domingo, 26 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21199: Da Suécia com saudade (78): “O que teria sido se....?” ... A propósito da Bissau dos anos 60/70, recordados por Carlos Pinheiro... (José Belo)


Guiné > Bissau > s/d > "Monumento ao Esforço da Raça. Praça do Império"... Bilhete postal, nº 109, Edição "Foto Serra" (Colecção "Guiné Portuguesa")

Colecção: Agostinho Gaspar (2010).  Digitalização (e legendagem): Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.



1. Mensagem de José Belo [. régulo da Tabanca da Lapónia]

Date: sábado, 18/07/2020 à(s) 13:56
Subject: "O que teria sido se....?"

Um interessante texto sobre Bissau, escrito por Carlos Pinheiro e há anos publicado na Tabanca Grande (*), foi agora reproduzido na Tabanca do Centro. (**)

Interessante por conseguir recriar  um certo ambiente,  e mesmo o "ar" que se respirava na Bissau daquela época. [Vd. também a nossa série, "Estórias de Bissau", de que já se publicaram uma vintena de postes, LG]

José Belo, ex-alf mil,. CCAÇ 2381 (Ingoré,
Buba. Aldeia Formosa, Mampaté e Empada,
1968/70); autor da série "Da Suécia
com Saudadr"
Tendo feito parte de uma Companhia Independente de Atiradores [, a CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70];  que passou toda a sua comissão de serviço afastada dos reluzentes centros cosmopolitas , fossem eles a Capital ou outras grandes cidades guineenses,confesso recordar Bissau como uma cidadezinha de Avenida única (esfaltada) ao fim da qual existia um arremesso de cais muito apropriado para navios de pequeno calado e...pouco mais.

Esta aparentemente tão falaciosa recordação é agora completada pelo texto publicado,nas  referências a meia-dúzia de comerciantes "terceiro-mundista", somadas a alguns "restaurantes" que mais não eram do que o que eram, e a uns "night-clubes" capazes de fazer sonhar o aldeão mais empedernido do nosso querido Portugal.

Depois de lidos todos os detalhes apresentados na descrição fica-se quase, quase,com a ideia de que a tão próxima cidade senegalesa de Dakar mais não seria que subúrbio pobre desta pujança social,comercial,e não menos ,intelectual .

O que será perfeitamente justificável. Os colonialistas franceses chegaram a esta Costa africana..... muito depois de nós!

Não será portanto de estranhar que um Senhor  Comentador, sempre atento a todas as oportunidades de "reeducar" politicamente a História e os cidadãos (então muito em uso pelo Oriente,e não menos por alguns dos pseudo revolucionários portugueses), tivesse de imediato colocado a seguinte pergunta: 

"O que teria sido se os malfadados colonialistas lá tivessem ficado mais umas dezenas de anos?" (O termo "malfadados" é obviamente usado com semântica contraditória)

"O que teria sido se....?" ,pergunta o mesmo comentador, se nos tivessem oferecido a oportunidade de mais uma dúzia de anos coloniais.

Se nos tivessem oferecido a oportunidade de conseguirmos (ou sequer tentássemos) fazer nessa dúzia de anos o que não realizamos em seiscentos anos de colonialismo na Guiné?

"O que teria sido se...?" a herança cultural e social que por lá ficou tivesse sido antes em educação de profissionais especializados em Administração, Medicina, Engenharia, Economia, Indústria, Agricultura, Pesca, etc. (E lá volta o Senegal,Dakar, tão próximo e tão distante em tudo o acima referido.)

Os neocolonialismos tão sonhados por alguns dos nossos patrioteiros, ao mesmo tempo que convenientemente esquecem que para tal se torna necessário economias robustas e forças militares significativas?!

A França em relação à África Ocidental,e outros arrivistas mais modernos sem passados coloniais importantes são exemplos interessantes.

"O que teria sido se...?" não tivéssemos sido obrigados pela guerrilha a nos reagrupar estrategicamente, em processo cada vez mais acelerado, abandonando Madina do Boé, Gandembel, Guileje, e outros Destacamentos, menores mas não menos importantes estrategicamente .

