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domingo, 28 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4599: Em busca de... (77): Antigo camarada do RI 10, Aveiro, 1965 (Rui Alexandrino Ferreira)

Aquando do nosso Convívio em Ortigosa no dia 6 de Junho passado, o nosso camarada Rui Alexandrino Ferreira (*), solicitou a divulgação deste apelo. 

  Quem me ajuda a encontrar 

 Quando concluí em Abril/Maio de 1965 o Curso de Oficiais Milicianos e fui promovido a Aspirante, fui colocado no RI 10 em Aveiro onde entre várias e boas amizades que lá fiz, a do moço cuja fotografia acompanha este texto-

Correram os meses, ele foi mobilizado para Angola e eu para a Guiné. Durante muito tempo fomos trocando correspondência. Com o desandar do tempo, o final das comissões, o meu retorno a Angola e o meu regresso à tropa e a nova comissão na Guiné, a terceira em Angola, o drama da descolonização, a guerra entre os angolanos e o regresso a Portugal, perdi-lhr por completo o paradeiro. 

 Nada sei dele. Nem mesmo o nome consigo recordar. Será que alguém o consegue identificar e dar-me meios para o contactar? O meu mais profundo obrigado. 

 Um abraço Rui Alexandrino Ferreira 

 (*) O Rui Alexandrino Ferreira é natural de Angola (Lubango, 1943) e vive em Viseu. Fez o COM em Mafra em 1964. Tem duas comissões na Guiné, primeiro como Alferes Miliciano (CCAÇ 1420, Fulacunda, 1965/67) e depois como Capitão Miliciano (CCAÇ 18, Aldeia Formosa, 1970/72). 

Fez ainda uma comissão em Angola, como capitão. Publicou em 2000 a sua primeira obra literária, "Rumo a Fulacunda" (2ª ed, Palimage, Viseu, 2003). É hoje coronel, na Reforma 

Fotos do camarada que o Rui Alexandrino pede que identifiquem



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 Nota de CV: 

Guiné 63/74 - P4598: Estórias avulsas (35): O porco que andava à solta (José Carlos Neves)

1. O porco que andava à solta é uma estória que o José Carlos Neves, (*), ex-Soldado Radiotelegrafista do STM, Cufar, 1974, nos enviou em mensagem do dia 26 de Junho de 2009:

O porco que andava à solta

Um belo dia resolvemos (eu e alguns Camarada da Intendência) ir tomar banho à piscina que era nem mais nem menos do que uma pedreira onde a água da chuva se concentrava e formava uma bela piscina. E por estranho que pareça até estava limpa.

Estávamos a refrescarmo-nos quando demos pela presença de um porquinho muito jeitoso na borda da água. Como a fominha apertava, não se pensou duas vezes. Um saiu da água pegou na G3 e zás, lá estava o porco morto. O pior é que um tiro de G3 faz barulho e logo quase de imediato a Senhora que andava a pastar os porcos apareceu.

Procurou o porco por todos os lados, só se esqueceu de o procurar debaixo de água, onde ele foi parar antes que viesse alguém. Até aqui tudo bem, só que a dita Senhora que não era parva nenhuma e já sabia com quem lidava, não saía dali. O porco tinha que estar em algum lado. E estava! Debaixo dos meus pés porque teimosamente queria vir à superfície.

O tempo foi passando até que passou uma viatura do Exército. Fizemos sinal e lá pararam. Explicámos a situação e eles fizeram-nos companhia até que a Senhora resolveu afastar-se por uns momentos. Foi o suficiente para o porquinho, num salto acrobático, saltar da água para cima da carripana.

O problema todo é que tivemos que repartir o bicho por mais gente o que ficou menos para cada um. Mas mesmo assim deu para matar a fominha.

Escusado é dizer que a tal Senhora no dia seguinte foi perguntar pelo porco ao Comandante, mas nós, que também não éramos completamente parvos, tratámos logo de enterrar as tripas e apagar todos os vestígios do crime.

Esta foi uma das estórias que vou tendo para contar.
Qualquer dia conto outra se virem interesse nisso.

Um Alfa Bravo para toda a Tabanca Grande
José Carlos Neves
Soldado Radiotelegrafista do STM
Cufar, 1974
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 18 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4546: (Ex)citações (31): Tenho pena daquele povo afável que vive hoje na miséria absoluta! (J. Carlos Neves)

Vd. último poste da série de 14 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4519: Estórias avulsas (34): Desertei depois de ter vindo da Guiné (Manuel Maia)

Guiné 63/74 - P4597: FAP (30): Ferro Q.B. para acalmar as hostes (Miguel Pessoa)

1. Mensagem de Miguel Pessoa (1), ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, hoje Coronel Pilav Reformado, com data de 25 de Junho de 2009:

Luís, Carlos : 

Agora que começa a assentar a poeira do IV Encontro, envio-vos um texto para publicação. Como é habitual, não tendo eu trazido registos do que fiz, tive que puxar pela memória, evitando ao mesmo tempo puxar pela imaginação...
Abraço.
Miguel


FERRO Q.B.

Este texto tem o inconveniente de ser pouco preciso, pois escrevo-o apenas de memória, sem o recurso a documentos, mapas ou outros auxiliares. Também é um testemunho (limitado na sua percepção) de um simples executante que, pela sua posição na hierarquia estabelecida, desconhecia naturalmente as grandes decisões tomadas por quem orientava a guerra.

Não houve a pretensão de compilar dados históricos precisos a nível de um Arquivo Histórico, mas simplesmente referir factos, tentar adivinhar outros e transmitir o que nos ia na alma naqueles momentos.

É um facto (que suponho que muita gente conhece) que a Força Aérea efectuou diversos ataques na raia da Guiné-Bissau, em locais onde estavam estabelecidas bases do PAIGC - nunca contra as populações locais. Os danos co-laterais podem surgir nestas situações - mas desconheço se os houve nestes casos concretos.

Para além das bases de fogos do PAIGC contra aquartelamentos próximos da linha da fronteira, um dos objectivos principais foi a barcaça que transportava pessoal e material que depois entrava no nosso território pelo Corredor de Guileje, nomeadamente até Ponte Balana. Aquele meio de transporte estava localizado próximo de Kandiafara e estrategicamente defendido por anti-aéreas (AAA) localizadas em Kandiafara e Simbeli.

Tendo-se decidido interromper, ou pelo menos limitar esses movimentos, foram realizadas diversas saídas para eliminar esse meio em simultâneo com ataques às anti-aéreas já referidas, de modo a limitar a sua acção contra os outros aviões. Eram missões que impunham um certo respeito, quando se via à nossa volta a fogachada da AAA (frase presunçosa, mais própria dos cenários da 2.ª Guerra Mundial, Coreia ou Vietnam, mas vou deixar ficar... embora reconheça que as pessoas possam ter tendência para exagerar a gravidade das situações em que estiveram envolvidos).

