Fundação Mário Soares / Documentos Amílcar Cabral > Abril de 1972 > Região de Tombali > "Visita da Missão Especial da ONU a Cubucaré [, a sul do Rio Cacine,] distinguindo-se Fidelis Cabral de Almada e José Araújo. Com a inscrição manuscrita a lápis no verso: Recebida, com entusiasmo pela população, a missão especial chega ao local de um grande meeting popular, em Cubucaré". Guiné-Bissau, 2 a 8 de Abril de 1972."
1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66) com data de 22 de Março de 2019, sendo publicada com o poste na série (In)citações (**):
A Guerra da Guiné:
A Comissão Especial da ONU e outros embustes…
A ONU, Organização das Nações Unidas, é uma entidade enformada por humanos, tanto pode praticar as melhores virtudes como cometer os erros mais comezinhos. E sendo as guerras actividades humanas e o homem a única espécie animal que mente, a verdade é a primeira vítima delas.
Postulante à Assembleia Geral da ONU do envio dessa Comissão Especial (*), Amílcar Cabral, num exercício de génio político, nem a acompanhou nem penetrou na fronteira da Guiné Portuguesa. Se o desafio corresse mal, haveria um culpado - o seu “marechal de campo” Nino Vieira. A superação do medo do risco dessa troika onusiana foi trabalho dos drs. Fidelis Almada e José Araújo, do Comité Executivo de Luta, formaram um grupo de 6 e desceram de Conacri para Boké-Kandiafara, fizeram-se ao caminho até à fronteira de jipe, fardados de “boinas azuis” e escoltados pelo grupo de experientes guerrilheiros comandados pelo decidido Abdulai Barri, passaram linha invisível da fronteira a pé, foram recebidos na margem do rio Balana pelo comandante Pedro Pires, que acabara de substituir o comandante Constantino Teixeira no cargo de Comissário Político da Frente Sul e de “controleiro” de Nino Vieira.
Havia dois anos que a tropa deixara de içar a bandeira de Portugal naquele troço do longo Corredor de Guileje. Amílcar Cabral embirrou com a posição e, na sua sobranceria de militar clássico, convencional, em 1970, o General António de Spínola negligenciara a valia táctica das posições de “impermeabilização” daquela fronteira, dando preferência à perseguição dos intrusos com operações “à general”, com forças terrestres, navais e aéreas, evacuando as suas guarnições (Ponte Balana, Gadembel, etc).
Na mata da margem desse pequeno rio Balana também os esperava Nino Vieira, o eficiente Chefe de Operações do PAIGC, correspondente ao posto de Comandante-Chefe, nos exércitos clássicos, que lhes deu orientações tácticas, traçou-lhes a rota orientada a leste, eles começaram a marcha na direcção de Daresalam, com dois bi-grupos em segurança avançada, comandados por Constantino Teixeira, e desandou apressado (Luís Cabral escreveu por sofrer de maleita nos pés), mas no desempenho do seu cargo do mais alto comando operacional das FARP (Forças Armadas Populares) e com a missão de despistar à tropa de Bissau a sua porta entrada, a sua progressão e na cobertura à sua estada, com manobras de flanco, enquanto o Comandante-Chefe General António de Spínola correspondia à intrusão desencadeava, a partir de Aldeia Formosa (Quebo) a Operação Muralha Quimérica, entre Unal e Gadembel, investindo agrupamentos de tropas especiais e do contingente geral - as Companhias de Pára-quedistas 121, 122 e 123, duas Companhias de Comandos Africanos, as Companhias de Caçadores, 19, 3399, 3477 e as imprescindíveis parelhas de aviões Fiat G-91, de ataque ao solo, cerca de 800 operacionais, brancos, pretos e mestiços. Atente-se na premonição da nomenclatura dessa operação. (***)
Lançados na procura da sua peugada e comandados pelos valorosos oficiais pára-quedistas Tenente-Coronel Araújo e Sá e Capitão Mira Vaz, aqueles insofridos operacionais andaram 12 dias a pentear aquele inóspito território, como quem procura agulhas em palheiro, enquanto o intuitivo e bem informado Nino Vieira, ao comando dos seus bisonhos 400 combatentes nacionalistas, enquadrados por cubanos, com a sua lendária sorte e pelas suas audaciosas manobras de diversão, ofensivas e defensivas, conseguiu manter à distância e garantir o desencontro de toda aquela tropa com esses intrometidos “emissários especiais”. A segurança próxima de Abdulai Barri e segurança alargada de Constantino Teixeira não dispararam um tiro.
