quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 – P7486: Controvérsias (116): Direito de resposta a comentários do poste P7392 (Magalhães Ribeiro)



1. Camaradas é na qualidade de membro desta Tabanca Grande, que eu Eduardo José Magalhães Ribeiro, ex-Fur Mil OpEsp/RANGER da CCS do BCAÇ 4612/74, Cumeré/Mansoa/Brá – 1974, respondo, por direito de resposta, às dissertações expostas em alguns comentários inseridos no poste:

6 de Dezembro de 2010 >
Guiné 63/74 – P7392: Banalidades da Foz do Mondego (Vasco da Gama) (XII): Sobre a nova Série do nosso Blog “O fim do Império português na Guiné” do nosso camarigo Magalhães Ribeiro

Comentários:
Juvenal Amado disse...
Caro VascoGostei da tua intervenção.Não gostei do poste do MR, que já em outras alturas sacou de um tipo palavreado, que considero ofensivo para mim, que não penso como ele .Mas é assim a liberdade do teu nosso 25 de Abril, permite-nos ouvir de tudo e felizmente não nos obriga a comer e calar.No tempo do famoso «ultramar» era bem diferente.Um abraçoJuvenal Amado
Segunda-feira, Dezembro 06, 2010 10:27:00 PM


J.Belo disse...
Meu "Almirante" de outras tormentas. Näo se pode(nem deve!) esquecer que, a NOSSA LIBERDADE,foi conquistada por alguns que por ela lutaram durante muitas décadas...e,oferecida "de bandeja" a outros.Muitos até nem a queriam,ou querem,por täo incómoda nas diversidades. Gostei do que escreves-te.Aquele abraco!
Terça-feira, Dezembro 07, 2010 1:33:00 AM


Amigos e Camaradas,

Há camaradas neste blogue que têm um teclado fácil e democrático, só deles e apenas deles. Tão democrático que só eles é que sabem, e eles é que são os democratas do pedaço.

Debitam aqui o que muito bem lhes apetece, em nome da LIBERDADE individual e, no meu caso, criticam negativamente as minhas ideias, pensando eles, quem sabe, que é que estão certos… só eles. As ideias deles e os seus conceitos de LIBERDADE é que são a TOTAL… visão clara e sapiente.

Por acaso, no meu caso, esta malta anda, ou com azar, ou com falta de pontaria. Uns tantos (poucos felizmente) (des)interpretam completamente os meus textos e estão mais interessados em criticar as ideias do MR e, assim, arranjar chatices, do que acompanhar distraída e implicitamente a publicação e evolução das memórias no blogue.
Eu não tenho criticado as ideias de ninguém, EXCEPTO A DETURPAÇÃO DE ACONTECIMENTOS E FACTOS e, por isso, agradeço que me deixem em paz com as minhas, já que ainda é um direito que me assiste.
Ou não?
Afinal quem é que não aceita as ideias dos outros?
Já o disse aqui mais que uma vez que há um velho ditado que diz: “Quem não se sente não é filho de boa gente”.
Eu sou!
Como fui nitidamente provocado, como se pode ler nos comentários em epígrafe, vamos lá então ver quem é que lutou, TAMBÉM E MAIS QUE MUITOS OUTROS, pela LIBERDADE e pelo 25 de ABRIL, para que hoje se possa estar aqui e em todos os cantos de Portugal a discutir sem qualquer tipo de receio… abertamente.
Estudei até aos 14 anos e optei por trabalhar/estudar aos 15, completando, em 1979, o 11º ano. Hoje estou com 43 anos de trabalho, dos quais retiro 2 meses de baixa (1 para me tirarem varizes das pernas e 1 para me tirarem o apêndice).
Até nisto tenho ajudado o país!
Nunca me tendo assumido como um anti-faxista da treta, como muitos se apregoaram e apregoam ainda hoje, recuo as minhas recordações aos fins dos anos 60, princípios dos anos 70, quando trabalhador-estudante na Escola Industrial Infante D. Henrique - no Porto -, para vos contar que aí, impressionado com o número de mortes que ia ouvindo, aqui e ali, que aconteciam na Guerra do Ultramar, resolvi interessar-me um pouco mais pela política (conversando e discutindo com os mais politizados, em grupinhos que ao mínimo sinal de perigo logo se separavam, pois a PIDE tinha ouvidos em todos os lados e andava sempre por perto).
Daí a passar também a colaborar em acções de sensibilização junto dos meus colegas de turma, essencialmente em pequenas acções contra a guerra, em que os meus familiares e amigos estavam a ser enviados aos “molhos”, feridos e mortos, foi um passo.
Um dos meus colegas escolar que trabalhava no jornal “O Século”, trazia vários exemplares do célebre “Fulcro” (um boletim maoista/trotsquista), e eu comecei a ajudá-lo na sua distribuição, quer na escola, quer na empresa onde trabalhava.
Depois fui dando uma “mãozinha”, em datas marcantes de factos políticos, como os 31 de Janeiro, os 1º de Maio e os 5 de Outubro, num velho hábito de protesto que era apedrejar o posto S.O.S. da P.S.P. que se encontrava no largo frente à escola e tirar o pedreiro da estátua local, colocá-lo na relva e enchê-lo de velinhas a arder ao mesmo tempo que distribuíamos panfletos com máximas e ditos contra a guerra, tudo muito rapidamente pelos transeuntes, pois a polícia pouco demorava a aparecer em grande número.
Nos anos 70 a polícia chegou a cercar completamente a escola, tendo-nos valido para escapar à detenção policial o túnel subterrâneo sob a Rua Júlio Dinis, que ligava à vizinha escola Gomes Teixeira, por onde fugíamos.
Nos 1º de Maio, passei a juntar-me com o Amaral e o Tó (velhos amigos meus) aos grupinhos que afluíam em tom desafiador e provocante, nas manifestações contra o regime governativo em vigor e a guerra do ultramar (onde eu mais me revia), que se iam acumulando na Praça da Liberdade, aqui no Porto, a quem a PSP em níveas (carochas de cor azul), circulando pela Avenida dos Aliados, fazia vários avisos: “Quem for alheio à manifestação é favor retirar-se rapidamente da praça!”.

