sexta-feira, 8 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25249: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Bettencourt Rodrigues, Governador e Com-chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte X: as directivas do último trimestre de 1973


Guiné > Bissau > Bissalanca > Base Aérea 12 > s/d. 


1. Em 25 de Agosto de 1973 foi nomeado para os cargos de Cmdt-Chefe das Forças Armadas da Guiné  e de Governador da Guiné, o general José Manuel Bettencourt (ou Bethencourt) Conceição Rodrigues (1918-2011), oriundo da arma de infantaria,  em substituição do general António Sebastião Ribeiro de Spínola (1910-1992), oriundo da arma de cavalariam que terminou a sua  comissão de serviço  nesse data. (Já estava, de resto, de licença de férias no Continente desde o dia 6 de agosto.).


O gen Bettencourt Rodrigues chegou ao CTIG numa altura em que já era pública e notória a degradação da situação político-militar, e o cansaço de ambos os lados (as NT e o PAIGC), ao fim de 10 anos de guerra de guerrilha e contra-guerrilha (a evoluir cada vez mais para uma guerra com meios convencionais). 

Chegou, podemos dizê-lo,  na 23ª hora, já praticamente no último trimeste do ano de 1973, considerado pelos historiados como o "annus horribilis" de Marcelo Caetano(*)

Aceitou, por dever de obediência militar mas também "por amizade" (e,  em última análise,  "alinhamento político) o presente envenenado que o Marcelo lhe ofereceu... Um dos nomes indigitados, o general da FAP, Diogo Neto, terá recusado, por não querer acumular a função de com-chefe com a de governador-geral (por sugestão,aliás,  do próprio gen Costa Gmes, então CEMGFA). 

Bettencourt Rodrigues, madeirense de ascendência, tinha sido ministro do Exército (1968-1970), e chegava de Angola, "coberto de honra e glória", onde fora comandante da Zona Militar Leste (1971-1973).

Com uma brilhante folha de serviço, e talvez o melhor general disponível no ativo para substituir o carismático gen Spínola (dois h0mens de escolas e  estilos de comando muito diferentes), Bettencourt Rodrigues aceitou os riscos da estratégia do governo de Marcelo Caetano que era, em última análise, resistir até à exaustão de meios e deixar cair a Guiné se tal fosse preciso, mas nunca negociar com o inimigo (o PAIGC)... 

Será exonerado do cargo na sequência do golpe de de estado do Movimento das Forças Armadas em 25 de Abril de 1974. 

Em tempo recorde, nos  últimos três meses do ano de 1973,  o novo Com-Chefe publicou três Directivas (o seu antecessor só no ano de 1971 tinha publicado 26; e em 1972, 24; e mais 26 at
até 21 d setembro) em 21 de outubro, 30 de novembro e 17 de dezembro de 1973. (O seu antecessor só no ano de 1971 tinha publicado 26; e em 1972, 24; e mais 26 até 21 de setembro: já agora acrescente-se que, segundo a CECA, o foi possível encontrar as Directivas do Comandante-Chefe das FAG relativas a 1974, mas mas no Arquivo Histórico-Militar há compilações  das decisões do Cmdt-Chefe. ) 

A primeira, a 21 de outubro de 1973, será a "Directiva para a diminuição das vulnerabilidades". Não tem número.

Reproduz-se aqui o excerto publicado da CECA (2015, pp. 286-288). Numa primeira leitura, fica-se com a ideia que esta diretiva é ditada pelos ensinamentos colhidos dos acontecimentos mais recentes, ocorridos no 1º semestre  de 1973, e em especial a chamada "batalha dos 3 G" (Guidaje, Guileje e Gadamael); por outro lado, identificam-se algumas das "vulnerabilidades" mais conhecidas das NT no TO da Guiné, como o deficiente treino e preparação, a indisciplina de fogo, o laxismo, a rotina, o cansaço, etc.  Não se faz referência ao facto de uma das vuknerabilidades maiores das nossos guarniões era serem fronteiriças (Canquelifá, Buruntuma, Copá, Gadamael, etc.), expostas ao bel prazer da artilharia do IN e dos países vizinhos que o apoiavam (como irá acontecer logo no início da época seca, de 1973/74).


Capa e contracapa da  2ª edição do livro do António Martins de Matos [ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74; ten gen pilav ref António Martins de Matos, membro da nossa Tabanca Grande, desde 2008, com mais de uma centena de referências no nosso blogue; autor do livro de memórias "Voando sobre um Ninho de Strelas" (2ª edição, Lisboa: O Sítio do Livro, 2020,  456 pp. ;  a 1ªedição é de 2018, Lisboa,BooksFactory 375 pp.) ]


(i) Directiva do Com-Chefe,  de 21 de outubro de 1973 > Determina às Forças Armadas da Guiné que adoptem medidas tendentes à diminuição dos efeitos causados pela acção do lN sobre as nossas forças.

Transcreve-se a "Execução":

"a. Com vista ao cumprimento desta missão impõe-se:

(1) preparar as Unidades, a todos os níveis de Comando, para, face às possibilidades lN esboçadas, conseguir uma "diminuição de vulnerabilidades";

(2) estudar e adoptar, a todos os níveis de Comando, as medidas mais adequadas e velar exaustivamente pelo seu rigoroso cumprimento;

(3) responsabilizar todos os escalões de comando pelo estabelecimento de medidas convenientes, pela orientação das Unidades e pela fiscalização da execução, com vigor e com rigor;

(4) não aceitar desculpas como o calor, o cansaço do pessoal, o tempo de comissão, o desembaraço criado pela veterania e a incomodidade do esforço físico porque está em causa "a troca de sangue por suor".

b. Os Comandos do TO, a todos os níveis, adoptam todas as medidas convenientes, de entre as quais se indicam aquelas cuja adopção se considera imprescindível:

(1) Manter abertos os itinerários da respectiva ZA que permitam a ligação a Unidades vizinhas e, através dos quais, se possam executar reabastecimentos normais e de emergência e deslocamentos de forças para apoio mútuo e reforço de localidades ameaçadas.

Com esta finalidade, toma-se necessário:

  • a desmatação de itinerários de molde a dificultar a montagem de emboscadas lN;
  • a realização de patrulhamentos frequentes para impedir a implantação de minas e para detectar e neutralizar as existentes;
  • a montagem de emboscadas e de minas e armadilhas nos trilhos de acesso às vias de comunicação e nos locais mais propícios a emboscadas lN.

(2) Treinar as tropas na reacção a emboscadas lN.

(3) Assegurar a defesa e segurança das pistas e heliportos de molde a mantê-las em permanente estado de utilização.

(4) Executar acções dinâmicas que criem insegurança e intranquilidade ao lN.

(5) Eliminar todas as rotinas que possam dar vantagens ao lN.

(6) Verificar a instrução de tiro do pessoal (1 cartucho por homem serve para detectar maus atiradores) e treinar os menos aptos.

(7) Mentalizar permanentemente o pessoal quanto à necessidade de disciplina de fogo. O consumo exagerado de munições denuncia nervosismo, baixo moral e deficiente nível de instrução e pode colocar as tropas perante a necessidade dum reabastecimento urgente, nem sempre possível.

(8) Estudar e ensaiar medidas de reacção dinâmica que devem ser procuradas com o maior interesse e executadas com a máxima agressividade.

(9) Aperfeiçoar todos os procedimentos para pedidos de apoio, de molde a que estes possam ser feitos de maneira eficiente e em tempo útil. Salientam-se os referentes a apoio de fogos da Força Aérea e de Artilharia e aos transportes de evacuação (TEV).

(10) Rever os "planos de defesa" de aquartelamentos e localidades, de forma a aperfeiçoar os dispositivos de defesa imediata, bem como os sistemas de apoio mútuo, quer pelo fogo quer pela
manobra.

(11) Melhorar a organização do terreno quer em abrigos, quer em trincheiras ou locais de combate, para fazer face à hipótese de tentativas de abordagem e assalto.

(12) Assegurar a defesa afastada dos aquartelamentos e localidades por meio de: 
  • patrulhamentos e emboscadas frequentes nas possíveis bases de fogo lN e nos itinerários que a elas dão acesso;
  • implantação de minas e armadilhas nas bases de fogos lN e nos itinerários que a elas dão acesso;
  • elaboração de planos de fogos perfeitamente adaptados às realidades.

(13) Treinar os "planos de defesa" de aquartelamentos e localidades, pela execução de frequentes "exercícios de alarme", de dia e de noite, promovendo imediatamente as necessárias correcções.

(14) Proteger as populações.

(15) Intensificar o serviço de informações e o rigor de medidas de contra- informação.

(16) Assegurar uma efectiva e eficiente acção de comando, em todas as situações de modo que a tropa se encontre sempre convenientemente enquadrada.

(17) Dispor de uma reserva pronta a sair com prévio alerta, com vista a actuar contra  grupo lN detectado ou a socorrer uma Unidade vizinha. [... ]"

Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pp. 286-288. (Com a devida vénia...)

(ii) A segunda directiva do novo Com-Chefe, gen Bettencourt Rodrigues é a Directiva para o apoio aéreo, de 30Nov73, sem número. 

No essencial, é decalcada da Directiva nº 20/73 de 29Mai73, do anterior Com-Chefe, gen António Spínola: Directiva nº  20/73 de 29Mai73 - Condições em que é executado o apoio aéreo as FA do TO face à evolução da situação.

(...) A utilização pelo lN, no TO da Guiné, de mísseis terra-ar, impôs profundas alterações no emprego da Força Aérea, com reflexos na doutrina operacional, não só da Força Aérea, como ainda das forças de superfície (F.S.). Aquelas alterações traduzem-se por: 

(1) Cancelamento de acções operacionais da Força Aérea; 

(2) Modificação de procedimentos de voo, de carácter geral e específicos, para cada tipo de aeronaves; 

(3) Modificação de procedimentos na execução de acções de apoio pelo fogo em proveito das F.S. (...)

Reproduz-se a seguir o excerto publicado da CECA (2015, pp. 288-292).  