Para mim, que tive por várias vezes as funções de marcador dos voos da Esquadra 121 (vulgo oficial de operações da Esquadra - eu era tenente, mas fui muitas vezes o 2.º na hierarquia da Esquadra), cabia-me nessas funções nomear os pilotos para as missões que nos tinham sido destinadas para o dia. Calculam o meu incómodo ao indicar os nomes dos pilotos para estas missões de visível risco, sabendo que eles podiam ficar lá. Noblesse oblige, indicando eu os pilotos, naturalmente tinha que avançar logo com o meu nome, que é assim que podemos exigir algo aos outros... E nunca tive problemas na aceitação das nomeações que fazia, embora pudesse calcular o que eles estavam a pensar (*).

Integrarmo-nos num cenário de guerra não é acto que se consiga num momento; inicialmente sentimo-nos chocados com o que sucede à nossa volta - e que foge à nossa compreensão - existindo depois uma escalada de acontecimentos que, dia-a-dia, nos vai insensibilizando (ou embrutecendo) e criando em nós defesas que nos levam a aceitar os riscos com um sentimento de inevitabilidade - penso que isso sucedeu com todos nós num determinado momento da nossa comissão - "o que tiver que ser será" (**). No fim, tornámo-nos pessoas diferentes, não necessariamente piores mas certamente mais cépticos (realistas?) em relação ao que podíamos esperar da vida - pelo menos naquelas circunstâncias.

Mas, voltando à nossa história: Felizmente (e também para descanso da minha consciência) nessas missões na raia nunca perdemos nenhum piloto. Inicialmente deslocavam-se helis para eventuais evacuações, no caso de um piloto ter que se ejectar - ficavam de alerta em aquartelamentos do sul. Mas com o tempo (e sem perdas de Fiats) cada vez se afastavam mais esses meios para a base mãe, acabando por se fazer o alerta a partir da BA12; escusado será dizer que estávamos aviados se tivéssemos que nos ejectar sem esse apoio atempado - felizmente sabia o francês suficiente para perguntar a um local o caminho para a Guiné-Bissau...

Simultaneamente foram repetidamente atacados objectivos dentro do nosso território - nomeadamente estradas, pontes, pontos de cambança (travessia) nos rios - localizados em zonas não ocupadas pelas NT, cuja destruição permitisse limitar a progressão do IN. Este grande esforço da Força Aérea e da Esquadra 121 durante um determinado período do segundo semestre de 1973 (não consigo precisar datas - Setembro? Outubro?) teve resultados palpáveis, pois tanto ferro largado fez reduzir visivelmente as flagelações aos aquartelamentos, pelas dificuldades logísticas provocadas ao IN. Mas era um desgaste enorme para os aviões, pilotos, mecânicos e para a logística: havia que repor lotes de combustível e de armamento, fazer a manutenção e/ou reparação dos aviões, dar algum descanso ao pessoal. E não poderia prosseguir eternamente, por isso com o tempo esse esforço teve que ser reduzido - com o consequente aumento dos ataques aos nossos aquartelamentos.

Miguel Pessoa

Bissau > Bissalanaca >BA 12 > 1974 > O então Ten Pilav Miguel Pessoa..

Notas do autor:

(*) Também não havia muitos para escolher... O número de pilotos de Fiat era normalmente de 6 a 9, na melhor das hipóteses (se incluirmos 2 ou 3 oficiais superiores com funções de comando na BA12 e que, naturalmente, não voavam permanentemente na Esq 121) e chegou a estar reduzido a 4 ou 5 no início de Abril de 1973, depois do abate de 2 aviões em finais de Março (com a morte de um piloto e a inibição de outro por um período de 4 meses).

(**) Num artigo para um jornal, já há uns tempos, um jornalista perguntava-me, tendo em conta o que eu tinha passado com a minha ejecção e posterior recuperação, se tinha sentido medo quando voltei a voar naquele território. Respondi-lhe que "sim, pois não sou inconsciente". E como, em jeito de brincadeira lhe disse que "por vezes parecia que iam dois no avião, eu e o meu medo" (frase parva para dizer a um jornalista), isto foi logo puxado para o título do artigo, deturpando o seu sentido.

O que não expliquei ao jornalista (e que lamento agora) foi que, face ao esforço que para mim representou a ultrapassagem deste episódio, no caso de vir a ser novamente atingido e ter que me ejectar (voltando a passar por tudo o que já tinha passado), eu não tinha medo de morrer mas sim de ficar vivo...
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Notas de CV:

(1) Vd. poste de 15 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4528: Um velho filme de 8 mm que agora nos surpreende e delicia (George Freire / Miguel Pessoa)

Vd. último poste da série de 7 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4477: FAP (29): Encontros imprevistos (Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74)

Guiné 63/74 - P4596: Tabanca Grande (156): O açoriano Tomás Carneiro, ex-1º Cabo Cond Auto, CCAÇ 4745 (Binta, 1973/74)

1. Mensagem de Tomás Carneiro, ex-1.º Cabo Condutor da CCAÇ 4745/73 - Águias de Binta, o nosso novo camarada que veio expressamente dos Açores ao IV Encontro da Tertúlia (*), e que agora se apresenta à Tabanca Grande, em mensagem com data de 24 de Junho de 2009:

Apresento-me, Tomas Carneiro, ex-1.º Cabo Condutor da CCAÇ 4745 - Aguias de Binta

Caros amigos,
Como alguns já sabem quem eu sou, aqui vai um texto.

Eu estive na Guine entre 1973 e 1974. Era Condutor e cheguei à Guiné no dia 8 de Julho de 1973.

Fiz a viagem de avião. Chegados a Bissau estavam à nossa espera para nos levar, mais a bagagem para o Cumere. Pela estrada fora, uns em pé outros sentados, o saca do condutor mandava-nos baixar por causa do inimigo, estava a gozar com os piras, é claro que o faziamos, porque estavamos todos acagaçados. Chegados ao Cumeré, fomos para as casernas e ficámos por ali o resto do dia.

No domingo começa o IAO, dias depois embarcamos para Binta a bordo de uma LDG. Chegados a Binta, perguntámos:
- Onde estão as casernas?
- Não há casernas para ninguém.

Toca a dormir num barracão grande que lá havia, colchões de ar espalhados pelo chão e cada um que se cuide. Como condutor nunca dormi no mato, ia deixá-los lá e voltava ao quartel.

