terça-feira, 24 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14404: Notas de leitura (696): "Os Segredos da Censura", por César Príncipe (Manuel Joaquim)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Joaquim (ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67), com data de 21 de Março de 2015:

Meus caros editores:
A leitura do livro "Os Segredos da Censura", de César Príncipe, levou-me a redigir este texto.
Acho que o tema tem algum interesse mas o texto está um pouco comprido. Eu bem tentei mas não consegui pô-lo mais curto nem saber por onde o separar para publicação em duas partes.
Se no vosso entender for publicável, estejam à vontade no seu modo de edição.

Muito obrigado pelo vosso trabalho. Nem imaginam quanto vos estou grato e vos admiro!

Fraternalmente, um grande abraço para cada um de vós, meus caros amigos e camaradas.
Manuel Joaquim


Guerra Colonial 
O controlo da informação na política ultramarina portuguesa

Manuel Joaquim

Durante os governos de Salazar e de Caetano, um dos meios usados para controlar politicamente o país era o exame prévio da matéria que os órgãos de informação quisessem publicar. Para isso havia uma “Comissão de Censura”, nome alterado por M. Caetano para “Comissão de Exame Prévio”. Esta Comissão vigiava todo o tipo de informação, desde a escrita (jornais, livros e revistas, etc.) até à radiofónica e televisiva. Também as artes e espectáculos estavam sujeitos ao mesmo exame prévio (teatro, cinema, canções, cartazes, etc.). Era proibida a publicação ou a exibição de tudo o que a “Censura” achasse não estar de acordo com as ideias do poder vigente (político e religioso).

A este propósito tenho presente o livro do jornalista César Príncipe, “OS SEGREDOS DA CENSURA” (3ª edição, 1994). Nele estão transcritos os telegramas telefonados pela Comissão de Exame Prévio do Porto para o Jornal de Notícias (JN) desde 05/01/1967 até 24/04/1974, assim como “Circulares dos Correios e Telecomunicações de Portugal sobre livros e revistas proibidos de circular” emitidas nos anos 1970 a 1974.
São quase sete centenas de telegramas e é de ficar de boca aberta perante o que neles se lê. Tendo sido dirigidos a um só jornal e num certo período de tempo, podemos imaginar a enormidade da soma de todos os telegramas deste género enviados pelos “coronéis da censura” para todos os órgãos de informação, durante as dezenas de anos de vigência do regime do Estado Novo!

Capa de "OS SEGREDOS DA CENSURA", de César Príncipe 
Editorial Caminho - 156 páginas - 3ª edição, 1994

Pelos referidos telegramas se vê que tudo era assunto sujeito a censura prévia: qualquer tipo de ideologia e actividade políticas, órgãos de comunicação social, trabalho e relações laborais, religião, epidemias, desastres naturais, guerras, fome, apoios sociais, cooperativas, aumentos de preços, barracas, abortos, emigração, ensino, suicídios, adultérios, homossexualidade, proxenetismo, prostituição, pedofilia, assassínios, fraudes, roubos, etc. etc. O resultado de tudo isto foi a criação de um país-ficção, um país idealizado e propagandeado pelo Governo como um país exemplar habitado por um povo exemplar. A verdade do país real era bem diferente.

Para o Governo de então, não havia guerra no Ultramar mas acções de manutenção da ordem pública. Portugal nunca admitiu, oficialmente, a existência de guerra nas colónias portuguesas em África. Veja-se este telegrama da Comissão de Exame Prévio, dirigido ao JN em 12-01-1970:

«Na posse do 2.º comandante da PSP de Lisboa – disse-se que ele já fez três comissões de serviço no Ultramar, a primeira “logo na eclosão da guerra”. Ora, não há guerra. Não se pode dizer isso. Deve ter sido confusão do repórter … Coronel Saraiva.»

Repare-se na data, Janeiro de 1970! O Governo continuava a dizer que não havia guerra, nove anos depois dela iniciada! “Deve ter sido confusão do repórter” – ironiza (?) o coronel censor!

Numa recente emissão da RTP, onde se falava de “mulheres na guerra colonial”, a esposa de um combatente diz que ao chegar a Lourenço Marques alguém lhe disse que não havia guerra nenhuma em Moçambique, que essa ideia de guerra era uma invenção dos militares para justificarem a sua presença ali, o que eles queriam era ganhar bom dinheiro. De nada lhe valeu reafirmar a certeza de que o marido estava mesmo a combater.
Também recentemente o historiador António Costa Pinto disse que a gravidade da guerra colonial passou despercebida a muita gente em Angola e Moçambique. Disse-o na apresentação de um estudo sobre a chamada “população retornada” que, no fim da guerra, abandonou precipitadamente os territórios africanos. Gente que vivia alheada do conflito bélico, com pouca ou mesmo nenhuma consciência dos perigos que a guerra representava para o seu futuro, foi violentamente surpreendida pelo processo de descolonização e pelo modo como esta foi feita. A verdade do que se passava tinha-lhes passado ao lado. E não só por sua culpa mas também por causa do minucioso controlo oficial da informação, falada e escrita. Tudo isto lhes criou uma falsa realidade, o que em grande parte poderá explicar o seu não entendimento dos problemas político-sociais que depois as atingiriam.

