Guiné-Bissau > Região de Bolama / Bijagós > Bolama > Agosto de 2010 > Antigo Palácio de Bolama, vai cair brevemente. [Sede da antiga Câmara Municipal, onde Carlos Domingos Gomes, Cadogo Pai, foi vereador em 1957. Em Bolama, em 1949, nasceu o 1º Ministro, Carlos Gomes Jr.; aqui também viveu na infância o nosso amigo Prof Leopoldo Amado, cujo pai era chefe dos correios...].
Foto : © Patrício Ribeiro (2010). Todos os direitos reservados.
1. No dia 21 de Julho de 2011, recebemos de Maurício Wilson, aluno da Faculdade de Arquitectura e Urbanismo da Universdade Federal do Rio de Janeiro, a seguinte mensagem:
Boa tarde, senhores Carlos Vinhal, Eduardo Magalhães Ribeiro e todos Camaradas.
Sou Maurício Wilson aqui da FAU/UFRJ [
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federeal do Rio de Janeiro].
Estou a coordenar um projeto que visa a Ordenação da Paisagem na Ilha de Bolama, através do controle de ocupação e uso do solo. A proposta visa a recuperação de edifícios históricos da memória portuguesa.
Desejaria mais informações através das fotografias antigas, mapas, dados de estudos de solo para construção de porto da cidade. Caso os senhores conhecem um lugar que eu poderia encontrar esses documentos, peço que me informem por favor.
Estive em Lisboa no
Arquivo Histórico Ultramarino, mas só encontrei documentos das edificações após a criação de Gabinete do Urbanismo Colonial de 1944 a 1975. Eu desejaria também os documentos de 1879 a 1941 pelo menos, o período que a Bolama foi capital.
Obrigado e um grande abraço a todos.
mauriciowcsilva@yahoo.com.br
2. No dia 25 de Julho de 2011 recebemos uma mensagem de Moacir Ximenes, Professor de História no Brasil com o seguinte teor:
Olá companheiros de Bolama, Angola. Sou professor de História no Brasil e vi nesse blog que o Palácio cairá brevemente. Fiquei com pena, é um lindo palácio. Não tem como a comunidade fazer movimentos para restaurá-lo?
Moacir Ximenes
moacirximenes@hotmail.com
Brasil, 24 de Julho de 2011
3. Comentários de CV:
(i) Caro amigo Maurício Wilson, tem no nosso Blogue algumas fotos e publicações referentes à cidade de Bolama, cujo link para aceder é
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/Bolama
Se algum dos nossos leitores dispuser de elementos que possa fornecer para ajudar o nosso amigo na tarefa de Ordenação da Paisagem na Ilha de Bolama, podem contactá-lo directamente para o efeito.
Os ex-combatentes da Guiné, especialmente aqueles que passaram por
Bolama, congratulam-se pela iniciativa a levar a cabo pela FAU/UFRJ.
(ii) Quanto ao Prof. Moacir Ximenes, informamos que a cidade de Bolama não é em Angola, como certamente por lapso escreveu, mas sim na República da Guiné-Bissau. Consulte o mapa de Bolama
aqui.
Para complemento de informação aqui fica esta cronologia coligida pelo nosso Editor Luís Graça:
1. A Guiné Colonial: cronologia resumida
(Elementos coligidos por L.G. Em construção)
(i) No século XIII, chegam a esta região da costa ocidental de África os povos naulu e landurna, na sequência do declínio do império do Ghana.
(ii) É já no século XIV que esta zona passa a integrar o vasto império do Mali, vindo os primeiros navegadores portugueses a estabelecerem contacto com ela em 1446-47. Inicia-se então um longo processo de implantação do monopólio comercial na região, incluindo ouro e escravos, o qual vai ser, durante muito tempo, frequentemente e sobretudo contestado por corsários e traficantes franceses, holandeses e ingleses.
(iii) Em 1588 os portugueses fundam, junto à costa, em Cacheu, a primeira povoação criada de raiz, a qual será sede dos capitães-mores, nomeados pelo rei de Portugal, embora sob jurisdição de Cabo Verde; passa a vila em 1605.
(iv) Seguir-se-á a criação da localidade de Geba, bem no interior do continente.
(v) Em 1642, os portugueses fundam Farim e Ziguinchor (esta última cidade integrando hoje o território do Senegal), a partir da deslocação de habitantes de Geba, e dando início a uma ocupação das margens dos rios Casamansa, Cacheu, Geba e Buba, a qual se torna efectiva em 1700; passa então a zona a ser designada por Rios da Guiné.
(vi) Entre 1753 e 1775 inicia-se a construção da fortaleza da Amura, em Bissau (que era uma ilha), a partir do trabalho de cabo-verdianos, vindos especialmente das Ilhas de Cabo Verde para o efeito. É o nascimento da futura vila, cidade e capital de Bissau (a partir de 1942).
(vii) Em 1800 a Inglaterra começa a fazer sentir a sua influência na Guiné, iniciando a sua reivindicação pela tutela da ilha de
Bolama, arquipélago dos Bijagós, Buba e todo o litoral em frente.
(viii) Com a abolição da escravatura no século XIX (Em Portugal, em 10 de Dezembero de 1836), sobrevém uma crise económica que tem como consequência o início da produção de novas culturas, como a
mancarra (amendoim) e a borracha.
(ix) Honório Pereira Barreto, natural do Cacheu, filho de pai caboverdeano e mãe guineense, é nomeado provedor de Cacheu, por decreto de 30 de Março de 1843; em 3 de Fevereiro de 1844, domina a revolta dos Manjacos no Cacheu, com o auxílio do seu tio Francisco Carvalho Alvarenga, comandante de Ziguinchor; no mesmo ano, em 11 de Setembro, eclode a "guerra de Bissau";
(x) Honório Barreto domina a revolta dos grumetes do Cacheu, com reforços vindos de Ziguinchor; concede-lhes depois perdão, uma vez feita a paz (8 de Dezembro);
(xi) Em 1859, morre Honório Barreto na Fortaleza de São José de Bissau (Amura) (26 de Abril);
(xii) Em 1870, por arbitragem do presidente dos EUA, Ulysses Grant, a Inglaterra desiste das suas pretensões sobre
Bolama e zonas adjacentes (21 de Abril); ainda neste ano, é feito um acordo com s régulos nalus, estendendo a influência portugesa no sul da Guiné até à foz do Rio Tombali (24 de Novembro);
(xiii) Com a vitória militar dos felupes de Djufunco, em 1879, no que ficou a ser conhecido na história como o “desastre de Bolol”, onde os militares portugueses sofreram uma dura derrota no confronto com as populações locais, a coroa portuguesa decide a separação administrativa de Cabo Verde e a criação da “Província da Guiné Portuguesa”, com capital em
Bolama;
(xiv) Desaire militar dos fulas no ataque a Buba (1 de Fevereiro de 1881); o filho do régulo fula Alfa Iaiá reconhece o protectorado português sobre parte do Futa Djalon, por tratado de 3 de Julho desse ano;
(xv) Numa tentativa de afirmação da soberania portuguesa, verifica-se então o início de acções militares punitivas contra os papeis em Bissau e no Biombo (1882-84), os balantas em Nhacra (1882-84), os manjacos em Caió (1883) e os beafadas em Djabadá (1882).
(xii) A estratégia colonial passa igualmente por uma segunda vertente: o apoio sistemático com tropas e armamento a uma das partes dos conflitos indígenas. É o que se passa em 1881-82, com o apoio aos fulas-pretos do Forreá na sua luta com os fulas-forros.
(xiii) Os focos de contestação e a rebelião permanente e consequente dos diversos grupos étnicos fez com que o poder colonial se limitasse ao controlo de algumas praças e presídios (Bissau,
Bolama, Cacheu Farim e Geba).
(xiv) Paralelamente, começa a instalação de propriedade de colonos ou de luso-africanos, em várias explorações agrícolas de grande dimensão (
pontas) inicialmente dedicadas ao cultivo da mancarra.
(xv) Assinatura em Paris da convenção franco-portuguesa de delimitação das fronteiras da Guiné (15 de Janeiro de 1886); em 12 de Maio de 1886, são delimitadas as fronteiras entre a Guiné Portuguesa e a África Ocidental Francesa, passando a região de Casamansa para o controlo da França, por troca com a região de Quitafine (Cacine), no sul do país; em Sancorlá, no Geba, o tenente Geraldes vence os fulas-pretos comandados pelo célebre régulo Mussá Moló (23 a 30 de Setembro de 1886);
(xvi) A população desencadeia a partir do final do século XIX uma decidida vaga insurreccional no Oio (1897 e 1902), no chão dos felupes (1905), em Badora e no Cuor (1907-08); a Guerra de Bissau (1908) junta papéis e balantas do Cumeré; em 28 de Fevereiro de 1891, o Cumeré ataca fortaleza de São José de Bissau (Amura);
(xvii) O ministro Ferreira do Amaral transforma a Guiné, por decreto de 21 de Maio de 1892, num distrito militar autónomo;
(xviii) Em 10 de Maio de 1894, papéis e grumetes agridem (e fazem extorsões a) os comerciantes em Bissau; o governador Sousa Lage, com o apoio de duas canhoneiras chegadas de Lisboa, e de tropas vindas de Angola, Cabo Verde e Lisboa, conquista Intim e Bandim, chão papel;
(xix) Em 19 de Maio de 1899, o governador Álvaro Herfculano da Cunha obtém vassalagens voluntárias dos balantas e do régulo papel de Intim, reunindo-se com eles no Cumeré em Safim sem disparar um tiro, e pondo termo às campanhas contra as etnias animistas;
(xx) O capitão José Carlos Botelho Moniz parte do Cacheu contra os felupes de Varela que se recusavam a pagar imposto, atacando e destruindo a povoação, quebrando o mito de os brancos (tugas) não entrarem em território felupe e desarmando os de Djufunco e Egim (10 a 16 de Março de 1908);
(xxi) O governador Oliveira Muzanty, com reforços da Metrópole, organiza a maior expedição militar na Guiné (até 1963!), vencendo a resistência dos beafadas liderados pro Unfali Soncó no Cuor e Ganturé; restabelece as comunicações entre Bissau e Bafatá (5 a 24 de Abril de 1908); a 15 de Maio, a expedição militar regressa à Metrópole;
(xxii) Segue-se um período que vai de 1910 a 1925 de resistência à forte repressão das forças coloniais as quais lhe deram o nome de “guerra de pacificação”, embora os verdadeiros objectivos das acções militares fossem o de pretender eliminar os chefes militares africanos mais combativos, impor pela força o pagamento pelas populações de impostos à administração colonial (
o imposto de palhota), e aceder mais facilmente aos recursos económicos e humanos existentes no território.
(xxiii) Entre vitórias e derrotas das populações insubmissas, dois nomes emergem neste período: por um lado, João Teixeira Pinto, militar que já na época tinha uma longa carreira colonial e que, entre 1913 e 1915, ficou conhecido como o "capitão diabo", herói campanhas do Oio (1913-14); e por outro, Abdul Indjai, que fora auxiliar de Teixeira Pinto na sua acção em Canchungo e que se revolta acabando por ser preso em Mansabá, em 1919, deportado para Cabo Verde e mais tarde para a Madeira.
(xxiv) A campanha do Oio termina vitoriosa com a criação de um posto militar em Mansabá e a captura de um elevado número de armas (17 de Junho de 1913);
(xxv) A campanha contra os manjacos termina, depois da prisão do régulo de Bassarel; são criados os postos de Caió e Bassarel e apreendidas grandes quantidades de armas (10 de Abril de 1914);
(xxvi) A campanha contra os balantas inclui a batalha de Encheia, uma das mais ferozes da história da Guiné; instalação de um posto em Nhacra (4 de Julho de 1914);
(xxvii) Decretado o estado de sítio na ilha de Bissau início da campanha contra os papéis (13 de Maio de 1915);
(xxviii) Campanha contra os papéis e os grumetes; queda de Biombo, prisão do respectivo régulo; criação de 4 postos militares: Bor, Safim, Bijemita e Biombo; concluída a a 'pacificação' e a unificação do enclave da Guiné portuguesa, com o pedido de paz do Tor (17 de Agosto);
(xxix) Apesar do poder colonial considerar como 'pacificado' e 'dominado' o território, nos anos posteriores, muitas regiões voltaram a rebelar-se e antigos focos de resistência ressurgiram, como o caso dos bijagós, entre 1917 e 1925 e dos baiotes e felupes em 1918.
(xxx) Neste período, são implantadas uma série de medidas legislativas que irão determinar durante longos anos a gestão politico-administrativa da Guiné: (a) divisão da população residente em civilizada (assimilada) e indígena; (b) legalização da prática de recrutamento de mão de obra para trabalhos obrigatórios; (c) imposição do local de residência e limitação dos movimentos da 'população não civilizada', através de cadernetas e guias de marcha; (d) tipo de relações funcionais dos titulares administrativos com os auxiliares indígenas e autoridades gentílicas (cipaios, régulos, chefes de tabanca, etc.).
(xxxi) Em 1921, com a chegada do governador Jorge Velez Caroço, ir-se-ão implementar as primeiras medidas de longo prazo nas alianças do poder colonial com os poderes locais, em particular no quadro étnico-religioso privilegiando-se as alianças com os muçulmanos, nomeadamente fulas, em detrimento das etnias animistas;
(xxxii) Entre 1925 e 1940 prosseguiram as revoltas militares dos papéis de Bissau, dos felupes de Djufunco (1933) e Susana (1934-35) e dos bijagós da ilha de Canhabaque (1935-36), os quais se recusaram a pagar o
imposto de palhota até 1936;
(xxxiii) Este período é marcado igualmente pelo início da construção de infra-estruturas (estradas, pontes e alargamento da rede eléctrica), pelo desenvolvimento da principal cultura de exportação, a
mancarra;
(xxxiv) Data desta época a criação ou expansão de grandes empresas de capitais portugueses, como a
Estrela de Farim e a
Casa Gouveia (adquirida e desenvolvida pela CUF - Companhia União Fabril), dedicadas à comercialização da
mancarra e outras oleaginosas, bem como à distribuição de produtos em todo o território.
(xxxv) Verifica-se o surgimento de grandes
pontas (explorações agrícolas) no Rio Grande Buba, na ilha de Bissau e em Bafatá e Gabú.
(xxxvi) A organização social colonial nessa altura tem, no topo da hierarquia, (a) um pequeno núcleo de dirigentes e de quadros técnicos portugueses; a nível intermédio, (b) funcionários públicos, maioritariamente cabo-verdianos (75%). O sector comercial é dominado por (c) patrões e empregados cabo-verdianos. A nível inferior, a imensa maioria dos guineenses são (d) trabalhadores domésticos e braçais, artesãos, agricultores e assalariados agrícolas nas pontas.
(xxxvii) Em 1942 a capital muda de
Bolama para Bissau, que já então era, de facto, a “capital económica” da Guiné, e que vai conhecer um notável crescimento com o Governador Sarmento Rodrigues (1945-49);
(xxxviii) Em 1950, dos 512.255 residentes só 8320 eram considerados
civilizados (2273 brancos, 4568 mestiços, 1478 negros e 11 indianos) e, destes, 3824 eram analfabetos (541 brancos, 2311 mestiços e 772 negros).
(xxxix) Em 1959, 3525 alunos frequentavam o ensino primário, 249 o Liceu Honório Barreto (criado em 1958-59) e 1051 a Escola Industrial e Comercial de Bissau.
Bibliografia consultada:
História da Expansão Portuguesa, 4º vol. ed. lit Francisco Bettencourt e Kirti Chauduri. Lisboa, Círculo de Leitores, 1998.
História da Guiné e Cabo Verde, ed. lit. PAIGC. Paris: Unesco, 1973/74.
Nova História Militar de Portugal, 3º vol. ed. lit Manuel Themudo Barata e Nuno Severiano Teixeira. Lisboa, Círculo de Leitores, 2003.
Vd. também Portal Guiné-Bissau, criado pela AD - Acção para o Desenvolvimento
História e Dados Económicos
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 25 de Julho de 2011 >
Guiné 63/71 - P8600: Em busca de... (172): Adalberto Santos, ex-Pára-quedista do BCP 12, Guiné, 1967/72, procura camaradas