quarta-feira, 8 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11540: In Memoriam (148): Cândido Perna Tavares, o "República" (1943-2013), CART 730, Bissorã, e Grupo Vampiros, dos Comandos do CTIG, Brá, 1964/66 (João Parreira)

1. Mensagem, de 6 do corrente, do João Parreira [, foto atual à direita] 


Caros Camaradas e Amigos Editor, e co-editores, Luís Graça, Carlos Vinhal e Magalhães Ribeiro,


Durante o almoço anual do Batalhão de Artilharia 733, Guiné 1964/66, que se realizou ontem em Santiago do Cacém,  ao procurar por um camarada e amigo que pertenceu à minha secção,  na CArt 730 , e que optou por sair da Companhia para frequentar o 2º. curso de Comandos, findo o qual foi integrado no Grupo "Vampiros", foi com tristeza que tomei conhecimento do seu falecimento.

Amigos/as e camaradas que da lei da morte se foram libertando,,,

E assim, o nosso camarada Cândido Perna Tavares, nascido em 1943, mais conhecido pelo "República",  faleceu durante o sono no passado dia 3 de Janeiro. [, Foto à direita]

Um abraço 
do João Parreira

[ex-Fur Mil Op Esp, CART 730 / BART 733, Bissorã / Comando, Grupo de Comandos “Fantasmas”, Brá,  1964/66]
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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11337: In Memoriam (147): Luís Fernandes Gonçalves Moreira (1948-2013), natural de Viana do Castelo, ex-fur mil trms, CCAÇ 2789 / BCAÇ 2928 (Bula, 1970/72)

terça-feira, 7 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11539: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (12): Fima Siga, a enfermeira do Morés (Virgínio Briote, ex-alf mil comando, Brá, 1965/67)



Carta do comandante Pedro Ramos, irmão de Domingos Ramos,  para sua mulher [Fima] Siga, enfermeira do PAIGC no Morés. Documento do arquivo pessoal de Virgínio Briote. Compare-se a letra com outra, datada de 23/10/1961, dirigida a Luís Cabral, e que faz parte do Arquivo de Amílcar Cabral.

Fonte: © Virgínio Briote / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2005). Todos os direitos reservados


Guiné > Bissau > Bissalanca > BA 12 > c. 1965/66 >  O alferes miliciano comando Briote (à esquerda), na base aérea de Bissalanca, em Bissau, juntamente com o Furriel Azevedo (ao centro) e o Sargento Valente (à direita).

Foto: © Virgínio Briote (2005). Todos os direitos reservados


1. Algumas das melhores histórias publicadas
na I Série do nosso blogue têm a assinatura do Virgínio Briote (VB), ex-alferes miliciano, comando (Brá, 1965/67)... Porque muitos dos membros da Tabanca Grande chegaram mais tarde, em anos posteriores à sua colaboração mais intensa no nosso blogue (como autor e coeditor), vamos reproduzir aqui mais dois postes do VB, que relatam a guerra, "vista do outro lado". (*) Na altura, em outubro de 2005, ele mandou-me este texto com a lacónica imformação:  Das minhas memórias, uma história passada no Óio". (**).

O VB nasceu  em Cascais, foi alf mil em Cuntima, CCAV 489 / BCAV 490 (Jan-Mai1965);  fez o 2º curso de Comandos do CTIG; domandou o Grupo Diabólicos (Set 1965 / Set 1966); regressou em Jan 1967; é casado com a Maria Irene.


Ana, enfermeira do Partido
por Virgínio Briote

As cordas apertadas demais, os pulsos a inchar, amarrados atrás das costas. Tinha acabado de ser apanhado pelos tugas, ainda nem sabia como, e logo a ele é que deveria acontecer. Como comandante do PAIGC, sempre fora muito rigoroso com os 10 homens que agora estavam sob o seu comando, sempre exigira que se deslocassem separados uns dos outros, que parassem de vez em quando, escutassem a mata, os olhos a varrerem devagar, da esquerda à direita, e só depois avançar outra vez. E, afinal, fora apanhado desprevenido, sem arma, sem nada!...

Viera a semana passada dos lados de Sano, no Senegal. Muito cansado. Estivera com os camaradas do sector, os dias pelas noites fora, analisaram o trabalho do mês, cada um apresentou o seu trabalho, as emboscadas que fizeram, as minas que plantaram, os ataques aos quartéis da tropa. Fizeram um balanço da situação, leram as directivas do camarada secretário-geral, as orientações gerais para a luta, a referência expressa à luta dos povos da Guiné e Cabo Verde, para a independência nacional, para a libertação, nunca contra o povo português, juntos na mesma luta contra o colonialismo e o imperialismo, depois as orientações locais, o plano para o mês, não descansar a tropa, escrever papel para deixar junto aos quartéis deles, para desmoralizar, e a ordem para mudar, outra vez, o acampamento de Uália [, a nordeste de Mansabá].


Cartão de identificação militar do Alf Bil Comando Briote > Brá, 1965 > A assinatura parece ser a do comandante da compamnhia de comandos, o capitão de artilharia Nuno J [osé Varela] Rubim, membro da nossa Tabanca Grande de longa data.

Foto: © Virgínio Briote (2005). Todos os direitos reservados





Enquanto regressava com os camaradas, ia pensando nos locais, escolhera o melhor, bem dentro da mata, umas centenas de metros a seguir à bolanha, um barraco junto a esta para vigiar a entrada. Sacos de arroz, mancarra, tudo às costas, bicicletas, cunhetes de munições, armas, tanta coisa, casas às costas, tão pouca gente, precisaram mais que uma vez.

Tinha estado a cavar um abrigo, precisava de se lavar. Fora à bolanha para tomar banho e trazer água. Viu-se cercado por dois soldados de arma apontada, sem saber como, os tugas emboscados mesmo à porta das casas de mato, os garrafões na mão dele, que a tropa tinha deixado em Morés da última vez.

Tropa diferente esta, não era a que estava habituado a ver passar. Sem emblemas, sem anéis, sem fios que os outros tugas trazem sempre, ronco nenhum, só lenços camuflados ao pescoço, sem capacetes até, aquele tem barrete diferente, caras pintadas de preto, nunca vira tropa assim.

Pára-quedistas, se calhar! Não, não deviam ser, esses são todos altos, têm camuflado muito verde, a bota que usam é de couro, conhecera-os bem quando assentara praça no colonialismo em Bissau. A farda destes é castanha como a dos outros, uns muito altos, outros pequeninos, todos desiguais, não, estes são outros. Estranhos, quase não falam entre eles, o cano das armas deles também têm olhos, vêem por ele, para a esquerda, para a frente, para a direita, aquele está sempre a olhar para as árvores, tudo muito devagar, assim é bem difícil, camaradas, apanhá-los.

Abriram-me a boca à força, eu não sabia para quê, um lenço preto nos dentes, atado na nuca, outra vez que me levantasse, sem palavras nem maneiras, corda nos pés, uma à cintura presa ao soldado Papel. Via-os à frente, no trilho para Uália, nosso pessoal descuidado a esta hora da manhã, sem aviso, vai ser uma desgraça, tanto trabalho para nada. Todos não estão, felizmente, mandara 8 para Mansabá, uns para montar mina e os outros para segurança.

Aquelas bajudas com os cestos à cabeça vão ser apanhadas, gritai, gritai com toda a força que puderdes, mais alto, mulheres do PAIGC, glória da nossa luta, assim, para camarada ouvir! Os tugas todos a correr, o traidor Papel amarrado a mim, não deixa andar, se eu pudesse! Aquelas crianças ali também!

A enfermeira de Morés? A mulher do Paulo Ramos com a criança às costas?! Porque não fugiu? Não pode ser! Não, não lhe façam nada, ela trata do nosso pessoal da luta, faz curativos só, os tugas não me ouvem, lenço não deixa.

