terça-feira, 7 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11539: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (12): Fima Siga, a enfermeira do Morés (Virgínio Briote, ex-alf mil comando, Brá, 1965/67)



Carta do comandante Pedro Ramos, irmão de Domingos Ramos,  para sua mulher [Fima] Siga, enfermeira do PAIGC no Morés. Documento do arquivo pessoal de Virgínio Briote. Compare-se a letra com outra, datada de 23/10/1961, dirigida a Luís Cabral, e que faz parte do Arquivo de Amílcar Cabral.

Fonte: © Virgínio Briote / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2005). Todos os direitos reservados


Guiné > Bissau > Bissalanca > BA 12 > c. 1965/66 >  O alferes miliciano comando Briote (à esquerda), na base aérea de Bissalanca, em Bissau, juntamente com o Furriel Azevedo (ao centro) e o Sargento Valente (à direita).

Foto: © Virgínio Briote (2005). Todos os direitos reservados


1. Algumas das melhores histórias publicadas
na I Série do nosso blogue têm a assinatura do Virgínio Briote (VB), ex-alferes miliciano, comando (Brá, 1965/67)... Porque muitos dos membros da Tabanca Grande chegaram mais tarde, em anos posteriores à sua colaboração mais intensa no nosso blogue (como autor e coeditor), vamos reproduzir aqui mais dois postes do VB, que relatam a guerra, "vista do outro lado". (*) Na altura, em outubro de 2005, ele mandou-me este texto com a lacónica imformação:  Das minhas memórias, uma história passada no Óio". (**).

O VB nasceu  em Cascais, foi alf mil em Cuntima, CCAV 489 / BCAV 490 (Jan-Mai1965);  fez o 2º curso de Comandos do CTIG; domandou o Grupo Diabólicos (Set 1965 / Set 1966); regressou em Jan 1967; é casado com a Maria Irene.


Ana, enfermeira do Partido
por Virgínio Briote

As cordas apertadas demais, os pulsos a inchar, amarrados atrás das costas. Tinha acabado de ser apanhado pelos tugas, ainda nem sabia como, e logo a ele é que deveria acontecer. Como comandante do PAIGC, sempre fora muito rigoroso com os 10 homens que agora estavam sob o seu comando, sempre exigira que se deslocassem separados uns dos outros, que parassem de vez em quando, escutassem a mata, os olhos a varrerem devagar, da esquerda à direita, e só depois avançar outra vez. E, afinal, fora apanhado desprevenido, sem arma, sem nada!...

Viera a semana passada dos lados de Sano, no Senegal. Muito cansado. Estivera com os camaradas do sector, os dias pelas noites fora, analisaram o trabalho do mês, cada um apresentou o seu trabalho, as emboscadas que fizeram, as minas que plantaram, os ataques aos quartéis da tropa. Fizeram um balanço da situação, leram as directivas do camarada secretário-geral, as orientações gerais para a luta, a referência expressa à luta dos povos da Guiné e Cabo Verde, para a independência nacional, para a libertação, nunca contra o povo português, juntos na mesma luta contra o colonialismo e o imperialismo, depois as orientações locais, o plano para o mês, não descansar a tropa, escrever papel para deixar junto aos quartéis deles, para desmoralizar, e a ordem para mudar, outra vez, o acampamento de Uália [, a nordeste de Mansabá].


Cartão de identificação militar do Alf Bil Comando Briote > Brá, 1965 > A assinatura parece ser a do comandante da compamnhia de comandos, o capitão de artilharia Nuno J [osé Varela] Rubim, membro da nossa Tabanca Grande de longa data.

Foto: © Virgínio Briote (2005). Todos os direitos reservados





Enquanto regressava com os camaradas, ia pensando nos locais, escolhera o melhor, bem dentro da mata, umas centenas de metros a seguir à bolanha, um barraco junto a esta para vigiar a entrada. Sacos de arroz, mancarra, tudo às costas, bicicletas, cunhetes de munições, armas, tanta coisa, casas às costas, tão pouca gente, precisaram mais que uma vez.

