitos depósitos enchia.

As casas na Avenida
nem todas eram pintadas
e a cobertura era feita
com as chapas ondeladas.

Pelo centro da Avenida
tinha um passeio bom
com postes em toda ela
que eram de iluminação.

Também tinha um restaurante
do Libanes Viriato
boas carnes lá se comia
que ele caçava no mato.

Por lá cheguei a comer
e nunca nada faltava
como éramos bons amigos
eu comia e não pagava.

Baticã Ferreira era o Régulo
junto à Avenida morava
e tantas vezes no Quatel
aquele Régulo lá estava.

O Canchungo e Avenida
sempre muito movimentada
viaturas tropa e cívis
nesta Vila encantada.

O Canchungo e Avenida
gostei de lá passear
hoje só tenho saudades
não me importava lá estar.

Caravela da Saudade
Saudades é o que sinto
bazucas que lá bebia
era sim Teixeira Pinto.

Caravela da Saudade
onde toda a tropa lá ia
Café vinho ou cerveja
tudo por lá se bebia.

Aos domingos quantas vezes
no Canchungo por lá andava
e com outros camaradas
na Avenida passeava.

Era sempre um vai e vem
naquela Avenida andando
não só tropa mas civis
aos domingos passeando.

Naquela grande Avenida
que Teixeira Pinto tinha
dava gosto andar nela
por estar sempre limpinha.

O Canchungo das Tabancas
que naquela Vila haviam
sempre limpas bem zeladas
mas muito fumo faziam.

Da Rotunda tinha uma estrada
mas não tinha esta só
ela ia para o Pelundo
para Jolmete e também Có.

Outra ia para o Bachile
para a Ponte e para o Cacheu
mais uma para Bassarel
e nelas todas andei eu.

Era assim Teixeira Pinto
uma Vila com muita vida
sendo ela bem povoada
o Canchungo e Avenida.

Canchungo Tchon Manjaco
que saudades de ti sinto
Homem Grande e Bajudas
até um dia Teixeira Pinto.


FIM

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Nota do editor

Último poste da série de 25 DE MAIO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23292: Blogpoesia (766): Adeus Guiné, vou-te deixar, minha missão está cumprida, por Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845

Guiné 61/74 - P23299: Notas de leitura (1449): “Viagens”, de Luís de Cadamosto, introdução e notas de Augusto Reis Machado, na Biblioteca das Grandes Viagens, Portugália Editora, sem data (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Setembro de 2019:

Queridos amigos,
Luís de Cadamosto, veneziano, pôs-se ao serviço do Infante D. Henrique entre 1455 até 1457. Falecido o Infante, regressou a Veneza, terá altas incumbências, na Dalmácia, no comando de galeras armadas para o comércio de Alexandria. Este vívido relato, cheio de sol e pormenor, dá-nos a conhecer (ou a confirmar) o que era o projeto henriquino, o que se pretendia conhecer, Cadamosto vai chegar à costa da Senegâmbia e tudo quanto ele escreve supre lacunas sobre a crónica da Guiné de Zurara. Os historiadores puseram objeções ao rigor do que ele escreve, mas inquestionavelmente as viagens são uma obra histórica. É incompreensível como obras de divulgação como esta não chegam às mãos das novas gerações, com ortografia atualizada é inegável tratar-se de um documento vibrante e que nos faz entender o conhecimento da costa africana entre territórios povoados de árabes até se entrar na terra dos negros, será aí que se irá firmar a Senegâmbia e dentro dela a Senegâmbia Portuguesa.

Um abraço do
Mário



Viagens de Luís de Cadamosto e Pedro de Sintra:
Relatos incontornáveis e de alto nível da literatura de viagens (1)


Beja Santos

De Cadamosto e Pedro de Sintra já aqui se fez larga referência ao trabalho do professor Damião Peres na Academia das Ciências, em 1948. Procura-se agora cotejar alguns aspetos essenciais de uma obra de divulgação que estranhamente não se reeditou, intitulada “Viagens”, de Luís de Cadamosto, introdução e notas de Augusto Reis Machado, na Biblioteca das Grandes Viagens, Portugália Editora, sem data. Esta obra de divulgação foi extraída da Coleção de Notícias para a História e Geografia das Nações Ultramarinas que vivem nos Domínios Portugueses, tomo organizado pelo académico Sebastião Francisco de Mendo Trigoso (1773-1821). Figura nas anteriores edições com o título de “Navegações”. Estas viagens foram publicadas em Itália pela primeira vez em 1507. Tornaram-se numa peça fundamental da historiografia dos Descobrimentos para se falar do projeto henriquino com a propriedade de lhe conhecer os fundamentos e de revelar um viajante de primeira grandeza, capaz de registar fauna e flora, usos e costumes, o poder dos reinos africanos, o que se comerciava. Acresce a fluidez que timbra toda a narrativa de Cadamosto, do princípio ao fim. Saiu de Veneza, atravessou Gibraltar resolvido a navegar no mar Oceano, encontrou-se com o Infante D. Henrique, dá conta dos sonhos do príncipe, dos seus propósitos em avançar mais avante.