Fizemos colunas a Farim sem nenhum problema, mas eis que chegou o dia 24 de Setembro de 1973. Coluna para Farim, falta um carro e o Capitão diz-me para arranjar mais um. Vou ter com o Cabo Jacinto que estava sentado a olhar o rio Cacheu e digo-lhe para avançar a mando do Comandante. Ele barafusta comigo que não quer ir, mas um pouco mais tarde aparece, estava eu com o carro logo a seguir ao rebenta minas. Olha-me a rir e põe o seu 411 entre as duas Berliet. Dali a pouco arrancámos, não sei quanto tempo depois ele pisa uma mina anticarro e foi pelos ares. Com ele iam mais dois furrieis. O Jacinto ficou em muito mau estado. Quando pude fui vê-lo, estava a gritar com dores e a pedir água.

Depois de chegar o pessoal de Farim, seguimos, ele foi para a enfermaria e aguardávamos por noticias boas. Por volta das 13 horas ele estava junto do Dornier, mas já estava morto. Foi muito triste porque era um bom companheiro. Aquele dia marcou-me porque eu penso que tive qualquer coisa a ver com a sua morte, de tanto insistir com ele para avançar.

Desde o meio do Atlântico um abraço para todos.

Tomás Carneiro


2. Comentário de CV

Caro camarada Carneiro, bem-vindo à Tabanca que já conheces razoavelmente, porque nos deste o prazer da tua companhia no nosso IV Encontro.

A tua história de entrada não é nada alegre, antes pelo contrário, denotando que ainda sentes um complexo de culpa pelo que aconteceu ao teu camarada Jacinto (**). Infelizmente toda a gente que morreu, foi vítima do cumprimento de uma ordem que alguém lhe deu. Tu apenas foste o transmissor do mando do teu Comandante para ele.

O acaso quis que fosse a viatura do Jacinto a passar por cima da mina, mas podia ter sido a tua.

Está na hora de tirares esse peso de cima de ti.

Quando puderes manda uma foto do teu tempo de Guiné

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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 22 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4560: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (6): De São Miguel, Açores, com emoção e amizade (Tomás Carneiro, CCAÇ 4745, 1973/74)

Vd. também poste de 21 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4556: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (2): Os meus agradecimentos (José Pedro Neves, CCAÇ 4745, Águias de Binta )

(**) De seu nome completo, Manuel Jacinto Carreiro de Almeida Custódio, 1º Cabo Condutor Auto.

Guiné 63/74 - P4595: Cancioneiro de Canjadude (CCAÇ 5, Gatos Pretos) (2): Binóculos de Sol (José Martins)



Guiné > Região do Gabu > Canjadude > CCAÇ 5 (Gatos Pretos) > 1973: Interior do Clube de Oficiais e Sargentos de Canjadude... O ex- Fur Mil Carvalho, membro da nossa Tabanca Grande, é o segundo a contar da direita... No mural, na pintura na parede, pode ler-se: [gato] preto agarra à mão grrr....

Percebe-se que estamos no Rio Corubal com o destacmento de Cheche do lado de cá (margem direita) e... o mítico campo fortitificado de Madina do Boé, do lado de lá (margem esquerda)... Em 24 de Setembro de 1973, não em Madina do Boé, mas algures, na vasta e desertificada região do Boé, junto à fronteira (se não mesmo para lá da fronteira...), o PAIGC proclama "urbi et orbi", unilateralmente,  a independência da nova República da Guiné-Bissau... Madina do Boé, como se sabe, foi retirado pelas NT em 6/2/1969.


Foto: © João Carvalho (2005). Todo os direitos reservados.


1. Mensagem de José Martins (*), ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70, com data de 23 de Junho de 2009:

Caros amigos

Para suster a frustação de não ter sido terminada, pelo aparecimento de uma branca total, junto o texto completo da canção interrompida abruptamente [, na Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, em 20 de Junho de 2009, por ocasião do nosso IV Encontro Nacional].

Abraços
José Martins


CANCIONEIRO DE CANJADUDE

O isolamento em que nos encontrávamos, a necessidade de ocupar a mente com algo diferente que não fosse a actividade operacional, a tentativa de encurtar a distância que nos separava da metrópole, o sentido de improvisação e muitas mais razões, levaram a que os militares tomassem como suas as músicas em voga, na época, e lhes dessem nova vida, com factos que lhes estavam mais próximos e, sobretudo, que ajudavam a manter um espírito de corpo.

Os textos das canções ou poemas que se seguem, quando não identificam o autor, devem ser considerados de criação colectiva, pois que, se sempre há quem lance a ideia e lhe dê uma forma inicial, será o conjunto a sancioná-la e a transmitir-lhe a forma definitiva.




José Martins cantando os Binóculos de Guerra durante o IV Encontro  Nacional da Tertúlia, no dia 20 de Junho passado, em Ortigosa .

Foto: © Fernando Franco (2009). Todos os direitos reservados


BINÓCULOS DE GUERRA

Com certa frequência a rádio, mesmo a da Guiné, passava a canção Óculos de Sol, interpretada por Natércia Barreto, que falava das suas amarguras numa ida à praia. (**)

Da ida à praia ou ao mato, com óculos ou com binóculos, a adaptação foi fácil…

Já arranjei muito bem, tudo quanto convém,
P’ro mato levar!
A minha arma, o bornal e o cantil com a água
P’ra me refrescar.

O emissor/receptor e o meu camuflado
Também estão na acção.
E como é bom de ver não podia esquecer
As granadas de mão,

Que levo p’ra atirar, p’ra defender.
P’ra amedrontar e o turra deter.
Para aumentar, o seu sofrer!

Pois eu sei que te hei-de encontrar
Talvez deitado na orla do mato
Com a arma ao lado e eu vou passar
A tarde emboscado.

Já pensei não sair, mas eu tenho de ir
Subir à montanha.
Mas que hei-de fazer p’ra não ter de passar,
Naquela bolanha.

Então peço ao meu Deus que me ajude na mata
Sou um ser pequenito,
E que traga depressa da querida Lisboa
O meu Periquito!

P’ra eu me ir embora, desta guerra
P’ra voltar, à minha terra
P’ra deixar, esta Guiné!

Pois eu sei que quando voltar
Estarás no cais p’ra me abraçar
Adeus às armas, eu vou dizer
E a arma entregar!

...Vou Partir, vou voltar …


Dado que a Companhia de Caçadores 5 era uma subunidade de guarnição normal, constituída por oficiais, sargentos e praças especialistas do continente e praças recrutadas na própria província, era de rendição individual. Isto quer dizer que os elementos eram mobilizados e enviados para a companhia um a um, pelo que a sua substituição também era feita elemento a elemento. Daí que, para a substituição no fim da comissão, havia um certa carácter individualista, que também transparece no texto.