Percebo agora a verdade de uma frase ouvida algumas vezes a pessoas escorraçadas de África, após o fim da guerra colonial: “nunca pensei que isto (me, nos) pudesse acontecer”.

Mas não foi só nos palcos de guerra que isto aconteceu. Também na então chamada “Metrópole” aconteceu algo parecido. O poder político tentava impedir que se viesse a criar uma consciência nacional do que se passava nos palcos de guerra em África.
É verdade que os ex-combatentes regressados traziam milhares de notícias sobre a realidade do que se passava na guerra colonial. Mas, como todos sabemos hoje, a maior parte deles portou-se como se tivesse assinado um pacto de silêncio sobre a guerra, muitas vezes só quebrado no seio da própria família. Esquecer os seus tempos de combatente era o que mais queria e o mais depressa possível.

Assim, as reais histórias da guerra iam ficando abafadas. Só passavam notícias, crónicas e reportagens que estivessem devidamente alinhadas com a política em vigor e cuja divulgação não viesse alterar a pacatez da vida pública e social e não causasse contestação à política seguida pelo Governo. Quem quisesse falar publicamente da sua vida de combatente, só com muita sorte não seria incomodado se esses seus relatos fossem contra a orientação governamental.
O país, em geral, não tinha grande noção do que se passava em África com os seus combatentes. À primeira vista, não havia notícias de mortos e feridos já que era difícil encontrá-las nos órgãos de informação. Os nomes dos militares falecidos eram divulgados em sintéticos comunicados do Serviço de Informação Pública das Forças Armadas e publicados num pequeno e obscuro espaço de um ou outro jornal.
Tudo se fazia para fazer crer que a chamada guerra do ultramar pouco mais era que um conjunto de fortes escaramuças, a deixarem de existir mais dia menos dia.
“Se não há guerra, não há combatentes”. Foi esta orientação que impediu a criação oficial da figura cívica de “ex-combatente do ultramar” e a sua agregação em associação de veteranos de guerra. Era politicamente perigosa tal instituição pelo que poderia fazer na divulgação da verdade do que se passava. E economicamente também o seria. Veja-se a este propósito o telegrama de 27/03/1973, enviado ao JN:
«O Diário Popular queria dar uma notícia muito grande sobre as regalias que os Estados Unidos concedem (muitas) aos desmobilizados do Vietnam – CORTAR. Dr. Ornelas». “Muitas” regalias, diz o censor.

Em Março de 1964, a Comissão de Censura definia assim o modo de tratamento das notícias sobre um levantamento popular em Moçambique, na área do Niassa:
“Quanto aos acontecimentos na Niassalândia (Moçambique), eliminar as estatísticas que as Agências estão fazendo do total de mortos e feridos. CORTAR todas as notícias relativas a violências executadas sobre os pretos pelos brancos. Não dar publicidade às atitudes anti-nativas das tropas locais europeias na repressão da revolta. Não dar notícias sobre tiroteio ou fogo aberto sobre multidões a fim de evitar especulações. Não há inconveniente em que se relatem violências exercidas pelos negros sobre os brancos nem que se diga que os motins são instigados pelos comunistas”.

É exemplar esta orientação noticiosa do regime de Salazar. Veja-se a duplicidade: nada de relatar violências dos brancos sobre os negros mas não há inconveniente em relatar violências dos negros sobre os brancos. Esta orientação é exemplar também por tudo o mais que pede: a negação total da verdade e a permissão política para criar uma mentira que passe por verdade. Imagine-se alguém, na altura, a dizer-se bem informado sobre o que se tinha passado na Niassalândia baseado na informação dada pelos órgãos de comunicação social!

Comissão de Exame Prévio do Porto. Telegramas telefonados ao JN, de 05/01/1967 a 24/04/1974:

De entre todos os telegramas referidos, seleccionei 62 dos 112 relacionados com a política ultramarina portuguesa e a guerra colonial.

30/4/67. «Pampilhosa. Actos de loucura de um sargento do exército. Não dizer que é sargento do exército. Senhora de Vila Maior, S. Pedro do Sul, morreu ao tomar conhecimento de que o filho embarcava para o Ultramar. Não falar em Ultramar. (…)»

10/11/67. «A Direcção dos Serviços de Censura pede aos jornais que, ao referirem-se à política portuguesa em África nunca digam: política do Governo. É que isso pode induzir em erro os estrangeiros, levando-os a crer que se trata de uma política de facção. Por isso convém: política portuguesa em África e política de Portugal em África.»

6/6/68. «O bispo de Carmona, D. Francisco da Mata Mourisca, efectuou (…) uma conferência sobre o 3º Congresso Mundial de Apostolado dos Leigos – CORTAR TUDO. (…).

30/7/68. «Em Soutelo, uma rapariga suicidou-se depois do namorado ter seguido para Angola, mobilizado. Não falar na ida para Angola. (…).»

6/8/68. «Forças rodesianas ou sul-africanas (passagem pelo nosso território) – CORTAR. (…).»

14/9/68. «Na Candeia-Bar foi preso um rapazola que ali praticou distúrbios. Não dizer que regressou há pouco do Ultramar. (…).»