Encontrou-se com o Infante no Algarve, numa povoação chamada Raposeira, ali se acordou que ele iria viajar explorando a costa africana:
“Tendo eu ficado no Cabo de S. Vicente, o Senhor Infante mostrou com isso grande prazer e me fez muito agasalho e mandou armar uma caravela nova, de lote de 45 toneladas, da qual era Patrão um Vicente Dias, natural de Lagos, que é uma povoação a 16 milhas de distância do Cabo S. Vicente. E abastecido de todo o necessário, partimos do sobredito Cabo de S. Vicente aos 22 de março de 1445, o nosso rumo para a ilha da Madeira”. Fala das Canárias, de Porto Santo, da Madeira, e depois rumam do Cabo Branco da Etiópia (não esquecer que era conceito da época de que se estava a avançar para a Baixa Etiópia ou Etiópia Menor, e quando se chegou ao rio Senegal pensava-se, por falta de informação geográfica rigorosa, que se estava nas proximidades dos rios Níger e Nilo). Enquanto se percorre à distância terras dos mouros, a quem ele chama a costa da Barbaria, e todo o Sara Ocidental, chega-se aos negros da Etiópia, passa-se pelo Golfo de Arguim e informa-se que o Infante tinha feito na ilha de Arguim um contrato com o qual ninguém pudesse entrar naquele golfo para traficar com os árabes, salvo aqueles que entrassem no contrato e teriam então direito de comerciar na feitoria, economia de troca, quem chegava recebia negros como escravos e recebia panos, tecidos, prata e trigo. Tem algo de fantástico o que os Azenegues (berberes) julgaram ser os Portugueses: “Posso certificar que quando viram as primeiras velas creram que fossem pássaros grandes com asas brancas que voassem, alguns deles pensaram que fossem peixes, outros diziam que eram fantasmas que andavam de noite. E diziam isto, porque, às vezes, no princípio da noite eram assaltados em um lugar e naquela mesma noite pela madrugada acontecia o mesmo cem milhas adiante pela costa, outras vezes mais atrás, segundo ordenavam os das caravelas; e diziam entre si: se fossem criaturas humanas como poderiam fazer tanto caminho em uma noite quanto nós não poderíamos andar em três dias?”.

Iniciam-se as atividades comerciais e fala-se no império dos negros, menciona-se Tombuctu. Antes de chegar à terra dos negros, e sempre falando da Barbaria ou terra de alarves, diz que naquela terra não se bate moeda alguma, todo o tráfico é trocar coisa por coisa ou duas coisas por uma, são pardos. Passado o Cabo Branco, navegou-se à vista até ao rio do Senegal, passado o deserto chegou-se ao país dos negros, a primeira descrição daquela região lacustre é como se tivessem chegado a um paraíso terrestre e então Luís de Cadamosto refere o reino do Senegal e os seus limites:
“O primeiro reino de negros da Baixa Etiópia é este que fica sobre o rio do Senegal. Os povos que habitam as suas margens chamam-se Jalofos, e toda esta costa e país acima declarados é terra baixa até Cabo Verde (entenda-se, ponto continental, não tem nada a ver com o arquipélago) que é a terra mais alta de toda aquela costa. Segundo eu pude perceber, este reino do Senegal confina pela terra da parte do Sul com o reino da Gâmbia, do poente com o mar Oceano e do nascente com o reino acima dito, que extrema os amulatados destes primeiros negros”.

É interessantíssima a sua narrativa sobre a eleição dos reis do Senegal, costumes, família, crenças, os seus trajes, as guerras que faziam e as armas que utilizavam. E assim se chegou ao país de Budomel, “povoação distante do rio Senegal coisa de oitocentas milhas pela costa, a qual nesta extensão é toda baixa e sem montes. Este nome Budomel é título do senhor e não nome próprio do lugar”. A região já fora visitada por outros navegadores, Cadamosto tinha consigo alguns cavalos de Espanha, “que eram boa mercadoria no país dos negros, não obstante de ter muitas outras coisas, como panos de lã e peças de seda mourisca, e outras mercadorias, determinei provar com ele (Budomel) a minha fortuna”. Budomel veio ao seu encontro, recebeu-o com grande festa, Cadamosto deu-lhe os cavalos e foi convidado a ir a casa de Budomel. Outra narrativa espantosa, a estadia em terras do senhor Budomel e do seu neto chamado Bisboror.

Ficamos a conhecer um cerimonial do tipo de Rei Sol, Budomel é praticamente um Rei Deus: “Homem algum teria atrevimento de vir falar-lhe sem que primeiro se tivesse despido todo, salvo as bragas de cor, que conservavam, estando daquela maneira um bom espaço de tempo, deitando areia para cima de si; depois não se tornavam a levantar, mas, arrastando-se com os joelhos e pernas pelo chão, se iam avizinhando ao senhor, e, quando estavam a coisa de dois passos de distância paravam para falar e dizer o seu negócio, não cessando entretanto de deitar areia para trás, com a cabeça baixa em sinal de grandessíssimo acatamento”. E depois deste espetáculo descreve o modo terrífico como comem: “Comem no chão bestialmente, sem nenhum preparo: e com eles não come ninguém, salvo aqueles mouros que lhe ensinam a lei e um ou dois negros dos principais. Toda a gente miúda come a dez ou doze juntos, põem um grande cesto de carnes no meio, e todos metem a mão dentro; comem muito pouco de cada vez, porém muitas vezes, isto é: quatro ou cinco cada dia”.