Em 10 de Abril, em Conacri e, a seguir, em Nova Iorque e noutras arenas internacionais, aqueles emissários diplomáticos clandestinos proclamaram, na certeza de colher a condescendência da generalidade das chancelarias que, nos 5 dias e 6 noites da sua visita à Guiné (da sua imaginação) percorreram cerca 200 km a pé em “áreas libertadas, e apenas de noite – uma média de 30 km por cada dessas curtas noites tropicais, superior à alcançada em corridas pedestres em pista – proeza de super-homens! – que estiveram em 9 localidades libertadas, em contacto com as populações na inspecção das estruturas que enformam os Estados – serviços da administração, saúde, justiça, educação, obras de reconstrução, economia, assembleia nacional, etc (seriam portadores de óculos de visão nocturna?). E que, a simbolizar a missão cumprida arvoraram a bandeira da ONU no galho duma árvore, algures na península de Cubucaré/Bedanda.
Essa mistificação dessa missão internacional a uma imaginativa Guiné custou ao PAIGC a destruição do “hospital” e da “loja do povo”, razão por que não as visitaram, importante armamento aos 400 duros combatentes do comandante-chefe Nino Vieira e 47 baixas, entre mortos, feridos e prisioneiros. O fotógrafo oficial da ONU, o japonês Youtaca Nagata, voluntariara-se para a essa missão, mas não terá tirado a foto pró-memória do acontecimento, prevenindo-se do seu do contraditório, enquanto o relatório e seus anexos, para uso da Comissão de Descolonização, do Secretário-Geral, da Assembleia Geral e do Conselho de Segurança da ONU denunciam a mão do PAIGC.
Essa visita da Comissão Especial da ONU à Guiné foi um embuste - protagonizou o maior acto de hipocrisia diplomática da Comunidade das Nações. Não fora mandada com a missão de observar, mas para satisfazer o formalismo da apresentação dum relatório, circunstancial de modo e de lugar. Ainda há pouco alguns ex-quadros do PAIGC se descaíam, em privado, em como esses onusianos apenas puseram os pés nas bordas do chão bissau- guineense.
Testemunhos espontâneos de veteranos combatentes diziam que aquele grupo onusiano apenas se aventurara a pequenas deslocações, ao longo da fronteira, sempre de noite, a penar os tormentos da guerra, sempre com o credo na boca. Penetrados 5 km no mato da Guiné, a audição dos rebentamentos, a sua intensidade e o roncar dos Fiat's fizeram o diplomata Kamel Belkhiria, secretário da missão permanente da Tunísia, avaliar o risco que incorriam, manifestou-se renitente à aventura e tornara-se recorrente nas tentativas de não só não avançar mais como de voltar para trás. Tendo em conta que Boké dista cerca de 80 km da fronteira, aos apregoados 200 km palmilhados terão de ser subtraídos os 160 km de ida e volta, percorridos de viatura em território estrangeiro. A máxima distância em linha recta, entre Bissau e o ponto fronteiriço mais distante, como Buruntuma ou Guileje, será pouco superior a 100 km...
Essa desavergonhada missão internacional, porque clandestina e nocturna, em favor ao reconhecimento dum Estado também ele ausente, nocturno e clandestino, ter-se-á limitado ao acto de dependurar a bandeira da ONU no galho duma árvore além rio Balana, ao Cantanhez – esse santuário da Natureza Bissau-guineense, entrado em processo de desertificação demográfica, que a conjugação das adversidades naturais com as tormentas daquela guerra transformaram em “inferno verde” para os seres vivos – animais, guerrilheiros, tropa e populações.
Essa Comissão da ONU aterrou em Conacri, então a capital da Guiné-Bissau, e poderia ter aterrado em Bissau ou nas 60 pistas de aterragem activas, espalhadas pela Guiné Portuguesa. A sua precedente aterrara em Bissau, em Julho de 1971, observara os 12 mil aldeamentos sociais espalhados pelo território, construídos pelo Batalhão de Engenharia de Bissau e pelas guarnições das suas quadrículas, e não escondeu o seu espanto, pelo sucesso do PAIGC em revertê-los em seus secretos pontos logísticos. O PAIGC tinha “comissários” nesses aldeamentos; a sua circulação era quase livre…
Se não fosse tão “especial”, essa missão teria podido deslocar-se por terra, mar e ar, aos quatro cantos da Guiné, teria avaliado “a guerra de guerrear” do PAIGC, eficiente em criar dificuldades e na disrupção da vida das populações rurais guineenses, pela minagem das picadas e trilhos, teria observado a sua eficácia a dar combate, em encontros de primeiro grau, como as emboscadas de bate e foge às patrulhas, colunas-auto da tropa ou os ataques, em regra nocturnos, aos seus aboletamentos; teria visto mortos, feridos ou estropiados de um e de outro lado, em particular nas áreas florestais e suas acessibilidades.
