Sou o Sílvio Fagundes de Abrantes, o HOSS.
Caro amigo Luís Graça, junto seguem as duas fotos que o amigo me pediu, uma do tempo de tropa e outra actual.
Um abraço, Hoss
Mas já antes tínhamos publicado, dele, o poste P5668, em que veio em defesa do seu "amigo Oitenta" bem como o poste P5580 (*).
Na altura esvrevemos que a alcunha Hoss tenha sido atribuída ao Sílvio por analogia com a figura do Hoss Cartwrigh, da popular série televisiva norte-americana Bonanza...(Quem, da nossa geração, não era fã da família justiceira mas bonacheirona do Faroeste, o pai Ben, e os filhos Adam, Hoss e Little Joe ?... Comecei a vê-los desde 1959, se não me engano, na RTP)...
O camarada Sílvio já leu, compreendeu e aceitou as nossas regras de bom senso e bom gosto (por exemplo, não usamos o termo "preto", pela sua conotação racista...) e manifesta o seu desejo de fazer parte desta já grande e fraternal comunidade de amigos e camaradas da Guiné.
Ele também já sabe que na nossa Tabanca Grande não cultivamos ódio nem raiva por ninguém, incluindo os antigos militares da PM e os homens (e mulheres) que nos combatíam (os guerrilheiros do PAIGC)...
No nosso blogue, simplesmente contamos histórias, partilhamos memórias e até afectos. De imediato o Sílvio, que é natural de Águeda, se mostrou com disposição de nos contar histórias do seu tempo de militar da CCP 121 / BCP 12. Explicita ou implicitamente, o seu padrinho é Paulo Santiago, seu amigo e vizinho, foi a ele que pedimos que apadrinhasse a entrada do Hoss no nosso blogue. O Sílvio é, pois, bem vindo. Já cumpriu as nossas regras formais e, além disso, já nos contou algumas histórias. Aqui vai a primeira, que achei deliciosa, e que passou despercebida, no meio dos comentários a um poste P5568(*).
O Sílvio tanmbém já nos explicou que "era soldado enfermeiro, nunca fui promovido a cabo porque num dia fui duas vezes à missa e tramei-me. Eu era apontador de MG e um colega meu trazia a bolsa de enfermagem"... Da próxima vez, vamos publicar o relato da tremenda emboscada que ele apanhou em 16 de Junho de 1970, na estrada Bissau-Teixeira Pinto, a 3 km do Pelundo. LG
2. O MUNDO É PEQUENO
por Sílvio Abrantes (Hoss)
Na minha terra realiza-se uma festa que é das maiores do distrito da Aveiro. Andava eu na festa e a certa altura com um grupo da amigos fomos beber a uma tasca. Quando lá chegámos estava um negro a ameaçar tudo e todos. A minha caixa dá meia volta e digo ao negro:
- Aqui não fazes barulho, se quiseres fazer barulho vai para a tua terra, aqui nem penses, por este dedo já passaram muitos cães e nunca ninguém foi preso por matar um cão. Desaparece e já.
O pobre não teve outro remédio. Diga-se que era um homem de 1,90 m de altura e com o corpo a condizer. Na quarta-feira a seguir volto à festa e o nosso homem viu-me e veio ter comigo. Diz ele num perfeito português:
- No domingo estavas bravo.
Metemos conversa e eu pergunto de onde era:
- Da Guiné diz ele.
Eu disse-lhe que estive lá como militar.
- E como vieste aqui parar?
Diz ele:
- Eu era turra, como vocês dizem e entrei numa conspiração para matar o Nino Vieira, só que falhou e tive de fugir e vim para Portugal.
Levanta as calças de uma das pernas e diz:
- Vês esta perna esfacelada, foi o filho da p… do Hoss que me fez esta serviço.
Eu pergunto:
- Conheces o Hoss? - e ele diz que sim.
Então pego nele e levo-a para minha casa, onde lhe mostro o meu algum de fotos da Guiné e ele reconhece o Hoss nas fotos. Eu pergunto:
- Onde é que está o Hoss? - E ele continuava a apontar para as fotos, não chegava onde eu queria, então viro a primeira página do álbum onde há uma foto minha de meio corpo, pergunto:
- É este?
- Tu és o Hoss? - Eu digo que sim. Imaginem como o meu amigo Henrique ficou. Esteve uns minutos em silêncio e depois diz:
- Leva-me a casa.
Nunca mais disse nada. Deixei-o em casa. Passados uns meses, veio ter comigo para eu ir a uma festa a casa dele onde estava gente grande da Guiné que está a viver em Lisboa. Lá fui. Quando chegámos à porta de entrada da sala, ele apresentou-me, fez-se um silêncio sepulcral. Aquele gente ficou atónita em ver ao vivo o Hoss. E assim fiquei amigo do ex-turra, Henrique
Como o mundo é pequeno.
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Nota de L.G.:
(*) Vd. poste de 2 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5580: FAP (44): A verdade sobre os incidentes, em Bissau, em 3 de Junho de 1967, entre páras e fuzos... (Nuno Vaz Mira, BCP 12)