Carta náutica de Lázaro Luís, 1563, Academia das Ciências, Lisboa.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE MAIO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23285: Notas de leitura (1448): “Guerra Colonial – Uma História por Contar”, trabalho dos alunos do Externato Infante D. Henrique (Ruílhe-Braga) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P23298 Convívios (930): 48.º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, Algés, 19 de maio de 2022 - Parte II: caras (lindas) que não se viam há mais de 2 anos; outras aparecem pela 1º vez...

  


Foto nº 9 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > Caras lindas que não se viam por aqui há mais de 2 amos: primeiro veio a pandemia, depois vieramas  mazelas do corpo e da alma... A noossa Eisabete Silva, por exemplo, quem diz que em 2013 andava pelos matos e bolanhas da Guiné-Bissau, toda fresca, com o marido,  o nosso dr. Francisco Silva, cirurgião ortopedista, e que depois passou por um grave problema de saúde... Está de volta aos convívios da Tabanca da Linha e com ótima cara... Que bom, ver-te, Elisabete !




Foto nº 10 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > Que bom, rever-te, Francisco!.. Temos andado desencontrados, mas cada um à volta dos seus  problemas de saúde... e lambendo, como o cão do balanta. as suas feridas,   Dizem-me que não tens atendido os telefonemas de ninguém...Grande madeiresne, amigo e camarada, as tuas melhoras!... lLha, eu acabo de fazer uma artoplastia total ao joelho esquerdo, no Hospital Ortopédico de Sant'Ana, na Parede... Agora são dois meses de fisiatria...



Foto nº 11 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > Assim de repente estou a reconhecer o meu querido amigo e colaborador permanente do blogue, o José Martins, o homem que conhece o Arquivo Histórico Militar quase tão bem como aos cantos da sua casa em Odivelas.  À sua direita, tem  outro indefetível magnífico, que não costuma falhar os convívios da Tabanca da Linha, o ex-sol cond autorrodas da CCAV 2748, Canquelifá, 1970/72, Fancisco Palma... O terceiro elemento, à esquerda, é o José Manuel Lúcio Inácio (Caxias) que veio pela 1ª vez.


Foto nº 12 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > Domingos Robalo: também não costuma falhar, vem da outra banda, é só atravessar o Tejo... Ex-fur mil art, BAC 1 / GAC 7, Bissau, 1969/71, comandante do 22º Pel Art, em Fulacunda, tem 27 referências no nosso blogue...Respira saúde, o nosso artilheiro!



Foto nº 13 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > Da esquerda para a direita, o Arménio Santos, o nosso ex-deputado  e ex-dirigente sindical, que costumava ir a Monte Real, aos Encontros Naconais da Tabanca Grande, com o seu querido amigo, camarada e professor Jorge Cabral; (ii) o Silvério Dias, 1º srgt art ref, também conhecido como radialista do Pifas ou "senhor Pifas"; e, à sua esquerda, (iii) a "senhora tenente", a  esposa, outra voz muito popular do Programa das Forças Armadas, em Bissau...



Foto nº 14 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > Impecável nos seus suspensórios, o António Ramalho que vem "à Linha" sempre que pode,,, à sua direita, o Joaquim da Cruz Coelho (Lisboa) (1ª vez). Acrescenat o Ramalho eem email posterior: "O camarada que está comigo, é um Periquito nestas andanças, é o Fur. Mil Joaquim da Cruz Coelho, que consegui levar, da CCav 2639. Era do meu Gr Comb e desempenhou as funções de responsável pelo reordenamento de Capunga, foi a este nosso camarada que o Gen. Spínola disse:'Você tem mais cara de alferes do que muitos que por aí andam!'...... Os outros estão muito distantes da Linha, só um golpe de sorte os trará cá à capital"...


Foto nº 15 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 20
22 > Carvalho Guerra (Barreiro), vem pela 1ª vez.


Foto nº 16 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > Reconheço à esquerda  o cor inf ref Fernando José Estrela Soares (ex-comandante da CCAÇ 2445, Cacine, Cameconde e Có, julho de 1968 / dezembro de 1970). A seu lado, o António Belo (Cadaval), grande poeta que nos maravilha cos as suas poesias temáticas e publicadas na nossa página, acrescenta o Manuel Resende.

Foto nº 17 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > Aspeto geral do último andar do restaurante com magnífica vista sobre o Tejo...



Foto nº 18 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 >  Outra vista da sala..



Foto nº 19 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > Zé Carioca, com o seu inconfundível bigode, mais a esposa Ilda (que também é "habituée" da Tabanca Linha, o casal vive em Cascais)



Foto nº 20 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > O nosso querido amigo e camarada Carlos Silva, gondomarense, a viver aqui no Sul, e ligado à ONGD Ajuda Amiga; mais o Zé Rodrigues, de Belas (Sintra), ao meio; e à direita o José Jesus (Trajouce / Cascais), que também raramente falha os convívios da Magnífic.