Tinha estado a cavar um abrigo, precisava de se lavar. Fora à bolanha para tomar banho e trazer água. Viu-se cercado por dois soldados de arma apontada, sem saber como, os tugas emboscados mesmo à porta das casas de mato, os garrafões na mão dele, que a tropa tinha deixado em Morés da última vez.

Tropa diferente esta, não era a que estava habituado a ver passar. Sem emblemas, sem anéis, sem fios que os outros tugas trazem sempre, ronco nenhum, só lenços camuflados ao pescoço, sem capacetes até, aquele tem barrete diferente, caras pintadas de preto, nunca vira tropa assim.

Pára-quedistas, se calhar! Não, não deviam ser, esses são todos altos, têm camuflado muito verde, a bota que usam é de couro, conhecera-os bem quando assentara praça no colonialismo em Bissau. A farda destes é castanha como a dos outros, uns muito altos, outros pequeninos, todos desiguais, não, estes são outros. Estranhos, quase não falam entre eles, o cano das armas deles também têm olhos, vêem por ele, para a esquerda, para a frente, para a direita, aquele está sempre a olhar para as árvores, tudo muito devagar, assim é bem difícil, camaradas, apanhá-los.

Abriram-me a boca à força, eu não sabia para quê, um lenço preto nos dentes, atado na nuca, outra vez que me levantasse, sem palavras nem maneiras, corda nos pés, uma à cintura presa ao soldado Papel. Via-os à frente, no trilho para Uália, nosso pessoal descuidado a esta hora da manhã, sem aviso, vai ser uma desgraça, tanto trabalho para nada. Todos não estão, felizmente, mandara 8 para Mansabá, uns para montar mina e os outros para segurança.

Aquelas bajudas com os cestos à cabeça vão ser apanhadas, gritai, gritai com toda a força que puderdes, mais alto, mulheres do PAIGC, glória da nossa luta, assim, para camarada ouvir! Os tugas todos a correr, o traidor Papel amarrado a mim, não deixa andar, se eu pudesse! Aquelas crianças ali também!

A enfermeira de Morés? A mulher do Paulo Ramos com a criança às costas?! Porque não fugiu? Não pode ser! Não, não lhe façam nada, ela trata do nosso pessoal da luta, faz curativos só, os tugas não me ouvem, lenço não deixa.

... Não sei, não tenho nada para dizer, meu nome é Ana, sou enfermeira, não sei nada da guerra, trato de feridos só, não pode mexer nesse papel, é carta de meu marido, ouviu? Não pode tirar bilhete de meu marido, não pode! Tenho filhinha às costas, não vê? É hora de ela mamar, largue-me!

O alferes miliciano comando Briote (à esquerda), na base aérea de Bissalanca, em Bissau, juntamente com o Furriel Azevedo (ao centro) e o Sargento Valente (à diereita). Foto de 1965 ou 1966.


2. Transcrição da carta de Pedro Ramos, comandante do PAIGC, 
irmão do Domingos Ramos, dirigida a Siga (, a Ana, enfermeira do Morés, na história do Virgínio Briote). Não tem indicação de data, mas deve ser de Maio de 1966, a avaliar pelo seu conteúdo.


"Quirida (sic) Siga:

"Junto a este bilhete desejo-te uma optima saude e a Odete. Eu por cá saudades sua[s].

"No que se trata [a]o meu regresso até agora não poço esplicar ninguém [não posso explicar a ninguém] se vou regressar em breve, porque o camarada Osvaldo [Vieira]  não disse nada na [sobre a] minha vinda, mas parecia-me que regressava logo que acabar.

"Recebi os medicamentos e a pasta. Não te enviei arroz agora porque estamos ali com faltas de camaradas devido aqueles que mandamos para Morés no dia 20/4/66 para levarem os postos de Radio.

"Espero vires passar aqui uns dias conforme carta de Nha Maria, isto é se não te dá sarilho mais tarde no teu serviço. A respeito ainda da vinda do teu pai que me encontra ausente, só te digo uma coisa. Sinto muito pena a [de] não podermos conhecer-se e falarmos principalmente a teu respeito. Cumprimentos a todos, Pedro Ramos".



3. Comentário de L.G. :

 Bom, sei hoje (mas não o sabia em 2005..:) que o Pedro Ramos fazia parte do primeiro (e histórico) contingente  de militantes do PAIGC enviados por Amílcar Cabral para a China, a fim de aí  receber treino político-militar. Regressaram à Guiné ainda em 1961.

Ao grupo pertencia, a par do Pedro Ramos, o seu irmão Domingos Ramos, o Osvaldo Vieira, o Rui Djassi, o Constantino Teixeira, o Hilário Gomes (Lolo), o Francisco Mendes (Xico Té),  o Nino Vieira e  ainda os irmãos Manuel Saturnino Costa e Vitorino Costa. Nenhum destes históricos comandantes  é já vivo. E alguns morreram cedo (por exemplo, o Vitorino Costa, em 1962; o Domingos Ramis, em 1966).  Ao que sei, o Pedro Ramos foi preso, condenado à morte e fuzilado, em 1986, na sequência do alegado golpe de Estado do Paulo Correia (em 1985) contra Nino Vieira.

Esta [Fima] Siga  era efectivamenhte uma enfermeira do PAIGC, da base do Morès, pela referência que é feita na carta à remessa de mediciamentps.   E tudo indica que fosse a companheira, na época, do Pedro Ramos.

4. Esclarecimento do V.B.:

Mais um dado ou pista fornecido pelo meu velho camarada de armas que viveu a adolescência em Bissau [, presume-se que seja o nosso camarada, comando, Mário Dias]:

"Caro Briote: Acabo de ler as suas intervenções no blogueforanada que achei excelentes. Ainda bem que, lentamente, se vai fazendo luz sobre o que verdadeiramente se passou por terras de África durante a chamada Guerra Colonial. Continue.

"Veio-me à memória, toldada por uma compreensível neblina (já lá vão mais de 40 anos), que o Pedro Ramos foi funcionário do porto de Bissau ou da Alfândega. Não sei se teria ou não fugido para o mato, para o PAIGC,  mas pelo relato da carta parece que sim" (...).






Guiné > Bissau > 1959 > Os 1ºs Cabos Milicianos Mário Dias (português, nascido na Metrópole, o primeiro, de pé, do lado direito, assinalado com um círculo a verde) e Domingos Ramos (natural da Guiné, o primeiro da frente, do lado esquerdo, assinalado a vermelho). 

O Domingos Ramos era filho de um quadro local da administração colonial portuguesa, com o estatuto de assimilado.E era irmão do Pedro Ramos.

O Domingos e o Mário (que foi para a Guiné no início dos anos 50, tendo assistido à modernização e crescimento de Bissau, capital da Província desde 1943) fizeram juntos a recruta e depois o 1º Curso de Sargentos Milicianos (CMS) que se realizou em Bissau, em 1959, e no qual participaram os os primeiros filhos da Guiné. Este curso foi um alfobre de quadros...para o PAIGC (2).

Foto: © Mário Dias / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2006). Todos os direitos reservados.

5. Fiquei com curiosidade em saber o resto da história,
 contada pelo Virgínio Briote sobre a Ana, enfermeira do Morés. Mandei-lhe um email, na altura (em 31 de outubro de 2005):

"Virgínio: Já publiquei a tua estória que voltei a adorar. Parabéns!... Fico com curiosidade em saber o que fizeram, naquele tempo, ao comandante que vocês apanharam com as calças na mão (literalmente!) e com a enfermeira que deveria ser uma mulher corajosa, uma verdadeira mulher de armas (...). Um abraço".

Publico aqui a pronta resposta que o VB  teve a amabilidade de me dar. Aqui fica ela, sem mais comentários ou, se o os tertulianos assim o quiserem, com um desafio para sabermos mais sobre o papel das mulheres que, de um lado e de outro, também participaram na guerra, de maneiras diferentes (como confidentes, madrinhas, amantes, enfermeiras, professoras, combatentes, etc.):


6. Resposta do Virgínio Briote

[, foto à esquerda, na Bélgica, em 2002]:


O Comandante teve que ser interrogado logo ali, sem as cerimónias que o cargo dele exigia. Uma vez que as informações que passou eram claramente sem importância, não houve possibilidade de proceder a qualquer exploração. De resto uns tipos, poucos, talvez três ou quatro, estavam a fazer-nos pontaria e a Siga, verdadeiro nome da Ana, resistiu quanto pôde, como só as mulheres o sabem fazer, quando querem.

No chão, mamilo na boca da bebé, era muito difícil, a qualquer um de nós gerir a situação. Por um lado, o respeito que a imagem nos merecia, por outro a consciência de que a Siga estava a fazer o que podia para que os [seus] camaradas tivessem tempo para nos preparar uma retirada como devia ser. E ela veio, à força, dois soldados a arrastá-la pelo chão, a bebé no colo de outro soldado, as chicotadas  [dos projecteis] a ouvirem-se, os gritos dela e doutras bajudas, um pandemónio.

Depois, já na estrada, recolhidos pela companhia de apoio, a Siga e o comandante foram na minha viatura. Ela ficou muito ofendida comigo, pela forma como foi tratada, sem humanidade, disse-me na cara. E que, quando chegasse a Mansoa, iria apresentar queixa contra mim. O que fez, vim eu a saber uns tempos mais tarde pela boca do major das operações do batalhão de Mansoa.

O que foi feito deles? Gostaria de saber, mas não soube mais nada. Os procedimentos que seguíamos, no caso de prisioneiros, era entregá-los à chefia do Batalhão. Nunca vim a saber o que foi ou é feito deles.

Que merda!
Um abraço, vb


PS - Luís, já depois de termos falado ao telefone [,hoje, da parte da tarde], contactei um velho camarada de armas que, muito jovem, acompanhou os pais na viagem rumo à Guiné, onde tinham vida estabelecida. Estudou em Bissau, foi colega de muitos jovens que mais tarde se envolveram na luta pela libertação. Um deles, o Domingos Ramos, foi mesmo incorporado no 1º CSM que se fez na Guiné. Ora o Domingos era irmão do Pedro. Diz-me o velho camarada que eles eram negros "assimilados", talvez da etnia papel.

A Fima Siga era uma das enfermeiras (auxiliares, penso eu) de Morés. Na altura encontrámos uma caixa com os medicamentos que eles estavam a utilizar e as informações que me foram transmitidas no trajecto do regresso levaram-me a crer que ela respondia pela enfermaria. O Comandante tratava-a com alguma reverência, apercebi-me disso.

Já depois de ter lido a nota que te enviei sobre o que tinha sido feito deles, notei que escrevi que se ouviam "chicotadas, bajudas aos gritos", etc... Ora bem, as chicotadas que se ouviam eram chicotadas de projécteis. E foram só essas que eu ouvi.

______________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 30 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11507: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (11): Teresa, amores e desamores em tempo de guerra (Parte II) (Virgínio Briote, ex-alf mil, comando, Brá, 1965/67)

(**) Vd. I Série do nosso blogue (que se publicou entre 23 de abril de 2004 e 1 de junho de 2006):

31 de  outubro de 2005 > Guiné 63/74: CCLIX [259]: Estórias do outro lado: Ana, a enfermeira do Morès

31 de outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLX [260]: Ana/Siga ou as mulheres do PAIGC de que nunca se fala

10 comentários:

Cherno Baldé disse...

Caro amigo luis Graca,

A historia é comovente e, pelos vistos, os outros nao sao muito dados a apresentar a sua versao dos factos.

Relativamente ao teu comentàrio (ponto 3), queria esclarecer que do grupo citado ainda é vivo o entao jovem Comandante, mais tarde Coronel Manuel Saturnino da Costa, varias vezes Ministro dos governos que se seguiram ao 14 de Novembro, Presidente da CMB, Primeiro Ministro do Governo saido das eleicoes de 1994 e actualmente (Vice)Presidente do PAIGC, sendo dos poucos historicos que ainda estao no activo. Um sobrevivente das varias purgas e conflitos dentro e fora do partido-estado da Guiné-Bissau. Muitos pensam que os lacos etnicos e de cumplicidade politica com o Gen. Nino Vieira ajudaram para esta excepcional longevidade. Pessoalmente, sempre admirei as pessoas que conseguem sobreviver as mudancas e readaptar-se. Um dos mais famosos, em Africa, foi o M. Kérékou, antigo presidente do Benim, a quem deram a alcunha de "o Camaleao".

Dentro em breve (Maio?) o partido vai reunir-se em "conclave" para eleger uma nova direccao. Tudo indica que o tempo dos velhos combatentes esta no fim.

Um abraco amigo,

Cherno Baldé

Anónimo disse...

PS:/ Quem dera que, também, o calvario e o pesadelo destes 40 anos de "independencia" forcada chegassem ao fim.

Cherno

Torcato Mendonca disse...

Caro Virginio, lá para os lados do Fiofioli,dizem ter havido um médico Cubano,Diaz? e uma ou mais enfermeira. Só encontramos um hospital com enfermarias, de homens e de mulheres, e muitos restos de medicamentos e outro material.
Enfim, Vidas...não é? A propósito de Vidas, no comentário acima o amigo Cherno Baldé fala de um sobrevivente daqueles comandantes todos do Paigc, de facto, pelas razões que sabemos, só um "homem camaleão" sobrevivia.
Abraço, T.

Antº Rosinha disse...

Penso que o "camaleão" mais perfeito de todos os combatentes dirigentes do PAIGC foi Manuel dos Santos (Manecas).

Isto em Bissau, de Caboverde não conheço pessoalmente ninguém.

Houve um antigo que passou por entre os pingos mas levou uma bala "perdida" no 14 de Novembro e escapou com vida, foi Mário Cabral.

Como conheço "camaleões" do MPLA, admiro os "tomates" desses heróis.

Porque a grande heroicidade deles era e continua a ser entre os amigos e patrícios do que contra o Tuga.

O Tuga para esses movimentos não tinha segredos nem macumbas nem ódios, antes pelo contrário era apenas política e balas.

Eramos e somos um livro aberto que ps africanos desfolheiam e sabem de A a Z.

O Amílcar teve uma coragem imensa em meter-se nesse vespeiro, e não tinha disfarce possível para camaleão.

Anónimo disse...

Até os "camaleões" estão em vias de extinção.

Uns não conseguiram mudar de cor a tempo e pagaram com a vida, outros a lei da morte os vai libertando desta vida...refiro-me obviamente aos antigos combatentes (antigo IN) e não só na Guiné..

Contrariamente ao que diz o Cherno detesto "camaleões"..

C.Martins

Anónimo disse...

PS

Quando disse que detesto "camaleões",refiro-me aos que não esteja em causa a própria vida ou dos seus familiares..para estes entendo e aceito.

C.Martins

Hélder Valério disse...

Caros camaradas

A republicação destes textos, integrada no espírito de comemoração do aniversário do Blogue, parece-me uma 'coisa boa', já que para além da qualidade intrínseca dos mesmos, quer no aspecto da sua composição, quer do seu conteúdo, permite-nos conhecer (ou recordar) essas situações, tão reais, tão singelas e com tanto para 'especular'.