Reveja-se depois o estudo do investigador independente José Matos (e membro da nossa Tabanca Grande), suportado por dados empíricos, sobre o  impacto do Strela na actividade aérea na Guiné (*)

Neste estudo José Matos refere "que, em finais de novembro, o novo Comandante-Chefe da Guiné, General Bettencourt Rodrigues, emite uma nova directiva para o apoio aéreo, que permite algumas excepções às directrizes definidas na Directiva 20/73 de 29 de maio. Nesta nova directiva, os ATAP em G.91 com foguetes e metralhadoras passam a ser possíveis por decisão do Comando da Zona Aérea ou do chefe de formação de voo empenhada, o mesmo acontecendo com as missões ATIR-ATID dos Fiat, o que dá maiores possibilidades de acção aos “Tigres”. De resto, a nova directiva mantém em vigor as orientações definidas em maio." (...)



Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > O célebre e velhinho caça-bombardeiro T6 G, tanbém conhecido por "ronco", na pista de aviação de Bafatá, Em primeiro plano, o fur mil at nf da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) Arlindo T.Roda (, o grande fotógrafo da CCAÇ 12, juntamente com o Humberto Reis). Os T 6G desempenharam o seu  importante papel ao longo da guerra.... Mas eram "poupadinhos" em combustível (menos de 200 litros por hora em média), quando comparados com os "glutões" dos Fiat G-91 (c. 1800 litros em média, por hora). 

O míssil terra-ar Strela, se não lhe ditou a morte, afectou a sua exploração operacional pela FAP. Como diz José Matos,  "o  efeito do míssil é evidente, principalmente, nos aviões de hélice e menos significativo no Alouette III e no Fiat G.91. O caça italiano é mesmo o único meio aéreo que aumenta a sua actividade operacional ao longo do ano em análise" (, ou seja, 1973).

Foto: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

Directiva para o apoio aéreo, de 30Nov73, sem número.


"1. SITUAÇÃO

a. A utilização pelo lN, no TO da Guiné, de mísseis terra-ar  [Strela, de fabrico russo], impôs alterações no emprego da Força Aérea, com reflexos na doutrina operacional, não só da Força Aérea, como ainda das Forças de Segurança (lapso, deve ser Forças de Superfície) (FS).

b. Aquelas alterações traduzem-se por:

(1) Cancelamento de algumas acções operacionais da Força  Aérea.

(2) Modificação de procedimentos de voo, de carácter geral e específico, para cada tipo de aeronaves.

(3) Modificação de procedimentos na execução de acções de apoio pelo fogo em proveito das FS.


"2. ACÇÕES OPERACIONAIS DA FORÇA AÉREA CANCELADAS

São canceladas as seguintes acções operacionais da Força Aérea:

a. DCON  [Direcção de Controlo D Delta - ponto trigonométrico... ] ("DO-27" - armado, a baixa altitude). [... ]

b. DACO [Direcção de Apoio de Comunicações de Operações]    ("T-6" - armado). [...]

c. ATAP [ Ataque de Apoio]   ("T-6" - armado). [ ]

d. ATAP  [ Ataque de Apoio]  ("FIAT G-91" armado com foguetes e metralhadoras). [ ]

e. ATIR  
[Ataque Independente em Reconhecimento; ] - ATID  [Ataque Individual Ririgido] ("FIAT G-91" com foguetes e metralhadoras). [ ]

f. RVIS [Reconhecimento Visual ]  ("DO-27" a baixa altitude). Substituída por RFOT [Reconhecimento Fotográfico ].

"3. PROCEDIMENTOS DE VOO DE CARÁCTER GERAL

São estabelecidos os seguintes procedimentos de voo, aplicáveis a todas as aeronaves e em todos os tipos de missões:

a. Altitudes de voo - acima de 6.000 pés e abaixo de 200 pés.  
[1 pé=30,48 centímetros. ]

b. Entre aquelas altitudes, todas as aeronaves manobram constantemente (mudanças bruscas de rumo e altitude).

c. Todas as subidas e descidas sobre as pistas do interior do TO são executadas em espiral, com inversões frequentes de sentido.

d. As rotas são variadas de modo a que as aeronaves, sempre que possível não sobrevoem os mesmos pontos, pelo menos dentro de períodos curtos de tempo.

e. Todas as aeronaves actuam, no mínimo, em parelhas.

f. As subidas e descidas nas pistas do interior do TO são executadas dentro da área de manobra cuja segurança é garantida pela FS:

(1) Nas pistas de escala de aviões de transporte médio (Nova Lamego, Bafatá, Aldeia Formosa e Cufar) - de acordo com o procedimento anteriormente estabelecido.

(2) Nas pistas de escala de aviões de transporte ligeiro - 2.000 metros a partir da pista, quer lateralmente, quer nos topos (4.000 x 6.000 metros).

g. A proximidade da fronteira, as áreas de reacção antiaérea com misseis terra-ar e as áreas de maior actividade do lB onde, segundo notícias recebidas, se presume a existência de mísseis
terra-ar, levaram a considerar operativas para "DO-27" apenas as pistas constantes do Anexo A  [omisso, não disponibilizado pela CECA, 2015 ].

h. Atendendo aos condicionamentos expressos em 3.g. são considerados heliportos de utilização normal apenas os indicados no Anexo A 
[omisso, não disponibilizado pela CECA, 2015 ].

"4. PROCEDIMENTOS ESPECÍFICOS E RESTRIÇÕES NA UTILIZAÇÃO DAS AERONAVES

a. TGER médio ("NORDATLAS" e "C-47").

(1) São normalmente utilizadas as pistas de Nova Lamego, Bafatá, Aldeia Formosa e Cufar. A pista de Farim é utilizada apenas em casos especiais.

(2) A execução das missões tem carácter inopinado; os dias e horas são acordados de véspera até às 17h00 entre o COAT e a Repartição PessLog do Comando-Chefe. Esta Repartição
informará a Chefia dos Transportes e a Unidade destinatária com a antecedência conveniente para efeitos de aviso aos passageiros, preparação da carga e transportar e montagem
da segurança da área de manobra. [... ]

b. TGER  
 [Transportes Gerais ]    ligeiro. Condicionado por condições meteoreológicas.

(1) "DO-27"

(a) As disponibilidades de carga a transportar são:

  • Descolagem de Bissau 300 Kg
  • Descolagem de outras pistas 200 Kg

(b) O número de descolagens por missão é reduzido para 4 (incluindo a descolagem de Bissau), excepto para o sector de Tite/Bolama em que se admitem 6. [... ]

(i) O pedido de uma acção TEVS 
 [ Transporte de Evacuação Sanitária]  é elaborado de acordo com o Anexo B [omisso, não disponibilizado pela CECA, 2015 ].

(2) Helicóptero - "ALIII"
Adoptam-se os procedimentos estabelecidos para "DO-27" no que se refere a TGER e TEVS.

c. PCV 
 [Posto de Comando Volante ] ("DO-27")

Realizado acima de 6.000 pés, destina-se a fazer trânsito de comunicações, e conduzir grupos empenhados em operações e a referenciar posições para apoio de fogo, desde que as FS tenham possibilidades de sinalizar as posições próprias utilizando fumígenos.

d. Ataque ao solo (Anexo C)  [omisso, não disponibilizado pela CECA, 2015 ].

(1) "FIAT G-91". [... ]

e. TMAN  
 [Transporte de Manobra]  (Helicóptero "AL-III")

(1) As colocações e recuperações de pessoal devem efectuar-se, sempre que praticável, em locais distintos e afastados.

(2) O número de vagas deve ser o menor possível.

(3) As recuperações devem ser reduzidas ao mínimo indispensável.

(4) As evacuações de feridos da zona de operações e as recuperações devem ser efectuadas de pontos afastados de locais de contacto com o lN.

(5) As aproximações aos pontos de colocação e recuperação são sempre efectuadas à altitude mínima possível.

f. RFOT 
[Reconhecimento Fotográfico ] 

(1) A baixa altitude, para objectivos pontuais.

(2) A 10.000 pés, na escala de 1/30.000, com possibilidades de ampliação até à escala de 1/7.500.

g. AESC  
Ataque em Escolta ]   (Helicóptero "AL-III")

(1) A escolta a formações de helicópteros é executada por dois helicópteros armados.

(2) A escolta a um helicóptero é efectuada por um helicóptero armado.

h. DACO [Direcção de Apoio de Comunicações de Operações] 

O avião mantém-se a uma altitude de segurança e destina-se a fazer trânsito de comunicações entre as FS e o COAT   
[Comando Operacional Aero Terrestre  ]   e a indicar aos pilotos dos "FIAT G-91" a base de fogos lN, no caso de se verificar um ataque e ser pedido apoio de fogo.

i. DLIG   [Missão Diversa de Ligação]

Acompanhamento de aviões "DO-27" empenhados em acções de transporte (TGER, TMAN ou TEVS) e a helicópteros que efectuem percursos a muito baixa altitude.


"5. PROCEDIMENTOS A SEGUIR PELAS FS NA EXECUÇÃO DE ACÇÕES DE APOIO PELO FOGO

a. As restrições impostas à Força Aérea nas actuais circunstâncias condicionam, de forma muito particular, as acções de apoio pelo fogo, não só pelas consequências desastrosas que podem advir de um erro de localização das NF, como ainda pela necessidade de se
introduzirem distâncias de segurança.

b.  
(1) Até ao aparecimento do míssil, as posições ocupadas pelas NF e pelo lN eram identificadas visualmente pelos pilotos. Este procedimento já não é realizável, em virtude de a 6.000 pés de altitude ou acima não ser possível identificar pela vista as posições ocupadas pelas NT e pelo lN. As posições ocupadas pelas NT terão de ser identificadas por forma (de preferência coloridos, exceptuando a cor verde). A posição do lN a atacar terá de ser definida por azimute magnético e distância a partir das posições das NT ou por granadas de fumos de morteiro (de preferência coloridos exceptuando a cor verde). 