"O que teria sido se...?" o mesmo iluminismo-saloio dos geniais políticos, que levou à perda de Goa, se viesse a repetir na Guiné ?!. Marcelo Caetano referiu essa possibilidade. Os Chefes Militares da época também o fizeram.

"O que teria sido se...?"

Com tal tipo de pergunta cai-se no que em meios jurídicos norte-americanos se denomina "infantilidade analítica".

Pergunta que,  aplicada a toda e qualquer situação, seja ela pessoal ou coletiva (, histórica no exemplo referido), é verdadeiro exercício de retórica que pode nos levar a qualquer resposta,ao mesmo tempo que não nos leva a resultado algum.

Uma forma de infinito....caseiro.

Um abraço do J. Belo (***)

________________


(**) Vd. Tabana do Centro > quarta-feira, 15 de julho de 2020 > P1241: Já passaram 50 anoss... > A cidade de Bissau em  ‘68/’70, por Carlos Pinheiro

(***) Último poste da série > 18 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21179: Da Suécia com saudade (77): Os Vikings, os capacetes... e os cornos (, que só aparecem em 1820 e que hoje são de plástico, "made in China") (José Belo)

12 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

...E se o Regicídio de 1 de Fevereiro, tal como o conhecemos, não tivesse acontecido? E se a República nunca tivesse sido instaurada em Portugal, nem em 5 de Outubro de 1910 nem depois? Estas hipóteses constituem o ponto de partida para 14 «histórias alternativas», escritas por outros tantos autores, que aceitaram o desafio de imaginar um país distinto daquele que verdadeiramente existiu no século XX, e não só. Sempre um Reino, sempre uma Monarquia! Passado, presente e futuro de uma nação foram rescritos, e o resultado é um livro como nunca houve em Portugal. Entre numa dimensão diferente e seja bem vindo à «outra» costa mais ocidental da Europa, onde «A República Nunca Existiu!»

Sinopse do livro

"A República Nunca Existiu!
OCTÁVIO DOS SANTOS, SÉRGIO FRANCLIM

Chancela: Saida de Emergência
Coleção: BANG Nº: 43
Data 1ª Edição: 18/01/2008
ISBN: 9789896370282
Nº de Páginas: 224
Dimensões: [160x230]mm
Encadernação: Capa mole

http://www.saidadeemergencia.com/produto/a-republica-nunca-existiu/

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Começo por recordar que "se a minha avó tivesse rodas era um fórmula 1", como se costuma dizer.
Em História não há "ses". Os "ses" são meras especulações algo recreativas ou para desenvolver o intelecto (treino mental).
Ainda recentemente li "A Reconstrução do Mundo" onde se diz que o Erwin Rommel toma posse como Secretário-Geral da ONU e o Estaline morre assassinado a tiro no seu gabinete.
É original, mas não passa disso.
A Bissau que conheci era uma cidadezinha que não se podia considerar provinciana. Era um burgo africano onde se implantavam certos "indícios" da Metrópole, porque os soldados por ali andavam. Por isso, teve que aparecer um "Chez Toi" ou "Gato Negro" ou um "Nazareno" ou um "Supermercado" da Casa Gouveia ou outras melhorias similares.
Fora isso, era uma cidade colonial, quer no desenho, quer na distribuição da população ou nos edifícios mais importantes: Correios, TAP, Mesquita, Catedral, etc.
E isto é confirmado especialmente pela "publicidade" das empresas do chamado "Comércio Geral" que vemos nas revistas do tempo e sabemos bem o que foi.
E, pelo menos até descolonização nunca perdeu o seu cunho africano. Após a independência (não é assunto que me interesse), mas Bissau assumiu certamente as características das outras outras cidades africanas das áreas limítrofes.

Um Ab.
António J. P. Costa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Zé, tocas num ponto a que eu sou muito sensível: a educação, a formação das elites... O colégio-liceu Homório Barreto só surge em 1950, por iniciativa de pessoas como a nossa dr. Clara Schwarz (1915-2016) e o marido, o jurista e escritor dr Artur Augusto Silva (1912-1983), e outras figuras da intelectualidade local da época.

