Memória dos lugares: Por esse Geba acima... até Contuboel, o eldorado (*)
por Luís Graça
(foto à esquerda, o ex-Fur Mil Henriques, Ap Arm Pes Inf, CCAÇ 2590/CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, Junho de 1969/Março de 1971)
Foto: © Luís Graça (2005). Direitos reservados
Aos marinheiros das LDG,
que também foram barqueiros de Caronte;
Aos meus camaradas, tugas, da CCAÇ 2590,
futura CCAÇ 12,
que fizeram comigo esse trajecto Bissau-Contuboel
em 2 de Junho de 1969;
Ao meu conterrâneo e amigo Agnelo Pereira Ferreira,
da CCS do BCAÇ 2852,
que encontrei em Bambadinca, nesse dia;
Ao Renato Monteiro, o homem da piroga,
amigo de mês e meio em Contuboel,
e hoje um homem de múltiplos fotografares;
aos meus soldados instruendos, guineenses, da CCAÇ 2590,
futura CCAÇ 12;
enfim, ao povo gentil de Contuboel...
L.G.
Como um cão apanhado na rede,
repetias tu,
nessa madrugada de 2 de Junho de 1969,
no fundo de uma lata de uma LDG,
atracada ali ao lado do mítico cais
do Pijiguiti,
entre fardos de colchões de espuma,
camas metálicas,
redes mosquiteiras,
trens de cozinha,
tendas,
cacifos,
mesas,
cadeiras,
cunhetes de munições,
Berliets e Unimogs novinhos em folha,
velhas malas de viagem atadas com cordões,
homens esverdeados,
de farda engomada
e ar assustadiço,
pensando em minas anfíbias,
crocodilos,
hipopótamos,
ou nem sequer pensando em nada,
bêbedos de sono,
enjoados,
suados,
tirando dos bornais
as primeiras latas de Fanta e de Coca-Cola,
a água suja do imperialismo,
cliché de todos os Maios de 68
que não viveste…
- Olha, Tite, olha, Porto Gole,
que, quando embrulham, ouve-se em Bissau!
Guiné > Rio Geba > A bordo da LDG >
O Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74... Veja-se a sua deliciosa descrição do Xime, quando ele estava hospedado, aguardando embarque para Bissau, onde foi entregar viaturas para abate...
Foto: © Juvenal Amado (2008). Direitos reservados. (2005).
… Mas, não, ninguém diz nada,
olhos como binóculos
assestados nas margens espessas do rio…
Para trás fica uma cidadezinha
que fervilha de vida,
logo pela manhã,
gente que transpira,
entre a Amura e o Grande Hotel,
gente que inspira,
à tona de água,
água de Lisboa, manga di sabi,
gente que labuta,
nas pirogas ou nas bolanhas,
e gente que conspira,
no Pilão da clandestinidade,
dando que fazer à PIDE/DGS
de Herr Spínola.
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xime> 1969: A LDG 105 pronta a descarregar mais um contingente de tropas no cais do Xime, a caminho da Zona Leste. O Geba Estreito, a partir do Xime, só agora navegável através de LDM e LDP
Foto: © Humberto Reis (2005). Direitos reservados.
No estuário do Geba há um silêncio de morte,
no Geba há morte,
uma ligeira brisa de morte,
vais para o leste,
não para o norte,
que rima com Choquemone,
nem para o sul,
onde as almas penadas gemem
Oh! Gandembel das morteiradas…
Aqui apenas se ouve o barulho dos motores da LDG,
Lancha
de Desembarque
Grande,
daquelas como nos filmes e romances,
da II Guerra Mundial,
Norman Mailer,
os nus e os mortos,
mas nem sequer há guia turístico,
nem bar aberto,
neste cruzeiro sem regresso para alguns de nós.
Passado o Cumeré,
Geba acima,
como há 500 anos atrás,
no tempo dos primeiros exploradores,
portugueses,
que baptizaram Porto Gole,
tugas, se faz favor,
que ainda está para vir
o tempo do politicamente (in)correcto.
Tuga é
o epíteto com que te vão insultar na mata,
quando a guerra começar a sério.
- Vai para a tua terra, tuga,
que esta é nossa terra bem amada,
a terra dos nosso avós! -
cantam os pioneiros do PAIGC,
a caminho da escola,
de lencinhos tricolores ao pescoço
e Kalash na mão,
sob a bandera di strela negro,
que há-de unir todos os guinéus,
dos Felupes no norte
aos nalus no sul.
Vamos no gosse gosse, pá,
que o calor já aperta,
a caminho da zona leste,
terra de fulas forros e futa pretos,
o chão fula,
dos antigos conquistadores,
valentes guerreiros,
exímios cavaleiros,
lês na brochura de propaganda
que te deram no Niassa,
vamos à vida,
que a morte é certa,
camaradas,
antes que seja tarde,
antes que caia o pano da história,
antes que o sol se ponha em África,
enquanto a terra vai estreitando as águas barrentas,
como uma cobra gigante
que sufoca lentamente a sua presa…
Fuzileiros,
hercúleos,
heróicos,
barbudos,
garbosos,
bronzeados,
em tronco nu,
de garrafa de cerveja na mão
(bazuca, aprenderás mais tarde),
marinheiros,
aventureiros
heróis do mar,
nobre povo,
nação valente,
assustam bichos e homens
com tiros de morteirete,
próximo da temível Ponta Varela.
Exorcizam os diabos negros
que infestam o tarrafo
e espantam os irãs
acocorados nos cerrados palmeirais
que circundam as margens do rio.
- Turras a estibordo, patrão ?!
... Não, é apenas um ritual de passagem,
sempre que se passa na Ponta Varela,
para desacagaçar os piras,
tirar-lhe os três,
que eles vão hirtos e tensos,
recolhidos como meninos de coro,
almas virgens,
de sobrepeliz
e vozes celestiais,
no cacilheiro do Geba,
em procissão,
como se fossem caminho da eternidade…
- Senhor imediato,
obrigado pela boleia,
mas por favor não seja chato,
que há aqui gente que enjoa…
Um solitário T-6,
protector como um anjo da guarda,
sobrevoa a foz do Corubal,
um pouco acima da Ponta do Inglês,
um outro topónimo que aprenderás mais tarde,
com sangue, suor e lágrimas,
três palavras tatuadas no braço,
Guiné 69/71,
amor de mãe,
nunca vi escrito amor de pai,
meu pai, meu velho, meu camarada,
que o teu país é uma sociedade matriarcal,
cinco séculos de solidão das mulheres,
de xailes negros,
os filhos no além, no além-mar...
Um T-6, ronceiro,
sob um céu de chumbo,
ou de bronze incandescente,
em círculos concêntricos
como o voo do sinistro jagudi
que fareja a morte,
a quilómetros de distância.
Acaba por alijar a sua carga mortífera,
lá para longe,
após a nossa chegada a bom porto,
talvez a norte,
em Madina/Belel,
talvez a sul,
lá para o Fiofioli,
onde a nossa imaginação febril,
em noites palúdicas,
irá ver enfermeiras cubanas,
feiticeiras de olhos verdes e carapinha,
de peito farto,
e bunda larga,
cenas de sexo sado-masoquista,
em camas de lençóis brancos
em hospitais dos turras,
camuflados na floresta-galeria,
o inferno verde do Xime-Xitole.
- Fiofioli, meu amor,
acelera o meu coração,
a cada explosão
das bombas do T-6.
Tite, Porto Gole, Geba,
Corubal, Fiofioli, Ponta Varela,
Xime, Xitole,
Ponta do Inglês, Madina, Belel…
Como esta toponímia exótica
da tua baralhada e curta geografia
irá ficar gravada a ferro e fogo
na tua memória,
meu pira,
meu camarada,
minha pobre criatura
que não páras de rosnar
e praguejar no teu diário:
- Como um cão apanhado na rede,
como um cão…
Desde os teus catorze anos,
desde 1961,
desde o grito de guerra
Angola é Nossa,
que ouvias, de olho e ouvido bem abertos,
na televisão,
do café público da tua vilória,
a RTP, o novo ópio do povo,
Negage, Pedra Verde, Nambuangongo,
enfim, há pouco mais de oito anos,
que sabias
que foras apanhado como um cão,
em contra-mão da história…
- Angola… é Nossa!,
Angola… é Nossa!
E aqui estás, neste caixote flutuante,
sem colete nem salvação,
sem bode expiatório,
nem álibi,
sem uma simples palavra de explicação,
sem razão
para matar ou morrer,
de morte matada,
de G3 na mão,
porquê eu, porquê tu, meu irmão,
mas com cinco litros de sangue
no corpo,
a derramar pela Pátria,
se for preciso,
em rega gota gota,
ou até em bica aberta,
que a Pátria não se discute,
a Pátria, a Fátria ou a Mátria
que te pariu,
meu safado,
meu javardo,
a caminho da guerra,
que não sabes onde começa
e onde acaba.
E sobretudo quando acaba…
Recapitulas:
- Tite, Porto Gole, Ponta Varela…
E registas no teu caderninho
os primeiros termos da gíria de caserna:
embrulhanço,
turras,
gosse-gosse,
irãs,
jagudis,
bolanha,
mancarra,
jubi,
bunda,
macaréu…
E eis que chegas agora,
ao primeiro porto,
seguro,
um porto fluvial,
um sítio chamado Xime,
sem qualquer tabuleta que o identifique,
um pontão acostável,
meia dúzia de estacas no lodo,
caranguejos de um só pata
devorando os olhos dos pobres dos mortos
arrastados pela fúria do macaréu,
uma guarnição militar a nível de companhia
com um destacamento no Enxalé,
do outro lado do rio e da bolanha.
Aqui começa o Geba Estreito,
avisam-te,
mais à frente é o Mato Cão,
que irás conhecer como a palma da tua mão,
um leito de rio incerto,
sinuoso,
viscoso,
como o corpo de uma serpente,
em que ficas ao alcance de uma granada de mão,
nas curvas da morte…
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) > "Estrago de mina na estrada Bambadinca/Xime"
Foto e legenda: © Jaime Machado (2008). Direitos reservados.
O Jaime Machado foi Alf Mil Cav, comandante do Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70)
- Xime, meu amor! - nunca to direi em nenhum aerograma,
pela simples razão
de que nunca escreverei nenhum aerograma a ninguém,
o Xime é uma bandeira das quinas ao vento,
descolorida,
esfarrapada,
gente brava, lusitana,
três obuses Krupp,
alemães,
de 10 ponto 5,
do tempo da II Guerra Mundial,
silenciosos mas ameaçadores,
meia dúzia de casas de estilo colonial,
de adobe e chapa de zinco,
e mais umas escassas dezenas de cubatas de colmo,
ruínas dum antigo posto administrativo,
restos de uma comunidade mandinga,
gente que não é de inteira confiança,
dir-te-ão mais tarde os teus soldados fulas,
vestígios de um decadente entreposto comercial,
cercados de holofotes,
arame farpado,
espaldões,
valas,
abrigos,
a estrada cortando ao meio a tabanca e o aquartelamento,
dois irmãos siameses condenados a viver e a morrer juntos…
- Bem vindos, piras,
ao primeiro dia do inferno
que vai ser o resto das vossas vidas! –
Alguém, um velhinho,
cacimbado,
apanhado do clima,
desgraçado,
que ouves com temor e reverência,
escreveu numa daquelas paredes desboroadas,
de cores desbotadas…
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xime > 1972 > Obus 10,5 cm (ou 105 mm). No aquartelamento do Xime, existiam três obuses deste calibre e um morteiro 81 m/m.