Nota: Este texto faz parte do Cancioneiro de Canjadude que incluiu canções e poemas escritos pelos elementos da companhia e que foram recolhidos, depois do ano 2000, em visitas cíclicas à Biblioteca do Estado-maior do Exército. Se as recolhas efectuadas vieram a ser publicadas, darão lugar à “QUINTA DOS GATOS PRETOS DE CANJADUDE” (***).
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 27 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4592: Bibliografia de uma guerra (51): "Cambança" de autoria de Alberto Branquinho (José Martins)

(**)Vd. letra orignal da canção Óculos de Sol
Natércia Barreto

Composição: Natércia Barreto

Já arranjei muito bem
Tudo quanto convém
PÂ’ra praia levar
O pente, o espelho, o baton
E o creme muito bom
PÂ’ra me bronzear
Tenho o meu rádio portátil
E o bikini encarnado
Também está no meu rol
E como é bom de ver
Não podia esquecer
Os meus óculos de sol

Refrão:
Que levo pÂ’ra chorar uuuuhuh
Sem ninguém ver
PÂ’ra não dar uuuuhuh
A perceber
PÂ’ra ocultar uuuuhuh
O meu sofrer
Pois eu sei que te hei-de encontrar
Talvez deitado à beira-mar
Com outra lado
E eu vou passar
A tarde a chorar

Já pensei não sair
Mas aonde é que eu hei-de ir
Com este calor?
O que é que eu hei-de fazer
PÂ’ra não ter que te ver
Com o teu novo amor?
Ver-te-ei com certeza
Mas eu peço à tristeza
Um pouco de controle
E pelo sim pelo não
Eu vou ter sempre à mão os meus óculos de sol

Vou chorar
Uuuuh uh
Vou sofrer
Uuuuh uh
Vou chorar
Uuuuh uh


(***) Sobre o Cancioneiro de Canjadude, vd. poste, da primeira série, de 28 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXCIII: Cancioneiro de Canjadude (CCAÇ 5, Gatos Pretos)

Sobre a CCAÇ 5, vd. ainda:

23 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXIV: O nosso fotógrafo em Canjadude (CCAÇ 5, 1973/74)

5 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCIX: O ataque de foguetões a Canjadude, em Abril de 1973 (João Carvalho)


4 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCIV: Os últimos dias de Canjadude (fotos de João Carvalho)

4 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCV: A última noite em Canjadude (CCAÇ 5) (João Carvalho)

5 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCVI: A dolce vita de Canjadude, até ao dia 27 de Abril de 1973 (João Carvalho)

6 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCIX: Salazar Saliú Queta, degolado pelos homens do PAIGC em Canjadude (José Martins)

7 deAbril de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXXX: CCAÇ 5 - Os Gatos Pretos de Canjadude (José Martins)

13 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4028: FAP (17): Do Colégio Militar a Canjadude: O meu amigo Tartaruga, o João Arantes e Oliveira (Pacífico dos Reis)

sábado, 27 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4594: Fichas de Unidades (3): História do BART 645 (José Martins)


1. Sobre este Batalhão existem já 2 postes no blogue (*), um do Carlos Brito e outro do Jorge Santos, pelo que aqui fica o convite ao Carlos Brito, para formar ao lado dos nossos Camaradas, contar-nos as suas estórias e aderir ao nosso “tabancal”...

2. Também registamos com apreço o nosso melhor agradecimento, pela preciosa ajuda prestada pelo nosso já habitual "colaborador permanente", o José Martins... Obrigado!

O envio da História deste batalhão ao Carlos Brito, pelo José Martins, foi antecedido de uma troca de e-mails entre estes dois camaradas e o Rogério Cardoso, do mesmo batalhão do primeiro, que a seguir expomos:

E-mail do José Martins com data de 25JUN2009 - Assunto: BART 645:
Luis,
Pediste-me, em 13JUN09 para fazer a ficha do BART 645.
Aqui vai ela em anexo, como também vai para o Carlos Brito, que ainda não entrou para a nossa tertúlia.
Parece-me, pelo seu e-mail, que está longe de nós. Será verdade?
Avança Carlos Brito, estás com a tua gente.
Um abraço,
José Martins

Na réplica o Carlos Brito escreveu:
Amigo José Martins,
Obrigado por me teres endereçado a ficha do nosso Batalhão. Não sei como conseguiste reunir tantos e preciosos elementos ao fim de 40 e tal anos, pois, penso eu, deve ter sido muito trabalhoso.
Não tenho reparos a fazer, excepto talvez no lema, que julgo ser BRAVOS, LEAIS E FIÉIS.

Até recordei alguns nomes como o do Cap Abílio dos Santos Sousa - dos Reabastecimentos -, uma excelente pessoa, que um dia encontrei em Lisboa e cujo nome já tinha esquecido.
Também não percebi esta indicação de que o Sousa Paz, era Oficial de Operações e Informações-Adjunto. Ele era sim, e sempre foi, o Oficial de Operações e Informações do BART, excepto talvez no início da sua formação, em Santa Margarida, em que, recordo, esse lugar era de outro Oficial.
Também andei estes anos todos convencido que o nosso CMDT - Sousa Paz, e o Fur Mil Graça (do BART 643), tinham sido condecorados e tal não aconteceu.
Quanto a entrar na tertúlia, estou só à espera que os "operacionais" comecem a escrever.
Um abraço,
Carlos Brito

Nova mensagem do José Marcelino Martins, para o Carlos Brito, com data de 28JUN2009 - Assunto: BART 645:
Caro Brito,
É um prazer para mim poder colocar à disposição dos camaradas, aquilo que para mim é um “hobby”.
Como já referi, noutros locais e noutras circunstâncias, apenas junto pontas soltas de história, e dou-lhes outra forma: aquela que gostaria para mim.
O cargo “Oficial de Operações e Informações-Adjunto”, suponho que quer dizer um duplo cargo: “Oficial de Operações e Informações e Adjunto do Comandante”. Terminologias militares.
Nunca seremos demais para dar a conhecer as nossas vivências em África e, mormente, na Guiné. Não esperes mais. Avança, que outros te seguirão!No texto só falta o “ex-libris” do Batalhão ou das companhias, mas não os encontrei em nenhum local.
Um abraço,
José Martins
Fur Mil Trms Inf da CCAÇ 5 (anterior 3ª CCAÇ 1) - Nova Lamego e Canjadude (JUN68 a JUN70)