Há que ter em atenção as distâncias de segurança adequadas (Anexo C)  [omisso, não disponibilizado pela CECA, 2015 ]O ATAP pode, em casos específicos, ser executado por dois helicópteros armados que, além do ataque ao solo, também se apoiam mutuamente. A sua presença na zona é por períodos curtos. Quando conveniente, podem ser lançadas do helicóptero granadas de fumo para sinalização de objectivos a atacar por aviões "FIAT" (em alerta).

(2) Quando as NT fazem um pedido de apoio de fogo urgente devem informar:

- Se houve flagelação a redutos defensivos (aquartelamento, bivaques, etc), meios móveis (navios, viaturas, etc) ou contacto lN no mato.

- Qual o armamento utilizado pelo lN.

- Se, à altura do pedido, ainda está em curso o fogo lN ou há quanto tempo teve lugar.

- As condições meteorológicas na zona (nebulosidade e visibilidade), quando possível.

"6. PREMISSAS A CONSIDERAR PELO CZACVG 
 [Comando da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné]  NA DECISÃO - PROCESSO ACEITAÇÃO / RECUSA DUM PEDIDO DE APOIO DE FOGO

a. Possibilidades da artilharia e das armas terrestres da dotação normal das NT.

b. Possibilidades de apoio aéreo e oportunidade de intervenção.

c. Meios existentes em voo e no solo e capacidade dos diversos sistemas de armas.

d. Condições meteorológicas (aeródromo de partida, trânsito e zona de acção) e evolução prevista.

e. Rendimento a esperar em face dos elementos conhecidos.

f. Situação no local em face do armamento a utilizar e a reacção antiaérea previsível ou provável na zona e nos trânsitos. [... ]"


Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pp. 288-292 (Com a devida vénia...)


(iii) A terceira (e última, no ano de 1973) directiva do novo Com-Chefe, gen Bettencourt Rodrigues, é a "Guarda Matutina", de 17Dez73, sem número. 

É também um sinal dos tempos.  Bissau está ao alcance dos foguetões (ou "foguetes") 122 mm e vulnerável a eventuais acções de sabotagem e terrorismo urbano (como virá acontecer, já em 1974, com o rebentamento de engenhos explosivos num café de Bissau, em 26 de fevereiro,  que provocou 1 morto e a sabotagem no próprio QG/CTIG, em 22 de fevereiro, onde parte do edifício principal foi destruída, numa acão reivindicada pelas (ou atribuída às) Brigadas Revolucionárias. O perímetro da base aérea nº 12, e o aeroporto  de Bissalanca também  também podia estar sujeito à infiltração de um furtivo apontador de Strela...

Por outro lado, a  CECA (2015, pág. 12) recorda que já em 1971 se registaram dois factos graves e/ou preocupantes:

(i)  em fevereiro, "2 aviões MiG-17 com as cores da República da Guiné, tripulados por argelinos, sobrevoaram Bissau, tendo continuado a verificar-se, posteriormente, acções várias de violação do espaço aéreo por helis e aviões não identificados" (ic);

(ii) e em 9 de junho, "o PAIGC levou a efeito o primeiro ataque a Bissau e a diversos aquartelamentos das proximidades, provocando num deles um número significativo de baixas".
 
Ainda segundo a mesma fonte, mas já em 1972, explodiram três engenhos explosivos, durante a noite, em locais diferentes da cidade de Bissau, capital do território,  "o que indiciava propósitos de terrorismo urbano". Nestes engenhos foram utilizados espoletas de efeito retardado MUV-2 (CECA, 2015, pág. 121).

Não em Bissau, mas na segunda maior cidade, Bafatá, o PAIGC em 8 de janeiro de 1972 levara a cabo  "um aparatoso ataque", com foguetões 122 mm (CECA, 2015, pág. 121).  

Destaca-se também, nesse ano, em 9 de março, "a flagelação ao topo norte da Base Aérea de Bissau, no dia 9 de Março, fazendo uso de lança-granadas foguete RPG-7".
 
Num dos últimos discursos que proferiu antes de ser assassinado, em Conacri, em 20 de janeiro de 1973, Amílcar Cabral "referiu a necessidade de intensificar a guerrilha
em todas as frentes e nos centros urbanos, com base numa organização clandestina, sabotando meios, destruindo instalações e causando o maior número de baixas na retaguarda, e que, no novo ano, seriam utilizados novas armas e meios mais poderosos." (CECA; 2015, pág. 239). 

E como é sabido em março desse ano entram em acção os mísseis terra-ar Strela...
 
Directiva "Guarda Matutina", de 17Dez73, sem número. 

Excertos:

"1. SITUAÇÃO

a. Inimigo

A área de Bissau, com toda a sua infraestrutura civil e militar, constitui o objectivo principal do lN.

Nas áreas urbanas e suburbanas destacam-se, como pontos sensíveis a acções de sabotagem lN:
  •  as instalações da SACOR; 
  • a Central Elevatória da Mãe de Água;
  • o Centro Emissor de Brá; e
  • a Central Eléctrica (Av. Brasil).

b. Forças Amigas

A PSP tem tido o encargo da defesa dos pontos sensíveis referidos. Porém, a partir de Novembro de 1973, os guardas europeus da 7ª CMP - Companhia Móvel de Polícia são, na sua quase totalidade, soldados no cumprimento do serviço militar obrigatório, com pouca idade, experiência e prática de serviço.

Este facto, aliado à fraca capacidade de enquadramento, tornam impossível à PSP continuar a garantir satisfatoriamente a segurança e defesa de todos os pontos sensíveis.

c. Reforços e cedências

(1) Reforços

O COMBIS passa a ser reforçado com a Companhia de Milícias Urbana.

2. MISSÃO

As Forças Armadas colaboram na defesa dos pontos sensíveis das áreas urbana e suburbana de Bissau, ficando a seu cargo a defesa das instalações da Central Eléctrica (Av. Brasil), da Central Elevatória da Mãe de Água e do Centro de Brá.

3. EXECUÇÃO

a. Conceito da Manobra

Tendo em consideração a localização dos referidos pontos sensíveis em relação às áreas de responsabilidade do COMBIS, é minha intenção defender a central Eléctrica (Av. Brasil), a Central Elevatória da Mãe de Água e o Centro Emissor de Brá, com meios do COMBIS reforçados com a Companhia de Milícias Urbana.

b. COMBIS (Comando de Agrupamento de Bissau)
  • Garante a segurança imediata da Central Eléctrica (Av. Brasil);
  • Garante a segurança imediata da central Elevatória da Mãe de Água;
  • Garante a segurança imediata do Centro Emissor de Brá. [... ]"

Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pp. 293-294 (Com a devida vénia...)

[ Seleção / adaptação / revisão / fixação de texto / negritos,  para efeitos de publicação deste poste no blogue: L.G.]
___________
 
Notas do editor:

(*) Último poste da série > 7 de março de 2024 > Guiné 61/74 - P25245: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Bettencourt Rodrigues, Governador e Com-chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte IX: O adeus a Aldeia Formosa, onde também tinha um sobrinho, madeirense [Fernando Costa (1951-2018), ex-fur mil trms, e músico, CCS/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, março de 1973/ setembro de 1974)]

(...) A evolução da guerra colonial na Guiné tomou um rumo dramático em 1973-74, quando o PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde) adquiriu a última versão do míssil soviético terra-ar SA-7 (Strela-2M). 

 A utilização desta arma pela guerrilha provocou profundas alterações no emprego da aviação e na eficácia das operações aéreas. Aproveitando os efeitos tácticos do míssil, que tiveram reflexos estratégicos, os guerrilheiros lançaram várias operações de grande envergadura e a guerra entrou numa fase muito delicada. Surpreendida, inicialmente, a Força Aérea tomou rapidamente várias contramedidas que reduziram a eficácia do míssil. Que impacto teve, verdadeiramente, na actividade aérea e qual o efeito das contramedidas adoptadas é o que se pretende analisar neste artigo. (...)

(...) As perdas provocadas pela acção do míssil reflectem-se de imediato na capacidade operacional do Grupo Operacional 1201 (GO1201), que tem na sua orgânica a Esquadra 121, onde estão os Fiat, T-6 e DO-27, a Esquadra 122 com o Alouette III e a Esquadra 123 com o Noratlas e C-47. 

O GO1201 dispunha em março de 1973, em Bissalanca, na BA12, de 53 aeronaves entre aviões e helicópteros (...) . Desta forma, os abates de março e de abril traduziram-se numa perda de 9,4% das aeronaves do GO1201. Mais importante ainda, 8 dos cinco aviões perdidos pela acção do míssil, dois deles eram aviões Fiat, o único jacto de combate que a FAP dispunha na Guiné. A Esquadra 121 tinha, nessa altura, onze G.91 passando, então, a ter nove. (...)

(...) Ultrapassada a fase de surpresa inicial, realizada a análise das perdas sofridas e deduzindo, ainda que empiricamente, o funcionamento da nova arma, dada a escassez de informação, o Comando da Zona Aérea introduz uma série de condicionamentos nas missões realizadas pelas diversas aeronaves. As primeiras medidas cautelares são adoptadas em meados do mês de abril e são as seguintes:

  • T-6G – Cancelamento das missões de apoio próximo às forças terrestres e de ataque ao solo de natureza independente;
  • Fiat G.91 – Execução apenas de missões de bombardeamento a picar (BOP) e de metralhamento a picar (MAP), com entrada a 10 000 pés (3300 m) e saída a 3000 pés (990 m);
  • DO-27 – Cancelamento das missões de Reconhecimento Visual (RVIS) e de Posto de Controlo Volante (PCV); redução das missões de TGER e de TEVS (Transportes Gerais e Evacuação);
  • Noratlas – Execução de missões de transporte limitado a 3000 kg de carga, a fim de assegurar a maior razão de subida das aeronaves dentro da zona de segurança garantida pelas forças terrestres; canceladas as missões de lançamento de cargas aéreas;
  • C-47 Dakota – Execução de missões de transporte aéreo limitado a 1500 kg de carga;
  • Alouette III – Execução de missões de TGER e TEVS por duas aeronaves, a baixa altitude, uma limpa e a outra armada para protecção do conjunto e de apoio de fogo das tropas e do meio aéreo de TEVS, na zona de operações das forças terrestres; execução de missões de TGER apenas para pistas interditas ao DO-27. (...)