... Não sei, não tenho nada para dizer, meu nome é Ana, sou enfermeira, não sei nada da guerra, trato de feridos só, não pode mexer nesse papel, é carta de meu marido, ouviu? Não pode tirar bilhete de meu marido, não pode! Tenho filhinha às costas, não vê? É hora de ela mamar, largue-me!

O alferes miliciano comando Briote (à esquerda), na base aérea de Bissalanca, em Bissau, juntamente com o Furriel Azevedo (ao centro) e o Sargento Valente (à diereita). Foto de 1965 ou 1966.


2. Transcrição da carta de Pedro Ramos, comandante do PAIGC, 
irmão do Domingos Ramos, dirigida a Siga (, a Ana, enfermeira do Morés, na história do Virgínio Briote). Não tem indicação de data, mas deve ser de Maio de 1966, a avaliar pelo seu conteúdo.


"Quirida (sic) Siga:

"Junto a este bilhete desejo-te uma optima saude e a Odete. Eu por cá saudades sua[s].

"No que se trata [a]o meu regresso até agora não poço esplicar ninguém [não posso explicar a ninguém] se vou regressar em breve, porque o camarada Osvaldo [Vieira]  não disse nada na [sobre a] minha vinda, mas parecia-me que regressava logo que acabar.

"Recebi os medicamentos e a pasta. Não te enviei arroz agora porque estamos ali com faltas de camaradas devido aqueles que mandamos para Morés no dia 20/4/66 para levarem os postos de Radio.

"Espero vires passar aqui uns dias conforme carta de Nha Maria, isto é se não te dá sarilho mais tarde no teu serviço. A respeito ainda da vinda do teu pai que me encontra ausente, só te digo uma coisa. Sinto muito pena a [de] não podermos conhecer-se e falarmos principalmente a teu respeito. Cumprimentos a todos, Pedro Ramos".



3. Comentário de L.G. :

 Bom, sei hoje (mas não o sabia em 2005..:) que o Pedro Ramos fazia parte do primeiro (e histórico) contingente  de militantes do PAIGC enviados por Amílcar Cabral para a China, a fim de aí  receber treino político-militar. Regressaram à Guiné ainda em 1961.

Ao grupo pertencia, a par do Pedro Ramos, o seu irmão Domingos Ramos, o Osvaldo Vieira, o Rui Djassi, o Constantino Teixeira, o Hilário Gomes (Lolo), o Francisco Mendes (Xico Té),  o Nino Vieira e  ainda os irmãos Manuel Saturnino Costa e Vitorino Costa. Nenhum destes históricos comandantes  é já vivo. E alguns morreram cedo (por exemplo, o Vitorino Costa, em 1962; o Domingos Ramis, em 1966).  Ao que sei, o Pedro Ramos foi preso, condenado à morte e fuzilado, em 1986, na sequência do alegado golpe de Estado do Paulo Correia (em 1985) contra Nino Vieira.

Esta [Fima] Siga  era efectivamenhte uma enfermeira do PAIGC, da base do Morès, pela referência que é feita na carta à remessa de mediciamentps.   E tudo indica que fosse a companheira, na época, do Pedro Ramos.

4. Esclarecimento do V.B.:

Mais um dado ou pista fornecido pelo meu velho camarada de armas que viveu a adolescência em Bissau [, presume-se que seja o nosso camarada, comando, Mário Dias]:

"Caro Briote: Acabo de ler as suas intervenções no blogueforanada que achei excelentes. Ainda bem que, lentamente, se vai fazendo luz sobre o que verdadeiramente se passou por terras de África durante a chamada Guerra Colonial. Continue.

"Veio-me à memória, toldada por uma compreensível neblina (já lá vão mais de 40 anos), que o Pedro Ramos foi funcionário do porto de Bissau ou da Alfândega. Não sei se teria ou não fugido para o mato, para o PAIGC,  mas pelo relato da carta parece que sim" (...).






Guiné > Bissau > 1959 > Os 1ºs Cabos Milicianos Mário Dias (português, nascido na Metrópole, o primeiro, de pé, do lado direito, assinalado com um círculo a verde) e Domingos Ramos (natural da Guiné, o primeiro da frente, do lado esquerdo, assinalado a vermelho). 

O Domingos Ramos era filho de um quadro local da administração colonial portuguesa, com o estatuto de assimilado.E era irmão do Pedro Ramos.

O Domingos e o Mário (que foi para a Guiné no início dos anos 50, tendo assistido à modernização e crescimento de Bissau, capital da Província desde 1943) fizeram juntos a recruta e depois o 1º Curso de Sargentos Milicianos (CMS) que se realizou em Bissau, em 1959, e no qual participaram os os primeiros filhos da Guiné. Este curso foi um alfobre de quadros...para o PAIGC (2).

Foto: © Mário Dias / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2006). Todos os direitos reservados.

5. Fiquei com curiosidade em saber o resto da história,
 contada pelo Virgínio Briote sobre a Ana, enfermeira do Morés. Mandei-lhe um email, na altura (em 31 de outubro de 2005):

"Virgínio: Já publiquei a tua estória que voltei a adorar. Parabéns!... Fico com curiosidade em saber o que fizeram, naquele tempo, ao comandante que vocês apanharam com as calças na mão (literalmente!) e com a enfermeira que deveria ser uma mulher corajosa, uma verdadeira mulher de armas (...). Um abraço".

Publico aqui a pronta resposta que o VB  teve a amabilidade de me dar. Aqui fica ela, sem mais comentários ou, se o os tertulianos assim o quiserem, com um desafio para sabermos mais sobre o papel das mulheres que, de um lado e de outro, também participaram na guerra, de maneiras diferentes (como confidentes, madrinhas, amantes, enfermeiras, professoras, combatentes, etc.):


6. Resposta do Virgínio Briote

[, foto à esquerda, na Bélgica, em 2002]:


O Comandante teve que ser interrogado logo ali, sem as cerimónias que o cargo dele exigia. Uma vez que as informações que passou eram claramente sem importância, não houve possibilidade de proceder a qualquer exploração. De resto uns tipos, poucos, talvez três ou quatro, estavam a fazer-nos pontaria e a Siga, verdadeiro nome da Ana, resistiu quanto pôde, como só as mulheres o sabem fazer, quando querem.

No chão, mamilo na boca da bebé, era muito difícil, a qualquer um de nós gerir a situação. Por um lado, o respeito que a imagem nos merecia, por outro a consciência de que a Siga estava a fazer o que podia para que os [seus] camaradas tivessem tempo para nos preparar uma retirada como devia ser. E ela veio, à força, dois soldados a arrastá-la pelo chão, a bebé no colo de outro soldado, as chicotadas  [dos projecteis] a ouvirem-se, os gritos dela e doutras bajudas, um pandemónio.

Depois, já na estrada, recolhidos pela companhia de apoio, a Siga e o comandante foram na minha viatura. Ela ficou muito ofendida comigo, pela forma como foi tratada, sem humanidade, disse-me na cara. E que, quando chegasse a Mansoa, iria apresentar queixa contra mim. O que fez, vim eu a saber uns tempos mais tarde pela boca do major das operações do batalhão de Mansoa.

O que foi feito deles? Gostaria de saber, mas não soube mais nada. Os procedimentos que seguíamos, no caso de prisioneiros, era entregá-los à chefia do Batalhão. Nunca vim a saber o que foi ou é feito deles.

Que merda!
Um abraço, vb


PS - Luís, já depois de termos falado ao telefone [,hoje, da parte da tarde], contactei um velho camarada de armas que, muito jovem, acompanhou os pais na viagem rumo à Guiné, onde tinham vida estabelecida. Estudou em Bissau, foi colega de muitos jovens que mais tarde se envolveram na luta pela libertação. Um deles, o Domingos Ramos, foi mesmo incorporado no 1º CSM que se fez na Guiné. Ora o Domingos era irmão do Pedro. Diz-me o velho camarada que eles eram negros "assimilados", talvez da etnia papel.