E-mail resposta do Carlos Brito:
Caro José Martins,
Reenviei o documento sobre o nosso batalhão ao Rogério Martins Cardoso (um dos condecorados), que criou a Associação de Amizade do BART 645.
Ele, tal como tu, tem-se dedicado por "hobby", a escrever a história da nossa Unidade e não só.
Além disso, ele consegue reunir parte do pessoal em almoços/convívios anuais.
Se quiseres, aqui fica o seu endereço:
Rogério Cardoso,
E-mail: aguiasnegras.645@gmail.com
Obrigado e um abraço,
Carlos Brito

Novo e-mail do José Marcelino Martins, para o Rogério Cardoso, com data de 26JUN2009 - Assunto: BART 645 “Águias Negras”:
Camarada Cardoso,
Tive conhecimento do teu endereço através do e-mail abaixo, do Carlos Brito.
Este e-mail tem como finalidade convidar-te para aderires como membro à nossa TABANCA GRANDE, como é conhecido o blogue do Luís Graça e que, certamente, já conheces.
Pelo que o Brito diz, tens como “hobby” a história da Guiné (que é também a nossa história) e todos somos poucos para a escrever, senão na primeira pessoa do singular, pelo menos no plural.

Um abraço do,
José Martins


Foto do Carlos Vinhal (inserida no poste P2894), que foi Fur Mil da CART 2732, acompanhado do Salifo Seidi (conhecido por Toni), em Mansabá, junto ao Memorial com os brasões das Unidades que por lá passaram. À esquerda, em baixo, o brasão do BART 645 (Águias Negras).

BATALHÃO DE ARTILHARIA Nº 645

HISTÓRIA

Mobilizado no Regimento de Artilharia Ligeira nº 1, sito em Lisboa, teve como Comandante o Tenente-coronel de Artilharia António Braancamp Sobral, tendo também comandado esta unidade o Major de Artilharia Raul Pereira Batista. Desempenharam o cargo de 2º Comandante os Majores de Artilharia José da Glória Alves, Mário Martins Cabrita Gil, Raul Pereira Batista e Abílio dos Santos Sousa. O Capitão de Artilharia Carlos de Sousa Paz, desempenhava o cargo de Oficial de Informações e Operações, Adjunto.

Adoptou como Divisa “AGUIA NEGRAS” e “BRAVOS SEMPRE FIÉIS”, embarcando em Lisboa em 04 de Março, tendo desembarcado em Bissau em 10 de Março de 1964.

Compunham a orgânica deste batalhão, as subunidades:

Companhia de Comando e Serviços – sob o comando do Capitão de Artilharia José Manuel Lobo Silvestre Graça;
Companhia de Artilharia nº 642 – sob o comando do Capitão de Artilharia Francisco Matias Barão da Cunha;
Companhia de Artilharia nº 643 – sob o comando do Capitão de Artilharia Ricardo Lopes da Silveira;
Companhia de Artilharia nº 644 – sob o comando do Capitão de Artilharia Vítor Manuel da Ponte da Silva Marques (**). Também comandaram esta subunidade ao Capitães de Artilharia Nuno José Varela Rubim e José Júlio Galamba de Castro.

Comando e Companhia de Comando e Serviços

O batalhão ficou inicialmente sediado em Bissau, na missão de intervenção e reserva do CTIG, tendo as suas subunidades sido atribuídas a outros batalhões.

Embora mantendo o comando sedeado em Bissau, em 23 de Maio de 1964, estabeleceu um Posto de Comando Avançado (PCAv), para coordenar os subsectores de Mansabá e Bissorã, que tinham sido retirados da área da responsabilidade do Batalhão de Caçadores nº 512.

A 22 de Julho de 1964, com a saída de sector do BCAÇ 512, o BART 645 assume a responsabilidade do Sector C2, instalado em Mansoa, que abrangia os subsectores de Mansoa, Mansabá, Bissorã e Enxalé. Em 29 de Agosto de 1964 o Sector C2 é reduzido do subsector de Enxalé e, por subdivisão do subsector de Bissorã é criado, em 9 de Dezembro de 1964, o subsector de Olossato.

O Sector C2 é, em 11 de Janeiro de 1964, designado por Sector O3. Mais tarde, em 9 de Dezembro de 1965 e por subdivisão do subsector de Bissorã é criado o subsector de Olossato.

Esta unidade, com o apoio das suas subunidades orgânicas e/ou outras que lhe foram atribuídas, desenvolveu a sua actividade, abrindo o itinerário entre Mansabá e Bafatá, desenvolveu na região do Oio, que causaram baixas ao inimigo, as operações “Mansodé”, “Irã”, tendo ainda tomado parte na operação “Notável”, de 04 a 23 de Novembro de 1964, conduzida pelo Batalhão de Cavalaria nº 705.

Do material capturado durante as operações em que tomou parte, destacam-se duas metralhadoras pesadas, dez metralhadoras ligeiras, noventa e nove pistolas-metralhadoras, vinte e quatro espingardas, um lança-granadas foguete, vinte e oito minas, duzentas e três granadas de armas pesadas e dezassete mil trezentas e onze munições de armas ligeiras.

Foi rendido pelo Batalhão de Caçadores nº 1857, em 02 de Fevereiro de 1966.

Tombaram em Campanha os seguintes militares:

ANTÓNIO ABRANTES CARDOSO, Soldado Sapador nº 1612/63, solteiro, filho de Abílio Ferreira Cardoso e Maria Abrantes Cabral, natural da freguesia de Folhadosa, concelho de Seia, faleceu em 13 de Fevereiro de 1965 no Hospital Militar 241 – Bissau, vítima de acidente de viação na estrada Nhacra – Mansoa, perto da tabanca de Dugal. Foi inumado no Cemitério de Folhadosa.

JOSÉ AUGUSTO DE JESUS, Soldado Sapador nº 1614/63, solteiro, filho de Augusto Maria de Jesus Lino e Maria de Jesus, natural da freguesia de Resgatados, concelho de Montemor-o-Novo, faleceu em 13 de Fevereiro de 1965 no Hospital Militar 241 – Bissau, vítima de acidente de viação na estrada Nhacra – Mansoa, perto da tabanca de Dugal. Foi inumado no Cemitério de Bissau – Campa 1400.

JOSÉ AUGUSTO JATA, Soldado Atirador nº 40/62 (recrutamento local), solteiro, filho de Gulfata e Tambo, natural da freguesia e concelho de Mansoa (Guiné), faleceu em 5 de Março de 1965 no Hospital Militar Principal, em Lisboa, vítima de doença. Foi inumado no Cemitério do Alto de São João, em Lisboa.