Posto isto, seguiam-se as famosas mangueiradas de água azulada (com o que creio ser sulfato de cobre dissolvido que além de marcar as roupas, dava cabo delas todas) e o cerco dos manifestantes pela P.S.P. fardada e vários PIDES (à civil misturados) que distribuía, indiscriminadamente, brutais cargas de cacetada pelos manifestantes e outras pessoas que ali fossem apanhadas desprevenidas.
Lembro-me de ver uma freira vestida de branco, que tentava atravessar rapidamente a praça, levar uma mangueirada do carro auto-bomba da P.S.P. e ficar toda de azul, e um casal de turistas estrangeiros, dominando mal a nossa língua, terem parado admirados com o "ajuntamento" de tanta gente e serem agredidos, várias vezes, à cacetada.

Por sorte e agilidade pessoal nunca levei nenhuma cacetada, mas muitas vezes fiquei com peças de roupa deterioradas.

Em Dezembro de 1973, no C.I.O.E. – Centro de Instrução de Operações Especiais, era habitual o pessoal em instrução (instruendos e cadetes), por ordens superiores, organizarem e realizarem um espectáculo de entretenimento que tinha lugar entre duas das mais impensáveis e duras provas do curso RANGER.

Também nesta “festa” andei “embrulhado”, que eu saiba num dos maiores actos contestatários políticos do antes-do-25A74 levados a efeito dentro de um quartel (ainda por cima de tropas especiais), ao modo como estava a ser gerida a política ultramarina, ao alinhar com o “Mosca” (Orlando Mesquita), vários instrutores, instruendos e cadetes, no apoio à interpretação de uma das canções revolucionárias, em voga naquela altura, que este grande cantor e Homem da cidade do Porto ali protagonizou.
Esta “festa” incluía, além de diversas canções, fados, anedotas, “travestimentos” e outras paródias próprias do acto.
A assistência era constituída por todo o “plantel” da Unidade, que era convidado a estar presente, onde sobressaía o Comandante – Cor. Amílcar José Alves.
O combinado nos bastidores entre a malta que sabia do que se ia passar era aplaudi-lo exacerbadamente, com gritos de apoio e muitos assobios.
Apesar dos mais que evidentes e justificados receios do “Mosca”, dado o alto risco de ser imediatamente detido finda a sua intervenção e as pouco recomendáveis consequências que daí adviriam, lá avançou destemido para a sua inesquecível, surpreendente e ousadíssima actuação, a que se seguiu a nossa (na quase totalidade do pessoal miliciano) enorme ovação.
Findo o “espectáculo” talvez frutos dos nossos efusivos aplausos, o comandante da Unidade, no meio de um silêncio absoluto, levantou-se e sentenciou: “Hoje é dia de festa e por isso vou fazer a de conta que nada se passou aqui de anormal”.
Deste episódio resta dizer que tudo acabou bem, tão bem que o caso foi omitido como prometera o Coronel Amílcar José Alves e o Orlando Mesquita recebeu, no fim do curso, o emblema RANGER, que hoje ostenta, segundo as suas palavras, com muita honra e orgulho.
Depois, já em Tomar, tive o orgulho pessoal de ter participado no 25 de Abril ou como eu gosto de escrever 25A74... sobre o qual não recebo lições de ninguém (ninguém mesmo), pois eu SEI ONDE ESTAVA como poucos se podem gabar… de G3 na mão, no RI15, onde estava a monitorizar instrução a mancebos, mobilizados, COMO EU, para a Guiné (há postes no blogue onde estão documentos meus comprovativos e tenho mais alguns no meu arquivo pessoal).
Também tenho que dizer isto, se a guerra acabou mais cedo para muitos que estavam no Ultramar e puderam regressar mais cedo a casa, foi porque muitos como eu se juntaram de imediato aos revoltosos de Abril, e ajudaram à concretização da revolução.
A uns, que nasceram mais cedo, infelizmente tocou-lhes entrar em terríveis combates, muita privação, sacrifícios, ver feridos e mortos. A mim, graças a Deus, tocou-me a fase do fim da guerra e da independência da Guiné.

Tenho a consciência tranquila e a minha caderneta militar limpa, porque cumpri 100% com o que foi solicitado no tempo de vida militar, que decorreu sem qualquer louvor ou “porrada”.
Na volta á vida civil, desde o 25A74, fui e sou, ainda hoje, sindicalista, tendo começado nos então temíveis Metalúrgicos, a que se seguiu o STIEN - Indústrias Eléctricas do Norte e ainda hoje no SINDEL - Sindicato da energia, onde, apesar de trabalhar como técnico pelas 25 grandes barragens e 45 mini-barragens fora deste país, desempenho funções, sem críticas negativas, dos cerca de 40 colegas de trabalho, associados do dito sindicato.
Foram muitos os confrontos políticos e lutas de sindicalistas que eu ajudei a serenar e a "apagar" ao longo dos quentes anos do PREC e por aí fora... até aos dias de hoje.
Hoje, penso que é preciso que a "cegueira" anti-salazarista e anti-caetanista não leve a dizer mais disparates no blogue.
Não foi Salazar, nem Caetano que arranjaram umas coloniazitas em Àfrica, e depois inventaram umas guerrinhas onde os portugueses coitadinhos iam passar uns sacrificiozitos e morrer.
Caso não se lembrem, ou não saibam, em África já por lá andavam os tugas há mais de quinhentos anos. 500 ANOS meus amigos!
A verdade quer se queira, quer não, foi uma herança que Salazar devia ter resolvido melhor, na minha simples opinião pessoal, e optou pelo pior caminho… a guerra!
Por isso, o contexto da expansão é mundial foi moda política nos séculos XV e XVI, basta estudar um pouco de história universal.
A visão é reduzida se dissermos que Portugal é que explorava os africanos, pois foi "arrastado" na odisseia de então que fazia parte da tendência ancestral e mundial, onde o nosso país acompanhou a evolução dos outros países como a Espanha, Bélgica, França, Itália, etc.
Não me vou alongar mais.
Esta minha "iluminação" (modo de pensar) é a daqueles (muitos felizmente pelos e-mails e telefonemas de parabéns que tenho recebido), que não se deixam vacinar, nem vergar, por lavagens cerebrais de qualquer tipo religioso ou político-partidário, resumindo-se ao conhecimento, estudo da veracidade e da lealdade dos factos.
Creio que já basta de polémica e de acusações impensadas e maldosas, pelo que agradeço a todos que, para mim, não me venham com mais tretas superioras e ressabiadas, gastando palavras como… LIBERDADES e 25 DE ABRIL.
O respeito, como é óbvio e democrático, tem que ser mútuo. Que respeite quem quer ser respeitado!
Um abraço,
Magalhães Ribeiro
__________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:

10 de Dezembro de 2010 >
Guiné 63/74 – P7414: Controvérsias (114): Os BCAÇ 4612: Um de 1972 e outro de 1974 (Agostinho Gaspar)

Guiné 63/74 - P7485: Os nossos seres, saberes e lazeres (28): Victor Garcia, alfacinha e benfiquista, ex-1º Cabo At, CCAV 2639 (Bula, Binar, Capunga, 1969/71): um exemplo e um motivo de orgulho, para todos nós, antigos combatentes, na luta contra a iliteracia informática (Parte II)

 1. Continuação da publicação do belo álbum fotográfico do nosso camarigo Victor Garcia (*),  ex-1º Cabo At da CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71), a partir da sua página pessoal na Net, disponível aqui:


Período em Capunga (de 23/10/1970 a 02/07/1971)


Em Pete, a 9/11/1970 visita do General Spinola no dia seguinte ao ataque ao destacamento








Em Capunga a 30/11/1970, saindo da moradia de luxo






Em Capunga a 30/11/1970, no posto de vigilância



Acampamento de Capunga a 20/1/1971





Em 1/7/1971, outra imagem do Acampamento de Capunga




Em 18/04/1971,  Capunga, Imagens de um choro,  no funeral de um elemento da população onde estavam etnias Balantas e Mancanhos.



Período em Bula (de 2/7/1971 a 9/9/1971)



Bula,  14/08/1971, um Panhard





Bula 14/08/1971, Vista do Quartel



Bula, 1/9/1971, População local


Período no Cumeré de (9/9/1971 a 25/9/1971 à espera de embarque (que foi a 25/9/1971, às 21.30h)



Em João Landim do lado de Bissau, a 9/9/1971
(Jangada que nos transportou no rio Mansoa)



Cumeré,  18/9/1971, A ansiedade da partida... Fim
Fotos (e legendas): © Victor Garcia (2009) (Com a devia vénia...) (Fotos editadas por L.G.) 
______________

Nota de L.G.

Último poste da série > 20 de Dezembro de 2010 > 

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7484: FAP (58): Se perguntar não ofende... Qual era a segurança dos camiões com bombas de avião que circulavam entre Bissau e Bissalanca ? (Nelson Herbert)

1. Comentário do nosso amigo Nelson Herbert ao poste P7303:

 Em miúdo, em Bissau,  um aspecto que sempre moveu a minha curiosidade, devido em parte à natureza letal da coisa (quiçá esteja errado),  era a aparente facilidade com que as bombas dos aviões eram por vezes expostas, em camiões abertos, defronte à messe dos sargentos da Força Aérea,  que eram meus vizinhos...

Era comum ver os tais longos camiões militares, de cor azul, a cor da força aérea, com carregamento de bombas (umas 10 a 20 peças), estacionados à porta da messe... Tudo assim exposto, com a criançada brincando ao largo...

Calculo que,  na viagem de regresso à Base de Bissalanca, tenha virado hábito dos motoristas desses camiões estacionar à porta da messe, para uma cervejinha qualquer... Quem sabe ?

Hoje pergunto: tal exposição não feria os mais elementares códigos de segurança ? Que riscos comportava ?  Ou era tudo natural e da praxe ?

Nelson Herbert

[ Revisão / fixação de texto / título: L.G.]

Foto: Bomba de Fiat G-91, de 750  libras. Cortesia do blogue do nosso camarigo Victor Barata, Especialistas da Base  Área 12 Guiné 1965/74 (a quem retribuímos as saudações bloguísticas pela quadra festiva de Natal e Ano Novo.
______________

Nota de L.G.: Último poste desta série > 16 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 – P7452: FAP (57): Será que a cúpula do PAIGC queria ganhar a guerra? (António Martins de Matos)

Guiné 63/74 - P7483: Portugalidade(s) (1): A recepção dos goeses ao Navio Escola Sagres

1. O nosso querido Mário Dias [, foto à esquerda, português de Portugal, da Guiné, de Angola, de Macau...] teve a gentileza e sobretudo a inspiração de nos enviar esta mensagem, pré-natalícia, datada de 20 do corrente,  com a qual vamos inaugurar uma nova série a que chamaremos Portugalidade(s)... 


No fundo,  pretende-se revelar qui as mil e uma maneiras de se ser português (ontem, hoje, amanhã...),  pelo mundo fora, pelos cinco continentes, pelos muitos mares  e rios e braços de mar que ajudámos a descobrir, navegar, desbravar, descrever, conhecer, explicar, colonizar, povoar, desenvolver, interligar, interconectar, globalizar, humanizar ...


Portugalidade(s) é uma muitas maneiras, específicas, de sermos homens e mulheres, pertencentes à espécie Homo Sapiens Sapiens... É sobretudo um espaço de lusofonia, que tem como ponto de partida a língua e a cultura portuguesas, Portugal e a Guiné-Bissau, e por aí fora... De facto, não há amarras que nos prendam aos cais, até por que o nosso blogue é visto, é lido,  em muitos cantinhos do mundo, da Austrália ao Canadá, do Brasil à  Guiné, da Suécia aos EUA...


