sexta-feira, 17 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4200: Ainda e sempre a tragédia do Quirafo. Sortes distintas para António Batista e António Ferreira (Mário Migueis / Paulo Santiago)

1. Na sua mensagem de apresentação, o nosso camarada Mário Migueis da Silva incluia este precioso testemunho sobre o caso da emboscada do Quirafo. Deixámos propositadamente esta parte da mensagem para hoje, dia em que se completam 37 anos de tão infausto acontecimento.

Incluímos ainda uma mensagem do camarada Paulo Santiago, que se interessou pelo caso Batista e pela completa informação à viúva do nosso camarada António Ferreira, ajudando a acabar com as dúvidas que ainda persistiam no íntimo da D. Cidália.

Este caso carregou muita carga dramática, pelos motivos já falados, e aflorados de novo hoje. Coincidências tristes originaram incertezas e sofrimento que só os protagonistas poderão descrever. A guerra e a sua bestialidade. CV


2. Continuação da mensagem de Mário Migueis da Silva, iniciada no poste 4194 (*)

[...] Dito isto – bem digo eu que, quando um antigo combatente começa a falar da guerra, não se cala mais! -, vamos, então, ao que me leva, assim de repente, a interromper o meu silêncio.

Após a minha mensagem de 2006, atrás referida (a), ao Paulo Santiago, era minha intenção vir, mais à frente, a intervir directamente no blogue, a dar conta da minha própria experiência nas unidades por onde passei e, muito especialmente, a dar o meu testemunho sobre a tragédia do Quirafo, que vivi de muito perto, já que me encontrava na altura no Saltinho, conhecendo todos os malogrados camaradas que tombaram sob o fogo impiedoso e traiçoeiro das armas inimigas.

Tinha, inclusivamente, prometido ao Paulo que iria tratar de localizar o Baptista – o nosso querido morto-vivo - e, com efeito, andei por Pedras Rubras e Santa Cruz do Bispo, a perguntar pelo nosso homem. O que é facto é que, quando já tinha o cerco montado à residência do procurado, tive que, por razões de força maior, adiar o golpe de mão para melhor oportunidade. Pelos vistos, o Paulo é que não ficou à espera das minhas diligências – estava ele bem servido! – e, com a colaboração da Tabanca de Matosinhos, tratou de apanhar o Baptista à mão – uma vez mais, chiça!... - e de o obrigar a confessar tudo.

Superado, entretanto, o problema que eu vinha tendo com o meu pobre sistema ocular e cujo agravamento me obrigou a afastar do computador durante os dois anos de tratamento a que me sujeitei, passei, muito recentemente, a aceder de novo ao blogue e confesso que tenho lutado muito comigo mesmo para contrariar a vontade de intervir em algumas das discussões vindas a lume, já que receio forçar a vista e voltar à estaca zero. Porém, estes últimos postes com intervenções relacionadas com o nosso camarada António Ferreira, um dos nossos mortos em combate no maldito Quirafo, obriga-me a acrescentar – e com a urgência possível - alguma coisa ao já relatado, sob pena de não ficar de bem com a minha consciência.

Não sou muito de dramatizar situações mas, algo comovido com a história da viúva do António Ferreira (pudesse eu adivinhar que, a apenas 40km de distância da minha casa, alguém, ao longo de anos a fio, se recusava a perder a esperança de um dia rever o marido, que, afinal, eu sabia garantidamente morto!...), li e reli todos os textos publicados no blogue sobre a emboscada do Quirafo – quase todos da autoria do Paulo Santiago, um combatente de raça, podem crer! - , a fim de tentar perceber melhor o fundamento de algumas das afirmações e comentários sobre pormenores do acontecido, já que, no P4117 (b), de 02 do corrente mês, é referido que “…o Álvaro Basto, ex-Furriel Mil Enf da Cart 3492 (Xitole, 1971/74) constatou pessoalmente, no Saltinho, a impossibilidade de reconhecer os cadáveres dos nossos camaradas da CCaç 3490, que morreram na emboscada do Quirafo, incluindo o António Ferreira…” .

Ora, esta alegada constatação do Álvaro Basto, cuja presença no Saltinho, bem como a do Alf Médico Alfredo Pinheiro de Azevedo, me passou despercebida no meio daquela verdadeira barafunda – pelo menos, não me lembro de os ter visto -, leva (ou pode levar) os leitores a concluírem que nenhum dos mortos terá sido identificado e os familiares a interrogarem-se mesmo sobre a realidade (o quê ou quem?) escondida naquelas urnas seladas, chumbadas,(**) que um dia lhes remeteram para casa.

