Pesquisar neste blogue

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25177: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Anexos: II. Comandos Africanos: breve cronologia.

 

Capa do livro "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, il., edição esgotada) 




O autor, em Bafatá, sua terra natal, por volta de meados de 1966.
(Foto reproduzida no livro, na pág. 149)


1. Ainda com base no manuscrito, digitalizado, do livro do Amadu Bailo Djaló, "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, il., edição esgotada) (*), vamos publicar os "Anexos" (pp. 287-299).

O nosso camarada e amigo Virgínio Briote, o editor literário ou "copydesk" desta obra , facultou-nos uma cópia digital. (O Virgínio, com a sua santa paciência e a sua grande generosidade, gastou mais de um ano a ajudar o Amadu a pòr as suas memórias direitinhas em formato word, a pedido da Associação dos Comandos, a quem, de resto, manifestamos também o nosso apreço e gratidão...).

O Amadu Djaló, membro da Tabanca Grande, desde 2010, tem mais  de 120 referências no nosso blogue. Tinha um 2º volume em preparação, que a doença e a morte não lhe permitaram ultimar. As folhas manuscritaas foram entregues ao Virgínio Briote com a autorização para as transcrever (e eventualmente publicar no nosso blogue). Desconhecemos o seu conteúdo, mas já incentivámos o nosso coeditor jubilado a fazer um derradeiro esforço para transcrever, em word, o manuscrito do II volume (que ficou incompleto). E ele prometei-nos que ia começar a fazê-lo, "para a semana"...

Anexos


II. Comandos Africanos: breve cronologia (pp. 288/289)

  • 23Abr69:

despacho do Governador e Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné, Brigadeiro António de Spínola, determinando a selecção de militares destinados à formação de quadros destinados à Companhia de Comandos a organizar oportunamente e constituídos na sua totalidade por elementos guineenses;

  • 14Jul69:

início do estágio de instrução de quadros para a futura Companhia de Comandos Africana, a cargo da 15ª CCmds (Capitães Garcia Lopes e Barbosa Henriques).

  • 6Set69:
final do estágio de instrução;

  • 5Dez69:

colocação na CCmds Africana de 1ºs  cabos milicianos do recrutamento da Guiné, do 1º Curso de Sargentos Milicianos efectuado em Fá Mandinga, sob a responsabilidade da 15ª CCmds;
  • 5Jan70:

início da recruta de militares do 1º turno de 1969 e dos voluntários para a formação da 1ª CCmds Africana, a iniciar em 14 de Fevereiro de 1970 (em Fá Mandinga, Sector L1, Bambadinca);
  • 13Fev70:

cerimónia de graduação de oficiais e sargentos que foram integrar a CCmds Africana;

  • 14Fev70:

início da 1ª fase do curso de Comandos;

  • 21Jun / 15Jul70:

treino operacional na região de Bajocunda;

  • 15Jul70:

fim do curso em Fá Mandinga e constituição da 1ª CCmds Africana, comandada pelo Tenente Graduado João Bacar Jaló, tendo como supervisor o Major Comando Leal de Almeida; colocada em Fá Mandinga, ficou como unidade de intervenção e reserva do Com-Chefe; a partir desta data, manteve-se em reforço do COT 1, em face do aumento da pressão IN. na área, até finais de Set70, tendo recolhido depois a Fá;

  • 30out-7nov70:

foi atribuída como reforço ao sector L1 (Bambadincva), efectua operações no Enxalé;

  •  21/22 Nov70:

operação “Mar Verde”, Conakry.

  • princípios de Dez70 / finais de Jan/71:

destacou 3 pelotões para reforço temporário das guarniçõe de Gadamael e Guileje;

  • de fevereiro a meados de Julho de 1971:

reforço a outros sectores, fez operações  nas zonas de Nova Sintra, Brandão, Jabadá e Bissássema;

  • 12Jun/20Set71:

2º curso de Comandos Africanos; c onstituição da 2ª CCmds Africana e recompletamento da 1ª CCmds; nomeados supervisores da 2ª e 1ª CCmds Africanas os Capitães Comandos Miquelina Simões e Ferreira da Silva.


  • de finais de Julho até Agosto de 1971,

a 1ª CCmdfs esteve em Bolama para recuperação, deslocando-se depois pra Brá, Bissau, nas instalações do futur0 BCmds da Guiné:

  • 30Nov71:

criado o Destacamento de Unidades de Comandos em Brá, sob o comando do Major Leal de Almeida, sendo 2º Comandante o Capitão Miquelina Simões, acumulando com o cargo de supervisor da 2ª CCmds Africana;

  • Out71/set72
a 1ª e a 2ª CCmds Africanos participam, em conjunto,  em ações em Candocea Beafaa (6Out71), Choquemone (18-12Out71), Tancroal (29Out/1Nov71),MOrés (20/24Dez71 e 7-12Fev72),Gussará-Tambicoó (30Mai-3Jun72),pensínsula de Gampará (11-15Nov71 e 24/28Nov71), Caboiana-Churo(28Ab-1Mai72, 26/28JJun72,19/21Dez72) e na região de Salancaur-Unal-Guileje (28Mar-8Abr72).

  • 30Jun/30Set72:

3º curso de Comandos Africanos em Fá Mandinga, destinado à formação da 3ª CCmds;

  • 29Set72:

extinção do Destacamento de Unidades de Comandos;

2Nov72:

nomeação do Comandante e 2º Comandante do BCmds da Guiné, respectivamente o Major Comando Almeida Bruno e Capitão Comando Raul Folques, tendo como supervisores os Capitães Comandos Baptista da Silva da 1ª CCmds, Miquelina Simões da 2ª, Baptista Serra, da 3ª e Matos Gomes da 1ª CCmds.
  • 3Nov72:

cerimónia da constituição do Batalhão de Comandos da Guiné, com a presença do Governador e Comandante-Chefe, onde foram entregues os crachás aos novos Comandos, graduados oficiais e sargentos e entregues os guiões à 3ª CCmds e ao Batalhão de Comandos da Guiné;

  • 1Abr73:

extintas as equipas de supervisão.

