terça-feira, 14 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17138: Boatos e mentiras que correm o risco de entrar para a história (1): De 1 a 10 - Parte I: 1. O território guineense do tamanho do Alentejo; 2. O Strela, a arma que revolucionou a guerra; 3. A FAP perdeu a supremacia aérea (António Matins de Matos, ten gen pilav ref)


Guiné > Mapa da província  1961 > Escala 1/ 500 mil >  A distância entre a BA 12 (Bissalanca) e a fronteira, em Buruntuma, no nordeste, podia ser medida pelos pilotos da FAP nestes termos: 90 minutos  para a avioneta DO-27; 25 minutos para o Fiat G-91...

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2017)

1. Mensagem do António Martins de Matos (ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74), com data de 3 do corrente

Assunto - Historiadores precisam-se|

Caros amigos:

Devagar, devagarinho, estamos a perder o fulgor de outros tempos.

Nada mais sobre a Guiné para relembrar ou discutir? Ficámos cansados? A partir de agora só almoçaradas e correlativos? Só conversas sobre Futebol? O Trump e o Brexit? O Marcelo, o Costa e o Centeno?

O Spínola, Nino, Amílcar, Bettencourt, Sekou Touré, Costa Gomes, tudo gente fina, já passaram à história?

E nós, os da ralé, do chão e do ar, que andámos a suar por aquelas terrinhas, já esgotámos o saco?

Acho que sim…

A verdade é que já falámos de tudo ou quase tudo, ainda que, por vezes, de coração na boca e palavreado arrebatado, o que deu um péssimo material para os vindouros, os que vão ter de acabar por escrever a “estória”.

Acho que precisamos de algo novo.

O Público começou a publicar às quartas-feiras,  e durante 14 semanas,  os 42 episódios da série do Joaquim Furtado, "A Guerra", cada DVD com 3 episódios, acompanhados de um texto do Aniceto Simões e Matos Gomes e prefaciados por diversos historiadores.

Pela minha parte os postes,  aqui no blogue,  de inquéritos, da 1.ª Guerra, comemorações de aniversários, efemérides e correlativos…, não me interessam.

Relembrando o que nos uniu, talvez pudéssemos passar a uma nova fase, organizar umas “mesas redondas”, “quadradas”, “tertúlias” ou algo parecido, com algum pessoal a participar, moderador, um secretário e um “historiador de serviço”, discussão construtiva sobre um determinado tema, com conclusões fundamentadas e aceites pela maioria. Depois era só enviar o papel a quem de direito.

Há um grande número de assuntos com interesse a que correspondem um número infindável de postes e que poderiam dar lugar a um texto devidamente “certificado”…

Que acham?

Entretanto e para (re)animar a malta juntei alguns assuntos que já foram discutidos e discutidos mas que nunca obtiveram um consenso alargado.

Deixo-vos com 10 temas, ideias que tenho defendido e que, se o entenderem, poderemos abordar durante o nosso almoço anual, talvez ao lanche [, dia 29 de abril de 2017, em Monte Real], entre um croquete e uma imperial.

Abraços
AMM

2. Comentário dos editores:

António:

Razão tinha/tem o "marafado" do António Aleixo:

P'ra a mentira ser segura
e atingir profundidade,
tem de trazer à mistura
qualquer coisa de verdade.


A tua reflexão merece um debate profundo... E estamos-te gratos por vires tentar agitar as águas paradas da lagoa da Tabanca Grande... Os "blogueiros" andam meio anestesiados, adormecidos, desmemoriados... Será a síndrome do Alzheimer coletivo ou geracional?... Outros há que são agora mais "facebook...eiros"... Se calhar, a culpa também é nossa, mas nestas coisas,,, "o povo é quem mais orden(h)a"!... Mas, temos de reconhecer, 13 anos a blogar é "manga de tempo", é o tempo que durou a guerra da Guiné, a contar de 1961 a 1974...

Mas, para já, vamos publicar o teu texto em dois ou três  postes, numa nova série que tu vais abrir, e que tem algo de provocatório, no sentido etimológico do termo (provocatório, provocante, de
provocar: do latim provoco, -are, chamar para fora, mandar sair, mandar vir, estimular, exortar, desafiar, apelar, incitar):

Eis o título da série, que tu vais inaugurar:

Boatos e mentiras que correm o risco de entrar para a história (1): De 1 a 10 - Parte I: 1. O território guineense do tamanho do Alentejo; 2.  O Strela, a arma que revolucionou a guerra: 3. A FAP perdeu a supremacia aérea (António Martins de Matos, ten gen pilav ref)

Cada poste pode ser precedido pela genial quadra do António Aleixo... Já aqui "desmontámos" alguns mitos: por exemplo, o local da proclamação da independência da Guiné-Bissau, que nunca foi em MADINA DO BOÉ, contrariamente à propaganda do PAIGC!... E corrigimos erros toponímicos da nossa historiografia militar (v.g., Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes, que puseram o I congresso do PAIGC, em  Cassamá, em 1964, a realizar-se em plena ilha do Como e em plena Op Tridente!)...


por António Martins de Matos



29 comentários:

Anónimo disse...