22/2/69. «O ministro da Defesa pede que não se noticie o aparecimento dos corpos irreconhecíveis de militares mortos na Guiné. (…).»

30/10/69. «Quanto ao Ultramar – NADA. Verbas despendidas na Defesa – NADA. (…).

12/1/70. «Na posse do 2º comandante da PSP de Lisboa – disse-se que ele já fez três comissões de serviço no Ultramar, a primeira logo na “eclosão da guerra”. Ora, não há guerra. Não se pode dizer isso. Deve ter sido confusão do repórter … (…).» [Depois de 9 anos de guerra, não se pode dizer que há guerra !!! ... ]

20/1/70. (…). Agressão mortal a um soldado indígena – não dizer, em título, que o morto era soldado. (…).»

2/7/70. «O Papa recebeu, no Vaticano, terroristas portugueses – CORTAR TUDO. MUITO CUIDADO. (…)»

4/7/70. «Nota do Ministério dos Negócios Estrangeiros acerca da audiência concedida pelo Papa a chefes terroristas de Angola, Guiné e Moçambique – CORTAR o último período: “Por esse motivo o governo entende que não podem tais factos deixar de ser levados, desde já, ao conhecimento da Nação.” (…)» [Até comunicados do Governo eram censurados!]

9/7/70. «Entrevista do general Deslandes, em Moçambique – CORTAR referência à necessidade de 1 milhão de europeus. (…)»

13/11/70. O bispo do Porto visitou, na cadeia de Caxias, o Rev. Mário de Oliveira – CORTAR. (…).» [Mais conhecido por padre Mário da Lixa, foi capelão militar em Mansoa (BCaç. 1912), de Novembro/1967 a Março/1968. É membro deste blogue.]

18/11/70. «Julgamento de um alferes miliciano considerado responsável por um desastre em que morreram 47 militares. Só pode sair a composição do Tribunal, nomes de advogados e a sentença. (…).»

22/11/70. «Regresso do Niassa a Cascais para desembarcar um furriel ferido. Não dizer que foram a bordo almirantes ou autoridades. (…).»

15/12/70. «Assembleia Nacional. Deputado falou do progresso de Angola, mas disse que ainda há travões. Em título ou subtítulo – não falar em travões. (…)»

23/12/70. «Oferta de auxílio militar da África do Sul a Portugal. Poderá ser: “Portugal recusou auxílio militar da África do Sul”. (…)»

21/1/71. «No Supremo Tribunal de Justiça foi julgado o recurso de um chefe de posto de Angola que bateu num preto e o preto veio a falecer. Foi julgado e condenado – CORTE TOTAL. (…)»

23/3/71. «Criança morta em Guimarães. Lançou uma granada à lareira. Não pode sair em título: “Recordação do Ultramar”, como um jornal de Lisboa pretendeu pôr. (…).»

14/5/71.«Não pôr, em título, 1 milhão e meio de contos para acorrer a despesas da Armada e da Aeronáutica. (…).»

12/6/71. «Foguetões na Guiné. Não usar: “Bissau alvejada por foguetões de longo alcance”. Desvio de táxi aéreo para o Congo – Não falar, em título, no alferes miliciano. (…).»

24/6/71. «(…). Tenente do exército, agora regressado do Ultramar, António Madeira, suicidou-se. Lançou-se, de uma janela da pensão, à rua – CORTAR TUDO. (…).»

31/7/71. «Angoche – não se pode publicar notícia alguma. Só notas oficiosas. (…)»

15/9/71. «Em Tete um automóvel terá tocado numa mina, morrendo os ocupantes. É para CORTAR. (…).»

7/11/71. «Amílcar Cabral nos Estados Unidos – CORTAR. (…)»

2/12/71. «(…). Não destacar os títulos da intervenção do almirante Reboredo e Silva sobre a chefia política e militar em Angola e Moçambique. (…)»

14/12/71. «Sessão de homenagem aos combatentes do Ultramar, em Viana do Castelo (Câmara ou Governo Civil) – MANDAR. É que parece que só apareceu um mutilado porque os outros faltaram, visto terem recebido convites para a sessão mas não para o banquete… (…).»

10/1/72. «(…). Candidatura independente pelo círculo da Guiné do Dr. Baticão [sic] Ferreira ou qualquer homenagem a ele – TUDO CORTADO. (…)»

22/1/72. «(…). Soldado da Guiné escreveu uma carta aos jornais dizendo que esteve ferido e ninguém ligava às suas exposições.SUSPENDER.(…).»

17/2/72. «Proposto o bloqueio dos portos de Lourenço Marques e Beira. Não pôr, em título, bloqueio. Um título que não chame a atenção.(…)»

14/3/72. «Visita do ministro da Defesa ao Quartel-General do Porto. Ele disse: “há toda a conveniência em eliminar problemas criados em unidades da Metrópole que se reflectem grandemente no Ultramar”. Esta parte é CORTADA TOTALMENTE. (…).»

14/4/72. «Inspecções militares em Chaves. (…) não pôr em título que os aleijados substituem os sãos. É verdade. Passou-se. Mas … (…).»

9/6/72. «Assalto em Sintra. Não dizer que os autores desertaram, quando em serviço em unidades combatentes na Guiné. (…).»