Recuando, então, até aos postes de 2006, fui extraindo alguns dos tais comentários e achegas referentes ao tema em questão, susceptíveis (na minha opinião) de, ao longo do tempo, terem vindo a alimentar alguma escusada inquietação e ansiedade por parte dos familiares dos nossos camaradas mortos, os quais passo a transcrever, por ordem cronológica, para , em seguida, prestar o esclarecimento que julgo pertinente:

- P984 / Fur António Duarte/Mansambo:

“…Daquilo que me lembro, havia dois ou três companheiros, vítimas da emboscada, que foram dados como desaparecidos…” (c)

- P987 (Julho/2006)- Comentários do L.G.:

“… O que nos choca, ainda hoje, é o cinismo, o desprezo, o despudor das autoridades militares da época, que, incapazes de falar a verdade às famílias………………., mandavam para os nossos cemitérios caixões de chumbo….vazios!!!............. …….Infelizmente, em muitos casos, manteve-se a suspeita de que os caixões que vinham do Ultramar (e da Guiné, em particular) não traziam os restos mortais dos nossos soldados, mas apenas pedras…” (d)

- P990 (Julho/2006):

“…há um 1º.Cabo de Transmissões que, a certa altura, se levanta, salta com o AVP1 às costas, apanha um tiro num braço e corre em direcção aos atacantes. É apanhado à mão….” (e)

- P1000 (Julho/2006):

“…um dos sobreviventes fala no caso do transmissões que viu ser apanhado à mão, e que estava ferido num braço”. E, mais à frente: “O homem das transmissões desaparecera e iria ser dado como morto”. (f)

- P1230 (Out2006):

O Paulo Santiago, dirigindo-se a mim: “…há dias, o Cosme, um dos meus cabos, disse que o cabo apanhado à mão no Quirafo se chamava Ferreira, e não Batista, nome que utilizei no relato, pois era o que tinhas indicado quando almoçámos em Aveiro e falámos do caso. “ (g)

- P1985 (22/07/2007: “… O Álvaro Basto tem uma questão pertinente. No dia da emboscada, ele e o Alf. Médico Azevedo, que prestava assistência no Xitole e no Saltinho, foram a este último quartel, a fim de passarem as respectivas certidões de óbito. O Dr. Azevedo, apesar da insistência do Lourenço (capitão da CCaç.3490) recusou-se a passar certidões daqueles corpos carbonizados e desmembrados…”(h)

Ainda no mesmo post:

“… o António Batista é assaltado por outra perplexidade: - Tenho desde sexta feira outra dúvida – diz ele – um conterrâneo meu, da Maia, António Oliveira Azevedo, ia também a monte na GMC, tendo sido dado como desaparecido em combate. Nunca apareceu…”

- P4046 / Comentários do Luís Graça:

“…Como houve pelo menos um caso de troca de identidades……….e, além do mais, os cadáveres estavam irreconhecíveis, desmembrados e carbonizados (de acordo com o testemunho do Alf Médico Alfredo Pinheiro de Azevedo e do Fur Mil Enf Álvaro Basto),…., ficou, fica, ficará sempre a atroz dúvida: será que o meu marido morreu mesmo na emboscada?”(i)

Após a leitura destes excertos dos postes assinalados, é fácil, afinal, perceber as dúvidas que vieram assaltando até agora a D. Cidália Cunha, viúva do nosso camarada António Ferreira, de facto o único especialista de transmissões presente no grupo emboscado!... A confusão do número de desaparecidos, o radiotelegrafista apanhado à mão, o 1.º Cabo de Transmissões que, com um AVP 1 às costas… Enfim, parece que tudo se conjugava para lhe transmitir a ideia de que o marido, em vez de, irremediavelmente, morto, poderia, afinal, ter simplesmente desaparecido, ter sido aprisionado e voltar ainda um dia, quem sabe?... “Mas, e a urna?”, - perguntar-se-ia. “Sabe-se lá o que contém a urna!...”, - resposta de alguém…

Vamos, então, aos comentários e esclarecimentos prometidos, que visam, no final de contas, confirmar a generalidade das últimas conclusões do Paulo Santiago e desfazer a ideia de que os corpos estavam mesmo irreconhecíveis.

Malgrado toda a confusão gerada pelas informações deste e daquele de que alguém das transmissões teria sido apanhado à mão, o que é facto é que, na emboscada do Quirafo, apenas foi, com toda a certeza, capturado o soldado António da Silva Batista (Atirador de Infantaria) e, muito provavelmente, um nativo que seguia igualmente na GMC para os trabalhos de desmatação da picada, conforme referido pelo Batista na entrevista que concedeu ao “Comércio do Porto”, em 18/09/1974, após a sua libertação e regresso a casa.

Nenhum outro militar da CCaç 3490 foi capturado pelo IN, correspondendo o número de cadáveres recuperados ao número dos elementos das NT em falta menos um, o qual, assim se justificava, foi dado como desaparecido. Foi possível distinguir os cadáveres dos elementos POP e milícias mortos, os quais, segundo me informaram na altura, foram devidamente identificados pela população de Madina Bucô – a mais próxima do Quirafo -, de onde eram originários, tendo os respectivos parentes assumido a responsabilidade da sua guarda e inumação.

Ouvi, rodeado de um pequeno grupo de soldados aterrorizados (os mortos vinham a caminho!), as primeiras declarações do Maximiano, condutor da GMC, ao encontro do qual me dirigi nas imediações do aquartelamento do Saltinho, onde ele, em visível estado de choque, acabava de chegar pelos próprios meios (correndo, a corta-mato), desde o local da emboscada. Transmitiu-me repetidamente - entre outros pormenores, obviamente - que o Batista conseguira saltar da viatura antes desta ter explodido e que o vira a correr, ensanguentado, pelo mato.

Ora, como todos os mortos recolhidos se encontravam na picada, e a fazer fé no testemunho do Maximiano, nenhum dos corpos podia, pois, ser o do Batista, cujo nome, confesso, nada me dizia. Aliás, no dia seguinte, foi feito o reconhecimento ao local da emboscada com reforços chegados de outra(s) Companhia(s) do Batalhão (e, eventualmente, de outros vizinhos, mas disso já não tenho a certeza) e apoio de um helicóptero, visando, inclusivamente, detectar e recuperar o tal homem desaparecido. Como não tivéssemos sido bem sucedidos nas buscas efectuadas, concluiu-se que o mesmo, das duas, uma: ou tinha sido capturado pelo IN ou, provavelmente ferido com gravidade, teria sucumbido algures em plena mata - “devorado até pelas feras, quem sabe?“, conjecturou-se, na altura.

Não acredito na história de que “…só o Cap Lourenço afirmava que ele tinha morrido, o resto da companhia (a CCaç 3490) afirmava que ele estava vivo…” (P987, de Julho/06), ou melhor, não acredito que as duas versões tivessem constado simultaneamente no Saltinho, conforme somos levados a supor pela leitura do post (pelo menos até 20/10/1972, altura em que regressei à Metrópole, tal não aconteceu). Agora, o que parece ser claro é que, se porventura, mais tarde, aqueles que, como eu, tinham ouvido da boca do Maximiano a informação de que o Batista saltara da viatura e conseguira atingir a mata, perguntassem ao Cap Lourenço quem tinha realmente desaparecido, este responderia imediatamente (ou após consulta dos papéis, era o mais certo!) que era o António Oliveira Azevedo, uma vez que era este que, como tal, constava na listagem oficial em seu poder. E, então sim, seria imediatamente contestado e passariam a coexistir publicamente as duas versões.

Mas, a verdade é que toda a gente terá ficado convencida (poderá admitir-se alguma excepção, claro) de que o Batista tinha igualmente acabado por perecer, embora o corpo não tivesse sido encontrado. O próprio comunicado de guerra do PAIGC relativo à emboscada (fazia parte da minha rotina ouvir e gravar estes comunicados do IN na Rádio Conacri) era omisso quanto à captura de prisioneiros, o que terá reforçado a tese do comando, ao qual dei a gravação a ouvir, de que o desaparecido terá morrido algures na mata, embora eu tenha sempre chamado a atenção – lembro-me bem disso - para o facto de ser prática conhecida, nossa como do IN, não dar a saber ao adversário a existência de prisioneiros, por forma a poder explorar, eventualmente, informações a recolher dos mesmos (era dos livros!).

Essa possibilidade em aberto, nunca deixei de a considerar, até porque, por incrível que possa parecer - dados os milhares de soldados que, ao longo de uma década, passaram pela Guiné -, quando, um colega do banco onde eu, na altura, trabalhava, chegou com a história de que vinha nos jornais a notícia do regresso de um militar que fora dado como morto na Guiné, comentei imediatamente: - Nunca se sabe se não é um soldado que nos desapareceu durante uma emboscada e que nunca mais voltámos a ver!. No minuto seguinte, estava a comprar o JN - Jornal de Notícias e o Comércio do Porto. O resto, já todos sabeis.

Ah!..., mas dizia eu que toda a malta estava convencida de que o Batista fora repasto para alguma fera e, como tal, quem quereria saber de questionar pormenores?!... Cada um tratou de se remeter ao seu canto e ao seu silêncio. Os mortos estavam a caminho de ser enterrados e o que era preciso era cuidar dos vivos, que a missão ainda nem no adro ia.

Para os camaradas que o conheciam bem, o desaparecido em combate teria o nome de Batista e assim seria recordado. Para o Cap Lourenço e para o Alf Rainha, a listagem que tinham elaborado era de nomes próprios que, porventura, não lhes diziam muito (pertenciam ao grupo do Alf Armandino) e, se calhar, nunca lhes deu para reverem, uma vez que fosse, as cópias da papelada que tinha acompanhado os corpos ou para comentarem os seus termos com quem quer que fosse e, muito menos ainda, para difundirem a listagem pelos restantes elementos da Companhia. Inclino-me até a acreditar que esqueceram rapidamente quem foi e quem não foi que fizeram constar como mortos, feridos e desaparecidos, excepção feita para os casos do alferes e do furriel. E, como atrás já referi, nunca ouvi de ninguém, durante os seis meses que ainda permaneci no Saltinho, qualquer comentário sobre eventual equívoco na identificação das vítimas.

Até à publicação no blogue da lista oficial dos mortos, feridos e desaparecido, que foi elaborada no gabinete do Comandante, onde eu próprio trabalhava (duas secretárias a dois metros de distância uma da outra: a do Cap Lourenço e a minha), nunca me passou pela cabeça que pudesse não estar correcta (nunca senti ou tive necessidade de a consultar e o ambiente - de cortar à faca, com uma atitude hostil da minha parte em relação ao Comando - não era favorável a grande troca de impressões, evitando eu imiscuir-me tanto quanto possível naquilo que não me dizia respeito), sendo minha convicção que o lapso verificado na identificação do corpo - evidenciado publicamente após o regresso do Batista - tivesse acontecido em Bissau, durante a trasladação dos cadáveres para a metrópole.

Mas, o que terá, então, induzido em erro o Lourenço e o Rainha, levando-os àquela troca de condição (morto ou desaparecido) entre os soldados António Batista e António Azevedo?

Penso (mas já não posso garantir) que, em primeiro lugar, foi feito o levantamento dos elementos em falta no Grupo de Combate e, só em seguida, a verificação e reconhecimento dos cadáveres, com a colaboração dos camaradas que lhes eram mais próximos. Talvez aqui se tenha verificado o lapso, quando alguém, que não ouvira o Maximiano, apontou o corpo do António Azevedo como sendo o do Batista. E como, estando os restantes corpos identificados, ficava a faltar o corpo do primeiro (o do António Azevedo), foi este dado como desaparecido. Mas, atenção!, isto não passa de uma mera teoria, podendo, como tal, corresponder à realidade ou não.

Como o Alf Rainha já não se encontra, infelizmente, entre nós, caberá (caberia?) ao Cap Lourenço (porque não?...) prestar o devido esclarecimento, já que foram os dois quem superintendeu na elaboração das listagens e relatórios, impondo-se, a bem da verdade, que se acrescente que, quem, como eu, pôde testemunhar todo o terror e desorientação provocados por aquela verdadeira tragédia, no seio de uma Companhia de jovens soldados com apenas três meses de Guiné, compreende, sem grande esforço, que qualquer falha deste tipo pudesse facilmente acontecer, pese, embora, a gravidade das eventuais consequências – mas, quem estaria tão responsavelmente preocupado com isso naquele momento?! Não éramos, afinal, todos uns miúdos, como escreveu ou disse algures o nosso antigo camarada de armas António Lobo Antunes?!...

Já agora, quanto à guerra dos papéis (que, ficámos a saber, havia de se revelar desastrosa), a mim, que era carta fora do baralho, tocou-me apenas a parte artística (perdoai-me o cinismo), ou seja, fui solicitado - embora tal não me competisse - para a feitura do croquis da emboscada, do qual conservo ainda uma cópia (claro que fiz igualmente a parte que me competia realmente a nível do SIM, que era elaborar e remeter para o Com-Chefe o Relatório de Informações relativo à emboscada).

Avancemos, agora, em passo mais rápido, para o resto do esclarecimento, que já tarda.

O Paulo Santiago, altamente motivado pelo Luís Graça (penso que os restantes co-editores só apareceram mais à frente), teve o grande mérito de, paulatinamente, ir recolhendo novas pistas, novos depoimentos, embora vagos e algo imprecisos, que o foram levando a correcções de pormenor, as quais poderiam parecer irrelevantes, mas, para os familiares de alguns dos nossos camaradas mortos, que – soube-se agora – seguiam atentamente toda a informação difundida no blogue, viriam a revelar-se importantíssimas, já que ajudavam a desfazer dúvidas que os atormentavam desde sempre ou que os passaram a inquietar a partir de determinada altura. Para além do mérito do seu excelente esforço de pesquisa aquém e além-mar – só mesmo alguém com a generosidade e pertinácia do Paulo! -, é justo que se saliente a sua honestidade intelectual – que grande palavrão! -, quando, a páginas tantas do P4046, de Março de 2009, assume que “…talvez tenha lançado algumas dúvidas no espírito da Cidália, ela não me disse, mas até encontrar o Batista, estava convencido que o militar apanhado à mão no Quirafo – penso que está nos meus postes – era de transmissões e também havia a troca de nomes”.

Infelizmente, eu tinha deixado entretanto de aceder ao blogue e perdi, assim, a oportunidade de o rectificar, já que estava à vontade para insistir que o desaparecido se chamava mesmo Batista e tinha a especialidade de Atirador, conforme nossa conversa anterior em Aveiro. Mas, há ainda um antecedente curioso - para não lhe chamar outra coisa! – no meio de tudo isto. Vejam só:

Em 18 de Setembro de 1974, o JN entrevista o Batista, acabado de regressar à terra, após a sua libertação, e deixa, entre outras, a informação do seu nome completo (António da Silva Batista) e da respectiva especialidade (Atirador de Infantaria). Como explicar, então, que as fontes de informação do Paulo Santiago tivessem, posteriormente, feito tanta confusão com a especialidade do desaparecido (“era de informações(!); era radiotelegrafista(!)”)?...

Com toda a sinceridade, acho que, involuntariamente (tal como o Paulo Santiago), contribuí para a confusão. E passo a explicar porquê:

No conto de minha autoria “O Morto-Vivo”, inspirado na história do Batista e publicado pelo JN em 28 de Setembro de 1985, o “dito-cujo” tem a especialidade de “Transmissões”, tendo sido, por castigo, destacado para aquela missão, em que desapareceria sem deixar rasto.

Já todos perceberam onde quero chegar, é isso mesmo! Admito como muito provável que vários dos nossos camaradas que tiveram acesso à leitura do conto (não pela sua qualidade literária – coitadinho do conto! -, mas pelo seu título apelativo e já familiar e, acima de tudo, pelo facto de ter sido publicado no jornal de maior tiragem no nossos país), tenham ficado com o registo no subconsciente de que aquele tal desaparecido no Quirafo, de que muito se falou, era mesmo de Transmissões, quando, na verdade, a especialidade por mim escolhida para a personagem era, também ela, mera ficção.

Vamos, agora, à parte mais delicada deste assunto, razão fundamental desta minha intervenção no blogue, que é a das dúvidas quanto ao conteúdo das urnas.

É verdade que, como o Luís Graça refere no P987, de Julho/2006, sempre constou que mandavam para os nossos cemitérios caixões de chumbo vazios ou com pedras. Porém, felizmente, não terá sido esse o caso na situação em análise, já que testemunhei a transferência dos cadáveres dos balneários, onde estiveram temporariamente expostos, para as respectivas urnas, as quais, quando chegaram ao Saltinho, foram depositadas na parada, junto à messe (parte nascente). Cada uma delas, após fechada e selada, foi marcada a tinta com um número de ordem - precedido de um “X” (?) -, correspondente ao de cada morto constante na listagem oficial, por forma a não haver equívocos. Despachadas as urnas para Bissau, acompanhadas da listagem referida, não havia razão nenhuma para que não viessem a chegar ao respectivo destino no continente com a identificação devidamente controlada.

É claro que a responsabilidade da identificação dos corpos coube ao comando, que contou, para o efeito, com a colaboração de todos quantos foram capazes de ir reconhecer nos cadáveres expostos os alegres amigos e camaradas de umas horas antes, como foi o meu próprio caso. Não tendo uma relação muito próxima com a quase totalidade dos soldados, dado que, para além de não lidar directamente com eles, a Companhia encontrava-se no Saltinho há apenas três meses, reconheci prontamente alguns dos seus cadáveres (quase podia jurar que o fiz também em relação ao António Ferreira, cuja foto, agora publicada no blogue, me avivou a recordação da sua figura). Outros, pese embora o facto de se encontrarem carbonizados, foram identificados sem qualquer hesitação pelos camaradas mais chegados, tal como eu fiz em relação ao Alf Armandino e ao Fur Santos.

Não corresponde, pois, à realidade a ideia de que não terá sido possível a identificação dos corpos, conforme poderia inferir-se do teor do P4117. Na verdade, o Fur Álvaro Basto e o Alf Médico Alfredo Azevedo poderão não o ter conseguido fazer (e, se calhar, é justamente isso que o Álvaro pretende dizer), justificando-se perfeitamente a eventual recusa de emissão das certidões de óbito (não conhecendo pessoalmente as vítimas e perante corpos tão maltratados, mais não se lhes poderia exigir, mesmo disponibilizando-lhes os documentos de identificação, com foto, da totalidade das vítimas). Mas, outros puderam fazê-lo com segurança: traços fisionómicos e/ou outros característicos permitiram, felizmente, esse reconhecimento, pelo que não havia razões para inventar nada, como terá sido o caso em situações análogas (constava, não sei se de facto existiram) verificadas nos três teatros de operações. De qualquer modo, acredito que, na Guiné, durante o consulado de António de Spínola, isso seria absolutamente desaconselhável de tentar, dado o pendor patriarcal do General e a sua reputação de Comandante-Chefe implacável para com os incompetentes e irresponsáveis.

Assim, e em síntese, não haverá razões para duvidar de que, com excepção da urna remetida para a família do Batista, que, tudo leva a supor, continha o corpo do António Oliveira Azevedo, todas as restantes enviadas para a Metrópole continham os cadáveres efectivamente correspondentes às fichas de identificação que as acompanhavam, podendo os familiares dos nossos camaradas mortos em 17 de Abril de 1972, na emboscada do Quirafo, ficar sossegados sob esse ponto de vista, tal como poderá a D. Cidália continuar a venerar a memória do seu marido na sua sepultura de sempre, na certeza de que ali estarão os seus restos mortais.

(**) estes dois últimos adjectivos foram propositadamente extraídos dos comentários do Luís Graça no P4046

Esposende, 09/Abril/2009
Mário Migueis Ferreira da Silva
migueisdasilva@gmail.com

Nota: Gostaria de, através do blogue ou outra forma de contacto, saber notícias da malta da tão sacrificada “3490” (Que é feito de ti, Custódio Henriques?!... E de ti, Fonseca?!...Ninguém fala, ninguém diz nada!...).


3. Mensagem de Paulo Santiago com data de 15 de Abril de 2009:

Vinhal:

Estou a enviar-te esta mensagem porque serve para melhor compreendermos as causas do Luto Traumático da Cidália, viúva do 1.º Cabo Radiotelegrafista António Ferreira, morto em combate no Quirafo em 17 de Abril de 1972.

Em Junho de 1972, dia 6, chegou a Águas Santas o Armão Militar transportando a urna com o corpo do António Ferreira que foi depositado no Mosteiro, para as respectivas cerimónias fúnebres com Honras Militares. O mesmo armão seguiu para Moreira da Maia transportando outra urna que vinha identificada como sendo do Soldado António da Silva Baptista.

Em Setembro de 1974, trabalhava a Cidália numa fábrica de confecções em Rio Tinto, recebe, nesse seu local de trabalho, um telefonema informando-a que o António Ferreira estava vivo e a chegar a casa. Imaginem a situação. O patrão, acompanhado pela esposa, agarram no carro e transportam a Cidália até Águas Santas, onde se encontrava uma verdadeira multidão, tanto assim que resolveram deixar o automóvel e irem a pé até à residência da Cidália, onde esta entrou e não encontrou o amado marido. Algumas pessoas dirigem-se a ela perguntando-lhe:
- Onde está o Ferreira?
- Não está aqui - responde-lhes.

Alguém chega e diz:
- Quem já chegou foi aquele, o Baptista, de Moreira da Maia, sepultado no mesmo dia do Ferreira.

Lá segue a Cidália ao encontro do Baptista, onde se encontrava outra multidão. Falou com ele, lembrava-se do Ferreira mas não tinha qualquer recordação se ele ía na coluna, emboscada no Quirafo.

A Cidália confessou à Cátia que aquele dia de Setembro foi o mais feliz e o mais traumático da vida dela.

Paulo Santiago

__________

Notas de CV:

(a) Vd. poste de 31 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1230: Onde se fala do Henriques da CCAÇ 12, do ranger Eusébio e da tragédia do Quirafo (Mário Miguéis)

(b) Vd. poste de 31 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4117: A tragédia do Quirafo: 37 anos para fazer o luto pelo António Ferreira (Paulo Santiago / Cátia Félix)

(c) Vd. poste de 24 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P984: Ainda a tragédia de Quirafo: o 'morto' que afinal estava vivo (António Duarte)

(d) Vd. poste de 25 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P987: A propósito do morto-vivo da CCAÇ 3490 (Saltinho, 1972/74) (Paulo Santiago]

(e) Vd. poste de 26 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P990: A tragédia do Quirafo (parte III): a fatídica segunda-feira, 17 de Abril de 1972 (Paulo Santiago)

(f) Vd. poste de 28 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1000: A tragédia do Quirafo (Parte IV): Spínola no Saltinho (Paulo Santiago)

(g) Vd. poste de 31 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1230: Onde se fala do Henriques da CCAÇ 12, do ranger Eusébio e da tragédia do Quirafo (Mário Miguéis)

(h) Vd. poste de 22 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1985: Prisioneiro do PAIGC: António da Silva Batista, ex-Sold At Inf, CCAÇ 3490 / BCAÇ 3872 (2) (Álvaro Basto / João e Paulo Santiago)

(i) Vd. poste de 18 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4046: Ainda a atroz dúvida da Cidália, 37 anos depois: O meu marido morreu mesmo na emboscada do Quirafo ? (Paulo Santiago)

(*) Vd. poste de 16 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4194: Tabanca Grande (134): Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf (Guiné 1970/72)

10 comentários:

Luís Graça disse...

É um texto soberbo, sério, rigoroso, detalhado, que muito nos orgulha... Os meus parabéns ao Miguéis, que deve ter feito um esforço tremendo para o elaborar e escrever, ainda para mais com o seu delicado problema de saúde do foro oftalmológico (que o impediu durante dois anos de seguir o nosso blogue).

Já pedi ao Carlos Vinhal para publicar também: (i) o croquis, de que fala o Miguéis; (ii) o conto sobre o "morto-vivo" (o seu a seu dono, a paternidade do epíteto é do Miguéis)... Neste caso temos de pedir autorização ao autor e ao JN...

Também gostaria de ver reproduzidas, em parte ou no todo, as reportagens do JN e/ou do Comércio do Porto, em 1974, aquando do regresso do "morto-vivo", o António Batista. Talvez mais tarde...

O testemunho do médico e do Lourenço também seria interessante... Não sei. O que será feito desse oficial ? Provavelmente é uma "rosca", como muitos outros, que se fecharam em copas, e puserem uma pedra no assunto...

É muitio apropriado a publicação deste texto neste dia, em que se comemoram os 37 anos da tragédia do Quirafo. É um dossiê doloroso, mas temos que fechá-lo, para dar paz aos mortos e conforto aos vivos...

Peço ao Paulo que tire, discretamente, uma foto da cerimónia religiosa, a realizar hoje, no Porto, em memória do António Ferreira, por iniciativa da sua viúva, Cidália, com apoio da sua amiga e nossa tertuliana Cátia... Infelizmente não poderei estar aí no Porto, por razões profissionais, mas já transmiti à Cátia a minha expressão de solidariedade e de pesar, que ela fará o favor de fazer chegar à viúva do Ferreira...

Um abraço sentido para todos/as, sem esquecer o Paulo, o principal autor, pivô e animador deste dossiê, que já leva muitas centenas de páginas, muitos milhares de baites.

Façamos hoje 1 minuto de silêncio pelos nossos camaradas da CCAÇ 3490, bem como pelos milícias e civis guineenses, mortos nesse já longínquo dia 17 de Abril de 1972, na picada do Quirafo, na região de Contabane, entre o Saltinho e Dulombi/Galomaro...

É um dos mais brutais e tristes episódios da guerra da Guiné - de resto, ignorados ou escamoteados pelos nossos historiógrafos - não só pela dimensão da tragédia como pela caricata troca de nomes de militares, mortos e desaparecidos, com graves consequencias emocionais e afectivas para as respectivas famílias...

Esperemos que ao fim destes anos todos - quase quatro décadas! - haja alguma paz na casa do António Batista (prisneiro do PAIGC, dado como morto) e do António Ferreira (morto, mas confundido com o desaparecido)... E que a a Cidália possa por fim "enterrar" o seu António...

Luís

Cátia Félix disse...

Caros amigos

Mais uma vez, e não querendo ser repetitiva, agradeço a dedicação, esforço, amizade de todos por conseguir ajudar a família do militar Ferreira a desfazer todas as suas dúvidas.
Na passada 4ª feira tive o prazer de conhecer alguns camaradas, no almoço da Tabanca de Matosinhos... E que bem que eles receberam aqui a caçula :)
Foi gratificante poder ouvir as histórias comoventes de alguns deles, mas também os seus bons momentos nas terras áridas da Guiné. Fiquei contente por saber que ainda existem pessoas que não têm receio de falar e perceberem que isso só faz com que vivam uma vida mais tranquila.
Não pensem que me senti deslocada...nada disso...Aqueles camaradas são a plena juventude em pessoa!
Tive também oportunidade de falar com o amigo Miguéis, que um pouco apreensivo me contou toda esta história aqui reportada no blog. Apesar de tudo ser muito triste, pela tragédia em si, fiquei feliz por poder chegar a casa e telefonar à Cidália a contar-lhe as novidades. Dizer à minha querida amiga para abandonar todas as suas dúvidas. Que poderia viver com a sua viuvez em paz e sem interrogações.
Daqui a uns minutos vou sair de casa para me deslocar ao cemitério. A todos os que não estiverem presentes pessoalmente, com certeza estarão conosco em pensamento. Atenderei ao pedido do nosso camarada Luís G. e faremos o minuto de silêncio em homenagem a todos os que padeceram na tragédia do Quirafo.

Como já sou uma das vossas, despeço-me com um beijinhos para todos.

Cátia Félix

Anónimo disse...

Mensagem do Álvaro Basto, nosso prezado camarada, que é trambém um dos animadores da Tabanca de Matosinhos, e que foi Fur Mil Enf, na CART 3492 (Xitole e Ponte dos Fulas, 1972/74)


Luis

Excelente texto, este do Mário Miguéis a quem na passada quarta-feira tive o prazer de conhecer pessoalmente embora não o relacionando nem de perto nem de longe com este assunto.

O esforço pela síntese da verdade na amálgama de tanta informação, alguma até contraditória, é merecedora do nosso mais vivo respeito e daqui quero expressar-lhe desde já os meus parabéns.

Muito do que tenho procurado transmitir tem sido ventilado com o Dr. Pinheiro Azevedo com quem continuo a ter excelentes relações e que por diversas vezes tenho tentado trazer à liça com as suas informações obviamente credíveis e esclarecedoras.

Adianto que irei uma vez mais insistir para que, também ele, dê o seu contributo esclarecendo e confirmando alguns dos aspectos mais relevantes desta tragédia especialmente no que concerne à identificação dos corpos.

O horror dessa tarefa teve em mim duas acções contraditórias no tempo, por um lado nunca mais esqueci as suas imagens mais gerais e por outro (se calhar ditado pelo meu inconsciente), o de ter esquecido muitos dos pormenores.

Ficou-me com especial nitidez a imagem do [Alf] Armandino que jazia inanimado em cima de um unimog e os corpos mutilados e carbonizados nas casas de banho. Recordo-me da dificuldade que reinava em reconhecer muitos deles. Recordo-me que dois deles estavam especialmente mal tratados e que não haveria concenso quanto a saber-se quem era quem. Acho que o Dr. Alfredo Pinheiro Azevedo se recusou mesmo a assinar as respectivas certidões de óbito desses dois tendo-me contado que, mais tarde, em Bissau de partida para férias, foi confrontado com a insistência do Capitão Lourenço e tanto quanto sei do primeiro sargento da companhia que queriam.... arrumar aquela papelada... tendo-se no entanto este mantido firme e não tendo assinado...

Mas para evitar mais especulações estou a mandar cópia deste mail ao Dr. Alfredo Viana Pinheiro Azevedo com um pedido solene aqui expresso de se pronunciar....

Esperemos que ele se decida a faze-lo depois de ler a síntese do Miguéis no Post 4194 e no Post 4200.Um grande Alfa Bravo

Álvaro Basto
alvarobasto@gmail.com

Anónimo disse...

Texto publicado hoje no blogue da Tabanca de Matosinhos, com data de hoje, e assinado pelo Álvaro Basto(e aqui reproduzido, com a devida vénia):

P148-A emboscada do Quirafo foi há 37 anos


17 de Abril de 1972 foi uma data fatídica para uma série de camaradas nossos que nos deixaram de forma abrupta e traiçoeira.