  • 30Mai73:

nomeação de uma equipa do BCmds para representarem as Tropas Africanas do CTIG na exposição “Paz e Progresso”, realizada em Lisboa, entre 10 e 24 de Junho de 1973;

  •  29Jun73:

comemorado pela 1ª vez na Guiné o “Dia do Comando”, com a presença do General Comandante-Chefe e de todos os Comandantes, Directores e Chefes da Armada, Exército e Força Aérea: nesta cerimónia, os Comandos do 4º curso juraram Bandeira e receberam os crachás e foram graduados novos oficiais e sargentos; o comando do Batalhão de Comandos da Guiné foi entregue ao Major Raul Folques.

  • 1Mar/29Jun73:

4º curso de Comandos;

  • 15Nov73/31Jan74:

5º curso de Comandos;

  • 7/Set974
extinção do BCMds da Guiné.



Guiné > Brá > 1973 > O furriel graduado 'comando' Cicri Vieira a cumprimentar o Major Raul Folques, comandante do Batalhão de Comandos da Guiné (no período de 28jul73 a 30abr74) (O major Raul Folques sucedeu ao major Almeida Bruno). (Foto publicada no livro do Amadu Djalõ, na pág. 197).





Lisboa >  2009 >  Da esquerda para a direita, o cor inf 'comando' ref Raul Folques e o ten general 'comando' ref Almeida Bruno (os dois primeiros comandantes do Batalhão de Comandos da Guiné, e ambos Torre e Espada) e o saudoso grã-tabanqueiro Amadu Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015).

Foto (e legenda): © Virgínio Briote (2015). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Fichas de unidade (CECA, 2002)


Batalhão de Comandos da Guiné

Identificação: BCmds

Crndt: Maj Cav Cmd João de Almeida Bruno | Maj Inf Cmd Raul Miguel Socorro Folgues | Maj Inf Cmd Florindo Eugénio Batista Morais

2º Crndt: Cap Inf Cmd Raul Miguel Socorro Folgues | Cap Inf Cmd João Batista Serra | Cap Cav Cmd Carlos Manuel Serpa de Matos Gomes | Cap Art Cmd José Castelo Glória Alves

Início: 02Nov72 | Extinção: 07Set74

Síntese da Actividade Operacional

A unidade foi criada, a título provisório, em 2Nov72, a fim de integrar as subunidades de Comandos da Metrópole em actuação na Guiné e também as CCmds Africanas, passando a superintende no seu emprego operacional e no seu apoio administrativo e logístico.

Em 1Abr73, o BCmds foi criado a título definitivo, tendo a sua organização sido aprovada por despacho de 21Fev73 do ministro do Exército..

Desenvolveu intensa actividade operacional, efectuando diversas operações independentes em áreas de intervenção do Comando-Chefe ou em coordenação com os batalhões dos diferentes sectores onde as suas forças foram utilizadas, nomeadamente nas regiões de Cantanhez (operação "Falcão Dourado", de 15 a 19Jan73, e operação "Kangurú Indisposto", de 21 a 23 Mar73); de Morés (operação "Topázio Cantante", de 25 a 27Jan73); de Changalana-Sara (operação "Esmeralda Negra", de 13 a j 6Fev73); de Morés e Cubonge (operação "Empresa Titânica'', de 27Fev73 a 0IMar73); de Samoge-Guidage (operação "Ametista Real", em 20 e 2IMai73); de Caboiana (operação "Malaquite Utópica", de 21 a 22 Jul73 e operação "Gema Opalina", de 24 a 27Set73); de Choquernone (operação "Milho Verde/2", de 14 a 17Fev74); de Biambifoi (operação "Seara Encantada", de 22 a 26Fev74) e de Canguelifá (operação "Neve Gelada", de 21 a 23Mar74), entre outras. As suas subunidades, em especial as metropolitanas, foram ainda atribuídas em reforço de outros batalhões, por períodos variáveis, para intervenção em operações específicas ou reforço continuado do respectivo sector.

Das operações efectuadas, refere-se especialmente a operação "Ametista Real", efectuada de 17 a 20Mai73, em que, tendo sofrido 14 mortos e 25 feridos graves, provocou ao inimigo 67 mortos e muitos feridos, destruindo ainda 2 metralhadoras antiaéreas e 22 depósitos de armamento e munições com 300 espingardas, 112 pistolas-metralhadoras, 100 metralhadores ligeiras, 11 morteiros, 14 canhões sem recuo, 588 lança-granadas foguete, 21 rampas de foguetão 122, 1785 munições de armas pesadas, 53 foguetões de 122,905 minas e 50.000 munições de armas ligeiras.

Destacou-se também, pela oportunidade da intervenção e captura de 3 morteiros 120,367 granadas de morteiro, 1 lança granadas foguete e 2 espingardas e 26 mortos causados ao inimigo, a acção sobre a base de fogos que atacava Canquelifá, em 21Mar74.

Em 20Ag074, as três subunidades de pessoal africano foram desarmadas, tendo passado os seus efectivos à disponibilidade.

Em 7Set74, o batalhão foi desactivado e exinto.

Observações - Não tem História da Unidade.

CECA (2002), pp. 646/647

1ª Companhia de Comandos Africanos

Identificação:  1ª CCmdsAfr

Crndt: Cap Grad Cmd João Bacar Jaló |Ten Grad Cmd Abdulai Queta Jamanca | Ten Grad Cmd Cicri Marques Vieira | Cap Grad Cmd Zacarias Saiegh

Início: 9Ju169 | Extinção: 7Set74

Síntese da Actividade Operacional

Foi organizada em Fá Mandinga a partir de 09Ju169, exclusivamente com pessoal natural da Guiné e foi formada com base em anteriores Grupos de Comandos existentes junto dos batalhões, tendo iniciado a sua instrução em 6Fev70 e efectuado o juramento de bandeira em 26Abr70.