Foto nº 21 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > À esquerda, o Joaquim Nunes Sequeira, o "Sintra", que vive em Colares... Sempre afável, bem disposto, prestável, prazenteiro... É um dos "mais" da Tabanca da Linha... Ao seu lado, não sei quem seja, mas o fotógrafo logo dirá... O seu companehiro de mesa é o Alpoim Almeida Ribeiro (Algés), vem pela  1ª vez.



Foto nº 22 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > Raul Folques, um ds her´pis do CTIG, o cor 'comando' ref, que ostenta o peso (e brilho)  de uma Torre  e Espada, e à sua esquerda o veterano Hugo Moura Ferreira.


Foto nº 23  > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 >  O do meio é segu
ramente o Mário Fitas, um dos fundadores da Magnífica Tabanca da Linha. É nosso grã-tabanqueiro: tem 140 referências no nosso blogue. Os outros dois são o José Dionísio e João Coelho (de bigodito), os dois vêm pela 1ª vez.


Fotos (e legendas): © Manuel Resende (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Continuação da publicação de um seleção de fotos da reportagem feita pelo Manuel Resende (*). 

Como eu não estive lá, por  ter ainda há dias saído do hospital (onde fui fazer uma artroplastia total do joelho esquerdo), embora tenha sido também  "co(n)vidado",  "co(n)vi (t/d)  que declinei, por razões de saúde, ele há caras que não já não consigo identificar de imediato, tendo que recorrer aos "auxiliares de memória" que são os postes anteriores sobre a  Tabanca da Linha. 

Peço que me perdoem os visados e os nossos leitores. As fotos vão, arbitrariamente, numeradas para ajudar o Manuel Resende  (e outros) a completar, nalguns casos, as legendas. (**). Trabalho, entretanto, já feito...

Guiné 61/74 - P23297: Convívios (929): Almoço/Convívio do pessoal da CART 1742 - "Os Panteras", dia 18 de Junho de 2022, em Pedras Rubras - Moreira da Maia (Abel Santos, ex-Soldado At Art)


Almoço/Convívio da Cart 1742 “Os Panteras”

Nova Lamego e Buruntuma, 1967/ 69

Dia 18 de Junho de 2022 em Pedras Rubras - Moreira da Maia


Mensagem do nosso camarada Abel Santos, (ex-Soldado Atirador Art da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), com data de 26 de Maio de 2022:


Após um interregno de dois anos devido à pandemia que assolou o nosso país, mas que felizmente no presente as coisas estão bem melhores, chegou a hora de voltarmos aos nossos encontros anuais.

Para que tal aconteça esperamos que compareças no dia 18 de junho de 2022 na localidade de Pedras Rubras (Largo da Feira) junto do restaurante Malheiros Eventos, local do ponto de encontro, cuja direcção é a seguinte: Praça do Exército Libertador, 114 - Pedras Rubras, Vila de Moreira da Maia.

Contactos:
Abel Santos - 919 253 200
Jaime Mendes - 962 485 855 + 253 271 390

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Nota do editor

Último poste da série de 26 DE MAIO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23296: Convívios (928): 48.º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, Algés, 19 de maio de 2022 - Parte I: os "bandalhos" que se estão a tornar clientes...

quinta-feira, 26 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23296: Convívios (928): 48.º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, Algés, 19 de maio de 2022 - Parte I: os "bandalhos" que se estão a tornar clientes...


Foto nº 1 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio  > 19 de maio de 2022 >  Foto de  grupo, começando pelo lado esquerda, o Zé Ferreira, o Manuel Resende, o Mário Fitas e o Jorge Teixeira. Do lado direito, outro "bandalho", o José Sousa que veio integrado na "deputação" do Norte, o José Diniz de Sousa Faro, o Domingos Robalo, o António Duque Marques... O camarada, a seguir, de camisa amarela, estou com dificuldade em identificá-lo... Apesar de diversas desistências de última hora, com medo da sexta vaga da  Covid, a ala compôs-se e tudo parece ter corrido bem. 

Foto nº 2 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio  > 19 de maio de 2022 >  Dois dos escritores de O Bando: tão bem dispostos quanto talentosos, o  Francisco Baptista e o José Ferreira

Foto nº 3 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio  > 19 de maio de 2022 >  José Ferreira. Eduardo Moutinho Santos e Eduardo Campos (com ar de quem já está meio "covidado": foi um dos que adoeceu, a seguir)...

Foto nº 4 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio  > 19 de maio de 2022 >  Outro dos escritores de O Bando, António  Carvalho, e o seu "assistente", o Zé Manel Cancela.

Foto nº 5 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio  > 19 de maio de 2022 >  O bandalho-mor, o Jorge Teixeira, encantado por vir à terra dos mouros, e o seu assssor jurídico, Ricardo Figueiredo.

Foto nº 6 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio  > 19 de maio de 2022 > Mais dois ilustres "bandalhos", o Fernando Súcio e o José Sousa.