Foto: © Sousa de Castro (2005). Direitos reservados.
- Ah! Como tudo isto é tão triste, meu Deus!
Duvido que tenhas dito Meu Deus,
como não dirias turras,
que aos vinte e dois anos,
não evocavas o nome de Deus em vão,
e sentias-te órfão,
sem pai nem nem mãe no mundo,
nem tinhas carta de condução,
nem bússola,
nem nenhuma ideia definitiva sobre o sentido da vida
mas achavas ainda romântica a ideia daquela maldita guerrilha…
E ali vais tu,
meio acagaçado,
meio curioso,
disposto a salvar o coiro,
alinhado ma non troppo,
desformatado,
violentado na tua consciência,
o quico bem enterrado até às orelhas,
entre filas de velhinhos,
brancos e pretos,
de lenços garridos ao pescoço,
com ar de fadistas,
a palhinha de capim ao canto da boca,
como o estereótipo do chulo do Bairro Alto,
fingindo fazer um cordão de segurança no mato,
até à famigerada bolanha de Madina Colhido,
a caminho de Bambadinca,
a próxima paragem…
Guiné > Zona Leste > Xime > CART 2520 (1969/70) > Foto 14 > "Cais do Xime, a cores já esbatidas" (RM)…Atracagem de uma LDG - Lancha de Desembarque Grande... Em primeiro plano, o Fur Mil Renato Monteiro, meu amigo de Contuboel, que foi parar ao Xime (e depois ao Enxalé, destacamento do Xime, no outro lado do Rio Geba) por não morrer de amores pelo comandante da sua unidade de origem, a CART 2479 (1968/70)... Conheci-o em Contuboel, em Junho/Julho de 1969. Nunca mais o vi... Só há poucos anos nos reencontrámos... Graças ao blogue... É a história de um feliz acaso, já aqui contada (*). Ele era(é) o misterioso homem da piroga, fotografado comigo no Rio Geba, em Contuboel, uma das poucas fotos que tenho da Guiné...
Fotos: © Renato Monteiro (2007). Direitos reservados.
- Terra importante-
diz o capitão,
em jeito de sermão,
como se fora padre, pai e patrão.
... Vértice do triângulo
Bambadinca- Xime – Xitole,
Sector L1 da Zona Leste,
fazendo fronteira,
através do Rio Corubal,
com o mítico sul,
Quínara e Tombali,
as terras do lendário Nino.
Regista aí,
para memória futura,
para o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné,
que já o viram, vestido de cow-boy,
a cabeça a prémio,
wanted dead or alive,
como nos filmes do faroeste.
Alguém te dissera,
em jeito de confidência,
na 5ª Rep, o Café do Bento,
o maior mentidero de Bissau.
- Quantos pesos e traições
vale a tua cabeça, camarada Nino ?
E sobretudo tu, grande Cabral ?
E lá vai o tuga, pobre infante,
a três metros do solo,
sobrevoando o capim,
no alto de um Matador,
que serve para transportar tudo o que lhe mandam
desde obuses a carne para canhão…
Destino: Contuboel,
a norte de Bafatá,
terra de marabus,
artesões, cavaleiros,
e bajudas com cabaço
e mama firme,
fulas e mandingas,
pontas de caboverdianos
com bíblicas plantações
de bananas, abecaxis e víboras verdes,
Contuboel, enfim,
onde é esperado que chegues,
são e salvo,
já noite dentro…
- Que desta já escapaste,
o que é preciso é acordares com a tusa toda,
e o dedo mindinho do pé a mexer-
assegura um dos velhinhos lá do sítio.
Percebes, por fim, que estás na Guiné,
para lá de Bissau,
das esplanadas,
dos desenfiados,
dos felizardos,
para lá do Cumeré,
para lá de Porto Gole,
longe do Vietname,
quanda passas pela ponte do Rio Udunduma,
semi-destruída quatro dias antes,
e agora guardada por toupeiras humanas,
e quando chegas a Bambadinca,
e há medo estampado no rosto
do escriturário,
do cripto,
do básico,
do cozinheiro,
do chulo,
do proxeneta,
do condutor,
do cabo,
do comerciante,
do cipaio,
do administrador de posto,
da professora,
dos meninos da escolinha,
do furriel,
do alferes,
do capitão,
e que sobe pela espinha cima
até ao topo da hierarquia militar…
- Dá-me licença, meu comandante ?!
Uns dias antes, houvera o aparatoso
ataque de 28 de Maio de 1969…
Há 43 anos atrás
o façanhudo do Gomes da Costa
viera de Braga, a cavalo,
a trote,
e de espada em riste,
impor o respeitinho
que era muito bonito,
no Terreiro do Paço,
num outro 28 de Maio, o de 1926,
uma efeméride importante
para o regime.
- Efemérides ? Coincidências ?
Ingénuo, vês o génio de Cabral
por toda a parte,
e o filme da história
a passar pelos teus olhos,
sem legendas,
a preto e branco,
sem som,
nem sequer a mísera pianola do tempo do mudo…
- Senhor engenheiro Cabral,
como fica tão bem,
de fraque e de cartola,
é deveras o africano mais português de Portugal!
A ti, apanharam-te como um cão,
danado,
e soltaram-te nesta terra,
de azenegues e de negros,
para lhes morderes as canelas…
- Dog, dog,
if turra comes back,
jampa-lhas às pernas,
diz o calafona.
Guiné > Zona Leste > Contuboel> Junho de 1969: Passeio de piroga junto à ponte de madeira de Contuboel, sobre o Rio Geba. Furriéis milicianos Luís Manuel da Graça Henriques (CCAÇ 2590 / CCAÇ 12) e Renato Monteiro (CART 2479 / CART 11).
Foto: © Luís Graça (2005). Direitos reservados
Até o humor do meu companheiro de viagem
é deslocado…
Viemos no mesmo camarote,
no T/T Niassa,
a tresandar a óleo e a vomitado…
Vou agora mais descontraído,
sem pena nem tema,
numa surpreendente estrada alcatroada,
entre Bambadinca e Bafatá…
Vais gozar as delícias do sistema,
meu safado:
- Contuboel - dizem-te - é um eldorado… (**)
___________
Notas de L.G.:
(*) Vd. postes de:
13 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1366: A galeria dos meus heróis (6): Por este rio acima, com o Bolha d'Água, o Furriel Enfermeiro Martins (Luís Graça)
(...) " Três dias depois iriam dar-nos uma G-3, novinha em folha, e uma ração de combate, para de seguida nos porem no fundo duma LDG, a caminho do Leste, Rio Geba acima, escoltados por uma equipa de fuzileiros navais que, à medida que o ri estreitava, batiam com fogo de morteirete a cerrada vegetação das margens (o tarrafe) até às proximidades do Xime" (...) .
16 de Dezembro de 2006>Guiné 63/74 - P1371: Foi a LDG 101 Alfange que transportou a CCAÇ 2590/CCAÇ 12 até ao Xime em 2 de Junho de 1969 (Manuel Lema Santos)
(...) "Quem vos transportou no dia 2 de Junho de 1969 ao porto de Xime, no Geba, um pouco acima da confluência com o Corubal foi a LDG 101 Alfange, tendo regressado no mesmo dia, conforme consta dos registos oficiais de navegação da Alfange" (...).
(**) Vd. poste de 28 de Junho de 2005 > Guiné 63/74 - LXXXVI: No 'oásis de paz' de Contuboel (Junho de 1969) (Luís Graça)
Vd. também:
23 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P899: Diga se me ouve, escuto! (Renato Monteiro)
23 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P898: Saudades do meu amigo Renato Monteiro (CART 2479/CART 11, Contuboel, Maio/Junho de 1969)
28 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1001: Estórias de Contuboel (i): recepção dos instruendos (Renato Monteiro, CART 2479 / CART 11, 1969)
30 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1005: Estórias de Contuboel (ii): segundo pelotão (Renato Monteiro, CART 2479 / CART 11, 1969)
2 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1017: Estórias de Contuboel (iii): Paraíso, roncos e anjinhos (Renato Monteiro, CART 2479 / CART 11, 1969)
4 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1026: Estórias de Contuboel (iv): Idades sem lembrança (Renato Monteiro, CART 2479 / CART 11, 1969)
4 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1027: Estórias de Contuboel (V): Bajudas ou a imitação do paraíso celestial (Renato Monteiro, CART 2479 / CART 11, 1969)
6 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2412: História de vida (8): Renato Monteiro, um homem de múltiplos... fotografares (Luís Graça)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sexta-feira, 31 de julho de 2009
quinta-feira, 30 de julho de 2009
Guiné 63/74 - P4760: Pensamento do dia (17): Recordando as Picas (Jorge Teixeira/Portojo)
1. Mensagem de Jorge Teixeira (Portojo) (*), ex-Fur Mil do Pelotão de Canhões S/R 2054, Catió, 1968/70, com data de 29 de Julho de 2009:
Caro camarada e amigo Vinhal
Para publicar se tiver interesse.
Na secção que achares melhor.
Um abraço especial para ti.
Jorge Teixeira
As Picas em acção na estrada Catió/Ganjola
Foto: © Jorge Teixeira (Portojo) (2009). Direitos reservados.
Rebuscando o baú fui dar com esta foto de meados de 1968. Nessa altura ainda tinha a mania das fotos - a máquina por vezes era emprestada para também ficar com uma recordação e que em devido tempo seria mandada para casa, demonstrando assim que tudo estava bem no paraíso de férias que era Catió e arredores.
Ora esta dita foto foi feita na estrada Catió/Ganjola [leia-se: Gandjola,que ficava a norte de Catió] e que era percorrida se não todos, quási todos os dias, com reabastecimentos lá para o destacamento.
Chegados a uma determinada altura, a coisa já era tão normal que quási passava a descontracção. Mas sempre era picada a dita estrada, o que demorava a fazer nos seus primeiros 6 a 7 km umas três horas bem puxadas. A parte restante até ao rio [de Ganjola] já era feita só pelas viaturas, ficando o pessoal da pica no remanso à espera do regresso.
Mas o importante da foto é que se podem ver na perfeição os nossos simpáticos e quási infalíveis detectores de minas, mais conhecidos como as Picas. Ora digam lá, camaradas, vocês que bem conheceram estes artefactos, se não mereciam estar em destaque nos vários Museus Militares espalhados pelo País Portugal?
Quantos picadores nos salvaram a vida com estas belezas? Mas quantos deles foram também traídos por elas?
A nossa homenagem a todos os picadores das estradas da Guiné.
Um abraço para a Tabanca e até à próxima
Jorge Teixeira
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 30 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4614: Controvérsias (23): Milicianos… eram os peões das nicas! (Jorge Teixeira)
Vd. último poste da série de 15 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3208: Pensamento do dia (16): E não se pode exterminá-la ?... A epidemia de cólera em Bissau (Sofia Branco, Público)
Caro camarada e amigo Vinhal
Para publicar se tiver interesse.
Na secção que achares melhor.
Um abraço especial para ti.
Jorge Teixeira
Recordando as Picas
As Picas em acção na estrada Catió/Ganjola
Foto: © Jorge Teixeira (Portojo) (2009). Direitos reservados.
Rebuscando o baú fui dar com esta foto de meados de 1968. Nessa altura ainda tinha a mania das fotos - a máquina por vezes era emprestada para também ficar com uma recordação e que em devido tempo seria mandada para casa, demonstrando assim que tudo estava bem no paraíso de férias que era Catió e arredores.
Ora esta dita foto foi feita na estrada Catió/Ganjola [leia-se: Gandjola,que ficava a norte de Catió] e que era percorrida se não todos, quási todos os dias, com reabastecimentos lá para o destacamento.