A subunidade ficou colocada com a sede em Fá Mandinga, com a missão de intervenção e reserva do Comando-Chefe, após ter terminado o seu treino operacional na região de Bajocunda, de 2IJun70 a 15Ju170, e onde, seguidamente, se manteve em reforço do COT 1, em face do aumento da pressão
inimiga na área, até finais de Set70, tendo então recolhido a Fá Mandinga.

A partir de 300ut70, foi atribuída em reforço de vários sectores, tendo tomado parte em operações nas regiões de Enxalé, de 300ut70 a 07Nov70, na zona de acção do BArt 2927; de Nova Sintra, Brandão, Jabadá e Bissássema, de Fev71 a meados de Julho71, em reforço do BArt 2924. 

Tomou ainda parte na operação "Mar Verde", em 21 e 22Nov70, em acção sobre Conacri e destacou três pelotões para reforço temporário das guarnições de Gadamael e Guileje, de princípios de Dez70 a finais de Jan71.

Em finais de Ju171, seguiu de Tite para Bolama, para um curto período de descanso e recuperação, tendo, em meados de Ago71, passado a ficar instalada em Brá (Bissau), nas instalações do futuro BCmds.

Seguidamente, passou a efectuar operações conjuntas com a 2ª CCmds Afr, em regiões diversas, nomeadamente nas regiões de Cancodeá Beafada, em 60ut71; do Choquemone, de 18 a 220ut71; de Tancroal, de 290ut71 a 1Nov71; do Morés, de 20 a 24Dez71 e de 7 a 12Fev72; de Gussará-Tambicó, de 30Mai72 a 3Jun72 e ainda as operações preparatórias e de consolidação da instalação do COP 7 na pensínsula de Gampará (operação "Satélite Dourado", de 11 a 15Nov71 e a operação Pérola Amarela", de 24 a 28Nov71). 

Tomou também parte em operações desenvolvidas pelo CAOP 1, na região de Caboiana-
-Churo, de 28Abr71 a 1Mai72, de 26 a 28Jun72 e de 19 a 21Dez72 e pelo COP 4, na região de Salancaúr-Unal-Guileje, de 28Mar72 a 08Abr72.

Em 2Nov72, foi integrada no BCmds, então criado, tendo tomado parte em todas as operações planeadas e comandadas por este e tendo ainda sido atribuída algumas vezes para realização de operações desenvolvidas pelos sectores ou comandos equivalentes.

A 1ª CCmdsAfr foi desactivada e extinta em 7Set74, com as restantes forças do BCmds.

Observações - Não tem História da Unidade.

CECA (2002), pp. 648/649

2ª Companhia de Comandos Africanos

Identificação 2.a CCmdsAfr
Cmdt: Ten Grad Cmd Mamadu Saliu Bari | Ten Grad Cmd Adriano Sisseco | Ten Grad Cmd Armando Carolino Barbosa
Início: 15Abr71 | Extinção: 7Set74

Síntese da Actividade Operacional

Foi organizada e instruída em Fá Mandinga a partir de 15Abr71 exclusivamente com pessoal africano natural da Guiné e foi formada com base em anterior Grupos de Comandos existentes junto dos batalhões e com graduados vindos da 1ª CCmds Afr, tendo realizado o treino operacional de 28Ag071 a 23Set71, o qual incluiu a participação em operações realizadas nas regiões de Sancorlá-Cossarandim e Ponta Varela, no sector do BArt 2917.

A subunidade ficou colocada em Fá Mandinga, com a função de intervenção e reserva do Comando-Chefe, tendo sido atribuída inicialmente ao BArt 2917, com vista à realização de operações nas regiões de Malafo-Enxalé, em 10/11Set71 e Gã Júlio, de 2 a 40ut71.

Em meados de Out71, passou a ficar instalada em Brá (Bissau) nas instalações do futuro BCmds, em conjunto com a 1ª CCmds Africana com a qual passou a tomar parte em operações realizadas em regiões diversas, nomeadamente nas regiões de Cancodeá Beafada, em 60ut71; do Choquemone, de18 a 220ut71; de Tancroal, de 290ut71 a 01Nov71; do Morés, de 20 a 24Dez71 e de 7 a l2Fev72; de Gussará-Tambicó, de 30Mai72 a 03Jun72 e ainda as operações preparatórias e de consolidação da instalação do COP 7 na península de Gampará (operação "Satélite Dourado", de l l a 15Nov71 e
operação "Pérola Amarela", de 24 a 28Nov71.

Tomou também parte em operações desenvolvidas pelo CAOP 1 na região de Caboiana-Churo, de 28Abr71 a IMai72, de 26 a 28Jun72 e de 19 a 21Dez72 e pelo COP 4, de 28Mar72 a 08Abr72. 

Realizou ainda operações em diversas zonas de acção, nomeadamente na região de Suarecunda, em 17Jan72 e de 18 a 21Mai72, no sector do BCaç 3832 e de Sare Bacar, em 06Mai72, no sector do BCav 3864, entre outras.

Em 2Nov72, foi integrada no BCmds, então criado, tendo tomado parte em toda as operações planeadas e comandadas por este batalhão e tendo ainda sido atribuída algumas vezes para realização de operações desenvolvidas pelos sectores ou comandos equivalentes.

A 2ª CCmds Afr foi desactivada e extinta em 07Set74, com as restantes forças do BCmds.

Observações - Não tem História da Unidade.