Mas, em lugar algum dessa Guiné real encontraria Amílcar Cabral ou qualquer um da cúpula dos mandantes dos seus insofridos combatentes da liberdade. Viviam em Conacri. O próprio Nino Vieira viva em Boké. Em abono da verdade, seriam obrigados a reportar que o atraso da Guiné portuguesa era ligeiramente superior ao do Portugal europeu, que a colonização portuguesa era algo mental e pouco económica, que a capital da Guiné do PAIGC e as suas instituições políticas e militares funcionavam em Conacri e noutras cidades no estrangeiro e que as dimensões atribuídas às “áreas libertadas” eram criações fantasiosas, propaganda mediática.
Estavam os intrusos onusianos a pisar a margem do rio Balana e o Comandante-Chefe comparecera no palco da quimérica operação que desencadeara. No dia seguinte ao conhecimento que já tinham abandonado o território, que lhe chegara pela diligente propaganda radiofónica do PAIGC, os voos rasantes de reconhecimento duma parelha de jactos Fiat anunciavam a sua visita à área dessa visita e um “zingarelho” da base aérea de Bissalanca poisou nela.
O general, carismático pelo seu monóculo e pela teimosia de ir aos locais onde o PAIGC já tinha ido, chegava ao encontro com a ONU, atrasado mas não clandestino, a lavar, com a sua presença, o enxovalho da ONU dirigido à terceira nação mais antiga do mundo e aos seus soldados; e só então mandou calar a metralha, que havia 12 dias punha o Cantanhez a ferro e fogo, por terra, água e ar, já Nino Vieira manobrava o Terceiro Corpo de Exército das FARP pelo troço no estrangeiro do famigerado “Corredor de Guileje”, para as suas bases de retaguarda, de Kandiafara e Boké.
Os mesmos populares que o PAIGC havia coagido a sair dos seus esconderijos, a seco e em segredo, para fazer de cenário a esse evento onusiano, foram os mesmos a acorrer à aterragem do Comandante-Chefe, que animou a malta, presenteando-os com dois garrafões de aguardente de cana.
Os naturais da Guiné são naturalmente hospitaleiros e nunca desperdiçam a oportunidade dum ronco (uma festa); e esses mesmos figurantes para o evento da ONU rufaram o “bombolom” nos seus tambores, convocatório a nova reunião, ora de celebração à presença do “homem grande de Bissau” e em gratidão à sua dádiva aguardenteira, enquanto os 800 militares dos agrupamentos de tropas especiais e normais da Operação Muralha Quimérica começavam a recolher aos seus aquartelamentos, mortos de cansaço físico e psíquico pelos esforços e sofrimento individual que lhes foram exigidos, a custo de um morto e sete feridos graves. Estariam longe de imaginar ou de qualquer pressentimento que acabavam de abordar uma emergência transcendental e que dois garrafões de aguardente de cana-de-açúcar da “Apsico” do Comando-Chefe fizeram mais pela “Guiné Portuguesa” que os seus 12 dias de canseiras, sofrimento e combates.
Como as operações combinadas dos três ramos são planeadas pelos Comandantes-Chefes, no outro lado, no Índico, o Comandante-Chefe General Kaúlza do Arriaga, o oposto do General Spínola, com a sua Operação Fronteira embargou 13 vezes ao Comité dos 24 da ONU, as suas tentativas de penetração clandestina em Moçambique…
À maneira de “um general no seu labirinto”: o espião das informações em que o Comando-Chefe baseou o planeamento da Operação Muralha Quimérica e o guia para o avanço do seu desencadeamento haviam-lhe sido “fornecidos” pelo PAIGC. Luís Cabral escreveu terem tomado precauções militares e “conspirativas”... Dizem que o tempo e a História devolvem a gratidão aos povos. Os nossos netos verão em Bissau uma estátua a homenagear o General António Spínola “Por uma Guiné melhor”?
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 16 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19592: (D)o outro lado do combate (48): A Missão Especial da ONU na Guiné - Abril 1972 (António Graça de Abreu / Luís Graça) - III (e última) Parte II: capa + pp. 9-11.
Postes anteriores:
15 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19587: (D)o outro lado do combate (47): A Missão especial da ONU na Guiné - Abril 1972 (António Graça de Abreu / Luís Graça) - Parte II: capa + pp. 4-8
14 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19586: (D)o outro lado do combate (46): A Missão especial da ONU na Guiné - Abril 1972 (António Graça de Abreu / Luís Graça) - Parte I: capa + pp. 1-3
(**) Último poste da série de 7 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19478: (In)citações (126): o facto de ter havido alguém, como o Ramiro Elias da Silva, a ter a ideia de um convívio do batalhão em Angola, por volta de 1980, à semelhança dos que fazemos em Portugal, é altamente significativo do espírito que animou os seus militares, o que muito me orgulha (Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil, CCAÇ 3535 / BCAÇ 3880, Zemba e Ponte de Zadi, 1972/74)
(***) Vd. poste de 29 maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1793: Operação Muralha Quimérica, com os paraquedistas do BCP 12: Aldeia Formosa, Guileje e Gadamael, Abril de 1972 (Victor Tavares)
15 comentários:
... caro camarada-d'armas Manuel Luís de Araújo Lomba, por este meio o felicito, pela sua clara exposição, a qual me merece plena concordância porquanto, sendo eu desde há décadas a esta parte basto conhecedor de tal manobra, não posso deixar de o subscrever.
A verdade não prescreve.
Queira aceitar as minhas melhores saudações veteranas.
Interessante.
Desconhecia, para além dos dotes de oratória, que Spínola oferecia garrafões de aguardente como presente 'para uma Guiné melhor'. Já Schulz, que gostava de viajar com a sua máquina fotográfica, oferecia grades de cerveja à tropa.
Cada um, com a suas ofertas de bioxene, lá iam 'alegrando' civis e militares.
Valdemar Queiroz
Pois é, por A mais B, o Manuel Luís Lomba a explicar as aldrabices guerreiras do PAIGC e dos caricatos homens da ONU. Não ganhámos,não íamos ganhar aquela guerra, sabemos todos, mas é claro como água (excepto para o Mário Beja Santos)que em 1972/73/74 a superioridade militar no terreno,o controle efectivo (60 pistas de aterragem a funcionar, etc.)o controle efectivo em quase todo o território da Guiné estava nas mãos das NT, a tropa e a má administração portuguesa.
Negar esta realidade é um insulto a todos nós, numa Guiné em chamas 1972/74.
Abraço,
António Graça de Abreu
Curiosidade.
Nos anos de 1972-74 quantos ou quais eram os nossos Quarteis, quase todos 'metidos' dentro das povoações/tabancas cercados de arame farpado, que não eram atacados todos os dias ou noites?
(...com o controle efectivo em quase todo o território da Guiné nas mãos das NT…)
Não estou a pensar em regiões abandonadas ou em retiradas estratégicas, em que passou a haver uma 'zona de ninguém', ou também conta como 'território nas mãos das NT?
Valdemar Queiroz
Comentar comentário não será de bom tom. Considerando que o Valdemar é um interventivo militante (que aprecio), correspondo-lhe a este à guisa de tréplica.
A única posição militar do governo da Guiné que o PAIGC atacou com objectivo da sua expugnação, não foi nem Guileje, nem Guidaje, nem Canquelifá (que flagelou intensivamente), mas Madina do Boé, com o efectivo de Companhia, e, posteriormente, o pequeno destacamento de Copá, com o efectivo de pelotão.
Retirou derrotado de Madina do Boé para a Guiné-Conacri, com as suas armas pesadas e o capitão cubano Ulisses Estrada a carregar o cadáver do seu comandante (Domingos Ramos); retirou derrotado de Copá para o Senegal, com o cadáver do comandante dos dois blindados investidos, neutralizados por... um morteiro de 60!
A malta subsistente às duas situações está viva - e recomenda-se!
O PAIGC não atacava (flagelava) posições militares do governo legal; atacava povoações com tropa aboletada, em regra de noite, com as pessoas recolhidas, matando e estropiando muitos mais compatriotas civis que militares colonialistas.
Se tirasse ao PAIGC o arsenal de foguetões, mísseis, canhões s/r e morteiros de 120, nada lhe restaria - nem escolas, nem hospitais,ou armazém do povo. O MFA substituiu o poder colonialista pelo poder marxista e ele perdeu a quimera da união com Cabo Verde e demonstrou à saciedade que de Desenvolvimento era um ZERO À ESQUERDA
Para a felicidade dos bisau-guineenses, esse PAIGC não é o do amigo eng. Domingos Simões.
Abr.
Manuel Luís Lomba
Caro Luis Lomba
Apenas, e por curiosidade, me referi 'ao controle efectivo'.
Todos nós sabemos, perfeitamente, que ao longo do tempo da guerra foram desaparecendo centenas de tabancas, algumas com tropa ou milícia, e que toda a gente se deslocou para as 'grandes' localidades.
Isto quer dizer que o IN foi 'ganhando terreno'.
Em Novembro de 1970, Nova Lamego foi atacada, não por morteirada ou misseis, mas de assalto com tiroteio em plena rua.
Quanto ao se…… é como diz o outro. Quanto ao resto foi o que aconteceu.
Ab.
Valdemar Queiroz
Caro amigo Valdemar,
O Manuel Luis Lomba esteve por ca no inicio do conflito quando uma unica companhia controlava uma regiao inteira, por exemplo a CCAC 674 (1964/66) que estava sediada em Fajonquito era suposto controlar toda a vasta area de Fajonquito-Sora (perto de sare-Bacar)-Cambaju-Sitato (perto de Cuntima)-Sare-Dico-Sutoto (ao sul de Canjambari), exigindo as tropas um sacrificio indescritivel e claramente impossivel. Neste momento estou a ler o Diario do soldado Inacio Maria Gois desta mesma companhia e soh quem nao passou por aquela "Cruz de calvario naquelas terras de ninguém" como ele o classifica, sabe o que significou de facto o que estao a chamar de "controle efectivo das NT".
As tentativas de controlar aquelas vastas areas terminou no dia 10 de Janeiro de 1966, quando a guerrilha matou numa emboscada, com granadas de mao e roquetadas, 10 soldados do BCav 757 de Bafata. Dessa data para a frente, a Estrada que fazia a ligaçao de Fajonquito-Canjambari morreu de vez, deixando a guerrilha circular "livremente" no corredor de Sitato-Canjambari, que de resto alimentava, também, as barracas de Sara e de Morés.
Abraços amigos,
Cherno Baldé
... o objecto deste 'post' de Manuel Lomba, é unívoco: uma sucessao de fakenews' fabricadas nos idos de Abr1972, pelo PAIGC em concluio com a ONU.
No entanto, por excepção, sejam-me consentidos três reparos ao 2º parágrafo do precedente 'comment' de Cherno Baldé:
1.- No decurso da Op Durão, a referida emboscada IN lançada no itinerário Fajonquito>Canjambari, não ocorreu no dia indicado - «10 de Janeiro de 1966» -, sim pelas 15:30 de 11Jan1966, nas imediações de Saré Dicó;
2.- As dez baixas mortais de militares (dois primeiros-cabos e oito soldados) da CCS/BCav757, não se verificaram como consequência de «granadas de mao e roquetadas», sim pelo facto de a viatura 'Mercedes' ter sido atingida por uma granada de 'bazooka'.
3.- Quanto à 2ª parte daquele mesmo parágrafo, trata-se apenas de veicular mera opinião pessoal, porquanto nunca o IN passou a «circular "livremente"» - nem com 'aspas' nem sem aspas - «no corredor de Sitato-Canjambari».
Melhores cumprimentos.
Caro amigo Abreu dos Santos,
Em matéria de embustes e de FakeNews, o PAIGC não tinha nada a dever ao regime de Salazar e Caetano, aliás os principais lideres dos movimentos de libertação eram o produto acabado deste regime ditatorial e dai, como diz o Lomba, Manuel Luis, na parte final do seu texto, o falhanço monumental na consecução dos chamados Programas maiores relativos ao desenvolvimento socio-económico desses países. Quem é que podia acreditar nas palavras da diplomacia Portuguesa depois do que aconteceu em Conacri com a operação "Mar Verde".
Quanto a emboscada de Sare-Dico, tens razão relativamente a data, mas estás em desacordo com o Diário de Gois que aponta para as 4h30min o momento das primeiras explosões. A operação para a 674 é que tinha iniciado no dia 10 de Janeiro. E para esta companhia, foi a ultima operação realizada na zona de Saré-Dico, de acordo com os registos de Gois, até ao fim da comissão (sairam de Fajonquito em direcção a Bissau no dia 30/03/1966.
Um abraço amigo,
Cherno Baldé
... a atitude de Cherno Baldé, neste blog, prossegue em moldes idênticos a anteriores ocasiões, com outros temas e outros assuntos: faz-se valer do beneplácito dos editores, para deambular por aqui em evidente defesa do PAIGC, socorrendo-se de memórias pessoais alheias e que, em bom rigor, são esdrúxulas aos temas apresentados; e, no caso presente, até chega ao desplante de tratar por tu!, pessoa que jamais com ele manteve - nem quer manter -, qualquer espécie de "troca de pontos de vista".
Cherno Baldé, fará obséquio - que desde já agradeço -, acaso persista em se dirigir à minha pessoa, de proceder estritamente no âmbito de questões claramente apresentadas, sem recurso a diz-que-disse nem perspectivas historicistas em voga.
Faça favor de se ater aos temas especificamente colocados neste blog, à apreciação de camaradas-d'armas e de visitantes, sem recurso a demagogias propagandísticas, fora de contexto e fora de prazo.
E não lhe consinto insultos! Como militar que fui, não servi voluntariamente, a minha Pátria, sob «regime ditatorial» algum!
Não sendo, nem aceitando ser, seu amigo, não lhe retribuo o abraço, apenas cordialmente o cumprimento.
Exmo Sr. João Carlos Abreu dos Santos,
As tuas diatribes verbais não me assustam de modo algum, pois este blogue é um forum de convivio, de troca de ideias, memorias e de amizade a volta da temática da guerra colonial e a sombra do grande poilão da Tabanca Grande e aqui, de acordo com as regras do blogue, as pessoas tratam-se por tu, ok? Se não está de acordo com esta regra é porque estás no local errado. E já agora não permito que se dirija a um mim como nos tempos da velha senhora, pois mesmo se não fui combatente, e ainda bem, atravessei e acompanhei com olhos de ver todo o periodo que durou o conflito e, se tu que não combateste na Guiné podes opinar e ter pontos de vista sobre a guerra na Guiné, também eu posso ter sobre o antes, o durante e depois.
E se eu te respondi directamente foi porque tu te referiste a mim e sobre o meu "comment". Se não quiseres ser meu amigo então lamento muito, mas a perda também não me parece ser enorme.
Retribuição de respeitosos cumprimentos,
Cherno Baldé
... chamo a atenção de Luís Manuel da Graça Henriques, fundador e administrador deste blogue, para o conteúdo do "comentário" (?!) acima publicado.
Aceite as minhas saudações veteranas.
Caro Cherno Baldé.
Não cheguei a responder ao teu comentário sobre o que eu disse sobre o 'controle efectivo' das NT.
No teu comentário é focado o Diário do soldado Gois e o sacrifício das NT para manter o 'controle efectivo', que deixa bem claro o avanço do IN.
Quanto à grave questão subsequente, apenas lembro as regras deste nosso blogue que nunca deverão permitir resquícios de 'ancien regime', anterior a 1789 ou 1974, ou
de pretensa eloquência de 'sabe com quem está a falar', que só faltou enviar padrinhos para um encontro na estrada da Ameixoeira.
Não há pachorra.
Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz Embaló
... cito:
- «Boas regras de convívio que estão em vigor entre nós: por exemplo, (i) não nos insultamos uns aos outros; [...] (iii) somos capazes de conviver, civilizadamente, com as nossas diferenças (políticas, ideológicas, filosóficas, culturais, étnicas, etc.); [...] (v) todos os camaradas têm direito ao bom nome [...]. Os editores reservam-se, naturalmente, o direito de eliminar, "a posteriori", rápida e decididamente, todo e qualquer comentário que violar [...] as nossas regras de bom senso e bom gosto que devem vigorar entre pessoas adultas e responsáveis [...] incluindo mensagens com: [...] (iii) tom intimidatório ou provocatório; [...] (vi) linguagem inapropriada; [...].»
Cpts
Que saudade já sentia de tanto patrioteirismo, das profundase e doutas análises estratégico-militares baseadas certamente em profundo conhecimento académico-proficional de alguns dos intrevenientes.
Tudo "arredondado" no púdico e virginal comentário anterior quanto às "boas regras de convívio".
Bem hajam!
J.Belo
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