A Fima Siga era uma das enfermeiras (auxiliares, penso eu) de Morés. Na altura encontrámos uma caixa com os medicamentos que eles estavam a utilizar e as informações que me foram transmitidas no trajecto do regresso levaram-me a crer que ela respondia pela enfermaria. O Comandante tratava-a com alguma reverência, apercebi-me disso.

Já depois de ter lido a nota que te enviei sobre o que tinha sido feito deles, notei que escrevi que se ouviam "chicotadas, bajudas aos gritos", etc... Ora bem, as chicotadas que se ouviam eram chicotadas de projécteis. E foram só essas que eu ouvi.

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 30 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11507: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (11): Teresa, amores e desamores em tempo de guerra (Parte II) (Virgínio Briote, ex-alf mil, comando, Brá, 1965/67)

(**) Vd. I Série do nosso blogue (que se publicou entre 23 de abril de 2004 e 1 de junho de 2006):

31 de  outubro de 2005 > Guiné 63/74: CCLIX [259]: Estórias do outro lado: Ana, a enfermeira do Morès

31 de outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLX [260]: Ana/Siga ou as mulheres do PAIGC de que nunca se fala

Guiné 63/74 - P11538: Questões politicamente (in)correctas (44): Há um provérbio fula que diz: "Quando se fala dos maus, os bons sentem-se ofendidos" (Cherno Baldé)

1  Comentário de Cherno Baldé ao poste P11459 (*)

Caro amigo Paulo Salgado,


Eu li com muita atenção a tua reacçãoà minha provocante frase sobre o comportamento sexual dos soldados portugueses durante a guerra na Guiné e no entanto, não dei conta em nenhum momento que tivesses desmentido a minha afirmação.

No meu comentario eu falei de "superioridade racial", não sei se isto quer dizer "ser racista". E esta aparente superioridade não fui eu que a inventei, encontra-se, de forma explicita ou naão, em todos os textos legislativos da antiga administração colonial e era perfeitamente normal que certos soldados fizessem uso de um estatuto que a lei lhes outorgava.

O que defendes, e nisso estamos de acordo, é que não se deve generalizar. Pois claro, ai de nós,  Guineenses,  se os casos referidos representassem a regra e não a excepção.

Há um provérbio Fula que diz que: Quando se fala dos maus, os bons sentem-se ofendidos; quando se fala dos mal comportados, os bem comportados sentem-se indignados. Foi o que aconteceu agora contigo, suponho e com muitos outros que não quiseram expor-se abertamente no blogue.

A mim me parecia evidente que o facto de ser membro, "amigo", mesmo que off-sider, como alguém já me chamou, de um bloque de antigos soldados portugueses que combateram na Guiné e o único Guineense que aqui se atreve a escrever no seu esforçado pretuguês, queria significar que não penso mal dos portugueses nem considero que todos tiveram, no passado, um comportamento indigno. E, se tiverem a paciência de revisitar os postes com textos da minha autoria, verão que tentei, no máximo, ser fiel à linha das minhas memórias de criança que passou uma boa parte da sua vida (1968/74) metida no meio dos soldados metropolitanos.

Mas, acontece que na guerra, na tropa como na vida, nem tudo é perfeito e vocês,  portugueses, não são uma excepção. Havia soldados bons, no sentido mais lato da palavra, até muito melhores que os nossos, na maioria dos casos, mas também havia um pouco de tudo, sem falarmos dos casos mais sórdidos que, naturalmente, não faltaram.

Se, de uma forma ou outra, as minhas palavras foram motivo de ofensa ou de indignação para algumas pessoas, apresento as minhas sinceras desculpas porque não foram intencionais. Não obstante, não retiro nada do que disse por corresponder, na altura, aà minha percepção pessoal e ao sentimento partilhado de toda uma comunidade à qual pertencia e que era obrigada a assistir, impávida e impotente, a muitos actos de atropelo e de abusos justificados por uma guerra que, também eles não queriam.

Felizmente, para mim, há portugueses e antigos combatentes como o amigo C. Martins que me compreendem e sabem que eu não inventei nada e que sou assim mesmo, uma pessoa que pensa com a sua cabeçaa e fala de uma forma directa, muitas vezes, para a sua própria desgraça.

Um grande abraço ao Paulo e a todos os amigos da TG.

Cherno Baldé (Chico de Fajonquito).


PS - Importa assinalar que, como sinal dos tempos, tenho constatado, com muito agrado, que a nova geração de portugueses e europeus, em geral, agora tem uma postura muito diferente pois nota-se que, para além do mútuo respeito, há alguma reciprocidade nos sentimentos.

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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 24 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11459: Questões politicamente (in)correctas (43): Meu caro Cherno Baldé, a maioria dos militares da minha companhia não era racista nem se comportava como tropa ocupante (Paulo Salgado,ex-alf mil op esp, CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72)

Guiné 63/74 - P11537: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (69): A Catarina [Schwarz] fisicamente está bem. É por dentro que dói... A maior arma que temos é a solidariedade (Pepito / Paulo Santiago / Luís Graça)




1. Notícia transmitida ontem pela RDP África:


Cidadã luso-guineense agredida no aeroporto de Bissau

Catarina Schwarz apresentou queixa por abuso de poder e violência contra homem ligado ao Estado Maior das Forças Armadas

Publicado: 13h45m, 06 Mai. 2013 | Actualizado: 13h46m, 06 Mai. 2013

 A cidadã luso-guineense Catarina Schwarz foi agredida e insultada este domingo, no aeroporto internacional de Bissau, por um homem ligado ao Estado Maior General das Forças Armadas guineenses.

O incidente ocorreu na fila de espera das chegadas, perante a passividade de funcionários e agentes da Guarda Nacional e foi comunicado ao ministério do interior, à Agência de Aviação Civil e à TAP - Air Portugal.

A agressão foi relatada na primeira pessoa à RDP África e Catarina Shwarz promete apresentar queixa por abuso de poder e violência contra Norberto da Silva, que conseguiu identificar.


2.  Emails trocados ontem, à tarde,  entre o Paulo Santiago, o editor Luís Graça e o pai da Catarina, o nosso amigo Pepito, eng agr Carlos Schwarz da Silva, cofundador e diretor executivo da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento:

(i) Paulo Santiago:

Boa Tarde,Luís. A Catarina Schwarz, ontem insultada e agredida no Aeroporto Oswaldo Vieira, é filha do Pepito?? Abraço, P. Santiago.

(ii) Luís Graça::

É, sim. E foi diretora do aeroporto, até ao último golpe de Estado, de 12/13 de abril de 2012... Já não é a primeira vez que é agredida por energúmenos. Se é verdade a notícia, preciso de saber como está a Catarina e transmitir-lhe a nossa solidariedade através dos pais, Pepito e Isabel, nossos tabanqueiros. Obrigado por estares atento. Um abração. Luis

(iii) Pepito:

Obrigado,  Luís e Tabanqueiros. A maior arma que temos é a solidariedade. Porque ela é persistente e tem uma enorme força, os bandidos que, por terem arranjado uma farda na rua, colocado uma pistola à cintura e andarem com "farinha" nos bolsos, acabarão por perder. Foi a tropa do Bubo Na Tchuto que a agrediu pela primeira vez [, em Quinhamel].  Hoje, já não pode agredir mais ninguém. Por decisão dos americanos, está na América....a escrever o seu livro de memórias.

A Catarina fisicamente está bem. Como sabes,  é por dentro que dói!