 É tão somente uma reflexão, e sobretudo um ponto de encontro e de partilha, de e para antigos combatentes (camaradas, amigos e camarigos...) , sobre o que é ser Portugal, português, lusófono... Aqui na casa lusitana, mas também na diáspora, e nos muitos sítios do mundo onde deixámos alguma coisa bonita, sobretudo humanidade, sobretudo amizade, sobretudo saudade... (LG)


Caros editores:

Apenas para indicar uma espécie de reportagem fotográfica feita em Goa, aquando da recente passagem do navio-escola Sagres. É comovente que ao fim de tantos anos, e apesar da repressão das autoridades indianas sobre os que continuam ligados a Portugal, ainda tantos não se tenham esquecido de nós.

http://www.youtube.com/user/MeninodeValpoi (*)

Um grande abraço e Boas Festas para toda a tabanca.

Mário Dias

______________


Nota de L.G.:

(*) O autor do vídeo, MenipodeValpoi, de seu nome completo, Menino G. P. T. Fernandes, nasceu em Valpoi, Satari, Goa, há 50 anos (uns meses portanto da invasão do território pelas tropas indianas), vive hoje no Reino Unido, onde é informático (programador)... O seu perfil no You Tube é apresentado em português mas o video é legendado em inglês... O vídeo é apresentado nestes termos: "The fond & loving brass band farewell by Goans to the Portuguese Navy [, Navio Escola Sagres]"... Desde 16 de Novembro p.p., tem já mais de 400 visualizações... Parabéns ao MeninodeValpoi. Many thanks for this nice heart touching document concerning our special relationship,  the Portuguese and the Goan People"... 



Sobre a viagem de circum-navegação da nossa Sagres, que está a terminar, vd. o sítio da RTP e em especial o reencontro com os goeses...

Guiné 63/74 - P7482: Tabanca Grande (256): António Duarte, ex-Fur Mil, da CCAÇ 12, da 3ª geração (Bambadinca e Xime, 1973/74)


Lisboa, Belém, 10 de Junho de 2006 > 13º Encontro Nacional de Combatentes > Um das raras fotos onde se pode localizar o "arisco" António Duarte...Na primeira fila, eu, próprio, Luís Graça (CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71), à esquerda, e a meu lado o Carlos Fortunato (CCAÇ 13, 1969/71); na segunda fila, a contar da esquerda para a direita: o Jorge Cabral (Pel Caç Nat 63, 1969/71), o António Duarte (CART 3493, Mansambo, 1971/73 e CCAÇ 12, Bambadinca e Xime, 1973/74), o Mário Dias (Comandos de Brá, 1963/66), o José Martins (CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70), o Francisco Baldé (BCA, 1ª, 2ª e 3ª Companhia de Comandos Africanos, 1969/74) e o João Parreira (CART 730 e Comandos de Brá, 
1964/66).

Foto: © Luís Graça (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados

1. Diz o Humberto Reis ter encontrado, no dia do seus anos,  um neto da CCAÇ 12, de seu nome António Duarte (*):


(...) Almocei com a família e uns amigos no Solplay em Linda a Velha, [nos arredores de Lisboa, concelho de Oeiras]. Quando estava a entrar no carro para me vir embora estacionou ao meu lado um Audi A4 e o condutor de imediato me disse: 

- Não eras da CCAÇ 12 ?

Calculem o tamanho da minha boca. Era o António Duarte, ex Fur Mil da CCAÇ 12 dos anos de 73/74. Dizia ele que já não era "meu filho" mas sim "neto" (substituto do substituto).  

Isto só é possível pela grandiosidade do que o Luís criou, o que permitiu que este nosso amigo me viesse a reconhecer. (...).

2. O Humberto já não está recordado mas o António Duarte já está connosco, na nossa tertúlia (hoje, Tabanca Grande) desde inícios de 2006 (**). Tivemos uma primeira notícia dele através do Sousa de Castro [, CART 3494, Xime e Mansambo, 1971/74] (**)

(...) Caro Sousa de Castro: Fui seu companheiro na Guiné. Fui furriel da CART 3493, tendo estado em Mansambo. Antes da companhia seguir para o sul (suponho Cobumba), fui para a CCAÇ 12 onde acabei por passar a rendição individual e regressar [à Metrópole] em Janeiro de 1974 enquanto que o BART 3873 regressou só em Abril.

Quero dar-lhe os parabéns por ser um activista das nossas recordações, quer através do blogue do Luís Graça, quer noutras paragens na Net. Afigura-se-me que nos faz bem.

Da sua companhia [CART 3494] tenho encontrado o ex-furriel Luciano, que trabalha em seguros, na CGD. Recordo também com muita saudade o Bento, que esteve comigo na especialidade em Vendas Novas. Faleceu em 22 de Abril de 1972.

Um abraço, de camarada para camarada,
António Duarte (...)


3. Na altura, eu, L.G.,  comentei o seguinte: 

O António Duarte é o primeiro graduado da CCAÇ 12, da época de 1973/74, que chega até nós. Pessoalmente, fico muito feliz, eu e os demais velhinos (se é que me é permitido falar em nome deles, o Humberto Reis, o António Levezinho, o Joaquim Fernandes, o Fernando Marques, o José Luís...) já que fomos nós a formar a CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71). Vamos ter muito que conversar, Duarte, se estiveres disposto a isso... Pelas minhas contas, ainda passaste nove meses com os nossos queridos nharros [, vocábulo de afceto, não de racismo...], entre Abril de 1973 e Janeiro de 1974... Foi isso ? Nove meses que, imagino, não terão sido fáceis...

Recorde-se que em Abril de 1973, segundo informações do Sousa de Castro, a CART 3493 foi para o sul, a companhia dele, que estava no Xime (CART 3494) foi para Mansambo, sendo substituída no Xime pela CCAÇ 12 até à data da independência. Nessa época o Xime continuou ainda a ser mais atacado. (...).


4. Dois dias depois, a 20 de Fevereiro de 2006, o António Duarte escrevia-me o seguinte (***):


(,,,) Acabei de ler a inserção do meu e-mail, bem como o comentário do Sousa de Castro, no blogue. De facto estive na CCAÇ 12 desde Janeiro de 1973, primeiro em Bambadinca e a partir de Abril no Xime, após as rotações das companhias, geradas pela transferência para Cobumba da Cart 3493 (minha unidade inicial). Regressei à metrópole em Janeiro de 1974.

Numa breve resenha e procurando arrumar os dados por ordem cronológica, diria que a vida em Mansambo [, coma CART 3493,], de Janeiro até Dezembro de 1972, foi com baixa actividade de guerra, no entanto com situações graves e desgastantes.

Accionámos três minas, que custaram três feridos com amputação de membros inferiores. A primeira em Jombocari. [, na região de Biro,] (mina antipessoal), com um ferido (1º cabo Ribeiro,  do 3º Pelotão). Salvo erro em 9 de Maio [ de 1972 ].

No dia seguinte foi accionada uma mina anticarro por um burrinho, que custou a perna a um furriel do 2º pelotão (Ferreira) e mais 2 feridos com alguma gravidade. Este incidente aconteceu aquando do regresso ao quartel da segurança à operação de capinagem, na estrada de Mansambo a Candamã/Afiá (Candamã era à época uma tabanca em autodefesa, com um pelotão de milícias e uma secção da unidade de Mansambo).

Em Agosto [ de 1972] mais uma mina antipessoal accionada em Sanguê Demba (não sei se estará bem escrito) [, está, sim senhor!, ficava entre o Rio Sanguè Bissari, a oeste, e o Rio Jago, a leste], em que ficou ferido um cabo (Silva, do  2º Pel).

Entretanto no mês de Agosto houve um ataque ao quartel sem incidentes.

Quanto ao ano de 1973,  na CCAÇ 12 a acção foi mais animada. Instalados em Bambadinca, naquilo que se classificava de hotel, fazia-se operações sobretudo na zona do Xime. Assim em 3 de Fevereiro tive a primeira emboscada na Ponta Varela,l em que participaram três grupos de combate da CCAÇ 12 em conjunto com 2 pelotões da CArt 3494 (à época aquartelada no Xime). As NT não registaram feridos mas segundo se apurou em informações recolhidas no Enxalé, o PAIGC teria tido baixas.

A 25 do mesmo mês houve uma outra emboscada numa operação na zona de Ponta Varela/Poidom e Ponta do Inglês/Ponta João da Silva, também com forças semelhantes à anterior, em que registámos 7 feridos, felizmente ligeiros. Foi praticamente toda a minha secção (Bazuca do 3º grupo de combate), que foi tocada

Por infelicidade um RPG 7 [, foto à esquerda,] rebentou ainda no ar (com era normal), apanhando o pessoal abrigado. Não participei nesta acção, pois estava em Bissau para vir gozar as minhas segundas férias na Metrópole.

Até final do do ano houve mais 3 emboscadas, tendo sido a mais grave na Ponta Coli (segurança à estrada Xime-Bambadinca) e n ataques ao quartel  [, Xime], felizmente com má pontaria, na maioria das vezes.



Salvo erro em 1 de Dezembro de 1973,  a tabanca do Xime foi atingida e registaram-se-se várias mortes [, sete, ] entre a população. Talvez o José Carlos [ Mussá Biai ] (que já tem participado no blogue e que era criança à época e vivia no Xime) se lembre.

Agora falando aos velhinhos e fundadores da CCAÇ 12, quero dar-lhes nota que o espírito da Companhia era excelente. Registo a boa convivência dos graduados, de origem portuguesa, com todos os militares, que eram na sua maioria muçulmanos.

No meu pelotão (3º), tinha dois cabos que eram uns senhores na arte da guerra. Eram o Malan Turrè (?) e o Sajá (?). Os dois foram graduados furriéis e integraram a CCAÇ 21 do Ten Jamanca, já perto do final do ano de 73. Segundo me foi dito, não tive oportunidade de confirmar, as coisas teriam sido muito feias para eles, no período pós-independência.

Aproveito para perguntar à velhice da CCAÇ 12 se ainda se recorda de alguns dos soldados e cabos da 12. Aqui vão alguns nomes:

Recordo-me do Arfan Jau (Bazuca,  do 3º Gr Comb), Braima Sané (HK 21 do 4º), Mamadu Candé, Iero Jau (3º), Malan Embaló, Mamadu Seidi, João Gerá, Bubacar Colubali, Amadu Baldé, Alfa Sané, Suleimane (Cabo do 4º,  com excesso de peso), etc. (****)
O comandante da CCAÇ 12 no início de 1972 era o Cap Bordalo, homem de grande carisma, seriedade e bravura. Era um líder. Penso que será de (ou viverá em) a  região de Lamego.

Para acabar por hoje, quero dar nota que eu serei vosso neto, pois rendi os que vos renderam. De acordo?

Da próxima vez falarei de outros temas.

Um abraço fraterno para todos,
António Duarte


5. Temos ainda outro mail dele, de 11 de Maio de 2006 (***)

Caro Luís Graça,

Sou o António Duarte, ex-furriel atirador da CART 3493 e da CCAÇ 12. Quero dizer-te que tenho uma 'nova religião', que passa por todos os dias ver o nosso blogue (peço desculpa pelo nosso, mas já o sinto como tal).

Tenho escrito muito pouco, porque o tema ainda me incomoda, mas gostava de dar duas notas [a segunda, a ser publicada noutro post, tendo a ver com a contagem do tempo para a reforma].

A primeira prende-se com o programa [da RTP 1, Órfãos de Pátria, que passou na 3ª feira]. Partilho das opiniões já expressas, traduzidas pela expressão muita parra e pouca uva. Foi pobre na forma e no conteúdo. Foi superficial e não quis ser politicamente incorrecto.