7/8/72. «Presença do ministro das Finanças de França (Giscard d’Estaing) no continente e no Ultramar – NADA. (…)»

3/9/72. «Homenagem em Angola ao coronel Rebocho Vaz. Não pode sair qualquer referência ao facto de o jantar lhe ter sido oferecido por haver terminado a sua comissão de serviço. (…)»

6/10/72. «Quanto ao ministro Iam Smith, não dizer que no regresso está prevista uma reunião com o presidente do Conselho, ou que a vinda dele cá seria para um acordo prevendo a intensificação da luta contra o terrorismo. (…).

7/10/72. «Comunicado das Forças Armadas de Moçambique sobre dois acidentes de viação. No título pôr só “Comunicado”. Não se pode falar em mortos. (…).»

13/11/72. «Avião desviado pelos pretos – CUIDADO com os títulos. (…)»

25/11/72. «Carta aberta de capelães militares – MANDAR. (…).»

21/1/73. «Sobre a morte de Amílcar Cabral pode sair o que consta dos telegramas. Pode ser na 1ª página com o relevo que entenderem – duas ou três colunas. (…). Comentários é que terão de ser MANDADOS.(…)»

1/2/73. «(…). Amílcar Cabral é assunto que morreu. Não se pode falar mais. (…)»

7/2/73. «(…). Caso do avião que foi para Tânger. Não dizer que o piloto é cabo miliciano. (…).»

5/3/73. «(…). Rui Patrício. Qualquer referência a que a viagem à África do Sul é motivada pelo “aumento de tensão nas fronteiras setentrionais da Rodésia e de Moçambique” – CORTAR. (…)»

27/3/73. «O Diário Popular queria dar uma notícia muito grande sobre as regalias que os Estados Unidos concedem (muitas) aos desmobilizados do Vietname – CORTAR. (…)»

21/5/73. «Relato da reunião da Assembleia Legislativa da Guiné. Discurso do padre Cruz Amaral – MANDAR. Tem CORTES. (…). Dr. Ornelas.»

23/5/73. «Ajudas de custo mais altas para os militares. No título, não pôr mais altas. Só ajudas de custo para militares. (…).»

6/6/73. «Telegrama sobre o Congresso dos Combatentes. 400 combatentes da Guiné contra o Congresso – MANDAR para CORTAR. (…).»

22/8/73. «Oficiais milicianos. O decreto pode publicar-se. Mas sem comentários. (…).»

3/9/73. «Comunicado do Episcopado de Moçambique sobre o alegado massacre [Wiriamu] – TOTALMENTE PROIBIDO. (…).»

5/11/73. «Permanência em Portugal do ministro das Finanças da África do Sul – PROIBIDO. Só é autorizado a sua partida. (…)» 7/11/73. «Relatório da Diamoc (Diamantes de Moçambique), falando em prejuízos devido ao terrorismo na região de Tete – MANDAR. (…)»

11/12/73. «Racionamento de gasolina no Exército. Circular do Quartel-Mestre General – PROIBIDA. (…).»

3/1/74.«De Lisboa mandaram avisar todos os jornais: “Não é autorizada a publicação de qualquer comunicado ou notícia referentes a problemas de carreira militar ou de situação de qualquer categoria das Forças Armadas. (…).»

21/1/74. «Adis-Abeba estuda embargo de petróleo a Portugal – não referir, em título, “a Portugal”. (…)»

14/2/74. «Artigo de um jornalista francês que esteve em Timor - TRANSCRIÇÃO PROIBIDA. Dizia mal de nós e que os indonésios não tinham desistido de ocupar Timor. (…)»

2/3/74. «Africanos na Sociedade das Nações [sic]. Não lhes chamar, em título, nacionalistas. (…)»

16/3/74 .« (…). 0.45: Demissão de Costa Gomes e António Spínola – EMBARGO até às 5 horas da manhã. Se o jornal sair antes, não pode.» 1.10: «O caso de Lamego é para PROIBIR. Quanto ao caso das Caldas da Rainha parece que o senhor director do EXAME PRÉVIO vai autorizar mais qualquer coisa. Mas ainda não se sabe o que é. Ele ainda está a ler os papéis todos e depois é que dirá. Portanto, mandem o que têm.» (23.35) «Rebentou uma mina entre Viseu e Lamego – feriu um soldado e matou outro. É para PROIBIR. (…).»

19/3/74. «Regresso do general Luz Cunha – PROIBIDA qualquer referência ao Spínola. (…).»

24/3/74. «Acidente de Castelo Branco com camioneta de explosivos. Notícia puramente objectiva. NADA que as pessoas fiquem a pensar que era uma camioneta militar.(…).»

11/4/74. «Niassa – já se pode dizer que saiu. Notícia pequena. O barco só largou às 23 horas por ter tido necessidade de fazer novas provisões para substituir as estragadas pela explosão. Quanto aos nomes dos feridos – NADA! (…).»

18/4/74. « (…). Confraternização dos alunos do Colégio Militar – PROIBIDAS indicações dos nomes dos oficiais que fizeram parte do curso X ou do curso Y. Isto para não referir os assuntos que os senhores têm de MANDAR SEMPRE CÁ, mas que às vezes se esquecem … (…).»