CECA (2002), pp. 650/51

3ª Companhia de Comandos Africanos

Identificação: 3ª  CCmds Afr

Crndt: Alf Grad Cmd António Jalibá Gomes |  Ten Grad Cmd Bacar Djassi | Alf Grad Cmd Aliú Fada Candé | Alf Grad Cmd Malan Baldé

Início: 14Abr72 | Extinção: 07Set74

Síntese da Actividade Operacional

Foi organizada e instruída em Fá Mandinga a partir de 14Abr72 até 16Set72, para concretização do despacho de 3Mar72 do CCFAG, sendo constituída exclusivamente com pessoal africano natural da Guiné, recrutado nas subunidades africanas da organização territorial e das subunidades de milícias e com graduados vindos das anteriores CCmds Afr, tendo a imposição das insígnias de "comando" sido efectuada na cerimónia de criação do BCmds, em 2Nov72.

Em 2Nov72, foi integrada no BCmds, então criado, ficando instalada em Brá (Bissau) e tomando parte nas operações planeadas e comandadas por aquele batalhão. Algumas vezes foi atribuída para realização de operações desenvolvidas por sectores ou comandos equivalentes, nomeadamente na região de CampadaJ Barraca Banana, em 4Dez72, no sector do BCav 3846.

A 3ª CCmds Afr foi desactivada e extinta em 7Set74, com as restantes forças do BCmds.

Observações -  Não tem História da Unidade.

CECA (2002), pág. 652

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pp. 648/652.
__________

Guiné 61/74 - P25176: Notas de leitura (1667): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (12) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Fevereiro de 2024:

Queridos amigos,
Os autores procedem a um balanço final dos quatro anos da governação Schulz, chamando a atenção para a preocupação deste comandante-chefe em querer decidir a sorte da guerra de guerrilhas predominantemente pela força, não tendo levado a efeito um programa mais incisivo de captação das populações. Embora sejamos levados a dar-lhes razão (outros autores também apontam esta deficiência no comando estratégico de Schulz), causa uma certa surpresa não ter em consideração o estado de desarrumação demográfico que Schulz encontrou em abril de 1964, não era só a polvorosa no Sul, tudo se desarticulara na região Corubal, no Morés, os corredores de infiltração sentiam-se imunes. Houve que estabelecer ocupação do território, sem dúvida que não houve um plano de reformas como Spínola veio a pôr em prática, Schulz efetivamente teve meios militares mas jamais lhe foi concedido um orçamento generoso para tais reformas. E Spínola desencadeou a sua governação primeiro pela estratégia militar, visando seguramente mais longe, e com meios financeiros muitíssimo generosos.

Um abraço do
Mário



O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974
Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (12)


Mário Beja Santos

Deste segundo volume d’O Santuário Perdido, por ora só tem edição inglesa, dá-se a referência a todos os interessados na sua aquisição: Helion & Company Limited, email: info@helion.co.uk; website: www.helion.co.uk; blogue: http://blog.helion.co.uk/.

Capítulo 3: “Eram eles ou nós”


Em 1968, a guerra na Guiné tinha-se transformado num impasse estratégico. As forças comandadas pelo General Schulz revelavam-se incapazes de tirar a guerrilha do PAIGC dos seus redutos, as forças portuguesas espalhavam-se por destacamentos, quartéis (desde sede de batalhão a aquartelamentos a uma ou duas dezenas de quilómetros), aldeamentos fortificados, o que, obviamente, permitia aos guerrilheiros diferentes formas de gerar instabilidade, quer minando os itinerários, montando emboscadas, ou praticando toda a espécie de flagelações. Somente o poder aéreo na sua multiplicidade de funções evitava formas graves de deterioração do moral das tropas e das populações. A Força Aérea era o fator militar decisivo. Os esforços da Zona Aérea impediam a consolidação dos guerrilheiros e de ganhos territoriais; de acordo com uma avaliação norte-americana, enquanto os portugueses mantivessem o “domínio absoluto do ar”, o PAIGC não conseguiria demover as tropas portuguesas das suas bases ou das principais povoações. Qualquer discussão sobre a independência para a Guiné Portuguesa não passava de um exercício teórico.

O Comandante-chefe Schulz usou esta sua “carta do poder aéreo” com grande efeito, mas a eficácia não podia ser duradoura. E embora uma guerra prolongada pudesse ter agradado aos insurgentes, tornara-se um problema sério para os recursos portugueses. Gil Fernandes, funcionário do PAIGC, resumiu mais tarde a situação nos seguintes termos: “Seguimos uma estratégia destinada a assediar as forças portuguesas e também a fazer esvair a sua economia. Combinámos a pressão militar eficaz na colónia e a pressão económica em Portugal.”

Em termos orçamentais, a estratégia parecia estar a funcionar: em 1968, os custos diretos associados à guerra na Guiné aproximavam-se dos 350 mil dólares norte-americanos por dia ou mais de mil milhões por ano em dólares norte-americanos de 2023. Era um valor que representava 44% do orçamento de Defesa em 1968 – e o orçamento da Defesa representava mais de 1/3 de todos os encargos do Estado naquele ano. No total, os encargos portugueses com a Defesa triplicaram entre 1959 e 1968 para apoiar o contingente militar que duplicou durante o mesmo período, de 79.000 para 182.500 militares. Um outro desafio crescente tinha a ver com o recrutamento. Em 1961, a incidência da fuga ao recrutamento em Portugal era de 12%; em 1967, ultrapassou os 19%.

A explicação para esta evasão pode ser dada por uma combinação entre a onda migratória e uma certa oposição por razões ideológicas. A deserção entre militares aumentou para 1402 em 1967, no ano seguinte o número praticamente manteve-se. As candidaturas e adesões à Academia Militar iam diminuindo. Em 1968, apenas 149 candidatos “concorreram” para preencher 430 vagas e apenas 58 foram admitidos; em comparação, quase 90% das vagas na Academia, de 1960 a 1963, tiveram preenchimento.

