quarta-feira, 3 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11800: Estórias avulsas (64): A bananeira armadilhada e o frango desvitaminado (João Rebola)

1. Mensagem do nosso camarada João Rebola (ex-Fur Mil da CCAÇ 2444, CacheuBissorã e Binar, 1968/70), com data de 28 de Fevereiro de 2013:

Olá, amigo Carlos
Seguem duas "estorinhas" passadas em Bissorã.
No fundo, de entre muitas, foram situações vivenciadas em terras da Guiné, onde um pouco da nossa juventude foi severamente delapidada.

Um abraço
JRebola


A bananeira armadilhada e o frango desvitaminado

Estávamos em princípio de Abril de 1969. Os quartos dos furriéis da CÇac 2444, ficavam um pouco mais acima do tasco do “ Labinas”. Eu tive a sorte de conseguir um pequeno espaço, onde já se encontrava uma cama, uma mesinha de cabeceira e uma estante em madeira, ao fundo do quarto, pregada à parede. Mais, era impensável. E aqui assentei armas e bagagem, durante 14 meses.

Na “suite”, nada faltava: havia luz, rádio gira-discos, whisky, a foto da amada

Antes de iniciar estas pequenas “estórias”, pergunto-vos se ainda se lembram do” Labinas”?! Dele falarei um pouco mais à frente.

Então vamos lá às “estórias”.

Em frente dos quartos, encontrava-se um quintal com algumas árvores, arbustos e uma atrevida bananeira, que suspendia, para o vulgo apreciar, um grande cacho de bananas. Pelo mesmo, vagueava um belo frango. Dava gosto olhá-los. Mas era necessário tê-los debaixo de olho, não fosse o diabo tecê-las… Ora como o local era muito movimentado, devido à presença dos vários furriéis, que ali dormiam, não era fácil, durante o dia, serem surripiados. O leitor amigo, pergunta-me: - E de noite? Bom, responderei que a noite era boa conselheira, já que ninguém ousava entrar no quintal, sabendo que estava sujeito a arrepender-se!

Mas era eu que mostrava mais interesse pelos mesmos.

Ora, um dia, o pobre galináceo, talvez por só comer arroz ou por qualquer outro motivo, não conseguia levantar-se. Estava sem forças. E se lhe desse, as vitaminas que tomávamos na messe? Se bem pensei, bem o fiz! E deu resultado, pois ao fim de algum tempo, sem grande dificuldade, já se erguia, percorrendo-o e depenicando ali e acolá.

Acontece que tinha férias marcadas e pensei numa maneira de tentar que o cacho lá permanecesse até ao meu regresso: armadilhá-lo! Depois de dar conhecimento aos meus colegas do que me propunha fazer, assim procedi e com efeitos muito práticos. Passei vários fios pelas ditas – só para assustar - e dependurei uma granada de bazooka e algumas de mão – sem detonador, claro - e pronto, já está!

Que melhor guarda de honra poderia ter aquele cacho de bananas?!

Entretanto, nada aconteceu durante a minha ausência, em relação às bananas, mas algo tinha desaparecido do quintal: o frango, que me fora oferecido e que preso por uma pata o explorava, alimentando-se de arroz, dado pelos meus colegas e daquilo que as suas unhas iam descobrindo nos buracos que abriam.


Ah! Vamos ao “Labinas”.

Manuel Lavinas Soares, de seu nome, era um destemido soldado, condecorado com a Cruz de Guerra, pertencente a uma companhia sediada em Bissorã, em meados dos anos 60, terminando aqui a sua comissão. Talvez “ferido” pelas setas do Cupido, regressou para junto da companheira e filhos até a guerra terminar.

Paralelamente, ao ramo da restauração, tinha outro negócio, ou seja, dedicava-se também à compra de mancarra e caju, principalmente, dando, em troca, depois de pesados, o produto base da alimentação da população: arroz.

A pesagem (vi algumas) era feita num anexo contíguo ao tasco, afastada de qualquer olhar! Em Bissorã, no meu tempo, a messe dos sargentos funcionava numa casa particular, a do sr. Maximiano, marido da D. Maria, ambos cabo-verdianos. Era da responsabilidade desta última a confecção das refeições.

Ora, muitas das vezes, a comida não nos agradava e como tal, íamos ao “restaurante” do “Labinas”, que nos servia, entre outras coisas, frango assado com bastante “gindungo” e batatas fritas. Bebidas também não faltavam.

Foto de 1970 – petiscando (2º. à esquerda) com elementos do meu pelotão, no tasco do Labinas

Voltemos à “estória”.

Desaparecido o galináceo, que acabou por sucumbir, possivelmente, às mãos de (des)conhecidos para seu repasto - restaram as bananas. Bom, fosse quem fosse, o segredo ainda perdura!

O cacho das bananas foi cortado e dependurado no meu quarto, aí amadureceram e foram desaparecendo consoante a minha vontade.

E assim, vinguei o desaparecimento do meu frango.

Fotos de 2011 

O que resta da messe dos sargentos

Posando à porta onde era o tasco do Labinas

E acabaram assim estas simpáticas “estórias” que foram recordadas, passo a passo, quando me desloquei à Guiné-Bissau, com um grupo de ex-combatentes, numa viagem de saudade, em 2011. Ao fim de 41 anos, o sonho de um dia regressar àquelas terras, tornou-se realidade.

Espero ainda poder voltar, e se for o caso, direi: “Até ao meu regresso”
____________

Nota do editor

Último poste da série de 22 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11296: Estórias avulsas (63): O menino que não sabia ler (António Eduardo Ferreira)

Guiné 63/74 – P11799: Memórias de Gabú (José Saúde) (29): Apresentação do meu livro "As minhas memórias de Gabu" em Beja, dia 4 de Julho


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem desta sua série.


GUINÉ-BISSAU AS MINHAS MEMÓRIAS DE GABU 1973/74

Apresentação em Beja

Camaradas,



Na Biblioteca Municipal de Beja, José Saramago, terá lugar no dia 4 de julho, pelas 21h30, a apresentação da minha 5ª obra cuja temática se situa sobre a minha, nossa, obviamente, comissão militar na Guiné.

São histórias reais, contadas na primeira pessoa, admitindo que a temática relatada é, sobretudo, transversal a gerações que cruzaram o espaço territorial guineense. Foram, no fundo, 11 anos de guerrilha, onde se constata a infeliz realidade de milhares de mortos, outros estropiados e de gentes que vivem hoje sobre a patologia pós-traumática de uma guerra que não deu tréguas, entre outros que paulatinamente ainda vão contando as suas hilariantes narrações da guerrilha na Guiné.

Sou um dos muitos milhares de antigos combatentes que cruzaram a guerra com a paz e que se predispôs a compilar num livro uma vivência real num palanque onde conflito armado não dava sinais de apaziguamento.

A oportunidade será, também, um repto para os camaradas reviverem tempos passados, lançando, em simultâneo um grito de alerta, e de revolta, pelo esquecimento de antigos combatentes numa guerra, recente, que estilhaçou, em parte, a nossa juventude.

“Não é de jogos de guerra aquilo que aqui se fala, mas de simples memórias”, como diz Luís Graça no prefácio, neste contexto o conteúdo da narrativa é fértil em sentimentos comuns e de imagens que nos fazem reviver lugares partilhados.

Conto com a presença de ex-combatentes da guerrilha da Guiné.

Junto, claro, um panfleto do respectivo convite. 