Nesse dia o Batista, deitado no chão após o enorme rebentamento das granadas de "bazooka" que íam pousadas dentro da GMC onde ele se tinha empoleirado, viu aproximar-se um "turra" e deitar-lhe a mão ao cano da espingarda para ver se estava quente ou frio. Felizmente estava frio pois o terror tinha-o paralizado... estava salvo por agora. O tiro de misericórdia que lhe estava destinado ficou reservado para outros que se contorciam com dores no chão.

Foi levado pelos guerrilheiros, desarmado, pelo mato em coluna que o fizeram atravessar o rio Corubal por um caminho de pedras submersas e viu a água subir-lhe pelo corpo acima até ao pescoço. De repente pensou que não sabia nadar... não morri da emboscada e vou morrer aqui afogado, pensou.... mas a água foi lentamente descendo e finalmente estava do outro lado.

Esperavam-no longos meses de doloroso cativeiro.

Foi um dia de pesadelo para os poucos que sobreviveram e para os que foram em socorro das vítimas. Imaginaram-se cenas, especularam-se hipóteses. No princípio nem se sabia ao certo quantos faltavam.
37 anos depois, alguns dos nossos camaradas da Tabanca de Matosinhos, entre os quais alguns que viveram aquela tragédia no local, vão depositar uma coroa de flores no túmulo do António Ferreira no cemitério de Águas Santas, juntamente com a Cidália, a sua viúva, prestando desta forma uma singela homenagem a todos quantos nesse dia pereceram em tão traiçoeira emboscada.

A nossa imaginação exacerbada pelo horror da tragédia e as nossas recordações incompletas e distorcidas pelo tempo, fizeram a Cidália acreditar que o seu amado António Ferreira poderia ter sido capturado vivo e, à semelhança do que aconteceu com o Batista, um dia ainda regressar para o seio dos seus.

Arrumadas as ideias e refeitos os factos, infelizmente ficou comprovado que não.

O seu corpo descansa em paz no túmulo que lhe reservaram na sua terra natal.

Bem hajam todos quantos se têm esforçado pela determinação da verdade dos factos.

Álvaro Basto

http://tabancapequenadematosinhos.blogspot.com/2009/04/p148-emboscada-do-quirafo-foi-ha-37.html

Luís Dias disse...

Camaradas

Como já referi num post sobre a Tragédia do Quirafo. O comando do batalhão, no fim da nossa comissão e já em Bissau,em meados de Março de 1974, toma conhecimento, por um militar da CCAÇ3489 (Cancolim), que tinha sido feito prisioneiro pelo PAIGC, mas que se evadira, que o António Baptista, da CCAÇ 3490,havia sido capturado pelos guerrilheiros na emmboscada do Quirafo e era prisioneiro deles.
Portanto, desde essa altura que se sabia que o António Baptista dado como morto, estava vivo.

Um abraço

Luís Dias

paulo santiago disse...

Em relação com o comentário do Luis
Dias,só tenho a dizer-merda de
comando(batalhão e companhia )
saberem em Março/74 que o Batista
estava vivo,e fecharem-se em"copas"
nada transmitir à família.Desculpem
mas tenho que dizer:vão pró caralho

Anónimo disse...

Já me referi ao valor do Ferreira da Silva (Mário Migueis) no seu último Poste de hoje (18).
Agora fico estupfacto ao ler nestes dois últimos comentários que afinal, os Cmdts das unidades souberam ainda em Bissau do caso do Batista!!!
É de bradar aos céus...
Compreendo a indignação do Paulo.
Jorge Picado

Unknown disse...

Há dias escrevi neste espaço e tenho-o também dito aos nossos companheiros, que pouco ou nada vejo sobre as reportagens que passam nas nossas TVs sobre o que foi a "nossa" guerra. Uma das razões é porque nunca falam os protagonistas, contando as suas estórias. A voz é dada aos actuais generais que só dizem disparates. Terei ou não razão, mas a minha opinião foi formada. Quantos Quirafos terão havido e quem deles sabe ? O exemplo desse senhor capitão Lourenço, do 1º sargento e as chefias em Bissau quando lhes foi relatado o caso do Baptista, só vem demonstrar que os profissionais não queriam saber nada de nada. A burocracia era o importante. Os homens não tinham valor nem as suas famílias. No entanto esses homens, dezenas de anos depois ainda se importam com aqueles que partilharam um período da sua vida, que foram a sua família durante algum tempo. Mas os profissionais onde estão ? Tal como antigamente, no ar condicionado. Nem sequer têm micose para coçar porque não têm nem nunca tiveram o saquinho onde ela pudesse chegar.

paulo santiago disse...

Portojo
Lamentávelmente,para nós,o Cap.
Lourenço não era profissional,como
dás a entender,era miliciano...uma
vergonha para nós.

Unknown disse...

Paulo e caros camaradas,
Falei do cap.Lourenço como profissional, porque me apercebi que o seria na altura. Como tu dizes, uma vergonha para nós. Mas a falta de humanismo, acima de tudo, faz-me doer a alma.