Apesar de todas estas restrições, Schulz conseguiu um impressionante aumento das forças portuguesas na Guiné. O número de militares enviados para a província aumentou 50% durante o seu mandato, de 15 mil para mais de 22 mil, enquanto o acervo de aeronaves da Zona Aérea aumentou mais de 1/3. O defeito que se pode atribuir à estratégia de Schulz era a sua confiança numa solução militar para o problema da Guiné Portuguesa. Schulz pode ser visto como “um general clássico de Clausewitz” (Schulz era um oficial do Estado-Maior); como ele mais tarde confessou, caiu na clássica armadilha de tentar derrotar uma insurgência acima de tudo através da força. Embora ele entendesse muitos dos aspetos militares da contraguerrilha, preferia o poder de fogo à persuasão, um pouco à semelhança do comportamento do general norte-americano William Westmoreland no Vietname. Como observou Manuel “Manecas” dos Santos, comandante do PAIGC, “Schulz não conduziu uma guerra de guerrilha moderna, não trabalhou com a população. Pelo contrário, o trabalho que empreendeu baseou-se na repressão e esta aumentou a resistência, tornando-se quase objetivamente um nosso aliado.”

Frustrado com os seus objetivos iniciais, Schulz recorreu a uma abordagem predominantemente estratégica defensiva estática, pontuada por episódicas ofensivas, principalmente de domínio aéreo. A sua estratégia ficou cada vez mais dependente dos meios aéreos disponíveis, e em meados de 1968, os aviões e as unidades helitransportadas constituíam a maior da capacidade ofensiva das forças portuguesas na Guiné. Revelou-se insuficiente, apesar do número crescente de missões realizadas, das bombas lançadas e dos alvos destruídos, a influência do PAIGC não abrandou, espalhou-se por toda a Guiné. Schulz admitiu mais tarde que este tipo de ações não se enquadrava com o que ele pretendia.

A situação exigia um comandante que pudesse recuperar a iniciativa e que encontrasse uma saída satisfatória para o “atoleiro” da Guiné. O escolhido por Salazar, António de Spínola, alterou não só o curso de guerra, mas também o destino político do Estado português e o destino do seu Império.


Capítulo 4: “A pedra angular”

“A Força Aérea, devido ao seu elevado potencial de fogo e potencial de reação rápida, é efetivamente a pedra angular da atividade operacional no teatro de operações da Guiné.” – Spínola, 10 de dezembro de 1968

O Brigadeiro António de Spínola assumiu as suas funções de Governador e Comandante-chefe em 20 de maio de 1968, trazendo consigo uma reputação de dinamismo, imaginação e determinação. O novo comandante era uma figura extravagante com um certo “modo fanfarrão”, ostentando monóculo e trazendo sempre um chicote nas suas frequentes visitas (não anunciadas) por toda a Guiné, algumas vezes dentro das alegadas zonas libertadas do PAIGC.

Austero, renunciando ao conforto pessoal e até mesmo ao ar condicionado, um jornalista estrangeiro descreveu que entrou no seu gabinete de trabalho vindo da antessala climatizada “como se tivesse entrado num ambiente de forno morno”. Intempestivo e caustico até com os seus colaboradores, era direto no confronto com os seus próprios superiores, e no campo de batalha deixou projetada deliberadamente uma aura de bravura, muitas vezes aparecendo desarmado à frente das tropas para pasmo dos soldados da linha da frente. Spínola já contava com quatro décadas de experiência militar na Arma de Cavalaria quando chegou a Bissau. No final da década de 1930, então tenente, teve a sua primeira exposição no combate enquanto organizava ajuda às forças franquistas durante a Guerra Civil espanhola. Durante a Segunda Guerra Mundial, participou numa missão de observação na Alemanha de Hitler, que incluiu visitas às posições da linha da frente em Leningrado. De 1961 a 1964, comandou um Batalhão de Cavalaria em Angola, foi elogiado pela sua bravura e eficácia, conquistou a admiração nos meios militares e chamou à atenção de Salazar. Agora, Spínola defendia uma abordagem inteiramente nova, adequada ao dilema político-militar suscitado pela luta de libertação. Como Spínola procurou explicar a Salazar antes de aceitar o posto para o qual estava a ser convidado, a única forma de evitar a expulsão da Guiné era através de uma campanha de desenvolvimento económico, de reforma política e “revolução social”. Só assim se poderia reforçar a confiança daquela população, preparando-a ao mesmo tempo “para assumirem as suas responsabilidades na administração local em pé de igualdade com a metrópole.”
Spínola numa das suas deslocações diárias (United Press Europix)
Quando Spínola chegou à Guiné, em 1968, a iniciativa militar estava francamente do lado da guerrilha (s. (Reg Lancaster/Express Hulton Archive/Getty Images)
Spínola lançou um programa socioeconómico por reformas (a Guiné melhor), era o seu objetivo ganhar confiança das populações descrentes ou pouco crentes na soberania portuguesa (Coleção António de Spínola)

(continua)

____________

Notas do editor:

Vd. post de 9 DE FEVEREIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25153: Notas de leitura (1665): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (11) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 12 DE FEVEREIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25163: Notas de leitura (1666): "Nas Três Frentes Durante Três Meses, Toda a Verdade da Guerra Contra o Terrorismo no Ultramar", por Martinho Simões; Empresa Nacional de Publicidade, 1966 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P25175: Faceboook...ando (51): seleção do álbum fotográfico de Nicolau Esteves, o "brasileiro de Cinfães", ex-1º cabo radiotelegrafista, CCAÇ 797 (Tite, São João e Nhacra, 1965/67) - II (e última)


Foto nº 11 > Um "montemurense" em terras da Guiné (região de Quínara, mais provavelmemnte Tite, c. 1965/66), habituado a lidar com o gado vacum (s/d/, s/l)


Foto mº 12 > "Matança do porco": festa rija, "grande ronco" (1)


Foto mº 13 >   "Matança do porco": festa rija, "grande ronco" (2)


Foto mº 14 > "Matança do porco": festa rija, "grande ronco" (3)


Foto mº 15 > s/l  > s/d >   Estendo a toalha ou o lençol.. no arame farpado


Foto nº 16 >  > s/l  > s/d >  O Esteves à direita

Foto nº 17 > > s/l  > s/d >  O Esteves à direita parece estar a mostrar o seu álbum fotográfico...