Não temos falado muito deste importante estabekecimento de ensino que só em 1958 foi equiparado ao regime jurídico dos liceus da metrópole, altura em que passou a chmar-se nLiceu Honório Barreto.

Sabemos que em 1959 o Liceu instalou-se em difício próprio, um projeto do arquitecto Eurico Pinto Lopes. Clara Schwarz, além de cofundadora, foi professora de francês de muita gente, incluindo futuros quadros do PAIGC.

Contrariamente aos países escandinavos, o Portugal do Estado Novo não apostou na massificação do ensino, quer na metrópóle quer nas colónias ("províncias ultramarinas", desde 1951).

E tanto a Guiné como Cabo Verde nunca tiveram sequer um estabelecimento de ensino superior...

Em Angola foi preciso esperar, um ano e meio depois do "início do terrorismo", para se criar os Estudos Gerais Universitários de Angola, integrados na Universidade Portuguesa (sob tutela conjunta das Universidades de Lisboa e do Porto).

Em 3 de dezembro de 1968, com o decreto-lei 48790 transformam-se os Estudos Gerais Universitários de Angola em Universidade de Luanda, compreendendo as Faculdades de Engenharia, Economia e de Medicina, situadas em Luanda, a Faculdade de Agronomia e de Medicina Veterinária, situada em Nova Lisboa (hoje, HuambO) e a Faculdade de Letras em Sá da Bandeira (, hoje Lobango.)

Não vale a pena perguntar: "e se o Portugal do Estado Novo tivesse logo, no pós-guerra, tivesse apostado na formação de elites dirigentes autóctones ?"...

Infelizmente, os quadros dirigentes do PAIGC tiveram que ser formados, "à pressa, mal e porcamente", na China, na Rússia, em Praga, em Cuba... Nem sequer na Suécia!... Ao menos podiam ter ido para a Suécia (que era nosso parceiro, desde 1959, na EFTA - Trataddo Europeu do Comércio Livre)...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Atenção: a Guiné-Bissau tem hoje excelentes quadros, dentro e fora do país...Alguns são membros da nossa Tabanca Grande...E não estou a olhar para as universidades, do Leste ou do Oeste, da China ou de Cuba, etc., por onde passaram...

Sei que muitos deles pagaram um preço muito elevado para se formarem, em países "exóticos", em línguas "estranhas", em climas "agressivos", da Polónia à China... E foram vítima de xenofobia e racismo... E desgraçadamente mal aproveitados no seu país: muitos deles, nem sequer regressam...já que as condições de vida e de trabalho são... miseráveis.

Hélder Valério disse...

Caros amigos

O que o Carlos Pinheiro escreveu foi o que ele viu e sentiu. Porque passou a quase totalidade da sua comissão em Bissau.
Da minha estadia por lá, por Bissau, também recordo muito do que ele relata, até porque não houve grande diferença temporal da comissão dela para minha, sendo até que fui "mais recente".
Aliás, tive oportunidade de teorizar aqui no Blogue que, por força das movimentações e da população militar, a Bissau do meu tempo, se bem que não pudesse ombrear com as outras capitais das outras possessões portuguesas, Luanda e a então Lourenço Marques, e também longe de Dakar, na época catalogada como "a Paris de África", nem também com as principais cidades portuguesas, na verdade tinha mais "vida", mais "movida" que muitas vilas e pequenas cidades da então Metrópole.
Claro que os "ses..." servem para especular. E podem ser exercícios saudáveis.
No entanto isso depende muito das pessoas, das usa intenções, dos objectivos que pretendem.
Que, hoje por hoje, existem vários guineenses com habilitações e formações capazes de ajudar a "levantar" o País, parece-me que quase todos nós temos conhecimentos nesse sentido.
E não falo apenas do Cherno, que é bem nosso familiar, mas sim de outros, como médicos por exemplo que por cá preenchem lugares hospitalares. Sou "amigo do Face" de Bibida di Deus e tenho tido conhecimento do seu percurso profissional. Também já fui assistido por um médico guineense. E em outras áreas também.
O que os leva, melhor dizendo, não leva a estar na sua (deles) terra a exercer isso será do foro de cada um mas a instabilidade política e a insegurança daí resultante terão uma larga quota.

Hélder Sousa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Também concordo que o nosso blogue deve privilegiar as histórias/estórias, mais factuais ou mais ficcionadas, vividas por cada um de nós, entre 1961 e 1974, na antiga Guiné Portuguesa... No entanto, poucos de nós tivemos a oportunidade de conhecer Bissau durante toda uma comissão, cerca de dois anos, e por isso poder falar "de cátedra", como fala o Carlos Pinheiro, cujo roteiro é, sem dúvida, "incontornável" para quem, como eu e tantos outros, temos imagens fragmentadas da cidade e do seu ambiente durante a guerra...

Obrigado, Carlos... Ajudaste-nos imenso a arrumar o "puzzle" de Bissau.

Não se fala do Liceu Honório Barreto, mas a verdade é que este estabelecimento de ensino continuou a funcionar em pleno, durante toda a guerra, e a contribuir para o desenvolvimento humano da Guiné... Bons professores e excelentes alunos passaram por lá. E eu gostaria de ter aqui mais testemunhos de docentes e discentes desse tempo...

Para todos os efeitos, o atual Liceu Nacional Kwame N'Krumah é herdeiro, direto, do Liceu Honório Barreto. Podemos "lamentar" que o liceu não o nome de um guineense, um escritor ou um pedagogo, mas não podemos criticar a decisão do governo de Luís Cabral de, em 1975, por razões que são fáceis de adivinhar (mas cuja "legitimidade" não podemos questionar...) ter optado por rebatizar o Liceu Honório Barreto...com o nome de um político "panafricanista" como o Kwame N'Krumah (1909-1972).

Anónimo disse...



De Portugal com saudade!
Abraço

Francisco Baptista

Valdemar Silva disse...

Em 1969 e 1970, também conheci Bissau como a descreve o Carlos Pinheiro.
Por lá estive por várias vezes, nos dias anteriores e depois a seguir às duas vezes da vinda de férias, uma semana à espera de transporte de regresso quanto estive no Hospital e quase um mês quanto fui entregar material usado na instrução dos recrutas.
Pode-se afirmar que o grande desenvolvimento de Bissau começou a partir de 1963 com o início da guerra e a grande força da actividade económica surgiu com o aumento do consumo dos milhares de militares que foram sendo fixados em serviço na cidade e principalmente em trânsito.
O grande consumo, além de desenvolver o comércio colonial existente, fez abrir muitos restaurantes e pensões que pertenciam a ex ou a militares e passavam de dono conforme a duração do tempo das comissões. Na maioria das pensões as camas, colchões e lençóis eram os mesmos dos Quartéis e até faltavam as fronhas como na tropa.
Havia muitos militares que viviam com as mulheres na cidade, mas julgo que uma minoria de gente da metrópole por lá ficava a viver com uma determinada ocupação depois de acabar a comissão militar. Aliás, podemos arranjar testemunhos em relação aos restaurantes conhecidos 'Solmar', 'Pelicano' e outros se os donos seriam antigos militares que ficaram com o negócio para além do tempo do serviço da comissão.
Também seria interessante haver alguém no blogue, de quem por lá passou antes de 1963, fazer um testemunho de como era a vida na cidade nesse tempo.

Ab. e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Antº Rosinha disse...

A tropa portuguesa via o desenvolvimento das cidades de uma maneira, o PAIGC via de outra maneira.

Então o caso de Dakar ser melhor que Bissau, era coisa que eles nem ambicionavam imitar porque para eles era Conacry o bom, pois era o Sekou que mandava, em Dakar eram os franceses que continuavam a pôr e dispor, uma vergonha.

E quem pensa que a Guiné estava muito atrazada, não conheceu em Angola territórios do tamanho da Guiné, que eram atravessados por uma ou duas picadas onde podia haver um ou dois chefes de posto e um administrador e 4 ou 5 comerciantres de permuta. (1966, Cuando Cubango).

Em Moçambique nunca lá pus os pés, tenho pena, diziam que estava muito mais desenvolvido a imitar os ingleses que os rodeavam.
(Ponto de vista de colon, o que era bom para branco ver)

Mas uma coisa é certa, para o PAIGC e os outros movimentos onde imperavam os "estudantes do império", não queriam saber, antes pelo contrário, qualquer benefício vindo de Portugal, quer na educação, na agricultura ou industria...«porque eles queriqm fazer tudo à maneira deles».

Então fazer doutores e engenheiros era o que menos os preocupava, pois tinham promessas de bolsas de estudo do mundo inteiro, (toda a europa de esquerda e Leste) que lhe iam inundar o país de doutores.

E foi exactamente o que aconteceu.

Agora, desenvolver as cidades africanas de que maneira? europeia?, asiática? Arabe? quando as ajudas, os conselheiros e os projectos veem de onde calha?

O melhor para a Guiné ainda era à maneira portuguesa ou Caboverdeana, mas isso era impossível, as rédeas ficaram à solta, com aquele tipo de 25 de Abril, com o 24 de Setembro o PAIGC ainda se aguentou, depois perdeu a cabeça.

Mas Bissau era uma cidade porreirinha, os Guineenses, povo, gostavam, apreciavam muito a Bissau portuguesa.

Havia um jardim no Alto Crim, onde hoje está a Assembleia da República, jardim lindíssimo, com guardas e jardineiros, que a mando de Luís Cabral, eu, moi, tecnil mandei avançar um buldozer, 1980, e vi desde jovens que estudavam lá nos bancos à sombra das árvores até velhotes que lá descansavam, tudo revoltado, passados umas semanas o Luis foi-se.

Eu penso que pelo povo se lhe perguntassem sobre as estátuas...sei não!

Só que o povo perdeu a voz.



Anónimo disse...

Os comentários de António Rosinha merecem sempre leitura atenta.

A História como resultado de dinâmicas em entre- choques sempre dramáticos para os apanhados nos seus “redemoinhos”.
Os colonos,e mais ainda os europeus nascidos em África,foram os que acabaram por sentir na carne todo um virar da página deste capítulo dramático.
Capítulo ,para uns substituído por novos valores humanos,julgados universais pelos mais ingênuos.
Para outros,por ideologias “transformativas”,sempre tão relativas na prática e principalmente no tempo.
A maioria de ambos os grupos têm uma característica comum: Olham a África desde longe.

Por muito profundos e sinceros nos seus valores humanos,nas suas criativas leituras políticas das situações,fazem-no sempre.... de fora!
Mesmo os especialistas em questões africanas ,como muitos de nós nos julgamos por lá ter-mos passado 24 meses das nossas vidas,acabam por olhar estas realidades também.....de fora!
Sendo indiscutível que por lá estivemos,não devemos esquecer que as condições da “visita” em nada eram normais.
Existia uma situação de guerra envolvente,destrutiva de todo o tecido social das sociedades onde estávamos (provisoriamente) inseridos.

Os olhos de António Rosinha viram,sentiram,experimentaram as realidades ,desde “ângulos” fora do arame farpado que separava (!) quartéis e populações.
Possibilidades de “nuanceamentos” quase imperceptíveis às olhadelas rápidas e provisórias.
Daí haver sempre algo que se pode ler em muitas das entre-linhas do que António Rosinha escreve.
Sabe sempre levar-nos de forma subtil por caminhos inesperados.

Algumas das conclusões são como duras pedras!

Mas António Rosinha...NÃO ATIRA...estas pedras.
Procura antes construir com elas o edifício de uma realidade por ele experimentada.

E acabamos por cair nas verdades do poeta de alguns favorito:

“O que vemos não é o que vemos mas sim o que somos “

Um abraço do J.Belo


Cherno Baldé disse...

Caros amigos,

De facto, se ha alguma coisa que se perdeu com a independencia da Guiné é aquele orgulho, o sentimento de auto estima com uma mistura de uma certa superioridade que os guineenses tinham relativamente aos paises vizinhos. Durante muito tempo (até principios dos anos 80) Bissau foi ponto de referencia para as populaçoes de origem guineense, residentes em Dakar, Ziguinchor e Conacri entre outras cidades, aos quais tentavam copiar o modo de vida, a vestimentaria, a culinaria, a boa educaçao etc...etc (tudo a portuguesa).

Caro Rosinha, a preferencia do PAIGC do Amilcar por Conacri é mais politica que outra coisa, porque quando chegaram em Dakar em 1959/60, ja a FLING de Kankola Mendy, que parecia politicamente mais moderado, tinha conseguido o apoio do LS Senghor, assim Conacri serviu de alternativa, também com as dificuldades que se sabem. Na verdade, desde a independencia, a Guiné-Bissau nao deixa de perder os seus antigos "valores" coloniais a favor de uma maior e melhor integraçao na su-regiao onde esta inserida o que, para muitos, nao passa de uma banalizaçao do que era a cultura guineense que, na realidade, nao passava de uma cultura de alienaçao colonial conseguida com base na politica da assimilaçao mal conseguida, bem distante da nossa realidade quase feudal e Africana.

Eu conheci Bissau muito mais tarde, alias na altura, a circulaçao de pessoas e bens era muito limitada e bem controlada pelo regime e pouca gente se deslocava a capital, porque também as outras localidades tinham o minimo necessario. Mas, como diz o Valdemar, provavelmente Bissau so começou a concentrar mais populaçao a procura de trabalho no consulado do Sarmento Rodrigues (1945-49) e inicio das "grandes" obras da construçao da cidade. Antes desse periodo, provavelmente Bissau se resumia ao Porto e ao pequeno Bairro de Chao-de-Papel, junto a bolanha ao lado do rio, habitado por grumetes e emigrantes caboverdianos. De resto, o crescimento da cidade arranca com o inicio da Guerra em 1963/64.

Por isso, quando vejo na biografia do Bobo Keita que ele teria nascido em Bissau em 1939, nao deixa de criar algumas duvidas, posto que era pouco provavel a existencia do Bairro do Pilum onde diz que habitavam os seus pais.

Com um abraço amigo,

Cherno Baldé

Antº Rosinha disse...

Havia algum cinismo e alguma mentira na cabeça de muitos guineenses do PAIGC quanto às preferências por Conacri e contra Dakar, antes do multipatidarismo.

Havia uma necessidade de apregoar as virtudes do comunismo (sem o praticarem pessoalmente), e ai de quem se atrevesse a opinar com um ministro ou outro dirigente do PAIGC, que o unipartdarismo do Sekou Toure, amachucava o povo guineense ao contrário do multipartidarismo de Senghor.

De facto Cherno eram os valores coloniais a serem banalizados, e trocados por outros valores ainda mais estranhos ao povo da(s) Guiné(s), e até que lentamente a Guiné-Bissau se integrou no ambiente que a rodeia num multipartidarismo que é um mimetismo do que se faz na Europa.

Mas apesar do amabiente em redor não falar português, a Guiné será sempre um PALOP, porque se não falar português nem crioulo em Bissau, fala-se em Lisboa, porque são guineenses, muitos milhares de portugueses à volta de Lisboa.

E se juntarmos os guineenses de Bissau, com passaporte português e que podem votar em Lisboa, (assim como os angolanos e moçambicanos nas mesmas condições), qualquer dia é Portugal que se transforma em PALOP.

Ainda outro dia o SEF quis testar um avião de moçambicanos no aeroporto Humberto Delgado e não poude testar porque eram portugueses.

Cumprimentos

Só não é português quem não é filho neto ou bisneto de uma das esposas ou filhas de um antigo grande dirigente do PAIGC, FRELIMO ou MPLA.

Se aparecer algum a provar o contrário é a excepção à regra.

Cherno esta conversa toda não é só para ti, porque tu já sabes muito mais que isto.