quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Guiné 63/74 - P15585: Os nossos seres, saberes e lazeres (133): Bruxelas sempre muito amada, e a pensar na Anatólia (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Novembro de 2015:

Queridos amigos,
Não perco uma oportunidade para farejar esta terra que me é familiar. Tudo por obra de ter aqui bons amigos a que vejo uma vincada sinceridade no acolhimento.
Tive sorte em apanhar o Outono ainda com intensa folhagem, alguém me observou que mais uns dias e apanharia só a ramagem nua, o anúncio dos tempos rigorosos do frio, neve e invernia inclemente.
Terei depois um dia só por minha conta, na Feira da Ladra encontrarei um álbum primorosamente conservado onde se escreve Lisbonne - Fatima - St. Sébastien, Octobre 1956, deu para reviver o Rossio daquele tempo, a Baixa e até as ruínas expectantes de Santa Engrácia, 10 anos depois teríamos o edifício renovado, no âmbito dos 40 anos da Revolução Nacional. E mergulhei numa extraordinária exposição dedicada à Anatólia, qualquer coisa como a Turquia no território da Ásia Menor, frente à Europa, 200 peças deslumbrantes de milénios de encruzilhadas de culturas.
Eu depois conto.

Um abraço do
Mário


Bruxelas sempre muito amada, e a pensar na Anatólia (1)

Beja Santos

O pretexto era uma conferência sobre envelhecimento e multimorbilidade, ajeitou-se a ida e vinda de modo a dispor de um tempo apreciável de lazer. Parte-se e chega-se cedo à capital da Bélgica, e o meu amigo André Cornerotte apanha-me em Zavatem, por acaso no Brabante Flamengo, é o princípio da tarde e ele sugere um passeio a uma vila próxima, Diegem, refere que há uma linda igreja do tardo-gótico. Nada contra, o que eu quero é foliar, mais a mais está um dia de sol.





Diegem, imagine-se, pertence à municipalidade de Malines, uma linda cidade recheada de história de onde saíram deslumbrantes tapeçarias flamengas, não muito longe de Antuérpia. Esta igreja distingue-se pela sua elegante agulha que se sobrepõe a uma massa calcária bem lavrada. A igreja está fechada, haverá próxima visita. Antes, porém, deu-se com um belo castelo encastrado numa correnteza de edifícios, e que belo castelo, pequeno mas muito elegante. Cirandei à volta da igreja, chamou-me à atenção o pórtico e a sua sóbria escultura.




O Outono, nos países do Norte, é muito mais extenso do que no Sul e reserva-nos estes cromatismos prodigiosos, ruas inteiras com as árvores engalanadas, contrastando muitas vezes com os céus plúmbeos, assisti ao final da festa naqueles últimos dias de Outubro, máquinas e varredores iam limpando as ruas de tanta folha caída. Nunca ninguém me explicou este fenómeno para que o arvoredo viceje com tal intensidade e subitamente chega um Outono de árvores despidas, a chamar o Inverno, o longo Inverno do Norte. O que mais gosto são as cerejeiras japonesas, e encontramos glicínias e buganvílias a tomar conta das paredes das casas, disputando espaço com a vinha virgem. Não conheço mais espampanante encenação do arvoredo.







A noite do primeiro dia acabou em Anderlecht, um dos bairros mais populosos da capital, após uma visita familiar, a Ika, o André e eu fomos jantar num restaurante grego, valeu a pena e como me tinha levantado as seis da manhã atirei-me para a cama, no dia seguinte é dia de trabalho. É evidente que não vos vou falar do envelhecimento e muito menos da multimorbilidade. À saída de casa, nos alvores de uma manhã pardacenta, apanhei pela frente um chalé dos antigos, recentemente restaurado para receber uma família daquelas que têm posses. E segui caminho até ao centro nervoso de Bruxelas, aquela constelação de ruas por onde se espalham os serviços da Comissão Europeia, do Parlamento Europeu, de milhares de escritórios dos lóbis, embaixadas e, claro está, os hotéis que acolhem os múltiplos visitantes que vêm para reuniões, seminários e conferências. O que para o caso interessa é que devorei umas sandes e após o consolo de umas frutas e uma taça de café aproveitei o intervalo para arejar. No arejo encontrei um belo jardim, não muito longe da antiga gare ferroviária que ligava Bruxelas ao Luxemburgo. Apanhei estas estátuas, seguramente de gente ilustre, mas folhagem que parece pintada e antes de me encerrar no que falta discutir e validar sobre envelhecimento e multimorbilidade deixo-vos esta imagem da Rue de la Loi, uma das artérias principais que liga a zona de Schuman ao Parque Real, esperei um momentâneo desafogo do trânsito para vos mostrar como se destruíram belíssimos edifícios para construir estes albergues onde se postulam diferentes políticas europeias. Assim findou o dia de trabalho. Amanhã é dia de turista, com repetições, improvisações e assombrações, como irão ver.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15496: Os nossos seres, saberes e lazeres (132): o casal João e Vilma Crisóstomo recebem em sua casa, em Nova Iorque, o ex-comandante do Navio Escola Sagres, Malhão Pereira, o embaixador Mendonça e Moura, e mais três dezenas de membros de comunidades portuguesas da área metropolitana nova-iorquina

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