terça-feira, 17 de janeiro de 2006

Guiné 63/74 - P434: Comentário ao Diário de José Teixeira (J.C. Mussá Biai)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xime > 1972:

Malta da CART 3494, em passeio despreocupado pela tabanca do José Carlos Mussá Biai, que na altura era criança... O segundo, a contar da esquerda, é o ex-1º cabo radiotelegrafista Castro. A CART 3494 (1972/74)esteve aquartelada no Xime (1972/73) e depois em Mansambo (1973/74). Pertencia ao BART 3873 (1972/1974), com sede em Bambadinca.

© Sousa de Castro (2005)


Meu caro Luís:

Acabo de ler o diário de José Teixeira que acho muito engraçado (no bom sentido) e com um sentido de humanismo raramente visto. Isso só demonstra o sentido de solidariedade e compaixão que une os dois povos.

Cumpre-me fazer algumas correcções:

(i) Aquilo que ele escreve como vianda devia ser bianda;

(ii) Aquilo que ele escreve vem na cume devia ser bim nô cumé;

(iii) O que escreve de gila deve ser guila e o significado não é contrabandista, mas sim, comerciante ambulante;

(iv) E o dialecto que ele identifica como sendo mandinga, não o é, mas sim fula.

O meu muito obrigado. Um abraço, amigo Luís.

José C. Mussá Biai


2. Comentário de L.G.:

Fico muito feliz por reencontrar, agora aqui no bosso blogue, o José Carlos, que faz parte da nossa tertúlia, como guineense, como português e como amigo. Recorde-se a sua história:

Nasceu no Xime, e era menino no tempo em que por lá passaram a CART 2715 (1970/72), a CART 3494 (1972/73) e a CCAÇ 12 (1973/74). O furriel miliciano enfermeiro, da CART 3494, de nome José Luís Carvalhido da Ponte, natural de Viana do Castelo, foi alguém especial na sua vida e na vida de outros meninos, por ter sido seu professor na única escola que lá havia, o Posto Escolar Militar nº 14.

Também teve como professor, depois da CART 3494 ter ido para Mansambo, o furriel Osório, da CCAÇ 12, que dava aulas no Posto Escolar Militar nº 14, juntamente com a esposa. Fez a instrução primária debaixo de fogo. Um dos seus irmãos, o Braima, era guia e picador das NT. O seu pai, um homem grande, mandinga, do Xime, o chefe religioso da comunidade islâmica local (um almanu).

A família, de etnia mandinga, teve problemas depois da independência devida à colaboração com as NT. Teve irmãos que fizeram o serviço militar em Farim e que depois foram presos. O José Carlos, nascido em 1963, foi para Bissau fazer o liceu. Foi cinco anos professor, até vir para Lisboa e obter uma bolsa de estudo da Fundação Gulbenkian. Hoje é formado em engenharia florestal. É casado. A sua mulher é natural do Xitole, filha de um comerciante conhecido dos tugas, o Braima.

Trabalha e vive em Portugal, no Instituto de Geográfico Português. Mas nunca mais voltou a encontrar os seus professores do Xime. O José Carlos é um exemplo de tenacidade, coragem, determinação e nobreza que honra qualquer ser humano. Que nos honra a nós e ao povo da Guiné-Bissau a ele que também pertence.

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