Foto nº 18  > s/l  > s/d >    O Esteves trepador (1)


Foto mº 19 > s/l  > s/d >    O Esteves trepador (2)


Foto nº 20> Tite,  1965 ou São João, 1966 > Desembarque com armas e bagagens ?


Foto nº 21 >  Bsssau, 1965 ou 1967 ? Chegada ou partida ?


Guiné > Região de Quínara > CCAÇ 797 (Tite, São Joãp e Nhacra, 1965/67) 


Fotos (e legendas): © Nicolau Esteves (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Nicolau Esteves, Susano, São Paulo, Brasil


1. Segunda (e última) parte de uma seleção de fotos do álbum do ex-1º cabo radiotelegrafista Nicolau Esteves, disponíveis na sua página do Facebook, desde 20 de junho de 2016.  As fotos são menos de 3 dezenas, de qualidade muito desigual, e algumas delas riscadas. Foram selecionadas e editadas por nós. Os créditos fotográficos continuam a ser, obviamente,  do nosso camarada Esteves.

A sua publicitação nesta série ("Facebook...ando") e no nosso blogue ("Luís Graça & Camaradas da Guiné" ) permite que cheguem a um público mais vasto, e nomeadamente aos antigos combatentes da Guiné (1961/74), incluindo os seus camaradas de armas da CCAÇ 797, que passaram por Tite, São João e Nhacra,  e cujo comandante era, nem mais nemmenos, do que o ex-cap inf Carlos Fabião (que será o último governador-geral da Guiné, depois do 25 de Abril de 1974=.  

Na sua maioria as fotos não trazem legendas, e algumas estão em mau estado,  mas no essencial foram tiradas em Tite e em São João.  Em muitos casos tivemos que "imaginar" a legenda... São documentos que ilustram o duro quotidiano das NT nos improvisados quartéis do CTIG. (Em boa verdade, "bu...rakos", onde enterrámos, estúpida, cruel e  inutilmente, sem honra nem glória, o melhor dos anos da nossa juventude.)

Sabemos que o Esteves é natural de Cinfâes, concelho da serra de Montemuro, sub-região de Tâmega e Sousa, distrito de Viseu, na margem esquerda do rio Douro. Terra de portugueses  famosos como  Serpa Pinto, e cheia de vestígios dos muito povos qye a habitaram desde há milhares de anos, desde o Calcolitico.  (O concelho de Cinfães tem vindo, entretanto,  a perder população: 32 mil em 1950; 17,8 mil, em 2021, ou seja c. de 57%).

Como outros conterrâneos, o Esteves emigrou para o Brasil, muito provavelmente depois da "peluda". Deve ter feito, recentemente, a 27 de janeiro, os seus 80 ou 81 anos, pelas nossas contas.

 Este "brasileiro de Cinfães" é pois mais um portuguès das sete partidas que foi engrossar a diáspora lusitana. Vê-se, pelo que vai postando na sua página, que tem orgulho e saudades da sua/nossa terra.

Já o convidámos a integrar, de pleno direito, a nossa Tabanca Grande, juntando-se aos 884 camaradas e amigos da Guiné que já lá estão (entre vivos e mortos). 

Até ao momento é apenas amigo do Facebook da Tabanca Grande (temos alguns, poucos, amigos comuns).

Temos, além disso,  escassas 16 referências à CCAÇ 797 (Tite, São João e Nhacra, 1965/67). Não há nenhum camarada desta subuniddae reistado formalmente na Tabanca Grande.  

______________

Nota do editor:

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25174: (De) Caras (203): Nota solta (José João Domingos, ex-Fur Mil At Inf)

1. Mensagem do nosso camarada José João Domingos, ex-Fur Mil At Inf da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4516 (Colibuía, Ilondé, Canquelifá, 1973/74), com data de 13 de Fevereiro de 2024:

Nota solta

Caro Luís
Antes de mais as tuas melhoras.

Tenho tido pouca interação com o blogue mas não dispenso a sua leitura semanal. Gosto muito de seguir as publicações dos camaradas que habitualmente o fazem e que muito interesse me despertam.

Nesta altura do campeonato, em que só nos resta fazer a mala, vemos as coisas de forma diferente e, no meu caso, às vezes, assaltam-me momentos de lucidez que me espantam.

Sem preocupação de escalonar por importância é frequente concordar ou discordar de alguns “posts” ou comentários de outros camaradas sobre a temática da guerra na Guiné. Inibo-me de comentar por entender não ter grandes bases para tal até porque, e aí começa o problema, a guerra começou em 1963 e, naturalmente, as condições eram diferentes de 1973. Por outro lado, às comissões de 21/24 meses correspondiam da outra parte largos anos de guerrilha e o profundo conhecimento do terreno e a adaptabilidade ao mesmo.

Ainda na Metrópole senti que as coisas não eram levadas a sério. A vida continuava alegremente, excepto para os Pais que tinham filhos no Ultramar. Os irmãos já sabiam que mais tarde ou mais cedo iam lá parar, só não sabiam em que província e, portanto, havia que gozar a vida.

Em Leiria de passagem e depois a recruta em Santarém, onde encontrei gente de nível militar exigente mas sempre correcto, passei por Tavira onde encontrei um ambiente com ambições guerreiras mas perfeitamente anedótico onde cada um fazia o que o poder lhe permitia sem qualquer coerência.

Formação do batalhão no RI 15 em Tomar com destino à Guiné com muitos analfabetos e alguns “esperados” que, até um cego via, não tinham condições físicas para integrar uma companhia operacional.