Distinguiram-se e foram condecorados os seguintes militares:

MAMADU BARI, Soldado de Artilharia, por acção praticada no dia 28 de Julho de 1964, foi condecorado com a medalha da Cruz de Guerra 2ª Classe, conforme Ordem do Exército nº 29, IIIª Série de 1966.
MÁRIO DE JESUS RODRIGUES DOS SANTOS, Soldado de Artilharia Condutor, por acção praticada no dia 27 de Junho de 1965, foi condecorado com a medalha da Cruz de Guerra 4ª Classe, conforme Ordem do Exército nº 13, IIIª Série de 1966.

ROGÉRIO MARTINS CARDOSO, Furriel Miliciano do Serviço de Material, foi condecorado com a medalha da Cruz de Guerra 4ª Classe, conforme Ordem do Exército nº 13, IIIª Série de 1966.

Companhia de Artilharia nº 642

Entre 13 de Abril e 04 de Maio de 1964 operou na área de Mansoa-Mansabá, sob a orientação do Batalhão de Caçadores nº 512, tendo passado para a área do seu batalhão, em 24 de Maio de 1964, como subunidade de intervenção e reserva, tendo efectuado operações nas regiões de Manhau, Cubonge e Cã Quedo.

A 12 de Setembro de 1964, rendo a CCAÇ 594 em Mansabá, assumindo a responsabilidade desse subsector, tendo instalado um pelotão na povoação de Manhau, em 9 de Junho de 1965.

É rendida em Mansabá pela Companhia de Caçadores nº 1421, sendo transferida para Bissau para integrar o dispositivo de segurança e protecção de instalações e populações da área.

Tombaram em Campanha os seguintes militares:

JOSÉ ROSA LOURO, Soldado Atirador nº 1818/63, casado com Emília Conceição Marques Louro, filho de Joaquim Louro e Josefina Rosa, natural da freguesia de Portela, concelho de Abrantes, faleceu em 2 de Maio de 1964, no Hospital Militar 241, em Bissau, vítima de doença. Foi inumado no Cemitério de Bissau, Campa nº 817.

ANTÓNIO FERREIRA DA ROCHA CASEIRO, Soldado Atirador nº 1924/63, solteiro, filho de Joaquim da Rocha Caseiro e Lúcia Pereira, natural da freguesia de Sobrado, concelho de Valongo, faleceu em 6 de Junho de 1964, vítima de ferimentos em combate em Mansabá. Foi inumado no Cemitério de Bissau, Campa nº 867.

ALVARO HENRIQUE ESPINHEIRA, Soldado Atirador nº 1826/63, solteiro, filho de Joaquim Espinheira e Conceição Oliveira, natural do Lugar de Bôco, freguesia de Lourosa, concelho de Vila da Feira, faleceu em 27 de Junho de 1964, vítima de ferimentos em combate, em Mansoa. Foi inumado no Cemitério de Bissau, Campa nº 906.

JOSÉ AUGUSTO MARTINS NETO, Soldado Atirador nº 1982/63, solteiro, filho de Rafael Augusto e Cacilda de Jesus Martins, natural da freguesia de Torre de Torrenho, concelho de Trancoso, faleceu em 16 de Dezembro de 1964 no Hospital Militar 241, vítima de acidente de viação. Foi inumado no Cemitério de, Campa nº 1281.

HUMBERTO DE JESUS JORGE, Soldado Atirador nº 2633/63, solteiro, filho de António Sacramento Borges e Augusta Martins, natural do lugar de Sobreda, freguesia de Morais, concelho de Macedo de Cavaleiros, faleceu em 30 de Maio de 1965 no Hospital Militar 241, em Bissau, vítima de doença. Foi inumado no Cemitério de Bissau, Campa nº 1727.

ANTÓNIO VIEIRA DOS REIS, Soldado Condutor Auto Rodas nº 2285/63, casado com Marinha Gomes Vieira, filho de Manuel Costa Reis e Rosalina Vieira da Luz, natural do lugar de Beire, freguesia de São João de Ver, concelho de Vila da Feira, faleceu em 19 de Outubro de 1965 no Hospital Militar Principal, em Lisboa, para onde tinha sido evacuado em 16 de Outubro de 1965, vítima de ferimentos em combate. Foi inumado no Cemitério de São João de Ver.

SIFA CÓ, Soldado Condutor Auto Rodas nº 278/63, casado com Judi Sasu, filho de Sasufini Cá e Omene Cá, natural da freguesia de Nossa Senhora da Candelária, concelho de Bissau, faleceu em28 de Dezembro de 1965 no Hospital Militar Principal, em Lisboa, vítima de acidente de viação na estrada de Bolama para o aeroporto em 24 de Dezembro de 1965. Foi inumado no Cemitério do Alto de S. João, em Lisboa.

Distinguiram-se e foram condecorados os seguintes militares:

FELIX RODRIGUES FERREIRA, 1º Cabo Artilharia, por acção praticada no dia 28 de Julho de 1964, foi condecorado com a medalha da Cruz de Guerra – 2ª Classe, conforme Ordem do Exército nº 22, IIIª Série de 1965.

FRANCISCO MATIAS BARÃO DA CUNHA, Capitão de Artilharia, por acção praticada no dia 27 de Junho de 1964, foi condecorado com a medalha da Cruz de Guerra 3ª Classe, conforme Ordem do Exército nº 20, IIª Série de 1966.

MOISES DA SILVA BASTO, 1º Cabo de Artilharia, por acção praticada no dia 28 de Novembro de 1965, foi condecorado com a medalha da Cruz de Guerra 3ª Classe, conforme Ordem do Exército nº 29, IIIª Série de 1966.

Companhia de Artilharia nº 643

Vai para a área de Gampará, em reforço do Batalhão de Caçadores nº 599, no período de 22 a 26 de Abril de 1964, seguindo, a 29 de Maio desse ano, para Mansabá, para tomar parte numa operação realizada pelo seu batalhão.

Foi deslocada, como unidade de reforço e para incrementar a actividade operacional, para o subsector de Bissorá em 8 de Junho de 1964. Assumiu a responsabilidade daquele subsector, em 8 de Junho de 1964, rendendo a CCAÇ 508, até ser rendida pela CCAÇ 1419, em 11 de Janeiro de 1966.

Em 12 de Janeiro de 1966, é transferida para Bissau para integrar o dispositivo de segurança e protecção de instalações e populações da área.

Tombaram em Campanha os seguintes militares:

ANTÓNIO EMILIO DE MELO, 1º Cabo Atirador nº 1788/63, solteiro, filho de Maria Helena de Melo, natural da freguesia de São João das Areias, concelho de Santa Comba Dão, faleceu em 16 de Agosto de 1964, vítima de ferimentos em combate em Bedanda. Foi inumado no Cemitério de, Campa nº 1055.