Chegados a uma determinada altura, a coisa já era tão normal que quási passava a descontracção. Mas sempre era picada a dita estrada, o que demorava a fazer nos seus primeiros 6 a 7 km umas três horas bem puxadas. A parte restante até ao rio [de Ganjola] já era feita só pelas viaturas, ficando o pessoal da pica no remanso à espera do regresso.
Mas o importante da foto é que se podem ver na perfeição os nossos simpáticos e quási infalíveis detectores de minas, mais conhecidos como as Picas. Ora digam lá, camaradas, vocês que bem conheceram estes artefactos, se não mereciam estar em destaque nos vários Museus Militares espalhados pelo País Portugal?
Quantos picadores nos salvaram a vida com estas belezas? Mas quantos deles foram também traídos por elas?
A nossa homenagem a todos os picadores das estradas da Guiné.
Um abraço para a Tabanca e até à próxima
Jorge Teixeira
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 30 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4614: Controvérsias (23): Milicianos… eram os peões das nicas! (Jorge Teixeira)
Vd. último poste da série de 15 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3208: Pensamento do dia (16): E não se pode exterminá-la ?... A epidemia de cólera em Bissau (Sofia Branco, Público)
Guiné 63/74 - P4759: História da CCAÇ 2679 (22): Falando sobre Bajocunda (José Manuel M. Dinis)
1. Mensagem de José Manuel M. Dinis, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71, com data de 29 de Julho de 2009:
Caro Carlos,
Envio-te mais um pedaço da passagem de uma companhia pelas bandas de Bajocunda. Desculpa a trabalheira, tanto mais que em pleno Verão não deves precisar de mais aquecimento, mas não me ocorreu dar outro destino ao texto.
Um grande abraço para ti a para a Tabanca.
J.Dinis
HISTÓRIA DA CCAÇ 2679
BAJOCUNDA
A localidade encontra-se no nordeste da Guiné, entre duas tabancas situadas sobre a linha de fronteira com o Senegal, Pirada, 11 Km a oeste, e Copá, cerca de 20 Km a leste. Fica a uma distância da linha de fronteira de cerca de 4 Km, e pertencia ao regulado de Amedalai. Olhando do ar para Bajocunda, a identificação dos limites, definidos pela fiada de arame farpado, revela uma figura ovalizada, com excepção a leste, onde a pista de aviação contígua configura um segmento de recta.
Havia três portas (cavalos de frisa), que correspondiam aos acessos a três estradas (picadas), para Pirada, com passagem por Tabassi, na direcção sudoeste, já que esta aldeia é ainda mais a sul; para Nova Lamego, na direcção sul; para Copá, na direcção leste, com bifurcação para Amedalai, a 3 Km, na direcção sudeste.
A tabanca ocupava a parte oriental do perímetro aramado. No interior desse perímetro estendia-se uma faixa de rodagem que permitia o fácil acesso por viatura aos abrigos periféricos.
O aquartelamento ocupava cerca de metade da àrea total e estava separado por uma vedação de arame. Era ali, onde fora o coração económico e social da terra, que, em antigas casas comerciais, se situava o Comando e Secretaria, a Messe, a Enfermaria, os quartos, a Arrecadação de Material de Guerra, as Transmissões e a Cantina.
Numa construção aberta, mas coberta por chapa zincada, funcionava a Cozinha e o Refeitório. Em frente à Secretaria, soterrado, oblongo e com uma entrada estreita e alta numa extremidade, existia um Paiol, carinhosamente baptizado de submarino.
Na localidade havia ainda três casas comerciais, uma delas, com a frontaria virada para o pau de bandeira e a Secretaria, quase permanentemente encerrada e o proprietário, um velhote africanista, fez poucas visitas.
Das duas restantes, uma, junto à Messe, era gerida por um guinéu e eram escassos os artigos, reflectindo-se na pouca clientela. Do outro lado da rua à direita, no sentido do aquartelamento para a pista, ficava a casa do Silva, que sob o alpendre tinha sempre dois alfaiates, e um razoável número de pessoas que conversavam ou ficavam protegidas, tanto do sol inclemente, como da chuva quando lhe tomava a vez.
No interior, por trás de um velho balcão, o Silva, o ajudante, e raramente a esposa, faziam toda a sorte de negócio que interessasse aos locais ou à tropa. Nas traseiras, sob as frondosas mangueiras que davam sombra ao quintal, e onde também se destacava uma ou duas papaieiras, funcionava um improvisado bar ou restaurante. Recordo a excelente galinha de fricassé que o cozinheiro sabia preparar e constituía um manjar de deuses.
A actividade económica organizava-se, principalmente, em torno da presença militar, que patrocinava o grande fluxo de patacão, cujo circuito terminava maioritariamente na loja do Silva. A população praticava uma reduzida agricultura, com algumas lavras de mancarra, e de milho, que era semeado no inicio das chuvas e colhido quatro meses depois, com o início da seca. Praticava-se ainda alguma pouca pastoricia.
A população vendia à tropa alguma (pouca) fruta, galinhas e cabritos. As vacas eram propriedade de muito poucos e símbolo de poder e riqueza, pelo que, por vezes, era relutantemente que as vendiam à tropa. Recordo que as vacas custavam dois contos, e tendo em conta os rendimentos médios a seguir referidos, o preço de uma vaca equivalia a um ano de receita para o comum da população, e não tinham preço de aquisição, nem tinham custo de produção.
O rendimento familiar era muitas vezes substancialmente acrescido com o salário de Soldado ou Milícia, dado que muitas famílias tinham parentes na tropa. Ainda assim, dificilmente o rendimento familiar médio excederia 200 a 300 escudos (pesos) mensais, que à distância do tempo, poderia significar 20 ou 30 contos por mês, cem ou cento e cinquenta euros nos dias de hoje. Refiro-me, claro, a famílias do ambiente rural no âmbito descrito.
Parada de Bajocunda, enriquecida com a presença da Fatinha, a lavadeira que não gostava mesmo nada que lhe chamassemos rata cega.
Foto e legenda: © Cândido Morais (2009). Direitos reservados
Nos arredores de Copá havia ainda uma boa plantação de cajueiros, que não sei se era propriedade particular ou comunitária. Outra fonte de receita resultava da prestação de serviços, que quase se resumiam ao (mau) tratamento da roupa e à prostituição.
Amedalai era a mais importante das tabancas por ser sede de regulado. Vivia em regime de auto-defesa com um Pelotão de Milícias. No período de transferência da Companhia, e tendo em conta o elevado número de tropa em Bajocunda decorrente dos recentes acontecimentos na região, praticamente todas as noites se deslocava um Pelotão para reforço da aldeia, ou montava emboscada nas cercanias. Passado esse período, raramente voltou a acontecer algum Pelotão ali se deslocar a passar a noite.
Tabassi era uma pequena aldeia a meio caminho para Pirada. Por esta ocasião foram distribuídas armas novas do modelo G-3, foi erguida a vedação e abertas valas de protecção e defesa. Apesar do regime de auto-defesa, todas as noites se deslocava um Pelotão para garantir a protecção da aldeia. Pouco tempo depois, quando exigi do Chefe de Tabanca a verificação do armamento... nem pó, levaram sumiço. Estas situações relatadas, levam-me a concluir pela existência de relações de cumplicidade destas populações com o IN, no entanto não tive conhecimento de alguma atitude com vista à recuperação das armas, nem da mais leve preocupação a propósito. "Durante o mês de Agosto o IN revelou-se uma única vez, com uma flagelação a Copá, mas sem quaisquer consequências" - da História da Unidade.
Indício sobre a gestão da Companhia
Durante os primeiros seis meses de comissão, em Piche, a Companhia adquiriu uma boa experiência operacional, face às inúmeras saídas a que o quotidiano da intervenção obrigava. Dependíamos do Batalhão ali sediado em tudo o que à logística dizia respeito, pelo que os nossos serviços nessa área não tiveram qualquer relevância.
Com a assunção de responsabilidades no sub-sector, verificou-se a autonomia de administração de tudo o que à Companhia dizia respeito, nomeadamente na aquisição e gestão dos géneros alimentares, material e sobressalentes para as viaturas, bem como na aquisição e gestão da gasolina. Começou então a verificar-se uma relação directa entre a acção do Comando, onde pontificava o Primeiro-sargento, enquanto senhor de vasta experiência, e as condições de operacionalidade e qualidade de vida de todos os elementos, quer integrassem os operacionais, quer a parte de serviços.
A primeira surpresa foi-me relatada pelo Furriel responsável pela secção mecânica. Em princípio seria ele o interlocutor directo com o Comando no que à actividade e às necessidades correlativas dissesse respeito, tendo em vista a orientação para o melhor aproveitamento dos recursos. Referiu-me preocupado e revoltadamente uma proposta que logo lhe fizeram e constava do seguinte: a Companhia passava a abastecer-se de gasolina pela compra directa na sucursal da Casa Gouveia no Gabu, e para cada requisição de combustível, carregava-se apenas metade da quantidade mencionada na guia. O produto da restante quantidade seria dividido pelo representante da casa vendedora, o capitão, os dois sargentos e o furriel mecânico.
Perguntei-lhe quanto é que lhe renderia o negócio. Indignado, respondeu que regeitara a concumitância, mas que a parte proposta era ínfima. Dei-lhe os parabéns, ele era íntegro e pessoa de bem que não se deixara manipular. Mas ficou marcado, e mais tarde havia de lhe sair cara a ousadia.
De seguida, na Messe, referi para quem quis ouvir, que eu, se tivesse que transportar gasolina, ou carregar os bidons, ou carragava todos os constantes da guia, ou nenhum. E, tanto quanto me lembro, das inúmeras vezes que fui a Nova Lamego para reabastecimento, só transportei gasolina quando algum membro da sociedade se deslocava ao entreposto. De uma vez, tenho a certeza.
O miserável parque automóvel, com viaturas destroçadas e avariadas, para que nada falhasse e fosse justificável, nos mapas que seguiam para Bissau, constava em condições normais de utilização, com tudo a andar e a consumir alarvemente, medida que garantia duas situações: a justificação para o consumo a coberto da legitimidade por parte da sociedade, e o risco acrescido do pessoal que se deslocava em viaturas para o mato, tudo ao monte e fé em Deus. De facto, se trinta homens se deslocassem em três viaturas, a capacidade de reacção e o risco era bem diferente do que deslocando-se em duas.
JMMD
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 15 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4692: História da CCAÇ 2679 (21): O meu regresso à Guiné, após as férias na Metrópole (José M. Matos Dinis)
Caro Carlos,
Envio-te mais um pedaço da passagem de uma companhia pelas bandas de Bajocunda. Desculpa a trabalheira, tanto mais que em pleno Verão não deves precisar de mais aquecimento, mas não me ocorreu dar outro destino ao texto.
Um grande abraço para ti a para a Tabanca.
J.Dinis
HISTÓRIA DA CCAÇ 2679
BAJOCUNDA
A localidade encontra-se no nordeste da Guiné, entre duas tabancas situadas sobre a linha de fronteira com o Senegal, Pirada, 11 Km a oeste, e Copá, cerca de 20 Km a leste. Fica a uma distância da linha de fronteira de cerca de 4 Km, e pertencia ao regulado de Amedalai. Olhando do ar para Bajocunda, a identificação dos limites, definidos pela fiada de arame farpado, revela uma figura ovalizada, com excepção a leste, onde a pista de aviação contígua configura um segmento de recta.
Havia três portas (cavalos de frisa), que correspondiam aos acessos a três estradas (picadas), para Pirada, com passagem por Tabassi, na direcção sudoeste, já que esta aldeia é ainda mais a sul; para Nova Lamego, na direcção sul; para Copá, na direcção leste, com bifurcação para Amedalai, a 3 Km, na direcção sudeste.
A tabanca ocupava a parte oriental do perímetro aramado. No interior desse perímetro estendia-se uma faixa de rodagem que permitia o fácil acesso por viatura aos abrigos periféricos.
O aquartelamento ocupava cerca de metade da àrea total e estava separado por uma vedação de arame. Era ali, onde fora o coração económico e social da terra, que, em antigas casas comerciais, se situava o Comando e Secretaria, a Messe, a Enfermaria, os quartos, a Arrecadação de Material de Guerra, as Transmissões e a Cantina.
Numa construção aberta, mas coberta por chapa zincada, funcionava a Cozinha e o Refeitório. Em frente à Secretaria, soterrado, oblongo e com uma entrada estreita e alta numa extremidade, existia um Paiol, carinhosamente baptizado de submarino.
Na localidade havia ainda três casas comerciais, uma delas, com a frontaria virada para o pau de bandeira e a Secretaria, quase permanentemente encerrada e o proprietário, um velhote africanista, fez poucas visitas.
Das duas restantes, uma, junto à Messe, era gerida por um guinéu e eram escassos os artigos, reflectindo-se na pouca clientela. Do outro lado da rua à direita, no sentido do aquartelamento para a pista, ficava a casa do Silva, que sob o alpendre tinha sempre dois alfaiates, e um razoável número de pessoas que conversavam ou ficavam protegidas, tanto do sol inclemente, como da chuva quando lhe tomava a vez.
No interior, por trás de um velho balcão, o Silva, o ajudante, e raramente a esposa, faziam toda a sorte de negócio que interessasse aos locais ou à tropa. Nas traseiras, sob as frondosas mangueiras que davam sombra ao quintal, e onde também se destacava uma ou duas papaieiras, funcionava um improvisado bar ou restaurante. Recordo a excelente galinha de fricassé que o cozinheiro sabia preparar e constituía um manjar de deuses.
A actividade económica organizava-se, principalmente, em torno da presença militar, que patrocinava o grande fluxo de patacão, cujo circuito terminava maioritariamente na loja do Silva. A população praticava uma reduzida agricultura, com algumas lavras de mancarra, e de milho, que era semeado no inicio das chuvas e colhido quatro meses depois, com o início da seca. Praticava-se ainda alguma pouca pastoricia.
A população vendia à tropa alguma (pouca) fruta, galinhas e cabritos. As vacas eram propriedade de muito poucos e símbolo de poder e riqueza, pelo que, por vezes, era relutantemente que as vendiam à tropa. Recordo que as vacas custavam dois contos, e tendo em conta os rendimentos médios a seguir referidos, o preço de uma vaca equivalia a um ano de receita para o comum da população, e não tinham preço de aquisição, nem tinham custo de produção.
O rendimento familiar era muitas vezes substancialmente acrescido com o salário de Soldado ou Milícia, dado que muitas famílias tinham parentes na tropa. Ainda assim, dificilmente o rendimento familiar médio excederia 200 a 300 escudos (pesos) mensais, que à distância do tempo, poderia significar 20 ou 30 contos por mês, cem ou cento e cinquenta euros nos dias de hoje. Refiro-me, claro, a famílias do ambiente rural no âmbito descrito.
Parada de Bajocunda, enriquecida com a presença da Fatinha, a lavadeira que não gostava mesmo nada que lhe chamassemos rata cega.
Foto e legenda: © Cândido Morais (2009). Direitos reservados
Nos arredores de Copá havia ainda uma boa plantação de cajueiros, que não sei se era propriedade particular ou comunitária. Outra fonte de receita resultava da prestação de serviços, que quase se resumiam ao (mau) tratamento da roupa e à prostituição.
Amedalai era a mais importante das tabancas por ser sede de regulado. Vivia em regime de auto-defesa com um Pelotão de Milícias. No período de transferência da Companhia, e tendo em conta o elevado número de tropa em Bajocunda decorrente dos recentes acontecimentos na região, praticamente todas as noites se deslocava um Pelotão para reforço da aldeia, ou montava emboscada nas cercanias. Passado esse período, raramente voltou a acontecer algum Pelotão ali se deslocar a passar a noite.
Tabassi era uma pequena aldeia a meio caminho para Pirada. Por esta ocasião foram distribuídas armas novas do modelo G-3, foi erguida a vedação e abertas valas de protecção e defesa. Apesar do regime de auto-defesa, todas as noites se deslocava um Pelotão para garantir a protecção da aldeia. Pouco tempo depois, quando exigi do Chefe de Tabanca a verificação do armamento... nem pó, levaram sumiço. Estas situações relatadas, levam-me a concluir pela existência de relações de cumplicidade destas populações com o IN, no entanto não tive conhecimento de alguma atitude com vista à recuperação das armas, nem da mais leve preocupação a propósito. "Durante o mês de Agosto o IN revelou-se uma única vez, com uma flagelação a Copá, mas sem quaisquer consequências" - da História da Unidade.
Indício sobre a gestão da Companhia
Durante os primeiros seis meses de comissão, em Piche, a Companhia adquiriu uma boa experiência operacional, face às inúmeras saídas a que o quotidiano da intervenção obrigava. Dependíamos do Batalhão ali sediado em tudo o que à logística dizia respeito, pelo que os nossos serviços nessa área não tiveram qualquer relevância.
Com a assunção de responsabilidades no sub-sector, verificou-se a autonomia de administração de tudo o que à Companhia dizia respeito, nomeadamente na aquisição e gestão dos géneros alimentares, material e sobressalentes para as viaturas, bem como na aquisição e gestão da gasolina. Começou então a verificar-se uma relação directa entre a acção do Comando, onde pontificava o Primeiro-sargento, enquanto senhor de vasta experiência, e as condições de operacionalidade e qualidade de vida de todos os elementos, quer integrassem os operacionais, quer a parte de serviços.
A primeira surpresa foi-me relatada pelo Furriel responsável pela secção mecânica. Em princípio seria ele o interlocutor directo com o Comando no que à actividade e às necessidades correlativas dissesse respeito, tendo em vista a orientação para o melhor aproveitamento dos recursos. Referiu-me preocupado e revoltadamente uma proposta que logo lhe fizeram e constava do seguinte: a Companhia passava a abastecer-se de gasolina pela compra directa na sucursal da Casa Gouveia no Gabu, e para cada requisição de combustível, carregava-se apenas metade da quantidade mencionada na guia. O produto da restante quantidade seria dividido pelo representante da casa vendedora, o capitão, os dois sargentos e o furriel mecânico.
Perguntei-lhe quanto é que lhe renderia o negócio. Indignado, respondeu que regeitara a concumitância, mas que a parte proposta era ínfima. Dei-lhe os parabéns, ele era íntegro e pessoa de bem que não se deixara manipular. Mas ficou marcado, e mais tarde havia de lhe sair cara a ousadia.
De seguida, na Messe, referi para quem quis ouvir, que eu, se tivesse que transportar gasolina, ou carregar os bidons, ou carragava todos os constantes da guia, ou nenhum. E, tanto quanto me lembro, das inúmeras vezes que fui a Nova Lamego para reabastecimento, só transportei gasolina quando algum membro da sociedade se deslocava ao entreposto. De uma vez, tenho a certeza.
O miserável parque automóvel, com viaturas destroçadas e avariadas, para que nada falhasse e fosse justificável, nos mapas que seguiam para Bissau, constava em condições normais de utilização, com tudo a andar e a consumir alarvemente, medida que garantia duas situações: a justificação para o consumo a coberto da legitimidade por parte da sociedade, e o risco acrescido do pessoal que se deslocava em viaturas para o mato, tudo ao monte e fé em Deus. De facto, se trinta homens se deslocassem em três viaturas, a capacidade de reacção e o risco era bem diferente do que deslocando-se em duas.
JMMD
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 15 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4692: História da CCAÇ 2679 (21): O meu regresso à Guiné, após as férias na Metrópole (José M. Matos Dinis)
Guiné 63/74 - P4758: Parabéns a você (15): Francisco Palma da CCAV 2748 e Júlio Abreu do BCAÇ 506 e Companhia de Comandos do CTIG (Editores)
Hoje, dia 30 de Julho de 2009, fazem anos os nossos camaradas:
Francisco Palma da CCAV 2748 e
Júlio Abreu do BCAÇ 506 e Grupo de Comandos "Os Centuriões".
1. Francisco Palma foi Condutor Auto Rodas na CCAV 2748, Canquelifá, 1970/72 (*).
A escassos meses de terminar a sua comissão, ficou com mais de 30% de incapacidade quando o seu burrinho (Unimog 411) accionou uma mina AC.
É hoje DFA.
Dizia-nos o Francisco aquando a sua apresentação em Novembro de 2007:
[...]
Notícias da minha malta... Bem, como deves calcular, houve muita porrada, foram 22 meses de Canquelifá com todas as noites de sono incompletas (reforços e ataques).
Sofremos 15 ataques nocturnos directos mais dois com foguetões 122, chamados mísseis, 4 de cada vez... Estes eram respondidos com Obus 14. O alvo era o aquartelmento, mas as flagelações foram sem consequências graves, com raros feridos, tanto para as nossas tropas com para a os indígenas do aldeamento, que conviviam connosco dentro do arame farpado.
Há a registar ainda o rebentamento de uma mina anticarro, onde eu fui o único ferido. Sofri fracturas múltiplas em ambos os pés, quando conduzia um Unimog 411 (Burro do Mato) que transportava mais 11 Camaradas. Faltavam só 3 semanas para o regresso. Hoje sou DFA com 30,58% de deficiência. Com a idade as sequelas agravam-se, mas estou vivo.
[...]
Ao nosso camarada Francisco Palma desejamos a melhor saúde possível dentro dos seus condicionalismos. Que passe este dia de aniversário acompanhado de seus familiares e amigos, festejando a longa vida que ainda tem pela frente. Nós, deste lado, fazemos força para em 2048 haver uma formatura geral dos centenários. Aquela colheita de 1948 foi mesmo excelente.
Canquelifá > CCAV 2748 (1970/72) > O Francisco Palma posando junto ao brazão da CCAÇ 1623.
__________
2. Júlio da Costa Abreu, ex-1.º Cabo Radiomontador do Batalhão 506, Bafatá, e Chefe da 2.ª Equipa do Grupo de Comandos "Os Centuriões".
Este nosso camarada escolheu a Holanda para viver, um país civilizado e aberto, no mais lato sentido da palavra.
Daqui de Portugal os teus amigos e camaradas desta Tertúlia, desejam-te um feliz dia de aniversário junto dos teus familiares e amigos, e enviam-te um abraço de parabéns.
Como irás comemorar os 100 anos primeiro que nós editores, cã estaremos nessa altura para dar o devido relevo ao acontecimento.
Moínho típico da Holanda. Este país tem parte do seu território abaixo da cota do nível médio do mar. Estes moínhos drenavam a água dos canais.
Foto: © Carlos Vinhal (2009). Direitos reservados.
Recordemos as palavras de Júlio Abreu aquando da sua apresentação à Tertúlia em 23 de Maio de 2008:
[...]
Caros amigos, estando hoje no meu computador, deu-me a ideia de através do Google procurar saber se haveria alguma coisa sobre o meu antigo Grupo de Comandos Centuriões.
Qual não foi a minha surpresa ao encontrar bastantes artigos sobre o meu grupo assim como muitas notícias dos meus tempos de Guiné!
Quando fui para lá, fiquei no Batalhão 506 em Bafatá, como Radiomontador. Meti os papéis para frequentar o curso de Sarg Radiomontador em Paço de Arcos e, quando abrisse o curso, seria automaticamente graduado em Furriel, pois na altura era 1.º Cabo.
Pouco tempo depois fui transferido para as oficinas de rádio do Batalhão de Transmissões no Quartel-General em Bissau. Ao fim de poucos meses como iam ser criados os Comandos na Guiné, ofereci-me como voluntário para os Comandos.
Depois das provas fui incorporado no Curso em que foi criado o meu Grupo de Comandos Centuriões do Alf Rainha. A partir da criação do grupo fui chefe de equipa.
[...]
Quando voltei para a Metrópole e depois de ter estado empregado no representante da marca JVC em Portugal, resolvi vir para a Holanda onde estou há 36 anos, tendo trabalhado sempre na Companhia de Aviação KLM como técnico de Rádio.
[...]
Algumas fotos ao acaso:
Quartel dos Comandos - Brá - Dia em que recebemos o emblema dos Comandos
Quartel de Brá, fim de comissão
Partida para o mato com a minha equipa
Parada no Quartel de Brá - Dia em que recebemos o emblema dos Comandos
No meu quarto em Brá
Fotografia de 'Ronco'
Despedida dos Comandos, Abraço Cap Rubim
À porta do gabinete do Comandante dos Comandos Capitão Rubim
Fotos: © Júlio Abreu (2008). Direitos reservados.
__________
Notas de CV:
(*) Sobre Francisco Palma, Vd. postes de:
24 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2211: O monumento da CCAÇ 1623, Canquelifá, 1966/68 (Francisco Palma, CCAV 2748, 1970/72)
5 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2242: Tabanca Grande (39): Francisco Palma, ex-condutor auto, ferido em combate, CCAV 2748 / BCAV 2922, Canquelifá (1970/72)
25 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2303: Tabanca Grande (42): Francisco Palma, Soldado Condutor Auto da CCAV 2748/BCAV 2922 (Canquelifá, 1970/72)
26 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2684: Convívios (43): CCAV 2748, dia 1 de Junho de 2008 em Almeirim (Francisco Palma)
(**) Sobre Júlio Abreu, Vd. poste de 23 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2876: Tabanca Grande (71): Júlio Abreu, ex-1.º Cabo da Companhia de Comandos do CTIG (1964/66)
Vd. último poste da série de 17 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4701: Parabéns a você (14): Dia 17 de Julho de 2009 - Álvaro Basto, ex-Fur Mil Enf da CART 3492
Francisco Palma da CCAV 2748 e
Júlio Abreu do BCAÇ 506 e Grupo de Comandos "Os Centuriões".
1. Francisco Palma foi Condutor Auto Rodas na CCAV 2748, Canquelifá, 1970/72 (*).
A escassos meses de terminar a sua comissão, ficou com mais de 30% de incapacidade quando o seu burrinho (Unimog 411) accionou uma mina AC.
É hoje DFA.
Dizia-nos o Francisco aquando a sua apresentação em Novembro de 2007:
[...]
Notícias da minha malta... Bem, como deves calcular, houve muita porrada, foram 22 meses de Canquelifá com todas as noites de sono incompletas (reforços e ataques).
Sofremos 15 ataques nocturnos directos mais dois com foguetões 122, chamados mísseis, 4 de cada vez... Estes eram respondidos com Obus 14. O alvo era o aquartelmento, mas as flagelações foram sem consequências graves, com raros feridos, tanto para as nossas tropas com para a os indígenas do aldeamento, que conviviam connosco dentro do arame farpado.
Há a registar ainda o rebentamento de uma mina anticarro, onde eu fui o único ferido. Sofri fracturas múltiplas em ambos os pés, quando conduzia um Unimog 411 (Burro do Mato) que transportava mais 11 Camaradas. Faltavam só 3 semanas para o regresso. Hoje sou DFA com 30,58% de deficiência. Com a idade as sequelas agravam-se, mas estou vivo.
[...]
Ao nosso camarada Francisco Palma desejamos a melhor saúde possível dentro dos seus condicionalismos. Que passe este dia de aniversário acompanhado de seus familiares e amigos, festejando a longa vida que ainda tem pela frente. Nós, deste lado, fazemos força para em 2048 haver uma formatura geral dos centenários. Aquela colheita de 1948 foi mesmo excelente.
Canquelifá > CCAV 2748 (1970/72) > O Francisco Palma posando junto ao brazão da CCAÇ 1623.
__________
2. Júlio da Costa Abreu, ex-1.º Cabo Radiomontador do Batalhão 506, Bafatá, e Chefe da 2.ª Equipa do Grupo de Comandos "Os Centuriões".
Este nosso camarada escolheu a Holanda para viver, um país civilizado e aberto, no mais lato sentido da palavra.
Daqui de Portugal os teus amigos e camaradas desta Tertúlia, desejam-te um feliz dia de aniversário junto dos teus familiares e amigos, e enviam-te um abraço de parabéns.
Como irás comemorar os 100 anos primeiro que nós editores, cã estaremos nessa altura para dar o devido relevo ao acontecimento.
Moínho típico da Holanda. Este país tem parte do seu território abaixo da cota do nível médio do mar. Estes moínhos drenavam a água dos canais.
Foto: © Carlos Vinhal (2009). Direitos reservados.
Recordemos as palavras de Júlio Abreu aquando da sua apresentação à Tertúlia em 23 de Maio de 2008:
[...]
Caros amigos, estando hoje no meu computador, deu-me a ideia de através do Google procurar saber se haveria alguma coisa sobre o meu antigo Grupo de Comandos Centuriões.
Qual não foi a minha surpresa ao encontrar bastantes artigos sobre o meu grupo assim como muitas notícias dos meus tempos de Guiné!
Quando fui para lá, fiquei no Batalhão 506 em Bafatá, como Radiomontador. Meti os papéis para frequentar o curso de Sarg Radiomontador em Paço de Arcos e, quando abrisse o curso, seria automaticamente graduado em Furriel, pois na altura era 1.º Cabo.
Pouco tempo depois fui transferido para as oficinas de rádio do Batalhão de Transmissões no Quartel-General em Bissau. Ao fim de poucos meses como iam ser criados os Comandos na Guiné, ofereci-me como voluntário para os Comandos.
Depois das provas fui incorporado no Curso em que foi criado o meu Grupo de Comandos Centuriões do Alf Rainha. A partir da criação do grupo fui chefe de equipa.
[...]
Quando voltei para a Metrópole e depois de ter estado empregado no representante da marca JVC em Portugal, resolvi vir para a Holanda onde estou há 36 anos, tendo trabalhado sempre na Companhia de Aviação KLM como técnico de Rádio.
[...]
Algumas fotos ao acaso:
Quartel dos Comandos - Brá - Dia em que recebemos o emblema dos Comandos
Quartel de Brá, fim de comissão
Partida para o mato com a minha equipa
Parada no Quartel de Brá - Dia em que recebemos o emblema dos Comandos
No meu quarto em Brá
Fotografia de 'Ronco'
Despedida dos Comandos, Abraço Cap Rubim
À porta do gabinete do Comandante dos Comandos Capitão Rubim
Fotos: © Júlio Abreu (2008). Direitos reservados.
__________
Notas de CV:
(*) Sobre Francisco Palma, Vd. postes de:
24 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2211: O monumento da CCAÇ 1623, Canquelifá, 1966/68 (Francisco Palma, CCAV 2748, 1970/72)
5 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2242: Tabanca Grande (39): Francisco Palma, ex-condutor auto, ferido em combate, CCAV 2748 / BCAV 2922, Canquelifá (1970/72)
25 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2303: Tabanca Grande (42): Francisco Palma, Soldado Condutor Auto da CCAV 2748/BCAV 2922 (Canquelifá, 1970/72)
26 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2684: Convívios (43): CCAV 2748, dia 1 de Junho de 2008 em Almeirim (Francisco Palma)
(**) Sobre Júlio Abreu, Vd. poste de 23 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2876: Tabanca Grande (71): Júlio Abreu, ex-1.º Cabo da Companhia de Comandos do CTIG (1964/66)
Vd. último poste da série de 17 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4701: Parabéns a você (14): Dia 17 de Julho de 2009 - Álvaro Basto, ex-Fur Mil Enf da CART 3492
quarta-feira, 29 de julho de 2009
Guiné 63/74 - P4757: Poemário do José Manuel (29): Como eram belas as bajudas que conheci...
Guiné > Região de Tombali > Simpósio Internacional de Guiledje > Visita ao sul > 3 de Março de 2008 > Imagens, eternas, do Rio Corubal: rápidos do Saltinho (a primeira, de cima) e as esbeltas lavadeiras.
Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.
Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 , Os Unidos de Mampatá (1972/74) > O Zé Manel, ou o Josema (pseudónimo literário), que durante a sua comissão na Guiné escrevia todos os dias um poema... Infelizmente, destruiu a maior parte deles... Salvaram-se umas escassas dezenas, que têm vindo a ser aqui publicados (*)...
Poema enviado em 3/4/2008. Republicaçção. Série Poemário do José Manuel (**)
Comentário de L.G.:
Da Quinta da Senhora da Graça vêm-nos boas e más notícias: boas notícias dos néctares que o nosso camarada Zé Manel, mais a Luísa, e mais o seu talentoso enólogo Vasco Lopes, por acaso filho de ambos, continuam a produzir e a arrecadar prémios; más notícias, por outro lado, no que diz respeito ao famoso baú da avó, na Régua: mais poemas "cá tem"...
Resta-me ir ao rabisco, como se diz na minha região, o Oeste estremenho... Neste caso fui 'repescar' um poema já publicado, mas que passou despercebido, por que ia numa molhada (como aconteceu aos primeiros postes)... Os poetas têm mais liberdade de (re)criação do que nós, pobres editores deste blogue... Em todo o caso, já no píncaro do verão e nas vésperas de partida para as férias de Agosto (para os profs como eu, o mês de férias por excelência), aqui fica uma bela sugestão poética do Josema... É também um reforço da ideia de que, no nosso blogue, não há tabus (ou não deveria haver): por exemplo, falar de amores e desamores em tempo de guerra... Que também os houve, lancinantes, impossíveis, dramáticos, grotescos, cafrealizados, passageiros, incorrespondidos, platónicos, mercantis, sofridos, gozados, curtidos... Amores de verão, como os dos estudantes ? Amores de cais, como o dos marinheiros ? Amores com múltiplas barreiras, a começar pela guerra e o choque de culturas ?... Amores livres como a liberdade livre de que fala o António Ramos Rosa ?... Que respondam os poetas e os amantes...(LG)
Como eram belas
as miúdas que conheci
as amigas as amantes
as de amores realizados
as de amores imaginados
as que ficavam distantes
todas todas
todas sem excepção
quero beijá-las quero amá-las
para matar a solidão
não há raparigas más
não existem rostos feios
só vejo corpos esbeltos
só vejo pernas e seios
Bissau 1974
josema
__________
Notas de L.G.:
(*) Sobre o José Manuel Lopes, vf. poste de 3 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3165: Os nossos Seres, Saberes e Lazeres (6): Com o José Manuel, in su situ, um pé no Douro e uma mão no Marão (Luís Graça)
(**) Postes anteriores da série Pomeário do José Manuel
2 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4451: Poemário do José Manuel (28): Matar ou morrer ? Não...
11 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4011: Poemário do José Manuel (27): Um ruído vem do céu / e há cabeças no ar, / hoje é dia de correio...
13 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3884: Poemário do José Manuel (26): O regresso a Mampatá, 35 anos depois...
24 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3787: Poemário do José Manuel (25): A Morte
17 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3468: Poemário do José Manuel (24): Sabes o que é morrer... ?
9 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3289: Poemário do José Manuel (23): Naquela mata o silêncio magoa...
23 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3145: Poemário do José Manuel (22): (...) Como os dias passam devagar / Contados a riscar um calendário...
22 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3084: Poemário do José Manuel (21): O recordar dos sentidos: como é bom ver, sentir, ouvir, cheirar, saborear, falar...
9 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3039: Poemário do José Manuel (20): Mãe, se eu não regressar, lembra-te do meu sorriso...
1 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3010: Poemário do José Manuel (19): Aqueles assobios por cima das nossas cabeças...
22 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2973: Poemário do José Manuel (18): Não se morre só uma vez...
15 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2946: Poemário do José Manuel (17): A Companhia dos Unidos
2 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2911: Poemário do José Manuel (16): Saudades do Douro e do Marão...
25 de Maio de 2008 >Guiné 63/74 - P2884: Poemário do José Manuel (15): Dois anos e alguns meses
17 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2852: Poemário do José Manuel (14): É tempo de regressar às minhas parras coloridas...
15 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2844: Poemário do José Manuel (13): A matança do porco, o Douro, os amigos de infância, os jogos da bola no largo da igreja...
9 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2824: Poemário do José Manuel (12): Ao Zé Teixeira: De sangue e morte é a picada...
2 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2806: Poemário do José Manuel (11): Até um dia, Trindade, até um dia, Fragata
24 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2794: Poemário do José Manuel (10): Ao Albuquerque, morto numa mina antipessoal em Abril de 1973
19 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2776: Poemário do José Manuel (9): Nós e os outros, as duas faces da guerra
14 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2757: Poemário do José Manuel (8): Nhacobá, 1973: Naquela picada havia a morte
10 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2739: Poemário do José Manuel (7): Recuso dizer uma oração ao Deus que te abandonou...
5 de Abril de 2008 Guiné 63/74 - P2723: Poemário do José Manuel (6): Napalm, que pões branca a negra pele, quem te inventou ?
28 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2694: Poemário do José Manuel (5): Não é o Douro, nem o Tejo, é o Corubal... Nem tudo é mau afinal.... Há o Carvalho, há o Rosa...
19 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2665: Poemário do José Manuel (4): No carreiro de Uane... todos os sentidos / são poucos / escaparão com vida ? / não ficarão loucos ?
13 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2630: Poemário do José Manuel (3): Pica na mão à procura delas..., tac, tac, tac, tac, tac, TOC!!!
9 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2619: Poemário do José Manuel (2): Que anjo me protegeu ? E o teu, adormeceu ?
3 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2608: Poemário do José Manuel (1): Salancaur, 1973: Pior que o inimigo é a rotina...
Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.
Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 , Os Unidos de Mampatá (1972/74) > O Zé Manel, ou o Josema (pseudónimo literário), que durante a sua comissão na Guiné escrevia todos os dias um poema... Infelizmente, destruiu a maior parte deles... Salvaram-se umas escassas dezenas, que têm vindo a ser aqui publicados (*)...
Poema enviado em 3/4/2008. Republicaçção. Série Poemário do José Manuel (**)
Comentário de L.G.:
Da Quinta da Senhora da Graça vêm-nos boas e más notícias: boas notícias dos néctares que o nosso camarada Zé Manel, mais a Luísa, e mais o seu talentoso enólogo Vasco Lopes, por acaso filho de ambos, continuam a produzir e a arrecadar prémios; más notícias, por outro lado, no que diz respeito ao famoso baú da avó, na Régua: mais poemas "cá tem"...
Resta-me ir ao rabisco, como se diz na minha região, o Oeste estremenho... Neste caso fui 'repescar' um poema já publicado, mas que passou despercebido, por que ia numa molhada (como aconteceu aos primeiros postes)... Os poetas têm mais liberdade de (re)criação do que nós, pobres editores deste blogue... Em todo o caso, já no píncaro do verão e nas vésperas de partida para as férias de Agosto (para os profs como eu, o mês de férias por excelência), aqui fica uma bela sugestão poética do Josema... É também um reforço da ideia de que, no nosso blogue, não há tabus (ou não deveria haver): por exemplo, falar de amores e desamores em tempo de guerra... Que também os houve, lancinantes, impossíveis, dramáticos, grotescos, cafrealizados, passageiros, incorrespondidos, platónicos, mercantis, sofridos, gozados, curtidos... Amores de verão, como os dos estudantes ? Amores de cais, como o dos marinheiros ? Amores com múltiplas barreiras, a começar pela guerra e o choque de culturas ?... Amores livres como a liberdade livre de que fala o António Ramos Rosa ?... Que respondam os poetas e os amantes...(LG)
Como eram belas
as miúdas que conheci
as amigas as amantes
as de amores realizados
as de amores imaginados
as que ficavam distantes
todas todas
todas sem excepção
quero beijá-las quero amá-las
para matar a solidão
não há raparigas más
não existem rostos feios
só vejo corpos esbeltos
só vejo pernas e seios
Bissau 1974
josema
__________
Notas de L.G.:
(*) Sobre o José Manuel Lopes, vf. poste de 3 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3165: Os nossos Seres, Saberes e Lazeres (6): Com o José Manuel, in su situ, um pé no Douro e uma mão no Marão (Luís Graça)
(**) Postes anteriores da série Pomeário do José Manuel
2 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4451: Poemário do José Manuel (28): Matar ou morrer ? Não...
11 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4011: Poemário do José Manuel (27): Um ruído vem do céu / e há cabeças no ar, / hoje é dia de correio...
13 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3884: Poemário do José Manuel (26): O regresso a Mampatá, 35 anos depois...
24 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3787: Poemário do José Manuel (25): A Morte
17 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3468: Poemário do José Manuel (24): Sabes o que é morrer... ?
9 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3289: Poemário do José Manuel (23): Naquela mata o silêncio magoa...
23 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3145: Poemário do José Manuel (22): (...) Como os dias passam devagar / Contados a riscar um calendário...
22 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3084: Poemário do José Manuel (21): O recordar dos sentidos: como é bom ver, sentir, ouvir, cheirar, saborear, falar...
9 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3039: Poemário do José Manuel (20): Mãe, se eu não regressar, lembra-te do meu sorriso...
1 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3010: Poemário do José Manuel (19): Aqueles assobios por cima das nossas cabeças...
22 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2973: Poemário do José Manuel (18): Não se morre só uma vez...
15 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2946: Poemário do José Manuel (17): A Companhia dos Unidos
2 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2911: Poemário do José Manuel (16): Saudades do Douro e do Marão...
25 de Maio de 2008 >Guiné 63/74 - P2884: Poemário do José Manuel (15): Dois anos e alguns meses
17 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2852: Poemário do José Manuel (14): É tempo de regressar às minhas parras coloridas...
15 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2844: Poemário do José Manuel (13): A matança do porco, o Douro, os amigos de infância, os jogos da bola no largo da igreja...
9 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2824: Poemário do José Manuel (12): Ao Zé Teixeira: De sangue e morte é a picada...
2 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2806: Poemário do José Manuel (11): Até um dia, Trindade, até um dia, Fragata
24 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2794: Poemário do José Manuel (10): Ao Albuquerque, morto numa mina antipessoal em Abril de 1973
19 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2776: Poemário do José Manuel (9): Nós e os outros, as duas faces da guerra
14 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2757: Poemário do José Manuel (8): Nhacobá, 1973: Naquela picada havia a morte
10 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2739: Poemário do José Manuel (7): Recuso dizer uma oração ao Deus que te abandonou...
5 de Abril de 2008 Guiné 63/74 - P2723: Poemário do José Manuel (6): Napalm, que pões branca a negra pele, quem te inventou ?
28 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2694: Poemário do José Manuel (5): Não é o Douro, nem o Tejo, é o Corubal... Nem tudo é mau afinal.... Há o Carvalho, há o Rosa...
19 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2665: Poemário do José Manuel (4): No carreiro de Uane... todos os sentidos / são poucos / escaparão com vida ? / não ficarão loucos ?
13 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2630: Poemário do José Manuel (3): Pica na mão à procura delas..., tac, tac, tac, tac, tac, TOC!!!
9 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2619: Poemário do José Manuel (2): Que anjo me protegeu ? E o teu, adormeceu ?
3 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2608: Poemário do José Manuel (1): Salancaur, 1973: Pior que o inimigo é a rotina...
Guiné 63/74 - P4756: Historiografia da presença portuguesa em África (19): 1.º Cruzeiro de férias às colónias de C. Verde, Guiné, S. Tomé... (Beja Santos)
1. Do nosso Camarada Mário Beja Santos, ex-alferes miliciano que comandou o Pel Caç Nat 52 (Missirá e Bambadinca - 1968/70, recebemos a seguinte mensagem. Em 29 de Julho de 2009:
1º Cruzeiro de férias às colónias de Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe e Angola
Recordo-me perfeitamente como se fosse hoje: em meados de Maio de 1968, logo que fui informado que estava mobilizado para a Guiné, procurei o meu querido amigo Ruy Cinatti, aprazamos um fim de tarde, vim directamente do Regimento de Infantaria nº 1, na Amadora, quando estava incorporado no BCAÇ 2851, apresentei-me na sua casa na Travessa da Palmeira nº 12, 3º direito, perto do Largo do Príncipe Real.
Logo que lhe falei da Guiné, para minha surpresa, o Cinatti falou-me saudoso de Bissau e de Bolama, e o tema do nosso jantar foi essa viagem ao longo de Agosto e Setembro de 1935 a bordo do navio Moçambique, veio à baila a presença de Marcelo Caetano e o apoio da revista O Mundo Português, então a mais influente publicação da Agência Geral das Colónias e do Secretariado da Propaganda Nacional.
Mas, no fundo, o que mais impressionara Cinatti fora Cabo Verde e sobretudo S. Tomé.
Em dada altura, na sua exposição acalorada, os seus olhos brilhantes ainda mais intensos pela pinga, observou-me: “Com as belezas de Cabo Verde e com as gentes que encontrei nas ruas, sabia que precisava de viver numa ilha. Foi Timor o meu feitiço.
Mas o paraíso encontrei-o em S. Tomé, foi lá que escrevi alguns dos poemas que não reneguei, ali me inspirei para o meu conto Ossobó, que hoje lhe entrego.
Estivemos pouco tempo na Guiné, guardo no corpo aquela humidade quando o navio passou a ponte de Caió. V. vai dar-se muito bem com aquelas gentes”.
E assim morreu a minha informação sobre aquela mocidade académica que percorrera durante cerca de dois meses uma parte do Império Colonial.
Encontrei agora O Mundo Português que anuncia o evento, o número de Setembro – Outubro de 1935.
Alguém descreve a entrada em Bissau, os batuques a receberem os jovens no cais do Pidjiquiti, as aves de cores variadas, os jagudis alimentando-se de dejectos (havia então uma multa de 500 escudos para quem matasse estas aves) referindo-se que a vegetação era de um verde quase escuro, os mamífero de pequeno porte, e que alguns dos autóctones ainda se aproximavam a medo dos brancos.
O relato refere o baile oferecido pelo governador, um espectáculo com lutas e o autor escreve: “em que apreciei a agilidade, resistência e lealdade, qualidades que poucas vezes se vêem nos brancos. Os pretos são extraordinariamente bem constituídos”.
O governador da Guiné era o major Luiz António de Carvalho Viegas, que discursa assim na recepção aos jovens a quem se pretende dar uma lição de nacionalismo colonial, e deplorando a rapidez da visita que não permite mostrar pormenorizadamente aos jovens aspectos como: “A ordem, o sossego e a tranquilidade que há entre as 17 raças e sub-raças, de civilizações, hábitos e costumes completamente diferentes; como a colónia é cortada em todos os sentidos por estradas sobre algumas das quais os vossos automóveis podiam rolar a uma velocidade média de 90 km/hora; veriam as suas matas onde se encontra a onça, a pantera, a hiena, o leão e o elefante, as suas lagoas povoados de cavalos-marinhos e crocodilos, as suas opulentas palmeiras cujos frutos nos oferecem o coconote e o óleo de palma...”.
Importa esclarecer que não houve segundo cruzeiro às colónias, vá lá saber-se porquê...
Extraí algumas imagens que me pareceram bastante impressivas: junto ao túmulo de Honório Pereira Barreto em Bissau e duas imagens de Bolama, então capital da colónia.
Esta revista ficará a pertencer ao espólio do nosso blogue.
Uma guineense “modernista”
Beja Santos
Alf Mil do Pel Caç Nat 52
Imagens: Mário Beja Santos (2009). Direitos reservados.
____________
Nota de M.R.:
Vd. último poste da série em:
Guiné 63/74 - P4755: Blogpoesia (55): História de Portugal em Sextilhas (Manuel Maia) (IX Parte): Do início da República à Grande Guerra (1910/17)
Guiné > Região do Oio > Fatim > 2ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (1972/74) > 1974 > "Este vosso escriba com as divisas de bico p'ra baixo apostas (só mesmo para a fotografia)... O 'artista' empoleirado numa árvore junto à bolanha onde pescávamos. Foto tirada a 13 de Março de 1974, em Fatim, perto de Nhacra, já no bem bom"... (MM)
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > Cafine > Maio de 1973 > "Junto a uma das mesas da nossa 'messe', em Cafine, creio que em Maio de 1973... Na foto, vê-se o Capitão Terrível (1º à esquerda), o Alf Dias e o Fur Martins (falecido); do lado direito, Fur Afonso (falecido), Fur Vitor Codeiro (membro do blogue), Fur Moura; e eu, ao fundo" (MM)...
Guiné > Guiné > Região do Oio > Nhacra > Fatim > Novembro de 1973 > Destacamento da 2ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (1972/74) > O Manuel Maia mais o Agulha, faxina de Fatim, "já no bem bom de Fatim, em Novembro de 1973" (MM)
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > Cafine > Agosto de 1973 > Destacamento da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (1972/74) > Os depósitos (!) de água do destacamento... Na foto, o autor, desfardado...
Guiné > Região de Tombali > Cantanhez > Cafal Balanta > Janeiro ou Fevereiro de 1973 > 2ª CCAÇ / BCAÇ 4610 (1972/74) , Os Terríveis > O Manuel Maia fotografado... em território inimigo, no mítico Cantanhês (leia-se, fora do arame farpado
"Esta fotografia é a 'prova provada' que contraria a versão de AB [Almeida Bruno], já que o indivíduo de tronco nu, que às vezes andava fardado de militar do Exército Português com umas 'divisas amarelas de bico pa'ra baixo' , modestas mas dignamente ganhas, acusado juntamente com mais uns milhares de militares, está sentado sim, mas... do lado de fora do arame farpado!!!
"O 'militar desfardado' não teve medo de se deixar fotografar froa o arame farpadi só para que se
soubesse que ali bem perto, a escassos meros, não se recebiam medalhas, mas ferro quente.
"Ainda bem que tenhio este documento comprovativo de que às vezes estávamos fora do arame farpado" (MM)...
Fotos: © Manuel Maia (2009). Direitos reservados.
Lisboa > 1917 > A partida para a guerra (excerto): uma das mais emblemáticas fotos do Joshua Benoliel (1873-1932), o maior fotojornalista português das duas primeiras décadas do Séc. XX. (*) Arquivo fotográfico do Arquivo Municipal de Lisboa.
Fonte: Foto de Luís Graça (2005), obtida na Exposição Joshua Benoliel (1873-1932), Repórter Fotográfico que decorreu em Lisboa, Cordoaria Nacional, de 18 de Maio a 21 de Agosto de 2005.
IX parte da História de Portugal em Sextilhas, escritas pelo Manuel Maia, licenciado em História (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74). Texto enviado em 15 de Julho último (*).
História de Portugal em Sextilhas,
por Manuel Maia (*)
Da proclamação da República em 1910 até à participação de Portugal na I Guerra Mundial, em 1917
247-No cinco de Outubro perecia
a velha portuguesa monarquia
que o rei primeio dera de presente.
É Relvas quem proclama em Lisboa
o fim da já vetusta lusa c´roa,
por troca co´a República emergente.
248-Nascido nos Açores, Ponta Delgada,
de aristocrata gente, bem criada,
bem cedo conheceu a orfandade.
Da Escola Coimbrã foi fundador
ao lado dum Antero, interventor,
Teófilo mostrou capacidade.
249-Doutoramento alcança com Direito
e cátedra de Letras toma a peito,
de Augusto Conte foi estudioso.
Republicano, assume a presidência,
este homem que era poço de ciência,
no galarim da história bem famoso.
Teófil Braga (1843-1924)
Fonte: Wikipédia
250-Teófilo que é Braga tem chefia,
do elenco provisório que fazia,
da Igreja inimigo figadal,
ao promulgar a lei/separação,
e promover a subordinação,
da mitra ao poder forte, estatal...
251-Na luta contra a Igreja, em guerra aberta,
as várias Ordens vão ter morte certa,
imposta do país sua expulsão.
Governo ao publicar a lei da imprensa,
divórcio, greve, impõe feliz sentença
que fez regozijar toda a Nação...
252-Aceite pela nova Constituinte,
regime dá depois passo seguinte
e faz de A Portuguesa o nosso hino.
Para ocupar cadeira que está vaga,
um outro açoreano, Arriaga,
o mais alto lugar tem por destino.
A Bandeira Nacional
adoptada pela República,
por Decreto nº 150, de
30 de JUnho de 1911
Fonte: Wikipédia
253-Desejo de invasão então motiva
monárquicos, que fazem tentativa
de entrada pelo Norte, lá em Vinhais.
Couceiro e Sousa Dias, derrotados,
p´la força retrocedem, humilhados,
voltando bem mais tarde a dar sinais...
Afonso Costa (1871-1937)
Fonte: Wikipédia
254-Cobiça de Alemães e Ingleses
visando territórios portugueses
Os Dembos, em Angola, instigará.
Afonso Costa chega ao poder
e usando a força p´ras greves conter,
mil ódios e revoltas gerará...
255-Reais adeptos com sindicalistas,
apoiam Lima Dias e grevistas
querendo derrubar governo eleito.
Perdendo, enchem celas das prisões,
Afonso Costa vence as eleições,
reforça então poder, seu por direito...
256-Mau grado um orçamento milagroso
gerando um superavit estrondoso,
Afonso Costa vai largar assento.
Unionistas tiram-lhe o tapete,
impondo a Arriaga (que remete...)
o apelo a Bernardino, sempre atento...
257-Machado (Bernardino), um professor,
da liberdade enorme defensor,
maçon grão-mestre e lente coimbrão.
Desiludido com a monarquia,
com armas e bagagens mudaria,
republicanas hostes fôra opção...
258-Constatação surgida facilmente
mostrou um Arriaga presidente
a dar a mais governos sua posse...
Depois de Bernardino vem Coutinho,
Pimenta Castro está já a caminho,
a ditadura tem tempo precoce...
259-Pimenta Castro é duro general
de quem esperam seja mesmo o tal,
capaz das resistências amansar...
Sentindo ser credora da razão,
unida fez-se forte a oposição
e o faz perder, à força, o seu lugar...
260-Em carta a Afonso Costa, Chagas diz,
que o "mal se corta sempre p´la raíz",
exige a ordem, actos decididos.
Na urgência de acabar com a anarquia,
panfleto Última Crise evidencia,
horror quanto ao povinho e os partidos...
261-Catorze, mês de Maio, quinze o ano,
maçónica a revolta, grande o dano,
destruição campeia na cidade.
Lisboa ouviu troar os cruzadores,
sentiu pairar no ar gritos e dores,
razão de fundo o nome, liberdade...
262-Mas sendo o ideólogo da acção,
irá formar governo de união,
mau grado ausência, grave, das chefias...
e Freitas, senador, gera atentado,
cegando Chagas vai morrer linchado,
saída de Arriaga está por dias...
263-Se Chagas está dois meses no poder,
Augusto Vasconcelos vai merecer
ter sete meses p´ro cargo ocupar.
Duarte Leite tem um tempo igual
Afonso Costa, bivencendo, é o tal
com mais de um ano p´ra ocupar lugar...
264-Teófilo vai ser o candidato
a dar por findo o resto do mandato,
da mais alta figura, Arriaga...
Novo acto eleitoral efectuado,
indicará Bernardino Machado
como ocupante p´ra cadeira vaga...
265-Cumprido o seu papel republicano,
o homem superior, afável, lhano,
largou, de vez, política maldita.
Depois da deserção do conterrâneo,
de quem foi sete meses sucedâneo,
Teófilo mergulha, enfim, na escrita...
Angola > Luanda > Antigo Largo Maria da Fonte, hoje Largo do Kinaxixe > 1967 > Monumento aos Mortos da Grande Guerra (e, do lado esquerdo o mercado de Kinaxixe). Foi posteriormente dinamitado e substituído por um tanque soviético... Hoje está lá a estátua da Rainha Nzinga Mbandi.
Fonte: Blogue Nonas > Poste de 3 de Julho de 2008 > As estátuas de Luanda e o General (Com a devida cortesia...)
Foto (editada): Sítio Galeria SanzalAngola > Álbum Luanda de Outros Tempois, Preto e Branco (Com a devida vénia...)
266-Governo novo com Afonso Costa
fará da paz de Angola forte aposta,
visando ira alemã suster de vez.
Gravosa p´ro país foi inflação,
imposta p´la africana expedição
que a honra lusa e brio satisfez...
267-Germânicos ataques infligidos,
p´los lusos povos d´África sofridos,
são acicate à honra do país.
Apresam-se teutónicos navios
fazendo deles barcos luzidios
de empresa nova feita de raiz...
268-Marítimo Transporte de Estado
p´ro anglo-luso interesse então criado,
os boches vai levar à irritação...
Declaração de guerra surge após,
forçando ao juntar forças, entre nós,
Sagrada União fez a Nação...
269- Quionga, em Moçambiquem é retomada,
da força invasora resgatada,
por cá, de novo tudo está a aquecer...
Machado Santos volta p´ras alhadas
perdido o Movimento das Espadas
de novo, sublevado, vai perder...
270-Catorze trouxe a outorga p´lo Congresso,
para a intervenção lusa no processo
da grande e horrenda Guerra entre as Nações.
Apoio à Inglaterra, aliada
contra a Alemanha, em França (ocupada...)
faz lusos se baterem, quais leões...
Manuel Maia
[ Revisão / fixação de texto / imagens: L.G.]