Foto nº 7 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio  > 19 de maio de 2022 > "Volta, Armando (Pires)... estás perdoado", parece querer dizer o Miguel Rocha, tendo à sua esquerda o Manuel Macias, cujo sorriso, tranquilizador, vale por mil palavras: "Armando, temos saudadrs tuas"-


Foto nº 8 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio  > 19 de maio de 2022 > Faltaram também casais com "new look": o nosso Jorge Ferreira, vinte anos mais novo, e a sua nova companheira...

Fotos (e legendas): © Manuel Resende (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



1. Conforme foi notícia aqui no blogue (*), ao fim destes dois anos e tal de pandemia de Covid-19 que nos obrigaram a ficar sozinhos e tristes em casa,  a Magnífica Tabanca da Linha, com sede em Algés, Oeiras, abriu as suas portas de par em par, para receber os seus magníficos tababanqueiros e convidados, no "reservado" do Restaurante Caravela de Ouro.  

Estavam inscritos cerca de 9 dezenas de convivas, mas houve desistências de última hora devido  à nova vaga de Covid-19 que veio  estragar a nossa primavera de 2022...

Este convívio contou com uma belíssima representação do Porto, oriunda da mais famosa tertúlía literária, memorialística, cultural, recreativa, gastronómica, almocarística, jantarística e escursionista lá do Norte,  registada originalmente sob o nome de Bando do Café Progresso, das Caldas à Guiné e, mais familiarmente conhecida nas redes sociais como os "Bandalhos". O bandalho-mor é  o Jorge Teixeira.

Com fotos do Manuel Resende (o régulo e o homem dos sete ofícios da Magnífica Tabanca da Linha) damos aos nossos leitores uma primeria ideia do que foi este 48º Convívio. O adjunto, Armando Pires, embora ali a dois passos (mora em Mira Flores) optou por ficar em casa, acautelando a sua saúde. Mas a sua ausência foi notada e sentida...

(Continuação)
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Nota do editor:

(*) Útimo poste da série > 19 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23276: Convívios (927): A Magnífica Tabanca da Linha reabre hoje, em Algés, no Restaurante Caravela de Ouro, ao fim de mais de dois anos de pandemia... Uma luzidia representação do Porto, de "O Bando" (incluindo 3 escritores), vem animar este 48º convívio, já histórico...

Guiné 61/74 - P23295: "A Minha Passagem pela Guiné-Bissau em Tempo de Guerra" (António Sebastião Figuinha, ex-Fur Mil Enfermeiro) Parte VII

1. Continuação da publicação do texto de memórias "A Minha Passagem pela Guiné-Bissau em Tempo de Guerra", de António Figuinha, ex-Fur Mil Enfermeiro da CCS/BCAÇ 2884 (BissauBuba e Pelundo, 1969/71)


A MINHA PASSAGEM PELA GUINÉ-BISSAU EM TEMPO DE GUERRA

António Sebastião Figuinha
Ex-Furriel Miliciano Enfermeiro
CCS/BCAÇ 2884
1969/1970/1971
Parte VII

O primeiro caso prende-se com mal-entendido entre mim e um dos meus Maqueiros, que encontrando-se adoentado, dei-lhe dispensa de trabalho durante uns dias. Porém, não cumpriria as regras determinadas para ter direito à despensa de trabalho, que era ficar em repouso e não andar fora no espaço do Quartel apanhar sol. 

Como o encontrei ao Sol e a dar instruções a outros Soldados que naquela altura cavavam uma vala e torno do Quartel e na parte interna deste, como de um capataz se tratasse,  disse-lhe que lhe iria retirar a dispensa já que, se estava bom para se armar em capataz, também já se encontrava com saúde para trabalhar no posto Médico. Amuou e, baixando a cabeça, retirou-se, acompanhando-me até ao nosso local de trabalho.

Chegou a noite e como me era habitual sempre que não me escapava para o bailarico, ia para o Posto Médico escrever para os meus familiares e namorada que tinha na altura. Devo já acrescentar que este Maqueiro dormia permanentemente neste local, devidamente autorizado. A certa altura da noite e, estando eu tranquilamente sentado à secretária escrevendo, reparo que ele se dirige para a porta de entrada e saída e a fecha. 

Achei estranho e, de repente, apanha a G3 que tinha distribuída, dirigindo-se para mim e, colocando-se em frente da secretária onde me encontrava sentado a escrever, qual não é o meu espanto, aponta-me aquela arma à minha cabeça, ao mesmo tempo dizendo-me que eu não gostava dele, que lhe queria estragar a vida e mais outras baboseiras. 

Como tremia demasiado com a arma apontada para mim apontada, eu encontrando-me com as minhas pernas impedidas de me poder levantar rapidamente, só via como hipótese de defesa usando a psicologia das palavras e, em último caso, usando a rapidez de um dos meus braços desviando e, ao mesmo tempo segurando, o cano da arma. Como poucos anos atrás tive aulas de judo, todas estas emoções passaram pela minha cabeça rapidamente. 