Abraço a todos os amigos da nossa grande tabanca.
pepito

(iv) Luís Graça

 Paulo: Obrigado, li a notícia na RDP África e ouvi, em áudio, a versão da Catarina. E o Pepito acaba de confirmar esta triste notícia...A Catarina é uma mulher de armas, de boa cepa, mas um ser humano como qualquer um de nós, e precisa do nosso apoio moral. Vou fazer um poste, logo à noite quando acabar as aulas. Luis

(iv) Paulo Santiago:

Luís, Pepito: Soube da notícia através de um poste no Facebook  por Amará Siaja Jaurá que faz parte de um grupo,ao qual também pertenço "a voz dos magros do mundo"

Pepito: Estou solidário contigo e com a tua família, são grandes lutadores, outros já teriam desistido.

Abraço aos dois, P. Santiago


Portugal, Alcobaça, São Martinho do Porto > Casa do Cruzeiro > 11 de agosto de 2012 > 3ª edição do convívio anual da Tabanca de São Martinho do Porto > Catarina Schwarz da Silva, neta da decana da nossa Tabanca Grande, Clara Schwarz, filha do Pepito e da Isabel, ex-quadro superior da empresa que explora ao Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira, em Bissau. Nasceu na Guiné-Bissau, estudou psicologia social em Lisboa, no ISCTE. Tem mais dois irmãos: a Cristina (Pepas), biólogo; e o Ivan (que vive em Portugal).

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11536: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (42): Respostas (nº 84/85/86): Mário Serra de Oliveira (ex-1º cabo escrit, BA 12, Bissalanca, 1967/68), Luís Borrega (ex-fur mil cav, CCAV 2749, Piche, 1970/72), Adriano Moreira (ex-fur mil enf, CART 2412, Bigene, Guidaje e Barro, 1968/70)

Resposta nº 84 > Mário [Serra] de Oliveira [, ex-1º cabo escriturário, BA 12, Bissalanca, Bissau, 1967/68, a viv er hoje nos EUA]

(1) Quando é que descobriste o blogue? 

R - Francamente, não posso precisar... mas foi há mais de 5 anos. 

(2) Como ou através de quem? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada) 

R - Creio que foi através do FB ou, então, através da página de Carlos Silva-Guiné 

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia)? Se sim, desde quando? 

R - Não poderia classificar porque desconheço os requisitos. Creio que não sou... porque não fiz aplicação alguma. 

(4) Com que regularidade visitas o blogue? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...) 

R - Neste aspecto, sempre que vejo algo relacionado com o blogue, não resisto em saber do que se trata. Aqui, há que ter em conta que a GUINÉ está atravessada em mim, como uma seta. Já aqui fiz constar muitas razões mas, duas delas, foi o facto de lá ter nascido a minha única filha -1970 e, a outra, por ter sido o local onde passei os melhores dias da minha vida. Honestamente falando – e não é a romancear – com 30 e picos anos de EUA, ainda está para vir o 1º dia que tivesse sido mais bem passado do que qualquer dos dias dos 14 anos e tal que lá passei, mesmo aqueles onde as dificuldades causadas por alguns“elementos” oportunistas (depois da independência) mexerem com os meus nervos e os meus princípios. 

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.)? 

R - Tenho mandado alguns comentários e continuarei a mandar sempre que notar algum comentário “que refira algo “do meu conhecimento e que me aperceba da necessitado de alguma correcção factual. Ainda há dias fiz, sobre uma mensagem antiga onde vários camaradas referiam-se ao NINHO DE CAMARÃO, petisco da minha autoria. 

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça]? 

R - Ainda não me dediquei bem à pagina. Um dia destes vou ver. 

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue? 

R - Neste caso específico, vou mais ao blogue porque no FB – na página comum – as mensagens desaparecem logo com a chegada de outras. Francamente considero o Blogue mais apropriado para troca de comentários e mensagens diversas. reservar o FB para “Flash-mensagens” com referência ao blogue, será quanto a mim mais valia, porque não satura o FB. 

(8) O que gostas mais do Blogue? E do Facebook? 

R - O blogue em si, gosto pela oportunidade que dá a todos de expressarem os seus pontos de vista, alguns deles bem pessoais…mantendo no entanto uma certa privacidade, somente no seio da família tertuliana. No FB, tudo é mais exposto . Refiro-me á página do FB geral e não á pessoal. 

(9) O que gostas menos do Blogue? E do Facebook? 

R - Não encontro pontos fracos no blogue. No FB? Não sei, além do que já referi. 

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...) 

R - Não me apercebi muito neste aspecto. Talvez porque o meu LT também “sofre dessa doença” e, se calhar, uniram as mãos para me iludir e não culpar o blogue. 

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti? E a nossa página no Facebook? 

R - É um meio revitalizante para mim, pelo menos nos momentos de nostalgia ou mais apreensivos. Lendo o blogue, revendo passagens comuns, nos locais comuns de milhares dos nossos. Por vezes, quando vejo alguma foto, é como um “tónico” que me invade revivendo aqueles tempos. Um formigueiro sobe por pelo meu corpo acima, sem que eu possa controlar. É que, por desgraça, na ocasião eu não tinha tempo para tirar fotos e, como tal poucas tenho. No entanto, procuro um vídeo de uma cadeia de televisão Nórdica que filmou dentro do meu restaurante “O NINHO DE SANTA LUZIA” logo a seguir ao 25 de Abril. Ainda hei-de ver se apanho aquela gravação. O governo português teve que autorizar a visita á Guiné, daquela equipa de televisão. creio que foi em Agosto de 74. Talvez alguns dos camaradas saibam do que estou a falar e dêem uma dica. 

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais? 

R - Não, pelas circunstâncias de me encontrar fora de Portugal Fisicamente, claro porque de espírito "até a dormir la me encontro". 

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de Junho, em Monte Real? 

R - Não, pelas circunstâncias referidas antes. 

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar? 

R - Porque não? Forçosamente tem que haver muitos dos nossos camaradas que nem sequer se aperceberam da sua existência, por não lhes chegar aos ouvidos, ou seja pelo que seja. Caramba…passaram pela Guiné milhares e milhares de militares. Não foram só Oficiais, Sargentos e Furriéis. Soldados e cabos – ao fim e ao cabo a maioria - que, se na ocasião tinham uma posição modesta, pelas circunstâncias da vida, acredito que hoje haverá muitos desses, numa posição social com acesso a computadores. Aqui, creio que uma campanha de “recrutamento e passa-a-palavra”numa dinamização e divulgação de oportunidade, para muitos poderem “sair cá par a fora”... creio que, talvez se venha a confirmar uma “mina” de ouro em dados históricos, com novos relatos de toda índole. De facto, ainda há dias, numa conversa com o filho de um ex-combatente na Guiné, lhe falei no assunto. Diz o filho que o pai não tem conhecimento. Dei-lhe as coordenadas do blogue e, o próprio filho me garantiu que tinha fotos e relatos do pai, que iria tentar colocar no blogue. Já o encontrei e disse ter gostado muito 

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer. 

R - Talvez se nos uníssemos todos para angariar fundos, na intenção de se reconstruir o Pelicano que, segundo consta, está em ruínas. A minha ideia seria pedir ao camarada Luís Graça que aceitasse “explorar” o potencial do blogue, adicionado publicidade “paga”. Seria uma receita garantida, inesgotável que daria para muita coisa. Adsense e não só, seria uma opção. Adsense paga por “cliques” (?) segundo me parece… mas há outras formas de publicidade directa. 

Abraço a todos e...´força para dar continuidade. 

PS - Apesar de ter criado o meu próprio blogue, qualquer história nova tentarei publicá-la aqui primeiro ou em simultâneo. As audiências não são as mesmas.  Tenho, por exemplo, em composição, o impacto que "BATATAS PODRES" COM PERNAS, (oportunistas) tiveram na minha vida comercial e emocional, depois da independência. No meu livro, só menciono a existência de tais "energúmenos" mas não descrevo tudo o que se passou. 

********************
Resposta nº 85 > Luís Borrega  [, ex-fur mil cav e MA,  CCAV 2749/BCAV 2922, Piche, 1970/72]

1- Finais de 2008. 

