segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8971: Blogpoesia (164): Terra à vista! (José Pardete Ferreira)

1.Mensagem de 30 do corrente, de José Pardete Ferreira:

Caro Luís Graça, mesmo não tendo nada a ver com a Guiné, excepção feita ao mar, ao pescador e à minha Serra da Arrábida, no seguimento da “minha Serra” do Fado da Orion (*), junto envio este poema que, pelo menos para os homens do mar, os  Fuzileiros Especiais com quem estive, deve querem dizer qualquer coisa. J. A.  Pardete Ferreira

2. Comentário de L.G.:

Obrigado, José, por queres partilhar com todos nós este belo poema. Mas permite-me a liberdade de, para além da tua oportuna e apropriada dedicatória aos valorosos fuzileiros (e demais marinheiros) com quem conviveste no TO da Guiné, fazer dos teus versos também, por extensão, na proximidade do Dia de Finados, uma homenagem do nosso blogue a todos aqueles soldados e marinheiros, nossos camaradas da Guiné, que ficaram insepultos nos traiçoeiros e lodosos rios e braços de mar daquela terra, desde o Rio Cacheu ao Rio Corubal...  E, já agora,  aos nossos pescadores, aos meus antepassados de Ribamar da Lourinhã, a todos os nossos pescadores que, para ganhar a vida, encontraram a morte no mar... Muitas vezes com a terra à vista!


TERRA À VISTA!

Uma bruma de salpicos,
Emergentes duma vela molhada
Por uma bolina robusta,
Saída dum nordeste fim de dia,
Quase sem Sol, mas brilhante
Como a Estrela de Alba
Que nos anuncia a noite!

Não sei se o pescador se o leme,
Pega mais firme no outro,
Enquanto a mão livre, dorida,
Domina a escota
Que a vela caça.

Lábios gretados, pele tisnada,
Músculos tensos, segurando ossos firmes,
Quais remos ofegantes,
Como artes de navegar,
Após mais um dia de esforço.
Rumo à terra, vai o peixe
Desse dia de labuta!


Já não sei se é mar se lágrima,
Meus olhos não deixam ver:
Se o Portinho, se Alportuche…
Volto amanhã, se Deus quiser,
E mais riqueza trarei,
Se vivo a casa voltar,
Mesmo de barco sem escama
P’ra meus filhos e mulher.


Setúbal, 2011-10-04

J. A. Pardete Ferreira

________________

Nota do editor:(* Vd. poste de 30 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8966: Blogpoesia (163): Fado da 'Orion' (José Pardete Ferreira)

3 comentários:

Pardete Ferreira disse...

Caro Luís, não só "permito a liberdade" da extensão da homenagem a todos os referidos como me sinto muito honrado por ser o "porta-voz" da Tabanca Grande.
Apenas uma correcção: sem dúvida por gralha de impressão, o verso "Rumo à terra vai o peixe..." foi transformado em "Como à terra vai o peixe..." mas que, no fundo em nada altera o sentido.Alfa Bravo.
José Pardete Ferreira

Luís Graça disse...

Gralha corrigida, só me resta agradecer a tua grandeza de alma e generosidade... LG

Hélder Valério disse...

Caro camarigo Pardete Ferreira

Gostei.
Não só do poema, da sua intenção, do sentido que o Luís Graça também entendeu por bem lhe atribuir, mas principalmente do profundo sentir que ressalta da necessidade que sentiste em o escrever, em passar para o papel esse fortes sentimentos que no momento (e certamente que já vinham fermentando há mais tempo) te assaltaram.
Obrigado.
Hélder S.