(...) As missões RFOT são as mais afectadas, mas, a partir de outubro, o maior empenho de várias aeronaves (G.91, DO-27 e C-47) em RVIS e RFOT faz aumentar o número de missões. No entanto, é evidente a relação causa-efeito entre o míssil e o decréscimo deste tipo de missões. O DO-27 é claramente limitado pelo Strela nas missões RVIS e o C-47 é também desviado para outras missões, embora possa fazer fotografia vertical a 10 mil pés. As missões RFOT a baixa altitude ficam assim, praticamente, só para o Fiat e para objectivos pontuais. (...)

(...) Desta forma, a Força Aérea vai-se apercebendo de que as missões TEVS, em situações desta natureza, mesmo com a presença de um helicóptero armado, são muito perigosas. A solução passou por aumentar a protecção armada aos helicópteros TEVS que começaram a ter dois Alouette III armados, de escolta (AESC). A análise das missões TEVS e AESC do Alouette III, ao longo de 1973, no gráfico 5, revela que o número de acções de evacuação diminuiu, mas que as acções de escolta aumentaram de forma clara (...).

Por último, podemos analisar a exploração operacional das várias aeronaves da ZACVG, através do gráfico 6. O efeito do míssil é evidente, principalmente, nos aviões de hélice e menos significativo no Alouette III e no Fiat G.91. O caça italiano é mesmo o único meio aéreo que aumenta a sua actividade operacional ao longo do ano em análise. 

No fundo, a Força Aérea usou mais intensivamente o único meio aéreo que podia representar alguma capacidade de resposta face à ofensiva da guerrilha. No saldo final, todavia, a exploração operacional do GO 1201 ressente-se com o míssil ao longo do ano, ficando sempre abaixo dos níveis de março de 1973. (...) 

6 de novembro de  2015 > Guiné 63/74 - P15336: FAP (93): O impacto do Strela na actividade aérea na Guiné - III e última Parte (José Matos, historiador e... astrónomo)

(...) É inegável que o aparecimento do míssil na Guiné teve consequências nas operações aéreas e no uso do poder aéreo, mas as várias contramedidas adoptadas, ao longo do ano, surtem efeito, pois mais nenhum avião volta a ser abatido até ao final de 1973, embora as equipas de mísseis continuem activas dando cobertura às acções no terreno.

Desde finais de abril até dezembro de 1973, são referenciados 15 disparos contra aviões Fiat, mas nenhum avião é atingido (...).  Este indicador mostra que os pilotos da BA12 conseguiram, ao longo do resto do ano, contornar a ameaça antiaérea e recuperar o controlo sobre a generalidade das acções de apoio que prestavam às forças terrestres.

O único abate acontece em 31 de janeiro de 1974, quando o G.91 5437, pilotado pelo Tenente Castro Gil, é atingido por um míssil perto da fronteira com o Senegal, numa missão de apoio a Canquelifá. O piloto consegue ejectar-se e escapar à guerrilha, regressando no dia seguinte ao quartel de Piche, à boleia numa bicicleta de um habitante local. (...) 


[ Seleção / adaptação / revisão / fixação de texto / negritos e itálicos, para efeitos de publicação deste poste no blogue: L.G.]

Guiné 61/74 - P25248: Parabéns a você (2252): Cor Art Ref DFA António Marques Lopes, ex-Alf Mil da CART 1690 / BART 1914 (Geba, Banjara e Cantacunda, 1967/69)

____________

Nota do editor

Último post da série de 5 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25237: Parabéns a você (2251): Gil Moutinho, ex-Fur Mil Piloto da BA 12 (Bissau, 1972/73)

quinta-feira, 7 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25247: O nosso livro de visitas (221): O nosso camarada António Inácio Correia Nogueira pôs à disposição da tertúlia a Tese que apresentou à Universidade Fernando Pessoa como parte dos requisitos para obtenção do grau de Doutor em Ciências Sociais, especialidade em Sociologia

1. Mensagem deixada no Formulário de Contacto do Blogger pelo nosso camarada António Inácio Correia Nogueira:

Caros camaradas
No contexto dos 50 anos do 25 de Abril ponho à disposição de todos no Repositório Institucional da Universidade Fernando Pessoa o documento "Capitães do Fim", na sua versão completa.
Para isso vão a http://hdl.handle.net/10284/5079

Um abraço e um obrigado do tamanho do mundo pelo magnifico trabalho que têm vindo a desenvolver.

Cumprimentos,
António Inácio Correia Nogueira


********************

Tese apresentada à Universidade Fernando Pessoa como parte dos requisitos para obtenção do grau de Doutor em Ciências Sociais, especialidade em Sociologia

"Capitães do Fim" - Resumo


Nos anos terminais da Guerra do Ultramar, a Academia Militar deixou de cumprir, por falta de candidatos, a sua missão capital: formar as elites militares intermédias de combate. Os Capitães do Quadro Permanente soçobraram. Ficou-se em presença de um Exército quase miliciano, num clima de forte contestação à guerra e de fraca motivação para lhe dar continuidade.

 No entanto, a defesa do Império, a todo o custo, era a política vigente, apesar do visível cansaço da Nação. Para ajudar a obviar este desiderato, e de forma surpreendente, foi determinada por despacho de 20 de Julho de 1970 do Ministro do Exército, Horácio José de Sá Viana Rebelo, a formação acelerada de Capitães milicianos na Escola Prática de Infantaria. Formaram-se à volta de cento e sessenta por ano. 

Em cerca de catorze meses fazia-se de um estudante universitário, quase sempre, em estádio avançado de licenciatura ou já licenciado, um Capitão combatente para actuar nos teatros de guerra mais exigentes de Angola, da Guiné e de Moçambique. O modo de selecção destas novas elites pelejadoras, e a formação apressada a que foram sujeitas, deram ensejo a que alguns as apelidassem, desdenhosamente, de “Capitães de proveta” ou “de “aviário”. Aplica-se, neste contexto, em alternativa, a expressão Capitães do Fim. 

Como foram seleccionados, formados e que desempenhos e protagonismos tiveram estes Capitães, nos teatros de Angola, da Guiné e de Moçambique, no comando de Companhias em quadrícula ou independentes de intervenção? A resposta tem enquadramento na sociologia e na história, ainda que de especificidade militar, em coerente continuum de procedimentos metodológicos qualitativos e quantitativos. Com recurso a autobiografias e a histórias de vida de guerra de muitos dos actores-Capitães ainda vivos, valorando-se dessa forma o tecido da participação-acção, entrecruzando os fios de vida das pessoas com aquilo que foi o seu terreno, o irrepetível e o individual, e contribuindo para a construção de conhecimento, procura trazer-se luz a um assunto que, no tempo, vai certamente, com reinterpretações, ter continuidade de investigação.

********************

Sobre o autor:

- António Inácio Correia Nogueira é licenciado em Ciências Físico-Químicas e professor do Ensino Secundário
- Em 1971 foi para o CTIG para integrar a CCAÇ 16 como Alferes Miliciano
- Em 1972 seguiu, como Capitão Miliciano, para a Região Militar de Angola como Comandante da CCAV 3487 / BCAV 3871, de onde regressou em 1974.

____________

Notas do editor:

Vd. poste de 24 DE AGOSTO DE 2020 > Guiné 61/74 - P21289: Notas de leitura (1299): “Capitães do Fim… Uma radiografia estatística”, por António Inácio Correia Nogueira; Chiado Editora, 2017 (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 22 DE FEVEREIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25200: O nosso livro de visitas (220): Leitora Marie, filha do nosso camarada Joaquim Pires Lopes da CCAÇ 312, Moçambique, 1962/64, procura documentos e fotos da unidade de seu pai

Guiné 61/74 - P25246: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (33): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: Louvor concedido à COMPANHIA



"A MINHA IDA À GUERRA"

33 - HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721:

LOUVOR CONCEDIDO À COMPANHIA


João Moreira


(continua)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 29 DE FEVEREIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25227: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (32): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: Capítulo II - Actividades no TO da Guiné - Janeiro e Fevereiro de 1972

Guiné 61/74 - P25245: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Bettencourt Rodrigues, Governador e Com-chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte IX: O adeus a Aldeia Formosa, onde também tinha um sobrinho, madeirense [Fernando Costa (1951-2018), ex-fur mil trms, e músico, CCS/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, março de 1973/ setembro de 1974)]


Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > s/d [ 23 de abril de  1974, segundo o António Murta] > BCAC 4513 > A última visita do Com-Chefe e Governador Geral Bettencourt Rodrigues (de costas, de camuflado, à direita, recebendo honras militares)


Guiné > Região de Quínara > Região de Tomabali >  Porta de armas do aquartelamento ao tempo do  Comando, CCS e 1ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (março de 1973/ setembro de 74)... As outras suas unidades orgânicas estiveram em Buba (a 1ª CCAÇ) e em Nhala (2ª CCAÇ)...

Fotos (e legendagem): © Fernando Costa (2009).Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem do Fernando Costa (1951-2018), ex-fur mil trms, CCS/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Março de 1973/Setembro de 1974) (*), membro da nossa Tabanca Grabde desde 25/10/2009 (*):

Caros amigos,

Volto ao vosso contacto para enviar uma foto onde aparece o Cmdt das Forças Armadas da Guiné, General Bettencourt Rodrigues, naquela que foi a última visita a Aldeia Formosa. 

Os militares que estão a fazer a guarda de honra, são do BCaç 4513. Esta foto, se assim o entenderem, pode ser incluída com as que se encontram no poste P5160 (*).

Um forte abraço, ex-furriel mil Fernando Costa


2. Comentário do editor LG:

Lembro-me de ter falado com o Fernando Costa na noite de 1/11/2009 (**). Foi ele que me ligou. Portanto, já fez 14 anos... E há cinco ou seis anos que ele morreu!...