Concordo com o que é referido e proposto, mas como não ando muito dado a tempo no computador e ainda por cima pouco posso adiantar sobre os temas indicados, vou ficar-me, pelo menos enquanto se justificar, por ler o que outros escrevam.
Um abraço,
BS

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Belarmino, todos os comentários são bem vindos. E, pelo menos, sobre o primeiro ponto podemos opinar...

O Strela já não é do meu tempo,é de 1973/74, eu regressei a casa em março de 1971... Gosto mais de conhecer a "perceção" dos camaradas que lá estavam na época, seja me Bissau, seja no mato...

E confesso que tenho alguma dificuldade em emtender o ponto 3: na realidade, o PAIGG nunca teve força aérea, pelo que a questão da supremacia aérea não faz muito sentido...Nós tínhamos algumas vantagens, do ponto de vista militar: tropas especias, força aérea, marinha, aeroposros e aeródromos, logística, instalações militares, etc. O PAIGC também tinha os seus trunfos, nomeadamente a guerra de guerrilha que nos movia, e até armamemnto superior ao nosso: concordo com o António que o morteiro 120 era uma arma temível, muito superior aos foguetões 122 mmm, desde que bem manobrada (pelos artilheiros cubanos...).

Mas a comparação com o Alentejo é interessante: em geral, costumamos dizer que a Guiné (36 mil km2) era do tamanho do Alentejo (31 mil km2)... As comparações não ficam só aí... Na Guiné não se andava só de avião... Fazer uma coluna logística, e nomeadamente na época das chuvas, numa distância de 30 km, podia levar dois dias... E uma operação no mato, com "pequenas percursos", de meia dúzia de quilómetros, podia custar-nos os olhos da cara e às vezes a vida... É bom lembrar as altas temperaturas e a elevada humidade do ar, a par das dificuldades do terreno e da presença do IN, que faziam com que em cada operação os operacionais sofressem um grande desgaste físico e psicológico... Essa coisa do "sangue, suor e lágriamas", não é treta, não, para quem fez centenas, mlhares de quilómetros...

É verdade que há sítios no Alentejo (por ex., margem esquerda do Guadiana...) onde um homem não pode andar ao ar livre depois das 11 horas da manhã...

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tabanca Grande Luís Graça disse...

Zé Belo, belo trocadilho!...

Às vezes a gente até esquece essa coisa tão simples, tão elementar, e... tão preciosa como o ar que a gente respira, e que é a liberdade... A geração dos nossos filhos e netos até é capaz de pensar que essa coisa da liberdade faz parte da "ordem natural das coisas"... Perigosa ilusão...

Em suma, perigosas são as comparações... Quanto a ti, és sempre bem aparecido... Afinal, quando a gente menos espera, aí está o "guerrilheiro" do Zé Belo, emboscado, à espreita de uma calinada, de uma escorregadela, de uma fífia... Mea culpa... Não era só calor que era opressivo, no Alentejo e na Guiné... Luis

PS - Caro Zé Belo: já desisti de te perguntar por onde andas... Tens, aliás, todo o direito de não responder a perguntas estúpidas e sobretudo de "andar, livre, ao ar livre"....Mas já agora diz-me se gostas d novo "single" dos Melech Mechaya... Olha, pára e escuta: "Un puente" (com a cantora espanhola Lamari de Chambao)...

Precisamos cada vez mais de pontes nesta Europa e neste planeta a fragmentar-se... Este "puente" também tem uma pedra tua... E tu vai mantendo a tua ponte com a nossa Tabanca Grande... Não te esqueças que a tua Tabanca da Lapónia é uma tabanca de um homem só, se bem que bravo e resiliente... Sei de "rapaziada" sueca a instalar-se por estas bandas, beneficiando de alguns "privilégios" fiscais...