2 - No dia 27/11/2008 fui ter com o nosso Camarada Beja Santos, para lhe adquirir o 1º Volume do seu " Diário da Guiné", e ele falou-me no Blogue. No Natal desse ano, adquiri um PC Portátil, para assim ter acesso ao Blogue. 

3 - Sou membro desde 2009 (o número não sei). Fui o leitor "um Milhão" do Blogue. 

4 - Várias vezes ao dia. 

5 - Já mandei algumas "coisitas", mas ainda não consigo abrir muito bem o "Armário dos Esqueletos"... 

6 - Conheço, mas não frequento. 

7 - Ao Blogue. 

8 - Gosto praticamente de tudo o que diga respeito à vida militar e tudo aquilo que cada um de nós passou na Guiné. 

9 - .... 

10 - O ano passado tive bastantes dificuldades de acesso. Foram tantas que contactei o nosso Camarigo Carlos Vinhal, que me disse que tinha havido uma mudança na apresentação do Blogue, o que poderia causar dificuldades de acesso. Hoje não tenho problemas. 

11 - Representa acima de tudo conhecer todas as agruras que todos nós, uns mais, outros menos, passámos na Guiné. 

12 - Com muita pena minha, nunca. 

13 - Gostava de ir, mas possivelmente ainda não será este ano. 

14 - O Blogue tem todas as condições para continuar e aglutinar todos aqueles que cumpriram a sua Comissão Militar naquela " Terra Vermelha" onde sofremos na pele " Sangue, Suor e Lágrimas"... 

15 - De momento não me ocorre nada para sugestionar. Mantenhas 


Resposta nº 86 > Adriano Moreira 
[, mais conhecido por Admor, ex-fur mil enf, CART 2412, Bigene, Guidaje e Barro, 1968/70]

(1) Descobri o blogue Em finais de 2009.

(2) Através do meu camarada da Cart 2412 e presidente do Bando do Café Progresso - J. Teixeira.

(3) Sim, sou o tabanqueiro nº. 560, registado desde 30/5/2012.

(4) Estando em casa normalmente vejo o blogue pelo menos duas vezes por dia.

(5) Como não tenho grandes aptidões informáticas nem disponho de boas ferramentas de trabalho para esse efeito, limito-me mais a andar pelos comentários, quando acho que os devo fazer.

(6) Não, não utilizo o Facebook.

(7) Só vou ao Blogue.

(8) Gosto mais das histórias que os nossos camaradas publicam que me parecem iguais ou muito idênticas as que eu vivi na minha Cart. 2412, exceptuando o Maio quente de 1973 em Guidaje e daí para a frente.

(9) O que gosto menos do Blogue é quando aparecem certos radicalismos nos comentadores que por vezes nem se percebem muito bem.

(10) Tenho um atraso de cerca de dois minutos para vencer todas as vezes que entro ou mudo para os comentários e regresso à página inicial.

(11) O blogue representa uma irmandade muito grande. Mesmo sem nos conhecermos pessoalmente (a grande maioria) há uma amizade, uma afinidade, enfim a Guiné ligou-nos para sempre.

(12) Não [, nunca participei nos Encontros Nacionais da Tabanca Grande]

(13) Este ano, não, ainda não vai ser possível.

(14) [Se o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... 
para continuar ?} Então, porque não? Vocês até são mais novos e tudo, ainda estão cheios de força e de sabedoria e nós vamos dando uma ajudinha para vocês terem cada vez mais trabalho.

(15) Críticas, não tenho. Sugestões, ainda menos. Comentários, bem isso já é mais a minha especialidade. Quero agradecer ao Luís Graça ao Carlos Vinhal e ao Magalhães Rodrigues a todos os tabanqueiros, principalmente áqueles que mais deitaram e continuam a deitar lenha para esta fogueira para que este fogo não se extinga.Um grande abraço para todos.
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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11524: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (41): Respostas (nº 81/82/83): Cândido Morais, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679 (Bajocunda, 1970/71); Manuel Luís Nogueira de Sousa, ex-Fur Mil do BART 6520/73 (Bolama, Cadique e Jemberém, 1974) e Aires Ferreira, ex-Alf Mil da CCAÇ 1686/BCAÇ 1912 (Mansoa, 1967/69)

Guiné 63/74 - P11535: Álbum fotográfico de Carlos Fraga (ex-alf mil, 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1973) (6): Testando armamento (HK 21 e morteiro 60) na berma da estrada, na ausência de carreiro de tiro...


Foto s/ nº > Mansoa > 1973 > Testando a HK 21 (1)



Foto nº 84   > Mansoa > 1973 > Testando a HK 21 (2)





Foto s/nº  > Mansoa > 1973> Testando a HK 21 (3)


Foto s/nº  > Mansoa > 1973 > Testando o Morteiro 60 (ou morteirete)


Fotos: © Carlos Alberto Fraga (2013). Todos os direitos reservados [Edição: LG]

1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Carlos Fraga (*), recentemente admitido como membro da nossa Tabanca Grande (nº 611). Recorde-se que ele esteve em Mansoa, no 2º semestre de 1973, como alf mil (da 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72), indo depois comandar uma companhia em Moçambique, já depois de 25 de abril de 1974.

Publicam-se hoje  fotos de militares da 3ª C/BCAÇ 4612/72  a experimentar  armas no "2º ou 3º dia depois do Choquemone" (**).

Acrescente-se, a talhe de foice, que a maior parte dos setores não tinha... carreira de tiro.  No setor L1, por exemplo, havia, no tempo do Paulo Santiago,  do J.L. Vacas de Carvalho e do Luís Dias, uma carreira de tiro para instrução das novas companhias de milícias. Mas eu não me lembro, no meu tempo, de nenhuma carreira de tiro em Bambadinca. Havia uma em Contuboel, no tempo em que demos instrução de especialidade aos futuros soldados (guineenses) da CCAÇ 12. 

Parece que em Mansoa também não havia carreira de tiro, no 2º semestre de 1973, a avaliar por estas fotos... Por outro lado, no meu termpo, fazer tiro no mato era punido disciplinarmente... Por exemplo, no rio Udunduma, quando se estava lá destacado, fazia-se-se tiro uma vez por outra...Tal como se pescava à granada mas isso podia causar alarme quer em Bambadinca (, sede do batalhão,)  quer nos destacamentos ou tabancas em autodefesa,  à volta (Nhabijões, Amedalai...) ou ainda nos aquartelamentos  mais próximos (por ex., Xime).

No nosso caso (CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71), confiávamos na fiabilidade das nossas armas (nomeadamente da G3), graças ao impecável trabalho do nosso 1º cabo quarteleiro (ou de manutenção de material) João Rito Marques que reencontrei há tempo num convívio, e é natural de Sabugal.



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > Centro de Instrução de Milícias (CMIL) > Setembro de 1973 > A Instrução de tiro na carreira de tiro, que era perto da ponte do Rio Udunduma, na nova estrada Bambadinca-Xime.

Foto: © Luis Dias (2008). Todos os direitos reservados.

Guiné 63/74 - P11534: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (34): 35.º episódio: Memórias avulsas (16): Os dois amigos ao chegar à Guiné

1. O nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67), em mensagem do dia 22 de Abril de 2013, enviou-nos mais uma história para publicar na sua série "Os melhores 40 meses da minha vida".


OS MELHORES 40 MESES DA MINHA VIDA

GUINÉ 65-67 - MEMÓRIAS AVULSAS

16 - OS DOIS AMIGOS AO CHEGAR À GUINÉ

O PRIMEIRO
Um ser-humano fora de série. Após um enjoo contínuo desde Lisboa, ali estava Bissau.
Levantei-me do leito, onde sempre viera, excepto às horas dos comes que se bebiam e fui para a amurada e pelo que vi, pareceu-me bonito... com cheiros diferentes... o povo visível parecia simpático... a temperatura ao meu gosto e aquela chuva quente, até me refrescou as ideias.