Por esta pequena amostra (só de um jornal) ficamos a perceber um pouco da política governamental usada para ocultar da opinião pública a verdade sobre o que se passava no âmbito militar/guerra no ultramar.
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Nota do editor

Último poste da série de 23 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14400: Notas de leitura (695): "Império Ultramarino Português", Empresa Nacional de Publicidade, 1950 (1) (Mário Beja Santos)

14 comentários:

Anónimo disse...

Pois é, Manuel Joaquim.
Resumindo, resumindo, ainda ficou muita "coisa" para quem quiser mais ver... se não sabia. E creio que haverá quem...
Foi bem que tivessem publicado o texto de uma vez. Já tenho visto textos maiores.
Saboreei a transcrição do 16MAR74 (Golpe das Caldas...).
Abraço
Alberto Branquinho

Anónimo disse...

Caro Manuel Joaquim:
Interessantíssima esta tua publicação porque abre os olhos a muita gente que , apesar de ter mais de sessenta anos, anda e andou distraída.

Um abração
Carvalho de Mampatá

Hélder Valério disse...

Caro amigo Manuel Joaquim

Louvo-te o trabalho e a paciência.
Muito educativo.
Para quem quiser, claro!

Abraço
Hélder S.

Manuel Joaquim disse...

Como disse no texto publicado, são cerca de 700 telegramas que abordam os mais variados assuntos da vida social e política. Não resisto a dar notícia de mais alguns, todos do ano de 1967:

- «Primeiro turista de 1967 - não dizer que era operário.» (5-1-67)

- «Julgamento nas Caldas da Rainha dos autores da morte de um cão - CORTAR.» (5-2-67)

- «O Chefe do Estado recebe credenciais de um embaixador - é um acontecimento social - mas não vai à CENSURA; no entanto, uma barraca de miséria com crianças à porta - é um aspecto social e tem de lá ir. Coronel Roma Torres.» (20-3-67)

«Não dar ao general Vassalo e Silva o título de general. Capitão Correia de Barros.» (12-4-67)

«Vinte e duas toneladas de bananas impróprias para consumo. Não se pode pôr em título a quantidade da fruta nem dizer que houve cenas bastante lamentáveis. Nada de gravuras, Coronel Saraiva.» (28-4-67)

«Fornecimento de tecidos à Força Aérea sem concurso - CORTAR. Coronel Roma Torres.» (4-5-67)

«Senhora nova, escultural, sem preconceitos e que tenha livre os fins de semana. É para trabalhar como modelo. - CORTAR.» (6-6-67)

«Julgamento em Lisboa do Dr. João Maria Purgueiro Calças. Não se pode dizer que o réu era professor liceal e do ensino técnico e antigo seminarista.» (1-8-67)

«Roubaram a carteira a um oficial francês que veio fazer conferências nos Altos Estudos Militares - CORTAR.» (9-11-67)

«Romance da Beatriz de Sabóia com o actor Arena. NADA. Almas do outro mundo na Quinta da Agra, em Gondomar. NADA. Capitão Correia de Barros.» (15-11-67)

(Continua)

Torcato Mendonca disse...

Olá Manuel Joaquim,
Foi uma delicia ler-te. Ainda bem que te alongastes e, pena tive de não te teres alongado mais.Tempos que se foram, tempos de recordações, de medos , de mentiras e segredos. Tempos que pareciam ter-se ido. Ele há coisasa...diacho.
A população branca que vivia nas colónias podia saber, ou não querer saber, o que se passava. Lá se ia viovendo...e nós aqui? Como suportavam as pessoas este viver? Quando estive no RAL 3 ,em Évora,um dos Comandantes do quartel era, como dizes, "um coronel censor".Quando estava de oficial de dia acontecia-me, algumas vezes, ter que levar o Jornalista ou Chefe de redacção do jornal ao "censor". Depois de ter telefonado algumas vezes, ter enviado estafetaou ter ido pessoalmente falar com o meu CMDT... Era uma cena dispensável e o homem do jornal, calmamente, esperava.Sabes, como eu e muitos mais sabem, que não trocavamos muitas palavras...olhares...talvez o medo ou o desconhecido fosse melhor só na troca de olhares...
Para ler e meditar esses tempos...
Curiosamente vim a casar com uma mulher que estava (está) no J. do Fundão....com montes de cortes de páginas censuradas, suspenso por uns meses etc. Alonguei-me.Abraço-te, T.

Torcato Mendonca disse...

Olá Hélder,
Falei no meu comentário num "coronel censor". Acontece que ele era benfiqiusta ferrenho (como eu) e detestava o Cardoso, creio ser este o nome do Furriel que jogava no Vitórrria de Setubal. Lá se conseguia safar o Cardoso com uma saída ou outra. Parece que és ou vives em Setubal e, nesse caso deves conhecer o Cardoso, várias vezes Treinador do Vitórrrria..Abraço e se o conheceres pergunta-lhe que ele deve lembrar-se desse coronel e do detestável que era para o fulano o Cardoso ter secado ou dado uma sarrafada no Eusébio...Ab,T.

Manuel Joaquim disse...

