Foto retirada do texto do João Rebola (1945-2018), Fur Mil
da CCAÇ 2444 (Cacheu, Bissorã e Binar – 1968/1970), com o título “Guiné - O
Inferno nos primeiros meses”, pdf. In:
http://ultramar.terraweb.biz/JoaoManuelPereiraRebola/GUINE_O_Inferno_nos_primeiros_meses_Joao_Manuel_Pereira_Rebola.pdf (com a devida vénia).
Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); um homem das Arábias... doutorado pela Universidade de León (Espanha) (2009), em Ciências da Actividade Física e do Desporto; professor universitário, no ISMAT (Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes), Portimão, Grupo Lusófona; autor da série "(D)o outro lado do combate"; nosso coeditor.
A COMPANHIA DE CAÇADORES 1681 [CCAÇ 1681] - (1967/69) DO CAP INF MANUEL FRANCISCO DA SILVA (1933-2015)
- SUBSÍDIO HISTÓRICO -
1. - INTRODUÇÃO
A origem da presente narrativa tem por base a informação específica obtida durante o processo de investigação, realizado recentemente, a propósito de uma foto tirada em Tomar, onde consta a figura de um capitão de infantaria com uma "Cruz de Guerra" ao peito, e publicitada nos P20680 e P20685.
Acreditamos, salvo melhor sugestão, que estaremos na presença do Cap Inf Manuel Francisco da Silva (1933-2015), que foi comandante da Companhia de Caçadores 1681, do Batalhão de Caçadores 1911, unidades formadas e mobilizadas pelo RI 15, em Tomar, e que cumpriram a sua missão ultramarina no CTIGuiné, no período de 1967/1969.
Uma vez que esta subunidade do BCAÇ 1911 não tem qualquer referência historiográfica no blogue da «Tabanca», aproveitei esta oportunidade para relatar alguns dos factos relevantes da sua actividade operacional no Sector que lhe foi atribuído - o Sector O1-A.
De acordo com o acima exposto, segue-se um subsídio histórico da CCAÇ 1681.
2. - SUBSÍDIO HISTÓRICO DA COMPANHIA DE CAÇADORES 1681 =
SAFIM - TEIXEIRA PINTO - CAIÓ - BASSAREL - CACHEU - BACHILE E QUINHAMEL (1967-1969)
2.1 - A MOBILIZAÇÃO PARA O CTIG
Mobilizada pelo Regimento de Infantaria 15 [RI15], de Tomar, a Companhia de Caçadores 1681 (CCAÇ 1681), a primeira de três unidades de quadrícula do Batalhão de Caçadores 1911, liderado pelo TCor Inf Álvaro Romão Duarte, embarcou em Lisboa, no Cais da Rocha, em 26 de Abril de 1967, 4.ª feira, sob o comando do Capitão Inf Manuel Francisco da Silva, seguindo viagem a bordo do N/M "UÍGE" rumo à Guiné (Bissau), onde chegou a 03 de Maio, 4.ª feira.
2.2 – SÍNTESE DA ACTIVIDADE OPERACIONAL
● A DO BCAÇ 1911
Após a sua chegada a Bissau, o BCAÇ 1911 ficou instalado em Brá, na situação de reserva de intervenção do Comando-Chefe. As suas subunidades foram utilizadas em diversas operações, ou em situação de reforço temporário de outros Batalhões.
Em 17Ago67, rendeu o BCAV 1905 [de 06Fev67-19Nov68, do TCor Cav Francisco José Falcão e Silva Ramos, cargo que manteve até 14Ago67, sendo substituído pelo Maj Inf Rogério Castela Jacques até 26Out67, que, por sua vez, cedeu o seu lugar ao TCor Inf Domingos André (27Out67 a 19Nov68)], assumindo a responsabilidade do Sector A1-A com sede em Teixeira Pinto, integrando as subunidades existente na área.