Um abraço, camaradas 
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
___________
Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 

Guiné 63/74 - P11798: História da CCAÇ 2679 (62): Invasão em Bajocunda (José Manuel Matos Dinis)

Vista aérea de Bajocunda
Foto: © Amílcar Ventura, com a devida vénia

1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 27 de Junho de 2013:

Olá Carlos!
Já há algum tempinho que não dava notícias sobre a minha "guerra".
Hoje, subitamente, aflorou-me uma estória que passo a descrever.

Para ti, e para o tabancal, vai aquele abraço
JD


HISTÓRIA DA CCAÇ 2679

63 - INVASÃO EM BAJOCUNDA

Ainda hoje eu durmo profundamente, e passo entre 8 a 10 horas a dormir. É conforme. Também aguento menos, quando é preciso, mas por norma tenho um grande apego à cama. Naqueles tempos da juventude galdéria, se o corpinho era generoso a despender energias, também não abdicava das condições de recuperação, entre elas a de dormir profundamente, fosse debaixo do firmamento diamantino das noites guineenses, fossa no colchão de espuma da Manutenção Militar. Durmo, mas é raro roncar. Sou como um menino.

Tinha mudado para o quarto das traseiras, onde os ruídos da manhã levavam mais tempo a chegar, e eu permanecia sem dificuldades no limbo de sonhos quentes.

Uma ocasião, imprevistamente a meio da noite, senti uns abanões e abri os olhos sem força para reagir. Mas o que vi? Nosso Senhor! À minha frente, empunhando a espingarda-automática G-3, com o cinturão a pender da cintura, mas sem tapar o órgão genital, apresentava-se um contra-guerrilheiro, que identifiquei logo pela voz que, apesar de contida e assustada, permitia-me reconhecer um bravo combatente oriundo do Minho remoto, de Perre, mais propriamente, que adiantava: "eles estão cá dentro!".

Nem pensei no terrível significado daquela informação de alerta a exigir uma valente reacção, ou teria respondido para os mandar sair imediatamente, e que se pusessem na alheta para prosseguir a justa soneca. A minha displicência valeu-me um novo empurrão, e aí o Morais falou-me sério: "eles já estão cá dentro, mexe-te!". E dirigia-se à minha pessoa, não restavam dúvidas.

Soergui a cabeça e vi um autêntico homem-de-guerra, com uns chinelitos chineses enfiados nos dedos dos pés, fardado à pai Adão, feições rígidas, e equipado para matar. Pulei da cama, procurei a "canhota" e o cinto dos carregadores de municiação. Ainda procurei a boina, mas não era necessária. Nos quartos havia um bulício surdo. Estaríamos ali meia-dúzia de valentes furriéis à rasca com a situação. "Se eles já entraram, sabem que nós estamos aqui", disse um. "Foda-se!" respondeu outro. Com jeitinho cauteloso, alguém tentou abrir a porta para tentarmos constatar a situação no exterior, mas aquela merda velha e colonial, rangia com a deslocação e dava conta da nossa presença na casa.

Para que uma cabeça pudesse alcançar o exterior e perscrutar no escuro, foi preciso insistir no ranger da porta descaída, e logo soou um aviso sensato e acagaçado: "Não façam barulho com a porta, carago!". O Tito, que já usava uns óculos de lentes grossas, e estava dispensado das saídas noturnas porque se atirava paro o chão espampanantemente de cada vez que tropeçava numa ervinha, era, obviamente, o mais habilitado para proceder à observação.

Talvez por incapacidade para conter o nervosismo, ou para assustar o IN naturalmente surpreendido com a insólita decisão, começa a correr na direcção do pau-de-bandeira, na parada à nossa frente. Estupidamente solidário, atirei-me em correria atrás dele para lhe contar os balázios no caso do IN responder com artilharia. A meio caminho, já ultrapassados uns 20 metros de território beligerante, parámos surpreendidos pela total ausência de tiros.

"Foda-se! onde é que os gajos estão?" - interrogava-se um intrépido furriel miliciano, desejoso de aplicar uma valente lição nos irritantes perturbadores do sono alheio. Reorganizada a tropa como força de combate, dirigimo-nos para junto do Posto de Rádio de onde vinham vozes.

Estava lá o capitão Trapinhos, já antes alertado para a guerra e à procura de um lugar seguro, como seria o abrigo das transmissões, e mais alguma tropa de "especialistas". Ficámos então a saber, que o sargento David, movido pela insónia, ou pelos efeitos de alguns vapores etílicos, estava junto da porta da secretaria a contar carneiros que não acabavam, e viu umas silhuetas ao longe, a deslocarem-se com cargas destruidoras às costas em direcção aos obuses.

Ainda havia tempo para lançar o alarme, pois ainda nada tinha ido pelos ares. E foi o que fez. Dirigiu-se às Transmissões onde foi muito bem acolhido, e de onde, diligentemente, saíram os alertas para o capitão e oficiais. Ainda hoje não faço ideia como é que os furriéis foram alertados para a ameaça destruidora, mas lá que há bruxas, há!

Mais uma vez dei prova de uma estupidez descontrolada, e perguntei a s.exa. o capitão Trapinhos, se já tinha providenciado uma batida na aldeia, no sentido de evitar o pior. Não, não tinha. E logo me incumbiu de ali recrutar uma força para o efeito.

Lá fui com uma dúzia de bravos cozinheiros, mecânicos de viaturas e armamento, o escrita, o corneteiro, o básico, e mais alguns que não posso identificar. Dei uma instrução simples e fundamental, sobre a acção surpresa que íamos desencadear, sobretudo que não dessem tiros, ou teria que foder os cornos a algum gajo, para mais dos nossos.

Logo à segunda morança, talvez, entrei numa tabanca, pus a mão num cesto com milho, remexi, mas não achei nada além dos grãos. Na esteira, os olhinhos surpreendidos dos moradores, miravam-me estupefactos. Ainda havia um pequeno ajuntamento de panos, que segurei, mas nada de grave aconteceu. Entretanto, entrara atrás de mim, sem que disso me tivesse dado conta, um sacana que batisava as bajudas todas, e ao pousar os olhos sobre um gajo que ali estava encostado à parede de adobe, referiu que aquele não era dali. Confiado pelo absoluto conhecimento e identificação dos moradores, por parte daquele militar, aquela informação indiciava que ali havia coisa.

Disse ao desconhecido para sair comigo, o que o senhor fez sem protestos. Depois, já no exterior, chamei dois homens da força, e encarreguei-os de conduzirem o prisioneiro. "Para onde?" queriam saber. Caraças, em Bajocunda nem havia prisão! Mas, espertinho como sou, logo me lembrei de um local adequado, e mandei-o para o abrigo dos "auto-rodas", com a recomendação de que informassem o Pedro, que o cavalheiro ia ali passar a noite.

Depois, lembrei-me de como tudo tinha começado, e, conforme a informação, teria partido de uma constatação do sargento David, homem experiente de muitas guerras. "Pronto, malta! Vão mas é dormir, que já chega desta merda!"

E o pessoal destroçou. Eu regressei à cama onde me preparava para recomeçar a divagação de sonhos, quando começo a ouvir rajadas, que rasgavam chagas nas trevas da noite. Mas era do outro lado de Bajocunda, lá para o portão de acesso a Pirada. E os tiros continuavam numa cadência de uma arma solitária, com ligeiros intervalos, e dava-me conta que iam mudando de posição, e já pareciam vir do lado do portão de Amedalai.

Com frequência regular, percebia-se que a carga passaria em breve pelo arame do lado norte, e cheguei a pensar ir às traseiras da nossa casa, armar uma emboscada ao atirador, ou atiradores, que perturbavam o direito dos cidadãos ao merecido descanso.

Acabei por adormecer. No dia seguinte, fui acordado por um elemento da mecânica, que me transmitiu a pergunta do furriel Pedro sobre o destino a dar ao preso. "Ele que o meta num orificio", foi mais ou menos o que respondi. Depois levantei-me e fui tomar o valente "breakfast". Estavam lá dois ou três "gentlemen" mais madrugadores e muito bem informados, que comentavam os acontecimentos da noite.

Segundo eles, o bezanado quadro do exército português estava estacionado na varanda do edifício do comando, que também era sede da secretaria, e, nas traseiras, acolhia Jesus, o dedicado gerente do bar. Por entre desconformes raios visuais deve ter reparado em algum movimento de pessoal, provavelmente de militares do pelotão de artilharia que, oriundos da tasca em frente ao Silva, se deslocavam para junto dos obuses. Daí à operação mortífera sobre as NT foi só uma questão de extrapolação. Depois de desfeito o equívoco, o dito militar, não satisfeito, ainda decidiu lançar uma campanha de intimidação sobre o IN, pelo que convocou um condutor, e sobre um "unimog" circulante decidiu-se à perigosa tarefa de despejar carregadores atrás de carregadores, enquanto davam a volta à localidade, numa prática de despesismo em material de guerra, que deve ter ficado plasmado numa informação a letras de ouro, sobre a acção de rechassamento de uma qualquer suposta força inimiga.

Quanto à minha intervenção heróica, fiquei a saber que tinha capturado um parente de uma família residente, em passagem para um qualquer destino, mas de quem não se tinha conseguido a mínima informação de relação com o IN. Por fim, ainda decorrente da heroicidade do meu acto, o furriel Pedro tinha passado a noite de olhos arregalados, com a arma apontada para o inimigo capturado, que mecânicos e condutores lhe puseram à frente, em sinal de respeito e reconhecimento pela liderança na Secção. Andava a propalar que havia de dar-me um tiro nos cornos. Felizmente que ainda não os tinha, e acabou por esquecer o incidente.

Com homens desta fibra, defendeu-se, no meu tempo, a teoria do "direito real" no que respeitava à preservação histórica dos direitos lusitanos, sobre o exercício da posse e manutenção e desenvolvimento da integridade dos territórios pátrios.

JD
____________

Nota do editor

Último poste da série de 3 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11186: História da CCAÇ 2679 (62): Um caso com o Vieira (José Manuel Matos Dinis / Cândido Morais)

Guiné 63/74 - P11797: In Memoriam (154): Roberto Quessangue, cofundador e presidente da assembleia geral da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, especialista em questões agrícolas e ambientais, morre hoje no Hospital Nacional Simão Mendes, em Bissau


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Simpósio Internacional de Guiledje > 1 de Março de 2008 > Cerimónia de boas vindas aos convidados estrangeiros e nacionais > Roberto Quessangue, cofundador e presidente da Assembleia Geral da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, desempenhou nesta cerimónia o papel de interface entre a comissão organizadora do Simpósio e a comunidade local de Guiledje. Ei-lo aqui atento, ouvindo a voz dos homens grandes. O êxito do Simpósio deve-se também, em grande parte, à sua capacidade de trabalho em equipa.


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Simpósio Internacional de Guiledje (1-7 de março de 2008) > 1 de Março de 2008 > Visita ao antigo quartel de Guileje e cerimónia de boas vindas aos convidados estrangeiros e nacionais > Roberto Quessangue, de perfil.



Guiné-Bissau >  Bissau > Hotel Azalai >  Simpósio Internacional de Guiledje (1-7 de março de 2008) >  29 de Fevereiro de 2008 >  Receção de boas vindas aos convidados estrangeiros e nacionais. O casal Quessangue, Roberto e Francisca, com a Maria Alice Carneiro e a Diana Andringa. A  Francisca era antiga enfermeira do PAIGC, e, na data, enfermeira no Hospital Regional do Gabu. O Roberto Quessange tinha muitos amigos em Portugal, país de que gostava muito. Foram ambos uma presença constante, amiga e afetuosa, ao longo da semana, ele e a esposa.


Guiné-Bissau >  Bissau >  Simpósio Internacional de Guiledje > Convívio num restaurante da capital > 6 de março de 2008 > O casal Quessangue.


Guiné-Bissau > Bissau > Simpósio Internacionald e Guiledje (1-7 março de 2008) > Palácio Presidencial > 6 de Março de 2008 > À saída do edifício da Presidência da República, a então Ministra dos Antigos Combatentes da Liberdade da Pátria, Isabel Buscardin, de costas; e um elemento da comissão organizadora do Simpósio, cofundador e presidente da Assembleia Geral da ONGD AD - Acção para o Desenvolvimento, Roberto Quessangue, e antigo secretário de estado dos recursos naturais e do ambiente, no governo deposto pelo golpe de estado de 1998.




Guiné-Bissau > Região de Tombali > Simpósio Internacionald e Guiledje (1-7 março de 2008) > Florestas do Cantanhez > Visita ao acampamento (reconstituído) Osvaldo Vieira, a sul de Iemberém > 2 de março de 2008 >  Em primeiro palno, a Francisca Quessangue, esposa do Roberto, presidente da Assembleia Geral da AD, que eu descrevi, na altura, como "uma doçura de pessoa"

(...). "E, no entanto, tinha todas as razões para ter ódio no seu coração: o pai foi morto, com três tiros, friamente, por tropas africanas, por se recusar a denunciar os camaradas da guerrilha do PAIGC... Uma tia dela que estava grávida e que assistiu, aterrorizada, a esta cena, escondida por detrás de uma árvore, teve um aborto espontâneo. O pai da Francisca era papel, da região de Bissau. Viveu no mato, onde ela cresceu. Tinha responsabiliddaes políticas, não era combatente. A Francisca estudou enfermagem na ex-União Soviética. Estava num hospital de retaguarda, na fronteira, aquando do ataque a Guileje. Hoje é enfermeira no Hospital Regional do Gabu. É uma das oradoras do Simpósio. Vai fazer uma comunicação sobre "os aspectos sanitário-logísticos do PAIGC no assalto ao quartel de Guiledje", dia 6 de Março. Ostenta uma T-shirt com uma campanha da Unicef Semana Nacional de Amamentação. Hoje na Guiné-Bissau as jovens mães já não querem dar de mamar aos seus filhos, por razões estéticas". (...)



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Simpósio Internacional de Guiledje (1-7 março de 2008) > Aldeia piscatória de Cananima, na margem direita do Rio Cacine, frente à povoação de Cacine > Almoço da comitiva >  2 de março de 2008 > A Francisca com a Isabel Buscardini, na altura ministra dos Antigos Combatentes da Liberdade da Pátria.


Guiné- Bissau > Bissau > Um último adeus da AD ao seu cofundador e líder da assembleia geral, especialista em questões agrícolas e ambientais. Acaba de morrer hoje, em Bissau. Julgo que não teria 60 anos (LG).

Palavras que o Roberto Quessangue escreveu, aquando da criação da página da AD na Net, à laia de boas vindas:

"O elevado espírito de equipa e dinâmica de trabalho dos seus quadros e técnicos e, fundamentalmente, dos nossos parceiros comunitários, permitiu à AD demonstrar ao longo dos últimos 14 anos que é possível combater a pobreza, preservar a natureza e criar dinâmicas de progresso e desenvolvimento.

"Estamos igualmente muito reconhecidos aos nossos parceiros do Norte e numerosas pessoas singulares anónimas que se solidarizam e apoiam iniciativas das comunidades rurais e urbanas da Guiné-Bissau e que, graças à sua dedicação e interesse tornaram possível a implementação de diversas acções de desenvolvimento com resultados muito positivos.

"Se é verdade que muita coisa foi feita, porém, ainda muito mais está por fazer…

"Caros Amigos, a nossa ONG olha para futuro com optimismo.

"Como 'a amizade é o único combustível que aumenta à medida que é utilizado', aceitem o nosso abraço amigo".



Fotos (e legendas): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados.


 1. Mensagem que nos chega, hoje, de manhâ, às 11h56, dos amigos da AD - Bissau, 


Luís

Hoje é um dia muito triste para nós. Faleceu, no Hospital Simão Mendes, o nosso amigo, camarada e líder da Assembleia Geral da AD, Roberto Quessangue.

A AD presta-lhe hoje uma simples homenagem no seu site:
www.adbissau.org

Sei que o conheceste.

pepito

2. Reprodução do texto, coletivo, inserido hoje, no sítio da AD:

 Até sempre, Roberto

Jul 03, 2013

Como gostosamente sempre recordavas, foi debaixo daquela palmeira,  junto ao porto de Caboxanque, que convocaste um grupo de camaradas [, Pepito, Isabel Levy Ribeiro, José Filipe Fonseca, Nelson Dias, Isabel Miranda, Rui Miranda...] e os desafiaste: e se criássemos uma ONG?

Nascia aí, nessa manhã, no intervalo de uma reunião do DEPA [, Departamento de Experimentação e Produção de Arroz, ]

Lideraste durante 21 anos, como Presidente da nossa Assembleia Geral, os destinos da AD, usando sempre aquela simplicidade, ironia, inteligência e sentido de unidade, para marcares de forma definitiva a cultura da nossa organização, todos fortemente à volta de um ideal de sociedade e de desenvolvimento.

Com sabedoria, foste relegando para fora aqueles problemas existentes em todas as organizações de todas as longitudes e que conduzem à desunião e ao fracasso.

Lideraste a AD nos contatos internacionais, onde ninguém podia resistir ao encanto das tuas palavras e das tuas estórias e todos se rendiam à tua capacidade técnica e de argumentação.

Perdemos-te nós e perdeu o país, que nunca foi capaz de reconhecer o trabalho impar que fizeste sozinho em Boé. Outros tentaram, mas foram ficando pelo caminho.

A população de Boé, essa, guarda de ti a lembrança de ter trazido consigo,  durante os anos que lá estiveste,  a esperança de que tinha valido a pena a luta pela independência.

Serviste o país sem nada pedir em troca, mas recebeste da vida o reconhecimento daqueles que nunca esquecem: a família, os amigos e as populações.

Contaste sempre com a Francisca, tua mulher e companheira de sofrimento e alegrias.

A tua última grande preocupação foi a de criares os teus filhos e assegurares-lhes um futuro em que eles possam sentir o orgulho do pai que tiveram.

Esta madrugada, quando a noite partia e começava um novo dia, deixaste-nos, órfãos de um amigo, de um camarada, de um líder.

Estaremos contigo sempre, SEMPRE!

Os colegas da AD

3. Mensagem de L.G. enviada ao Pepito e demais amigos da AD:

Pepito: Tenho uma grata e terna memória desses dias em que convivemos, eu e a Alice, mais estreitamente com a Francisca e o Roberto!... É duro para todos, a começar para a Francisca e filhos, a perda de um marido, pai, cidadão, camarada e amigo como foi o Roberto... (Recordo-me dele me ter falado dos filhos, com ternura, estando eles na época a estudar no estrangeiro; bem como das saudades de Portugal e dos amigos portugueses).

Dá um abraço muito afetuoso e apertado à nossa querida Francisca (cuja anónima mas heróica história de vida tive o privilégio de ouvir, da sua própria boca, nessa "semana inolvidável" de convívio e de conhecimento mútuo que foi o Simpósio Internacional de Guiledje, de 28 de fevereiro a 7 de março de 2008). 

E, claro, para ti e para a AD, vai toda a minha solidariedade na dor pela perda de um elemento fundamental da equipa, e um grande amigo. Tenho várias fotos do Roberto, tiradas nesses dias, incluindo uma à porta da Presidência da República. 

Vou já fazer, na hora do almoço, um poste em sua memória. Diz-me mais ou menos em que ano nasceu e onde (Bissau? Ou Oio? Tenho ideia que ele era da região do Oio, e que também militou, como tu, na JAAC - Juventude Africana Amílcar Cabral ...Sei que ele tinha sido secretário de estado dos recursos naturais e do ambiente, no mesmo governo em que tu participaste antes do golpe de Estado de 1998. 

Se puderes, manda-me uma curta nota biográfica. Vou também reproduzir o teu texto, admirável, publicado na página da AD. Como é difícil falar dos nossos sentimentos de perda, num evento funesto como este. Mas soubeste fazê.lo com grande dignidade, sabedoria, razão e coração.
Um xicoração do Luis.
_______________

Nota do editor:

Último poste da série > 28 de junho de 2013> Guiné 63/74 - P11771: In Memoriam (153): Américo Justino do Carmo Martins, ex-sold cond auto, CCAÇ 557 (Cachil, Bissau, Bafatá, 1963/65): mais um homem bom que se despede da terra da alegria (José Colaço)

Guiné 63/74 - P11796: Os nossos médicos (57): A CART 3493 nunca teve médico - diz António Eduardo Ferreira; resposta ao inquérito por Jorge Picado

1. Ainda a propósito do tema Os nossos médicos, o nosso camarada António Eduardo Ferreira (ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493/BART 3873, MansamboFá Mandinga e Bissau, 1972/74) mandou-nos esta mensagem com data de 27 de Junho de 2013:

Amigo Carlos Vinhal
Antes de mais recebe um abraço e votos de boa saúde.

Ultimamente, tem-se falado no blogue de médicos que integravam os batalhões. Quantos iam naquele a que eu pertenci, o 3873, não sei, fui uns dias mais tarde, apenas conheci a companhia já em Mansambo, mas a Cart 3493 nunca teve médico, recordo-me, de quando estávamos em Cobumba lá ter ido o médico duas ou três vezes, penso que estava sediado em Bedanda, não tenho a certeza.

Aquilo que ele me disse a única vez que falei com ele, talvez seja exagerado dizer que foi uma consulta, eu estava tão fragilizado que tinha dificuldade em movimentar-me, a alimentação era péssima, e o que ele me disse foi: sei que estás doente mas não te posso mandar para Bissau, e a “consulta” terminou assim.
Eu não lhe tinha pedido para me mandar para Bissau, talvez por descargo de consciência me tenha dito aquilo.

No dia que viemos embora de Cobumba, só tínhamos uma viatura, para complicar mais as coisas, naquela manhã avariou, tudo o que tínhamos para trazer foi transportado às costas, ironia do destino, a pessoa a quem paguei para me levar as minhas coisas ao rio, tinha sido carregador do PAIGC, de nome Miranda.
Eu que até ao rio, cerca de um quilómetro, levei apenas a G3, as cartucheiras e uma mala com cerca de três quilos de peso, quando cheguei ao cais, mesmo sabendo que a LDG estava à nossa espera, ia de rastos.

Antes de terminar este reduzido texto, permitam-me que envie um abraço ao Cherno Baldé, o mundo necessita de homens que digam as verdades, não enviei nenhum comentário, mas li com atenção o trabalho por ele enviado.
Passados tantos anos, continuo achar que a guerra tinha que terminar, nem sequer devia de ter começado, mas a forma como foram abandonados aqueles que estavam connosco, foi cruel, pouco importa agora de quem foi a culpa… mas há coisas que não devemos esquecer.
António Eduardo Ferreira

**********

2. Sobre o mesmo tema recebemos esta mensagem do nosso camarada Jorge Picado (ex-Cap Mil na CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, na CART 2732, Mansabá e no CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72), com data de 28 de Junho de 2013 respondendo ao inquérito:

Amigo Carlos
Aproveitando um momento livre de acesso à NET, aqui da Costa Nova do Prado, onde o vento forte persiste em refrescar estes dias que dizem ser de calor (!), envio-te o que sei da "minha" Unidade "mãe", BCaç 2885 sobre os Serviços de saúde, de acordo com a ordem das propostas apresentadas.

Assim:

(i) Quantos médicos seguiram com o vosso batalhão, no barco?
R - Da HU constam 3 Alf Mil Méd que embarcaram com o BCaç.

(ii) Quantos médicos é que o vosso batalhão teve e por quanto tempo?
R - Só me recordo de dois deles, que permaneceram, um até final FEV71 e o outro foi transferido em 20NOV70 para o BCaç 2884, sendo substituído por um dos médicos dessa mesma Unidade que chegou a Mansoa em JAN71.

(iii) Lembram-se dos nomes de alguns? Idades? Especiallidades?
R - Os seus nomes eram: Drs José Maria Gomes Brandão, José Rego Sampaio (o transferido), Adelino Carlos F. G. Correia de quem não tenho qualquer recordação. Admito que pudesse estar em Porto Gole com a CCaç que aí estava colocada, mas isso só pode ser comprovado pelos camaradas que pertenceram à Unidade desde o seu início. O nome do que veio do BCaç 2884 por troca do transferido era António H. Bigotte D. Loureiro. Como eram Alf Mil foram com certeza no início da carreira.

(iv) Precisaram de alguma consulta médica?
R - Fui consultado mais do que uma vez, quer em Mansoa, quer no CAOP 1 em Teixeira Pinto. Em Mansabá não fui ao médico, mas fui ao HM de Bissau na sequência das consultas do Dentista, mas então para tratar da prótese.

(v) Estiveram alguma vez internados na enfermeria do aquartelamento (se é que existia)?
R - Havia Enfermaria no Quartel de Mansoa. Não estive internado na Enfermaria.

(vi) Foram a alguma consulta de especialidade no HM 241?
R - Fui ao HM de Bissau várias vezes, para consulta de Dentista de que acabei com a colocação da minha 1.ª prótese e depois, já no CAOP 1 acabei por baixar a este Hospital em 23NOV71 onde permaneci 3 ou 4 dias, ficando mais 2 em consulta externa, após uma grave intoxicação com sardinhas de conserva.

(vii) Foram evacuados para a metrópole, para o HMP?
R - Não.

(viii) Tiveram alguma problema de saúde que o vosso médico ou o enfermeiro conseguiu resolver sem evacuação?
R - Não.

(ix) O vosso posto sanitário também atendia a população local?
R - As POPs eram atendidas nos Serviços de Saúde em Mansoa pelos Médicos militares e também nas Unidades (e Destacamentos pelos Enfermeiros).

(x) (E se sim, o que é mais que provável:) Há alguma estimativa da população que recorria aos serviços de saúde da tropa?
R - Talvez muitas dezenas, se não mesmo centenas por mês.

Abraços para todos
JPicado

PS - Se o César Dias ou o Nabais quiserem ser mais precisos, agradecia.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 1 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11784: Os nossos médicos (56): respostas ao questionário: José Manuel Matos Dinis [,CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71]; José Santos [CCAÇ 3326, Mampatá e Quinhamel, 1971/73]; Rui Santos [4.ª CCAÇ, Bedanda, 1963/65]; Mário Serra de Oliveira [, BA12, Bissalanca, 1967/68]; e João Martins [, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda, Gadamael e Guileje, 1967/69]

Guiné 63/74 - P11795: Blogues da nossa blogosfera (65): Poema de Saudade sobre a Guiné, no Blogue da Lusofonia (Mário S. Oliveira)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Serra de Oliveira (ex-1.º Cabo Escriturário, Bissau, 1967/68), com data e 26 de Junho de 2013:

Camarada Carlos
Leio sempre com atenção e interesse qualquer mensagem - nova ou velha, com erros ou lapsos - sobre a Guiné.

Hoje li uma do Cherno Baldé. Isto despertu-me a memoria para descrevesse a minha experiência num determinado dia, após a Independência - quando membros da polícia e militares se deslocaram até ao meu restaurante, expulsando todos os clientes e prendendo 4 empregados meus.
Um deles ia preso por engano... mas, à saída, onde estava eu de "mãos no ar", porque me estavam a apontar 4 armas, "Ó-ti-kalas-ó-ti-fodes" (kalashnikovs) eu falei em crioulo para ele, que dissesse que ele não tinha sido militar no nosso lado, porque assim tinha sido.
Foi a sorte dele. Largaram-no e os outros... nunca mais os vi. Foi em 1975.

Um dia destes vou alinhar todas as memórias sobre este episódio e enviar a tua consideração.
Para já, se vistares htpp://lusolink.blogspot.pt, encontrarás uma mensagem intitulada "POEMA DE SAUDADE, SOBRE A GUINÉ". Talvez gostes de ler. Se quiseres publicar... à vontade!!!
Ao mesmo tempo, se visitares http://www.lusoamericano.com/epaper/june_26_2013.pdf
 edição de hoje..."clicando em "comunidades" lá encontrarás cerca creio que 2 páginas (ainda não vi) da minha autoria, com fotos e comentários.
Abraço
Mário Oliveira



POEMA DE SAUDADE SOBRE A GUINÉ

Presados leitores:
Num momento de nostalgia e de profundo sentimento sobre o meu "passado"... fico, por vezes, divagando sobre o porquê das circunstâncias da vida, me "terem aqui nestas paragens longínquas do nosso "torrão Natal", chamado Portugal.

No entanto, apesar de eu adorar tudo o que seja de origem Portuguesa - incluindo a nacionalidade - tempos houve em que, factores diversos marcaram a minha percepção do que é ou não é uma Pátria.

De facto... há o território (local) onde a "nossa mãe" nos dá á luz... e, o local onde... os governantes ou os cidadãos - POVO - nos acolhem como parte da família local. Foi o meu caso, na Guiné... que, durante o serviço militar e após um convívio diário com muitos guineenses, me dei conta que, o ser humano poder "mais e melhor" no trato e respeito para com os povos de outros latitudes do planeta terra. No meu convívio, fui sempre muito respeitador e condescendente, angariando a amizade de vários guineenses que, antes de terminar a minha comissão de serviço - na messe de oficiais da Força Aérea, em Bissau - se aproximaram de mim, pedindo-me para que não regressasse a Portugal - na ocasião conhecido como "A Metrópole", por ser a sede do Império português  - porque, diziam eles, eu era para eles, "um filho da terra", significando que me consideravam quase como um "familiar" deles.

Francamente sensibilizou-me esta atitude, coisa que muitos não tiveram esse privilégio, comovido ao mesmo tempo, decidi procurar um local de trabalho - na indústria hoteleira - e ficar por ali, na procura de arranjar alguns tostões e, logo que possível, regressar a Portugal para casar com a que hoje é minha mulher.

Assim foi, acabando por regressar à Guiné, já casado, onde acabei por ficar bastante tempo, sempre debaixo da amizade que me foi dada desde o início.

No entanto, houve ocasiões, em que a situação mudou, com a chegada de alguns elementos que "me desconheciam" e, como tal, tive alguns confrontos "agudos" sobrevivendo - vencendo - qualquer "quezília", originada pelo desconhecido. Principalmente depois da independência.  
E, se bem que nem todos têm o mesmo acolhimento, o certo é que eu, fui recebido na Guiné com carinho e respeito, ao ponto de me terem passado a considerar como "filho da terra" - termo usado na Guiné ainda hoje - o que me sensibilizou imenso, durante a minha longa estadia (quase 15 anos).
Nem todos se poderão dar ao "luxo" de assim ser, porque nem todos tiveram a mesma atitude para com os "nativos", o que, obviamente, influência a percepção tida para com cada qual. ´
A "amizade" é "um bem invisível" mas palpável, sentido no dia-a-dia, que se reflecte na mais intima circunstância... nos mais diversos locais do país. Por exemplo... viajando de Bissau para Farim - quase fronteira com o Senegal - e, após travessia do rio, a bordo de uma "jangada"... procurando "direcção" para a fronteira... imediatamente fui reconhecido e ajudado. Alguém ali mencionou o meu nome, como conhecido de Bissau, com minha reputação do modo como lidava com a população. De imediato me guiaram até ao local de acesso directo à fronteira do Senegal, troço de caminho em péssimas condições, cerca de 30 km... levando cerca de 3 horas a percorrer, devido a estado lastimável em que se encontrava.
Aqui, neste momento, só quero expressar o meu próprio estado de espírito, em relação à minha presença na Guiné, durante aqueles longos anos, onde passei os melhores dias da minha vida. 

Sim, já sei que, para alguns, poderá ser uma história "tediosa" mas, o facto é que, sem uma ligação "ao passado" o presente e o futuro não tem o mesmo valor. Viver sem passado, é não viver. Cada minuto, cada hora e, cada dia que se vive, passa a passado no minuto seguinte! O impacto do passado serve de "molde" para o futuro.
Por vezes... o sucesso ou o fracasso, depende do modo como se aplicam "as lições" sobre os actos ou erros do passado. É pois neste sentido que, me inspirei na composição de um poema sobre a Guiné do qual apresento um "um trecho", servindo como elo de ligação aos momentos mais importantes da minha vida.
Obviamente, haverá leitores que nem têm a mínima ideia sobre  trecho de história, ligado ao período das colónias e, especialmente, ao período da guerra de descolonização. Compreendo perfeitamente  mas, o facto de desconhecerem, não significa que não devem "querer saber" porque... a 1ª e 2ª grande guerra já foi há muito mais tempo e, ainda hoje se fala dela. Por vezes, pelas piores razões mas, noutras, em celebração de certo eventos.
Mais uma vez, recordar o passado, é "viver o presente".

Aqui vai....

GUINÉ...

É para mim, o que foi e o que é...
Terra "mística" na minha diária "ré"...
Explicar melhor, não sei como é...
Onde vivi muito tempo, sempre com fé...
Em situações - algumas - de finca-pé...
Chegando ao fim... porque até...
Não valia a pena... remar contra a maré!...

É...
Quisera eu lá voltar, à Guiné...
Quisera eu lá viver, na Guiné
Quisera eu lá vegetar, na Guiné
Quisera eu lá passar os últimos dias... na Guiné
Quisera eu lá "dormir o sono eterno", na Guiné!

É...
Na Guiné... passei os melhores dias da minha vida
Na Guiné... a esperança nunca estava perdida...
Na Guiné... as tristezas, transformavam-se em alegrias
Na Guiné... o não ter pão, criava ansiedade,
Na Guine... o dinheiro não era equidade
Na Guiné... o maior bem... era a amizade.

Obrigado Povo da Guiné!!!

Continua...
____________

Nota do editor

Último poste da série de 11 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11692: Blogues da nossa blogosfera (64): "Pieces of my life" - Portugal, África e Estados Unidos da América (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P11794: Manuscrito(s) (Luís Graça) (5): fumo, logo existo

fumo logo existo

mais um dia mundial do não fumador.
global, nacional,  regional, local.
só não o foi na minha freguesia.
nem no tasco que eu frequento.
nem na fábrica onde eu trabalho.
nem no meu bairro (social)
onde não há trabalho decente para a gente.
nem na rua do monóxido de carbono que é a minha.
nem na minha casa
em que o tabaco é o xanax do mulherio.

dizem-me que se aperta o cerco aos fumadores.
que pelas estatísticas são
os que ainda não trabalham
mais os que já trabalham
e os que estão na casa dos trinta
e mais os que já deixaram de trabalhar.
(os que ficaram pelo caminho
ou na ponta final da linha de montagem,

ou na autoestrada da vida, ao km 40, 50, 60).
ouvi o telejornalista de serviço
(fez-me lembrar o porta-voz
do tribunal do santo ofício
que condenou à fogueira o tetravô
do meu tetravô, cristão-novo de penamacor).

o inquisidor-mor malha nas mulheres portugas
que estão a estragar as estatísticas sanitárias.
diz o senhor diretor geral:
os portugas ainda podem orgulhar-se,
(ao menos, valha-nos isso!),
de serem os menos fumadores da eurolândia.

repete o loquaz locutor:
não fumar está na moda.

é politicamente correto, é fixe.
faz à bem à saúde e à carteira.
os portugas que não fumam ou deixaram de fumar
estão na moda, são fixes.

eu, fumador, de maço e meio, me confesso.
desde tancos, ou figo maduro, ou bissalanca,
já não sei onde nem quando comecei a fumar,
mas foi na tropa.
não quero estar na moda, não quero ser fixe.
quero e não quero deixar de fumar,
mas temo o cerco,
como em guidaje.
cerco, é isso.
os tempos são bons para apertar o cerco
aos fumantes. aos novos párias sociais,

aos desalinhados, aos marginais-secantes,
às amplas minorias, aos novos inimigos da ordem pública.

o pretexto pode ser a nova peste branca,
a pandemia da gripe,
o direito à saúde,
a economia da saúde,
os direitos e liberdades e garantias dos não fumadores,
o fumo passivo,
mais as contas públicas, o endividamento das famílias,
o exemplo (triste) do cowboy da marlboro
que era gay e morreu de cancro,
a nova ética do trabalho,

ou a falta de ética e de trabalho,
o sobreaquecimento do planeta,
o medo e sobretudo o medo do medo,
a produtividade do trabalho,
a competitividade das empresas,
a identidade da nação,
a incultura do tabaco,

a globabilização, e a verdade trágica das estatísticas da saúde,
os superiores desígnios do estado e o seu biopoder,
enfim, e não menos importante, 

a poluição tabágica,
que além dos pulmões dos colarinhos azuis
e do resto do corpinho da gente,
dá cabo da pintura dos tetos e das paredes,
do sistema de ar condicionado,
dos microequipamentos,
dos circuitos integrados dos computadores,
das mother boards, dos chips,
das placas gráficas,
dos neurónios dos colarinhos brancos e dourados,
da testosterona da dream team,
dos satélites das telecomunicações,
dos estofos do carro do patrão,
da pele de veludo da gaja do patrão,
do clima organizacional da empresa,
da missão, dos valores, da estratégia,
do ranking de portugal no mundo.


o tabaco que mata meio milhão de eurolandeses por ano,
morrem que nem tordos, dizem,
diz o sanitário de serviço,
doze mil, falando só de portugas.