MANUEL BERNARDES, Soldado atirador nº 1952/62, solteiro, filho de Maria Esperança, natural da freguesia de Figueira de Lorvão, concelho de Penacova, faleceu em 7 de Novembro de 1964, no Hospital Militar 241, em Bissau, vítima de acidente, descarga eléctrica. Foi inumado no Cemitério de Bissau, Campa nº 1171.

Distinguiram-se e foram condecorados os seguintes militares:

ANTÓNIO LOPRES LOURENÇO, Alferes Miliciano de Infantaria, foi condecorado com a medalha da Cruz de Guerra 2ª Classe, conforme Ordem do Exército nº 21, IIª Série de 1966.

FRANCISCO MENDES MADEIRA, Soldado de Artilharia, foi condecorado com a medalha da Cruz de Guerra 4ª Classe, conforme Ordem do Exército nº 13, IIIª Série de 1966.

HELDER MARQUES DO CARMO ÁGUAS, Furriel Miliciano de Infantaria, foi condecorado com a medalha da Cruz de Guerra 3ª Classe, conforme Ordem do Exército nº 12, IIIª Série de 1966.

JOSÉ ANTÓNIO FERNANDES COELHO, 1º Cabo de Artilharia, foi condecorado com a medalha da Cruz de Guerra 4ª Classe, conforme Ordem do Exército nº 13, IIIª Série de 1966.

JOSÉ AUGUSTO DA SILVA MARQUES, Soldado de Artilharia, por acção praticada no dia 3 de Outubro de 1965, foi condecorado com a medalha da Cruz de Guerra 4ª Classe, conforme Ordem do Exército nº 13, IIIª Série de 1966.

RICARDO LOPES DA SILVEIRA, Capitão de Artilharia, foi condecorado com a medalha da Cruz de Guerra 3ª Classe, conforme Ordem do Exército nº 20, IIª Série de 1966.


Companhia de Artilharia nº 644

Depois de ter intervenção na área de Mansabá, no período de 13 de Abril a 4 de Maio de 1964, sob a orientação do Batalhão de Caçadores nº 512, regressa á área do seu batalhão, como unidade de reforço e para incrementar a actividade operacional, em 24 de Maio de 1964.

Em 15 de Agosto de 1964 foi substituída na guarnição de Mansabá pela CCAÇ 1421 e transferida para Mansoa, na qualidade de subunidade de intervenção e reserva, tendo efectuado operações nas regiões de Benifo e Sinre.

A 28 de Outubro de 1965, com a chegada da CART 1525, assume a responsabilidade do subsector de Mansoa, guarnecendo o destacamento de Cutia, e em 15 de Outubro de 1965, o destacamento de Encheia.

De 24 de Janeiro de a 4 de Fevereiro de 1966, troca, de novo, a posição com a CART 1486, até à chegada da CART 1525, após o que é deslocada para Bissau.

Tombaram em Campanha os seguintes militares:

MANUEL DA SILVA GAGO, 1º Cabo Radiotelegrafista nº 2409/63, solteiro, filho de Francisco da Cunha Gago e Maria Ascensão Silva, natural da freguesia e concelho do Fundão, faleceu em 15 de Agosto de 1965 vítima de acidente de viação na estrada de Mansabá – Mansoa, junto a esta localidade. Foi inumado no Cemitério de Bissau, Campa nº 1884.

LUIS CIRIACO JOSÉ VITORINO, 1º Cabo Condutor Auto Rodas nº 2203/63, solteiro, filho de Luís Fernando Vitorino e Maria José Vitorino, natural da freguesia e concelho de Faro, faleceu em 26 de Janeiro de 1965, vítima de ferimentos em combate. Foi inumado no Cemitério de Faro.


As Companhias de Artilharia nºs 642 e a 643 regressam à Metrópole em 27 de Janeiro e as restantes forças (CCS e CART 644) em 9 de Fevereiro de 1966.

(José Martins)

Texto: © José Martins (2009). Direitos reservados
Foto: © Carlos Vinhal (2009). Direitos reservados
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Notas de M.R.:

(*) Vd. outros postes do BART 645 em:

Vd. também o anterior poste desta série em:


(**) Informação adicional do Joaquim Mexia Alves, publicada sob a forma de comentário a este poste:


O Capitão de Artilharia Vítor Manuel da Ponte da Silva Marques foi mais tarde comandante da CART 3494, do BART 3873, Bambadinca, ao qual pertenci.

Tive com ele uma relação muito amiga e fiz com ele algumas viagens de Vila Nova de Gaia para Lisboa.

Era um homeme já com alguma idade para ser capitão e ao que sei chegou a estar preso na Índia quando da invasão.

Era um bom homem que andava sempre com uma espécie de bastão.

Foi substituído, salvo o erro, na CART 3494 pelo então Cap António Pereira da Costa, aqui também "atabancado".

Julgo eu que era o Cap Silva Marques que utilizava a expressão "salta-me a cabeça", e que depois o Cap Pereira da Costa continuou a utilizar.

Tinha um Alfa Romeo cheio de gadjets no interior, entre eles uma televisão. Estamos a falar de 1971, na Serra do Pilar.

Fico triste em saber que já faleceu.

Sempre me dei optimamente com ele e julgo que a sua companhia também tinha simpatia pelo Cap Silva Marques.

Abraço camarigo para todos

Guiné 63/74 - P4593: Controvérsias (28): As influências dos grandes mestres (Hélder Silva / José Brás)

1. Comentário de Hélder Sousa ao Poste P4587: Vindimas e Vindimados (José Brás) (*):

Zé Brás
Aquela parte do texto seguido, sem pontuação, é sem dúvida um belo teste à nossa capacidade de improvisar, imaginar as falas, os autores, até, se quisermos, podemos dar o "tom" que acharmos mais convenientes. Bem pensado!
Mas, aqui p'ra nós, não há por aí uma "inspiraçãozinha saramagiana"?
Fico a aguardar o próximo.

Um abraço
Hélder S.


2. Comentário de José Brás ao Comentário do Hélder Sousa, enviado para mim, hoje mesmo:

Pois é, Hélder!
"Cutucaste a onça com vara curta" ¹. Quer dizer, meteste o dedo na ferida.
Desatar uma pequena discussão sobre o que é originalidade e imitação, é um exercício, a meu ver, absolutamente meritório num espaço e num (a nossa terra) tempo (o nosso tempo) de suaves marés, de acomodar sem chatices num politicamente correcto que garante o verniz e a polidez do trato mas mata de hipoxia a existência de contrários, motor, afinal, que sempre empurrou o mundo em frente.

Estás de acordo, pelo menos até aqui?

Na verdade, com esse quadro, lucram os medíocres, os bufos do reino com suas macaquices e perdem os que querem romper e abanar o sistema, atirados para o saguão do esquecimento.
Quanto a mim não seria nenhum drama que o mundo se dividisse em milhões de cabeças e diferenças no olhar sobre as coisas, se se pudessem fechar as centrais da manipulação massiva e global, as máquinas triturantes do pensamento individual e, pior ainda, da capacidade individual e do desejo de pensar, fornecendo no mercado a preços cómodos, o pronto a vestir cultural.

Aqui no blogue tenho assistido com frequência a alguma retracção sobre o acto de dizer "não estou de acordo", ou então, assumindo a diferença, resvalar algumas vezes para um certo desaforo.
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, diremos, não é?

Mas peguemos no "Saramagismo" daquela pequena parte do "De bicicleta na guerra".

Mas peguemos-lhe com seriedade e discernimento, sem afirmações ofensivas nem recusas ofendidas; distinguindo muito bem o que é influência daquilo que, por vezes, não passa de macaqueação pobre, senão mesmo, de roubalheira chapada.

Bem! Sendo a tua pergunta já uma afirmação, não tens que te encolher por a teres colocado assim, antes e ao contrário, te sentires nela homem inteiro apenas, e amigo, ainda por cima, aguardando a minha resposta.

Pronto, lá vem ela.

Pode dizer-se que sim, Hélder... e pode dizer-se que não.
Eu cá, sem complexos nem preconceitos, dir-te-ei que talvez.
E poderei também adiantar que nem sei se é uma certeza segura se uma segura incerteza.

Necessário é dizer que, primeiro, tendo sido Saramago uma das mais galvanizantes leituras da minha já longa vida, difícil seria recusar-lhe influências.
Caramba! Então não é que Saramago me deu a conhecer aquele carreiro que com suas juntas de bois carregava calhaus para Mafra, fazendo-me sentir carreiro ou abegão ou outro nome qualquer da profissão e do trabalho de conduzir os animais e as carroças nos caminhos do mundo; chamando o gado, forçando a rota, empurrando, puxando, gritando, já com a cabeça cheia do caldo quente da noite que se aproximava, da noite com sua mulher, sentindo a cama, o arredio coito. Sentia-me eu, também, naquela linhas do "Memorial", na dor da ausência semanal, no gozo antecipado pela memória do antes, na imagem de uma mulher à espera do seu quinhão, roubado, afinal, por ordens do senhor D. João V.

E a grandeza humana de Blimunda, mulher amante, mulher sonho, mulher terra?

E o Sete Sóis, bravo e fraco ao mesmo tempo, como todo o homem que tem a sorte de encontrar sua mulher?

Já havia vivido as dores e as coragens desta gente que se levantava do chão, em Montemor, para exigir trabalho e salário e dignidade.
Saramago foi meu amigo de alguns anos.
Não vou explicar-te aqui porque é que conjugo o verbo no pretérito, dir-te-ei, apenas que por confirmação do que ele próprio disse a uma colega minha em pleno voo para o Rio, quando o apresentei à tripulação e ela, surpreendente e corajosa se descaiu com um "o senhor não é lá muito simpático", recebendo dele como troco "os escritores são para se lerem, não para se conhecerem".

Direi ainda que Saramago foi a primeira pessoa a conhecer o "Vindimas no Capim", ainda andavam as palavras apenas fixadas em A4's caídas da minha máquina de escrever.

E mais! Que terei sido eu um dos que primeiro conheceu a Maria Sassa que com sua vara riscou o chão e libertou a Península como "Jangada" solta no mar em busca das metades que todos nós temos em África e na América.
Não irias tu, Hélder, imaginar que tal admirador e amigo ficaria imune à riqueza da palavra do mestre!

Aliás, armado em xico esperto, poderia mesmo dizer-te que, em termos de arte, está tudo inventado e somos todos apenas relógios de repetição e eco do que outros disseram antes ou... que irão dizer no futuro.

O próprio Saramago há-de parecer outro qualquer em algum sítio do que fala e escreve.
Com efeito, então, pode aceitar-se que aquele pedaço de escrita, amontoando falas de faladores diversos e diferentes nas convicções, nos medos e nas coragens, se chega muito à forma Saramagina.
Porém, a meu ver, também se diferencia num pormenor, sendo em Saramago o meio de colocar no mesmo saco o narrador e o leitor, quer dizer, desatando a trama em dois tempos num só, na minha forma de escrever, quase sempre, e também ali, eu tento envolver o narrador, o personagem e o leitor, três tempos portanto, na mesma trama.

É minha intenção, de facto, retirar o personagem do simples papel de relatado numa pessoa que se conta, sendo contado, e se envolve com o contador (emissor) e com o leitor (receptor) transportado também para o centro do drama.
Quando saiu o "Vindimas no Capim" críticos e jornalistas da especialidade perguntavam-me como havia conseguido. E eu que nem me havia apercebido da coisa, respondia apenas: - "Não sei. Serei assim mesmo na vida".

Também alguns adiantaram que o livro sabia ainda a neo-realismo. Eu relia, comparava e não achava onde, pensando que talvez o dissessem porque estava lá escarrapachado a vivência em Vila Franca e no caldo cultural de então, ou, mais distante, o facto de nele se falar de abusados e explorados, de senhores e abusadores.
Continua a parecer-me, porém, que, fora isso, na forma e no estilo narrativo, as semelhanças serão muito poucas.

Outra coisa bem diferente é alguém pensar-se escritor (e eu não me considero tal), despreocupado da realidade e do seu povo, abusado e sofrido.
E tu sabes disso. Disso e de que não vem mal ao mundo nos sinais de tal alegada influência, apanhada aqui e ali.

E para já... um grande abraço, preferindo enviar o meu comentário ao teu comentário porque, imodestamente me parece pedagógico este exercício, ainda que possa suscitar dúvidas a sua publicação.
José Brás


3. Comentário do Editor:

Caros camaradas
Resolvi publicar hoje mesmo estes comentários do Hélder Sousa e do José Brás, porque nem sempre se trocam impressões a este nível.

Obrigado a ambos.
CV
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 26 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4587: Vindimas e Vindimados (José Brás) (4): De bicicleta na guerra

Vd. último poste da série de 26 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4590: Controvérsias (21): O helicóptero do PAIGC, visto na zona do Cacheu pela 1ª vez na madrugada de 13/10/64 (António Bastos)