Sem querer alongar-me, gostava de apresentar um exemplo. O programa foca-se exclusivamente nos comandos africanos e, tanto quanto sei, os graduados das CCAÇ africanas, de origem local, foram também fuzilados.

Esta informação foi-me prestada por um estudante guineense, meu contemporâneo no ISEG - Instituto Superior de Economia e Gestão (ex-ISE). Referia esse jovem, que era natural de Bafatá, que grande parte dos graduados da CCAÇ 21 foram fuzilados.

Ora, para nós, ex-militares da CCAÇ 12, esta situação toca-nos profundamente, pois em 1973 esta companhia [a CCAÇ 21], que ficou em Bambadinca,  comandada pelo Ten Jamanca [ex-comando africano], foi constituída, tendo por base furriéis que eram ex-cabos da CCAÇ 12 (na época colocada no Xime).

Com a ausência de referências aos outros fuzilamentos, fica a ideia de que se tratou de uma mera perseguição aos homens dos Comandos Africanos, o que realmente não foi. Foi muito mais do que isso.

Este assunto, para ser tratado num órgão de informação como a TV, merecia mais. Deveria ter uma forte componente política, onde provavelmente os governos de Portugal iriam ser responsabilizados sobretudo pelas omissões.

O comandante da nossa Marinha ainda aflorou o assunto, mas o jornalista não pegou. Acho que mais para a frente poderemos voltar ao tema.

(...) E por hoje deixo-vos com um abraço de camaradagem,

António Duarte

6. Comentário de L.G. [, ex-Fur Mil Henriques, Ap Armas Pes Inf, CCAÇ 12, Bambandinca, Jul 69/ mar 71, foto à esquerda]:

O António Duarte (que foi furriel miliciano na CCAÇ 12 na fase final, depois de transitar da CART 3493, que esteve em Mansambo) vem lembrar que em Bambadinca (e um pouco por todo o lado), os que foram encostados ao trágico poilão por onde passávamos muitas vezes, não foram apenas os comandos africanos mas também os nossos camaradas guineenses da CCAÇ 12 (que foram constituir novas unidades, como a CCAÇ 21), e se calhar outros camaradas do  Pel Caç Nat 52, 53, 54, 63... No nosso tempo já havia ou dois três soldados arvorados por cada grupo de combate da CCAÇ 12... Mais tarde passaram a cabos e, em segunda comissão, foram promovidos a furriéis, ao que parece na CCAÇ 21, comandada pelo comando Jamanca e a que pertenceu também o Alf Comando Graduado Amadu Bailo Djaló, nosso camarigo. (Estamos, eu e o Virgínio Briote, a preparar um poste sobre a última batalha, da CCAÇ 21, na zona leste, em Canquelifá...).

Dos soldados arvorados da CAÇ 12 estou-me a lembrar do Abibo Jau, do Vitor Santos Sampaio (um dos raros que não era fula, era mancanhe, um reguila de Bissau...), o Mamadu Baló, o Alfa Baldé, o Mamadu Baldé, o Braima Bá, o Totala Baldé, o Mamadu Jau, o Sadjo Baldé, o Samba Só, o Quecuta Colubali... (****)

O único cabo era o bom do Zé Carlos Suleimane Baldé, que estudava português que se fartava para chegar a graduado (Dizes-me que terá engordado no teu tempo, ou terás a confundir com o gigante Abibo Jau ? )... O Zé Carlos fora promovido a cabo em Setembro de 1969. É provável que muitos destes homens e nossos camaradas (alguns, ainda putos, quando eu os conheci em Contuboel) tenham sido fuzilados no poidão de Bambadinca...

Esta é a parte feia, macabra e trágica da história da nossa guerra... Ainda hoje os guineenses têm dificuldade em falar disto... As testemunhas, os figurantes, os actores, os executantes, os mandantes... Se calhar todos têm medo de falar, por vergonha, culpa, cobardia ...

Nós, amigos e camaradas da Guiné, temos a obrigação de falar - com emoção, mas também com dignidade moral e elevação intelectual, com serenidade... Até para os ajudar a fazer o luto (individual, familiar, colectivo) e raparar o que ainda for possível reparar... Para o ano, em Maio de 2011, estamos a tentar reunir as três gerações de quadros e especialistas da CCAÇ 12 (1969/74), e inclusive alguns alguns camaradas guineenses, da diáspora ou mesmo a viver actualmente na Guiné-Bissau. António Duarte, por favor contacta-me!
__________

Notas de L.G.:

(**) Vd. poste de 




(****) Vd. aqui a composição orgânica da CCAÇ 12, da 1ª geração (Contuboel e Bambadinca, Junho de 1969 / Março de 1971):
Cabos e soldados arvorados do recrutamento local 
1º Gr Comb  (Alf Mil Op Esp 00928568 Francisco Magalhães Moreira
1ª Secção (s/ Furriel) + 1º Cabo 8490968 José Manuel P Quadrado (Ap dilagrama)
Soldado Arvorado 82107469 Abibo Jau (Fula) [, dado como fuzilado depois da independência, juntamente com o Ten Comando Graduado Jamanca, ambos da CCAÇ 21]
2ª Secção (Fur Mil 04757168 Joaquim João dos Santos Pina? [, natural de Silves, onde ainda hoje vive]

+ 1º Cabo 17765068 Manuel Monteiro Valente (Ap Dilagrama)

Soldado Arvorado 82106369 Vitor Santos Sampaio (Mancanhe, natural de Bissau)
3ª Secção (Fur Mil 19904168 António Manuel Martins Branquinho [, reformado da Segurança Social, Évora  ] + 1º Cabo 18998168 Abílio Soares [, morada actual desconhecida];
Soldado Arvorado 82107169 Mamadu Baló (Fula)
2º Gr Comb (Alf Mil de Inf 13002168 António Manuel Carlã[, comerciante, vive em Fão, Esposende] 
1ª secção (s/ Furriel)Soldado 18968568 Arménio Monteiro da Fonseca [, despromovido como cabo, taxista, vive no Porto]