Felizmente que as minhas palavras surtiram efeito naquela cabeça tonta que, baixando a arma retirou-se para a sua cama chorando e, ao mesmo tempo dizendo, que tinha desgraçado a sua vida. Levantei-me da secretária com o meu corpo todo elétrico, não lhe dirigindo qualquer palavra. Abri a porta e saí para o exterior, respirando fundo e começando a pensar na atitude a tomar no dia seguinte com aquele esmiolado soldado.

Pouco ou quase nada dormi naquela noite. O caso não era para menos dada a sua gravidade. Ou participava o acontecimento aos órgãos superiores e ele iria a tribunal de guerra ou lhe teria que dar uma lição verbal reunindo todos aqueles que trabalhavam sobre as minhas ordens, contando o sucedido para ele se sentir envergonhado. Assim, ainda muito cansado física e moralmente, logo pela manhã e antes de começarmos o atendimento, tanto a consultas como a outros tratamentos de saúde, reuni todo o grupo e fechei a porta da entrada do Posto Médico.

O Anacleto, assim se chamava e penso que ainda se chama porque creio ainda se encontra vivo, mantinha-se enroscado na sua cama chorando. O meu pessoal olhava para todos os lados não percebendo do motivo da reunião e da porta fechada ao exterior. Coloquei-me em frente da secretária e, bem alto, perguntei a todos se algum deles tinhas razões de queixa sobre a minha forma de me relacionar com eles no trabalho e fora deste. Em coro repetiram que não e, o porquê da minha pergunta? 

Então, serenamente, lhes contei todo o sucedido da noite anterior naquele espaço. Revoltados, atiraram-se ao Anacleto chamando-lhe tudo e mais alguma coisa. Este, continuando num pranto, pedia perdão sobre o seu ato. Todos foram dizendo que ele não era merecedor do meu perdão. Desmobilizei-os dizendo-lhes que iria pensar na minha atitude a tomar para com o Anacleto. Resolvi não o enviar para a prisão perdoando-lhe. 

Até há três anos, data do último encontro de todo o nosso Batalhão, a última vez que o vi, me procura dar os maiores elogios e palavras carinhosas. Não estou arrependido de lhe ter perdoado. Fiquei triste sim, nos últimos dias de permanência no Pelundo, quando li em ordem de serviço um louvor dado pelo Comandante ao Anacleto. Apenas e só isto me deixou por momentos triste.

Outro caso um pouco semelhante aconteceu com o Furriel Miliciano e Vagomestre Martins.

O Martins, vinte anos após o nosso regresso da Guiné, aquando o nosso primeiro encontro vinte anos depois, ficou sendo um dos meus melhores amigos, enaltecendo para todos os outros as minhas qualidades como homem e como Enfermeiro que tinha sido para todos no Batalhão e não só.

Como no começo desta descrição narrativa da minha passagem pela Guiné em tempos de guerra, fora o pessoal de saúde que me acompanhava e que comecei a conhecê-los no navio Niassa, o Martins foi dos Furriéis Milicianos que primeiramente comecei a conhecer porque ficamos ambos a dormir no Quartel Seiscentos em Bissau juntamente com mais outros dois (um Segundo Sargento e um Furriel Miliciano que se identificou como meu colega de profissão) no mesmo quarto.

Cedo verifiquei quão jogador e ambicioso era este Vagomestre. Com frequência se gabava dos negócios que fazia e que lhe deixavam margens de lucros para ele, principalmente, na aquisição de frutas para as nossas refeições. Já no Pelundo, passados vários meses da nossa estadia nesta povoação, os Soldados traziam-me queixas sobre a qualidade e quantidade da alimentação que o Martins lhes fornecia. O meu Maqueiro Anacleto diariamente me fazia queixas sobre a alimentação no Quartel. Também já tinham passados uns meses depois do caso que tive com ele, atrás descrito, tendo-se tornado um colaborador nato disposto a fazer tudo o que lhe pedisse.

Por esta altura, o Vagomestre Martins adoeceu com paludismo. Muito febril e queixoso, entrou tremendo como varas verdes porta dentro do Posto Médico dizendo: 
- Figuinha tenho medo de vir a morrer. Ó minha mãezinha que já não te volto a ver! 

Pedi para lhe verificarem a temperatura ao mesmo tempo que lhe ia dizendo que de tão patife que ele era para a barriga dos Soldados, não seria desta que morreria. Perguntei aos outros Maqueiros e a um outro Soldado que lá se encontrava se era verdade o que à boca cheia se dizia no Quartel que o Vagomestre estava a roubar à barriga dos Soldados. Em coro foram dizendo que sim, embora o Martins fosse dizendo que era mentira, gemendo e tremendo devido ao seu estado febril.

Mandei sair o estranho ao Serviço de Saúde e mandei preparar uma injeção para lhe ser aplicada. Ao mesmo tempo disse ao Anacleto que fizesse o tratamento ao Furriel de acordo com a maneira como ele os alimentava. O Martins rogava para ser eu a dar-lhe a injeção ao que eu me recusei. Dei então ordem para lhe espetarem a agulha numa das nádegas e que aguentassem a introdução do líquido para o curar que se encontrava já na seringa para injetar na sua nádega, até quando eu o ordenasse. 

