Tão pequeno o quarto no
Íbis Hong Kong pendurado na baía!...
O que tenho cá dentro ?
Apenas uma janela para olhar o mar,
uma cama larga, ar fresco,
e um montão de livros.
Hong Kong, nove dragões,
no outro lado da baía,
ondulam no sabor dos dias.
Arranha-céus em Hong Kong,
montanhas depuradas de betão,
brotam do mar e da terra.
O teleférico sobe pelos ossos da ilha,
oscila nos lábios brancos do vento.
Lá em baixo, mil perfumes
rasgam a capa verde dos montes,
nas alturas de Lantao, a névoa cresce.
À entrada do tempo de Pó Lin,o chilreio de todos os pássaros.Grotescos os guardiões do templo de Buda,na mão um pagode, um alaúde,uma esfera, um dragão, uma espada.
Almotolias, lamparinas, óleos,
fumos cinzentos de incenso,
Tesouros de Lótus nos jardins,
estranhas flores de um Maio triste.
A bruma afga a crista dos pinheiros,
o viajante afasta-se no vazio,
o mosteiro bebe a névoa do céu.
Entro por nuvens brancas,
e saúdo o velho Buda,
sentado num lótus de bruma
Os montes de Lantao, a aldeia de Ngong Ping,
mais longe da desfaçatez das gentes do mundo,
aqui novelos de sagesse no olhar.
Um almoço de massa, porco frito e camarão,
mais perfumes de chá da China.
Depois, após o levantar da bruma,
Buda à minha espera
para uma conversa entre deuses e homens.
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Segunda e última parte dos fotopoemas de Macau e Hong Kong, Maio-Junho de 2009, da autoria de António Graça de Abreu. É um privilégio, para os seus amigos e camaradas da Guiné, poder acompanhá-lo por estas paragens que inspiraram grandes poetas e escritores portugueses como Luís de Camões, Camilo Pessanha ou Venceslau de Moraes. O António é também portador de valores de que nos orgulhamos, na nossa portugalidade, como é por exemplo a nossa capacidade de entender (e comunicar com) outros povos, outras culturas.
António Graça de Abreu (n. 1947, no Porto), membro da nossa Tabanca Grande, foi Alf Mil, CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74) [, foto à esquerda]. É um conceituado especialista em cultura chinesa, tradutor (premiado) de clássicos da poesia chinesa como o poeta Li Bai (701-762), é autor de mais de um dúzia de livros, entre poesia e ensaio histórico, incluindo o Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura (Lisboa: Guerra e Paz, 2007). Viveu em Pequim e Xangai, de 1977 a 1983. É casado com a médica Hai Yuan e tem dois filhos, João e Pedro. Vive no concelho de Cascais (*).
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Nota de L.G.:
(*) Vd. poste anterior: 18 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5673: Blogpoesia (63): Poemas de Macau e Hong Kong - Parte I (António Graça de Abreu)
4 comentários:
Caro, António Abreu
Todos na vida, já passámos por coincidências, que à luz da razão são difíceis de explicar, embora o desenrolar do facto seja natural.
Ontem fui á Fnac, e, como é habitual, dei uma vista de olhos na secção de livros. Um livro chamou-me à atenção acabei por comprar, cujo autor é o António Abreu, Diário da Guiné. Logo ontem, comecei a ler o livro e cheguei à página 150 - Vinte e um Dias de Férias em Portugal. Identifico-me muito com a sensibilidade e humanismo patente na escrita do António Abreu, desse tempo… mas como a personalidade já estava definida, creio que continuará igual.
A coincidência é que eu comprei o livro, sem a mínima noção do autor e, só hoje, neste “Poste” fiz associação, quando se faz referência a títulos editados.
Muita saúde, um abraço
José Corceiro
Caro, António Abreu
Sou, o Corceiro, esqueci-me de dizer que sou ainda muito Periquito, pois tenho dois meses de Tabanca, essa a razão porque não associei Livro, ao Autor.
Um abraço
José Corceiro
É um Mundo diferente, meu Caro Graça de Abreu.Sabes melhor que eu.
Estive uma vez quase a ir até Macau, ainda por lá abanava a nossa bandeira. Antes, há muitos anos atrás teria menos de trinta, a curiosidade, o gosto pelo desconhecido levou-me, pouco muito pouco, ao ioga, shotokai, Budismo Zen e outras experiências. Verifiquei que nós ocidentais estamos muito, muito longe do pensamento oriental (no meu caso mais Japonês).É natural...
Hoje,quando me apercebo desta apetência pelos costumes orientais sinto, subjectivo claro, que não passa de mera curiosidade inconsequente ou, pior ainda uma "moda"...
Levava-me longe falar do pouco que conheço do pensamento oriental.Fica para um dia.
Até lá um abraço do,
Torcato
António,
Hoje, nesta tua passagem pela Tabanca, não resisti a voltar a "Cálice de Neblinas e Silêncios".
É maravilhoso transcrever aquilo que tão bem sabes escrever:
NUVENS
"As nuvens brancas, rosa,cinza, azuis púrpura/
nascem no telhado humedecido do meu lar,/
no sândalo perfumado do jardim./
Entro pela névoa/
na brancura resplandecente do vazio,/
subo a montanha/
sobraçando pedaços de bruma,/
ao sabor do vento, ao sabor do tempo./
Regresso aos campos e jardins,/
com o respirar da chuva."/
Lindo!... Muinto lindo!
Continua a diliciar-nos com a tua poesia.
Canta os Xamãs, em viagens da alma pela tua China.
Um abraço,
Mário Fitas
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