Já que aqui escrevi que tivemos  então uma longa conversa ao telefone. Ele era (foi a impressão com que fiquei)  um homem das Arábias, e acabava de ingressar na Tabanca Grande

Para além de chefe das transmissões em Aldeia Formosa (na ausência do alferes da CCS que ficara no em Bissau, a tomar conta das antenas das telecomunicações...), foi um homem dos sete ofícios... E sobretudo foi músico, chegou a acompanhar a Cilinha, que tinha a mania que sabia cantar o fado, nas visitas aos quartéis do sul... 

Ainda apanhou o gen Spínola, duas vezes, de visita a Aldeia Formosa.  Numa delas o Com-Chefe terá vimdo expressamente para dar uma porrada num 1.º cabo de uma das companhias do Batalhão... Com o pessoal formado e alinhado na parada, rapou de um papel e chamou o cabo. Quando este compareceu perante o velho general, arrancou-lhe as divisas e deu-lhe dois pares de estalos...

O seu sucessor, o gen Bettencourt Rodrigues, terá ido lá, uma única vez (não nos finais  de 1973 ou princípios de 1974, mas sim em 23 de abril, segundo o António Murta)... Tinha lá um sobrinho, madeirense. (***)
 ____________

Notas do editor:


(**) 2 de novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5193: Memória dos lugares (50): Aldeia Formosa, BCAÇ 4513: A última visita do Gen Bettencourt Rodrigues (Fernando Costa)

quarta-feira, 6 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25244: Historiografia da presença portuguesa em África (412): A Guiné numa publicação do Rio de Janeiro, estávamos na década de 1930 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 31 de Agosto de 2023:

Queridos amigos,
É sempre um prazer voltar à biblioteca da Sociedade de Geografia e ter uma surpresa à minha espera. Agora que estou a organizar "Guiné, Bilhete de Identidade" e precisava de um texto do historiador Joaquim Barradas de Carvalho sobre a Crónica dos Feitos da Guiné de Zurara, foi-me sugerido a leitura de toda esta revista, vale a pena meditar sobre o poucochinho que é dedicado à Guiné, dizem-se coisas assombrosas sobre as estradas, mas seguramente que de boa fé o funcionário António Pereira Cardoso, que escreveu para o governador em Bolama relatórios anuais que um dia virão a ser indispensáveis para o estudo da economia da colónia, exaltou os quilómetros de estradas como atrativo para possíveis investidores, estamos já numa década em que Bolama definha. Não volto aqui a falar sobre a história destes boletins, os pressupostos básicos para a sua criação, foram anteriormente referidos, o aspeto que me parece mais curioso é a atração que o Brasil já sentia há um século por este berçário africano; não menos curioso é a referência à presença da navegação holandesa e alemã e verificarmos que a CUF de Alfredo da Silva ainda não chegou com as suas linhas de navegação.

Um abraço do
Mário



A Guiné numa publicação do Rio de Janeiro, estávamos na década de 1930

Mário Beja Santos

Já aqui se falou do boletim da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro e como este deu lugar ao boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro. No início da publicação, em 1931, os governos de Lisboa e Rio aplaudiram a iniciativa, mas com o passar do tempo o Estado Novo ficou furioso com as colaborações, republicanos oposicionistas apareciam em força, zangaram-se as comadres. Confesso a satisfação que tive com algumas destas imagens, certo e seguro a redação do boletim brasileiro tinha acesso a muita informação oriunda de Portugal. E a prova está em dois textos que aqui vou referir. O primeiro está assinado por António Pereira Cardoso, era funcionário da administração em Bolama, encontrei nos reservados da biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa alguns relatórios assinados pelo seu punho, referentes a este período; ele era sócio correspondente da Sociedade Luso-Africana e escreveu um artigo intitulado “A Guiné Portuguesa, a sua situação económica, o seu estado financeiro e as suas possibilidades, presentes e futuras”, traz a data de 24 de janeiro de 1933, o seu teor é o seguinte:

“A Guiné, cujo nome certamente pela sua semelhança homográfica com a Guiána, causa ainda hoje nos espíritos timoratos, calafrios e tétricas visões: é, de todos os nossos territórios ultramarinos aquele que menos acarinhado tem sido pelo Poder Central. Dentro dos 36.125 quilómetros da sua área, no entanto, acolhe-se uma população de cerca de meio milhão de habitantes, constituída por dezassete raças e sub-raças que fizeram da Guiné, em tempos idos, o inesgotável celeiro de todos os negreiros europeus e de quem hoje descendem, tanto o preto do Brasil como o negro americano.
Pela sua constituição geológica, pelas facilidades de transporte e deslocação interterritorial, e pela sua relativa vizinhança com a metrópole, a Guiné Portuguesa anima e fortalece todas as iniciativas de caráter agrícola e pecuário, e sua respetiva industrialização.

Afora as ilhas que formam o arquipélago dos Bijagós, pertence também ao domínio português a ilha de Cateraque, situada ao sul, próxima à Ponta Cajete, que os franceses nossos vizinhos, certamente por engano, há anos vêm ocupando, até ao dia em que uma, inexplicavelmente arrastada, retificação de fronteiras, consiga reivindicar para nós, a sua posse definitiva.

Ocupa a nossa Guiné, em extensão, o terceiro lugar no nosso império colonial. Semelhante a um corpo humano sulcado de veias, os seus rios entretecem na extensa planura do seu solo ubérrimo e forte, uma complicada teia, de fácil acesso aos barcos de grande cabotagem, e o Atlântico, nas suas costas, constantemente borda, com os bilros das suas marés, a infindável renda dos múltiplos esteiros e braços de mar, que a penetram até muito distante do litoral e que Duarte Pacheco Pereira, há cinco séculos já estudou e percorreu.

Com uma riqueza pecuária avaliada em cerca 306 mil cabeças (das quais só as de gado vacum se pode computar em 80 mil), é incentivo bastante para um ensaio de concorrência, atinente à conquista do mercado metropolitano, com qualquer empresa que se queira habilitar à exploração desta indústria. Colónia essencialmente agrícola, os seus 2.800 quilómetros de ótimas estradas, são, juntamente com o grande número de vias fluviais, meios que bastam à drenagem dos 25 milhões de quilos de amendoim; 12 milhões de quilos de amêndoa de palma (coconote); 550 mil quilos de óleo de palma; 670 mil quilos de arroz; 16 mil quilos de borracha; 90 mil quilos de cera; 170 mil quilos de couros de bovinos e 500 mil quilos de outros produtos que, no valor de 30 milhões de escudos são exportados anualmente para Portugal, Alemanha, EUA, França e colónias, Inglaterra e colónias, Holanda e colónias portuguesas.

Todos estes números, porém, podem, no entanto, ser rapidamente excedidos e até duplicados, desde que às sociedades existentes, ou a estabelecer, o Estado conceda não só as facilidades necessárias, mas também o auxílio pecuniário indispensável. Com um orçamento rigidamente equilibrado, as receitas da Guiné atingem a apreciável verba de 22 mil contos, acusando a sua balança comercial números significativos na importação e exportação.

Campo aberto a todo o género de culturas, nela se desenvolvem, presentemente, entre outras, a cana sacarina, o algodão, o café, o cacau, o milho, a mandioca, o feijão, etc., etc. Eis aqui em largos traços o que é e o que vale a nossa colónia da Guiné, de extensas planícies e ricas florestas, da qual, desde 1755 a 1777 foi concessionada à Companhia do Grão-Pará e Maranhão e que a figura prestigiosa e heroica do major Teixeira Pinto, em 1915, radicou de vez à nossa burocracia, castigando em combates sucessivos a intolerável rebeldia dos indígenas mancanhas, manjacos, oíncas, balantas e papéis, facilitando a ordem económica e do fomento dos governadores que se sucederam até à data.”


Outro texto que me parece de grande interesse é uma notícia intitulada “Breve resenha da aparelhagem económica da Guiné Portuguesa”, vamos ao seu conteúdo:
“Não há, nesta nossa pequena, mas riquíssima província africana, caminhos de ferro, o que facilmente se explica pelo facto das comunicações e dos transportes se realizarem através das suas magníficas e eficientíssimas redes de cursos de água (rios e canais) e de estradas de rodagem, as quais ligam entre si os centros de produção e de comércio.

A extensão das estradas na Guiné Portuguesa é de 2.809 quilómetros, e para darmos uma ideia sintética e clara do que isto representa como expressão de progresso, diremos apenas que a média em metros de estrada por quilómetros é de 78, enquanto na África Ocidental Francesa é tão somente de 7,15!

Possui também a Guiné Portuguesa uma rede de 685 quilómetros de linhas telegráficas, em contacto com treze estações, além de três de TSF e duas de cabos submarinos, sem contarmos uma linha telegráfica que serve diretamente para as comunicações com a África Ocidental Francesa. O seu porto mais importante é o de Bissau.

Os navios nacionais das Companhias Colonial e Nacional de Navegação visitam mensalmente os portos de Bissau e Bolama, onde também vão com regularidade os barcos da Holland West – Afrika Linie, da Woerman Linie, da Deutsche Ost-Afrika Linie, da Hamburg – Linie e a da Hamburg – Bremen Afrika Linie, assim como os cargueiros da Sociedade Geral de Indústrias e Transportes.”


Pretendeu-se dar ao leitor a apreciação do que era o noticiário reportado aos interesses luso-brasileiros, a Guiné estava praticamente omissa desta publicação, a informação superlotada era, como é óbvio, referente a Angola e Moçambique.


É obrigatório ficar intrigado com este brasão da Guiné, é quanto muito um elemento retirado da bandeira nacional, fica-se espantado como estes publicistas cariocas publicaram tranquilamente as cinco quinas dizendo que se trata do brasão da Guiné. São coisas…
O icónico edifício do município de Bolama, hoje em completa ruína, imagem que acompanhava um texto sobre a I Exposição Colonial Portuguesa que decorreu no Porto em 1934
Imagem porventura tirada por Domingos Alvão mostrando-nos aldeia lacustre que atraiu multidões ao Porto, em 1934, no recinto da I Exposição Colonial Portuguesa
O Marquês de Ávila e de Bolama na capa da revista "O Ocidente", de 20 de março de 1907
Um dos aspetos mais gratificantes de andar a folhear publicações em bibliotecas especializadas é encontrar esta imagem que só era possível ser publicada no Brasil naquela época em que Portugal tudo o que aqui se mostra e escreve era totalmente impensável ser dado à estampa
____________

Nota do editor

Último poste da série de 28 DE FEVEREIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25223: Historiografia da presença portuguesa em África (411): A primeira exposição colonial portuguesa contada numa revista do Rio de Janeiro (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P25243: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Anexos: V. Listagem das principais atividades nos Gr Cmds "Fantasmas" e "Centuriões" e ainda na 1ª CCmds Africanos


Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional da Tabanca Grande >
20 de Junho de 2009... O Virgínio Briote e o Amadu Djaló. 