Entretanto fui dizendo ao Martins que estava merecendo aquela forma de ser tratado para que nunca mais voltasse a alimentar mal os nossos Soldados. O Martins sofrendo esta humilhação, começou logo a ameaçar-me de morte, caso ele não viesse a morrer primeiro do paludismo que naquele momento sofria. Não lhe dei resposta e, passados mais de dez minutos de ter a agulha espetada na nádega, ordenei que acabassem com o tratamento e passei-lhe dispensa de trabalho durante seis dias. Praguejando lá foi lentamente para a cama que se situava no mesmo abrigo onde eu também dormia.

Sempre que eu entrava no abrigo para descansar,  ele me fazia ameaças mas sem dizer das razões perante os outros Furriéis que lá dormiam. Gozavam era com ele por estar sempre com queixinhas.

Logo que lhe passou o estado febril, ia eu depois do almoço tentar descansar um pouco no nosso abrigo quando me aproximei da entrada deste que, tal como os outros abrigos não possuía porta de entrada, o Martins barrou-me a entrada, ao mesmo tempo apontando o cano da G3 ao meu peito. Enfrentei-o olhos nos olhos, ao mesmo tempo lhe ia dizendo que de tão cobarde que ele era, não teria coragem para me dar um tiro. Desviou-se e eu entrei para descansar um pouco na minha cama.

O Martins tal com a maioria dos Furriéis Milicianos do Batalhão, raramente saíam do arame farpado a não ser em serviço. À noite, então nem pensar. Preferiam ficar a jogar às cartas e a beber cerveja. Tudo faziam para não se misturar com a população. Dado eu ter um comportamento diferente, à surdina chamavam-me – Preto Branco! 

Estes nunca viram com bons olhos a minha maneira de proceder, mas que, talvez sem o pensarem, os ajudei a sobreviver durante aquele tempo. Muitos anos passados alguém bem alto disse a alguns deles que, de certo modo, saíram vivos do Pelundo devido à minha atuação junto da população.

Em 209 ou 2010, num dos nossos convívios, neste caso na Cidade da Guarda, o Martins convidou-me para lhe fazer companhia mais à esposa, ao jantar num dos restaurantes da Cidade que ele bem conhecia. Enquanto esperávamos pela refeição, resolveu contar à esposa, em modo de queixa, o que eu lhe havia feito na Guiné. Ela, incrédula, olhou para mim, perguntando-me se tinha sido verdade. Respondi-lhe que sim, mas que o marido lhe contasse das razões porque assim procedi. Voltou a negar aquelas razões, mas a esposa logo se calou acabando assim o tema. 

Nunca mais se falou do assunto, transmitindo-me sim uma grande amizade. Dei-lhe uma grande lição. Acrescento que por natureza, e porque um irmão meu em 1960 como Soldado veio para esta terra, me havia contado das privações alimentares e não só, que por cá tiveram. Não consegui durante toda a minha comissão aceitar e calar qualquer mau trato injustificado que este ou aquele Soldado sofresse.

Acontecia também que Soldados, com maus hábitos de jogo da batota, escreviam para a família dando notícias falsas com o objetivo de, com a lamúria, receberem pelo correio compensações para colmatarem o perdido no jogo. Tivemos pelo menos um caso destes na CCS. Tratou-se de um Soldado Condutor da região do Porto, já casado e muito sabido. Este era também vocalista do conjunto musical existente no Batalhão.

Pelo que me foi dado saber, por várias vezes perdia no jogo grande parte do vencimento, mal o acabava de receber. Escrevia então para a mãe e para a esposa pedindo-lhes dinheiro. Num dos casos, esqueceu-se de fechar o aerograma ficando este aberto em cima da sua cama. Um colega seu deitou-lhe os olhos e ficou perplexo com o conteúdo do texto. Nele relatava que se alimentava muito mal porque, além da comida ser escassa, era de má qualidade e, como tal, tinha que gastar o dinheiro do vencimento no bar para se alimentar melhor. Que quase todos os dias o Quartel era atacado, e que, mesmo naquele momento, teve que se ir refugiar numa vala com as balas a passarem-lhe por cima da cabeça! Esta descoberta deu azo a um gozo enorme que os colegas lhe fizeram, mas que pouco se importou. Era um Soldado com muita lábia!

Tive também um caso com ele relacionado com a saúde que por ser muito ridículo não o relatarei.

Enquanto estive fisicamente no Pelundo, só por uma vez e numa noite que estive de serviço ao Quartel, houve uma troca de tiros durante cerca de pouco mais de trinta minutos. Seriam cerca das dez horas da noite quando eu, encontrando-me no Posto Médico, comecei a ouvir troca de tiros. Como estava de Sargento de dia ao Quartel, procurei logo saber o que se estava a passar.

Apenas tinham passado poucos minutos, quando vejo chegar pela rua e estrada principal os militares que nessa noite tinham ido para o baile. De entre eles, o Médico que, dado ser de corpo gorducho, chegou deitando os bofes pela boca, juntamente com dois dos Maqueiros da minha equipa. Eu só não me encontrei nesta situação porque como já descrevi, encontrava-me de serviço e adoentado.