Quando cheguei à Guiné, a Bolama, já que o “Niassa” ficou ao largo de Bissau e fomos transferidos diretamente para uma LDG (às cinco da tarde e chegámos a Bolama ao meio dia seguinte), e olhei para aquilo a primeira impressão que tive: “foi isto que estes gajos fizeram em 500 anos?”

Relativamente à guerra nunca pensei em ganhá-la porque, até outro cego via, que tal não era possível.
Descontando a diferença de armamento e da experiência em combate, com manifesta superioridade do adversário (digamos assim), o facto das unidades militares estarem em quadrícula (julgo que é assim que se diz) tornavam-nas num fácil alvo que permitia flagelações a partir das fronteiras dos países vizinhos, com intervalo para as refeições ou para satisfazer necessidades. Por vezes, apenas as valiosas intervenções das forças especiais no terreno permitiam algum descanso.

Por outro lado, as condições de vida nos aquartelamentos em que vivi eram desumanas e a fome era firme e constante, tal como a divisa do meu batalhão. Nunca percebi como é que uns se tratavam tão bem e outros passavam tão mal tendo em atenção que a dotação orçamental era semelhante.

Com o 25 de Abril a guerra na Guiné praticamente terminou tendo começado as negociações. A sobreposição do pessoal do exército colonial pelo PAIGC, pelo menos em Bissau, fez-se calmamente até Setembro, com a exceção da patifaria feita aos camaradas dos comandos africanos que ainda hoje me arrepia. Não estou em posição (nem quero) de julgar quem quer que seja mas aquela canalhice tornou a atormentar-me quando recentemente vi os Estados Unidos (e outros) abandonarem de um dia para o outro os seus colaboradores no Afeganistão.

Acabada a guerra, regresso à Metrópole, procura de emprego, constituição de família e luta constante para a sustentar o melhor possível, ambição natural de todos nós.

Após uma vida de trabalho, a almejada reforma (não venha por aí alguma patifaria) e o acompanhamento frequente dos netos, tarefa que se desempenha com alegria mas que denuncia algum cansaço próprio do avançar da idade (a pedalada começa a falhar).

Em consequência da reforma passei a receber uma prestação anual como ex-combatente que em 2023 foi de 171,90 € (em termos líquidos transformou-se em 107,90 €). Incomoda-me recebê-la por dois motivos: porque, afinal, grande parte é devolvida a quem a paga, isto é, dá com uma mão e tira com a outra, e porque não me faz falta, seria muito mais útil para reforçar o rendimento dos muitos que mais pecisados estão.

Também tive direito ao cartão de combatente que me permitiu ter um passe gratuito para os transportes urbanos (moro em Lisboa) que pode ser utilizado em toda a àrea metropolitana. Nas outras zonas do País não sei se é útil. Quanto ao PIN e à bandeira, dispenso. Contudo, não deixo de destacar a luta dos camaradas que o conseguiram.

Provavelmente, este arrazoado não tem interesse, mas é o que de momento se pode arranjar.

Um abraço
José João Domingos

___________

Nota do editor

Último post da série de 9 DE JANEIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25052: (De) Caras (201): O cap art 'comando' Nuno Rubim (1938-2023): fotos do meu álbum (Virgínio Briote, ex-alf mil 'cmd', cmdt Gr Diabólicos, Brá, 1965/67)

Guiné 61/74 - P25173: Faceboook...ando (50): seleção do álbum fotográfico de Nicolau Esteves, o "brasileiro de Cinfães", ex-1º cabo radiotelegrafista, CCAÇ 797 (Tite, São João e Nhacra, 1965/67) - Parte I

 

Foto nº 1 > Cartão de Boas Festas e Feliz Ano Novo.  Ao canto superior direito o brasão da CCAÇ 797. Na foto, o 1º caboradiotelegrafista Esteves a escrever para a famíçia e amigos. Local: tudo indica que seja Tite (onde a companhia esteve cerca de um ano, até abril de 1966). 


Foto nº 2 >  o 1º cabo radiotelegrafista Esteves lendo, na cama,um livro, cujo título não onseguimos identifiar


Foto nº 3 > O T/T Uíge que transportou o pessoal da CCAÇ 797 em abril de  1965



Foto nº 4 > O  1º cabo radiotelegrafista Esteves no regresso de saída para o mato com "banho de bolanha"... A G3 sem carregador...
 


Foto nº 5 > Na capela do quartel de Tite, sector sul,  Se  (Tite)

 A N. Sra. de Fatima também  nas matas da Guiné. . 


Foto nº 6 > Mais uma foto para a família... em Cinfães, na serra de Montemuro.


Foto nº 7 > Brindando à vida, à camaradagem, à amizade


Foto nº 8 > "A nossa equipa de futebol" (o Esteves  usa o termo "time", à brasileira)


Foto nº 9 > "Beira rio em São João" (já em 1966)... O Esteves será o camarada da  direita. 


Foto nº 10 > Quartel de Tite (c. 1965/66)

Fotos (e legendas): © Nicolau Esteves (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Nicolau Esteves, Susano, São Paulo, Brasil


1. Uma seleção do álbum fotográfico do ex-1º cabo radiotelegrafista Nicolau Esteves. A apresentação é dele, de acordo com a sua página no Facebook. As fotos (menos de 3 dezenas, de qualidade muito desigual, algumas delas riscadas), foram disponibilizadas em 20 de junho de 2016 na sua página do Facebook.  Foram selecionadas e editadas por nós. Os créditos fotográficos continuam a ser, obviamente,  do nosso camarada Esteves.

A sua publicitação nesta série ("Facebook...ando") e no nosso blogue ("Luís Graça & Camaradas da Guiné" ) permite que cheguem a um público mais vasto, e nomeadamente aos antigos combatentes da Guiné (1961/74), incluindo os seus camaradas de armas da CCAÇ 797, que passaram por Tite, São João e Nhacra. Publicaremos proximamente a II (e última) parte.