Foto: Arquivo do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010)


 

Capa do livro "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, il., edição esgotada) 




O autor, em Bafatá, sua terra natal, por volta de meados de 1966.
(Foto reproduzida no livro, na pág. 149)



1. Ainda com base no manuscrito, digitalizado, do livro do Amadu Bailo Djaló, "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, il., edição esgotada) (*), vamos publicar alguns "Anexos" (pp. 287-299).


Segue-se   a lista das operações dos Grupos de Comandos "Fantasmas" (out64 / maio 65) e "Centuriões" (set 65 - abr 66) a que o Amadu Djaló pertenceu, bem como as atividades da 1ª CCmds Africanos, desde jun 70 a set 73)... 

Posteriormente , o Amadu Djaló foi transferido para a CCAÇ 21 (até à sua extinção em agosto de 73, mas da qual não há história da unidade nem listagem das suas actividades operacionais) (pp. 297/299).

Anexos

V.  Operações dos Gr Cmds "Fantasmas" e "Centuriões" bem da 1ª CCmds Africanos


(i) Operações do Grupo de Comandos “Fantasmas”



- 24Out64: Cufar Nalu;

- 28Out64: Cufar Nalu;

- 25Out/04Nov64: Op “Confiança”, Oio, reabertura itinerário Mansabá-Farim, com Grupos Comandos “Camaleões” e “Panteras”;

- 03Nov64, golpe de mão acampamento Madina Mandinga;

- 11Nov64: operação “Vai à toca”, Gundagué Beafada, tabanca Darsalame Baio;

- 27Nov64: Guilege de Madina do Boé, estrada Madina do Boé-Contabane-Aldeia Formosa, levantamento mina a/c;

- 28Nov64: Gobige, deslocação auto, deflagração mina a/c;

- 09/10Dez64: nomadização, Talicó, Oio;

- 16/17Dez64: batida, Santambato>Maqué;

- 23/24Jan65: op “Campo”, mata de Cufar Nalu;

- 23/24Jan65: op “Alicate I”, cruzamento Cufar>Bedanda;

- 30/31Jan65: op “Raposa”, Cachil, mata Cassacá;

- 03/04Fev65: op “Alicate II”, mata de Cufar Nalu;

- 06/07Fev65: op “Ursa”, Cufar, mata de Cufar Nalu;

- 10/11Fev65: op “Alicate III”, Cufar, mata de Cufar Nalu;

- 11Mar65: Mansoa, Benifo-Sinre, golpe de mão;

- 21/22Mar65: Cambaju, golpe de mão;

- 22Mar65: Bissorã Iarom, Rua, Moia Fará, golpe de mão;

- 26Mar65: op “Ebro”, Canjambari;

- 31Mar65: Canjambari Cunacó, golpe de mão;

- 11/12Abr65: op “Faena”, Buba, Antuane-Banta-el Silá;

- 20/21Abr65: op “Açor”, Fulacunda, Incassol, tabanca Portugal;

- 06/07Mai65: op “Ciao”, Catunco, Cameconde.


(ii) Operações do Grupo de Comandos “Centuriões”




- 09/10Set65: op “Jagudi”, Mansabá Cai;

- 14Set65: op “Centopeia”, Iracunda. Operação conjunta com Grs Cmds “Apaches”, Diabólicos” e “Vampiros”;

- 25Out65: op “Vendaval”, Jolmete Bugula-Catafe;

- 11Nov65: op “Estoque”, Mansoa, Cutia;

- 11Dez65: op “Milésimo”, Guidage, Samoge;

- 15Dez: op “Trajectória”, Jambacunda, Mampatás (Casemansa);

- 14/15Fev66: op “Cobaia”;

- 22/23Fev66: op “Cleópatra”, Catunco;

- 06Mar66: op “Hermínia”, Jabadá Beafada, Galecunde. Operação com Gr Cmds “Diabólicos” (15H cada);

- 28/29Mar66: op “Vamp”, Faquina Mandinga, Cuntima. Operação com Gr Cmds “Diabólicos” (15H cada);

- 07/09Abr66: op “Zenaida”, Sitató. Operação com Gr Cmds “Apaches” (15H cada);

- 24/25Abr66: op “Virgínia”, Cuntima, Canja – Sinchã Mamadu. Operação com 15H Gr Cmds “Vampiros”.


(iii) Actividades da 1ª Companhia de Comandos Africanos

- 21Jun/15Jul70: reforço ao COT1, Bajocunda;

- 30Out/7Nov70: Enxalé;

- 10/25Nov70: Op. “Mar Verde”, Conakry;

- Dez (fins) /Jan71 (fins), reforço temporário das guarnições de Gandembel e Guileje;

- Fev71/16Abr71, Nova Sintra, Brandão, Jabadá, Bissássema;

- 24Abr/finsJul71, 1ª fase instrução 2ªCCmds, Fá Mandinga;

- Fins Jul./meados Agosto71, Bolama, descanso;

- 28Ago/23Set71, 2ª fase instrução 2ª CCmds, Sancorlá, Cossarandim, Ponta Varela;

- 10/11Set71, 2ª fase instrução 2ª CCmds, Malafo, Enxalé;

- 06Out71, Cancodeá Beafada, operação conjunta com a 2ª CCmds;

- 18/22Out71, Choquemone, Bissum Naga, com a 2ª CCmds;

- 29Out/1Nov71, Tancroal, coma 2ª CCmds;

- 11/15Nov71, op “Satélite Dourado”, Gampará, Ganjuará, com a 2ª CCmds;

- 24/28Nov71, op “Pérola Amarela”, Gampará, Ganjuará, com a 2ª CCmds;

- 20/24Dez71, op “Safira Solitária”, Morés, Bissorã – Mansabá, com a 2ª CCmds;

- 07/12Fev72, op “Juventude II”), Morés, Sinchã – Inchula, com a 2ª CCmds;

- 28Mar/08Abr72, Salancaur, Unal, Guileje do Boé, com a 2ª CCmds;

- 28Abr/01Mai72, op “Joeirada”, Churo, Caboiana, com a 2ª CCmds e 35ª CCmds (?);

- 30Mai/03Jun72, Mansabá, Gussará – Tambicó, com a 2ª CCmds;

- 26/28Jun72, Caboiana, Churo, com a 2ª CCmds;

- 19/21Dez72, Churo, Caboiana, com a 2ª CCmds e 38ª CCmds (?);

- 15/19Jan73, op “Falcão Dourado”, Cantanhez, com o BCmds da Guiné;

- 25/27Jan73, op “Topázio Cantante”, Morés, com o BCmds;

- 13/16Fev73, op “Esmeralda Negra”, Porto Gole, Changalana – Sará, com o BCmds e 38ª CCmds;

- 27Fev/01Mar73, op “Titânica”, Mansoa, Morés – Cubonge, com o BCmds;

- 21/23Mar73, op “Canguru Indisposto”, Cantanhez, com o BCmds;

- 18/21Mai73, op “Ametista Real”, Guidaje, Cumbamori (Casamansa), com o BCmds;

- 21/24Jul73, op “Malaquite Utópica”, Caboiana, Belenguerez, com o BCmds e 38ª CCmds;

- 24/27Set73, op “Gema Opalina”, Bachile, Caboiana, com a 3ª CCmds;


(Revisão / fixação de texto: LG)
__________

Guiné 61/74 - P25242: Notas de leitura (1673): Recordando o Augusto Cid (Horta, 1941 - Lisboa, 2019) e o humor na guerra (Virgínio Briote)


 





Cartoons da guerra... Do álbum 
Que se passa na frente?!!, com a devida vénia...

1. Mensagem do nosso coeditor jubilado, Virgínio Briote:

Data - 4 de fevereiro de 2024, 21: 58

Assunto - Recordando o Cid e o humor na Guerra

Augusto Cid nasceu na Horta, em 1941 e morreu em Lisboa em 14 de março de 2019. Publicou os livros.
Dois anos antes de morrer, em entrevista ao Jornal I, Augusto Cid, que foi antigo combatente em Angola, não deixou de desenhar.

“Curiosamente eu fazia a minha guerra – não a guerra que eles queriam que eu fizesse. Cumpria a minha obrigação, julgo eu, mas depois quando chegava ao destacamento rapava dos meus lápis de cores e das minhas aguarelas e fazia um cartoon sobre aquilo. Quando vi que havia umas páginas de cartoons numa revista militar pensei: ‘Posso trabalhar com eles’. Curiosamente não era mal pago. Davam-me 150 paus por cartoon, que era dinheiro. E faziam concursos em que o prémio era 500 escudos e eu ganhava quase sempre, portanto ganhava mais nos desenhos que fazia do que como furriel”, recordou.

"A guerra é uma boa escola da vida. Só tem um pormenor: é que se pode morrer com facilidade durante o ensinamento. Tirando isso, é uma belíssima escola”, disse ainda.

Anexo alguns "bonecos" do Cid,  extraídos do livro "Que se Passa na Frente" (com a devida vénia...)

Abraço do V. Briote

_______________

terça-feira, 5 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25241: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Bettencourt Rodrigues, Governador e Com-chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte VIII: Um adeus a Nova Sintra (texto e fotos de Ramiro Figueira, alf mil op esp, 2ª C/BART 6520/72, Nova Sintra, 1972/74)


Foto nº 1 > Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > 3ª C/BART 6520/72 (1972/74 ) > c. jan/fev 1974 > Chegada do helicóptero com o general Bettencourt Rodrigues


 Foto nº 2 > Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > 3ª C/BART 6520/72 (1972/74 ) > c. jan/fev 1974 >  Transporte no Unimog, com o General ao lado do condutor; e eu,  de costas, a falar com o condutor.