Um abraço do João, que vai morar para a Rua da Senhora do Monte (ao cimo da qual fica o mais deslumbrante miradouro de Lisboa)...

http://melechmechaya.com/

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Da Wikipédia, com a devida vénia:

(...) O 9K32 “Strela-2” (em russo: 9К32 “Cтрела-2” — flecha; designação NATO: SA-7 Grail) é um míssil superfície-ar disparado a o ombro, de baixa altitude, com uma ogiva altamente explosiva, guiado por um sistema de infravermelhos. Semelhante ao norte-americano FIM-43 Redeye, representa a primeira geração de mísseis superfície-ar transportados pelo homem (MANPADS) da União Soviética. Entrou ao serviço em 1968, com produção em série a partir de 1970. O míssil Strela e suas variantes têm sido utilizado em um grande numero de conflitos regionais desde sua entrada em serviço pela União Soviética, em 1968. (...)

https://pt.wikipedia.org/wiki/9K32_Strela-2


Sabemos que o Amílcar Cabral, em carta escrita ao Pedro Pires, com data de 9 de julho de 1972, seguiu, nesse mesmo dia, "para a URSS onde vou ver se convenço os amigos [sic] a nos darem o Strella SA-7 [sic, com dois ll] que poderá mudar qualitativamente a luta."

O histórico dirigente do PAIGC esperava estar de regresso dentro de uma semana e trazer "boas notícias"...

http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=07166.008


Não sei quando os russos decidiram entregar ao PAIGC o tão desejado míssil terra-ar que atingia uma velocidade de 1,5 mach (mais de 1500 km/hora), fácil de manobrar, embora de alcance muito limitado: alcance operacional: 3700 metros; altitude de voo: 500 metros...

Amílcar Cabral já não estava cá na terra, entre os vivos, para festejar o derrube da primeira aeronave portuguesa, a 25/3/1973, o Fat G-91 pilotado pelo nosso camarada e grã-tabanqueiro, o ten pilav Miguel Pessoa.

No nosso blogue temos mais de 6 dezenas de referências ao "strela" e aos "mísseis Strela"... E o assunto está longe de estar esgotado... LG


Anónimo disse...

Luis ou Carlos, como não sei qual dos dois escreveu o comentário que me respeita, quero dizer-vos o seguinte.
Claro que todos nós podemos falar sobre tudo, o que importa é sabermos se o que vamos dizer acrescenta mais alguma coisa ou não aos factos e é disso que falamos.
É verdade que na minha situação fui sabendo algumas coisas, mas de nenhuma tenho provas, sou apenas mais um a escrever ou dizer coisas, e desses estamos nós fartos, um dos melhores exemplos é o da nossa querida camarada e amiga Giselda, que foi dada como morta, por quem assumiu ter visto. Felizmente para ela, para o Miguel , para os filhos e para nós é mentira.
Mas voltando ao que interessa, é verdade que sou do tempo do Strela e que por tudo que se sabia e falava, houve inicialmente uma recusa de saída, assumida aliás pelos nossos camaradas e amigos António Martins Matos e Miguel Pessoa. Depois, a coisa foi normalizando com algum cuidado, o que em termos de aparência visual se toma como uma menor operacionalidade, no que respeita a aviões como DO, T6 e Hélis havia uma maior parcimónia na utilização e muitos dos operacionais queixavam-se no quartel da falta de apoio aéreo que antes não acontecia, também não sei se houve alterações novas para a razão dos pedidos, o que não é descabido de todo, refiro-me neste caso ao Héli canhão e aos Fiat, mas continuo a dizer, isto era o que era dado aos olhos dos observadores, nada que possa ser afirmado ou não possa ser desmentido, e como ninguém gosta ou quer perder a face nestas questões…
Que o Strela alterou a forma da guerra não oferece dúvidas.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tabanca Grande Luís Graça disse...

... Estou a falar com ?... Camarada, por lapso, não assinaste o teu comentário... Estamos de acordo: "O Strela alterou a forma da guerra", e isso "não oferece dúvidas"... Gostava, em todo o caso de ler mais depoimentos, dos camaradas, nomeadamente "infantes", que estava lá lá no final da guerra (março de 1973/abril de 1974): em que medida as "novas regras" de apoio aéreo (evacuações, helicanhão, cobertura pelo T6 e do Fiat G-91, abastecimentos, etc.) afetou o "moral das tropas" e sobretudo o seu desempenho operacional no mato....

Sei da minha experiência operacional de 1969/71, o que era poder contar com a cobertura aérea (mais do que da artilharia...) durante uma operação em que, por vezes, nem tudo corria bem, às vezes corria mesmo muito mal...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Imagino que uma das consequências da introdução do Strela tenha sido o "fim dos PCV" (posto de comando volante), que era feito em DO-27, em operações a nível de batalhão... Em geral, era um "passeio turístico", ao lado do piloto ia o major de operações, o segundo comandante ou o comandante do batalhão. Os PCV eram odiados, no meu tempo, pela "tropa macaca"... Luís Graça

antonio graça de abreu disse...

Claro que os Strela vieram alterar o modo como a guerra era conduzida pelas NT. Acabaram os PCVs em DOs, as evacuações por heli passaram a ser bem mais difíceis. Mas, com mais cuidado, os hélis, os héli-canhões, os DOs, os Fiats, os Noratlas continuaram a voar, a dar apoio logístico, a bombardear, agora até com bombas mais potentes. O António Martins de Matos, que sabe de aviões e bombardeamentos, pós Strela, como ninguém, já explicou toda a evolução da guerra aérea na fase final da luta. Já agora, leiam o que escrevo no meu Diário da Guiné, 1972/74, anos em que em Teixeira Pinto, Mansoa, e Cufar estive no apoio logístico à Força Aérea num Comando de Operações (CAOP 1). Factos, apenas e sempre os factos. Qual perca da supremacia aérea? Analisem os factos reais e não digam barbaridades, não repitam mentiras, não insultem as nossas Forças Armadas, todos nós que aguentámos uma guerra que não desejámos, nem queríamos fazer mas de que, até 25 de Abril de 1974, saímos dela de cabeça erguida. Qualquer pessoa honesta que se debruce sobre a nossa guerra na Guiné deve respeitar os factos e não por ignorância ou por opcção ideológica ( tão clara entre sumidades deste blogue!)
entreter-se a enganar meio mundo, a falsificar a nossa História comum.

Só isto.

Abraço,

António Graça de Abreu

José Teixeira disse...

Meus caros.
Uma das razões porque alguns senão muitos camaradas deixaram de escrever e sobretudo de comentar foi precisamente porque logo aparecem os críticos desta ou daquela banda
a interferir, desculpem-me, mas em alguns casos berrar a "sua" verdade.E aqui também não há verdades absolutas
Eu creio que o importante é que cada um escreva. Escreva o que sentiu. Escreva o que vivenciou. Escreva que sente hoje.Escreva, mesmo o que ouviu dizer na refrega dos acontecimentos não vivenciados
Eu tive o cuidado de escrever ao vivo, mas notem bem; é a minha versão dos acontecimentos, quer os vivenciados, quer os transmitidos por quem esteve presente na acçao e logo de seguida os passou.Ao comentar hoje com camaradas que comigo estiveram e viveram os acontecimentos verifico que cada um tem a sua versão, por vezes muito distante da minha. Qual a verdadeira?
Quem os lê que saiba ler nas entrelinhas da emoção, do sentimento, da religião ou até da ideologia.
É verdade que por vezes sentimos que há uma certa "gabarolice", mas há sempre um fundo de verdade.
Quem tem a coragem de escrever está a espantar os fantasmas que o tem perseguido. Escreve a sua dimensão do acontecimento com mais ou menos romantismo. Escreve a sua verdade.
Nós os leitores apenas temos de interpretar. Eventualmente enriquecer ou esclarecer pormenores se estamos por dentro da questão. Levantar questões que ajudem a clarificar,mas para quê apontar logo o dedo - é mentira! Se não estava lá!...
Felizmente quando o Stela apareceu, eu já me tinha escapado. Não posso afirmar que a aviação deixou de actuar, mas posso dizer que na convivência que tenho tido com camaradas da tropa macaca e tem sido muita que na realidade a aviação recolheu a quartéis. Os feridos ficavam no mato porque o Héli não levantava. Os ataques aos aquartelamentos sucediam-se de noite e de dia. As terríveis emboscadas às colunas tornaram mais dolorosas porque os Fiat ou não chegavam ou andavam lá muito pelo alto.
Tudo leva a crer, pelos testemunhos que vão aparecendo que a situação foi melhorando e a supremacia aérea foi se retomando. Mas o que ficou na mente dos que sofreram no terreno foi marcada por aquele período. Saibamos respeitarmos-nos uns aos outros, porque ninguém é dono da verdade e o Blogue ganhará de novo as asas que tem vindo a perder.
José Teixeira

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Juvenal Amado disse...

A guerra esteve sempre perdida, estava perdida independentemente da vontade dos soldados (que não era muita na esmagadora maioria dos casos)
E a guerra estava perdida porquê?
Porque não era possível sustentá-la.
Porque não conseguia o nosso governo comprar material de guerra?
É verdade que o governo francês só nos vendeu a versão civil do Alouett?
Que os nossos caças não sabiam o que lhes estava a cair em cima quando começaram a ser abatidos?
Que tiveram que descobrir por eles mesmo como fazer frente frente à situação?
Que não lhes foram fornecidos perante a nova ameaça, radares ou outro equipamento para detectar e eliminar a ameaças dos strelas?
Que faziam bombardeamento lançando bombas de 750 libras à mão pela porta dos Nordatlas numa total improvisação?
Que os obuses 14 faziam uma devastação de dezenas metros quadrados e mesmo assim o PAIGC atacava sem parar?
Que o equipamento ligeiro era francamente inferior ao usado por eles.
Que os soldados não queriam ir para a Guiné e muitos foram enganados pensando que iam para Angola?
Que os que lá estavam com as comissões largamente excedidas, queriam era vir embora a qualquer custo?
Que a falta de estratégia e soluções de quem traçava as operações descampou em vários desastres senão com vítimas mas sem resultados palpáveis.
Que o PAIGC era desalojado num dia e que no outro dia já lá estava outra vez?
Que a disparidade em numero de homens a nosso favor (42 000 para 7000 ) não nos garantiu a vitória?
Que 13 anos de guerra é demais para se acreditar na vitória quando todo o Mundo nos criticava?
E porquê que não ganhamos a guerra?
Não tenho pretensões a estar integrado nas "sumidades" do blogue e penso, que dar a opinião não é de forma nenhuma provocar ninguém. Estou plenamente de acordo com o José Teixeira sobre isso digo, que quando toda a gente pensa da mesma maneira, não é necessário e preciso pensar muito.

Um abraço






Tabanca Grande Luís Graça disse...

Zé Teixeira:

O blogue não é meu,´é nosso. Mas,sendo eu fundador e um dos mentores do blogue, e um dos seus coeditores, fico triste, quando leio comentários como este:

"Uma das razões porque alguns senão muitos camaradas deixaram de escrever e sobretudo de comentar foi precisamente porque logo aparecem os críticos desta ou daquela banda
a interferir, desculpem-me, mas em alguns casos berrar a 'sua' verdade.E aqui também não há verdades absolutas."

Ninguém, nenhum camarada, deveria sentir-se "intimado" por manifestar a sua opinião, ou os seus sentimentos, a sua percepção ou versão dos acontecimentos...Infelizmente, isso acontece no nosso blogue, ou ainda acontece. Não deveria acontecer, justamente porque este blogue não é uma arena de luta político-ideológica...

A verdade é que, nalgumas ocasiões, a propósito de temas mais controversos ou polémicos, há forte conflitualidade, contrariando um dos princípios (regra nº 2):

"manifestação serena mas franca dos nossos pontos de vista, mesmo quando discordamos, saudavelmente, uns dos outros (o mesmo é dizer: que evitaremos as picardias, as polémicas acaloradas, os insultos, a insinuação, a maledicência, a violência verbal, a difamação, os juízos de intenção, etc."

Como elemento da equipa, compete-me lembrar (e fazer respeitar...) estas regras do nosso convívio:

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2011/07/guine-6374-p8588-excitacoes-143.html

Desculpa, Zé Teixeira, mas não me parece haver "razões de monta" para tu e outros camaradas se afastarem, "assim tanto", do blogue... Como sabes, há total liberdade de comentar no nosso blogue, e só muito raramente os editores têm usado, nos últimos anos, o seu "privilégio" de eliminar os comentários "inaceitáveis", face às nossas regras do jogo...

Um xicoração fraterno, Luís Graça

José Teixeira disse...

Meu bom amigo Luís.
As razões porque reduzi os meus escritos não tem a ver com as possíveis críticas menos positivas ou contestatárias à minha opinião expressa- aliás,nunca as senti, bem pelo contrário, sempre me senti acarinhado com criticas positivas.
1º - Esgotei o meu reportório em termos de factos vividos e dignos de serem relatados
2 º - Gosto de ler e reler os escritos dos camaradas, mas não gosto de entrar em polémicas. Respeito a opinião de cada um e tiro as minhas conclusões.
.
3º - Continuo a visitar todos os dias o blogue e ler com atenção os escritos sobre a Guiné. Os outros escritos são fait divers que nem me interessam.

Concordo plenamente com a politica adoptada e admiro e respeito profundamente o trabalho dos editores.

...e continuo por cá.

Abraço
Zé Teixeira

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Meu caro António Graça de Abreu:

Vou ser franco contigo: não percebo o alcance do teu comentário:

(...) "Qualquer pessoa honesta que se debruce sobre a nossa guerra na Guiné deve respeitar os factos e não por ignorância ou por opcção ideológica (tão clara entre sumidades deste blogue!) entreter-se a enganar meio mundo, a falsificar a nossa História comum." (...)

Corres o risco de ser injusto, ao falares em "sumidades do blogue", no plural... Quem são essas sumidades ? O que entendes por "sumidades" ? Não particularizas, não fundamentas, generalizas, insinuas... Ora a insinuação e a suspeição não devem ter lugar entre nós... Somos diretos, frontais, damos a cara, não nos escondemos atrás do bagabaga, e, mais do que isso, não combatemos pessoas, nem sequer ideias...

Por outro aldo, não te podes pôr de fora... Este blogue é também o teu blogue, e julgo que aqui tens sido bem tratado, com isenção e equidade... Pois este blogue, que é o "nosso", foi pensado para contarmos histórias, fazermos os nossos relatos, partilharmos os nossos sentimentos, emoções, perceções, opiniões, memórias... É verdade, não fazermos todos a mesma leitura dos acontecimentos, dos factos,dos lugares, do papel dos atores... E aí há diferenças de "grelhas de leitura", originando "enviesamentos"... Mas nós não somos cientistas, somos atores, antigos combatentes...

Estou de acordo contigo num ponto essencial: não à falsificação da história!... Num blogue como o nosso é, contudo, difícil aldrabar, em matéria factual, há demasiados olhos e ouvidos atentos ao que se escreve, ao que se publica, ao que se comenta...

Por outro lado, é bom esclarecer que nenhum de nós aqui faz História com H grande... Mas também gostamos de lembrar, aos historiadores, que não há história com H grande sem a nossa pequena história, a daqueles que combateram, de um lado e do outro, na guerra da Guiné...

É nessa matéria. "todos somos sumidades"...

Um bomn resto de noite, que Deus, Alá e os bons irãs nos protejam!... Luís Graça


_________________

sumidade | s. f. | s. f. pl.

su·mi·da·de
substantivo feminino
1. Qualidade de sumo.
2. Cume; cimo; o ponto mais alto.
3. [Figurado] Pessoa que sobressai entre as da sua classe pelo seu saber.

sumidades
substantivo feminino plural
4. [Farmácia] Pontas, extremidades dos ramos das plantas.

"sumidade", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/sumidade [consultado em 15-03-2017].

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Canaradas.

“Uma das razões porque alguns senão muitos camaradas deixaram de escrever e sobretudo de comentar foi precisamente porque logo aparecem os críticos desta ou daquela banda a interferir, desculpem-me, mas em alguns casos berrar a "sua" verdade. E aqui também não há verdades absolutas”.

Foi o que escreveu o Zé Teixeira e eu subscrevo totalmente. Aliás, subscrevo igualmente o seu segundo comentário em resposta ao Luís Graça. E a questão não é uma pessoa sentir-se “intimidada” ao escrever no Blogue, mas sim não estar disposto a ser alvo de comentários pejorativos e rasteiros pouco próprios para as nossas idades e paciências.

Lamentavelmente, entro aqui por não suportar ficar calado face a situações de crispação que, a tempos, retomam ao nosso Blogue por questões já gastas e fruto de obsessões, quando podia usar o espaço para falar dos Strela que, digam o que disserem, de alguma forma condicionaram a minha situação no Sul da Guiné em 1973 e 74, como aliás dei conta num dos meus postes aqui publicados.

António Murta.

antonio graça de abreu disse...

Diz o José Teixeira, presumivelmente dando voz a quem a estava na Guiné, pós Strela: "Na realidade a aviação recolheu a quartéis. Os feridos ficavam no mato porque o Héli não levantava. Os ataques aos aquartelamentos sucediam-se de noite e de dia. As terríveis emboscadas às colunas tornaram-se mais dolorosas porque os Fiat ou não chegavam ou andavam lá muito pelo alto."
Claro que a situação era difícil, mas a nossa História faz-se com factos reais,com o que realmente aconteceu no terreno de guerra. Se assim não fôr, estamos no campo da invencionice,do "para cada um sua verdade", do "verdades há muitas", algumas delas refinadas mentiras. Como muito bem diz o nosso general António Martins de Matos, piloto de Fiats, Guiné, 1972/74, -- e que logo, pós Strela, Abril 1973,e durante maisum ano bombardeou como nunca --,estamos a lidar com "boatos e mentiras que correm o risco de entrar para a História." Só isto, será assim tão difícil de entender?
É mesmo difícil porque as pessoas têm opções ideológicas -- estão no seu pleníssimo direito --,e misturam entendimentos, desentendimentos, paixões, ódios viscerais, por exemplo ao regime de Salazar e Marcelo Caetano que nos mandava ir para a guerra "morrer ou matar". Veja-se aqui o comentário do Juvenal Amado, um camarada honesto, por quem tenho admiração e amizade mas onde é cara a ideologia subjacente ao seu pensamento, pouco distanciada da dos amanhãs que cantam, que infelizmente para o mundo,nunca cantaram.
Quanto a "sumidades" no blogue, eu acho que também sou uma delas.Vejam os relatos da minha recente Volta ao Mundo que o Luís Graça está a fazer o favor de publicar.Depois da Guiné, há muito mais mundo, a vida é breve, temos de a viver, original e creativamente. Outra "sumidade" é o Mário Beja Santos, a viajar, e muito bem, por Londres Low Cost, Bruxelas ou pelo ventre de Tomar.E já viajou muito pela Guiné. Quando escreve sobre a nossa guerra, é também claro, o pendor ideológico dos seus textos. Está no seu pleníssimo direito. Ainda há dias nos brindou com o elogio, tão repetido, ao René Péssier e até inseriu no comentário Miguel Tavares Rodrigues, pessoas cuja opcção política e ideológica é bem conhecida e que, por isso, na minha humilde opinião, lêem o mundo a seu modo. E a paixão ideológica embota e obscurece o entendimento dos factos,dos factos reais.

Abraço,

António Graça de Abreu

Anónimo disse...

Vou começar por identificar o autor do comentário de 15 de Março de 2017 às 11:44 que por lapso não fiz. Belarmino Sardinha.
Respondo agora ao José Belo, meu caro amigo, aceito perfeitamente a interrogação que propões, nas coisas indefinidas mas acabadas nunca se pode garantir nada.
Passo depois à apreciação do que escreveram o António Graça de Abreu e o José Teixeira, mais dois bons amigos que conheci aqui neste espaço. O Graça de Abreu fala sempre de forma demasiado quente, quem o conhece sabe que vive assim as coisas, podia dizer o mesmo sem ser demasiado duro na forma como crítica tudo aquilo com que não concorda e também não me parece estar em situação de poder criticar os outros pelos seus pontos de vista, mesmo que ideológicos, já que ele também ao defender as suas causas como defende não consegue ser totalmente isento e imparcial, vejamos aquela pedra sempre pronta a disparar contra o Mário Beja Santos, mas é o estilo do Graça de Abreu.
Agora chega a vez de concordar com grande parte do que o José Teixeira disse sobre alguns camaradas que se afastaram, é verdade, confrontos de opinião apenas, sem factos, de nada servem a não ser para nos incompatibilizarmos, o que, diga-se, nas nossas idades só já serve para enterrarmos vivos mais alguns dos poucos que ainda por cá andam.
Espero ter contribuído para ajudar a cimentar as nossas opiniões e amizade sem deixarmos de ser quem somos.
Um abraço e agora vou assinar.
BS

Anónimo disse...

Meu caro Zé Belo

A do Vinicius merece ser lida atentamente.
Todo um texto numa linha!

Pedro Santos.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Verifico que todos os comentários feitos pelo José Belo foram removidos. Alguém sabe porquê?
BS

Juvenal Amado disse...

No falar do António Graça Abreu sou uma espécie de diácono dos remédios do lado contrário.

Um abraço

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Manuel Luís Lomba disse...

Salve, camaradas.
Os académicos e os eruditos assertam que a História é um romance verdadeiro, os seus factos são acontecimentais, não um romance de ficção, e a sabedoria popular diz que contra factos não há argumentos.
Às três verdades contraditórias aos três boatos fatalistas do desfecho da Guerra da Guiné, certificadas pelo notável camarada António Martins Matos, atrevo-me a acrescentar uma quarta verdade, consciente da sua carga provocatória.
Os detentores do poder de direcção e de comando de Portugal, em 1974-75, não reconheceram a independência da Guiné-Bissau - abandonaram-na a um PARTIDO-ESTADO-ARMADO que, ao deixar de ter soldados portugueses como alvos da sua metralha, viraram o armamento contra o seu próprio povo!...
Ab.
Manuel Luís Lomba

Juvenal Amado disse...

Um país enxague por uma guerra que não tinham fim, o poder foi entregue a quem tinha lutado por ele nas condições que nós sabemos.
Numa situação destas deveria ser entregue a quem?
O PAIGC era o representante dessa mesma luta e a partir do momento, que não temos condições para exercer o poder é natural e de boa fé, que o poder fosse entregue ao partido representativo da luta pela independência.
Não percebo como se continua a culpar este ou aquele, quando afinal à luz da época Portugal não tinha condições para continuar a controlar o processo.
E lá voltamos ao mesmo. Porque o meu irmão combateu em Moçambique de 1966 a 1968 eu na Guiné de 1971 a 1974 e não queria que o meu irmão mais novo acabasse a combater dali a uns anos.
Eu nunca me ofereceria para outra comissão e agradeço e que quem se oferecesse, que ponha o dedo no ar, excluindo os militares de carreira.
Agora o que o PAIGC fez com a independência não é da nossa responsabilidade, embora eu lamente que a sociedade multi-étnica de Amilcar Cabral, tivesse redundado no estado falhado que é hoje a Guiné-Bissau.
E "prontos" volta-se a dizer o mesmo com outras palavras, mas é sempre o mesmo.
Eu fui para lá com medo, tive medo lá e estava desejoso da me vir embora, nunca me ofereceria para outra comissão nem que me garantissem que não saia de Bissau.
Dizem que a coragem é o momento em que se ultrapassa o medo
Hoje tenho saudades daquela idade, da aventura, tenho pena de não lá voltar para regressar ao ambiente daquele tempo, à camaradagem e à descoberta, mas saudades da guerra e de um Portugal, que nos oprimia disso não tenho saudades nenhumas.

Manuel Luís Lomba disse...

Caro camarada Juvenal Amado.
A quem Portugal devia entregar os destinos da Guiné-Bissau?
Ao seu Povo, não às armas nem ao "materialismo dialético" da Rússia & Cia!
As estatísticas da altura, não sondagens (valem o que valem, revelavam que o PAIGC tinha o apoio de menos de 15% dos guineenses, contando os residentes e os refugiados.
O PAIGC merecia receber o poder porque lutava contra a sua integração portuguesa? Nós lutamos contra o PAIGC, para lhe embargar esse poder!
Quem deu a cara, como percursor do 25 de Abril, entregando a exposição dos militares da Guiné a Marcelo Caetano?
O ora Tenente-coronel Marcelino da Mata, já então o militar português mais condecorado.
Quem desempenhou papel decisivo no "golpe de Bissau", que determinou o desfecho da Guerra da Guiné?
O Capitão-comando Teófilo Sayeg.
Seguramente que lutavam contra a saga dessa exclusividade, perseguida pelo PAIGC...
(O governo da Guiné-Bissau fuzilou o Sayeg e os "progressistas" do Ralis por pouco não lhe prestaram esse serviço, na pessoa do Marcelino...). As guerras actividades em os combatentes atiram tudo uns contra os outros, menos chocolates ou rebuçados. Refiro-me ao desfecho da da Guiné, como soldado - passei por por todas as suas agruras, medos e sofrimentos.
Mas que diabo: orgulho-me de cidadão deste país, o terceiro mais antigo do mundo, da sua grandeza e do seu impacto no Mundo, ao longo de 500 anos; mas não tenho razão de me orgulhar das suas elites... E que direito tenho, em questionar D. Afonso Henriques, D. João II, o Infante D. Henrique ou o próprio Diogo Cão?
Ab.
Manuel Luís Lomba

Juvenal Amado disse...

Camarada Manuel Luís Lomba
Perguntas
A quem Portugal devia entregar os destinos da Guiné-Bissau?
Ao seu Povo, não às armas nem ao "materialismo dialético" da Rússia & Cia!
As estatísticas da altura, não sondagens (valem o que valem, revelavam que o PAIGC tinha o apoio de menos de 15% dos guineenses, contando os residentes e os refugiados.
O PAIGC merecia receber o poder porque lutava contra a sua integração portuguesa? Nós lutamos contra o PAIGC, para lhe embargar esse poder!

Eu até posso estar de acordo contigo nisto tudo, mas como se ia fazer isso? Portugal manter o poder? Isso era prolongar a guerra uma vez que eles nunca aceitariam partilhar o poder com o antigo poder colonial e nós? Como íamos fazer? Enquanto se vitoriava o MFA e os 3 D,s Democratizar, Descolonizar e Desenvolver íamos manter a guerra e continuar a mobilizar jovens de um país completamente desmoralizado com o rumo da guerra , com a politica interna e só no contexto das nações. A população da Metrópole ia continuar a aceitar isso? Oferecias-te para lá para fazer comissões atrás umas das outras?
A França quando saiu da Argélia e da Indochina também deixou muitos dos seus apoiantes para trás. A seguir os americanos também tiveram que deixar os vietnamitas que tinham lutado por eles. Há escolhas e por vezes são erradas.