Em 25-11-1967, Lisboa e concelhos limítrofes foram atingidos por violentas inundações que causaram mais de 600 mortos.
Neste lote de telegramas da Censura dirigidos ao JN do Porto há três que se referem à tragédia:

«Gravuras da tragédia. É conveniente ir atenuando a história. Urnas e coisas semelhantes não adianta nada e é chocante. É altura de acabar com isso.É altura de pôr os títulos mais pequenos. Tenente Teixeira.» (27-11-67)

«Inundações: os títulos não podem exceder a largura de 1/2 página e vão à CENSURA. Não falar do mau cheiro dos cadáveres. Actividades beneméritas de estudantes - CORTAR. Dr. Ornelas.» (29-11-67)

«Deliberação do Senado Universitário de Coimbra acerca do auxílio a prestar às vítimas das enxurradas - CORTAR. A notícia só pode sair nos jornais de Coimbra. No noticiário das enxurradas não dizer que se acode às classes populares e se despreza a classe média.» (2-12-67)

Estas inundações de 1967 mostraram a miséria em que a muitos habitantes da Grande Lisboa viviam. A grande maioria das centenas de vítimas vivia em barracas construídas nos leitos de cheia.
Perante isto, o Presidente da República Américo Tomás saiu em segredo para Espanha, certamente para aliviar as suas mágoas perante tamanha desgraça.
Desse segredo se encarregou a Censura:

«O presidente da República foi caçar a Cordoba - CORTAR.» (5-12-67)

Bispo1419 disse...

Mais uma "curiosidade" sobre estes telegramas em apreço. Agora os referentes ao acidente sofrido por Salazar e ao seu internamento em estado grave no Hospital da Cruz Vermelha na noite de 6-9-68:

- «Chegada a Lisboa do médico alemão Dr. Fulkner - CORTAR. Capitão Correia de Barros.» (7-9-68)

- «Dr. Salazar. Pode-se falar nas missas e na operação de urgência. Coronel Saraiva.» (8-9-68)

- «Não dizer que o estado de saúde do presidente do Conselho é estacionário. Técnico permanente para evitar avarias nos elevadores do hospital - CORTAR. Uma entidade qualquer terá oferecido a Salazar duas dúzias de peras e um melão - CORTAR. Coronel Saraiva.» (9-9-68)

- «Salazar: grupo da TV italiana. Não dizer que veio a Lisboa por causa da doença do Chefe do Governo. CORTAR a frase: "Está melhor que nunca". Alimentação servida em tabuleiro especial - CORTAR. Medicamento vindo do estrangeiro através da TAP - CORTAR. Frase do ministro da Economia: "Não há lugar para interinidade" - CORTAR. Localização do quarto - CORTAR. Declarações da governanta D. Maria - CORTAR. Não dizer que há um médico de serviço durante a noite. Major Tártaro.» (10-9-68)

- «O casal Patiño foi ao Hospital da Cruz Vermelha. Não falar da cor do automóvel nem do vestido da senhora. (...). Tenente Teixeira.» (21-9-68)

- «Salazar. O título da 1ª página deve ser alterado. Em vez de continuar a ser grave o estado de saúde do Prof. Salazar dizer que se mantém estacionário. Major Tártaro.»(22-9-68)

- Revezamentos de ministros no Hospital da Cruz Vermelha - CORTAR. Vendedor ambulante teria prometido ida a Fátima a pé, caso Salazar se cure - CORTAR. «Concurso do "Rei da Rádio" organizado pelo "Diário de Lisboa" - CORTAR. Coronel Saraiva.» (23-9-68)

- «Declaração do Dr. Marcelo Caetano aos jornalistas - CORTAR. Coronel Roma Torres.». «Expulsão de dois jornalistas suecos - CORTAR. Coronel Saraiva.» (26-9-68)

- «Versos que acompanhavam as flores enviadas por Amália Rodrigues a Salazar:

"Cultura é experiência, / Já ouvi dizer a alguém; / É de viver a ciência / que eu tenho de lhe querer bem.
Gosto de si e de flores, / Um jeito igual de gostar. / Fui sentindo estes amores / Sem os saber explicar.
Ponha-se-me bom depressa, / Meu querido presidente, / Depressa, que essa cabeça / Não merece estar doente.
Não sei de regulamento. / E se isto é má criação, / Perdoe o procedimento / e aceite-me a intenção.

Um beijinho grande da Amália"
CORTAR. Tenente Teixeira.» (12-9-68)

- «O Dr. Vasconcelos Marques, que operou o Dr. Salazar, abandonou a equipa clínica, por discordância com os colegas acerca da saída do enfermo da Casa de Saúde de Benfica - CORTAR. Tenente Teixeira.»(20-12-68)

- «Regresso de Salazar a S. Bento. Notícia à CENSURA. Só pode sair a foto da ambulância. Dr. Ornelas.» (5-2-69)

- «Nos comentários do Prof. Almeida Lima à conferência do Prof. Merrit CORTAR a seguinte afirmação: "No momento em que o futuro político da Nação estava mais dependente da opinião médica do que das razões políticas". Capitão Correia de Barros.» (12-4-69)

- «Fotografia do Prof. Salazar com o cardeal Cerejeira, em que ele está um bocadinho descomposto. Não se deve publicar. Coronel Roma Torres.» (24-4-69)

(Continua)

Valdemar Silva disse...