Foto nº 3 > Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > 3ª C/BART 6520/72 (1972/74 ) > c. jan/fev 1974 > - Visita ao quartel. De costas, o mais alto, o capitão Machado. 3º comandante que tivemos ao longo da comissão; à sua esquerda,  um coronel ajudante de campo do General, creio que o coronel Monteny.


Foto nº 4 > Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > 3ª C/BART 6520/72 (1972/74 ) > c. jan/fev 1974 > Fotografia 4 – Visita ao meu grupo de combate, novamente de costas o capitão Machado.



Foto nº 5 > Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > 3ª C/BART 6520/72 (1972/74 ) > c. jan/fev 1974 > Localização de Nova Sintra no sector de Tite, região de Quínara. No mapa é referido Gatongó, que era a denominação da tabanca que lá existia antes e que foi destruída pelos bombardeamentos da FA, tendo sido construído na mesma localização o aquartelamento.





Foto nº 6, 6A e 6B  > Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > 3ª C/BART 6520/72 (1972/74 ) > c. jan/fev 1974 > Vista aérea de Nova Sintra


Fotos (e legendas): © Ramiro Figueira  (2024) . Todos os direitos reservados (Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)


 



O nosso camarada Ramiro Alves de Carvalho Figueira, médico na situação de reforma:  foi alf mil  Op Especiais, 2.ª CART/BART 6520/72 (Nova Sintra, 1972/74); faz parte da Tabanca Grande desde 23 de junho de 2022, sendo o membro nº 863.


1. Mensagem do Ramiro Figueira, com data de hoje, 5 do corrente, 13:05


Assunto - General Bettencourt Rodrigues em Nova Sintra

Boa tarde

Na minha visita, práticamente diária, ao blog encontrei fotografias de Fulacunda, do meu bom amigo Jorge Pinto, alferes da 3ª Companhia do BART 6520/72 que estava justamente em Fulacunda (*) e lá esteve o mesmo tempo que nós, do mesmo batalhão, mas nós em Nova Sintra.

Por volta dessa mesma altura (Jan/Fevereiro de 74), o general foi a Nova Sintra que, como referi em anteriores posts, se situava numa ponta Sul da região de Quínara, sector de Tite, perto de S. João e distante de Fulacunda.


Não era um aquartelamento como Fulacunda onde havia população de uma razoável tabanca. Nova Sintra resumia-se a um quadrado de cerca de 100m x 100m com uma microscópica tabanca que era suposto fazer segurança a Bissássema e, de certo modo, a Bissau.


Por volta da mesma altura em que o general esteve em Fulacunda deslocou-se a Nova Sintra (suponho que na mesma visita) . Do que me recordo dessa visita, chegou de helicóptero, “arengou” à tropa, deu uma volta ao quartel e foi-se embora.


Apesar de ter sido uma visita-relâmpago deixo o registo para as memórias do blog que, não sendo um colaborador assíduo, visito regularmente.

Um abraço, Ramiro Fuigueira


2. Comentário do editor LG:

O gen Bettencourt Rodrigues, no início do seu mandato, tinha pelo menos 225 guarnições para conhecer e visitar... Não deve tê-lo conseguido, uma vez que terminou, abruptamente, a sua comissão em 26 de abril de 1974. Mas sabemos que visitou, pelo menos, Fulacunda (*) e agora Nova Sintra, que pertencia ao mesmo setor (Tite) e ao mesmo batalhão (BART 6520/72).

Defendia, tal c0mo o CEMGFA, gen Costa Gomes (depois de visita ao CTIG ainda no final do mandato do gen Spínola), a retração do dispositivo militar (para um número próximo dos 80 e ta). O que era essa alteração ? Em 1998, em entrevista à investigadora Maria Manuela Cruzeiro, do Centro de Documentação 25 de Abril,o então marechal explicou: 

"Significava a retirada  de todas as forças colocadas nas fronteiras para um espaço onde não fôssemos vítimas dos morteiros de 120  (uma arma terrível que eles utilizavam com muita facilidade) e pudéssemos perseguir os guerrilheiros do PAIGC. 

"Na altura, com o dispositivo utilizado, as forças  no interior estavam muito enfraquecidas, porque demasiado concentras nas fronteiras. E, a meu  ver,  com enorme desvantagem, já que não há nada pior  do que combater para a retaguarda. 

"Por variadíssimas razões,  sobretudo morais,  as tropas são capazes de atos heróicos quando perseguem o inimigo na direção que elas consideram lógica, ou, seja, do inetrior para a fronteira. 

"A operação 'Mar Verde' foi um desastre e a 'invasão' do Senegal pelos comandos foi outro. Melhor: ainda que,  taticamente, a operação levada a efeito no Senegal tenha registado algum sucesso, a questão fundamental centrou-se nas Nações Unidas, onde fomos ameaçados de sanções graves se voltássemos a violar as fronteiras dos países limítrofes. 

"De facto, a extensão da fronteira terrestre (enorme para o tamanho da Guiné) desmoralizava as tropas e dava uma vatagem fantástica ao inimigo; é que ele atacava-nos quando queria; tinha a inicativa das operações, e nós não podíamos ripostar a não ser com armas de fogo, ou seja, sem liberdade de movimentos".

(Fonte: "Costa Gomes, o último marechal: entrevista de Maria Manuela Cruzeiro"- Lisboa, Editorial Notícias, 1998, pág. 159).

(Revisão / fixação de texto, itálicos: LG)

Guiné 61/74 - P25440: S(C)em Comentários (29): como foi possível a tragédia de Gamol, Fulacunda, na sequência da Op Lenda, em 7 de outubro de 1965 ?!... (Joaquim Luís Fernandes, ex-alf mil, CCAÇ 3461 / BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973/74)

1. Comentário ao poste P25234 (*), com assinatura de Joaquim Luís Fernandes, ex-alf mil at inf, CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973/74:


Não conhecia esta história e confesso que fiquei sensibilizado com a sua narrativa. A minha primeira reação foi de incredibilidade. Como teria sido possível? Duas companhias sofrerem uma emboscada de armas ligeiras, a que pelos vistos não reagem, e sem baixas, nem mortos nem feridos, fogem para o quartel em debandada.

Não consigo descortinar uma razão para este procedimento. Qual terá sido a causa? A zona era assim tão perigosa, com o IN a dominar toda aquela região, com uma área de 15 por 15 Km, confinada pela foz de 2 rios navegáveis?

Depois fico angustiado: Como me sentiria eu, se tivesse sido um dos que regressaram a Fulacunda, sabendo que não regressaram ao quartel seis  camaradas? Quais os sentimentos dos Comandos dessas unidades que,  não os procurando de imediato, organizam uma busca no dia seguinte,  e que,  não os conseguindo encontrar nessa operação, desistem de os procurar? Que sentido faz, organizarem uma busca 10 dias depois?

E tudo isto se passou relativamente próximo de Bissau, do QG.

Se as tropas sitiadas em Fulacunda, não estavam capacitadas (?) para conhecerem e controlarem a região onde se inseriam, não havia outras forças à disposição do Com-Chefe, para atuarem de imediato, por terra, pelos rios e pelo ar, para detetarem os seis militares perdidos e acossados pelos guerrilheiros ?

Eu nada conheço do que se passava naquela região a esse tempo! Era uma região sob o domínio da guerrilha? Mas seria assim tão difícil libertar essa região do seu domínio?

O que mais me choca, é reconhecer como os soldados e os milicianos que alinhavam no mato, eram tratados, como carne para canhão,(salvo raras exceções) pelos seus superiores, oficiais, militares profissionais, oriundos da Academia Militar, que raramente saiam da sua área de conforto, o reduto do quartel, bem protegido com abrigos e cercas de arame farpado e torre de vigia com sentinelas.

Este episódio narrado, destes seis camaradas abandonados nas matas, perseguidos pela guerrilha e à mercê da sorte, para mim é chocante. Evidencia a desumanidade de alguns Comandantes, indignos da farda que envergavam e dos galões que ostentavam, para quem a vida dos seus subordinados pouco ou nenhum valor tinha. Era esta a perceção que tinha de alguns militares profissionais que conheci, que ainda me tornavam mais anti-militarista.

Resta-me acrescentar que esta minha sensibilidade exacerbada, perante este caso narrado, se deve a sentir que algumas das "operações" que me foram ordenadas, eu e aqueles que me acompanhavam, fomos usados como carne para canhão, na cruel perspetiva de nos provocar baixas, com que o sinistro oficial de operações, em final de comissão, agregaria ao seu miserável palmarés.  (**)

Atentamente
JLFernandes


2. Breve CV do nosso camarada, que integra a Tabanca Grande, membro nº 621,  desde 29/12/2013:

(i) Joaquim Luís Fernandes, natural e residente em Maceira, concelho de Leiria;

(ii) Assentou praça (recruta) em janeiro de 1972 no RI 5 nas Caldas da Rainha com o número 06067572;

(iii) No 2º trimestre esteve em Mafra na EPI e fez o COM como cadete de infantaria;

(iv) No 3º trimestre voltou ao RI 5 como aspirante a oficial miliciano e foi instrutor, dando aí uma recruta;

(v) Foi mobilizado em setembro ou outubro de 1972, mas só em 20 janeiro de 1973 teve voo para a Guiné, depois de longo adiamento que o deixou solto e sem quartel durante 3 meses;

(vi) Apresentou-se no QG em Bissau como alf mil inf em 20 janeiro de 1973 (data da morte de Amílcar Cabral) ficando (no famoso Biafra) a aguardar coluna de transporte para Teixeira Pinto onde iria ser integrado na CCaç 3461/ BCaç 3863 comandada pelo cap Mil Gouveia;

(vii) Em Teixeira Pinto substituiu, em rendição individual, o alf mil Marques, que tinha sido evacuado para a Metrópole; comandou um pelotão (grupo de combate "Os Americanos");

(viii) Teve como principais missões, a escolta de colunas e o patrulhamento de segurança e de reconhecimento ofensivo;

(ix) No fatídico dia 1 de fevereiro de 1973, domingo, fez o seu primeiro serviço de oficial dia e o seu grupo estava de piquete: um trágico "batismo" para um "pira". (***);

(x) Está reformado, tendo trabalhado na indústria de moldes;


________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 4 de março de 2024 > Guiné 61/74 - P25234: 20.º aniversário do nosso blogue: Alguns dos nossos melhores postes de sempre (1): Um dos episódios mais trágicos da nossa guerra, no decurso da Op Lenda, em 7/10/1965, Gamol, Fulacunda

(***) Vd. Excerto do "Diário da Guiné, Lama, Sangue e Água Pura", do nosso camarada António Graça de Abreu, pág. 73/74: (...) Canchungo, 1 de Fevereiro de 1973 (...)
 