Soldado Arvorado 82107969 Alfa Baldé  (Fula) (Ap LGFog 3,7)

2ª Secção (Fur Mil Op Esp 05293061 Humberto Simões dos Reis [, engenheiro técnico, Alfragide / Amadora] + 1º Cabo 17626068 José Marques Alves [, vive em Fânzeres, Gondomar]

Soldado Arvorado 82116569 Mamadu Baldé (Fula)
3ª Secção (Fur Mil 17207968 Antonio Eugénio S. Levezinho [, reformado da Petrogal, vive em Marinhal, Sagres, Vila do Bispo] + 1º Cabo 18880368 Manuel Alberto Faria Branco [, morada actual desconhecida]
Soldado Arvorado 82116969 Braima Bá (Fula)
3º Gr Comb (Alf Mil Inf 01006868 Abel Maria Rodrigues [, bancário reformado, Miranda do Douro]

1ª secção (Fur Mil Luciano Severo de Almeida [, margem sul do Tejo, já falecido, morte violenta]  + 1º Cabo 02920168 Carlos Alberto Alves Galvão [, vive na Covilhã]
Soldado Arvorado 82108769 Totala Baldé (Fula)
2ª Secção (Fur Mil 07098068 Arlindo Teixeira Roda [, natural de Pousos, Leiria; professor em Setúbal] + 

1º Cabo 17625368 António Braga Rodrigues Mateus [, morada actual desconhecida]
Soldado Arvorado 82108369 Mamadú Jau (Ap Dilagrama) (Fula)
3ª secção Fur Mil 06559968 José Luís Vieira de Sousa [, natural do Funchal, agente de seguros] + 

1º Cabo 12356668 José Jerónimo Lourenço Alves [, morada actual desconhecida];

Soldado Arvorado 82108469 Sajo Baldé (Ap Metr Lig HK 21) (Fula)
4º Gr Comb (Alf Mil Cav 10548668 José António G. Rodrigues [, Lisboa, já falecido, por doença]
1ª secção (Fur Mil 15265768 Joaquim Augusto Matos Fernandes [, engenheiro ténico, vive no Barreiro]+ 1º Cabo 18861568 Luciano Pereira da Silva [, morada actual desconhecida];
Soldado Arvorado 82115469 Samba Só (Fula)
2ª secção (Fur Mil 11941567 António Fernando R. Marques [, vive em Cascais, empresário,  reformado] + 1º Cabo 17714968 António Pinto [, morada actual desconhecida];
1º Cabo 82115569 José Carlos Suleimane Baldé (Fula) [, vive em Amedalai, Xime, Guiné-Bissau]
Soldado Arvorado 82118369 Quecuta Colubali (Fula)
3ª secção (s/ furriel) + 1º Cabo 00520869 Virgilio S. A. Encarnação [, vive em Barcarena]:
Soldado Arvorado (?) 82116069 Sajuma Jaló (Ap LGFog 8,9) (Futa-Fula)

Guiné 63/74 - P7481: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (36): O 64º Aniversário cá do rapaz (Humberto Reis), seguido da história da misteriosa bajuda de Nhabijões (Luís Graça)



Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) CCAÇ 12 (1969/71) > Nhabijões, bajuda balanta



Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Destacamento da ponte do Rio Udunduma > Um bu...rako de muitas estrelas... Na foto, o Humberto Reis, a comandar o 2º Gr Comb da CCAÇ 12, na ausência do Alf Mil At Inf António Carlão, destacado para o reordenamento de Nhabijões,. "ali ai lado"...

Fotos: © Humberto Reis (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Mensagem do nosso cartógrafo-mor (e mecenas, além de camarigo e ranger) Humberto Reis:

 Data: 20 de Dezembro de 2010 14:10
Assunto: 64º Aniversário do rapaz


Meus Amigos

Como não sei fazer comentários no blogue, não é com 64 anos que me dá a vontade de ir aprender (se bem que para aprender não existem idades impróprias), envio esta mensagem para agradecer a v/ lembrança  e com 3 comentários em separado:

(i) Miguel: estás igual a ti próprio. Muito obrigado pelo teu mapa-cão. Nem ao diabo lembraria inventar um "boneco" destes. A partir do raio das cartas topográficas inventas uma coisa daquelas. Para ti e para a Giselda um FELIZ NATAL  e que o novo ano que se aproxima seja um BOM ANO de 2011.

(iii) Par ti, Carlos Vinhal, editor de serviço, os meus agradecimentos pelo recuerdo  em que a minha mãe o foi pela primeira vez. Ela também te agradece. Bom Natal e, porque não, um Bom Ano de 2011, em que os pessimistas não acreditam.

(iii) Para o meu querido amigo Luís Graça (nome por que é conhecido nos meios bloguistas, o Henriques que conheci em Março de 69, companheiro de quarto, mas não de cama, em Bambadinca, nos já longínquos anos de 69 a 71) aqui vai o meu agradecimento pela simpatia que teve ao acrescentar um comentário ao poste do Carlos Vinhal. À Alice, companheira de há dezenas de anos, o meu MUITO OBRIGADO pelo carinho e simpatia.

(iv) Permitam-me que acrescente 2 linhas ao já descrito:

Para os que conhecem esta zona dos arredores de Lisboa, refiro um episódio que aconteceu há cerca de 1 hora. Almocei com a família e uns amigos no Solplay em Linda a Velha. Quando estava a entrar no carro para me vir embora estacionou ao meu lado um Audi A4 e o condutor de imediato me disse: 
- Não eras da CCAÇ 12?

Calculem o tamanho da minha boca. Era o António Duarte, ex Fur Mil da CCAÇ 12 dos anos de 73/74. Dizia ele que já não era "meu filho" mas sim "neto" (substituto do substituto). 

Isto só é possível pela grandiosidade do que o Luís criou, o que permitiu que este nosso amigo me viesse a reconhecer.

