sábado, 15 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7617: Blogpoesia (108): HERÓIS e heróis (Manuel Maia)

1. Mensagem de Manuel Maia* (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), com data de  13 de Janeiro de 2011:

Carlos,
Com um grande abraço de amizade, envio daqui mais umas cinco sextilhas subordinadas ao tempo acima referenciado.


HERÓIS e "heróis"

A todos, "camarigos" meus, guinéus,
aos vivos e aos mortos lá nos céus(?)
HERÓIS que fostes, sempre tão sofridos...
Aqui vos agradeço a amizade,
Se a uns evoco só como saudade,
abraço os outros pelos tempos idos...

Mandantes e mandados fomos todos,
sob outros mandos, muitos, sempre a rodos,
em guerra desse nome só p`ra alguns...
Proporcionalidade inversa aos p`rigos,
tem o militar posto ante inimigos,
de capitão p`ra cima, são nenhuns...

E capitães, insisto, milicianos,
que os outros nessa guerra eram "paisanos"
perdidos entre REPS de Bissau...
Nas guerras de alecrim e manjerona,
dos pionais, marcando zona a zona,
na capital havia a dar com pau...

No mato, onde elas cantam é que contam,
soldados, carne e osso, se amedrontam
perante a emboscada ou flagelação...
No ar condicionado, os soldadinhos,
de chumbo tal qual lindos brinquedinhos,
"heróis" os manuseiam, pois então...
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7613: Blogpoesia (107): A liberdade é inata no poeta (Manuel Maia)

4 comentários:

Anónimo disse...

Maneeel !!!
Deixa lá os heróis sossegados, em repouso treinados, que abalas os alicerces da nossa história.
Se alguns cantam vitória...
Deixa-os Manel... sossegados.
JD

Anónimo disse...

Amigos,

Por mim, houve (e há, felizmente) heróis. De todos os postos e qualidades, militares ou civis. Não aqueles que contam, na primeira pessoa, façanhas inauditas dignas, não de heróis mas de super-heróis. Estes, para mim, deixam logo de o ser. Mas heróis como o cabo Raposo, de Gadamael, que ninguém sabe quem é e ele, certamente, nem sabe que o foi. Ou o furriel enfermeiro, considerado pelos seus camaradas como efeminado ou mais do que isto, mas que, numa terrível emboscada, foi o único a demonstrar que os tinha no sítio, andando, debaixo de fogo, a tratar de quem precisava, como se estivesse na mais calma das enfermarias. Mas, a partir daí, passou a ser admirado pelos seus camaradas. Também ninguém faz a mínima ideia de quem seja. Estará, certamente, a viver numa aldeia calma do interior de Portugal, reformado e com a incumbência de levar os netos à escola. Isto se a escola já não foi foi de lá retirada... Houve heróis, sim. E é ver como aqui neste convívio virtual há (e ainda bem) quem demonstre a sua admiração por camaradas de armas alguns dos quais deram a vida para salvar a de outros ou pelo menos, com a consciência de que o fim chegara, procuraram evitar a perda de mais vidas. Nunca deixarei de respeitar e admirar estes HERÓIS, nem tampouco os que:
"No mato, onde elas cantam é que contam,
soldados, carne e osso, se amedrontam
perante a emboscada ou flagelação..."

Um abraço,
Carlos Cordeiro

manuelmaia disse...

Caro Carlos Cordeiro,

As situações que referenciaste,são casos de HERÓIS,com maiúscula,porque o foram,na verdade e provavelmente nunca tiveram medalha alguma.
Como esses dois houve muitos mais ao longo dos anos que a guerra durou.
Os outros,os "heróis" coleccionadores de medalhas que teciam loas uns aos outros e ouviam os tiros durante um qualquer western wayneano no cinema UDIB,(no bem bom do ar condicionado de Bissau),esses apunham-nas em doses maciças nos peitos uns dos outros,conseguindo promoções, agarrados ao guarda chuva do estado...
"Façanhas inauditas contadas sobre super-heróis",por muito que tenha procurado não as encontrei ainda no blogue, a não ser claro,que nos sejam facultados relatos de operações comandadas por milicianos e militares autoctones com a assinatura de um qualquer "paisano" como "responsável"...
Abraço
manuelmaia

Anónimo disse...

Caro Manuel Maia,
Não disse - nem pensei - que os auto-elogios vinham no blogue. Nem sequer falava especificamente de guerra.
Houve quem merecesse ser condecorado e não foi? Houve, sim senhor. Muitíssimos - entre eles, concordarás comigo - também oficiais do QP.

Um abraço e
bom fim-de-fim-de-semana.
Carlos Cordeiro