Pois é, caro Manuel Joaquim. Pois é e pois foi, mas ainda cá estamos para dizer que estivemos na guerra na Guiné, por muito que custo a alguns com 'culpas no cartório' que ainda por cá andam.
Mas 'aquela gente' ou, como , agora, diriam os nossos netos 'aqueles totós', condecoravam com a Cruz-de-Guerra, no 10 de Junho, os combatentes de que guerra?
Manuel Joaquim, nós estivemos lá, nós estivemos na guerra na Guiné.
Obrigado por esta tua lembrança, com o desejo que tenha uma ampla divulgação para que todo a gente saiba como funcionava a censura que nos atormentou a todos.
Um abraço
Valdemar Queiroz

Manuel Joaquim disse...

OBS. : (O "Bispo 1419" do comentário anterior sou eu).

Continuando com Salazar, seguem-se os telegramas referentes à sua morte e respectivas cerimónias fúnebres. Salazar morreu em 27-7-70.

- «O deputado Casal Ribeiro sugeriu que Salazar fosse para o Panteão - CORTAR. Referência à D. Maria de Jesus Freire: não falar em "fiel companheira". Coroa de flores oferecida por Amália Rodrigues - CORTAR a frase: "um beijinho". Coronel Garcia da Silva.» (28-7-70)

- NADA de fotos sensacionalistas do funeral do Dr. Salazar, isto é, que mostrem a D. Maria a beijar o morto. Um jornal da tarde disse ter demorado cinco horas a última viagem do Dr. Salazar - CORTAR. Em Coimbra havia muita gente na estação. Não dizer que isso foi devido a ter fechado o comércio. Coronel Roma Torres.» (30-7-70)

- «Exposição feita por jornalistas que iam no comboio que levou para o Vimieiro os restos mortais de Salazar. Critica-se a forma como estava organizada a entrada no vagão-restaurante. Qualquer coisa idêntica é para suspender. (...). Coronel Saraiva.» (1-8-70)

E agora, para acabar as minhas transcrições, aqui vão algumas "maravilhas" sobre outras áreas sócio-políticas:

- « (...). Em Luanda foram descobertos meninos e meninas a fumar liamba (uma espécie de marijuana). A notícia tem CORTES. Não se dizer que são estudantes liceais, entre os 14 e os 20 anos, que pertencem às melhores famílias e que são de requintado escalão social. CORTAR isso TUDO. Coronel Garcia da Silva.» (4-8-70)

- «Título CORTADO: "Expulso por atacar os ricos insensíveis". Expulsão de um padre jesuíta no Peru. Dr. Ornelas.» (8-2-72)

- «Espancou a mulher e bateu nos polícias - CORTAR o bater nos polícias. Coronel Garcia da Silva.» (13-3-72)

- «Telegrama da Lusitânia sobre a história de um padeiro que ficou sem a cabeça de um dedo e, depois, esta foi aparecer num pão. Não pôr, em título, NADA que dê a entender que o dedo apareceu no pão. Coronel Roma Torres.» (21-4-72)

- «Proibido dizer que no Rossio soltaram um animal (porco) com um barrete de almirante (crítica à eleição de Américo Tomás), pelo que houve cargas de polícia e prisões. Coronel Saraiva.» (26-7-72)

- «(...). Um casal, em Lisboa, resolveu vir, com dois filhos, para um jardim público a fim de pedir às autoridades e aos passeantes 2.500$00 para alugar uma casa. Não se pode dizer que o homem, que era um bocado nervoso, ficou pior depois de ter apanhado com uma metralhadora na cabeça, no serviço militar. Não de pode dizer também que ele está a fazer um acto de coragem, etc. Coronel Saraiva.» (10-8-72)

- «No Parque Eduardo VII, em Lisboa, numa rusga policial, foram presos 24 indivíduos - vadios, prostitutas e homossexuais. Pode falar-se nos vadios e nas prostitutas mas não nos homossexuais. Tenente Teixeira.» (12-8-72)

- «Uma missão de polícias portugueses foi à Alemanha para uma reunião da Interpol - PROIBIDA. Prisão de uma quadrilha de carteiristas na região do Porto. Não pode dizer-se que, em automóveis roubados, se incorporaram no cortejo presidencial, aquando de uma visita de Américo Tomás ao Norte (Trás-os-Montes, salvo erro). Coronel Garcia da Silva.» (13-9-72)

- « (...). "Diário de Lisboa" publica um anúncio, em inglês, "António and Luís", que é de uns estudantes ingleses que se deram no Algarve com estudantes portugueses e que pretendem o número do seu telefone - CORTAR (visto não se saber o que é). Dr. Ornelas.» (18-10-72)


Todos estes exemplos ajudam a fazer uma ideia sobre a "verdade" da vida deste país durante o tempo do regime político do Estado Novo. São só alguns exemplos mas são suficientes para que, quem não viveu os tempos de tal regime, possa perceber melhor o que é viver numa sociedade sem liberdade de informação.

Saudações amigas do

Manuel Joaquim

Bispo1419 disse...

Branquinho, Carvalho, Hélder, Torcato e Valdemar, meus caros camaradas e companheiros deste blogue:

Os vossos comentários fizeram-me voltar ao livro e alargar-me na transcrição de mais alguns dos telegramas. Talvez esteja a exagerar nas transcrições mas, como diz o Alberto Branquinho, ainda ficou muita "coisa" para quem quiser mais ver ... se não sabia.
Um grande abraço para cada um, com votos de muitas felicidades.

Manuel Joaquim

Antº Rosinha disse...

A Censura foi uma das armas mais importantes para se compreender como foi possivel este Portugal(inho)ter aguentado uma guerra internacional, e tão longa, e que para os que lá andámos era a chamada Guerra do Ultramar.

Mas a censura foi uma situação criada em Portugal logo que apareceu a imprensa: A Inquisição, a Mesa Censória de Pombal, etc., e na 1ª República.

Mas a censura do Estado Novo começou com Salazar e aguentou outras guerras, a da Espanha, e a II Grande Guerra, alem da Guerra do Ultramar.

Mas no caso da censura em Portugal, (todos os países a usam)mais do que o «lápis azul» do Estado Novo, havia um analfabetismo que levava a que os próprios jornais só eram lidos naquele país de enormes aldeias, pelo Padre, o Professor e o Presidente da Junta e o Regedor, os únicos "informados" da paróquia.

O nosso enorme país rural nem precisava de "lápis azul"

Mas a censura continua Hoje.

Todos os dias ouvimos no parlamento que nos vão dizer "Onde está o dinheiro" e nada, enganam-nos constantemente, o dinheiro não aparece, nem os gatunos.

Manuel Joaquim se puderes e tiveres espaço pormenoriza o mais que possas.

Tudo ajuda a nos compreendermos melhor historicamente, já que pouco mais temos que fazer, nas nossas idades.





Cumprimentos

Antº Rosinha disse...

Manuel Joaquim, quem vivesse em Luanda, como eu, um meio pequeno, ou em Lisboa mesmo, e fosse interessado sobre a guerra, fosse da situação ou da clandestinidade, sabia tudo e mais alguma coisa. (não era o meu caso)

Ainda me lembro do acidente do Corubal que não se deu grande relevo, com a censura a trabalhar nos jornais, e só quando fui para o Brasil em 1974 é que lá soube mais um pouco pelos patrícios.

Como faziam pouco dos portugas, os fdp diziam que não "sabiamos nadar".

E claro mais tarde andei na Guiné a concertar aquela maldita jangada e a medir o rio é que percebi totalmente a tragédia e claro aqui no blog complementou.

Mas em Angola tudo o que era jornalista ia lá, ou profissinalmente ou por turismo e muitos ficavam lá definitivamente.

Quem foi muito notado lá, a escrever na Revista NOTÍCIA, foi o escritor recentemente falecido HERBERTO HELDER, e também escrevia para essa Revista a também desaparecida Natália Correia, um Madeirense e uma Açoreana.

Isto para dizer que a censura trabalhava sim, mas o pessoal (interessado), tinha cabecinha e estava bem preparado para o essencial sair cá para fora.

Principalmente no tempo de Marcelo Caetano.

Cumprimentos


Bispo1419 disse...

Meu caro A. Rosinha, estás certo.
A "censura" existe e existirá sempre em qualquer sociedade. Os diversos poderes, sejam políticos e religiosos ou outros, não a dispensam. O que varia é a sua intensidade e respectiva repressão, social e política, para quem não obedece aos seus ditames.

Neste meu "trabalho" não tive outra intenção que não fosse apresentar provas de como a censura prévia existia e funcionava no Portugal do tempo da sua guerra colonial. As conclusões, tire-as quem quiser por si.

Dizes que pelas aldeias deste país, no tempo do Estado Novo, os jornais só eram lidos pelo Padre, pelo Professor, pelo Presidente da Junta e pelo Regedor. Há algum exagero na afirmação, haveria de certo mais alguma gente. Mas isto vem confirmar a minha ideia. Os jornais seriam o catecismo ideológico do regime e essas figuras os seus catequistas!(Não eram permitidos os jornais que o não fossem!)

O que te digo, sem medo de errar, é que esta gente só estava nesses cargos se seguisse e fosse propagandista da doutrina oficial. Se alguma vez "mijasse fora do penico", adeus cargo ou posto social na localidade. Lembro que os presidentes de Câmara eram escolhidos pelo Governo, os presidentes de Junta e Regedores eram escolhidos pelo presidente de câmara, o padre era escolhido pelo bispo, este era nomeado pelo Vaticano após ser "obrigado" a escolhê-lo de entre três bispos escolhidos pelo Governo. Etc. etc.

Dizes algo com que não concordo: "quem (...) fosse interessado pela guerra, fosse da situação ou da clandestinidade, sabia tudo e mais alguma coisa".
Olha, eu bem tentava saber, bem me esforçava por isso e pouco sabia do que se passava, verdadeiramente. Sabia mais do que muitos? Sim, o suficiente para ter a certeza que se caminhava para um desastre certo, do qual a grande maioria do povo português não fazia a mínima ideia. Os componentes desta grande maioria sabiam e queriam uma coisa: tinham de fazer todos os possíveis para livrar da tropa os seus mancebos. Guerra em África é que não!

Gostei de dialogar contigo, meu camarada que muito prezo.

Um grande abraço do

Manuel Joaquim