Nesta situação, desenvolveu intensa actividade operacional, essencialmente orientada para a neutralização do esforço inimigo para atingir as regiões de Bassarel / Calequisse e Caió e exercendo, simultaneamente, uma constante acção psicossocial junto das populações, garantindo a sua segurança e promoção socioeconómica.
Em 07Mai68, o BCAÇ 1911 foi rendido no sector de Teixeira Pinto pelo BCAÇ 2845 [de 06Mai68-03Abr70, do TCor Inf Martiniano Moreno Gonçalves] e recolheu seguidamente a Bissau. Em 24Jun68, rendendo o BCAÇ 2834 [de 15Jan68-23Nov69, do TCor Inf Carlos Barroso Hipólito] assumiu a responsabilidade do Sector de Bissau, com sede em Bissau e engobando os subsectores de Brá (Bissau), Nhacra e Quinhamel, com vista a garantir a segurança e protecção das instalações e das populações da área, tendo passado em 10Jul68 à dependência do CmdAgr 2952, por criação da respectiva zona de Bissau e depois do COMBIS. Em 31Mai69, foi rendido no sector de Bissau pelo BCAÇ 2884 [de 02Mai68-26Fev71, do TCor Inf José Bonito Perfeito], a fim de efectuar o embarque de regresso (p91).
Mapa da região de Teixeira Pinto (Sector O1-A) por onde circulou o contingente da CCAÇ 1681 durante a sua comissão ultramarina no CTIG (1967-1969)
● A DA CCAÇ 1681
A CCAÇ 1681 ficou colocada em Bissau, tendo efectuado uma instrução de adaptação operacional de duas semanas [de 24Mai a 06Jun66] na região de Safim, ficando, seguidamente, como subunidade de intervenção e reserva do Comando-Chefe.
Nesta situação, e por um período de três semanas [de 20Jun a 12Jul67], foi atribuída em reforço do BCAV 1905, para acções de patrulhamento, reconhecimento e batida nas regiões de Blequisse, Bachile e Pichilal. Seguiu-se, depois, o reforço do BCAÇ 1887, por um novo período de três semanas [de 25Jul a 13Ago67], para operações nas regiões de Biribão e Ponta Pinto.
Em 17Ago67, foi integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão [BCAÇ 1911], como subunidade de intervenção e reserva do Sector O1-A, estacionado em Teixeira Pinto, com um Gr Comb em Caió, sendo utilizada em acções de patrulhamento, batidas e emboscadas na região do rio Costa (Pelundo) e destacando um Gr Comb para Bassarel, a partir de 22Set67. De referir que foi nesse rio que, cinco dias após a sua chegada, a CCAÇ 1681 tem a primeira baixa, por afogamento do soldado José Marques Afonso, natural da freguesia de Mata Mourisca, Pombal.
Em 11Out67, rendendo a CCAV 1649 [de 06Fev67-19Nov68, do Cap Mil Cav João de Medeiros Constâncio], assumiu a responsabilidade do subsector de Cacheu, com um Gr Comb destacado em Bachile, então integrada no dispositivo do seu batalhão e depois do BCAÇ 2845.
Em 07Dez68, saiu do subsector de Cacheu, após ser rendida pela [Madeirense] CCAÇ 2446 [de 15Nov68-01Out70, do Cap Mil Inf Manuel Ferreira de Carvalho], seguindo para o subsector de Quinhamel, onde substituiu a CCAÇ 2435 [de 28Out68-01Out70, do Cap Inf José António Rodrigues de Carvalho], voltando novamente à dependência do seu batalhão. Em 11Mai69, foi substituída pela CCAV 1749 [de 25Jul67-07Jun69, do Cap Mil Art Germano da Silva Domingos] recolhendo seguidamente a Bissau a fim de aguardar embarque de regresso (p92).
Como "memorial" particular da CCAÇ 1681, no Cacheu, o camarada João Rebola (1945-2018) deixou-nos um testemunho da presença da unidade que precedeu a sua CCAÇ 2444 (1968/1970), pousando ao lado da placa aí existente.
Foto retirada do texto do João Rebola, Fur Mil da CCAÇ 2444 (Cacheu, Bissorã e Binar – 1968/1970), com o título "Guiné - O Inferno nos primeiros meses", pdf. In:
http://ultramar.terraweb.biz/JoaoManuelPereiraRebola/GUINE_O_Inferno_nos_primeiros_meses_Joao_Manuel_Pereira_Rebola.pdf (com a devida vénia).
● RECONHECIMENTO DA ACTIVIDADE OPERACIONAL DA CCAÇ 1681
Corolário da intensa e bem-sucedida actividade operacional da CCAÇ 1681, foi o seu Cmdt – Cap Manuel Francisco da Silva – elogiado pelos seus superiores hierárquicos, sendo-lhe atribuído um louvor do qual originou a condecoração com a medalha militar de Cruz de Guerra de 4.ª classe.
Como prova testemunhal, reproduzimos o conteúdo de ambos (louvor e condecoração).
Na busca de mais elementos relacionados com a actividade operacional desenvolvida pela CCAÇ 1681, nomeadamente sobre as sete "operações" salientadas no texto do louvor acima: «Bota Janota», «Amedronta», «Almoster», «Alandroal», «Amesterdão», «Jacaré Raivoso» e «Hotel Portugal», nada foi encontrado, com excepção da primeira.
Na bibliografia "oficial" (CECA; 6.º Volume; p154) consta que a «Operação Bota Janota» foi realizada nos dias 25 e 26 de Janeiro de 1968, 5.ª e 6.ª feira, com o objectivo de detectar e destruir instalações e elementos In efectuando uma batida na mata de Pichilal (Sector O1-A). Participaram nesta missão as seguintes forças: CCAÇ 1681, 1 GC/CCAÇ 1682, CCAÇ 1683, PSap do BCAÇ 1911, GC "Os Templários", PCAÇ 58, PMil 129 e PMil 130, com APAR.
No decorrer da operação, as NT destruíram um acampamento abandonado recentemente, constituído por dez casas (de mato) e um posto de sentinela, localizado a nordeste de Catunco; apreenderam carregadores e cartuchos de armas ligeiras, livros, discos de propaganda, documentos e material diverso.
No regresso ao Cacheu, a CCAÇ 1681 foi emboscada por duas vezes, sofrendo quatro mortos, nove feridos e um desaparecido.
Procurando identificar os nomes dos quatro militares mortos, como é referido no relatório, com cruzamento a outras fontes "oficiais" (CECA; 8.º Volume; Livro 1; p329), nada foi encontrado. A data da "baixa" mais próxima às da operação supra é de 30Jan68 e reporta a um elemento da CCAÇ 1684, facto ocorrido a 3,5 kms do aquartelamento de Susana, na margem direita do rio Sancatuto.
Pelo exposto se conclui que os dados apresentados no "desenrolar da acção" contém imprecisões, nomeadamente em relação a "baixas" da CCAÇ 1681 [NT], como se prova no quadro que elaborámos para esse efeito.
● BAIXAS DA CCAÇ 1681 DURANTE A SUA COMISSÃO (1967/1969)
Da leitura do quadro abaixo, verifica-se que a CCAÇ 1681 registou seis baixas durante a sua comissão (1967/1969), sendo três por "acidente" e três em "combate".
Estas seis mortes aconteceram durante a permanência da unidade no Cacheu, tendo a primeira ocorrido em 22Ago67, cinco dias após a sua chegada, com um náufrago no rio Costa (Pelundo), junto à Ponte "Alferes Nunes".
A segunda ocorrência, de que resultaram duas "baixas", foi consequência de uma emboscada sofrida pelas NT, em 04Out67, no itinerário Catora-Có, 200 mts depois de Barril.
A quarta baixa verificou-se passados dez dias da ocorrência anterior, em 10Out67, por efeito de uma nova emboscada, agora em Capó, no itinerário entre Cacheu e Bachile.
A quinta baixa resultou de um acidente ocorrido durante a noite do dia 09Fev68, no abrigo onde o militar dormia, provocado pelo fogo do combustível de uma lanterna.
A sexta e última baixa aconteceu em 28Abr68, em novo acidente, este de viação, junto à porta de armas do Depósito de Adidos da Guiné, em Bissau.
_________________
Fontes Consultadas:
Ø Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 5.º Volume; Condecorações Militares Atribuídas; Tomo VI; Cruz de Guerra (1970-1971); Lisboa; (1994); pp157-158.
Ø Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro 2; 1.ª edição, Lisboa (2015); p154.
Ø Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 7.º Volume; Fichas das Unidades; Tomo II; Guiné; 1.ª edição, Lisboa (2002); pp91-92.
Ø Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 1; 1.ª edição, Lisboa (2001); pp276-284-290-331-349.
Ø Outras: as referidas em cada caso.
Termino, agradecendo a atenção dispensada.
Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.
Jorge Araújo.
27Fev2020
_______________
Nota do editor:
Último poste da série > 16 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18639: Fichas de unidades (10): A composição de um Conselho Administrativo de um batalhão de reforço (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)
4 comentários:
Caro Luís e restante auditório,
Bom dia, desde os «Emirates».
Em primeiro lugar, faço votos para que estejam de boa saúde ajudando, assim, a "combater o IN" - COVID-19 - utilizando "como armas de defesa", para segurança de todos, o cumprimento rigoroso das orientações dos nossos excelentes Profissionais das diferentes áreas de Saúde, que aqui também os há... alguns são portugueses.
Por aqui o número de infectados ronda a centena, sendo que 1/4 já estão curados. A intervenção das autoridades locais é semelhante ao que vai sendo feito no resto do mundo, tomando decisões firmes de modo a evitar o seu alastramento.
A nível da Universidade foi tomada uma decisão radical: nenhum professor pode sair do país até que a actual situação de pandemia não se altere.
Prometo dar mais notícias nos próximos dias.
Acreditem... vamos vencer! Mas temos que continuar atentos...
Para todos segue um forte abraço. Jorge Araújo
Boa noite. É com muito agrado e orgulho que li este artigo. O meu pai pertenceu a companhia de caçadores 1681/batalhão 1911.obrigado.
Estive com a C.C.1683 na OP. "Bota Janota" já tínhamos terminado a OP no dia 26 Janeiro 68, na
madrugada do dia 27 (cerca das 03 horas) fomos acordados para ir em auxilio à C.C: 1681, que quando regressava ao Cacheu, tinha sofrido diversas emboscadas sofrendo diversos feridos, entre os quais o seu Capitão, ainda deixaram no local da ultima emboscada, 5 mortos, como já não tinham munições e grande dificuldade nas Transmissões, voltam para o Bachile de onde pedem ajuda. os Camaradas mortos pertenciam todos ao Pelotão de Milicas 130 , os nomes:
Soldado Milª Upá Ulixe da Costa/ Soldado Milª Fodé Djacó/ Soldado Milª Léria Ussumbo/ Soldado Milª Nhadaline da Pina/ Soldado Milª Domingues Napibe. Como a CC 1683 estava de intervenção em Teixeira Pinto, fomos nós e auxiliados pela Força Aérea que fomos fazer a segurança ao evacuamento dos feridos e depois com a ajuda de dois Bombardeiros lá fomos resgatar os corpos de aqueles Camaradas. Abraços
Sr Columbano essa informação é verdadeira.
O meu pai ainda hoje fala nessa emboscada.Obrigado por essa informação
Enviar um comentário