Guiné 61/74 - P25239: Origens do Tigre Azul: Nado e criado entre Famalicão e o Porto (Joaquim Costa, ex-fur mil, CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74) - Parte III: Um hino à camaradagem: a última viagem a casa, de três tristes tigres, antes do... "degredo"


Foto  nº 1 > Guiné > Região de Tombali > CCAV 8351 (Cumbijã, 1972/74) > O amigo José Beires, fur mil de minas e armadilhas,  a levantar mais uma mina A/C no Cumbijã, com o mesmo carinho com que tratava as Inglesas no Parque de Campismo da Prelada. Tem como ajudantes: O capitão Vasco da Gama, o alferes Abundâncio e o enfermeiro Portilho.


Foto nº 2 - Os famosos Tigres do Cumbijã (CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74) nas escadarias do Santuário no Monte de Santa Luzia em Viana do Castelo. Encontro de 2009. Na última fila o amigo Beires (no seu último encontro) conversa com a anfitriã Isabel.

Fotos (e legendas): © Joaquim Costa (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Joaquim Costa, ex-fur mil at Armas Pesadas Inf, CCAV 8351 (Cumbijã, 1972/74); membro da Tabanca Grande desde 30/1/2021; autor da série "Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74)" (de que se publicarm 28 postes, desde 3/2/2021 a 28/7/2022. Tirou o curso de engenheiro técnico, no ISEP - Instituto Superior de Engenharia do Porto. 



Capa do livro do Joaquim Costa, "Memórias de Guerra de um Tigre Azul: O Furriel Pequenina, Guiné: 1972/74". Rio Tinto, Gondomar, Lugar da Palavra Editora, 2021, 180 pp.


1. Texto enviado pelo  Joaquim Costa, em 26 de fevereiro passado, 15:52:

Olá,  amigo Luís!

Espero que tudo esteja bem contigo. Foi bom ver te todo catita no convívio do pessoal da Tabanca da Linha.

Ao que parece mais uma contrariedade com as cataratas. Sejam todos como essas,  meu amigo. Já fiz o mesmo aos dois olhos e não custou nada. Nesse dia, quando cheguei a casa todas as pessoas me pareciam mais velhas e vi sujidade e nódoas que sempre existiram mas eu não as via.

Envio-te um post que publiquei no Facebook: "Um hino à camaradagem”. Caso consideres de publicação no blogue, podes fazê-lo. Caso contrário tudo bem.

Seguindo a dica que deixaste na nota final do meu livro, vou fazer nova publicação, revista e aumentada. No fundo é o regresso à minha ideia inicial. Terá uma componente das minhas vivências de infância e juventude aumentadas e uma referência às minhas escolas.

O nosso amigo Mário Beja Santos teve a amabilidade de fazer o posfácio do mesmo. Foi já entregue à editora para revisão dos textos, contudo a sua conclusão ainda vai demorar alguns meses.

Um grande abraço do amigo que muito te estima.

Joaquim Costa



Origens do Tigre Azul: Nado e criado entre Famalicão e o Porto (Joaquim Costa, ex-fur mil, CCAV 8351, Cumbijã. 1972/74) - Parte III:  

Um hino à camaradagem: 
a última viagem a casa, de três tristes tigres

 

Por considerar um hino à camaradagem, refiro aqui a última visita a casa antes de embarcar para a Guiné.

Fiz a viagem de comboio, de Portalegre ao Porto, já com a cabeça em África que o silêncio e o ritmo do “pouca terra, pouca terra” da máquina de ferro, convidava. 

Sempre adorei, e adoro, viajar de comboio, sendo esta, porventura, a única viagem que não saboreei. Chegados a Campanhã, eu e o amigo da terra das Cristas de Galo, decidimos, atendendo ao adiantado da hora, apanhar um táxi para nos levar até aos nossos destinos, aproveitando assim todos os minutos para estar com a família. O amigo Machado até Vila Real e eu até Famalicão. 

Sim, ficava caro, mas no momento estar com a família não tinha preço. Pois, por muito esforço que fizéssemos para afastar esses maus pressentimentos, sempre nos passava pela cabeça que poderiam ser os últimos. Não nos saía da cabeça o discurso às tropas do sargento Redondeiro: “Militares, infelizmente nem todos regressarão a casa”!

A viagem ficava cara, mas no momento não era problema. Tínhamos recebido uns bons trocos pelo primeiro “ordenado” como furriéis e um subsídio para comprarmos o fardamento de guerra. Mais parecia que o carrasco nos tinha dado dinheiro para comprarmos a espada com que nos queria matar! 

Já nas despedidas, o José Beires, rapaz da cidade invicta (#), abraça emotivamente os dois e informa-nos, com toda a convicção e entusiasmo: 

– Vamos de táxi até minha casa, que eu peço o carro ao meu pai e levo-os a casa. 

Pensando ser mais uma brincadeira do Beires, tentando afastar a melancolia que reinava no grupo, não demos importância à tão inusitada oferta.

Aceitámos, contudo, de bom grado, a ideia de o acompanhar até casa e depois seguirmos, para os nossos destinos.

Chegados a sua casa, para espanto nosso, mandou logo o táxi embora e fez-nos entrar. Não acreditavamos no que estava a acontecer, tentando reter o taxista, sem sucesso dada a determinação do nosso amigo.

Estávamos os dois decididos, esperando ver  o pai do Beires para lhe  agradecer muito esta atitude altruísta do filho,  mas que seguiríamos só os dois viagem. Pensávamos nós que facilmente iria dissuadir o filho, trazendo-o à terra, mais não fosse pela arriscada viagem de regresso a casa sem companhia. 

Passado uns minutos vem o Beires, sozinho (não obstante o burburinho na sala ao lado da família reunida), e com as chaves na mão, dizendo com todo o entusiasmo, e um sorriso de menino: 

– Vamos embora! 

Uma vez que não tivemos o grato prazer (infelizmente) de conhecer o pai do Beires, nada mais podíamos fazer se não aceitar, tão altruísta oferta.

E aqui fomos nós, incrédulos com este gesto de nobreza extrema do camarada Beires, em amena cavaqueira até Famalicão. Chegados a minha casa, já de madrugada, o trabalhar do carro e o alerta do cão fadista acordou a minha mãe, que abriu a janela acabando por descer, logo seguida pelo meu pai e pelos gatos. 

Depois dos cumprimentos, preparavam-se os amigos para abalarem até Vila Real, vencendo o temido Marão, quando logo a minha mãe diz:

 – Não! Só saem daqui depois de comerem e beberem qualquer coisa. 

Logo partiu presunto, queijo e pão e se encheram três malgas de verde tinto (bons  tempos em que o verde tinto, ainda, não “afetava” a condução!(…

Para meu sossego tudo correu bem. Ficou contudo uma grande admiração por este gesto de grande nobreza deste nosso camarada. Só quem foi militar o poderá entender.

Sempre que nos encontrávamos, as primeiras palavras do Beires eram: “Malas Minho e Malhas Minho”. Duas referências que lhe dei para seguir caminho até Vila Real.

Na linda cidade de Estremoz, onde a companhia se formou, consolidou-se uma grande amizade. Na Guiné, que se nos entranhou e onde estúpida guerra enfrentámos, construiu-se uma verdadeira família. Cito, uma vez mais, o que escrevi no meu livro: "Memórias de Guerra de um Tigre Azul – O Furriel Pequenina", sobre o dia em que vimos tombar, em combate, um camarada aos nossos pés:

“Este foi também o momento de viragem, onde passamos , inexplicavelmente, a relativizar perdas, onde todos perdemos um pouco de nós (tal como eramos) e passamos a ser outros sem deixarmos de ser nós próprios. Confuso mas foi assim mesmo…

"Passamos a esquecer o dia de ontem rapidamente (em defesa da nossa saúde mental); a viver o presente intensamente (não deixando de viver a nossa juventude, mesmo naquelas condições, em convívio com um grupo de amigos que as contingências da guerra nos unia ao ponto de o sofrimento ou alegria de um ser o sofrimento e a alegria do grupo) e a não pensar muito com o amanhã (aprendemos com o tempo a não sofrer por antecipação)”.



Todos os anos (e já lá vão 50) esta família se reúne, fazendo-se acompanhar por filhos,  netos e bisnetos, contando sempre as mesmas histórias mas com a emoção como se que fosse a primeira vez. Nestes alegres e sempre emotivos encontros, de ano para ano, cada vez correm mais lágrimas que cerveja e vinho.

 Joaquim Costa

____________

Nota do autor:

(#) Menino (quase) da Foz. Porventura um dos últimos “fidalgos” do Porto, com tertúlias sempre marcadas no Orfeu (café na Boavista – Porto). Aperfeiçoou o seu Inglês no “engate” de Inglesas no Parque de Campismo da Prelada, tratando-as com o mesmo carinho como tratou as minas que levantou no Cumbijã (Guiné). Herdou o nome do seu tio-avô: José Manuel Sarmento de Beires, ´major do Exército Português (Lisboa, 4 de Setembro de 1893 – Porto, 8 de Junho de 1974), pioneiro da aviação, tendo feito o Raid aéreo Lisboa -Macau e a primeira travessia aérea noturna do Atlântico Sul.

____________

Nota do editor: