terça-feira, 30 de agosto de 2016

Guiné 63/74 - P16431: Álbum fotográfico de Adelaide Barata Carrêlo, a filha do ten SGE Barata (CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego, 1969/71): um regresso emocionado - Parte VIII: Bafatá, o restaurante "Ponto de Encontro", da Célia e do João Dinis, os nossos mais recentes grã-tabanqueiros



´
Guiné-Bissau > Bafatá > Outubro de 2015 > Restaurante "Ponte de Encontro"


Foto (e legenda): © Patrício Ribeiro (2016) Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico e das notas de viagem de Adelaide Barata Carrelo, à Guiné-Bissau, em outubro-novembro de 2015 (*)

[Foto à esquerda, a Adelaide Carrêlo mais o dono da casa, o João Dinis, um antigo militar português, natural das Caldas da Raínha,  que fez parte da CART 496 (Cacine e camecon de, 1963/65), que tem também uma escola de condução, e é casado com a Célia (**); a Adelaide conheceu o João Dinis, em 1970, em Nova Lamego, aos sete anos; ambos pertencem agora à nossa Tabanca Grande]. 

_______________

Notas do editor:

´(*) Último poste da série > 29 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16429: Álbum fotográfico de Adelaide Barata Carrêlo, a filha do ten SGE Barata (CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego, 1969/71): um regresso emocionado - Parte VII: Bafatá, Rio Geba 
ao pôr do sol

(**) Vd. poste de 5 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14120: Manuscrito(s) (Luís Graça) (43): Notas à margem do documentário de Silas Tiny, "Bafatá Filme Clube", com direção de fotografia da Marta Pessoa (Portugal e Guiné-Bissau, 2012, 78')

(...) )(ix) O João Dinis… Um camarada do nosso tempo que ficou em Bafatá, veio casar a Portugal e levou a esposa, Célia, para a Guiné em 1972… É um homem, desencantado, precomente envelhecido, mas ainda a reconhecer que ama África e a terra que escolheu para viver e trabalhar. 

Quando jovem, vivia melhor em Bafatá do que em Portugal, costumava dizer ele para os seus antigos camaradas de armas... Mas hoje confessa que ainda sonha em acabar os seus dias na sua terra, Portugal… O casal, João e Célia Dinis, abriram um negócio na área da restauração e hotelaria, mas hoje a baixa de Bafatá não tem gente, está às moscas…“O movimnento é que faz falta", diz ele... Havia barcos, havia camiões, sempre a carregar e a descarregar, havia correpios de gente na baixa... Agora é o vazio, diz o Toninho, que deve ser homen dos seus cinquentas e tais anos (, era criança quando das primeiras flagelações do PAIGC a Bafatá, em 1973, de se lembra bem; o pai mandava o Canjajá desligar as luzes do cinema e levar o Toninho e os primos para casa...).

(x) No filme, o João Dinis fala para a câmara, num verdadeiro monólogo, tentando explicar as razões por que se foi deixando ficar até hoje...O realizador e o diretor de fotografia não fazem perguntas nem fornecem informação de contextualização: Bafatá é atravessada por uma "câmara muda"; há momentos de antologia como a sequência da partida de futebol, disputada ao longe (no estádio da Rocha) sob um uma nuvem de pó que se poderia confundir com o cacimbo...); ou a cena em que Canjajá, vestido de preto e com ar de asceta, faz as suas orações virado para Meca, enquanto um grupo de mulheres, a um canto da casa, tagarelam e dão continuidade à vida; ou ainda a cena, bem conseguida, em que um voluntarioso entrevistado se transforma em proativo entrevistador, inquirindo em crioulo, de microfone em punho, a opinião dos seus conterrâneos sobre o futuro de Batafá... E tem um comentário final otimista: "Bafatá há-de mudar para melhor, se Deus quiser" (...)


(...) Não sei se Canjajá e o seu cinema são uma "metáfora de Bafatá" e da própria Guiné-Bissau .... Talvez sim, da Guiné-Bissau e da própria África pós-colonial... É seguramente uma metáfora das nossas ruínas, materiais e imateriais, as que ficaram do nosso império...

Mas o mérito do realizador e da equipa é terem ido para Bafatá, despidos de preconceitos etnocêntricos... E trata-se de cinema lusófono!... Por outro lado, o filme faz-me lembrar o "Nuovo Cinema Paradiso", do italiano Giuseppe Tornatore (1988)... Mas isso daria aso a outras reflexões sobre o cinema enquanto objeto de cinema que não cabem aqui neste blogue e nestes "manuscritos" (...)

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Guiné 63/74 - P16430: (De)Caras (44): Os "periquitos" da Tabanca da Linha: almoço-convívio de 21 de julho de 2016, no restaurante "Caravela de Ouro", em Algés, Oeiras (Manuel Resende)


Foto nº 8


Foto nº 9


Foto nº 10


Foto nº 11



Foto nº 12



Foto nº 13


Foto nº 14
«

Foto nº 15

Oeiras > Algés > 21 de julho de 2016 > Restaurante Caravela de Ouro, Alameda Hermano Patrone, 1495 ALGÉS (Jardim de Algés) > 26º convívio da Magnífica Tabanca da Linha (*) > "Periquitos" (**)...

Fotos (e legendas): © Manuel Resende (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

[Foto à esquerda: Manuel Resende, ex-alf mil da CCaç 2585/BCaç 2884, Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71; fotógrafo oficial e 2º secretário da Tabanca da Linha]


Aqui vão as legendas:

8 - O António Gil, das Caldas da Raínha, camarada do Diniz Souza e Faro e do António Chaves, conhecidos desde os tempos de Cameconde, de Artilharia pesada, foi meu convidado. Apanhei-o no Facebook, convidei-o e cá está ele. Parece que não irá faltar mais aos nossos convívios.

9 - Os três de Artilharia, Diniz Souza e Faro, António Gil e António Chaves.

10 - Os três de Artilharia, Diniz Souza e Faro, António Gil e António Chaves.

O Luís Paulino, de Algés, convidou também 3 piras da zona:

11 - José Rei, de Sesimbra, da CCAÇ 3459 - Teixeira Pinto.

12 - Walter Lacasta, de Carnaxide, da CCAÇ 3460 - Cacheu.

13 - João Mata, de Palmela, CART 1746 - Bissorã.

14 - O António Alves Alves, de Lisboa, já membro da Magnífica Tabanca da Linha há bastante tempo, fez-nos a sua primeira visita e creio que gostou. Pertenceu à CCAV 8351 e esteve sempre em Bissau no(a) COMBIS.

15 - O Fernando Sousa, de Lisboa, já bem conhecido de todos nós, como membro da Magnífica Tabanca da Linha foi a primeira vez que veio aos nossos convívios. Levou o seu livro "QUATRO RIOS E UM DESTINO" para venda, e creio que vendeu alguns exemplares.
_________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

Guiné 63/74 - P16429: Álbum fotográfico de Adelaide Barata Carrêlo, a filha do ten SGE Barata (CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego, 1969/71): um regresso emocionado - Parte VII: Bafatá, Rio Geba ao pôr do sol


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > Outubro de 2015 > Ponte Nova > Pôr do sol no rio Geba (1)


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > Outubro de 2015 > Ponte Nova > Pôr do sol no rio Geba (2)



Fotos (e legendas): © Adelaide Carrêlo (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico e das notas de viagem de Adelaide Barata Carrelo, à Guiné-Bissau, em outubro-novembro de 2015 (*)

_____________

Nota do editor:

Último poste da série > 24 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16417: Álbum fotográfico de Adelaide Barata Carrêlo, a filha do ten SGE Barata (CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego, 1969/71): um regresso emocionado - Parte VI: Bafatá, parte velha


Guiné 63/74 - P16428: Convívios (766): Os "tugas" de Bafatá... Agosto de 2016, restaurante "Ponto de Encontro", do casal Célia e João Dinis a quem prestamos uma emocionada homenagem (Patrício Ribeiro, Impar Lda)




Guiné-Bissau > Bafatá > Agosto de 2016 > Restaurante "Ponte de Encontro" > João e Célia Dinis, os donos anfitriões, e os tugas mais antigos




Guiné-Bissau > Bafatá > Agosto de 2016 > Restaurante "Ponte de Encontro" > Foto nº 2 > Da direita para a esquerda, Célia, Dinis, Sebastião, Nuno, Aprilio e Patrício...  


Fotos (e legenda): © Patrício Ribeiro  (2016) Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


1. Mensagem do nosso grã-tabanqueiro Patrício Ribeiro [, da empresa Impar Lda]

[Foto à direita: Patrício Ribeiro, de 68 anos de idade, português de Águeda, vivido, crescido, educado e casado em Angola, Nova Lisboa / Huambo, antigo fuzileiro naval, que retornou ao "Puto" depois da descolonização, fixando-se entretanto na Guiné-Bissau, há 3 décadas, país onde fundou a empresa Impar Lda, líder na área das energias alternativas; é um daqueles portugueses da diáspora que nos enchem de orgulho e nos ajudam a reconciliarmo-nos com nós mesmos e afugentar o mau agoiro dos velhos do Restelo, dos descrentes, dos pessimistas; é de há muito tratado carinhosamemte como o ´pai dos tugas´, pelo apoio que dá aos mais jovens que chegam à Guiné-Bissau, em visita ou em missões de cooperação]


Data: 28 de agosto de 2016 às 22:55
Assunto: Os "tugas" de Bafatá


Homenagem:

Junto fotos do nosso almoço de jhm domingo de Agosto, com o petisco que nos brindou a Célia [Dinis].

Este grupo é frequente (, quase todos os dias),  no Restaurante Ponto de Encontro,  de Bafatá.

Somos tugas que por lá trabalhamos há muitos anos e,  como habitualmente, o nosso convívio é no Ponto de Encontro.

Quase todos os dias telefonamos de Pirada, Buruntuma ou Canquelifa.

Depois do nosso almoço, "lata de atum com pão"...
- Ó Célia, hoje à noite há sopa?

Ela lá responde que alguma coisa se há-de arranjar...

Assim sendo, aqui vai uma homenagem a este casal que,  de dificuldade em dificuldade, adoram a sua cidade de Bafatá. Fazem todos os sacrifícios para poderem ajudar os tugas que por lá trabalham, ou que apenas estejam de passagem...

Fotos : 1. João e Célia Dinis; 2. Célia, Dinis, Sebastião, Nuno, Aprilio e Patrício.

Patricio Ribeiro
IMPAR Lda
Av. Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau , Guiné Bissau
Tel, 00245 966623168 / 955290250
www.imparbissau.com
impar_bissau@hotmail.com

PS - Neste almoço, não estiveram presentes os tugas que trabalham nas ONG, porque já estavam de férias em Portugal

2. Comentário do nosso editor LG:

Patrício(s):

Ficamos sem palavras... A milhares de quilómetros de Portugal, essa é seguramente uma "casa portuguesa"... E de repente salta-nos à mente a letra e a música da Amália, tão "maltratadas" antes do 25 de abril... No fundo, podia parecer que esse famoso fado, da Amália, era o elogio, miserabilista,  da pobreza honrada associada ideologicamente ao Estado Novo...

Camarada e amigo Patrício Ribeiro, diz ao nosso camarada João Dinis e à sua companheira Célia que eles já ganharam o direito de figurar, a partir de hoje, e com todo o mérito, no quadro de honra da Tabanca Grande, passando a ser os grã-tabanqueiros nºs 724 e 725. Diz-lhes que é a nossa singela homenagem, a do blogue do Luís Graça & Camaradas da Guiné, não só ao seu portuguesismo como também  à sua grande capacidade de  trilhar as duras picadas da vida, e de sobreviver as todas as minas e armadilhas. O seu exemplo comove-nos e honra-nos... Um abraço fraterno para todos os  demais "tugas" de Bafatá. Um xicoração para ti,  que és o "pai dos tugas" da Guiné-Bissau....LG
_____________


[Imagem à esquerda: cartaz de propaganda do Estado Novo, Cortesia de Susana Simões]


Uma casa portuguesa

Música: V. M. Sequeira; Artur Fonseca

Letra: Reinaldo Ferreira [Barcelona, 1922- Lourenço Marques, 1959]



Numa casa portuguesa fica bem
Pão e vinho sobre a mesa,
E, se à porta humildemente bate alguém,
Senta-se à mesa co'a gente.
Fica bem esta franqueza, fica bem,
Que o povo nunca desmente,
A alegria da pobreza
Está nesta grande riqueza
De dar, e ficar contente.

Refrão:

Quatro paredes caiadas,
Um cheirinho à alecrim,
Um cacho de uvas doiradas,
Duas rosas num jardim,
Um são josé de azulejo
Mais o sol da primavera,
Uma promessa de beijos
Dois braços à minha espera...
É uma casa portuguesa, com certeza!
É, com certeza, uma casa portuguesa!


No conforto pobrezinho do meu lar,
Há fartura de carinho
E a cortina da janela é o luar
Mais o sol que bate nela...
Basta pouco, poucochinho p'ra alegrar
Uma existência singela...
É só amor, pão e vinho
E um caldo verde, verdinho
A fumegar na tigela


Refrão:

Guiné 63/74 - P16427: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXXIV - Memórias de um pobre cabo quarteleiro que teve de pagar, do seu magro bolso, o valor de 15 cantis que faltavam no inventário...


1. Continuação da publicação das "histórias da CCAÇ 2533", a partir do documento editado pelo ex-1º cabo quarteleiro, Joaquim Lessa, e impresso na Tipografia Lessa, na Maia (115 pp. + 30 pp, inumeradas, com fotografias). (*)

Trata-se de uma brochura, com cerca de 6 dezenas de curtas histórias, de uma a duas páginas, e profusamente ilustrada (cerca de meia centena de fotos). Chegou às mãos dos nossos editores, em suporte digital, através do Luís Nascimento, que vive em Viseu, e que também nos facultou um exemplar em papel, para consulta.

Temos a devida autorização do editor e autores para dar a conhecer, a um público mais vasto de amigos e camaradas da Guiné, as peripécias por que passou o pessoal da CCAÇ 2533, companhia independente que esteve sediada em Canjambari e Farim, região do Oio, ao serviço do BCAÇ 2879, o batalhão dos Cobras (Farim, 1969/71).

O primeirop poste desta série é de 16/4/2014. As primeras 25 páginas são do comandante da companhia, o cap inf Sidónio Ribeiro da Silva, hoje cor ref. Tanto esta companhia como a minha CCAÇ 2590 (mais tarde CCAÇ 12) viajaram, juntas no mesmo T/T, o Niassa, em 24 de maio de 1969, e regressaram juntas, a 17 de março de 1971, no T/T Uíge!... Temos, pois, aí uma fantástica coincidência!..

Hoje reproduz-se o texto da autoria do ex-1º cabo Silva, o "arrecadação", o 1º cabo quarteleiro Silva, que, para poder embarcar para a metrópole, e regressar a casa,  teve de pagar do seu magro bolso o valor de 15 cantis que faltavam no inventário (pp. 107-108). 

Como ele esclarece, com fina ironia, ele era o responsável máximo da arrecadação, estando abaixo dele o 1º e o 2º sargentos...

Há "histórias do arco da velha", esta é seguramente uma delas... Como diz o nosso povo, "quando o mar bate na rocha, quem se lixa é o mexilhão"...  Enfim, uma história pouco ou nada edificante sobre os supremos valores que norteavam o nosso glorioso exército... Moral da história: na tropa havia os xicos, os xicos espertos e os filhos do Zé Povinho... que só de 50 em 50 anos é que fazem o célebre manguito,  imortalizado, em 1875,  pelo genial Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905)...  Enfim, somos um povo com reflexos de dinossauro que, dizem, levava  meia hora a reagir quando lhe pisavam o rabo...






~





In Histórias da CCAÇ 2533. Edição de Joaquim Lessa, tipografia Lessa, Maia, s/d, pp. 107-108.
_____________

domingo, 28 de agosto de 2016

Guiné 63/74 - P16426: Em busca de... (271): José Manuel de Medeiros Barbosa, natural de (e residente em) Bafatá, meu camarada em Angola, radiotelegrafista, Lumege, 1972/74 (José Alexandre Barros Ferreira)


Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1958/61 > Bombas de gasolina na Casa Barbosa  





Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1958/61 > Bombas de gasolina na Casa Barbosa  

Fotos (e legenda): © Leopoldo Correia (2013) Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


[O Leopoldo Correia  foi fur mil da CART 564, Nhacra,Quinhamel, Binar, Teixeira Pinto,Encheia e Mansoa, 1963/65), e enviou-nos "fotos de outros tempos", de Bafatá, Capé e Olossato, respeitanes ao período entre 1958 e 1961].


1. Mensagem do nosso leitor (e camarada) José Alexandre Barros Ferreira:


Data: 24 de agosto de 2016 às 21:17
Assunto: : Procura de amigo em Bafatá-Guiné Bissau (*)


Boa noite,

Pesquisei na internet sobre Bafatá, Guiné-Bissau, e apareceu o vosso blog.

O meu nome é José Alexandre Barros Ferreira, e estive na tropa em Angola,  com um grande amigo qua já não vejo há mais de 42 anos.

Os dados dele são os que passo a transcrever abaixo.

Chama-se : José Manuel de Medeiros Barbosa
Cidade natal e residência da família: Bafatá

Foi radiotelegrafista do Exército Português tendo prestado serviço militar no Lumege, Leste de Angola entre 1972 e 1974.

Nº de Radiotelegrafista 059506/72, SPM 6936

Espero que me consigam ajudar a reencontrar este meu amigo.

Cumprimentos,

Alexandre

2. Comentário do editor LG:

Meu caro Alexandre: obrigado pelo teu contacto. Respondendo ao teu pedido: pode ser que alguém, dos muitos camaradas nossos que estiveram em (ou passaram por) Bafatá, a "doce princesa do Geba", tenha comhecido o teu amigo (e camarada) José Manuel de Medeiros Barbosa.

Não temos qualquer registo dele (ou sobre ele) no nosso blogue, para mais sendo um camaradas que fez, como tu, a comissão de serviço militar em Angola.

Em  todo o caso, posso dizer-te que em Bafatá (e em Bissau) havia uma importante casa comercial, chamada Casa Barbosa (**)... Pode ser que o teu amigo seja desa família.

Numa pesquisa que fizemos na Net, este mesmo nome (com um apelido que parece ter origens açorianas) aparece referido no sítio dos antigos alunos do Colégio Nun'Álvares, de Tomar. Pode ser uma pista, O nosso camarada Leopoldo Correia, autor das fotos publicadas acima, também te poderá eventualmente ajudar.  Não nos parece que haja alguém dessa família atualmente a viver em Bafatá. Boa sorte para as tuas pesquisas. Estamos disponíveis para ajudar. Se tiveres alguma foto do teu amigo, ainda seria melhor.

___________________

Notas do editor:

(*) Último poste da série 19 de agosto de  2016 > Guiné 63/74 - P16402: Em busca de... (270): Demba Baldé, falecido em 2003... Teria sido chefe de tabanca, comandante de milícia ou militar em Cansissé, região do Gabu (Francisco Teixeira)

(**) Ve. postes de:


21 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11433: Álbum fotográfico do Leopoldo Correia (ex-fur mil, CART 564, Nhacra, Binar, Teixeira Pinto, Mansoa, 1963/74) (1): Bafatá nos finais dos anos 50 (ainda hoje lá tem familiares ligados ao comércio)

Guiné 63/74 - P16425: Manuscrito(s) (Luís Graça) (93): A vida, de fio a pavio






Lourinhã > Praia da Areia Branca > 12 de agosto de 2016 > Pôr do sol


Fotos (e texro): © Luís Graça (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



A vida, de fio a pavio


por Luís Graça


Circadiana a vida!...
Depois do solstício do inverno,
virá o solstício do verão
e aos dias suceder-se-ão
as semanas,
os meses,
os anos.

Circadiana a vida!...
Pior que o suplício do inferno
é o pavor, imagino, do eterno
retorno.
É eternidade, dizem,
que nos move 
ou demove 
ou comove,
a eternidade ou a sua cruel ilusão,
os seus sucedâneos,
efémeros,
a fama,
a glória,
a vaidade,
o ouro,
os diamantes,
o elixir da juventude,
o amor até que a morte nos separe,
o poder, orgástico,
talvez a paternidade,
e o egoísmo genético.

Circadiana a vida!...
Afinal todos os anos é Natal
e todos os anos pela tua casa passa
o compasso pascal.
Aleluia, aleluia,
Cristo ressuscitou,
a vida triunfa sobre a morte.

Circadiana a vida!...
Todos os anos, com sorte…
Exceto quando deixaste a tua terra
e foste para a guerra:
perdeste a noção do dia e da noite,
dos dias,
das semanas,
dos meses,
e das estações,
que eram duas,
a do tempo seco e a das chuvas.

Circadiana a vida!...
Disseram-te que o velho general
esteve à beira da tua cama
no hospital:
- É uma subida honra,
para qualquer mortal,
a sua visita, meu general
terás dito
mas, por favor, não ponhas isso 
no teu “curriculum vitae”.
Esquece a Guiné,
camarada,
e os pauzinhos que gravaste na parede da caserna,
na contagem descrescente 
para o fim da tua comissão.

Circadiana a vida!...
Quando eras jovem,
tinhas um calendário perpétuo,
na tua mesinha de cabeceira,
na secreta esperança
de que os dias não tivessem 24 horas,
não tivessem noite, 
não tivessem fim
Depois, deixaste de te fiar
nas leis imutáveis da natureza
e, todos as manhãs,
tomavas o lugar de Sísifo
e pegavas na tua pedra,
montanha acima,
montanha abaixo!

Circadiana a vida!...
E, se Deus quiser,
a primavera há de chegar
e com ela as andorinhas
ao teu beiral.
E trazem histórias de coragem
as tuas andorinhas de torna-viagem,
vêm do norte de África,
quiçá da Guiné,
e não precisam de passaporte,
nem de GPS,
nem de código postal,
nem de carimbo da alfândega.
Fogem da guerra,
sem o aval do alto comissário
para os refugiados,
ou a benção do máximo representante de Deus
na terra.

Circadiana a vida!...
E todos os anos fazes anos
e haverá sempre um bolo de aniversário
e uma vela
para soprares.
Mas o que é que sopras tu, afinal,
meu pobre feliz aniversariante ?
Sopras a vida,
sopras a vela da vida,
de fio a pavio!

Circadiana a vida!...
Até as almas têm estados,
dizem-te,
circadianos, 
estados de alma,
bipolares,
ora de euforia
ora de depressão,
colina acima, 
colina abaixo.
Afinal,  tão certo 
como dois vezes dois serem quatro,
depois da noite
segue o dia,
e não há lua sem sol,
nem maré alta
sem maré baixa!

Circadiana a vida!...
A vida é pura repetição,
é o teu coração que bate forte,
até  à exaustão,
até a gente queimar a vela,
de fio a pavio.
A vida, camarada,
ora sabe a muito,
ora sabe a pouco,
... a vida, sempre, sempre,
armadilhada,
presa por um fio.


Praia da Areia Branca, 12/8/2016,
Quinta de Candoz, 24/8/2016

______________

Nota do editor:

Último poste da série > 20 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16405: Manuscrito(s) (Luís Graça) (92): Praia do Caniçal: memórias

Guiné 63/74 - P16424: Parabéns a você (1128): António Marques Barbosa, ex-Fur Mil Cav do Pel Rec Panhard 1106 (Guiné, 1966/68) e José Manuel Corceiro, ex-1.º Cabo TRMS da CCAÇ 5 (Guiné, 1969/71)


____________

Nota do editor

Último poste da série de 27 de agosto de  2016 > Guiné 63/74 - P16422: Parabéns a você (1127): Jaime Machado, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2046 (Guiné, 1968/70)

sábado, 27 de agosto de 2016

Guiné 63/74 - P16423: Recortes de imprensa (80): Os "últimos tugas" de Bafatá: João e Célia Dinis, entrevistados pelo "Público", em 13/4/2013... O nosso camarada João Dinis, hoje empresário, vive na Guiné desde 1963. Pertenceu à CART 496 (Cacine e Cameconde, 1963/65)


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > Outubro de 2015 >   A nossa amiga e grã-tabanqueira Adelaide Barata Carrelo com o João Dinis, empresário, antigo militar português, da CART 496 (Cacine e Cameconde, 1963/65), integrada no BCAÇ 513 (com sede em Buba). Vive na Guiné desde 1963.

Foto: © Adelaide Carrêlo (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > 15 de dezembro de 2009 > 15h13 > O João Graça, médico e músico, fotografado com a Célia Dinis e o filho, Bruno, no seu estabelecimento (Restaurante Ponto de Encontro).  O Bruno virá a morrer mais tarde, devido a acidente de moto. O casal tem duas filhas, casadas, a viver em Portugal.


Em 5 de janeiro de 2015, o Patrício Ribeiro mandava-nos a seguinte mensagem, complementando a legenda da foto acima, bem como o texto do "Público", que reproduzimos abaixo:

"Luís e João, a cidade de Bafatá, está de acordo com as fotos do João, mas há algumas diferenças:
O filho do [João] Dinis e da Célia, o Bruno, infelizmente faleceu a aproximadamente 2 anos, por acidente de moto o que deixou os pais muito abalados, continua a morar em Bafatá, depois de alguns meses passados em Portugal.


Abastecimento de água á cidade: desde há mais de 3 anos, foram instaladas duas bombas solares, estão extrai 80 m3 de água diários, para a canalizações na parte alta da cidade, onde reside a maior parte da população. 

Neste momento estão a ser instaladas outras bombas solares, para mais 250 m3 diários, a partir destas novas bombas, a parte baixa da cidade [, a zona velha,.] também vai ter agua canalizada. Assim como [o bairro d]a Ponte Nova.


Estes trabalhos estão a ser financiados pela União Europeia, em parceria com a Cooperação Portuguesa. A coordenar os trabalhos está a ONG Portuguesa TESE, com o escritório em Bafatá.
A ONG Portuguesa FEC, há longos anos no ensino em Bafatá, reforçou a sua equipa, com apoio da Estado Português, com mais professores: neste momento moram em Bafatá, mais dezena de Portugueses nascidos em Portugal, a maioria são mulheres.

Tenho casa em Bafatá, que tem estado aberta a investigadores portugueses, que na zona fazem os seus estudos. Por vezes também lá passo algum tempo. Patrício Ribeiro."


Foto: © João Graça (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: L.G]


1. Os "últimos tugas" de Bafatá > João e Célia Dinis: “Portugal era um atraso de vida em comparação com a Guiné”

(Excerto do "Público", de 13/4/2013)

Na casa de João e de Célia nunca faltava fruta enlatada, vinho Casal Garcia e pelo menos dez garrafas de whisky “do bom” para receber as visitas. Durante anos, puderam ter na Guiné-Bissau uma série de luxos que na chamada "metrópole" eram ainda uma miragem. Esses foram outros tempos. Hoje todos os gastos são controlados. Bebem vinho do mais barato e só comem bacalhau ou queijo quando algum amigo os visita. A vida obrigou-os a uma cambalhota do 80 para o oito, mas nem por isso deixam de falar com alegria, com um brilho nos olhos e esperança no futuro. A bola é para chutar para a frente e apesar de Célia ter 58 anos e João 71, não duvidam que ainda vão conseguir marcar golo.

João e Célia Dinis são dos portugueses que há mais tempo vivem na Guiné, chegaram numa altura em que “tudo era bonito, não havia falta de trabalho e tinham uma vida mais que boa”. João foi o primeiro. Chegou em 1963 como militar. Gostou tanto que ficou e já como funcionário da administração do porto de Bissau acenou aos colegas da Companhia 496, Batalhão 513, que viu partir num navio. “Não troque os números, são muito importantes para se algum amigo dessa altura me quiser telefonar”, pede ao PÚBLICO.

Só voltaria a Portugal em Setembro de 1971. “Estava há nove anos sozinho e ia com o objectivo de casar, mas não podia ficar muito tempo. Tinha de resolver o problema rapidamente e graças a Deus consegui”. Conheceu Célia num baile e meteu logo conversa. “Ó menina, não se importa que a gente vá bailar um bocadinho? Mas olhe que eu vivo em África há muitos anos, já não sei bem dançar as músicas de cá...”, perguntou-lhe. A resposta foi afirmativa. Casaram no dia 9 de Janeiro e dia 20 vieram juntos para a Guiné. Célia tinha 18 anos e Dinis 31.

Nessa altura, tudo lhes corria bem. Dinis era dono de duas escolas de condução e, alguns anos mais tarde, Célia decidiu abrir o restaurante Ponto de Encontro, que mantém até hoje em Bafatá (no centro-norte do país). “Era uma cidade espectacular, estava tudo pintadinho, arranjadinho. Se vissem esta avenida e aquela ali em baixo. Lindas, lindas. As pessoas juntavam-se para fazer piqueniques, remo, ir ao cinema. E as lojas? Tinhas de entrar só para ver, mesmo que não comprasses. Era uma coisa que atraía. Portugal era um atraso de vida em comparação com a Guiné”, descreve Célia.

O Ponto de Encontro servia mais de 70 almoços por dia e Célia chegou a ter de pedir aos tropas para tomarem conta da filha enquanto despachava o mais depressa possível os almoços. Não tinha mãos a medir. Agora há dias em que não faz cinco mil francos CFA (7,50 euros). De 17 empregados passou para dois e mesmo assim queixa-se que a receita não cobre as despesas. Podiam-se ter ido embora depois do 25 de Abril de 1974. Chegaram a vender tudo, mas os guineenses não os deixaram partir: "Não, não se vão embora porque ninguém vos vai fazer mal. Vocês também não fizeram mal a ninguém.”

“Se eu tenho ido depois da independência, era um senhor em Portugal. O meu cunhado ainda me disse para montarmos uma escola de condução, se eu o tenho ouvido... Teria muito mais dinheiro, mas não tinha esta terra”, projecta Dinis. É um apaixonado pela Guiné. Quando ia a Portugal de férias, não queria ficar mais de 15 dias, “chegava para ver a família”. “Só desejava voltar àquelas pessoas que me conheciam e, do mais pequeno ao maior, me chamavam pelo nome. Nem sequer consigo dizer o que menos gosto neste país porque gosto de tudo. Até das faltas, fomo-nos habituando a elas”.

Foi depois de 1974 que tudo piorou. Durante dez anos ainda viveram bem mas, pouco a pouco, as coisas começaram a escassear. Primeiro faltaram o queijo, as batatas e os chocolates. Até que acabou tudo. “Foi um processo: apetecia-me beber uma garrafa de vinho Casal Garcia e não havia, mas ainda se podia comprar Dão. Quando o Dão acabou, tínhamos o Pias...”, recorda Dinis.

Às vezes perguntam-lhe como consegue viver assim. Ri-se e responde: “Tu também cá estarias se tivesses vivido o que eu vivi. Tínhamos uma vida mesmo bonita. Luz 24 horas por dia, boas estradas, tudo limpo. Onde é que os portugueses comiam pêra enlatada? A nossa bebida era whisky com água das pedras, a cerveja era só para acompanhar as ostras e os camarões”.

A Guerra Civil, em 1998, foi o golpe fatal para a Guiné: “Foi desde aí que deixámos de viver como portugueses na Guiné e passámos a ter condições de vida semelhantes à de um guineense: a ter de carregar água, andar a pé...”, conta Célia.

Apesar do Ponto de Encontro estar quase sempre vazio e dos poucos alunos da escola de condução demorarem mais de dois anos a pagar (a carta custa menos de 150 euros), apesar de dizer que agora já estava na altura de voltar a Portugal, não é isso que Dinis sente. Quando fala das suas dezenas de projectos, quando diz que as coisas vão melhorar – e di-lo muitas vezes como se a sua vida pudesse durar o dobro da do comum dos mortais –, a Guiné é sempre o palco principal da sua felicidade.

As saudades das duas filhas são mesmo o que mais pesa a Célia e Dinis. Há oito anos que não as vêem e há netos que ainda nem conhecem. Mas já lá vai o tempo em que uma viagem a Portugal custava cinco mil francos CFA e a família se juntava toda para passar as férias grandes.

Custas-lhes terem trabalhado a vida toda e não terem nada. “Nem cá nem lá”. Entregaram-se à Guiné e é a ela que pertencem. Por isso, sempre que pensam regressar perguntam “para fazer o quê". “Tenho direito à reforma porque fui militar e funcionário público de Bissau, mas na altura que a porta estava aberta não pude ir a Lisboa e agora está fechada a cadeado. Lá as pessoas vivem lado a lado, mas não se conhecem. Aqui sou o professor, dou cartas de condução desde 1968, ensinei pessoas que já morreram”, gaba-se Dinis.

Célia também tem medo do regresso mas confessa já estar cansada de levar a casa e o restaurante às costas. “Dizem que Portugal está mau mas para nós é um mundo de rosas. Não há dinheiro, é verdade, mas aqui também não há. Lá não se compra mais, compra-se menos, mas não sentes saudades de comer. Abres a torneira e tomas banho de chuveiro. E aquelas auto-estradas todas direitinhas? É uma alegria”, diz num português que já mistura com sotaque crioulo.

Por agora, só têm uma solução: aguentar. “Ando há muitos anos com a palavra esperança na ponta da língua mas ainda não a encontrei. Penso vir a ter uma vida boa na Guiné. Hoje não temos, não saímos de Bafatá há anos. Mas se calhar ainda vamos conseguir ter um carrinho melhor para ir a Bissau dar o nosso passeio. Dançamos, ao toque da música. Se a música saltar, também saltamos. E bem alto”, deseja Dinis.


Fonte: Sofia da Palama Rodrigues > Guiné: entre o paraíso e as saudades de Portugal > Público, 13/04/2013 - 08:02 (Excerto reproduzido com a devida vénia)

______________

Nota do editor:

Último poste da série > 24 de abril de 2016 > Guiné 63/74 - P16010 Recortes de imprensa (80): João Paulo Diniz (,que vai estar mais logo no Jornal da Meia Noite, da SIC Notícias, para relembrar o seu papel no 25 de abril): "As minhas melhores amizades são do tempo da Guiné, quando fui locutor do PFA - Programa das Forças Armadas, em Bissau, em 1970/72" (Excerto de entrevista, DN -Diário de Notícias, 30/8/2015)

Guiné 63/74 - P16422: Parabéns a você (1127): Jaime Machado, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2046 (Guiné, 1968/70)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 25 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16418: Parabéns a você (1126): Manuel Carmelita, ex-Fur Mil Radiomontador do BCAÇ 3852 (Guiné, 1971/73)

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Guiné 63/74 - P16421: In Memoriam (262): Mário Campos Marinho, ex-sold trms, CART 3494 (Xime e Mansambo, 1971/74). O funeral é hoje na Senhora da Hora, Matosinhos, às 14h30 (Sousa de Castro, o grã-tabanqueiro nº 2)



Guiné > Zona Leste > Setor L1 (Bambadinca) > CART 3494 (Xime e Mansambo, 1971/74) > O Mário Campos Marinho (à civil) e o Sousa de Castro, em Mansambo, em 1973


Fotos: © Sousa de Castro (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de ontem, do Sousa de Castro, o nosso grã-tabanqueiro nº 2, e que foi 1º cabo Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74):

Caros camaradas, informo o falecimento de mais um camarada da nossa companhia, a  CART 3494, Guiné – Xime e Mansambo, dez71/abr74, Mário Campos Marinho com 66 anos de idade, ex-soldado de Transmissões, vítima de doença prolongada [, foto à esquerda].

O falecimento ocorreu hoje dia,  25-08-16, o corpo encontra-se em câmara ardente na Igreja da Srª da Hora em Matosinhos, de onde sairá para o cemitério local,  amanhã dia.  26 de agosto de 2016 pelas 14,30 horas.

Em meu nome pessoal e de toda a companhia apresento à família sentidas condolências. Até já,  camarada!

Sousa de Castro


2. LISTA PUBLICADA PELO BLOGUE DO SOUSA DE CASTRO, COM OS NOMES  DOS "COMBATENTES DA CART 3494 QUE DEIXARAM A VIDA TERRENA [, ATÉ À DATA,]  E QUE SÃO DO NOSSO CONHECIMENTO"

1. Fur. Milº - Manuel da Rocha Bento, Galveias - Ponte de Sor (Morto em combate na Ponta Coli, Xime em 22ABR1972)

2. Sol. - Abraão Moreira Rosa, Póvoa de Varzim (desaparecido no Rio Geba, Xime - Guiné em 10AGO1972, vítima de acidente do Sintex (Bote) devido à forte ondulação provocada pelo "Macaréu"

3. Sol. - Manuel Salgado Antunes, Quimbres - Coimbra (desaparecido no rio Geba, Xime - Guiné, em 10AGO1972) vítima de acidente do Sintex (Bote) devido à forte ondulação provocada pelo "Macaréu"

4. Sol. - José Maria da Silva e Sousa, S. Tiago de Bougado - Santo Tirso (afogamento Rio Geba, Xime - Guiné, em 10AGO1972)vítima de acidente do Sintex (Bote) devido à forte ondulação provocada pelo "Macaréu", ficou sepultado em Bambadinca, trasladado para o cemitério de Bisau no ano de 2009 (campa s/n)
http://ultramar.terraweb.biz/Memoriais_concelhos_Trofa_BougadoSantiago.htm

5. Sol. - Joaquim de Jesus Fernandes, Pôço - Vila Nova de Monsarros, (em 28AGO1992 (vítima de acidente de viação)

6. 1º Cabo - Manuel Pais Moreira, Vila Verde - Parada de Gatim, (em 1996)

7. Sol. - Silvino Vaz da Rosa e Silva, Figueiredo - Oliveira de Azemeis, (09MAR2002)

8. Sol. Radiot. - Rogério Tavares da Silva, Branca - Albergaria-a-Velha, 16JUN2002, (vítima de acidente de viação)

9. Cap. Art. - Victor Manuel da Silva Marques, Algés - Lisboa (29SET2004)

10. Sol. - Ilidio Ferreira Amaral, S. João da Pesqueira - Ervedosa do Douro, (em 17ABR2009)

11. Sol. - Adão Manuel Gomes da Silva, Figueiró - Paços de Ferreira (em OUT 2009)

12. Sol. - António da Costa, Pinheiro de Baixo - Mangualde (data desconhecida)

13. 1º cabo - Laurentino Bandeira dos Santos, Guifões - Matosinhos (data desconhecida)

14. Sol. - Joaquim Torres Trindade, Brandinhais - Maia - Porto (data desconhecida)

15. Fur. Milº - Raul Magro de Sousa Pinto, Meadela - Viana do Castelo (01ABR2012)

16. Alf. Milº - José Henrique Fernandes Araújo - Arcos de Valdevez (Agosto 2012)

17. 1º cabo - Manuel da Cruz Ramos, Póvoa de Varzim, (em 22NOV2012)

18. Sol. - Mário Rodrigues da Silva Nascimento, Figueira da Foz (08JUN2014

19. Alf. Milº - Manuel Jorge Martins Gomes, Mem Martins (em 15DEC2014)

20. Sol. - António Ferreira Lopes, Palhaça, Oliveira do Bairro (Data desconhecida)

21. Sol. - António Jorge Gomes, Granjal, Sernancelhe (Data desconhecida)

22. Sol. - Ricardo Silva do Nascimento, Cadafaz - Celorico da Beira (Data Desconhecida)

23. Mário Campos Marinho, Srª da Hora Matosinhos, em 25AGO2016

_____________

Nota do editor:

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Guiné 63/74 - P16420: Notas de leitura (874): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte VIII: o caso do clínico geral Amado Alfonso Delgado (IV): "Os guineenses são muito resistentes...Numa ocasião, uma bomba caiu perto de uma mulher e feriu-a no abdómen... Eu devia abrir-lhe o abdómen pois tinha peritonite. Coloquei-lhe anestesia local e, quando lhe ia dar a geral, um avião largou outra bomba que caiu perto. A mulher levantou-se, com a ferida meio aberta, e fugiu. Não a vi mais. Depois disseram-me que a tinham localizado, já morta, a cerca de quatro quilómetros dali."




Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca – Eis, projectada no mapa, a principal actividade operacional das NT e a do PAIGC durante um pouco mais de três meses (entre 8 março e 18 junho de 1969), aonde Alfonso Delgado acabaria por intervir, certamente com muito trabalho e enormes dificuldades, prestando apoio médico aos guerrilheiros feridos em combate, algumas cirurgias e amputações, quase sempre durante a noite à luz de archotes de palha ardendo.

Na mata do Fiofioli, as principais operações das NT realizaram-se em março e abril de 1969, reagindo os guerrilheiros do PAIGC com ataques a aquartelamentos, destacamentos e emboscadas em abril, maio e junho, nomeadamente a Sul da linha de circulação entre Xime-Bambadinca-Mansambo-Xitole, a saber: Xime, Ponta Coli, Amedalai, Ponte do Rio Udunduma, Bambadinca, Taibatá, Demba Taco, Moricanhe, Mansambo, Ponte dos Fulas e Xitole (estrelas cor magenta)


Infogravura: Jorge Araújo (2016)


Oitava parte, enviada em 25 do corrente, das "notas de leitura" coligidas pelo nosso camarada e grã-tabanqueiro, Jorge Alves Araújo. Trata-se de um extenso documento, que está a ser publicado em diversas partes (*), tendo em conta o formato, a especificidade e as limitações do blogue.


Foto acima: O nosso grã-tabanqueiro Jorge Araújo: (i) nasceu em 1950, em Lisboa; (ii) foi fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); (iii) fez o doutoramento pela Universidade de León (Espanha), em 2009, em Ciências da Actividade Física e do Desporto, com a tese: «A prática Desportiva em Idade Escolar em Portugal – análise das influências nos itinerários entre a Escola e a Comunidade em Jovens até aos 11 anos»; (iv) é professor universitário, no ISMAT (Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes), Portimão, Grupo Lusófona; (v) para além de lecionar diversas Unidades Curriculares, coordena o ramo de Educação Física e Desporto, da Licenciatura em Educação Física e Desporto].



1. INTRODUÇÃO

Caros Camaradas Tertulianos; aproveito para reforçar os meus agradecimentos pelos vossos comentários aos textos anteriores, considerando-os relevantes neste contexto de partilha de memórias, a partir dos quais desejo organizar uma outra narrativa, concluído este trabalho que continuo a dar a melhor atenção.

Dito isto, seguimos hoje com a oitava parte deste meu projecto relacionado com a divulgação de algumas das principais experiências transmitidas por três médicos cubanos que estiveram na Guiné Portuguesa [hoje Guiné-Bissau] em missão de “ajuda humanitária” ao PAIGC, na sua luta pela independência, nos anos de 1966 a 1969, como foi o caso do clínico Amado Alfonso Delgado.

Relembro que esta espontânea iniciativa surge na sequência de ter tido acesso ao livro escrito em castelhano pelo jornalista e investigador Hedelberto López Blanch, uma coletânea de memórias e experiências divulgadas pelos seus dezasseis entrevistados, a que deu o título de «Histórias Secretas de Médicos Cubanos» [La Habana: Centro Cultural Pablo de la Torriente Brau, 2005, 248 pp.] ou “on line” em formato pdf, em versão de pré-publicação.

Relembro, ainda, que por tratar-se de uma tradução e adaptação do castelhano, onde procurei respeitar as ideias expressas nas respostas dadas a cada questão, entendi não fazer juízos de valor sobre o seu conteúdo, colocando entre parênteses rectos, quando possível, algumas notas avulsas de reforço sócio-histórico ao que foi transmitido, ajudando-nos, por um lado, a melhor compreender o outro lado do conflito e, por outro, na busca de fechar o puzzle dos diferentes episódios em que ambos estivemos envolvidos.

De acordo com esta metodologia e objectivos serão bem-vindas todas as achegas factuais ao agora divulgado, pois consideramos que a história, enquanto ciência do Homem, necessita do seu aprofundamento, daí o título com que baptizei este trabalho: “d(o) outro lado do combate - memórias de médicos cubanos”.

2. O CASO DO MÉDICO AMADO ALFONSO DELGADO [III]

Esta oitava parte do projecto “memórias de médicos cubanos” corresponde ao quarto de cinco fragmentos em que foi dividida a entrevista ao doutor Amado Alfonso Delgado, médico de clínica-geral, com experiência em cirurgia.(*)

Nos três fragmentos anteriores [P16357; P16380 e P16396], referentes às primeiras quinze questões formuladas, encontramos os antecedentes que influenciaram a sua decisão de cumprir uma missão internacionalista, tendo-lhe surgido a hipótese de o fazer na Guiné Portuguesa (hoje Guiné-Bissau), que aceitou.

Esta inicia-se na véspera de Natal de 1967, tinha então vinte e sete anos de idade, na companhia de outro médico, voando de Havana até Conacri. É na Guiné-Conacri que tem a sua primeira experiência profissional africana, prestando serviço médico no Hospital de Boké, uma unidade de saúde de rectaguarda do PAIGC, juntando-se a mais quatro clínicos cubanos aí colocados anteriormente.

Em abril de 1968 tem início a sua integração na guerrilha ao ser destacado para a frente Leste para substituir o seu companheiro Daniel Salgado, médico-cirurgião militar que entretanto adoecera com o paludismo.

A sua entrada em território da Guiné-Bissau verificou-se pela fronteira Sul com a sua primeira caminhada a terminar na base de Kanchafra, aonde se encontravam vinte combatentes cubanos. Seguiram-se outras etapas ao longo de oito dias, com caminhadas cada vez mais duras, pois não estava preparado para esse desempenho. Nesse espaço de tempo passou por diversas aldeias onde se alimentava com farinha e carne, afirmando ter passado fome, habituando-se, desde então, a comer pouco.

Ao quarto dia disseram-lhe que tinha chegado à Mata do Unal, na região do Cumbijã. Continuada a “viagem” a pé, chegou à foz do Rio Corubal / Rio Geba (Xime) onde lhe foi transmitido que naquele lugar havia um problema mais perigoso que a tropa portuguesa, chamado “macaréu”. Quando chegou à outra margem [, presume-se que fosse a margem direita], encontrou um homem branco em calções, com gorro na cabeça e uma camisa. Este olhou-o com alguma indiferença, tendo-lhe perguntado: “tu pensas aguentar esta ratoeira? “Esquece, pois não duras nem três meses”. Perguntei-lhe porquê? Ao que me respondeu: “tu verás como isto é”.

Entre maio de 1968 e setembro de 1969 [dezassete meses], movimentou-se nas matas do Unal e do Fiofioli [Sector L1 - Bambadinca], com destaque para esta última frente, aonde esteve os primeiros nove meses de 1969, durante os quais teve muito trabalho, com enormes sobressaltos, muitas corridas em ziguezague, rastejanços e dores de barriga (com diarreias), que implicaram sucessivas trocas de acampamento, incluindo a destruição das suas enfermarias [, na mata do Fiofioli], por quatro vezes [, uma das quais no decurso da grande Op Lança Afiada, 8 a 19 de março de 1969].

Esteve cercado por várias vezes. Viu aviões bombardeiros, helicanhões, barcos da marinha e militares [, tropas paraquedistas do BCP 12, ] descerem de helicóptero. Para além dos constantes ataques a que esteve sujeito, foi também atacado por mosquitos que lhe perfuraram a roupa que tinha no corpo e por centenas de abelhas que lhe “ofereceram” os seus ferrões.

Por tudo isto passou vários meses sem ter contacto com o mundo. Devido a todas estas ocorrências e das tensões a elas associadas, por efeito da intervenção dos militares portugueses em diferentes acções naquela região, acreditou não ser possível sobreviver, pensando muito nos filhos, que iriam ficar sem pai… coitados.

Eis mais algumas memórias reveladas pelo médico Amado Alfonso Delgado. (**)


Entrevista com 25 questões [Parte IV, da 16.ª à 21.ª]
“Cirurgias com a ténue luz de fachos de palha ardendo” 
(Cap XI, pp. 136 e ss)


(xvi) Neste contexto complexo 
realizou operações cirúrgicas?

A maioria das vezes que operei foi em sítios calmos, aonde se situavam os 'hospitalitos' [enfermarias de colmo, a que dificilmente se poderia chamar hospitais de campanha], e onde também nos chegavam pessoas que pisavam minas ou tinham sido feridas em emboscadas.

Quase sempre os feridos chegavam de noite e tinha que os operar com archotes de palha. Fiz cerca de cinquenta operações. Amputações fiz muitas devido às minas [anti]pessoais. Também operei tórax e braços.


(xvii) Como faziam 
os archotes?

Apanhávamos maços de erva seca [capim], cortávamos, dobrávamos e amarrávamos com a mesma palha e pegávamos-lhes fogo. Às vezes não via o que estava a operar apesar de colocar à minha volta oito a dez archotes.

Os guineenses tinham muita resistência e com qualquer coisa ficava resolvido. Para minorar uma fractura óssea, fixava-lhes um tronquito da floresta e quinze dias depois estava bom. Se era uma pneumonia, com três injecções de penicilina curavam-se. Muito poucas vezes as feridas se infectaram após as operações que realizei. Eles sangravam pouco.

No primeiro hospital onde estive [Boké] fazíamos-lhes análises de hemoglobina e era muito raro que algum tivesse mais de 5 g/dl. Em Cuba temos 13, 14 g/dl. Mas apesar desta situação, caminham mais e são mais fortes que nós.


(xviii) Conte algumas das suas experiências 
com a população

A maioria da população não sabia a sua idade, era o mesmo dizer cinquenta como trinta anos, devido ao contexto onde viviam. Eram muito afectuosos e protegiam-nos muito, às vezes às custas das suas próprias vidas.

Eu senti-me muito bem na Guiné e creio que foi uma das melhores épocas de trabalho da minha vida. Às vezes chegava a uma tabanca, e era para eles como um filme ao verem um branco. De repente ficava cercado por quarente/cinquenta crianças e logo me começavam a tocar nos pelos, na cara, nos braços. Era algo raro que nunca antes tinha visto.

Numa outra ocasião, uma bomba caiu perto de uma mulher e feriu-a no abdómen. Eu levava um manual de como aplicar a anestesia, porque naquele momento não me encontrava com o assistente. Devia abrir o seu abdómen pois tinha peritonite. Coloquei-lhe anestesia local, e quando lhe ia dar a geral, um avião largou outra bomba que caiu perto. A mulher levantou-se, com a ferida meio aberta, e fugiu. Não a vi mais. Despois disseram-me que a tinham localizado, já morta, a cerca de quatro quilómetros dali. Eram coisas que se passavam.

Outras vezes tive que ser dentista. Tinha equipamento para extrair dentes e por sorte eles têm poucas cáries. Aprendi e extrai, naquele tempo, perto de cinquenta.

Como já referi, os guineenses são pessoas muito resistentes. Um dia chegou-me um homem que tinha sido atingido por uma bala, há três meses atrás. Ela entrou-lhe pelo abdómen e saiu-lhe pelas costas, e estava como se nada tivesse acontecido. Se fosse em Cuba, morria-se três vezes. Tive que o enviar para Conacri [Boké], pois era uma operação complicada.

Noutra ocasião levaram-me uma criança que não obrava pelo ânus, mas por orifício perto do recto na ponta da nalga. Não sabia o que era, apalpei-o e encontrei uma coisa dura dentro. Enviei-o para Boké aonde lhe fizeram uma radiografia e viram que era um pau que a tinha atravessado desde a nalga até ao diafragma. Atravessou seis alças intestinais. O pau tinha apodrecido e as fezes saíam por esse sítio. O médico Almenares operou-o e teve de lhe cortar seis pedaços de intestino.

Estando na Mata do Fiofioli, trouxeram-me um comandante [?] com uma ferida no abdómen. Deitava pouco sangue, pus-lhe um penso e enviei-o para o hospital de Boké para o operarem. Para o transportar até esse lugar, designaram entre catorze a dezasseis homens. Dois o colocaram numa padiola em cima dos seus ombros e seguiram. Foram-se revezando pelo caminho ao longo de duzentos quilómetros [?]. Ao fim de um mês, este comandante apareceu para me cumprimentar e agradecer-me pois já estava bom.

Também atendi em duas ocasiões feridos com mordeduras, na cara, provocadas por leopardos [, ou mais provavelmente onças] feridos por caçadores, pois normalmente estes animais não atacam os seres humanos. Atendi, ainda, vários elementos da população com mordidelas de serpentes, pois existem milhares delas na Guiné.

(xix) Encontrou doenças 
que não existem em Cuba?


Sim, várias doenças raras. Por exemplo, aldeias inteiras com tracoma, que é uma infecção nos olhos e nas pálpebras que deixa cegas as pessoas. Visitei aldeias aonde muitos estavam cegos. Pessoas com lepra avançada, a que, lhes faltavam dedos, e por isso nos davam as mãos pois gostavam muito de nos cumprimentar.

Havia uma doença, a míasis, produzida pela picada de uma mosca, que provoca um abcesso e daí saiam vermes (bichos). Outra que produzia umas bolhas no corpo, denominada oncocercose, que é um tipo de filária. Uma vez lembrei-me de lancetar uma dessas bolhas a um doente e não fechava. Essa doença tem tratamento especial. Existe um verme que se mete por debaixo da pele e os guineenses apanham um palito, o amarram com um fio de palma, o introduzem no furúnculo e o vão rolando todos os dias até que tiram o enorme bicho a que chamam «verme (bicho) da Guiné».

Existem muitos parasitas e insectos perigosos como a nígua, que se introduz na pele das pessoas em época seca e forma como um furúnculo. Tem-se que o extrair o qual tem a forma de carraça.


(xx) Anormalidades da sua vida 
nas matas de Guiné-Bissau?

Eis algumas! Tomávamos banho no rio. Não tínhamos nem toalhas nem sabão, nem tampouco papel para escrever alguma mensagem. Durante oito meses tive um par de ténis que era o melhor para fazer caminhadas e, por último, já os amarrava com folhas largas pois não havia corda [atacadores].

Quando nos lembramos disso, damo-nos conta de que nessas ocasiões havia coisas que não eram muito normais. Por exemplo, numa ocasião quando me encontrava numa zona perto de um rio, despi-me e lancei duas granadas à água. Imediatamente me atirei ao chão e depois das explosões mergulhei e apanhei perto de vinte peixes mortos. Nesse dia comi com abundância. Penso que todos estávamos um pouco loucos, pois a guerra é a mãe [da loucura e e a rainha de todas as coisas; alguns transforma em deuses, outros em homens; de alguns faz escravos, de outros homens livres, (cit. Heraclito; 535 a.C.-475 a.C.: filósofo pré-socrático considerado o “pai da dialética”].

Colocaram-me à disposição um sangrador de palmeiras (para fazer escorrer o vinho, tipo corta-gotas utilizados nas garrafas). Como não tinhamos desinfectante para colocar na água contaminada, pedíamos a um homem que subisse ao cimo das palmeiras e aí extraía o líquido acumulado que era como se fosse vinho. Cada três/quatro dias me traziam cerca de quatro litros desse líquido. Havia dias em que bebia perto de dois litros de vinho.
Durante o tempo que estive na Guiné comi carne de búfalo, crocodilo, antílope, tartaruga, hipopótamo, javali, macaco, pássaros de várias espécies, apesar da comida principal ser arroz e óleo de dendém.

Em três ocasiões tive paludismo. Uma delas deu-me muito forte e quase que não me podia levantar. Eu próprio me tratava.


(xxi) Andava junto 

com os guerrilheiros?


Andei e fiquei em vários sítios, primeiro em Kandiafara, perto da fronteira Sul, depois na mata do Fiofioli [frente Leste], aonde estive em cinco lugares diferentes, pois é um território com uns trinta quilómetros quadrados [ao longo das margens do Rio Corubal] e mudávamo-nos cada vez que sentíamos algum movimento estranho.

Informavam-me qual o dia que atacariam algum ponto [aquartelamento; destacamento; coluna de abastecimento; tabanca, …] onde estavam os portugueses. Deixavam-me geralmente a um quilómetro desse lugar. Era sempre um ataque com canhões e morteiros. Na mata não é fácil e às vezes ficava um guerrilheiro em cima de uma árvore dando indicações aonde estavam a cair os projécteis para se poder corrigir o tiro. Os portugueses, enquanto elas [granadas] iam caindo, abrigavam-se, e depois contra-atacavam.

[À intensa actividade operacional das NT na
 região da mata do Fiofioli em 1969, como foram os exemplos referidos no P16396: (“Op. Lança Afiada”, entre 8 e 19 de março, movimentando cerca de 1300 efectivos; “Op. Baioneta Dourada” em 2 e 3 de abril, envolvendo um total de sete Gr Comb e “Op. Espada Grande”, em 4 e 5 de abril, com nove Gr Comb, reagiu o PAIGC, treze dias depois, com a primeira acção, realizando uma emboscada na Ponta Coli, no troço da estrada Xime-Bambadinca, em 18 de abril, esta liderada por Mário Mendes Cmdt do bigrupo que atacou os dois grupos de milícias aí instalados em missão de segurança à estrada anteriormente referida, ou seja, o Pel Mil 104 (sediado em Taibatá) e o Pel Mil 105 (destacado em Demba Taco), ambos com uma secção em Amedalai - P12154. Três anos depois, em 25 de maio de 1972, Mário Mendes viria a morrer em combate, na Ponta Varela, na acção “Gaspar 5”, envolvendo seis Gr Comb: três da CART 3494 e três da CCAÇ 12, tendo-lhe sido capturada a sua Kalashnikov, bem como documentação relacionada com  as acções a desenvolver naquela zona - P13440].

[Quarenta dias depois desta emboscada, na noite de 28 de maio de 1969, os guerrilheiros do PAIGC atacaram pela primeira vez (e que viria a ser a única) o aquartelamento e posto administrativo de Bambadinca (Sector L1), aonde estava instalado, à data, o comando do BCAÇ 2852 (1968/70). Participaram no ataque, que durou cerca de quarenta minutos, dois bigrupos (mais de cem elementos), tendo utilizado três canhões s/r (cujos invólucros se apresentam na imagem à direita), morteiros, RPG, metralhadoras ligeiras e pesadas e armas automáticas de assalto, sem grandes consequências - P11575.

[Em simultâneo com este ataque, outros guerrilheiros procediam à sabotagem da ponte sobre o Rio Udunduma, ao tempo sem qualquer segurança, situada a quatro quilómetros, na estrada Bambadinca-Xime. Para o local seguiu o 3.º Pelotão da CART 2339 (Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69), comandado por Carlos Marques Santos (ex-Fur Mil), reforçado pelo Pel Caç Nat 63, visando a ocupação e defesa do pontão, criando um posto avançado de protecção a Bambadinca.



Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) – Uma das primeiras imagens da Ponte do Rio Udunduma, objecto de sabotagem por parte do PAIGC, na noite de 28 de maio de 1969, aquando do ataque ao quartel de Bambadinca (P11162, com a devida vénia). Aqui passei o 2.º semestre de 1973 e mais algumas semanas de 1974.


[Em 2 de junho de 1969, com início às 20h30, ocorreram, com pequenos intervalos entre si, novos ataques a Amedalai, Demba Taco e Moricanhe, respectivamente. Esta última tabanca seria evacuada dois dias depois para reforço de Amedalai - P1019.

[Em 8 de junho, pelas 18h15, seria a vez do Xitole ser flagelado com mort 82, registando-se novos ataques três dias depois (11 de junho: às 05h05 e 22h50) com mort 82 e canhão s/r, todos eles sem consequências. Nesse mesmo dia (11), às 00h01, novo ataque, agora a Mansambo, com canhão s/r, mort 82, LGFog e armas automáticas, durante trinta minutos, sem consequências. Um novo ataque seria repetido dois dias depois (13), com início às 18h30, com a utilização do mesmo material bélico, sem consequências. No dia seguinte (14) seria flagelado o destacamento de Taibatá, defendido pelo Pel Mil 104. Finalmente em 18 de junho, pelas 17h30, foi flagelado, durante 25 minutos, o destacamento da Ponte dos Fulas, no subsector do Xitole, com mort 82, igualmente sem consequências (in: história do BCAÇ 2852 - Bambadinca, 1968/70, pp. 87/88).

[É de crer que este vasto programa de acções esteja relacionado com o documento assinado por Amílcar Cabral (1924-1973), em 4 de junho de 1969, dando instruções para a realização de ataques, no dia 10 de junho, a diversos quartéis e destacamentos da frente Leste (Bambadinca, Gabú, Cabuca, Xime, Mansambo, Canjadude e várias tabancas com milícias e tropas portuguesas), devendo nalguns casos ser repetido durante três dias - P12156].

Continua…

_________________


Notas do editor:

(*) Vd. poste de 17 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16396: Notas de leitura (871): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte VII: o caso do clínico geral Amado Alfonso Delgado (III): Na mata do Fiofioli, pensei que ia morrer, pensei nos meus filhos, que iriam ficar sem pai… coitados, tão pequenos


(**) Último poste da série "Notas de leitura" > 22 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16412: Notas de leitura (873): "O que a Censura cortou": notícias da Guiné, por José Pedro Castanheira (Mário Beja Santos)