Tudo preparado para sair, qu'a terra firme estava já ali a cem metros, eis senão quando me avisam:
- É pá andam lá em baixo à tua procura.

Fui ver e era bem verdade. Num "zebro" gritavam pelo meu nome. Tratava-se dum individuo com ar desleixado e barbudo, mal vestido à marinheiro, a quem acenei e que me ficou a aguardar junto ao portaló.

Era "APENAS" o fuzileiro especial Sebastião, das Barreiras, lá na minha terra. Sabendo da minha chegada, fez questão de me ir abraçar, convidou-me para o almoço que já mandara preparar e lá fomos depois do acantonamento da minha CCAÇ 1422, ali mesmo no Forte da Amura.

Mais tarde, voluntariou-se para operações onde soubesse que eventualmente eu também poderia estar o que por duas vezes aconteceu. Voltávamos assim a trocar amplexos verdadeiros como próprio de quem se estima. Era um rapazão formidável, valente militar já com a maior distinção possível, na guerra de Angola e ali recebeu a segunda igual condecoração.


O SEGUNDO
- Passeou comigo em Bissau, Mansoa, Cutia, Mansabá, Bissorã, Pelundo, Teixeira Pinto, Cuntima, Canjabari, Quinhamel e Farim.
- Combateu em Buro, Berecobé, Biribão, Jolmete e K3.
- A emboscadas, respondeu comigo nas matas, nas bolanhas, nas estradas... e outras preparou ao meu lado esquerdo.
- Fomos à praia de Varela e estivemos no Senegal.
- Partilhou as minhas lavadeiras, foi "voyeur, comeu comigo à mesa, colhemos cibes cajus e mangas, caçámos crocodilos, atirámos granadas de mão de pé e deitados, disparámos morteiros e bazoocas, nadámos em rios e bolanhas e atacámos o IN.
- Assentámos tijolos e sem fio de prumo ajudante, aquando da construção da cozinha e messe colectiva.
- Compartilhou emoções boas, outras nem tanto, conheceu GENTES com letra grande e gentes apenas.
- Riu... mas também chorou.
- Embora shockprotected, tem ainda o frontispício arranhado, devido a ter batido numa mina que eu próprio desarmadilhara ali nos "carreiros" a 3 Km's do aquartelamento e por isso recebeu metade dos 300 pesos que era o preço que pagavam por tal trabalhinho. (E que pena tínhamos de não as poder levantar todas, pois que algumas, as tais de que desconfiávamos serem fornilhos, haviam de ser destruídas com trotil)
- Prantámos muitas "bailarinas" ao redor do hotel onde vivíamos, até ao dia em que entendemos não o voltar a fazer, porque de noite muita macacada as destruíam.
- Conheceu-me como ninguém e bastava fixá-lo para que me mostrasse a quantos estávamos, que horas eram e qual o dia da semana.
- Acompanha-me há 48 anos e vai também às reuniões anuais da rapaziada que esteve na Guiné e de lá... e lá no meu concelho.
- É mudo de nascença, mas falo com ele sobre tudo o que vivemos e bastas vezes lhe pergunto: - "Alembras-te pá?

Vi-o na montra da Loja Pintosinho e foi amor à primeira vista. Desembolsei por ele, os últimos duzentos escuditos, do que trouxera da Metrópole.
Falei-vos do meu automatic Cauny Prima Swiss, 25 rubis, waterproof.

(continua)

OBS:- Na falta de outra ilustração, optou o editor pelo seu relógio Cauny Submarine, 17 rubis, Antichoc, Swiss, que lhe fez companhia no Funchal e na Guiné, regressando os dois ao Continente, em 1972, sãos e salvos. Ainda hoje sobrevivem.
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Nota do editor

Último poste da série de 28 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11494: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (33): 34.º episódio: Memórias avulsas (15): O Brutubol

Guiné 63/74 - P11533: Memória dos lugares (233): Bafatá há 40 anos e em 2010 (2) (Fernando Gouveia)





1. Segunda série de fotos enviadas pelo nosso camarada Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec Inf, Bafatá, 1968/70), em mensagem do dia 20 de Abril de 2013 com fotos de Bafatá, separadas por 40 anos:

Margem do rio Colufe, por detrás da piscina.

Em frente à casa do ourives, Tchame, na tabanca da Ponte Nova.

Pescador, no Geba, frente à piscina.

A sala da minha casa nas vésperas do Natal de 1969, agora escritório da empresa do Capé.

O processo de recolha do vinho de palma continua o mesmo.

A Mesquita vista, rigorosamente, do mesmo ângulo.

O chefe religioso muçulmano de há 40 anos, Cherno Udi Bá, já falecido, e o actual chefe religioso, Mamadu Kulábio Bá, seu filho que, por acaso, foi condutor no Comando do Agrupamento.

O ourives de Bafata, Tchame, num dia de Ramadão junto à mesquita, já falecido, e o seu filho, que o substituiu na oficina.

A Bobo e a sua filhinha, que passados quarenta anos soube chamar-se Maria. Ambas trabalham no Empreendimento do Capé.

A Kadidja, que julgo já não precisar de apresentações.
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Nota do editor

Último poste da série de 3 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11523: Memória dos lugares (232): Bafatá há 40 anos e em 2010 (1) (Fernando Gouveia)

Guiné 63/74 - P11532: Notas de leitura (478): Homem de Ferro, edição de autor, por Manuel Pires da Silva (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Janeiro de 2013:

Queridos amigos,
Um dos pontos mais curiosos destas memórias é a evolução do combatente, sobretudo o que ele viu na Guiné entre 1962 e 1974. Descreve a explosão dos acontecimentos no Sul, quando escreve é percetível que há uma enorme confiança coletiva em estancar aquela rebelião para a qual os guerrilheiros, nos primeiros meses, não dispõem de qualquer informação.
Promovido a sargento, avalia a progressiva escalada de meios e o moral das tropa especiais e das forças em quadricula. Transmite por escrito um estado de desfalecimento pessoal e coletivo, as escoltas aos comboios de navios, sobretudo no Sul, são sempre atos temerários. Apercebe-se que há um estado de decomposição, um encolher de ombros, uma fuga ao confronto direto, de 1973 para 1974.
E participa no fim da guerra, dizendo sem rebuço que a partir do 25 de Abril todos quiseram depor as armas.
Um testemunho íntegro e genuíno, o do Homem Ferro.

Um abraço do
Mário


Homem Ferro, Memórias de um combatente (2) 

Beja Santos

A segunda comissão de Manuel Pires da Silva envolve sobretudo escoltas e diversas atribulações operacionais. Colocado em Ganturé, os fuzileiros sabem que têm um inimigo motivado e bem municiado na região de Sambuiá, bem ali perto. Em Janeiro de 1970, o Homem Ferro acompanha o DFE 7 à península de Sambuiá, nada de espetacular. O DFE 8, em Fevereiro, segue para uma operação em frente a Cumbamori. “Nessa operação vai o Homem Ferro com a respetiva secção de morteiro 81, sob as ordens do COP3. Na véspera a secção reunira para acertar alguns detalhes e qual não foi o espanto do Homem Ferro quando lhe aparecem, a oferecer-se como voluntários, o Pinto e o Alfaiate”. Mais adiante fala na deserção destes três marinheiros, descreve as dificuldades em desalojar os guerrilheiros de Sambuiá, em Agosto regressa a Bissau para voltar às escoltas. Surge entretanto uma nova dificuldade, agora o PAIGC já usa minas aquáticas, é necessário levar uma equipa de mergulhadores para as desativar. E com todas estas idas e vindas a Companhia de Fuzileiros 10 é rendida em Janeiro de 1971.

O Homem Ferro tinha agora família constituída. Questiona-se se deve continuar neste vaivém de comissões. Oferecera-se como voluntário na Marinha, cumprira 6 anos de contrato, depois fizera curso para sargento, chegara a primeiro-sargento com 27 anos. Não queria pôr em causa a carreira que conquistara com tenacidade e muito sacrifício. Teve um desaguisado quando concorreu a oficial do Serviço Especial, sentiu-se preterido, encarou seriamente a hipótese de deixar a Marinha, a resposta que lhe deram é que só teria direito a uma pequena pensão a partir de 1975. Depois de algumas andanças, parte para a terceira comissão na Guiné, em Outubro de 1972, integrado na Companhia 2. Passa os primeiros 4 meses em missões de segurança interna. E começa a reparar que a tropa nos aquartelamentos começa a baixar os braços, tornou-se inequívoco que era às tropas especiais quem os altos comandos constantemente recorriam. Com a chegada dos misseis aumentaram as dificuldades com a perda da supremacia aérea, o Homem Ferro chegou a ir numa operação com o DFE 1 em buca dos destroços de 2 aviões abatidos na zona de Talicó. Comenta que esta nova arma obrigava a rever todos os procedimentos operacionais e logísticos, já que toda a estratégia assentava nos reabastecimentos feitos ou vigiados pela Marinha e nos apoios rápidos à responsabilidade da Força Aérea.

O Homem Ferro volta às escoltas e aos comboios de navios, intensificaram-se as medidas de segurança nos rios Cobade e Cumbijã. As operações do PAIGC em Maio, tanto em Guidage como em Guilege e Gadamael Porto deixaram mazelas, percebia-se bem que o inimigo fazia ofensivas à carta, estabelecia as regras de jogo, quem fazia escoltas nos rios do Sul estava sempre à espera do pior, ele sentia sempre receio enquanto percorria os rios a caminho de Cacine, Cufar ou Catió, entre outras paragens. De forma intermitente, assiste ao espetáculo dos misseis a voar por cima dos aquartelamentos. As escoltas para Cacheu, Ganturé e Binta são outras missões que lhe cabem. Mostra-se muito crítico sobre as forças na quadrícula, em meados de 1973: “Os quartéis no mato pareciam fechados para férias. Ninguém saía para lá do arame farpado e os relatórios das patrulhas eram viciados. Parecia um jogo combinado com os guerrilheiros, tu não atacas, eu também não ataco”. Mais adiante, observando a situação em Novembro: “No mato, a desmoralização é total. A toda a hora chegam notícias de novos ataques a Gadamael Porto, Chugué, Bedanda, Cameconde, Jemberém, Cafal Balanta, Buba, Gampará, Cadique, Bigene e Canquelifá. Tudo está a ferro e fogo. Fuzileiros, paraquedistas e comandos já não chegam a todo o lado, como faziam dantes. As operações são, agora, todas em grande escala, mas os guerrilheiros já nem as tropas especiais respeitam, têm armamento mais sofisticado do que o dos portugueses. Fala-se numa invasão eminente, a Guiné-Bissau declarou a sua independência, supõe-se que será uma invasão apoiada pela Organização da Unidade Africana”. Em Janeiro de 1974, o Homem Ferro regressa às escoltas. Em Fevereiro, tem pela frente uma estadia em Ganturé, prevista até fins de Maio. Retomam-se as idas a Sambuiá, quase sempre muito fogachal, às vezes o inimigo debanda e tece considerações sobre as emboscadas nos rios: “Não há comparação entre uma emboscada em terra e uma sofrida a meio do rio. Aí todos são obrigados a ser audazes, pois não têm por onde se esconder. Só quem passou por elas faz ideia do como são terríveis. Normalmente, só à traição um fuzileiro podia ser derrubado. Mesmo nestas difíceis condições, em que já nem com o apoio aéreo podiam contar, os fuzileiros nunca fraquejavam”. Observa uma escalada ofensiva na região Norte, sem resposta à altura: “A tropa está desmoralizada e os fuzileiros já nem têm sargentos especiais. Começam a aparecer os subsargentos, equiparados a furriéis, mas as praças mais antigas, também com duas ou três – algumas com quatro! – comissões cumpridas já não acreditam neles como acreditavam no sargentos. Chegam informações de que já têm navios rápidos e aviação forte”.

Informações sobre o 16 de Março e o 25 de Abril chegam a Ganturé. O regozijo é geral: “A guerra na Guiné acabou logo ali. Não houve mais tiros. Havia, agora, que negociar independência”. Há encontros amistosos com grupos do PAIGC. Parte com saudades, gosta muito daquele povo: “Apesar de todos os sacrifícios sofridos na pele e das desagradáveis surpresas da guerra, com tantas emboscadas violentas, nunca foi maltratado por nenhum guinéu. Pelo contrário, a lealdade que sempre lhes conheceu, levou-o a sentir grande consideração por todo o povo guineense”.

Aos 38 anos despediu-se da Briosa, guarda a Escola de Fuzileiros no coração. Partia rumos a novos sonhos. Pôs em letra de forma as suas memórias porque entende que os portugueses têm direito a saber o que fizeram os fuzileiros na Guiné. Junta as suas fotos na recruta, na Escola de Fuzileiros, nas primeiras operações na Guiné, na guarda aos prisioneiros do PAIGC, nas batidas em Jabadá, na operação Tridente, nas patrulhas do rio Cacheu, percebe-se bem que foi esta primeira comissão que mais o tocou, andou sempre na primeira linha do combate; depois as fotos nas operações em Sambuiá.
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Nota do editor

Último poste da série de 3 de Maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11521: Notas de leitura (477): Homem de Ferro, edição de autor, por Manuel Pires da Silva (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P11531: As Nossas Tropas - Quem foi quem (12): Maurício Leonel de Sousa Saraiva, ex-cap inf comando (Brá, 1965/67) (Luciana Saraiva Guerra)

1. De Luciana Andrade Guerra, sobrinha do ex.-cap comando Maurício Saraiva, e nossa nova tabanqueira (nº 616) (*), mensagem datada de 30 de abril último, dirigida ao Virgínio Briote e  de que este nos deu conhecimento:

De: Luciana Andrade Guerra
Enviada: 30 de abril de 2013 14:15
Para: Virgínio Briote
Assunto: Coronel Maurício Leonel de Sousa Saraiva

Prezado V. Briote,

Agradeço-lhe de coração pelos seus sentimentos e sua gentileza. Fiquei realmente feliz por encontrar pessoas queridas que resolveram compartilhar tantas experiências de um passado e se juntaram num Blog como esse e ainda algumas, como o Virgínio, tiveram vínculos com meu tio Maurício.

Eu tenho comigo também muitas fotografias, mas são mais fotografias de família, quando meu tio era ainda muito jovem e vivia em Sá da Bandeira, em Angola. Ele nasceu na Ganda. Depois meu avô Francisco Saraiva se mudou para Sá da Bandeira.

Meu avô Francisco só voltou para Portugal nos anos 60, ia já doente e acabou por falecer devido a um câncer no pulmão.

O tio Maurício foi uma pessoa com sua vida muito preenchida, de amigos e ocupações diversas. Sei que morou muitos anos em Madrid, onde chegou a exercer o cargo de Diretor numa empresa grande, que tinha filiais nos EUA e outros países. Meu tio viajava bastante. O tio tinha um hábito muito interessante, que hoje nos ajuda muito, ele sempre colocava as datas nos postais e fotografias que ia mandando para meu pai e minha avó (sua mãe). Sempre se lembrava da sua mãe e de meu pai. Qualquer viagem que fazia, mandava notícias através de lindos postais e fotos que ele mesmo adorava bater. Minha irmã ficou com uma coleção incrível desses postais que o tio foi mandando ao longo de tantos anos.

No final dos anos 70 e durante os anos 80 e ainda 90, a família tinha o costume de se reunir para passarmos um dia juntos no Natal. Era sempre uma festa muito grande, meu tio era muito animado, contava muitas histórias e levava presentes para todo o mundo.

Minha avó Tininha gostou de todos os filhos, mas tinha uma grande admiração pelo seu filho mais velho.



.Guiné > Brá >  Cap inf comando Saraiva, à frente da CCmds do CTIG em Set 65. Na foto,  o cap Saraiva rodeado pelo João Parreira, Virgínio Briote e Marques de Matos.

Foto: © Virgínio Briote (2013). Todos os direitos reservados.


Durante o pós-Guerra em África, e depois do acidente que o deixou hospitalizado, ele foi para Londres, onde viveu alguns anos. Sei também que minhas duas bisavós: Luisa e Emília adoravam o neto. Quando meu tio estudava já em Portugal, costumava passar as férias de verão junto com as avós em Possacos [Valpaços]. Acho que ele devia exercer uma espécie de liderança, pois seus primos tinham uma grande adoração por ele.

Meu tio chegou a participar anos mais tarde na Guerra do Golfo. E sobre este episódio nada mais sei. Infelizmente não temos contacto com a sua segunda esposa (viúva de meu tio), porque ela se afastou de nossa família e também não tinha um relacionamento próximo com meu primo Francisco Henrique (único filho de meu tio). A primeira esposa do tio, Isabel, mãe do Francisco Henrique, ainda é viva.

Meu primo é casado e teve 6 filhos homens ! hi hi, meu tio não chegou a conhecer todos os netos, nem meu filho João Henrique, o mais novo nascido já aqui em Florianópolis em 2005.

Meu tio Maurício chegou a conhecer meu marido Baltazar,
com o qual estou há 22 anos. Um dia num casamento de uns amigos, numas férias que fizemos em Portugal, estivemos sentados à mesa com o sr. General Eanes e sua esposa Manuela. Qual não foi meu espanto, e nem me lembro porquê, meu tio foi tema de conversa e parece que foram colegas na Academia Militar.

Aliás, sei que meu tio era muito amigo do sr. [gen] Almeida Bruno. Este senhor visitou muitas vezes meu tio, quando ele já estava internado antes de falecer.

Bom, não quero maça-lo com minhas histórias, e gostaria que o V. Briote se sinta á vontade para me contar mais histórias, porque a história de meu tio ficaria incompleta se não juntarmos o tempo que passou em África junto com seus camaradas, alguns agora reunidos neste Blog.

Acho que meu tio Maurício ficaria muito feliz por saber que resolvi escrever este livro sobre a avó. Aliás ele em vida me incentivou a buscar a origem dos Sousa da parte da avó. Cheguei muito longe, ele nem sonha as histórias incríveis que descobri, os documentos antigos que consegui junto do Arquivo Distrital de Vila Real. Estou quase comprovando que nosso 10º avô descende de uma linhagem de nobres e guerreiros que nos levam a D. Afonso III...penso que meu tio iria ficar extremamente orgulhoso.

Existe ainda mais uma história incrível, que eu não sei dizer se meu tio sabia ou não, nem como ele iria reagir!

Meu avô Francisco ficou órfão de pai muito cedo. Filho único veio com seu tio Domingos Saraiva para o Rio de Janeiro ainda extremamente jovem. Por aqui ficou 14 anos. Conheceu uma senhora de uma família de Possacos, Valpaços,   e tiveram um filho chamado Manoel Bernardo Saraiva. Só que meu avô estava indo de novo para Possacos naquele ano para ver sua mãe, minha bisavó Luisinha. Nessa estadia conheceu minha avó, numa linda propriedade de Possacos que minha avó teve. 

Nunca mais se separaram, portanto meu avô foi para Angola com minha avó e não voltou mais para o Brasil. Acontece que eu,  ao fim destes anos todos, conheci uma senhora de 86 anos que se chama Amélia que mora em Lisboa e tem toda a sua família em Possacos, ela é tia do meu tio Manoel Bernardo Saraiva, irmão de meu pai e do tio Maurício. Nós estamos procurando este tio, que se for vivo terá 86 anos também ! Ele teve uma filha Saraiva.

Estou em contato com alguns sobrinhos dele e todos estamos tentando encontrar esse tio. Bom, mas este é outro capítulo da minha história...risos. Este assunto era tabu na casa de minha avó (logicamente).

Mande mais histórias, ontem mesmo abri conta no Google e acho que já faço parte do Blog da Tabanca Grande !

O Sr. Luís Graça  também conheceu meu tio? O Sr. Virgínio mora em Lisboa?

Um abraço e mais uma vez obrigado,

Luciana Saraiva Guerra (**)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 4 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11526: Tabanca Grande (407): Luciana Saraiva, sobrinha do ex-cap comando Maurício Leonel de Sousa Saraiva, nova tabanqueira, nº 616 (a viver em Floripa, Brasil)

(**) Último poste da série > 18 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10399: As Nossas Tropas - Quem foi quem (10): Ten Cor Manuel Agostinho Ferreira, o "metro e oito", comandante do BCAÇ 2879 (Farim, 1969/71) e BCAÇ 2892 (Aldeia Formosa, 1969/71) (Paulo Santiago / Carlos Silva / Manuel Amaro)

domingo, 5 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11530: Homenagem a todas as Mães; às que já partiram e às que ainda estão connosco (Juvenal Amado)

1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 4 de Maio de 2013:

Luis, Carlos, Virgínio, Magalhães e restante Tabanca Grande
Poder homenagear as mães é uma alegria vedada aos muitos que já viram partir as suas. Mas penso quando celebramos as que estão junto de nós, homegeamos também as partiram.

Um abraço para todos
Juvenal Amado



Esta mulher deu-me tudo sem lhe pedir nada

Vigiou-me até eu começar a andar, acompanhou-me à escola até eu aprender o caminho, cuidou de mim quase sem eu dar por isso, depois cresci, pensei que tinha saído da sua sombra protectora, mas no fundo ela velou por mim mesmo quando estive longe.

Protegeu-me não medindo o perigo em momentos difíceis.
Hoje não é a mesma mulher, envelheceu, a doença tirou-lhe algum senso e dignidade que sempre lhe conheci.
Faz birras, é vaidosa, troca as coisas, faz confusão com os assuntos, tem sempre as razões dela na ponta da língua, não tem paciência para os outros, fica triste se por alguma razão um de nós a não vai buscar ao fim de semana.

Há dias caiu e partiu a cabeça. Já não é a primeira vez. Ficou com a cara negra.
O que se há-de fazer? É uma criança com 82 anos, em que a aprendizagem se faz em sentido inverso e que perdeu muitos dos conhecimentos adquiridos ao longo da sua vida, com mais preocupações do que regalias. Nós mudamos e ela também mudou.

Hoje respeito-a não pela beleza passada ou pela sua autoridade, mas pelo que sou e que nunca seria sem ela. Ela moldou-me, ensinou-me o que estava certo e o errado, indicou-me o caminho, assinalou-me os escolhos e os perigos.

Não evitou que no meu livre arbitro, tenha muitas vezes tropeçado e caído.
Amo-a hoje com sentido de protecção como o que em tempos ela me deu e porque representa um elo de ligação, com todos os entes queridos que já partiram e pelos que felizmente ainda tenho comigo.

Amanhã é dia da Mãe.

Felizmente eu tenho a minha e congratulo-me por para mim e pelos meus irmãos, porque todos os dias para nós o ser. Não vou estar com ela este dia, mas para a semana vou-lhe levar uma flor, sair de braço dado com ela e passear pelas ruas da sua e minha cidade, com um pouco de orgulho quando ela me apresenta como sendo novidade:
- Este é o meu filho mais velho.

Feliz dia da Mãe para todas as mães.

Texto e fotos: © Juvenal Amado (2013). Todos os direitos reservados
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