sábado, 13 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10525: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (1): Uma história do artilheiro de Gadamael, à beira da peluda, no 'bem-bom' de São Domingos...




Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > O alf mil art Vasco Pires, ex-alf Mil, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72), nos últimos meses da sua comissão no 'resort' de São Domingos...

Foto:  © Vasco Pires (2012),. Todos os direitos reservados [Editada por L.G.]

1. Mensagem do nosso grã-tabanqueiro Vasco Pires,  tuga da diáspora, a viver no Brasil:

Caros Luis Graça e Carlos Esteves Vinhal,
Cordiais Saudações.
Estou em dívida com o blogue, pois ainda não enviei foto dos tempos da Guiné (*). 

Como eu disse em mensagem anterior, pedi a um parente para procurar essas fotos nos meus pertences que estão em São Paulo, contudo, teve que ausentar-se da cidade, e não pode ainda procurá-las. Me cedeu a foto, que vai anexa, que estava num álbum em seu poder.

Dita foto, acredito eu, é da fase final da minha comissão, três ou quatro meses que passei em São Domingos, na altura sede de um Batalhão de Infantaria (lamentavelmente não lembro o nome do oficial que dirige o jipe). 

Nós,  de rendição individual, por vezes tínhamos que esperar substituto, que normalmente tardava. Ao fim de mais de vinte meses de comissão, a maior parte deles passada em Gadamael, mandaram-me para São Domingos. 

A atividade operacional da artilharia em São Domingos era nula, assim quando cheguei, falei para os Furrieis, que a minha comissão tinha terminado (21 meses), mas faltava o substituto. Eram excelentes profissionais, tomaram conta do Pelotão e respeitaram a minha "aposentadoria" e,  como eu pedi, só me chamariam quando houvesse algum problema, o que nunca aconteceu. 

A minha atividade principal era jogar bridge, o Comandante do Batalhão, um Coronel à beira da reforma, era o mais entusiasta.

Chegados os 24 meses, pedi para o Tenente-Coronel,  2° Comandante, no exercício temporário do Comando do Batalhão de Infantaria, que me liberasse pois a minha hora de voltar já tardava, o que não aconteceu; dizia ele que só me liberaria com a chegada do meu substituto, sendo em vão os meus argumentos de que o Pelotão tinha dois excelentes Furrieis experimentados. 

O máximo que consegui foi autorização para ir a Bissau para ver se conseguia um substituto. Ao chegar ao GAC 7 (ou já seria GA 7?), fui-me apresentar ao Comandante, que acredito era o Coronel Cirne Correia Pacheco, que me recebeu cordialmente, e logo disse que ia mandar-me para casa, ao que eu retorqui:
- Infelizmente, não vai ser possível, porque o nosso Tenente-Coronel disse que é ele que manda, e não vai autorizar.

Vi que tinham sido "santas palavras", pois ele limitou-se a dizer 
- Ah é, ele disse que é ele quem manda ?!
- Sim,  senhor, meu Comandante - ousei dizer. 

Imediatamente ordenou a quem de direito provedenciar os meus papéis.

 Estava eu na sala de espera do Aeroporto de Bissau, quando vejo entrar o Comandante do GAC 7 [ou melhor, GA 7], dirigiu-se a mim e ao meu amigo, na altura Alferes Vinagre de Almeida, que também estava voltando, e depois de responder à nossa saudação, dirigiu-se a mim e disse em tom solene:
- Infelizmente o nosso Tenente-Coronel é quem manda e você tem que voltar!!!

Provavelmente viu que eu tinha mudado de cor, e logo emendou:
- Brincadeira, vim aqui para agradecer, e desejar boa sorte para vocês dois. 

Caro Carlos Vinhal, cá vai uma "estória" ou "causo", como falam aqui no Brasil, da nossa guerra, conforme você pediu na minha apresentação.

forte abraço, VP  [, foto atual à direita].


PS - Caros Amigos Luis Graça/Carlos Vinhal,

Ontem enviei um e-mail, e, procurando no fundo do "baú de recordações", sobre a fase final da minha comissão em São Domingos, disse que no começo de 72, era sede de um Batalhão de infantaria, ou seria um Batalhão de cavalaria?

Desculpem a minha falha mas, como disse anteriormente, saí de Portugal ainda em 72, e a Artilharia na Guiné era de rendição individual, e somente oficiais , sargentos e especialistas, pois praças e cabos eram da guarnição local. Então os contactos com os camaradas se perderam facilmente, e as memórias foram ficando mais diluídas.
forte abraço, VP


_______________

Nota do editor:

(*) 27 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10443: Tabanca Grande (362): Vasco Pires, ex-Alf Mil, CMDT do 23.º Pel Art.ª (Gadamael, 1970/72)

6 comentários:

Luís Graça disse...

Vasco: Quem devia estar em São Domingos no princípio de 1972 era a CCAV 3365 (que pertencia ao BCAV 3846 (1971/72),

Tens aqui um camarada dessa companhia, o Bernardino Parreira:


http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2010/08/guine-6374-p6875-tabanca-grande-236.html

Anónimo disse...

Caro Luis,
É certo que as lembranças estão "esfumadas", mas no melhor da minha memória, o Senhor Cirne Correia Pacheco, à data do meu regresso, era Coronel, pois lembro que ele ficou agastado, de um Tenente-Coronel, impor ordens a um subordinado seu, contradizendo-o. De algum modo, os nossos historiadores de plantão , que nos ajudem.
forte abraço
Vasco Pires

Luís Graça disse...

OK, vamos corrigir... Um abraço. LG

Anónimo disse...

Caro Luis,
Tenente-Coronel, era o posto do seu antecessor, o Senhor António Luís Alves Dias Ferreira da Silva,controverso oficial,famoso por seu relacionamento difícil com subordinados, bem como com os seus superiores, (foi punido com prisão pelo General Spínola, com quem teve relacionamento tumultuado).Era apelidado pela caserna de "paizinho",dirigia-se o todos com um "Oh filho!", e "homem da voz meiga", contudo nada meigo na punição.
abraço
Vasco Pires

Manuel Reis disse...

Amigo Vasco não comhecia essa tua peripécia, mas na Guiné estávamos sujeitos a todos os dislates, de um momento para o outro tudo mudava e muitas vezes sem sabermos donde chovia.

Fiquei surpresa pelas tuas fotos, na 1ª reconheço-te, um pouco mais magro, como mandava a limentação, mas perfeitamente identificável dos nossos tempos do Colégio de Anadia. ´Na 2ª, meu caro, nem pintado, como vocês dizem por aí.

Um abração deste lado do Atlântico.

Manuel Reis

Anónimo disse...

Caro Manuel Augusto,
Foi uma boa notícia, saber que as caçoilas já estão prontas.
forte abraço
Vasco Pires