mais num ano do que em 13 anos de guerra colonial,
e o mulherio a dar cabo da estatística,
diz a senhora enfermeira lá da fábrica!

não vi, todavia,
as empresas portuguesas seguirem o exemplo
das suas congéneres multinacionais
que operam cá no burgo,
como a ibm ou a siemens ou a cisco,
não vi os senhores gestores engravatados lá da minha guerra
virem à televisão dizer com orgulho:
somos mais uma smoke free company,

somos amigos do ambiente,
somos gajos decentes,
somos verde-rubros,
somos patriotas,
não fumem, seus idiotas,
criamos riqueza e saúde,
não fume, seus cabrões,
que o tabaco dá cabo do tesão!...

não, eles, os senhores e as senhoras da gestão do pessoal,
os senhores engenheiros da organização e métodos,
eles e elas, não têm lata para o fazer,
porque antes disso teriam que dar o exemplo,
e mostrar que também dão bons exemplos
de boas práticas noutras matérias
como a proteção ambiental,
a ergonomia da minha máquina de comando numérico,
o apoio aos órfãos e viúvas
dos operários que morreram a trabalhar,
a proteção da saúde e segurança dos trabalhadores,
a consulta e a participação do zé portuga,
a cidadania organizacional, 
ou lá o que isso queira dizer,
as boas contas, o blá-blá,  coisa e tal,
a garantia do trabalho decente,
o sentido de responsabilidade social,

e toda blá-blá de merda que os gajos e as gajas usam.

e a propósito:
alguém sabe explicar-me
o que é isso de trabalho decente, vida decente,
salário decente, condições de trabalho decentes,
cuidados de saúde de decentes,
ambiente decente, educação decente, habitação decente, 

saúde mental decente, intimidade decente,
privacidade decente, humanidade decente ?

também eu quero viver
decentemente,
respirar decentemente,
comer decentemente,
amar decentemente,
envelhecer decentemente 
e morrer decentemente.

hoje é dia mundial do não fumador,
uma vez por ano, todos os anos,
só não o foi na minha parvónia dos arrabaldes,
nem na caserna da minha memória,
nem no tasco que eu frequento,
nem na fábrica onde eu trabalho,
nem no meu bairro (social)
onde não há trabalho decente para a gente
nem dinheiro para o tabaco que engana a fome,
e a apagada e vil tristeza do nosso quotidiano.

e a angústia do amanhã sem amanhã,
a falta de graveto, pilim ou guita
para oferecer uma rosa à patroa
que agora vai fazer cinquenta anos 
e é mais nova do que eu.

hoje foi um dia trivial,
como os outros,
não dei por nada de especial.
hoje o estado arrecadou mais de 600 mil euros
de imposto sobre o vício de fumar,
33 homens e mulheres, meus compatriotas,  morreram
de doenças relacionadas com o tabagismo,
não vi nem ouvi os senhores ministros preocuparem-se
com os que trabucam e fumam,
com os pobres que fumam e que vão morrer,
vão morrer do trabalho e do cigarro e do cancro do pulmão,
tal como os outros que não fumam,
nunca fumaram ou deixaram de fumar.
ou que não trabalham.
um dia todos vamos morrerm
conheço essa teoria, a da dissonância cognitiva,
diz-me o doutor médico do trabalho lá da fábrica
e que até é um gajo porreiro
porque fuma,
tem paleio p'ra malta do fato macaco
e sabe que fumar e trabalhar fazem à mal saúde,
a gente precisa sempre de um bom alibi,
quer dizer uma desculpa,
para adiar a puta da morte
ou fintar a morte como na guiné,
a gente precisa de esconjurar a morte,
a malapata, a doença, a dor,
os medos, os fantasmas da noite,
a mina anticarro ou a emboscada na picada para guidaje.
a travessia do cacheu, a subida ao céu na ponte do jagarajá.
a descida ao inferno de gadamael,
o trânsito no purgatório do xime,
o juízo final em guileje,

o helicanhão a varrer o chão no choquemone,
a danação eterna em  canquelifá.
amen, 
padre nosso, avé-maria
que deus tenha em santo descanso 
os meus pobres camaradas que lá ficaram
e que eu tive de deixar para trás.

minto: o senhor ministro da saúde
que também o é da saúde pública,
da saúde da gente,
das crianças que estão no ventre
das mães toxicodependentes e das mães fumadoras
e das mães operárias do vale do ave,
o senhor ministro
acaba de anunciar a sua (dele e do governo) intenção
de aumentar o número de consultas hospitalares
de desabituação tabágica.
eu aplaudo,
com duas mãos e um rajada de gê três
que era  a minha gaja na  centésima vigésima qualquer coisa
companhia de caçadores paraquedistas.
de setenta e dois a setenta e quatro,
na guiné, longe do vietname.

mas quantas (consultas) não disse, o senhor ministro da doença,
nem onde nem com que meiosm
ele há montes de tugas a pedir ajuda,
não há técnicos para as encomendas,
e, os que há, são voluntários.
psicólogos à procura de espaço de trabalho
no mundo das batas brancas.
há listas de espera de dois anos,
para este tipo de consulta,
no serviço nacional de saúde
sua excelência bem sabe melhor do que eu.
e a propósito: diz-se desabituação
ou cessação tabágica ?
cessação, dizem os puristas.

que fumar é uma doença,
uma pestilência,
um pecado mortal,
um gajo morre e ainda por cima vai para o inferno.
mas o que é que um gajo como eu,
ex-combatente,
fumador compulsivo, de maço e picos
(que a guita não dá para mais),
faz em dois anos ?
dá em doido ?
morre de cancro ?
estoira com os miolos ?
trepa pelas paredes acima ?


em dois anos um portuga fumante como eu
acendeu pelo menos 21900 vezes o isqueiro,
fumou pelo menos 21900 cigarros (fora o cravanço).
ficou exposto a 4 mil produtos químicos
vezes 22 mil cigarros,

ou serão 5 mil ?
mais mil menos mil, tanto faz.


por conseguinte, um gajo está arrumado
ao fim de dois anos de espera na lista de espera
e a continuar a fumar,
e a trabucar.

e a pagar o imposto do vício,
a tirar o leitinho àd criancinhas,
e a foder o coirão, como no morés ou no fiofiili.
eu queria deixar de fumar, 

sinceramente queria deixar de fumar,
talvez alguém me possa ajudar,
lá em casa todos fumam.
e as mulheres (a patroa e as duas filhas) 

mais do que os homens.

eu fico, por isso, sensibilizado
com a sensibilidade do senhor ministro da saúde,
que é doutor e é um gajo bestial,
que se preocupa com a gente.

com os que não fumam
e apanham com o fumo dos que fumam,
mas também com os que fumam e trabalham como eu,
que fiz e perdi a guerra dita colonial,
classe operária, malandra, tunante,
grevista, marginal, quezilenta,
todos feios, porcos e maus,
e fumante como eu,
embora em vias de extinção
enquanto classe mal comportada,

e pior qualificada.


no dia mundial do não fumador,
eu  pichei no muro do cemitério, 
a caminho da fábrica,
fumo, logo existo.
imaginem se eu não fumasse:
estava tramado,
ninguém se preocupava comigo,
mas neste dia tenho a certeza que
alguém se preocupou comigo,
um ministro da saúde, 

médicos, enfermeiros, psicólogos.
padres, polícias, jornalistas, amigos.
cangalheiros, coveiros.
educadores, doutores em ética,
teólogos, estatistas, informáticos, 
locutores da TV, radialistas, epidemiólogos,
patrões do século vinte e um,
gestores do capital humano, 

técnicos de seguros,  sociólogos
e até banqueiros,
tudo gente importante e séria e engravatada.


hoje houve gente que se preocupou comigo.
e isso tocou-me,
deixou-me sensibilizado,
senti-me importante, 
mesmo que sozinho no meio da multidão do metro.
de casa para o trabalho e viceversa, cansado.
talvez eu ainda tenha sorte,
e vá a tempo de me inscrever
numa consulta de desabituação
(perdão, cessação) tabágica
em 2005,

mesmo com meio pulmão,
bem humorado,
a sorrir à vida e a piscar um olho à morte,

ou talvez morra antes, de febre hemorrágica.
ou de uma simples constipação,
ou passado a ferro na passadeira para peões,
numa qualquer sexta-feira à noite
onde há gajos, bêbedos, de carro
com licença para matar,
como eu como me deram um gê três

17/11/2003. 

revisto 

Luís Graça

_________

Nota do editor;

Último poste da série > 18 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11723: Manuscrito(s) (Luís Graça)(4): Comment ils sont toujours gais, les portugais!

Guiné 63/74 - P11793: O Nosso Livro de Visitas (166): António Madeira, ex-militar do BCAÇ 2912, trazido até nós pelo nosso camarada Juvenal Amado

1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 25 de Junho de 2013:

Caro Carlos
Ontem mandei-te um texto onde transcrevia uma história infelizmente real de um camarada da 2912 que se chama António Madeira, natural de Castelo Branco, que está hoje numa situação dificil.
Acabei de receber autorização dele para mencionar o seu nome e assim envio-te o original contada por ele mesmo.
Um abraço
Juvenal Amado


2. Mensagem do nosso camarada António Madeira que pertenceu ao BCAÇ 2912:

Caros amigos deste extraordinário Grupo de convívio à distância, hoje decidi contar-vos uma história pessoal:

Eu não sou muito preciso em datas mas, no dia em que os "piriquitos" do BCAÇ 3872 chegaram a Galomaro (ao principio da noite) nessa tarde eu fui tomar banho à "bolanha" que ficava à saída de Galomaro e à esquerda na estrada para Bafatá. Num dos "mergulhos" bati com a cabeça no fundo da referida "bolanha" e fiz uma luxação na cervical. No dia seguinte fui evacuado para o Hospital de Bissau onde permaneci cerca de um mês.

Passei à disponibilidade com uma má postura na cervical e passados uns anos tive que ser operado no Hospital Stª Maria em Lisboa, ficando com uma parcial mas acentuada deficiência física que, ao longo dos anos, foi aumentando e há dois anos a esta parte fiquei confinado a uma cadeira de rodas e impossibilitado de sair de casa.

É esta a minha recordação viva e diária, de GALOMARO... DESTINO... E PASSAGEM.

A vida continua
Um abraço para todos.
António Madeira


3. Comentário do editor

Caro camarada António Madeira
Muito obrigado pelo teu contacto via Juvenal Amado.
Parece que dominas o computador. Assim, convidamos-te a aderir à nossa Tabanca. Vais ver que começando a contar as tuas histórias e a enviar as tuas fotografias, passas melhor o tempo e ajudas a aumentar este espólio de memórias de ex-combatentes da Guiné.

Diz-nos qual foi o teu posto, especialidade, unidade dentro do Batalhão, data de ida e regresso da Guiné, locais onde cumpriste a tua comissão de serviço e outros elementos que aches útil fornecer para que te possamos conhecer melhor.
Não esqueças de enviar uma foto do teu tempo de tropa para os nossos arquivos.

Pela tua mensagem ficamos a saber que a tua saúde se está a ressentir do grave acidente que sofreste na Guiné. Lamentamos que estejas a passar por essa situação. Oxalá o nosso blogue possa contribuir para ocupares o teu tempo. Casos similares ao teu aconteceram infelizmente com alguma frequência, havendo a lamentar até casos de afogamento e desaparecimento de cadáveres.
Acontecimentos que tinham a ver a juventude, altura em que nos julgamos imortais.

Caro camarada, esperamos mais notícias em breve. Vamos pedir ao Juvenal que te faça chegar a nossa mensagem/convite.

Recebe um abraço em nome da tertúlia e dos editores, e os votos da melhor saúde possível face aos condicionamentos próprios da tua deficiência.

O teu camarada e amigo
Carlos Vinhal
____________

Nota do editor

Último poste da série de 24 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11454: O Nosso Livro de Visitas (165): Um "recuerdo" do ex-1º cabo op cripto Luís Nascimento, CCAÇ 2533 (Camjambari, 1969/71)

Guiné 63/74 - P11792: Convívios (520): XIII ENCONTRO/CONVÍVIO dos Combatentes da Guerra do Ultramar de Barroselas, decorreu em 29 de Junho (Sousa de Castro)



1. O nosso camarada Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74), enviou-nos a seguinte mensagem.


XIII Convívio/Encontro dos Combatentes da Guerra do Ultramar
Barroselas – Viana do Castelo

Como já é tradição a comissão de Combatentes do Ultramar de Barroselas, levou a efeito no dia 29 de Junho de 2013, o XIII Convívio/Encontro.

Pelas 11,00 horas, procedeu-se ao início da cerimónia com, hastear da Bandeira Nacional, junto ao Monumento dos Combatentes ao som de toque apropriado, pela Fanfarra do “Agrupamento 85 dos Escuteiros de Barroselas”, seguido de missa em honra por todos que morreram ao serviço de Portugal, na Capela de S. Sebastião.

Missa concelebrada por vários sacerdotes e antigos capelães do Exército, nomeadamente pelo, ex. Alf. Grad. Capelão - Manuel Martins da Costa Pereira, que serviu o Estado Português na Guiné no BART 3873, no período de Dezembro de 1971 a Abril de 1974.

No final, depois de várias intervenções alusivas ao evento pelas autoridades convidadas, homenageou-se os combatentes vivos e falecidos com deposição de uma coroa de flores junto ao monumento.

Pelas 13,00 horas, animado almoço num restaurante local, com um momento alto ao ser declamado um poema transcrito abaixo da autoria do veterano da Guerra do Ultramar, João Ballester. 

SC

COMBATENTE DO ULTRAMAR

João Ballester (autor do Poema)

Soldado forte, destemido,
Da tua Pátria partindo
Com rumo desconhecido,
Cheio de esperança, sorrindo,
Caminhaste de rosto erguido.

Soldado firme, homem leal,
Cumpridor do teu dever,
Lutaste na guerra colonial
Mas antes quebrar que torcer,
Na tua alma, de raça imortal.

Soldado das amargas ilusões
Que sofreste no Ultramar, 
Vivias em tuas lamentações
Mas também sabias rezar
E suportar tuas aflições.

Que, no Ultramar lutando, 
Nunca mostraste vaidade,
Quantas vezes chorando,
Da família com saudade,
Só desejavas a felicidade.

Soldado que sempre contigo
Tens no peito a Pátria mãe,
De quem tu és um amigo,
Amigo como talvez ninguém,
Eu te saúdo e bem digo.

És a virtude, a nobreza
Do sentimento profundo, 
És o trabalho, a riqueza, 
Foste o exemplo do mundo
És a pura alma, portuguesa.

João Ballester

Algumas fotos:

 Sousa de Castro com o ex. Alf. Grd. Capelão do BART 3873 Manuel Martins da Costa Pereira



____________
Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: