domingo, 5 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24119: A nossa guerra em números (24): a composição orgânica de uma companhia de caçadores

 

Composição orgânica de uma companhia

 de caçadores

Comando

4 Gr Com, cada um com:

Capitão

1º Sargento

2º Sargento

4 Furriéis:

- Vagomestre (SAM /Alimentação)

- Enfermeiro (Serviço de Saúde)

- Transmissões (Trms)

- Manutenção Auto

1 alferes

3 sargentos (furriéis)

6 cabos

14 soldados atiradores

1 sold apontador de metralhadora

1 sold apontador de morteiro

1 sold apontador de LGF – Bazuca

1 Radiotelegrafista (RTL)

Praças

- 14 a 17 condutores autorrodas

- 4 mecânicos auto

- 1 mecânico de armas ligeiras

- 4 auxiliares de enfermagem

- 4 operadores de trms

- 1 operador cripto

- 1 escriturário

- 3 cozinheiros

- 1 padeiro

- 1 operador de reconhecimento

- 4 corneteiros /clarins

 

Total: 45 a 48

Total (Gr Comb): 28 x 4 = 112

 

Total (CCaç) = 157 / 160

 Fonte: Adapt. de Pedro Marquês de Sousa -  "Os números da Guerra 

de África". Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2021, pág. 49.


Composição orgânica de uma companhia de caçadores  (175 homens) 

(modelo de 1972)

Comando

3 Pel Caç,

cada um com:

1 Pel Acom-

panhamento

1 capitão

1 alferes médico

Secção de comando:

1º Sargento

Escriturário

Corneteiro/clarim

2 quarteleiros (também condutores e um barbeiro)

Secção de Transmissões:

Furriel (tb responsável pelo SPM / Correio)

2 Operadores cripto

4 radiotelegrafistas

4 radiotelefonistas

Secção de Alimentação:

Furriel (reabastecimento)

2 cozinheiros

3 auxiliares cozinheiro

1 padeiro

2 serventes (tropa local)

Sec Auto e Manutenção:

Furriel mecânico auto

3 ajudantes mecânico

1 mec armamento lig

15 condutores

Sec  Sanitária:

Furriel enfermeiro

4 auxiliares enf

Equipa acção psicológica:

1 alf (em acumulação)

1 fur (arm pesadas, em acumulação)

1 soldado

Comando:

1 alferes

1 radiotelegrafista (RTL) (do Comando da CCAÇ)

1 observador atirador especial

1 corneteiro/clarim

 

3 Secções Metralhadora Ligeira:

1 furriel

1 cabo apontador metralhadora

3 soldados

(3x 5 = 15)

 

1 Esquadara LGFog:

1 cabo

1 sold apont LGfog 8.9

3 soldados atiradores

 

1 Esquadra deAtiradores:

1 cabo

4 soldado

Comando:

1 alferes

1  RTL (do Comando)

1 observador atirador especial

1 corneteiro/clarim

1 enf aux (do Comando)

 

3 Secções Metralhadora Ligeira:

1 furriel

1 cabo apontador metralhadora

3 soldados atirad

(3 x 5 = 15 homens)

 

1 Secção Morteiro  Médio (81mm) (*):

1 furriel

2 cabo apontad

2 sold municiad

 

3 Secções Morteiro Ligeiro (60mm):

1 cabo

3 sold atiradores

(3 x 5 = 15 homens)

 

 

Observ.:

 

(*) Secção destinada a operar armas coletivas na defesa do aquartelamento

 

Total= 53

28 x 3 = 84

38

 

 

Total (CCaç)= 175

Fonte: Adapt. de Pedro Marquês de Sousa -  "Os números da Guerra de África".

 Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2021, pág. 50.


1. A "unidade de combate básica", na guerra do ultramar, nos três teatros de operações (Angola, Guiné e Moçambique) era a Companhia de Caçadores (CCaç). Era uma companhia, de 150 a 160 homens, composta por atiradores de infantaria (ligeira). Dividia-se em:

(i) Comando de companhia;
(ii) Quatro grupos de combate (ou pelotões).

O comando de companhia incluía o  comandante (do QP ou miliciano) + uma pequena equipa de apoio (de combate ou operacional, logístico e administrativo), nas áreas da alimentação, trasmportes e manutenção auto, saúde e comunicações / transmissões.

Cada grupo de combate (Gr Comb) era comandado por um oficial (alferes, em geral miliciano) + 3 secções, comandadas cada uma por um furriel (miliciano); cada secção estava dividida em duas equipas ou esquadras, sob o comando de um 1º cabo.

Além dos 10 graduados (1 alferes, 3 furriéis e 6 cabos), o Gr Comb dispunha de 14 soldados atiradores, mais 1 apontador de metralhadora, 1 apontador de morteiro (60 mm) e 1 apontador de LGFog / Bazuca), e ainda 1 RLT (Radiotelegrafista).

Este modelo também se aplicava às companhias de artilharia (CArt) e de cavalaria (CCav), que na prática eram companhias de atiradores (da arma de artilharia ou de cavalaria).

Em 1972 apareceu um modelo que previa mais pessoal (c. de 175 militares), procurando melhorar o emprego da companhia como "unidade independente (sem depender de um comando de batalhão)" (Sousa, 2021, pág. 51): dispunha, em teoria, de médico próprio, de uma equipa de acção psicossocial e  de mais potencial de fogo (nomeadamente morteiro médio 81mm). 

Foi um modelo aprovado por Despacho Ministerial, de 18 de agosto de 1970, alterado em 27 de abril de 1972 (Sousa, 2021, pág. 50).

Este modelo, oficial, da orgânica de um companhia, dita independente, previa a existência de 3 pelotões de caçadores e um pelotão de acompanhamento. No TO da Guiné, usou-se mais o primeiro modelo, ou seja, o dos 4 Gr Comb. (*)

Estranha-se não haver um sapador: na prática havia um alferes ou um furriel, em geral de operações especiais, que possuía o curso de minas e armadilhas.

Também se usava, no TO da Guiné, o LGFog 37mm, a par da bazuca 89mm, e do dilagrama. 

Veja-se, por exemplo, a composição orgânica da CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71). Sendo uma companhia da guarnição da província, de intervenção (e não de quadrícula), com praças do recrutamento local, não dispunha de armas pesadas de infantaria (nomeadamente, o morteiro 81 e metralhadores pesadas como a Browning). 

Originalmente era constituída por 167 homens,  sendo 76 de origem metropolitana (graduados e especialistas) (**).

Rapidamente, com as baixas (em combate, por acidemte ou por doença), a constituição de uma equipa para o  reordenamento de Nhabijões  e a afetação do furriel enfermeiro ao serviço de saúde do batalhão (a que a companhia  estava adida, primeiro o BCAÇ 2852 e depois o BART 2917), a CCAÇ 12 rapidamente ficou desfalcada...

Nunca estive em quadrícula, pelo que não posso falar, de experiência própria, do modelo (oficial)  do quadro orgânico de 1972.

Na CCAÇ 12, cada Gr Com tinha, originalmente:

  • um LGFog 8.9, cada um com o seu apontador e municiador (4 x 2 = 8):
  • um LGFog 3.7, cada um com um apontador (=4);
  • um Morteiro Ligeiro 60, cada um com o seu apontador e municiador (4 x 2 = 8);
  • uma Metralhadora Ligeira HK 21,com o seu apontador e municiador  (4 x 2 =8);
  • mais 7 ou 8 apontadores de diligrama ...
Mas houve operações em que se utilizou o Morteiro Médio 81 (recorrendo ao Pel Mort adido ao Batalhão).
____________

Notas do editor:


(**) Vd. poste de 21 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6447: A minha CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, Maio de 1969/Março de 1971) (1): Composição orgânica (Luís Graça)

24 comentários:

Carlos Vinhal disse...

Falando da dotação da minha CART 2732:
- em relação aos sargentos/furriéis, havia 8 furriéis atiradores, mais um Op Especiais e um Armas Pesadas (10). Se cada secção fosse comandada por um sargento/furriel (12), supostamente os dois segundos sargentos seriam operacionais, o que não foi o caso.
- quanto a cada pelotão ter um radiotelegrafista, não me parece ter sido prática corrente. Todo o pessoal das transmissões estava subordinado ao Furriel TRMS, cabendo a ele elaborar as escalas de saída do seu pessoal para o mato (Operações, patrulhas e colunas auto).
- quanto ao pessoal de saúde, a minha Companhia tinha um Furriel Enfermeiro e 3 Cabos Auxiliares. Como não chegavam para as solicitações, deram-se cursos intensivos de maqueiro a voluntários, entre os atiradores, que assim acumulavam. De notar que os nossos cabos enfermeiros, além de cuidarem bem de nós, também tratavam da saúde da população de Mansabá, que era numerosa.
Carlos Vinhal
Fur Mil/CART 2732

Valdemar Silva disse...

Certo Carlos Vinhal, a lista era do que deveria ser e não passa duma "NEP de intenções".
Então com uma Companhia de Soldados Africanos como a minha CART11, p.ex., nada daquela "intensão" foi cumprida.
A batota nasceu cá na formação dos "quadros" metropolitanos para depois formar a Companhia na Guiné.
Assim, cada Pelotão, ou Grupo de Combate como também chamam, era formado por 1 alferes, 3 furriéis, 3 1ºs. cabos, e 22/23 soldados fulas incl. o da metralh.ligeira, do morteiro 60 e da bazuca. O enfermeiro e radiotelegrafista eram escalados sem estar adstritos ao Pelotão.

Uf! a caminho dos 78 anos e à rasca dos bofes, ainda vou dando para esta lembrança.

Saúde da boa
Valdemar Queiroz

José Botelho Colaço disse...

Difíciel responder concretamente a este tema porque a teoria não cumpria a prática e com o passar do tempo todas as companhias não cumpriam a teoria, eu que sou do início da guerra na Guiné a minha companhia de caç. 557 já partiu amputada do operador Foto ó cine que só passado algum tempo apareceu por lá um 1º cabo mas nunca chegou a receber fosse o que fosse para o desempenho da especialidade, como eu tinha uma máquina fotográfica deu origem a que ficassemos intimos amigos, chegando ao ponto de montar-mos um estúdio no posto rádio do Cahil onde conseguia-mos revelar rolos de fotos, muitas das vezes devido á entrada de luz ficassem queimados em parte ou total, (bem a coisa não dava o custo para receita) Formação da companhia 1 capitão, 1 médico neste caso graduado em tenente pois tinha sido chamado a cumprir novamente para a tropa uma vez que já estava na disponibilidade 4 oficiais milicianos com a patente de alferes. Total de oficiais 6. Sargentos total 16 um 1ºsargento um 2º sargento e 14 furrieis, 9 de infantaria, um enfermeiro, um vago mestre, um mecanico, um transmissões e um de armas pesadas. Eis a composiçao de graduados mas que com o passar do tempo começaram a ir amputadas por falta de especialistas entre eles o médico que não havia onde o recrutar mesmo com a chamada aos reservistas. Muito havia a dizer sobre este tema mas como disse a prática foi-se agravando e não cumpria a teoria fico-me só pela classe de oficiais e sargentos para ser mais percectivel. Por exemplo: Respodendo ao Carlos Vinhal na minha companhia os primeiros os pelotões eram compostos por Um transmissões e um 1º cabo condutor rádio telegrafista segundo informações isto deixou de ser prática por isso como disse é um tema difíciel de abordar e dá origem a comentários totalmente opostos. Abraço.
,

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Andaram a "gozar" connosco, no TO da Guiné... Já aqui escrevei em tempos:

23 DE JANEIRO DE 2021
Guiné 61/74 - P21800: Os nossos enfermeiros (14): Na falta de médicos, optou-se pela secção sanitária a nível de companhia: um fur mil enf e três 1.ºs cabos aux enf (António J. Pereira da Costa / Paulo Santiago / António Carvalho / José Teixeira / Luís Graça)
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2021/01/guine-6174-p21800-os-nossos-enfermeiros.html


(...) Em comentário à publicação do álbum de Fernando Andrade Sousa que foi 1º cabo aux enf, CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, entre maio de 1969 e março de 1971), e mora na Trofa, escrevemos o seguinte:

É inacreditável como é que a CCAÇ 12, uma subunidade de intervenção ao serviço do BCAÇ 2852 e depois do BART 2917, só tinha dois enfermeiros operacionais para alinhar no mato, aliás, dois 1ºs cabos aux enf, o Fernando Sousa e o Carlos Alberto Rentes dos Santos.

E este último só por pouco tempo, já que foi trabalhar como carpinteiro (!) no reordenamento de Nhabijões!...

O 1º cabo aux enf José Maria S. Faleiro foi cedo evacuado para a metrópole por doença infetocontagiosa (creio que hepatite) e e só muito mais tarde foi substituído pelo 1º cabo aux enf Fernando B. Gonçalves [de quem já nem me lembro].

Os médicos e os furrieis enfermeiros (como era o caso do nosso João Carreiro Martins, de resto já enfermeiro na vida civil) não alinhavam no mato (!), sendo cada vez mais absorvidos pelas tarefas de prestação de cuidados de saúde às populações civis!...

Spínola parecia confiar apenas no HM 241, nos helicópteros da FAP e nas enfermeiras paraquedistas que vinham fazer as evacuações Ypsilon!... Mas é legítimo perguntar-se: quantos camaradas nossos não terão morrido por falta de primeiros socorros e reanimação no mato!... A vida ali contava-se ao segundo... E nenhuma graduado tinha aprendido na recruta e na especialidade a fazer um simples garrote para estancar um ferimento de bala numa perna ou num braço!... Muito menos administrar um soro... É que os enfermeiros também eram alvos a abater, no caso de uma emboscada no mato.,,

Nunca vi ninguém protestar por esta insólita situação. A política da "Guiné Melhor" levou Spínola a "canibalizar", literalmente, o seu próprio exército: alguns dos nossos melhores operacionais eram afetados a missões civis, como os reordenamentos, os postes militares escolares e os serviços de saúde! Spínola tinha pressa em "roubar" as populações ao PAIGC. (...)

(Continua)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

(Continuação)

Com a melhor das intenções, Spínola acabou por desfalcar as companhias que andavam na "porrada"... Enfim, não sabemos o que se passava com as tropas especiais,que tinham outro estatuto e poder reivindicativo... Seria interessante saber como estavam organizados os serviços de saúde nos destacamentos de fuzileiros especiais, nas companhias de comandos, no BCP 12...

Mais: a CCAÇ 12 é obrigada a participar directamente no "projecto de recuperação psicológica e promoção social da população dos Nhabijões" (sic), ao tempo do BCAÇ 2852 (e depois do BART 2917), fornecendo uma equipa de reordenamentos e autodefesa, constituída pelos operacionais:

(i) alf mil António Carlão (cmdt do 2º Gr Comb, já falecido);
(ii) fur mil at inf Joaquim M. A. Fernandes (cmdt da 1ª seção do 4º Gr Comb);
(iii) 1º cabo at inf Virgílio Encarnação (cmdt da 3ª seção do 4º Gr Comb, em substituição de um saregnto, que ficou na secretaria);
(iv) sold arv at int Alfa Baldé.

Foram tirar o respectivo estágio a Bissau, de 6 a 12 de Outubro de 1969, estava a CCAÇ 12 há três meses em Bambadinca, à ordens do BCAÇ 2852...

Foram ainda requisitados à CCAÇ 12 dois carpinteiros, um 1º cab at inf (cujo nome ainda consegui saber) e próprio 1º cabo aux enf Carlos Albertos Rentes dos Santos.

A CCÇ 12 tinham 24 operacionais (graduados e 1ºs cabos atiradores), metropolitanos, e uma centena de praças do recrutamento local, distribuídos por 4 grupos de combate, sem contar com os especialistas, metropolitanos (condutores auto, transmissões, enfermagem, etc., ao todo uns 35/40).

Os 4 elementos operacionais brancos que são retirados à companhia, representavam... um 1/6 do total!

Na prática, e durante muitos meses, o pobre do 1º cabo aux enf Fernando Andrade Sousa era o único a "alinhar no mato", dos 4 elementos iniciais da equipa de saúde!... (A CCAÇ 12 não tinha, de resto, soldados maqueiros; é possível que, por vezes, tenha alinhado o pessoal sanitário da CCS em operações a nível de batalhão).

E o Fernando também tinha, além disso, de integrar as equipas de "acção psicossocioal" (!), por exemplo, as visitas às tabancas, vacinação, etc.... E mais: ia todos os dias para o poste de saúde quando estava em Bambadinca!... E ainda foi destacado, dois ou três meses, no princípio de 1970, para o Xime da CART 2520, que estava sem enfermeiro!...

Em conclusão foram homens como o Fernando Anadrade Sousa, "marca c...",, como se diz no Norte, que seguraram as pontas desta "p... de guerra"!... (Julgo que levou, no fim, um louvor, averbado na caderneta militar, como seria, de resto, da mais elementar justiça!... Era o mínimo dos mínimos que o capitão, já major, lhe podia dar!). (...)

De facto, andaram a gozar connosco na Guiné!...

23 DE JANEIRO DE 2021
Guiné 61/74 - P21800: Os nossos enfermeiros (14): Na falta de médicos, optou-se pela secção sanitária a nível de companhia: um fur mil enf e três 1.ºs cabos aux enf (António J. Pereira da Costa / Paulo Santiago / António Carvalho / José Teixeira / Luís Graça)

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2021/01/guine-6174-p21800-os-nossos-enfermeiros.html

Carlos Vinhal disse...

Eu não estou a desmentir ninguém.
Baseei-me na História da minha Unidade, da dotação de embarque e dos recompletamentos após a nossa chegada à Guiné.
Nós embarcámos tendo em falta, o Comandante de Companhia, o Primeiro-Sargento, o Furriel de Armas Pesadas, 1 cabo e 2 soldados radiotelegrafistas e um soldado básico.
O Segundo-Sargento mais velho/experiente (João Rita) fazia as vezes de Primeiro-Sargento e o outro tomava conta da arrecadação do material de guerra.
Os 9 Furriéis embarcados, já iam da metrópole integrados nos pelotões: 1.º Pelotão - 2; 2.º Pelotão - 2; 3.º Pelotão - 3 e 4.º Pelotão - 2.
Talvez por o meu Pelotão, o 3.º, ser o único com 3 furriéis é que eu fui destacado para a secretaria de comando a tempo inteiro, benesse que terminou ao fim de 6 meses quando morreu do Alferes Couto, vítima de uma mina AP IN.
Chegou a ser integrado um Primeiro-Sargento para recompletamento orgânico da Companhia, mas ao fim de algum tempo foi evacuado, pelo que o saudoso "chefe" Rita, entretanto promovido a 1.º Sargento, assumiu definitivamente o comando da secretaria. Até ao fim da comissão continuei a prestar a minha colaboração ao 1.º Rita, faltando só quando a actividade operacional assim impunha.
Carlos Vinhal
Fur Mil/CART 2732

Fernando Ribeiro disse...

Isto não tem pés nem cabeça. Não sei de onde é vêm estes quadros, mas são um disparate, tal como estão apresentados.

Por exemplo, os pelotões sempre existiram, não caíram do céu em 1972 para substituirem os grupos de combate. Os pelotões eram uma coisa e os grupos de combate eram outra, que coexistia com aquela, dependendo das circunstâncias. Os pelotões eram subunidades autónomas, que podiam ficar aquarteladas num destacamento militar próprio, enquanto os grupos de combate apenas combatiam, ficando dependentes do comando da companhia para o resto.

Outro disparate que logo me saltou à vista é o dos auxiliares de enfermagem, que aparecem todos no comando da companhia. Então acham que os grupos de combate saíam para o mato sem auxiliares de enfermagem?!!! É claro que cada um tinha o seu! Nem podia ser de outra maneira! O mesmo acontecia para os pelotões.

Nem vale a pena tentar analisar o resto. Seria uma completa perda de tempo.

José Botelho Colaço disse...

Claro que o Carlos Vinhal diz o que se passou na sua companhia e disso não temos dúvidas, mas é como eu disse a prática era só remendos da teoria por isso é um tema que vale mais esquecer do que debater. Se as companhias já saíam daqui amputadas, já para não falar do que lhe acontecia em combate, como é que alguma véz podiam cumprir a teoria.

Valdemar Silva disse...

Mas com as baixas, por doença ou transferência, é que foi ganhar patacão.
Não me recordo perfeitamente, mas julgo que apenas houve uma substituição na nossa CART11.
Foi um furriel que veio substituir o Pechincha.
Coitado, chegado de Setúbal a Nova Lamego quase no mesmo dia e logo alinhar para Piche ou Canquelifá, nem deu para consumir manga de boas conservas que trazia. Aliás até teve de as deixar pro lixo, com a mudança de clima ficaram "estragas", e lá foi ele e nós com uma patuscada de conservas de lulas.
E também o alferes do meu pelotão por doença, nunca foi substituído alinhando eu ou o Macias a comandar mais de meia comissão.
Estas situações foram habituais, a substituição ficou esquecida e o patacão poupadinho ficou
na gaveta. Com o 1º, sargento aconteceu o mesmo, ninguém o substituiu quando veio para Águeda, e alinhou o furriel Canatário de armas pesadas.
E refilar com um 'm. capitão, então como é, nem substituto nem patacão?'. Lá levava com o comando duma formatura do pelotão a receber o coronel e o 'v.s. dá-me licença' chegava para ficar todo vaidoso e o capitão, depois, a dizer 'o que quer mais'.
Quanto é que teria sido o valor da poupança, com estas substituições 'não pagas' por vários anos da guerra.

Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

Dizes bem Valdemar! Quanto é que não teria sido o valor da poupança.
Casos e mais casos iguais aos que descreves. Nalgumas situações o homem do monóculo graduou alferes em capitães.
A certa altura da minha comissão na CCaç 14, o alferes mil. que comandava o meu grupo de combate arranjou forma de ser recolocado em Bolama a dar instrução. ( Fez ele muito bem!! ). O meu grupo só tinha 2 Fur. mil.Como eu era o mais antigo fui " premiado " com o comando.
Como é óbvio nunca fui graduado em nada para além do posto que já tinha.
Também não vi mais" massa" por força do tempo em que comandei o grupo.
Ah!!! Mas tenho um louvor registado na caderneta militar, concedido pelo comandante do batalhão 2879 aquartelado em Farim.
" Saúde da boa "
Abraço fraterno
Eduardo Estrela

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Camaradas, na orgânikca oficial, no modelo de 1972, havia 5 corneteiros/clarins... Digam-me lá se não clarins a mais para uma companhia só ?!

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Como sempre, a prática (e as circunstâncias concretas, do terreno, do clima, do adversário, do armamento, das baixas, etc.) impuseram-se ao "figurino", desenhado em Lisboa...

De qualquer modo, e na incapacidade de se pdoer fazer, com celeridade e flexibilidade, os complementos e recomplementos necessários, as nossas companhias andavam todas "remendadas"... Eu que era de armas pesadas e nunca as tive, sempre alinhei no mato como atirador, tapando buracos aqui e acolá... Recordo.me que o 2º Gr Comb / CCAÇ 12 tinha apenas 2 furriéis + 1º cabo a comandar uma secção... Um dos furriéis, o Humberto Reis, que era de operações especiais, teve de substituir muito cedo o alf Carlão que foi para a equipa dos reordenamentos... Nem o cabo ganhava como furriel nem o furriel ganhava como alferes... Tudo por mor da Nação... LG

José Botelho Colaço disse...

Carissimo Luís mais uma que não consigo encaixar, na minha companhia caç. 557 só havia um soldado corneteiro e o engraçado é que a única vêz que foi chamado para tocar no içar da bandeira não saiu qualquer som além de sopros, também não cheguei a saber onde estava o mal se na corneta ou no profissional ?!... Também quanto a mim no mato era uma arma dispensável que não fazia falta na guerra silensiosa que estáva-mos a travar com o inimigo.

Antº Rosinha disse...

Se começou tudo numa desordem total (1961), e sabemos que o fim foi um-deus-dará, como é que não devia ser um eterno improviso durante toda a guerra?

Nunca ninguém viu uma secção abandonada, sem Companhia, quer militarmente quer administrativamente?

Num posto isolado durante alguns meses, onde havia apenas dois pequenos comerciantes daqueles do mato nem chefe de posto havia? Era e será hoje, esse lugar um autentico cu de judas.

Após alguns meses abandonados, ou esquecidos, será este o melhor termo, esses 8 ou nove rapazes, uns brancos outros mulatos, outros assim assim, em finais de 1961 em Angola no Quanza Norte, já não tinham farda nem botas ou sapatos militares em condições, remediavam-se com alguma roupa civil, sem qualquer transporte nem rádio, incomunicáveis portanto.

Tinham mausers, uma metralhadora e um morteiro e respectivas munições, estas com relativa fartura.

A alimentação, o furriel e um dos cabos, (havia mais que um cabo) assinavam uns vales aos dois comerciantes que ali havia, e lá se resolveria um dia, esses vales era uma tradição angolana antes da guerra, não era muito estranho.

O ambiente psicológico é que já era explosivo ao ponto de o furriel apanhar uma boleia de um camionista e foi bater à porta da companhia que os abandonou, mais de 40 Klm. e requerer um médico.

Conheço esta história porque fui eu substituir esse furriel, que de facto esse rapaz estava mesmo a "bater válvulas" como se dizia a quem precisava de psiquiatra.

Tive sorte de não ter de pegar em armas, ao contrário do que aqueles rapazes tinham sofrido nos meses anteriores, antes de serem esquecidos naquele lugar, e passados uns 3 meses por meios que seria um excesso relatar aqui, fomos passar o Natal a Luanda com tudo resolvido e mais ou menos prontos para esquecer.

Um daqueles cabos ainda antes do Covid reuníamos em almoço anual do Regimento de Luanda e nos lembramos do barril de 100 litros que deixámos em duas asnas, já meio vazio no hall de entrada da casa abandonada de comerciante, que nos servia de quartel.

Tive sorte nesta guerra, sem tiros, só na caça e só por obrigação, que detesto caçar.

Por mim ainda havia dinossauros e não se tinha colonizado ninguém, nem os romanos nos tinham colonizado.

Penso que Salazar sabia que não era com homens e armas que ganhávamos aquela guerra.

Fernando Ribeiro disse...

José Botelho Colaço,
Uma corneta ou clarim não consegue produzir qualquer som se soprarmos apenas. Neste caso, só se ouve um sopro e nada mais. O que faz soar um tal instrumento são os próprios lábios do tocador, que são postos a vibrar encostados ao correspondente bocal. Tentando explicar melhor, uma corneta, um clarim, uma trompa, um trombone, uma trompete ou outro qualquer intrumento metálico de sopro "de trombas", não tem palhetas nem outro qualquer meio de produzir som por si mesmo. Aquilo, no fundo, é um tubo que tem uma entrada, uma saída e, pelo meio, dá umas quantas voltas. O ar entra por um lado do tubo e sai pelo outro. O que produz o som são os lábios do próprio instrumentista, que este faz vibrar ao mesmo tempo que sopra, encostados a uma das pontas do tubo, que é o bocal.

paulo santiago disse...

Fiquei baralhado com o comentário do Fernando Ribeiro sobre pelotões e grcomb.Diz não ser a mesma coisa,mas não apresenta as diferenças.
O PelCaçNat 53,que comandei o que era? Pelotão? Grupo de combate? Para ser considerado grcomb,qual era a transformação a efectuar?
Agradeço a info.

Santiago

José Botelho Colaço disse...

Fernando Ribeiro agradeço a informação sobre cornetas e clarins. Parafraseando hoje o Professor Sampaio da Nóvoa diz: Metade dos alunos terminam a escola sem ter aprenddido nada. Quer dizer que grande parte dos nossos militares iam para a guerra sem ter aprendido a tirar partido da arma que iriam utilizar?!... Um abraço.

Valdemar Silva disse...

Essa do Pelotão e Grupo de Combate também mas faz confusão, agora que estou quase a fazer IAO
para outra comissão de serviço pela lei da vida.

No meu tempo, no nosso tempo, Pelotão era um, dos quatro grupos, de cerca de trinta militares do exército que compunham uma Companhia. E também havia, na Guiné, os designados Pelotões independentes que não faziam parte de Companhias.
Depois, não sei se por influência do que se passava em Angola, passou a designar-se Grupo de Combate a cada um desses quatros grupos, por haver Pelotões com outra hierarquia de comando, seria assim?

Evidentemente, isto não é assunto para quem não souber levar uma carecada, até por que haverá muita rapaziada sem cabelo para poder cumprir o castigo.

Saúde da boa
Valdemar Queiroz

Carlos Vinhal disse...

Para mim é novidade essa distinção entre Grupo de Combate e Pelotão.
Então um pelotão não é um Grupo de (que) combate?
O meu GCOMB - 3.º Pelotão da CART 2732 - combateu e de que maneira. Tal como os 1.º; 2.º e 4.º.
O meu GCOMB teve 2 mortos em combate e o 4.º GCOMB, 1.
Carlos Vinhal
CART 2732

Luís Dias disse...

Caros amigos

Para mim, sempre identifiquei os pelotões de atiradores que compunham a companhia como Grupos de Combate. O pessoal tanto dizia pertenço ao 1º pelotão ao 2º pelotão etc, como dizia pertenço ao 1º Gr. Comb., ao 2º Gr. Comb. etc.
Cada Grupo possuía 1 rádio/telegrafista e, embora estivesse a cargo de cada grupo 1 1º cabo auxiliar de enfermagem, ao 4º Grupo, faltava esse elemento, estando-lhe atribuído um soldado maqueiro. A maioria das operações eram levadas a efeito por 2 GC (c/ 2 auxiliares de enfermagem ou com 1 auxiliar de enfermagem e 1 maqueiro). Só em acções ou colunas em que seguia 1 único GC, esse grupo levava sem 1 auxiliar de enfermagem por rotação (por que o 4º GC tinha atribuído o tal maqueiro, que mais tarde acabou por ser evacuado para psiquiatria
e não mais regressou).
Quanto aos corneteiros, o capitão deu trabalho a dois deles (um era o barbeiro e outro o professor na escola primária dos miúdos da tabanca) e os outros incorporaram os GC como atiradores. Um deles, que até tinha muito jeito para o morteiro 60, passou a ser apontador do mesmo num dos GC da companhia.
Abraço para todos
Luís Dias ALf. Mil. CCAÇ3491/BCAÇ3872 - Guiné 1971-1974

Fernando Ribeiro disse...

Antigamente, era tudo pelotões e não havia dúvidas quanto a isso, qualquer que fosse a sua composição.

Se bem me recordo do que me contaram meio século atrás, o nome "grupo de combate" veio dos Comandos. Designaria um grupo de militares, comandados por um oficial subalterno, que tinha por missão realizar operações na mata e no qual se incluía um militar de transmissões e outro de enfermagem.

Sempre que fosse necessário colocar um grupo de combate num ponto fixo (um destacamento militar), onde deveria defender uma posição estratégica, como por exemplo uma ponte, era preciso acrescentar-lhe mais alguns militares, que lhe permitissem uma existência autónoma. Era então constituído um pelotão no sentido clássico do termo, o qual incluía (além do grupo de combate) um cozinheiro, um ou mais condutores, um mecânico e até um corneteiro ou clarim, que não fazia falta nenhuma. Se em vez do corneteiro pusessem lá um padeiro, é que fariam um grande favor à malta.

paulo santiago disse...

Continuo baralhado,após o último comentário de Fernando Ribeiro.
O PelCaçNat 53,concluo ser um grcomb,como sempre pensei, não é um "pelotão no sentido clássico do termo" porque não incluía um cozinheiro,zero condutores,nada de mecânico,e nem corneteiro ou clarim.

P.Santiago

José Botelho Colaço disse...

Eu não queria dizer mais nada mas como vos disse isto era tema para esquecer porque o que contava era a iniciativa de cada um e principalmente a dos comandantes de companhia ´como diziam antigamente os alfaiates á vista do pano é que se talha a obra, parafrazeando o Luís Dias na minha companhia necessitávamos de um pedreiro especialidaade que não fazia parte do elenco da companhia como o soldado Demétrio era pedreiro na vida cívil o capitão nomeou pedreiro da companhia e ele fêz entre várias obras entre elas a mais importante para nós o forno no Cachil o padeiro passou a ser o 1º cabo escrituráio que também era padeiro na vida civil e assim se resolveu o problema dos casqueiros para a malta não passar larica e para a secretaria foi um 1º cabo telegrafista.

Valdemar Silva disse...

A nossa CART.11, Companhia "independente" de intervenção, estava sedeada num quartel próprio, Quartel de Baixo, Nova Lamego, fora do serviço Cmdt. do Batalhão.
A CART.11 tinha todos os especialistas de enfermagem, transmissões, cozinheiros, mecânicos, condutores, armas pesadas, clarins, escriturário e básicos metropolitanos e mais atiradores fulas de recrutamento local.
Não havia, propriamente, condutores, enfermeiros, transmissões adstritos aos Pelotões e quando se verificava uma saída a nível de Pelotão, o furriel respectivo escalava o condutor, o enfermeiro e o transmissões.
Não me recordo quando saímos para reforçar Canquelifá ou Piche se foi algum dos três cozinheiros. No Destacamento de Guiro Iero Bocari havia um cozinheiro, transmissões e enfermeiro fixos.

Valdemar Queiroz