No Quartel apagaram-se as luzes interiores restando os holofotes dirigidos para fora do arame farpado. Passados poucos minutos tudo acalmou. Saiu logo um pelotão da Companhia Operacional para se inteirar dos acontecimentos mas, passadas cerca de duas horas, chegaram sem contactos com o inimigo. 

Soube no dia seguinte, que perto dali tinha passado gente graúda do PAIGC, então enviaram uns poucos para junto da Aldeia dar uns tiros para ocupar a tropa no Quartel, já que era hábito, a Companhia Operacional ir diariamente patrulhar a zona perto da povoação. Nada encontraram de anormal.

Na estrada que ligava Teixeira Pinto (hoje Canchungo) passando pelo Pelundo e Có, até ao cais de João Landim, no Rio Mansoa, muitas emboscadas foram feitas pelo inimigo. Recordo que os primeiros feridos de guerra que vi e tratei, foram paraquedistas emboscados na chamada “curva do Dimple”, como era por mim conhecida nesta estrada. Outras companhias aí sofreram emboscadas. Devo referir aqui que, do meu Batalhão e durante toda a comissão, e desde que eu estive por aquelas bandas, nenhuma escolta nossa foi emboscada. Eu, por diversas vezes, fiz aquele percurso sem que tivesse contactos com o inimigo. Por norma não levava qualquer arma comigo.

Todo este percurso até ao Rio Mansoa era de terra batida na altura que eu fui para o Pelundo. O nosso pelotão de Sapadores, diariamente inspecionava aquela via. Porém, pouco tempo depois, toda ela foi alcatroada e as suas margens com mato cortado até uma distância que dificultasse ao inimigo emboscadas próximas do alcatrão.

Em Bissau e na Direção de Saúde, interrogavam-se admirados por as nossas escoltas não sofrerem emboscadas. Eu meio a sério ou brincando um pouco, dizia-lhes que por certo se devia ao modo como viam os seus familiares serem bem tratados por mim. Certo é que o meu colega de profissão civil e chefe da Granja Agrícola de Teixeira Pinto, familiar ainda de Amílcar Cabral, procurava sempre ir tratar de assuntos a Bissau quando eu também lhe fazia chegar informação do dia que eu pensava ir. Muitas vezes lhe perguntei da razão da sua escolha sendo ele natural da Guiné, trabalhador e chefe duma Granja local e, ainda por demais, familiar do Chefe da Guerrilha. Sempre teve resposta pronta. As balas não escolhem quando são disparadas e sei que a escolta onde tu vais não será atacada. Felizmente assim aconteceu durante todas as viagens que tive que fazer durante a comissão.

(Continua)

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Nota do editor

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Guiné 61/74 - P23294: Parabéns a você (2068): Jorge Narciso, ex-1.º Cabo Especialista MMA da Força Aérea Portuguesa (BA 12, 1969/70)

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Nota do editor

Último poste da série de 18 DE MAIO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23272: Parabéns a você (2067): Joaquim Fernandes Alves, ex-Fur Mil Art da CART 1659 (Gadamael e Ganturé, 1967/68)

quarta-feira, 25 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23293: Convívios (928): Almoço/Convívio do BCAÇ 3883, dia 4 de Junho de 2022, em Viseu


ALMOÇO/CONVÍVIO DO PESSOAL DO BCAÇ 3883

DIA 4 DE JUNHO DE 2022 EM VISEU

Boa noite.
Divulgação do Almoço/Convívio a realizar dia 04 de Junho de 2022 em Viseu.

Batalhão Caçadores 3883 - Guiné, 72/74

Subscrevo-me com toda a consideração.
Manuela Rodrigues
(filha do camarada Rodrigues)

Cumprimentos,
Rodrigues

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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE MAIO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23276: Convívios (927): A Magnífica Tabanca da Linha reabre hoje, em Algés, no Restaurante Caravela de Ouro, ao fim de mais de dois anos de pandemia... Uma luzidia representação do Porto, de "O Bando" (incluindo 3 escritores), vem animar este 48º convívio, já histórico...

Guiné 61/74 - P23292: Blogpoesia (766): Adeus Guiné, vou-te deixar, minha missão está cumprida, por Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845

1. Mensagem do nosso camarada Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70), com data de 23 de Maio de 2022, com mais um dos seus trabalhos em verso, desta vez dedicado ao sempre sonhado regresso, após sentirmos que a nossa Missão estava Cumprida:

Bom dia Carlos Vinhal, e também, bom fim de semana.
Missão Cumprida é o trabalho que envio e, para saberem que o Albino Silva anda aqui pela Tabanca pensando em todos os Tertulianos e, não esquecendo a Guiné, de vez em quando lá vai escrevendo coisas que a memória guarda.

Para todos um grande abraço, em especial aos chefes de tabanca
Albino Silva
Ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845



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Notas do editor

Último poste da série de 15 DE FEVEREIRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23000: Blogpoesia (765): "Para ti, Ó Mulher Grande", por Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845