__________
Notas de L.G.:
(*) Vd. postes anteriores:
2 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4274: Blogpoesia (43): A história de Portugal em sextilhas (Manuel Maia)
3 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4278: Blogpoesia (44): A história de Portugal em sextilhas (II Parte) (Manuel Maia)
6 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4290: Blogpoesia (45): História de Portugal em Sextilhas (Manuel Maia) (III Parte): II Dinastia, até ao reinado de D. João II
15 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4351: Blogpoesia (47): História de Portugal em sextilhas (Manuel Maia) (IV Parte): II Dinastia (De D.Manuel, O Venturoso, até ao fim)
3 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4456: Blogpoesia (48): História de Portugal em sextilhas (Manuel Maia) (V Parte): III Dinastia (Filipina)
22 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4561: Blogpoesia (49): História de Portugal em sextilhas (Manuel Maia) (VI Parte): IV Dinastia (Brigantina) (até 1755)
30 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4610: Blogpoesia (51): História de Portugal em sextilhas (Manuel Maia) (VII Parte): De Pombal (1755) até ao regente D. Miguel (1828)
10 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4663: Blogpoesia (53): História de Portugal em sextilhas (Manuel Maia) (VIII Parte): Da Monarquia Constitucional à República
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > Cafine > Maio de 1973 > "Junto a uma das mesas da nossa 'messe', em Cafine, creio que em Maio de 1973... Na foto, vê-se o Capitão Terrível (1º à esquerda), o Alf Dias e o Fur Martins (falecido); do lado direito, Fur Afonso (falecido), Fur Vitor Codeiro (membro do blogue), Fur Moura; e eu, ao fundo" (MM)...
Guiné > Guiné > Região do Oio > Nhacra > Fatim > Novembro de 1973 > Destacamento da 2ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (1972/74) > O Manuel Maia mais o Agulha, faxina de Fatim, "já no bem bom de Fatim, em Novembro de 1973" (MM)
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > Cafine > Agosto de 1973 > Destacamento da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (1972/74) > Os depósitos (!) de água do destacamento... Na foto, o autor, desfardado...
Guiné > Região de Tombali > Cantanhez > Cafal Balanta > Janeiro ou Fevereiro de 1973 > 2ª CCAÇ / BCAÇ 4610 (1972/74) , Os Terríveis > O Manuel Maia fotografado... em território inimigo, no mítico Cantanhês (leia-se, fora do arame farpado
"Esta fotografia é a 'prova provada' que contraria a versão de AB [Almeida Bruno], já que o indivíduo de tronco nu, que às vezes andava fardado de militar do Exército Português com umas 'divisas amarelas de bico pa'ra baixo' , modestas mas dignamente ganhas, acusado juntamente com mais uns milhares de militares, está sentado sim, mas... do lado de fora do arame farpado!!!
"O 'militar desfardado' não teve medo de se deixar fotografar froa o arame farpadi só para que se
soubesse que ali bem perto, a escassos meros, não se recebiam medalhas, mas ferro quente.
"Ainda bem que tenhio este documento comprovativo de que às vezes estávamos fora do arame farpado" (MM)...
Fotos: © Manuel Maia (2009). Direitos reservados.
Lisboa > 1917 > A partida para a guerra (excerto): uma das mais emblemáticas fotos do Joshua Benoliel (1873-1932), o maior fotojornalista português das duas primeiras décadas do Séc. XX. (*) Arquivo fotográfico do Arquivo Municipal de Lisboa.
Fonte: Foto de Luís Graça (2005), obtida na Exposição Joshua Benoliel (1873-1932), Repórter Fotográfico que decorreu em Lisboa, Cordoaria Nacional, de 18 de Maio a 21 de Agosto de 2005.
IX parte da História de Portugal em Sextilhas, escritas pelo Manuel Maia, licenciado em História (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74). Texto enviado em 15 de Julho último (*).
História de Portugal em Sextilhas,
por Manuel Maia (*)
Da proclamação da República em 1910 até à participação de Portugal na I Guerra Mundial, em 1917
247-No cinco de Outubro perecia
a velha portuguesa monarquia
que o rei primeio dera de presente.
É Relvas quem proclama em Lisboa
o fim da já vetusta lusa c´roa,
por troca co´a República emergente.
248-Nascido nos Açores, Ponta Delgada,
de aristocrata gente, bem criada,
bem cedo conheceu a orfandade.
Da Escola Coimbrã foi fundador
ao lado dum Antero, interventor,
Teófilo mostrou capacidade.
249-Doutoramento alcança com Direito
e cátedra de Letras toma a peito,
de Augusto Conte foi estudioso.
Republicano, assume a presidência,
este homem que era poço de ciência,
no galarim da história bem famoso.
Teófil Braga (1843-1924)
Fonte: Wikipédia
250-Teófilo que é Braga tem chefia,
do elenco provisório que fazia,
da Igreja inimigo figadal,
ao promulgar a lei/separação,
e promover a subordinação,
da mitra ao poder forte, estatal...
251-Na luta contra a Igreja, em guerra aberta,
as várias Ordens vão ter morte certa,
imposta do país sua expulsão.
Governo ao publicar a lei da imprensa,
divórcio, greve, impõe feliz sentença
que fez regozijar toda a Nação...
252-Aceite pela nova Constituinte,
regime dá depois passo seguinte
e faz de A Portuguesa o nosso hino.
Para ocupar cadeira que está vaga,
um outro açoreano, Arriaga,
o mais alto lugar tem por destino.
A Bandeira Nacional
adoptada pela República,
por Decreto nº 150, de
30 de JUnho de 1911
Fonte: Wikipédia
253-Desejo de invasão então motiva
monárquicos, que fazem tentativa
de entrada pelo Norte, lá em Vinhais.
Couceiro e Sousa Dias, derrotados,
p´la força retrocedem, humilhados,
voltando bem mais tarde a dar sinais...
Afonso Costa (1871-1937)
Fonte: Wikipédia
254-Cobiça de Alemães e Ingleses
visando territórios portugueses
Os Dembos, em Angola, instigará.
Afonso Costa chega ao poder
e usando a força p´ras greves conter,
mil ódios e revoltas gerará...
255-Reais adeptos com sindicalistas,
apoiam Lima Dias e grevistas
querendo derrubar governo eleito.
Perdendo, enchem celas das prisões,
Afonso Costa vence as eleições,
reforça então poder, seu por direito...
256-Mau grado um orçamento milagroso
gerando um superavit estrondoso,
Afonso Costa vai largar assento.
Unionistas tiram-lhe o tapete,
impondo a Arriaga (que remete...)
o apelo a Bernardino, sempre atento...
257-Machado (Bernardino), um professor,
da liberdade enorme defensor,
maçon grão-mestre e lente coimbrão.
Desiludido com a monarquia,
com armas e bagagens mudaria,
republicanas hostes fôra opção...
258-Constatação surgida facilmente
mostrou um Arriaga presidente
a dar a mais governos sua posse...
Depois de Bernardino vem Coutinho,
Pimenta Castro está já a caminho,
a ditadura tem tempo precoce...
259-Pimenta Castro é duro general
de quem esperam seja mesmo o tal,
capaz das resistências amansar...
Sentindo ser credora da razão,
unida fez-se forte a oposição
e o faz perder, à força, o seu lugar...
260-Em carta a Afonso Costa, Chagas diz,
que o "mal se corta sempre p´la raíz",
exige a ordem, actos decididos.
Na urgência de acabar com a anarquia,
panfleto Última Crise evidencia,
horror quanto ao povinho e os partidos...
261-Catorze, mês de Maio, quinze o ano,
maçónica a revolta, grande o dano,
destruição campeia na cidade.
Lisboa ouviu troar os cruzadores,
sentiu pairar no ar gritos e dores,
razão de fundo o nome, liberdade...
262-Mas sendo o ideólogo da acção,
irá formar governo de união,
mau grado ausência, grave, das chefias...
e Freitas, senador, gera atentado,
cegando Chagas vai morrer linchado,
saída de Arriaga está por dias...
263-Se Chagas está dois meses no poder,
Augusto Vasconcelos vai merecer
ter sete meses p´ro cargo ocupar.
Duarte Leite tem um tempo igual
Afonso Costa, bivencendo, é o tal
com mais de um ano p´ra ocupar lugar...
264-Teófilo vai ser o candidato
a dar por findo o resto do mandato,
da mais alta figura, Arriaga...
Novo acto eleitoral efectuado,
indicará Bernardino Machado
como ocupante p´ra cadeira vaga...
265-Cumprido o seu papel republicano,
o homem superior, afável, lhano,
largou, de vez, política maldita.
Depois da deserção do conterrâneo,
de quem foi sete meses sucedâneo,
Teófilo mergulha, enfim, na escrita...
Angola > Luanda > Antigo Largo Maria da Fonte, hoje Largo do Kinaxixe > 1967 > Monumento aos Mortos da Grande Guerra (e, do lado esquerdo o mercado de Kinaxixe). Foi posteriormente dinamitado e substituído por um tanque soviético... Hoje está lá a estátua da Rainha Nzinga Mbandi.
Fonte: Blogue Nonas > Poste de 3 de Julho de 2008 > As estátuas de Luanda e o General (Com a devida cortesia...)
Foto (editada): Sítio Galeria SanzalAngola > Álbum Luanda de Outros Tempois, Preto e Branco (Com a devida vénia...)
266-Governo novo com Afonso Costa
fará da paz de Angola forte aposta,
visando ira alemã suster de vez.
Gravosa p´ro país foi inflação,
imposta p´la africana expedição
que a honra lusa e brio satisfez...
267-Germânicos ataques infligidos,
p´los lusos povos d´África sofridos,
são acicate à honra do país.
Apresam-se teutónicos navios
fazendo deles barcos luzidios
de empresa nova feita de raiz...
268-Marítimo Transporte de Estado
p´ro anglo-luso interesse então criado,
os boches vai levar à irritação...
Declaração de guerra surge após,
forçando ao juntar forças, entre nós,
Sagrada União fez a Nação...
269- Quionga, em Moçambiquem é retomada,
da força invasora resgatada,
por cá, de novo tudo está a aquecer...
Machado Santos volta p´ras alhadas
perdido o Movimento das Espadas
de novo, sublevado, vai perder...
270-Catorze trouxe a outorga p´lo Congresso,
para a intervenção lusa no processo
da grande e horrenda Guerra entre as Nações.
Apoio à Inglaterra, aliada
contra a Alemanha, em França (ocupada...)
faz lusos se baterem, quais leões...
Manuel Maia
[ Revisão / fixação de texto / imagens: L.G.]
__________
Notas de L.G.:
(*) Vd. postes anteriores:
2 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4274: Blogpoesia (43): A história de Portugal em sextilhas (Manuel Maia)
3 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4278: Blogpoesia (44): A história de Portugal em sextilhas (II Parte) (Manuel Maia)
6 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4290: Blogpoesia (45): História de Portugal em Sextilhas (Manuel Maia) (III Parte): II Dinastia, até ao reinado de D. João II
15 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4351: Blogpoesia (47): História de Portugal em sextilhas (Manuel Maia) (IV Parte): II Dinastia (De D.Manuel, O Venturoso, até ao fim)
3 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4456: Blogpoesia (48): História de Portugal em sextilhas (Manuel Maia) (V Parte): III Dinastia (Filipina)
22 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4561: Blogpoesia (49): História de Portugal em sextilhas (Manuel Maia) (VI Parte): IV Dinastia (Brigantina) (até 1755)
30 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4610: Blogpoesia (51): História de Portugal em sextilhas (Manuel Maia) (VII Parte): De Pombal (1755) até ao regente D. Miguel (1828)
10 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4663: Blogpoesia (53): História de Portugal em sextilhas (Manuel Maia) (VIII Parte): Da Monarquia Constitucional à República
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