A 'listagem' de elementos dirigentes originais do PAIGC faz-me pensar como a ideia da criação de uma 'pátria' é um acto de coragem, sem dúvida, cheio de romantismo, próprio da juventude, sempre generosa.
Lembro-me de como uns quantos Barões do Condado Portucalense deram corpo ao sonho do Príncipe Afonso (e do Senhor Bispo de Braga...) de fundar um Reino...
Lembro-me de como uns quantos Portugueses se opuseram aos propósitos ('legítimos', segundo as leis que eles faziam) de o Rei João de Castela ostentar também a Coroa Portuguesa...
Lembro-me também de como uns quantos Nobres se juntaram para corporizar o descontentamento geral relativamente ao domínio (mais uma vez 'legítimo', de acordo com as regras deles) dos Filipes...
Lembro-me igualmente de como uns quantos Oficiais das Forças Armadas se organizaram para corporizar uma mudança de regime, que se pretendia para melhor....

Estas lembranças todas não invalidam a frustração que se sente por essas 'boas intenções' ás vezes não passarem disso, mas ainda assim acho que vale a pena.

Abraços
Hélder S.

Anónimo disse...

Tens razão, Cherno, o Manuel Saturnino da Costa é ainda vivo, o único sobrevivente desse "histórico" grupo de comandantes do PAIGC...

Em contrapartida, o seu irmão foi dos primeiros a morrer, logo em 1962, em Darsalame, se não se engano. Refiro-me ao Victorino Costa, responsável pela "mobilização", na região de Quínara. Uma denúncia traiu-o. Foi morto pelas tropas do cap Curto...

O Rui Djassi norreu afogado [, creio que no Rio Corubal,] quando fugia das NT, em 1964.

O Domingos Ramos, esse. morreu em combate, em Madina do Boé, em 1966... Tem uma história fabulosa já aqui contada pelo seu amigo "tuga", Mário Dias...

Quanto aos restantes, bom, alguns tiveram fins muito tristes e indignos de um ser humano... Sabes isso melhor do que eu...

Um Alfa Bravo, Luís Graça

Cherno Baldé disse...

Caro amigo C. Martins,

Na verdade, até ha pouco tempo, também eu pensava e tinha a mesma opiniao que tu, razao pela qual, no contexto da politica portuguesa, nutria mais simpatia por A. Cunhal do que o M. Soares com a sua irritante postura de que "So os burros é que nao mudam".

Mas, olhando bem para as sociedades contemporaneas "democraticas?", considerando a velocidade das mudancas que se processam, o elevado numero dos centros de pressao e decisao e tendo ainda em conta a rapida disseminacao e globalizacao da informacao, cheguei a conclusao simples de que so conseguem sobreviver num ambiente assim, os dirigentes ou politicos que forem capazes de, também eles, mudar rapidamente de cor e linguagem e adaptar-se ao meio envolvente, isto é ser um "Camaleao" por excelencia.

E penso que isto nao sera nenhuma novidade, pois no meio empresarial ha muito que é assim, mas ali deram-lhe uma bonita roupagem intelectual e chamam-lhe "Inovacao".

Um abraco,

Cherno Baldé

JD disse...

Caro Virginio,
Toda a descrição que fazes da captura, é de um fino recorte que me apraz registar.
Fiquei muito favoravelmente surpreendido com os textos agora republicados, Parabéns.
Digo ainda, que também fico surpreendido com o post scriptum do Cherno crítico de uma "independência" forçada.
E sobre os camaleões, talvez se possa dizer, que também nós portugueses temos sido camaleões, pois desde o golpe de Abril e da aprovação da nova Constituição, os governos têm evoluído do socialismo progressista, para o neo-liberalismo trágico que nos projectou para a miséria actual, sempre com a aquiescência dos votos atribuídos em actos eleitorais.
Abraços frternos
JD