Chaga de lamechices

UM GRANDE ABRAÇO A TODOS

Humberto Reis

2. Comentário de L.G.:

Meu caro Humberto:

Isto de pertencer ao CLUBE DOS SEXAS também tem as suas penas e obrigações, como por exemplo ter de responder aos muitos cartanitos de parabéns pelo último aniversário, o que, meu menino, é uma estopada de todo do tamanho, como diria o Eça de Queirós... Resta-nos a consolação de, quando a gente se finar, essa trabalheira toda de agradecer os sentidos pêsames dos nossos amigos e inimigos, já não nos competirá a nós, mas sim aos gatos pingados da agência funerária que é para isso que eles nos levam o coiro e o cabelo...

Mas o que fazer, nmeu querido camarigo, quando no teu vasto, rico e cobiçado álbum fotográfico (para não falar das tuas cartas topográficas, em especial as dos Arquipélagos de Bijagós, que valem o seu peso em coca, quero eu dizer, em ouro...), o pobre do editor, alma sensível e apurado sentido estético,  encontra esta imagem de uma pobre bajuda, balanta, de Nhabijões, com um ar meio hippie (estava na moda o movimento hippie...),  que tu terás, ou tu e eu,  teremos conhecido numa daquelas operações de acção psicossocial que nos eram atribuídas regularmente à volta das tabancas balantas da periferia de Bambadinca, ditas sob duplo controlo (Nhabijões, Mero, Santa Helena, Bissaque...), a par da intensa actividade operacional contra os balantas do mato (seus pais, tios, primos, irmãozinhos)...

Nabijhões, o seu reordenamento e defesa,   deu-nos água pela barba e,  se bem te lembras,  o teu alfero, o nosso inefável Carlão - meu, ás vezes,conforme o que me calhava na rifa  - foi para Bissau receber um curso especial para chefe operacional dessa coisa a que chamávamos reordenammento... Na época, era a taluda, o euromilhões!... Uma vida de régulo!... Um descanso até ao fim da comissão! Mil vezes melhor do que ir à Ponta do Inglês levar nos cornos!

Fico sem saber exactamente o que fostetu, ou fomos os dois,  fazer a Nhabijões, se  é que foste ou fomos (ou o que é que, em alternativa,  a pobre da bajuda andava a fazer ali para os lados de Samba Silate, meia perdida, rondando a ponte do Rio Udunduma, sítio par além do mais perigoso,  infestado de tugas e de fulas, machos, cheios de testosterona, se bem que  próximo da sua aldeia)...

Até por que,  no teu caso concreto,  tu sempre preferiste mais o ar do que a água e o chão (fosse o chão fula ou balanta)... (Lá tinhas as tuas razões, e, a propósito, estou mesmo  em crer que darias um belo piloto de Heli Al III, o que quer não dizer que não tenhas sido um bom ranger; sempre achei, de resto,  que escolheste mal a arma, o teu lugar era mesmo na FAP, logo em Bissalanca, na BA 12 onde tinhas amigos entre os pilotos)...


Como o meu falar balanta era tão mau ou pior que o meu mandarim, e não falando a rapariga sequer o crioulo da tropa, recordo-me que, na altura, tentei ler nos seus lábios o que é que ela  te queria dizer...  a ti, em concreto, até porque foste tu que lhe tiraste a chapa... É um arte difícil, essa a da comunicação não-verbal... Mas, se a tua Teresa não ficar, desde já  com ranger de dentes, vou tentar traduzir, lip by lip,  o que é a inocente... bajuda tentava comunicar-te na ocasião...

Já não posso precisar, à distância de 40 anos, mas imagino até que esta cena tivesse acontecido  à porta do teu abrigo no Udunduma que,  visto assim, de fora, mais parecia a caverna do Ali Babá e os 40 ladrões (na época, não eram tantos, mal ultrapassariam uma vintena, dado que os Grupos de Combate da CCAÇ 12 começaram logo a ficar desfalcados, em Julho de 1969, em Madina Xaquili...).

Acredito que uma miúda balanta tivesse curiosidade em saber que objectos reluzentes eram aqueles que se anteviam na escuridão do abrigo... Mas, não... Vendo bem, ela estava literalmente grudada numa peça do teu vestuário, a qual, pensando bem, não estava de acordo com o figurino da tropa... Se reparares bem, o raio do teu boné (preto ou azul marinho em vez da cor do camuflado, como o meu) não era nada regulamentar!... Se bem desconfio, era de algum piloto de heli AL III, distraído ou apressado, que te deixou em Bambadinca e meteu prego a fundo para Bissalanca, depois de uma boleia até Bafatá ou até Bissau...

Pois, o que  a tímida da bajuda (tímida ou misteriosa ? ) está a tentar transmitir-te é apenas o mais inocente e ingénuo pedido que uma rapariga da idade dela (ainda púbere, com cabaço, que nunca vira mundo), seria capaz de balbuciar na presença do diabo de um tuga:
- Manga de ronco, chapéu de bó... Parte com bajuda...

Não sei se terás entendido o desejo da rapariga... Acho que não, nem tu nem eu. Como ainda estávamos longe do Natal,  e tu devias estar com cara de poucos amigos por teres perdido à lerpa, na semana anterior, no casino de Bambadinca, é muito provável que lhe tenhas respondido com voz de ranger, seco e duro, de mau humor:
- Gosse, gosse, minina, bora, bora. antes que venha o lobo mau...

Essa fala já não posso confirmar...  O que sei que é que nunca te desfizeste do boné (ou quico ?), que era uma espécie de talismã... E hoje tenho alguma curiosidade em saber se ainda o tens,  o boné da FAP ?! O boné ou os bonés, já que eu te conheci uma colecção completa no teu guarda roupa em Bambadinca... LG

__________________

Nota de L.G.:

Último poste da série > 14 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7431: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (35): Maravilhas do blogue... 36 anos depois (Nelson Herbert/Magalhães Ribeiro)