Na sua maioria as fotos não trazem legendas, e algumas estão em mau estado,  mas no essencial foram tiradas em Tite e em São João. Ficamos a  saber que o Esteves é natural de Cinfâes (portanto, vizinho da Quinta de Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses; a quinta fica em contato visual com Cinfães, com o rio do Douro pelo meio, estando em frente à serra de Montemuro). 

Emigrou para o Brasil, muito provavelmente depois da "peluda". Faz anos  a 27 de janeiro. Casou com a Cilinha Esteves em 7 de setembro de 1973. O casal tem filhos e netos já criados no Brasil. Este "brasileiro de Cinfães" é pois mais um portuguès das sete partidas que foi engrossar a diáspora lusitana. Vê-se, pelo que vai postando, que tem orgulho e saudades da sua/nossa terra.

Fica convidado a integrar, de pleno direito, a nossa Tabanca Grande, juntando-se aos 884 camaradas e amigos da Guiné que já lá estão (entre vivos e mortos). Até ao momento é apenas amigo do Facebook da Tabanca Grande (temos alguns, poucos, amigos comuns).

Temos escassas 15 referências à CCAÇ 797 (Tite, São João e Nhacra, 1965/67). Não há nenhum camarada desta subuniddae reistado formalmente na Tabanca Grande. Em tempos (11 e 13 de dezembro de 2022) fomos contactdos pelo ex-furriel miliciano, da CCAÇ 797, a propósito do malogrado Julio Lemos Martins (que era de Ponte de Lima), desaparecido no rio Louvado. 
 "Sou o nº 8 da foto e fui camarada do Júlio Lemos no infortúnio do rio Louvado. Vivo desde 1976 no Canadá. Eu e o Júlio éramos os responsáveis desse grupo de combate nesse fatídico dia. A partir dai nunca mais vivi"....

Também temos referência ao ex-fur trms, Henrique A. Mendes, através de correspondência com a filha. (Ele seguiu depois a carreira militar.)

Sobre o antigo cap inf Carlos Fabião temos 60 referências. (Fez 3 comissões na Guiné.)


"Fotos do período em que estive em combate na Guiné-Bissau (1965/1967)" 

 (Nicolau Esteves)


(i) "Desembarcou em Bissau em 29/04/1965, tendo viajado no barco Uíge;

(ii) Foi "inicialmente enviado a Tite, passando por São João e finalmente Nhacra";

(iii) Em Tite pertenceu ao BCAÇ 1860 e passou a integrar a Companhia de Caçadores 797 (CCAÇ 797), "Camelos";  o lema era: "O inimigo teme sempre quem não o mostrar temer";

(iv) Exerceu "a função de 1º Cabo Radiotelegrafista do Comando da Companhia, liderada pelo Comandante Carlos Alberto Idães Soares Fabião";
 
(v) Vive em Susano, Estado de São Paulo, Brasil;

(vi) Tem página no Facebook e é amigo do Facebook da Tabanca Grande;

(vii) Há dias comentou,  num um dos nossos postes: "No meu tempo, 65/67, um soldado ganhava 450 escudos, o cabo 900 e eu ganhva maís 300 de prémios de especialidade no caso, 1º cabo radiotelegrafista. Naquele tempo, não tendo onde gastar ainda deu para juntar uns trocados" (Facebook da Tabanca Grande, 13 fev 2024, o1:48)

Em suma, à volta (ou a pretexto) de umas fotos do nossos álbuns, podemos sempre contar mais umas histórias, colmatando lacunas dos registos oficiais ou oficiosos da nossa guerra A CCAÇ 797 teve uma atividade operacional intensa. Sabemos muito pouco das suas histórias, a não a ser o que já se escreveu sobre o desastre no rio Louvado.


Guião da CCAÇ 797 (Cortesia: Coleção Carlos Coutinho, 2009)


2. Ficha de unidade > Companhia de Caçadores n.º 797


Identificação: CCaç 797
Unidade Mob: RI 1 - Amadora
Cmdt: Cap Inf Carlos Alberto Idães Soares Fabião
Divisa: -
Partida: Embarque em 23Abr65; desembarque em 28Abr65 | Regresso: Embarque em 19Jan67

Síntese da Atividade Operacional

Após o desembarque, seguiu imediatamente para Tite, onde substituíu a CCaç 423, em 29Abr65, ficando com a missão de intervenção e reserva do BCaç 599 e depois do BCaç 1860 e guarnecendo com um pelotão o destacamento de Enxudé

Na função de intervenção, tomou parte em diversas operações efectuadas no sector, de que se destacam as acções nas regiões de Gã Saúde e Jufá, em que capturou 2 metralhadoras e 14 espingardas e nas regiões de Bissa0lão, Gampari e Gã Formoso.

Em 20 e 26Abr66, por troca por fracções com a CCav 677, foi colocada em S. João mantendo o pelotão de Enxudé e destacando ainda um pelotão para Jabadá, de 13Mai66 até 30Mai66. 

Em 30Mai66 e 03Jun66, foi rendida pela  CCaç 1566, por fracções, deslocando-se então para Nhacra.

Em 6Jun66, assumiu a responsabilidade do subsector de Nhacra, com destacamentos em Sanfim e João Landim, rendendo a CCav 1484 e ficando integrada no dispositivo e manobra do BCaç 1876, com vista à segurança e protecção das instalações e das populações da área.

Em 16Jan67, foi rendida no subsector de Nhacra pela CCaç 1487, a fim de efectuar o embarque de regresso.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa n.º 94 - 2ª Div/4ª Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 339
___________

Nota do editor LG:

Último poste da série > 14 de janeiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25070: Facebook...ando (49): O Fernando Moreira (1950-2021), ex-fur mil trms, CCS/BCAÇ 3883 (Piche, 1972/74) terá sido o último militar do exército a falar pela rádio com o ten pilav Castro Gil (1950-1979) antes do abate do seu Fiat G-91 R/4, "5437", por um Strela, em 31/1/1974, sob os céus de Canquelifá