1. Texto José Teixeira* (ex-1.º Cabo Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada , 1968/7), alusivo à chegada da sua Companhia a Lisboa, faz hoje 40 anos**.
DIA 8 DE ABRIL DE 1970 – O REGRESSO À MÃE PÁTRIA
Uf. Cheguei !
Não. Ainda não cheguei.
Estou estacionado no Tejo, mais propriamente no Mar da Palha. Ali, mesmo ao lado de Lisboa.
É noite. Ao longe a marginal iluminada convida-nos a entrar, abrindo-nos as portas de regresso. Os automóveis da noite relembram-nos outras noites, em Lisboa, no Porto, na terra de cada um desde o Minho ao Algarve. Já lá vão dois anos.
Para lá se dirigem milhares de olhos. Os comentários “apimentados” sucedem-se. Há quem aposte que já vê a família lá ao longe no cais que se imagina para além da curva do rio.
Niassa > Navio misto (carga e passageiros) da Companhia Nacional de Navegação. Fonte: Navios Mercantes Portugueses Página de Carlos Russo Belo com a devida vénia.
Podíamos ter desembarcado hoje. O destino que alguém ainda controla marcou a hora do desembarque. O NIASSA ao avistar a costa reduziu a velocidade. Entrou na Barra ao pôr-do-sol e estacionou, para raiva dos milhares de homens que queriam fugir daquele mundo e esquecer para sempre aqueles dois anos na Guiné.
Como estavam enganados! Comprova-se hoje, nos encontros de convívio das Companhias e dos Batalhões, das tabancas e tabanquinhas que vão surgindo aqui e além. Nos grupos organizados que todos os anos, agora de forma voluntária, se deslocam à Guiné, levando amizade e fraternidade. Levando os bolsos cheios (leia-se contentores) de coisas úteis para aquela pobre gente que sonhava com a liberdade, como sinal de mudança de vida para melhor e encontraram um inferno ainda maior.
Ali ficamos mais uma noite, às ordens de sua senhoria os “senhores do exército” que naqueles dois anos foram os gestores do nosso destino. Seria a última.
Toda a gente debruçada na amurada do barco. Cotevelada daqui. Empurrão dacolá. Um palavrão pelo meio, porque me estás a calcar oh cabrão!
Cantou-se, dançou-se… sobretudo sonhou-se, bem acordados que estávamos, naquela noite, talvez a mais longa, depois das que tínhamos passado debaixo de fogo. Noite que nunca mais passava. Noite em que aprisionados no meio do Tejo vislumbrávamos com esperança (quase certa) a liberdade.
A manhã chegou. Os motores do Niassa dão sinal de vida. É o princípio do fim.
Ao longe, o cais espera-nos.
Não. Não são fantasmas!
São milhares de pessoas expectantes. Muitas delas montaram tenda, sem tendas, naquele lugar, naquela noite, para nos verem chegar.
São os nossos queridos familiares e amigos.
Outros, chegaram com a manhã, cedinho, na esperança de assistirem ao desembarque.
Chegada ao cais. As pernas tremem de alegria, as lágrimas teimosamente deslizam pela face abaixo. Os olhos ávidos de esperança vasculham o cais à procura de um sinal. O sinal combinado para o feliz encontro que teima em não chegar.
Por fim, lá ao longe, uma silhueta, um aceno, um grito de felicidade. Está ali! Está ali!
Aonde? Não o vejo!
Ali ao fundo…
Porto de Lisboa > NTT Niassa > Estação Marítima de Alcântara > 09/Abr/70 > Momento da tentativa de acostagem na Gare, com a emoção para visualização dos seus.
Porto de Lisboa > Placa da Estação Marítima de Alcântara > 09/Abril/1970 > Multidão aguardando a chegada de Militares, apresentando dísticos.
Fotos e legendas: © Américo Estorninho (2010). Direitos reservados
Seguem-se os abraços sem fim. O beijo afectuoso de uma mãe que sempre acreditou. A sua promessa de ir a Fátima a pé, agradecer à Virgem Maria, valeu. A Senhora protegeu o seu filho.
Agora vamos cumpri-la e ele vai comigo. Ai vai, vai!
A esposa que soube esperar e lhe trás o filho que ele ainda não conhecia. A namorada que teve a coragem de resistir por amor.
Ali estão todos. Ah felicidade de um raio! Finalmente chegou o dia do regresso.
Não sei porquê, mas nestas alturas as lágrimas são teimosas e continuam a deslizar pela face ao mesmo tempo que o coração rebenta de alegria e a boca deixa sair as mais ternas palavras de afecto, carinho e amor.
Mas o drama tem mais um acto que é preciso cumprir.
Há que partir para a GMC que nos espera. O comboio especial está em Santa Apolónia à nossa espera.
Porra! Nem agora que chegamos, nos dão uns momentos para a família!
Sim. Depois de ires a Abrantes, entregar a merda da rota e gasta farda e receberes o pré. Oito dias de pré são oito dias e a lei é para se cumprir.
O comboio parte abarrotado de ex-combatentes. Confesso que ainda duvido em me considerar ex-combatente. Ainda não entreguei a farda. “Eles” têm sempre razão. Quem sabe, se…
Àquele barulho ensurdecedor dos milhares de homens que se acotovelam nas janelas do comboio, correspondem os moradores que vêm às janelas, varandas, porta da rua e transeuntes, com acenos de alegria e… com lágrimas. Umas de alegria, outras, quem sabe… talvez de tristeza, porque recordam os seus queridos que estão “perdidos” lá na tal guerra de que nos safámos.
Abrantes. A farda entregue. Qual pré, qual carapuça. Boa noite e meia volta, (já não precisava de bater a pala) ainda a tempo de ouvir o pulha do primeiro-sargento dizer para o cabo que conferiu a farda: “Mais um que se esqueceu de receber o pré.”
Foda-se a guita, quero-me ir embora já!
A caminhada até à estação do comboio, que teimava em não chegar.
Entroncamento e novo comboio que parecia ter substituído os rodados por chancas. Parou em todos os sítios onde havia uma gare.
Por fim, já o sol despontara na manhá seguinte. Se fosse hoje, ouviria, “senhores passageiros, dentro de momentos chegaremos à Estação das Devesas - Vila Nova de Gaia. Pedimos desculpa pelo atraso”. Mas, não. Gaia surgiu e do lado de lá do rio, o meu Porto.
Foi agora e só agora. Aqui nas Devesas ao ver o Porto ao longe que senti.
Finalmente estou livre, carago!
Passaram quarenta anos. Pensava eu que a Guiné fora uma etapa para esquecer e que a vida continuava. Como estava errado. A Guiné grudou-se a mim, vive comigo todos os dias e irá comigo para a cova. O meu espírito vagueia por aquelas tabancas, olha de frente aquela gente terna e meiga que me acolheu, quando eu era “agressor” e me acolhe agora com terno carinho, sempre que vou até lá matar saudades.
Empada 2005 > José Teixeira com um ex-Milícia e sua filha
Zé Teixeira
__________
Notas de CV:
(*) José Teixeira é co-fundador da Tabanca Pequena - Grupo de Amigos da Guiné-Bissau - Apoio e Cooperação ao Desenvolvimento Africano.
Vd. último poste de José Teixeira de 20 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6024: Convívios (119): Convívio Anual da CCAÇ 2382 & CCAÇ 2381, no próximo dia 1 de Maio de 2010, em Fátima (José Teixeira)
(**) Vd. poste de Arménio Estorninho de 1 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6089: Os nossos regressos (21): No dia 1 de Abril de 1970, a CCAÇ 2381 finalmente despede-se em Parada Militar (Arménio Estorninho)
Vd. último poste da série de 2 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6095: Os nossos regressos (22): Os cruzeiros da minha vida (Armandino Alves)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quinta-feira, 8 de abril de 2010
Guiné 63/74 - P6129: (Ex)citações (66): Repondo a verdade sobre o ensino na Guiné Portuguesa (Mário Dias)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Dias (ex-sargento Comando, Brá, 1963/66), com data de 6 de Abril de 2010:
Caro Luis,
Caros editores,
Cá estou mais uma vez a rezingar. Achaques da idade que certamente me desculparão.
Como a prosa é longa vai em anexo. A sua publicação, ou não, fica ao vosso critério.
Um grande abraço do
Mário Dias
Repondo a verdade sobre o ensino na Guiné Portuguesa
Nos últimos tempos, embora visite regularmente a tabanca, tenho-me abstido de intervir ou comentar por vários motivos, sendo o principal a pouca disposição – leia-se preguiça.
Prefiro ser um leitor atento e “engolir” opiniões, por vezes absurdas, que vão sendo produzidas. Mas tratando-se de opiniões e como cada um tem direito à sua nada digo embora me pareça que, por vezes, se ultrapassam os propósitos do blogue: narrar os acontecimentos que cada um viveu na guerra.
Para mim, isto significa não ir além dos factos ocorridos, nem referir nada que não se tenha a certeza ser verdadeiro. Opiniões? Tudo bem... não passam disso mesmo: “opiniões” e nada digo.
Porém quando se fazem afirmações menos verdadeiras que futuramente poderão induzir em erro quem as leia, vejo-me obrigado a intervir a bem da verdade dos factos e da história.
Toda esta lengalenga vem a propósito do P6014** da autoria do camarada Daniel Matos onde refere que “até há poucos anos, em todo o território, apenas se podia estudar até ao 2.º ano do primeiro ciclo...”
Saltou-me logo a mola como se costuma dizer.
Em fui para a Guiné em Fevereiro de 1952 ainda muito jovem (15 anos) e já nessa altura estava em funcionamento o Colégio Liceu de Bissau. A minha irmã mais nova lá estudou e completou o 5.º ano (2.º ciclo). Pensei retorquir de imediato mas como a quente podemos ser menos agradáveis para com os visados nada disse e resolvi aguardar uns tempos e, sobretudo, procurar elementos de consulta para fundamentar a minha intervenção e não restassem dúvidas sobre a sua veracidade.
Pesquisando o sítio http://memoria-africa.uo.pt/ que recomendo vivamente a quantos se interessarem pela história, devidamente fundamentada, da nossa passagem por terras de África, lá fui encontrar no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa N.º 22 de Abril de 1951, pág. 477, o seguinte:
Colégio – Liceu
“Analisando estatisticamente o movimento do ensino liceal nesta Província no ano lectivo de 1949-1950, apresentamos elementos deveras satisfatórios...”
No quadro apresentado podemos ver que o Colégio-Liceu leccionava o 1.º ciclo (1.º e 2.º anos) e 2.º ciclo (3.º, 4.º e 5.º anos). No ano lectivo referido teve a frequência de 46 alunos sendo 5 europeus, 4 euro-africanos, 11 mestiços, 24 negros e 2 “outros” (vai com aspas pois não sei o que estes “outros” seriam).
O número de alunos era bastante escasso mas é interessante referi-lo pois nos permite avaliar o progresso neste domínio registado poucos anos depois.
Era neste edifício que funcionava o Colégio-Liceu. Por decreto foi criado o Liceu Honório Barreto conforme se pode ler no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa N.º 50, de Abril de 1958.
No ano lectivo 1958/59 instalou-se na parte alta da cidade de Bissau, nas proximidades dos Serviços Meteorológicos, provisoriamente em pavilhões de rés-do-chão, e era frequentado por 249 alunos bem longe dos cerca de 50 inicialmente existentes.
Em data que não posso precisar, o Liceu Honório Barreto passou a ter um novo edifício na parte alta da cidade do qual certamente muitos se recordam ainda.
(com a devida vénia de rumuafulacunda.wodrpress.com/Bissau)
Paralelamente ao liceu existia uma Escola Técnica que começou a funcionar nos finais da década de 50 com 164 alunos. Conforme n.º 56, de Outubro de 1959 do já referido Boletim, esta escola “foi elevada à categoria de Industrial e Comercial por decreto ministerial e nela passarão a ministrar-se os seguintes cursos: Ciclo Preparatório Industrial, Formação de Serralheiros, Carpinteiros, Mecânicos, Montadores Electricistas, bem como o Curso Geral de Comércio e o de Formação Feminina.”
No ano lectivo de 1958/59 esta escola era frequentada por 1051 alunos.
Além destes estabelecimentos oficiais de ensino, muitas entidades públicas ministravam cursos práticos e estágios diversos a quem lá trabalhava como era o caso das Obras Públicas, Oficinas Navais etc., não podendo deixar de referir o relevante papel desempenhado neste campo pelas Missões Católicas.
Também as considerações do nosso camarada Daniel Matos quanto à assistência médica não são rigorosas. Poderei rebatê-las, devidamente fundamentado, se assim desejarem.
Mas como a prosa já vai longa, por aqui me fico. Apenas, a título de curiosidade e porque a grande maioria dos “atabancados” não deve saber, o Hospital Militar de Bissau não foi construído com essa finalidade. Foi construído e inaugurado em Maio de 1960, portanto muito antes da guerra, como Hospital de Tisiologia. Pelo facto de tratar doenças infecto-contagiosas é que foi escolhida uma localização num ponto elevado e afastado das populações. Na altura da sua construção e entrada em funcionamento não existiam quaisquer habitações nas proximidades. Passou a Hospital Militar por necessidades derivadas da guerra tal como aconteceu um pouco por toda a Guiné onde diversas instalações foram atribuídas e ocupadas pelas unidades militares.
Mantenhas para todos.
Mário Dias
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 7 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5228: Memória dos lugares (52): Rio Corubal: afinal, havia... 3 pontes !? (C. Silva / D. Guimarães / M. Dias / Luís Graça)
(**) Vd. poste de 18 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6014: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (2): Levar a lenha e sair queimado
Vd. último poste da série de 7 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6126: (Ex)citações (57): Os nossos Brandões desconhecidos que foram os antepassados dos pais fundadores do PAIGC, MPLA e FRELIMO (António Rosinha)
Caro Luis,
Caros editores,
Cá estou mais uma vez a rezingar. Achaques da idade que certamente me desculparão.
Como a prosa é longa vai em anexo. A sua publicação, ou não, fica ao vosso critério.
Um grande abraço do
Mário Dias
Repondo a verdade sobre o ensino na Guiné Portuguesa
Nos últimos tempos, embora visite regularmente a tabanca, tenho-me abstido de intervir ou comentar por vários motivos, sendo o principal a pouca disposição – leia-se preguiça.
Prefiro ser um leitor atento e “engolir” opiniões, por vezes absurdas, que vão sendo produzidas. Mas tratando-se de opiniões e como cada um tem direito à sua nada digo embora me pareça que, por vezes, se ultrapassam os propósitos do blogue: narrar os acontecimentos que cada um viveu na guerra.
Para mim, isto significa não ir além dos factos ocorridos, nem referir nada que não se tenha a certeza ser verdadeiro. Opiniões? Tudo bem... não passam disso mesmo: “opiniões” e nada digo.
Porém quando se fazem afirmações menos verdadeiras que futuramente poderão induzir em erro quem as leia, vejo-me obrigado a intervir a bem da verdade dos factos e da história.
Toda esta lengalenga vem a propósito do P6014** da autoria do camarada Daniel Matos onde refere que “até há poucos anos, em todo o território, apenas se podia estudar até ao 2.º ano do primeiro ciclo...”
Saltou-me logo a mola como se costuma dizer.
Em fui para a Guiné em Fevereiro de 1952 ainda muito jovem (15 anos) e já nessa altura estava em funcionamento o Colégio Liceu de Bissau. A minha irmã mais nova lá estudou e completou o 5.º ano (2.º ciclo). Pensei retorquir de imediato mas como a quente podemos ser menos agradáveis para com os visados nada disse e resolvi aguardar uns tempos e, sobretudo, procurar elementos de consulta para fundamentar a minha intervenção e não restassem dúvidas sobre a sua veracidade.
Pesquisando o sítio http://memoria-africa.uo.pt/ que recomendo vivamente a quantos se interessarem pela história, devidamente fundamentada, da nossa passagem por terras de África, lá fui encontrar no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa N.º 22 de Abril de 1951, pág. 477, o seguinte:
Colégio – Liceu
“Analisando estatisticamente o movimento do ensino liceal nesta Província no ano lectivo de 1949-1950, apresentamos elementos deveras satisfatórios...”
No quadro apresentado podemos ver que o Colégio-Liceu leccionava o 1.º ciclo (1.º e 2.º anos) e 2.º ciclo (3.º, 4.º e 5.º anos). No ano lectivo referido teve a frequência de 46 alunos sendo 5 europeus, 4 euro-africanos, 11 mestiços, 24 negros e 2 “outros” (vai com aspas pois não sei o que estes “outros” seriam).
O número de alunos era bastante escasso mas é interessante referi-lo pois nos permite avaliar o progresso neste domínio registado poucos anos depois.
Era neste edifício que funcionava o Colégio-Liceu. Por decreto foi criado o Liceu Honório Barreto conforme se pode ler no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa N.º 50, de Abril de 1958.
No ano lectivo 1958/59 instalou-se na parte alta da cidade de Bissau, nas proximidades dos Serviços Meteorológicos, provisoriamente em pavilhões de rés-do-chão, e era frequentado por 249 alunos bem longe dos cerca de 50 inicialmente existentes.
Em data que não posso precisar, o Liceu Honório Barreto passou a ter um novo edifício na parte alta da cidade do qual certamente muitos se recordam ainda.
(com a devida vénia de rumuafulacunda.wodrpress.com/Bissau)
Paralelamente ao liceu existia uma Escola Técnica que começou a funcionar nos finais da década de 50 com 164 alunos. Conforme n.º 56, de Outubro de 1959 do já referido Boletim, esta escola “foi elevada à categoria de Industrial e Comercial por decreto ministerial e nela passarão a ministrar-se os seguintes cursos: Ciclo Preparatório Industrial, Formação de Serralheiros, Carpinteiros, Mecânicos, Montadores Electricistas, bem como o Curso Geral de Comércio e o de Formação Feminina.”
No ano lectivo de 1958/59 esta escola era frequentada por 1051 alunos.
Além destes estabelecimentos oficiais de ensino, muitas entidades públicas ministravam cursos práticos e estágios diversos a quem lá trabalhava como era o caso das Obras Públicas, Oficinas Navais etc., não podendo deixar de referir o relevante papel desempenhado neste campo pelas Missões Católicas.
Também as considerações do nosso camarada Daniel Matos quanto à assistência médica não são rigorosas. Poderei rebatê-las, devidamente fundamentado, se assim desejarem.
Mas como a prosa já vai longa, por aqui me fico. Apenas, a título de curiosidade e porque a grande maioria dos “atabancados” não deve saber, o Hospital Militar de Bissau não foi construído com essa finalidade. Foi construído e inaugurado em Maio de 1960, portanto muito antes da guerra, como Hospital de Tisiologia. Pelo facto de tratar doenças infecto-contagiosas é que foi escolhida uma localização num ponto elevado e afastado das populações. Na altura da sua construção e entrada em funcionamento não existiam quaisquer habitações nas proximidades. Passou a Hospital Militar por necessidades derivadas da guerra tal como aconteceu um pouco por toda a Guiné onde diversas instalações foram atribuídas e ocupadas pelas unidades militares.
Mantenhas para todos.
Mário Dias
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 7 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5228: Memória dos lugares (52): Rio Corubal: afinal, havia... 3 pontes !? (C. Silva / D. Guimarães / M. Dias / Luís Graça)
(**) Vd. poste de 18 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6014: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (2): Levar a lenha e sair queimado
Vd. último poste da série de 7 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6126: (Ex)citações (57): Os nossos Brandões desconhecidos que foram os antepassados dos pais fundadores do PAIGC, MPLA e FRELIMO (António Rosinha)
quarta-feira, 7 de abril de 2010
Guiné 63/74 - P6128: Convívios (214): Almoço/Convívio do pessoal da CCAV 2748, dia 29 de Maio de 2010 em Almeirim (Francisco Palma)
1. Pede-nos o nosso camarada Francisco Palma a divulgação do Almoço/Convívio do Pessoal da CCAV 2748, no dia 29 de Maio em Alemirim
Francisco A Palma
Rua Sta Rita, 239 Piso 0 Dtº
S. João do Estoril-2765-281 ESTORIL
TELF: +351 919457954
e.Mail.: fapalma@vodafone.pt
ALMOÇO CONVIVIO dia 29 MAIO 2010
Caros camaradas e amigos
Vimos Convidar todos os Camaradas para o Convívio 2010 da Companhia de Cavalaria 2748
10,30 às 12.30 Horas Concentração no Largo Praça de Touros, (se alguém quiser ir à Missa das 11.00 irá com indicação onde fica o Restaurante)
RESTAURANTE MARISQUEIRA OS PAULOS
Largo da Praça de Touros
ALMEIRIM
ALMOÇO PELAS 13.30 HORAS
EMENTA
APERITIVOS:
Aperitivos variados, Martini, Sumos e Porto; Canapés, Rissóis e Croquetes
COUVERT:
Pão, Azeitonas Queijinho afatiado, Salgadinhos
QUENTES:
Sopa da Pedra
Cabrito Assado no Forno c/ guarnição
SOBREMESA:
Fruta da Época ou Doces do Dia
BEBIDAS:
Vinhos Branco e Tinto, Refrigerantes, Cerveja, Aguas, Café, e Digestivo
Bolo e espumante estão incluídos
Os interessados devem confirmar a reserva por carta ou
para o e-mail maito:fapalmaster@gmail.com
PAGAMENTO POR MULTIBANCO NIB 003300004531255507205 ou
TRANSFERENCIA BANCARIA, PARA A SEGUINTE CONTA MILLENNIUM bcp Nº: 45312555072 Agência de S. João do Estoril
TITULAR: Francisco Augusto Palma
NOTA: O Restaurante exige uma confirmação do número de participantes até 4 dias antes
Camaradas e amigos,
A actual comissão organizadora deliberou que a partir do ano 2011, os Convívios da CCAV 2748, passem a ser organizados por novos Organizadores, não se escusando a colaborar em tudo que os novos necessitem.
Esta iniciativa visa:
Que todos os camaradas possam participar mais e com novas ideias e novos locais, pelo que se pede a pré organização dessa nova comissão a ser anunciada no decorrer do Almoço.
A saúde do nosso Comandante continua em vigilância continuada.
Queremos que toda a CCAV 2748 esteja presente neste Almoço já que se celebram 38 anos no dia 29 de Maio, que a CCAV 2748 veio de Canquelifá para o Comuré (Bissau) para regressar ao Continente, Por isso - NÂO FALTES!
Os organizadores
Francisco Palma Tlm 919 457 954
Firmino Moreira Tlm 968 576 949
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 7 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6120: Convívios (127): 27.º Encontro Nacional de ex-militares do BENG 447 - Brá - Bissau, dia 8 de Maio de 2010 em Martingança
Francisco A Palma
Rua Sta Rita, 239 Piso 0 Dtº
S. João do Estoril-2765-281 ESTORIL
TELF: +351 919457954
e.Mail.: fapalma@vodafone.pt
ALMOÇO CONVIVIO dia 29 MAIO 2010
Caros camaradas e amigos
Vimos Convidar todos os Camaradas para o Convívio 2010 da Companhia de Cavalaria 2748
10,30 às 12.30 Horas Concentração no Largo Praça de Touros, (se alguém quiser ir à Missa das 11.00 irá com indicação onde fica o Restaurante)
RESTAURANTE MARISQUEIRA OS PAULOS
Largo da Praça de Touros
ALMEIRIM
ALMOÇO PELAS 13.30 HORAS
EMENTA
APERITIVOS:
Aperitivos variados, Martini, Sumos e Porto; Canapés, Rissóis e Croquetes
COUVERT:
Pão, Azeitonas Queijinho afatiado, Salgadinhos
QUENTES:
Sopa da Pedra
Cabrito Assado no Forno c/ guarnição
SOBREMESA:
Fruta da Época ou Doces do Dia
BEBIDAS:
Vinhos Branco e Tinto, Refrigerantes, Cerveja, Aguas, Café, e Digestivo
Bolo e espumante estão incluídos
Os interessados devem confirmar a reserva por carta ou
para o e-mail maito:fapalmaster@gmail.com
PAGAMENTO POR MULTIBANCO NIB 003300004531255507205 ou
TRANSFERENCIA BANCARIA, PARA A SEGUINTE CONTA MILLENNIUM bcp Nº: 45312555072 Agência de S. João do Estoril
TITULAR: Francisco Augusto Palma
NOTA: O Restaurante exige uma confirmação do número de participantes até 4 dias antes
Camaradas e amigos,
A actual comissão organizadora deliberou que a partir do ano 2011, os Convívios da CCAV 2748, passem a ser organizados por novos Organizadores, não se escusando a colaborar em tudo que os novos necessitem.
Esta iniciativa visa:
Que todos os camaradas possam participar mais e com novas ideias e novos locais, pelo que se pede a pré organização dessa nova comissão a ser anunciada no decorrer do Almoço.
A saúde do nosso Comandante continua em vigilância continuada.
Queremos que toda a CCAV 2748 esteja presente neste Almoço já que se celebram 38 anos no dia 29 de Maio, que a CCAV 2748 veio de Canquelifá para o Comuré (Bissau) para regressar ao Continente, Por isso - NÂO FALTES!
Os organizadores
Francisco Palma Tlm 919 457 954
Firmino Moreira Tlm 968 576 949
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 7 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6120: Convívios (127): 27.º Encontro Nacional de ex-militares do BENG 447 - Brá - Bissau, dia 8 de Maio de 2010 em Martingança
Guiné 63/74 - P6127: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (17): Quem marca o destino é Deus
1. Mensagem de José Câmara (ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Guiné, 1971/73), com data de 4 de Abril de 2010:
Caro amigo Carlos Vinhal,
Anexado encontrarás mais um pouco da minha passagem pela Guiné. É uma história diferente, que fala por si.
Para ti e para todos os nossos camaradas um abraço amigo, desejando a todos muita saúde,
José Câmara
Memórias e histórias minhas (17)
Quem marca o destino é Deus
A patrulha avançava pelo emaranhado da mata, naquela que seria a última ronda antes de pernoitar e emboscar. O homem rádio deu sinal de mensagem.
- "O Manuel Veríssimo sofreu un acidente grave. Está a ser evacuado para Bissau. Não deve escapar!". Foi com esta crueldade que recebemos, ao cair do dia de 12 de Abril de 1971, a notícia do acidente que vitimou aquele soldado.
De repente as árvores tornaram-se mais grossas e o matagal mais denso. Com o cair da noite, o coração tirou tempo para lavrar muitas presses de esperança, e os olhos perdidos no firmamento contaram estrelas até ao amanhecer. Foi uma noite muito longa!
Aquele soldado, de seu nome completo Manuel Veríssimo de Oliveira, era natural de São Miguel, e os seus restos mortais foram enxumados no Cemitério da Lomba de São Pedro sua freguesia natal.
Não pertencia ao meu Pelotão, e os nossos contactos eram os normais dentro de uma Companhia de Intervenção. Lembro-me que era um jovem pouco alegre e de uma educação esmerada. Talvez a vida dura que levara na ilha, e o facto de ser o amparo da mãe e de uma irmã (à altura com cerca de 10 anos, se a memória não me falha) tivessem contrbuido para modelar a sua forma de estar na vida.
Soccorri-me das memórias do Furriel Enfermeiro Rui Esteves, que prestou os primeiros socorros ao infeliz Manuel, e ainda do Soldado Condutor, Manuel Borges da Silva que conduzia o Unimog, do qual o Manuel foi projectado, para mais detalhadamente me ajudarem a construir a história do acidente.
Mas afinal o que se passou?
O Manuel pedira ao capitão para ir ver um primo que se encontrava em Bassarel. Devidamente autorizado, foi escoltado até Teixeira Pinto, tendo passado a Páscoa com o primo. Na tarde do dia 12 de Abril de 1971, estava de regresso ao acampamento.
A escolta depois de, no Bachile, pegar o pão, correio e o demais necessário, prosseguiu para o local onde a Companhia estava acampada.
Ao longo da estrada nova que estava a ser construída era normal encontrarem-se, de um lado e do outro da mesma, montes de areia que servia para cobrir e enxugar o alcatrão. Segundo o condutor, foi esta situação que encontrou, com dois montes muito próximos um do outro.
O condutor ao desviar-se de um monte, de imediato teve que fazer contradesvio ao outro. Com o movimento brusco, o Manuel, instintivamente, tentou segurar os sacos do pão, acabando por ser projectado e indo bater com a cabeça no chão.
O Furriel Esteves, num email que me mandou debruçou-se sobre este assunto da seguinte forma:
"O Manuel Veríssimo de Oliveira foi socorrido por mim na estrada onde caíu.
Deviam ser cerca das 16 horas, estava no acampamento da mata dos Madeiros, aparece-me o alferes João Luís Ferraz a gritar por mim, desesperado, porque um soldado tinha caído do Unimog e estava inconsciente.
Peguei na mochila dos primeiros socorros e arrancámos para o local do acidente. Quando lá cheguei dou com o Manuel Veríssimo de Oliveira em estado de coma.
O soldado Manuel Veríssimo vinha a segurar o saco do pão e quando o Unimog passou por um buraco agarrou-se ao saco e caíu desamparado no chão, batendo de cabeça.
Morreu para salvar o pão da nossa Companhia.
Chamámos um helicóptero para a evacuação, mas dado que o dia estava quase a acabar, já não vieram buscá-lo. O que nós praguejámos contra o pessoal da Força Aérea!
Aqui já não me recordo bem do que aconteceu a seguir. Tenho a ideia que segui eu e um condutor e que levámos o desgraçado Manuel Veríssimo a Bissau. Isto pela noite fora, sem escolta, sem nada e que o deixámos em Bissau.
Regressámos no dia seguinte e passados dois ou três dias recebemos a informação que o nosso soldado tinha morrido.
Passados estes anos todos confesso que ponho em dúvida se foi mesmo assim, se fomos mesmo a Bissau com ele. Se foi - foi uma grande loucura e tivemos muita sorte em ter percorrido tanto quilómetro sem nos acontecer nada!
A ideia que eu tenho é nós a avançar pela noite fora, os faróis do Unimog a iluminar a estrada e eu e o condutor a ver que estávamos metidos num grande sarilho se nos apareciam os homens do PAIGC."
O Manuel viria a falecer no dia 23 de Abril de 1971. Constituíu a única baixa fatal da CCaç 3327 no TO da Guiné.
Fui designado para prestar assistência à família do nosso militar sinistrado, tendo trocado vária correspondência com a sua mãe.
Aos meus olhos o Manuel era um herói. Não dos tiros, mas da educaão, da participação, do trabalho, da camaradagem, do cumprimento do seu dever militar. Esta foi a mensagem que tentei passar àquela pobre mãe.
Mais tarde, inesperadamente, recebi uma carta daquela mãe onde dizia, sensívelmente as seguintes palavras:
“ Eu era uma mãe triste por perder o meu filho, mas feliz por saber que ele tinha morrido como um herói. O Senhor mentiu-me. O meu filho morreu bêbado. Hoje não tenho nada."
Fiquei estarrecido. Não conseguia compreender aquelas palavras, até que se fez luz no meu cérebro. O Manuel tinha ido visitar um primo a Bassarel e era muito natural que tivesse tomado uns copos com este.
Infelizmente, foi a mensagem que chegou aos Açores e àquela pobre mãe. Em nome da verdade, quando o acidente aconteceu o Manuel estava, segundo os camaradas que o acompanhavam, perfeitamente sóbrio. Aliás, ele levava uma vida bastante regrada. Poupava para mandar o máximo possível para a sua mãe.
Respondi àquela angustiada mãe. Infelizmente não recebi resposta.
Mais tarde, o soldado José Medeiros (se a memória não me atraiçoa) depositou nas minhas mãos, versos de homenagem ao Manuel. Perguntei-lhe quem tinha escrito aqueles versos, respondendo ele que isso não interessava. E acrescentou:
- Nós queremos que o meu furriel guarde esses versos. Nós sabemos que o senhor saberá o que fazer com eles.
É verdade. Sempre soube o que fazer com eles. Infelizmente, nunca tive a oportunidade de me encontrar com a mãe do Manuel. Tão pouco sei se ainda vive e o que é feito da irmã, hoje uma mulher na proximidade dos 50 anos.
Aqui deposito estes versos simples, escritos na Mata dos Madeiros, por um desconhecido da CCaç 3327. O seu valor moral vai muito para além do valor literário. Essa é a melhor homenagem que podía prestar ao Manuel Veríssimo de Oliveira. Tenho a certeza de que os elementos da CCaç 3327 estão comigo neste momento.
Tal como me foram confiados, limitando-me a corrigir algum erro ortográfico.
Cópia parcial dos versos que me foram confiados
Versos sobre um rapaz que morreu na Guiné
I
Peço ao Senhor do Altar
e à Virgem Santa Maria
forças para vos contar
o que sucedeu neste dia
II
Vou-vos contar com fé
que neste mundo de enganos
morreu um rapaz na Guiné
que tinha 21 anos
III
Era boa criatura
este infeliz sem sorte
que caíu de uma viatura
que lhe causou a morte
IV
Foi no dia 12 que isto se deu
tudo o que estou a contar
e pelo seu nome chamei
e ele sem nunca acordar
V
Manuel Veríssimo de Oliveira
era o nome da criatura
que lutou pela Bandeira
e agora jaz na sepultura
VI
Ele saíu cá do cimo
com imensa alegria
para ir visitar o primo
que já há tempo não via
VII
A Teixeira Pinto se deslocou
e um adeus disse à gente
e no outro dia se lembrou
de voltar ao acampamento
VIII
Mas coitado não sabia
não podia adivinhar
que aquele era o dia
que nos ia largar
IX
Ele na viatura entrou
para vir para o acampamento
foi o Mestre que o chamou
naquele dia de repente
X
E o carro começou a andar
e pela estrada corria
e nós vinhamos a cantar
com imensa alegria
XI
Neste momento o carro entrou
na curva com um trambolhão
e o pobre não se aguentou
e foi atirado ao chão
XII
E a queda foi tão forte
que logo inerte ficou
e mais tarde veio a morte
que consigo o levou
XIII
Estou como vendo agora
quem lhe criou com tanto brilho
a sua mãe de outrora
que tanto chora pelo filho
XIV
Muito que a mãe chorou
e no seu pranto dizia
já não tenho quem me ganha
o pão nosso de cada dia
XV
Tive dó da mulherzinha
digo isto mesmo a fundo
porque o único amparo que tinha
já estava no outro mundo
XVI
Era natural de São Miguel
Lomba de São Pedro a freguesia
deste pobre Manuel
que morreu neste dia
XVII
Manuel rapaz novo
que morreu neste dia
era estimado pelo povo
da sua freguesia
XVIII
Pobre infeliz sem sorte
era um bom militar
desgraçada seja a morte
que deixa uma mãe a chorar
XIX
Foi no dia 23
que a morte o foi buscar
e já deu contas a Deus
que este o tenha em bom lugar
XX
Quem marca o destino é Deus
até à hora chegar
rezem por este português
que era um bom militar
XXI
E quem estes versos um dia
os puder ler em paz
no fim reze uma Avé-Maria
por alma deste rapaz
XXII
Agora vou finalizar
e vejo que faço bem
bem me queiram desculpar
os erros que aqui tem
XXIII
Tudo isto aqui se encerra
onde há terra também há pó
toda a gente no mundo erra
quem não erra é um Só.
Hoje, passados que são trinta e nove anos sobre este acontecimento, continuo a escrever como então:
Minha Senhora,
Tenha a certeza de que o seu filho faleceu no cumprimento do seu dever militar. No meu sentir, e no de todos os seus camaradas, ele faleceu como um herói. Que estas palavras possam ajudar a suavizar a sua dor que todos nós, militares da CCaç 3327, sabemos ser imensa, e de que também partilhamos.
José Câmara
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 31 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6084: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (16): Páscoa e Casamento na Mata dos Madeiros
Caro amigo Carlos Vinhal,
Anexado encontrarás mais um pouco da minha passagem pela Guiné. É uma história diferente, que fala por si.
Para ti e para todos os nossos camaradas um abraço amigo, desejando a todos muita saúde,
José Câmara
Memórias e histórias minhas (17)
Quem marca o destino é Deus
A patrulha avançava pelo emaranhado da mata, naquela que seria a última ronda antes de pernoitar e emboscar. O homem rádio deu sinal de mensagem.
- "O Manuel Veríssimo sofreu un acidente grave. Está a ser evacuado para Bissau. Não deve escapar!". Foi com esta crueldade que recebemos, ao cair do dia de 12 de Abril de 1971, a notícia do acidente que vitimou aquele soldado.
De repente as árvores tornaram-se mais grossas e o matagal mais denso. Com o cair da noite, o coração tirou tempo para lavrar muitas presses de esperança, e os olhos perdidos no firmamento contaram estrelas até ao amanhecer. Foi uma noite muito longa!
Aquele soldado, de seu nome completo Manuel Veríssimo de Oliveira, era natural de São Miguel, e os seus restos mortais foram enxumados no Cemitério da Lomba de São Pedro sua freguesia natal.
Não pertencia ao meu Pelotão, e os nossos contactos eram os normais dentro de uma Companhia de Intervenção. Lembro-me que era um jovem pouco alegre e de uma educação esmerada. Talvez a vida dura que levara na ilha, e o facto de ser o amparo da mãe e de uma irmã (à altura com cerca de 10 anos, se a memória não me falha) tivessem contrbuido para modelar a sua forma de estar na vida.
Soccorri-me das memórias do Furriel Enfermeiro Rui Esteves, que prestou os primeiros socorros ao infeliz Manuel, e ainda do Soldado Condutor, Manuel Borges da Silva que conduzia o Unimog, do qual o Manuel foi projectado, para mais detalhadamente me ajudarem a construir a história do acidente.
Mas afinal o que se passou?
O Manuel pedira ao capitão para ir ver um primo que se encontrava em Bassarel. Devidamente autorizado, foi escoltado até Teixeira Pinto, tendo passado a Páscoa com o primo. Na tarde do dia 12 de Abril de 1971, estava de regresso ao acampamento.
A escolta depois de, no Bachile, pegar o pão, correio e o demais necessário, prosseguiu para o local onde a Companhia estava acampada.
Ao longo da estrada nova que estava a ser construída era normal encontrarem-se, de um lado e do outro da mesma, montes de areia que servia para cobrir e enxugar o alcatrão. Segundo o condutor, foi esta situação que encontrou, com dois montes muito próximos um do outro.
O condutor ao desviar-se de um monte, de imediato teve que fazer contradesvio ao outro. Com o movimento brusco, o Manuel, instintivamente, tentou segurar os sacos do pão, acabando por ser projectado e indo bater com a cabeça no chão.
O Furriel Esteves, num email que me mandou debruçou-se sobre este assunto da seguinte forma:
O Furriel Esteves que prestou a assistência ao Manuel
Foto: © Rui Esteves (2005). Direitos reservados
Foto: © Rui Esteves (2005). Direitos reservados
"O Manuel Veríssimo de Oliveira foi socorrido por mim na estrada onde caíu.
Deviam ser cerca das 16 horas, estava no acampamento da mata dos Madeiros, aparece-me o alferes João Luís Ferraz a gritar por mim, desesperado, porque um soldado tinha caído do Unimog e estava inconsciente.
Peguei na mochila dos primeiros socorros e arrancámos para o local do acidente. Quando lá cheguei dou com o Manuel Veríssimo de Oliveira em estado de coma.
O soldado Manuel Veríssimo vinha a segurar o saco do pão e quando o Unimog passou por um buraco agarrou-se ao saco e caíu desamparado no chão, batendo de cabeça.
Morreu para salvar o pão da nossa Companhia.
Chamámos um helicóptero para a evacuação, mas dado que o dia estava quase a acabar, já não vieram buscá-lo. O que nós praguejámos contra o pessoal da Força Aérea!
Aqui já não me recordo bem do que aconteceu a seguir. Tenho a ideia que segui eu e um condutor e que levámos o desgraçado Manuel Veríssimo a Bissau. Isto pela noite fora, sem escolta, sem nada e que o deixámos em Bissau.
Regressámos no dia seguinte e passados dois ou três dias recebemos a informação que o nosso soldado tinha morrido.
Passados estes anos todos confesso que ponho em dúvida se foi mesmo assim, se fomos mesmo a Bissau com ele. Se foi - foi uma grande loucura e tivemos muita sorte em ter percorrido tanto quilómetro sem nos acontecer nada!
A ideia que eu tenho é nós a avançar pela noite fora, os faróis do Unimog a iluminar a estrada e eu e o condutor a ver que estávamos metidos num grande sarilho se nos apareciam os homens do PAIGC."
O Manuel viria a falecer no dia 23 de Abril de 1971. Constituíu a única baixa fatal da CCaç 3327 no TO da Guiné.
Fui designado para prestar assistência à família do nosso militar sinistrado, tendo trocado vária correspondência com a sua mãe.
Aos meus olhos o Manuel era um herói. Não dos tiros, mas da educaão, da participação, do trabalho, da camaradagem, do cumprimento do seu dever militar. Esta foi a mensagem que tentei passar àquela pobre mãe.
Mais tarde, inesperadamente, recebi uma carta daquela mãe onde dizia, sensívelmente as seguintes palavras:
“ Eu era uma mãe triste por perder o meu filho, mas feliz por saber que ele tinha morrido como um herói. O Senhor mentiu-me. O meu filho morreu bêbado. Hoje não tenho nada."
Fiquei estarrecido. Não conseguia compreender aquelas palavras, até que se fez luz no meu cérebro. O Manuel tinha ido visitar um primo a Bassarel e era muito natural que tivesse tomado uns copos com este.
Infelizmente, foi a mensagem que chegou aos Açores e àquela pobre mãe. Em nome da verdade, quando o acidente aconteceu o Manuel estava, segundo os camaradas que o acompanhavam, perfeitamente sóbrio. Aliás, ele levava uma vida bastante regrada. Poupava para mandar o máximo possível para a sua mãe.
Respondi àquela angustiada mãe. Infelizmente não recebi resposta.
Mais tarde, o soldado José Medeiros (se a memória não me atraiçoa) depositou nas minhas mãos, versos de homenagem ao Manuel. Perguntei-lhe quem tinha escrito aqueles versos, respondendo ele que isso não interessava. E acrescentou:
- Nós queremos que o meu furriel guarde esses versos. Nós sabemos que o senhor saberá o que fazer com eles.
É verdade. Sempre soube o que fazer com eles. Infelizmente, nunca tive a oportunidade de me encontrar com a mãe do Manuel. Tão pouco sei se ainda vive e o que é feito da irmã, hoje uma mulher na proximidade dos 50 anos.
Aqui deposito estes versos simples, escritos na Mata dos Madeiros, por um desconhecido da CCaç 3327. O seu valor moral vai muito para além do valor literário. Essa é a melhor homenagem que podía prestar ao Manuel Veríssimo de Oliveira. Tenho a certeza de que os elementos da CCaç 3327 estão comigo neste momento.
Tal como me foram confiados, limitando-me a corrigir algum erro ortográfico.
Cópia parcial dos versos que me foram confiados
Versos sobre um rapaz que morreu na Guiné
I
Peço ao Senhor do Altar
e à Virgem Santa Maria
forças para vos contar
o que sucedeu neste dia
II
Vou-vos contar com fé
que neste mundo de enganos
morreu um rapaz na Guiné
que tinha 21 anos
III
Era boa criatura
este infeliz sem sorte
que caíu de uma viatura
que lhe causou a morte
IV
Foi no dia 12 que isto se deu
tudo o que estou a contar
e pelo seu nome chamei
e ele sem nunca acordar
V
Manuel Veríssimo de Oliveira
era o nome da criatura
que lutou pela Bandeira
e agora jaz na sepultura
VI
Ele saíu cá do cimo
com imensa alegria
para ir visitar o primo
que já há tempo não via
VII
A Teixeira Pinto se deslocou
e um adeus disse à gente
e no outro dia se lembrou
de voltar ao acampamento
VIII
Mas coitado não sabia
não podia adivinhar
que aquele era o dia
que nos ia largar
IX
Ele na viatura entrou
para vir para o acampamento
foi o Mestre que o chamou
naquele dia de repente
X
E o carro começou a andar
e pela estrada corria
e nós vinhamos a cantar
com imensa alegria
XI
Neste momento o carro entrou
na curva com um trambolhão
e o pobre não se aguentou
e foi atirado ao chão
XII
E a queda foi tão forte
que logo inerte ficou
e mais tarde veio a morte
que consigo o levou
XIII
Estou como vendo agora
quem lhe criou com tanto brilho
a sua mãe de outrora
que tanto chora pelo filho
XIV
Muito que a mãe chorou
e no seu pranto dizia
já não tenho quem me ganha
o pão nosso de cada dia
XV
Tive dó da mulherzinha
digo isto mesmo a fundo
porque o único amparo que tinha
já estava no outro mundo
XVI
Era natural de São Miguel
Lomba de São Pedro a freguesia
deste pobre Manuel
que morreu neste dia
XVII
Manuel rapaz novo
que morreu neste dia
era estimado pelo povo
da sua freguesia
XVIII
Pobre infeliz sem sorte
era um bom militar
desgraçada seja a morte
que deixa uma mãe a chorar
XIX
Foi no dia 23
que a morte o foi buscar
e já deu contas a Deus
que este o tenha em bom lugar
XX
Quem marca o destino é Deus
até à hora chegar
rezem por este português
que era um bom militar
XXI
E quem estes versos um dia
os puder ler em paz
no fim reze uma Avé-Maria
por alma deste rapaz
XXII
Agora vou finalizar
e vejo que faço bem
bem me queiram desculpar
os erros que aqui tem
XXIII
Tudo isto aqui se encerra
onde há terra também há pó
toda a gente no mundo erra
quem não erra é um Só.
Hoje, passados que são trinta e nove anos sobre este acontecimento, continuo a escrever como então:
Minha Senhora,
Tenha a certeza de que o seu filho faleceu no cumprimento do seu dever militar. No meu sentir, e no de todos os seus camaradas, ele faleceu como um herói. Que estas palavras possam ajudar a suavizar a sua dor que todos nós, militares da CCaç 3327, sabemos ser imensa, e de que também partilhamos.
José Câmara
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 31 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6084: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (16): Páscoa e Casamento na Mata dos Madeiros
Guiné 63/74 - P6126: (Ex)citações (65): Os nossos Brandões desconhecidos que foram os antepassados dos pais fundadores do PAIGC, MPLA e FRELIMO (António Rosinha)
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Ponta Brandão > 1970 > Dois velhos balantas. Arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71).
Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados
1. Comentário, de hoje, do António Rosinha, ao poste P6116 (*)
Quando se fala nestas figuras de comerciantes/agricultores, neste caso com o nome de Brandão, que na Guiné é um dos nomes de colonos históricos, noutras ex-colónias há outros nomes também com história, estamos a falar dos verdadeiros colonizadores à-lá-portuguesa.
Estes homens, sem disso terem consciência, chegaram e abriram caminho e serviram de intérpretes, a missionários católicos e outros, a chefes de posto e administradores e militares.
Estes comerciantes raramente foram alvo de um estudo, que analizasse as suas grandezas e misérias. Mas todos os governantes, desde o Diogo Cão até ao Gen Spínola, secundarizaram estas pessoas, quando devia ter sido o contrário.
Os africanos (indígenas) davam mais importância a um comerciante do que a um governador geral ou a um missionário ou chefe de posto.
Em relação à guerra, tiveram um papel tão importante, para o bem ou para o mal, que podemos dizer que os milhares de Brandões na África portuguesa, foram os pais e os avós da maioria dos teóricos fundadores, do MPLA, PAIGC e FRELIMO, movimentos que secaram outros em volta, e com isso, talvez ainda sobre alguma coisa no fim de isto tudo. (**)
Estes comerciantes, a maioria analfabetos, ou quase, chegavam a falar um dialeto ou mais que um, continuarão a ser olhados de soslaio por qualquer militar que, ao fim de 24 meses, não chegava a comprender aquela africanização, para não dizer outros nomes.
Estes portugueses de Áfricas e Brasis foram a história mais importante da diáspora portuguesa. Em geral viajaram com passagem paga por eles. Muitos netos dessa gente veio para o meio de nós em pontes aéreas.
É um ponto de vista.
Antº Rosinha
[ Revisão / fixação de texto / bold / título: L.G.]
__________________
Nota de L.G.:
(*) Vd. poste de 6 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6116: O Nosso Livro de Visitas (85): Maria Helena Carvalho, filha do Pereira do Enxalé, localidade onde nasceu há 60 anos, hoje residente nas Caldas da Rainha (Luís Graça)
(...) Outros comentários:
(i) Torcato Mendonça:
Luís Graça: não sei se a Ponta Brandão de que falas, se refere a uma quinta, algures entre Fá e Bambadinca, e pertencente a um português há muito radicado na Guiné. Creio que por razões de ordem politica.
Tenho disso uma recordação muito fraca. O vago-mestre parece que ia lá comprar vegetais. Passei lá uma ou duas vezes. O Velhote tinha quatro ou cinco filhos, já homens e mulheres, mais velhos que nós. Falei com, pelo menos, um dos filhos. Contou-me que, antes da guerra certamente, caçavam no Geba jacarés e outro tipo de caça naquela zona, etc.
O Velhote tinha uma destilaria. Estando a fazer aguardente de cana,quando por lá passei, agarrou num copo em bambú, encheu e bebeu a aguardente de um trago. Como quem bebe água fresca. Depois, noutro copo, deitou aguardente e deu-me a beber. Foi o liquido mais forte que bebi... deslizava e queimava... e ele olhava... respirei fundo e soprei forte. Fiquei desinfectado. O fulano sorrindo disse ter-me portado bem. A minha memória dessa destilaria é fraquissima. Há outro pormenor mas é com a "inteligência" de Bambadinca. O Jorge Cabral e outros militares que passaram por Fá, certamente lembram-se desta família. Será Brandão? Não sei.
Abraço,Torcato
(ii) Luís Graça:
Torcato: Também lá fui uma ou outra vez. Ponta quer dizer quinta. Logo havia lá criação (leitões, por exemplo), horta e fruta (abecaxis, por exemplo). Julgo ter lá ido algumas vezes quando algum de nós estava de sargento de dia à messe (ou sargentod e mês, mais exactamente)... O Jaime, o nosso vague-mestre (da CCAÇ 12), batia região à cata de matéria-prima para satisfazer o apetite voraz da messe de Bambadinca (as meses de sargentos e de oficiais eram separadas, mas a cozinha era a mesma)...
O Jorge Cabral também conhecia a Ponta Brandão, que de resto ficava perto de Fá... Mas tudo aquilo, a começar pela casa, tinha um ar decadente...
Já não posso jurar se a família era de origem metropolitana, ou caboverdiana... A família Brandão de Bambadinca era aparentada com os Brandão de Catió... Uns e outros tinham fama de ter gente no PAIGC...
E a propósito de civis de Bambadinca, soube pelo Dr. António Vilar - o médico do BART 2917, que sucedeu ao Mário Ferreira - que o Rendeiro ainda está vivo. Com cerca de 90 anos, vive em Murtosa, separado da esposa africana, que era filha de um régulo mandinga e que ele nunca nos mostrava. Era a mãe dos seus numerosos filhos... Jantei algumas vezes em sua casa... O seu chabéu era famoso... Em troca, ele queria saber coisas da vida do quartel...
Recordo-me de ele me ter dito que fora para a Guiné aos 17 anos... Terá nascido, portanto, em 1920.
(iii) Jorge Cabral:
Confirmo.Fui visita assídua do Senhor Brandão, principalmente durante as férias da filha que trabalhava em Bissau. Era natural de Viana do Castelo ou da Póvoa de Varzim,já não me recordo bem.Teria na altura quase 80 anos, mais de 40 de Guiné e muitos filhos.
A aguardente de cana era fogo...mas matava qualquer bicho, mesmo os imaginários...
Abraço.
Jorge Cabral
(**) Vd. também postes sobre a família do agricultor de Bambadinca, Inácio Semedo, um histórico do nacionalismo guineense, pai do Doutor Eng Inácio Semedo Júnior, que vive presentemente em Lisboa.
Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados
1. Comentário, de hoje, do António Rosinha, ao poste P6116 (*)
Quando se fala nestas figuras de comerciantes/agricultores, neste caso com o nome de Brandão, que na Guiné é um dos nomes de colonos históricos, noutras ex-colónias há outros nomes também com história, estamos a falar dos verdadeiros colonizadores à-lá-portuguesa.
Estes homens, sem disso terem consciência, chegaram e abriram caminho e serviram de intérpretes, a missionários católicos e outros, a chefes de posto e administradores e militares.
Estes comerciantes raramente foram alvo de um estudo, que analizasse as suas grandezas e misérias. Mas todos os governantes, desde o Diogo Cão até ao Gen Spínola, secundarizaram estas pessoas, quando devia ter sido o contrário.
Os africanos (indígenas) davam mais importância a um comerciante do que a um governador geral ou a um missionário ou chefe de posto.
Em relação à guerra, tiveram um papel tão importante, para o bem ou para o mal, que podemos dizer que os milhares de Brandões na África portuguesa, foram os pais e os avós da maioria dos teóricos fundadores, do MPLA, PAIGC e FRELIMO, movimentos que secaram outros em volta, e com isso, talvez ainda sobre alguma coisa no fim de isto tudo. (**)
Estes comerciantes, a maioria analfabetos, ou quase, chegavam a falar um dialeto ou mais que um, continuarão a ser olhados de soslaio por qualquer militar que, ao fim de 24 meses, não chegava a comprender aquela africanização, para não dizer outros nomes.
Estes portugueses de Áfricas e Brasis foram a história mais importante da diáspora portuguesa. Em geral viajaram com passagem paga por eles. Muitos netos dessa gente veio para o meio de nós em pontes aéreas.
É um ponto de vista.
Antº Rosinha
[ Revisão / fixação de texto / bold / título: L.G.]
__________________
Nota de L.G.:
(*) Vd. poste de 6 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6116: O Nosso Livro de Visitas (85): Maria Helena Carvalho, filha do Pereira do Enxalé, localidade onde nasceu há 60 anos, hoje residente nas Caldas da Rainha (Luís Graça)
(...) Outros comentários:
(i) Torcato Mendonça:
Luís Graça: não sei se a Ponta Brandão de que falas, se refere a uma quinta, algures entre Fá e Bambadinca, e pertencente a um português há muito radicado na Guiné. Creio que por razões de ordem politica.
Tenho disso uma recordação muito fraca. O vago-mestre parece que ia lá comprar vegetais. Passei lá uma ou duas vezes. O Velhote tinha quatro ou cinco filhos, já homens e mulheres, mais velhos que nós. Falei com, pelo menos, um dos filhos. Contou-me que, antes da guerra certamente, caçavam no Geba jacarés e outro tipo de caça naquela zona, etc.
O Velhote tinha uma destilaria. Estando a fazer aguardente de cana,quando por lá passei, agarrou num copo em bambú, encheu e bebeu a aguardente de um trago. Como quem bebe água fresca. Depois, noutro copo, deitou aguardente e deu-me a beber. Foi o liquido mais forte que bebi... deslizava e queimava... e ele olhava... respirei fundo e soprei forte. Fiquei desinfectado. O fulano sorrindo disse ter-me portado bem. A minha memória dessa destilaria é fraquissima. Há outro pormenor mas é com a "inteligência" de Bambadinca. O Jorge Cabral e outros militares que passaram por Fá, certamente lembram-se desta família. Será Brandão? Não sei.
Abraço,Torcato
(ii) Luís Graça:
Torcato: Também lá fui uma ou outra vez. Ponta quer dizer quinta. Logo havia lá criação (leitões, por exemplo), horta e fruta (abecaxis, por exemplo). Julgo ter lá ido algumas vezes quando algum de nós estava de sargento de dia à messe (ou sargentod e mês, mais exactamente)... O Jaime, o nosso vague-mestre (da CCAÇ 12), batia região à cata de matéria-prima para satisfazer o apetite voraz da messe de Bambadinca (as meses de sargentos e de oficiais eram separadas, mas a cozinha era a mesma)...
O Jorge Cabral também conhecia a Ponta Brandão, que de resto ficava perto de Fá... Mas tudo aquilo, a começar pela casa, tinha um ar decadente...
Já não posso jurar se a família era de origem metropolitana, ou caboverdiana... A família Brandão de Bambadinca era aparentada com os Brandão de Catió... Uns e outros tinham fama de ter gente no PAIGC...
E a propósito de civis de Bambadinca, soube pelo Dr. António Vilar - o médico do BART 2917, que sucedeu ao Mário Ferreira - que o Rendeiro ainda está vivo. Com cerca de 90 anos, vive em Murtosa, separado da esposa africana, que era filha de um régulo mandinga e que ele nunca nos mostrava. Era a mãe dos seus numerosos filhos... Jantei algumas vezes em sua casa... O seu chabéu era famoso... Em troca, ele queria saber coisas da vida do quartel...
Recordo-me de ele me ter dito que fora para a Guiné aos 17 anos... Terá nascido, portanto, em 1920.
(iii) Jorge Cabral:
Confirmo.Fui visita assídua do Senhor Brandão, principalmente durante as férias da filha que trabalhava em Bissau. Era natural de Viana do Castelo ou da Póvoa de Varzim,já não me recordo bem.Teria na altura quase 80 anos, mais de 40 de Guiné e muitos filhos.
A aguardente de cana era fogo...mas matava qualquer bicho, mesmo os imaginários...
Abraço.
Jorge Cabral
(**) Vd. também postes sobre a família do agricultor de Bambadinca, Inácio Semedo, um histórico do nacionalismo guineense, pai do Doutor Eng Inácio Semedo Júnior, que vive presentemente em Lisboa.
Marcadores:
(Ex)citações,
aguardente de cana,
António Rosinha,
colonos,
historiografia da presença portuguesa em África,
Inácio Semedo,
Jorge Cabral,
Luís Graça,
Ponta Brandão,
Spínola,
Torcato Mendonça
Guiné 63/74 – P6125: Guiné 63/74 - P6075: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (11): Um prisioneiro, no fundo, boa pessoa
1. Uma estória do nosso camarada António Paiva*(ex-Soldado Condutor no HM 241 de Bissau, 1968/70), enviada em mensagem do dia 4 de Abril de 2010:
Camaradas,
Terminada a Especialidade, Janeiro de 1968, no Regimento de Cavalaria 5, no Porto, por estranho que me tivesse parecido me deram a escolher, assim como a todos do meu Pelotão (o 6.º, composto por, relaxados, preguiçosos, abandalhados e atrasados, por sermos sempre os últimos a formar, sendo todos de Lisboa, mais tarde contarei a história) a unidade para onde queríamos ir.
A maioria, senão a totalidade, escolheu Trem-Auto.
Tendo eu escolhido, Regimento de Infantaria 1, na Amadora.
Logo, por alguns, fui chamado de maluco e parvo, por ter escolhido uma Unidade onde os meus serviços iriam ser de piquetes, plantões, faxinas e guardas. Pois sim, mas a verdade é que o trabalho que eles iriam fazer a mim não me agradava. Ir buscar os Senhores Oficiais para o local de trabalho, depois levar os meninos à escola, levar as madames ao cabeleireiro, deixá-las no cinema e por vezes levá-las ao chá das 5, não era para meu feitio. Mas acima disto tudo, na Amadora morava uma andorinha com quem eu gostava de passar o tempo, quando possível, a dar umas bicadelas de vez em quando.
A minha estadia no RI1, foi perfeita e saudável. Fui colocado numa Companhia em que o Comandante, Capitão, era uma excelente pessoa, o 2.º Comandante era um Aspirante, bom moço, dias em que eu não estava escalado para serviço, me arranjava a dispensa de toque de ordem e de recolher, para eu poder ir a casa, sempre jantava melhor que no quartel.
Fiz plantões à caserna, fiz faxinas ao refeitório, fiz guardas (aqui procurava alinhar na formatura de maneira que não me calhasse a Porta de Armas ou Pinheiros, mas de vez em quanto lá ia) nestas funções, tudo correu sempre bem.
Se a memória não me falha, na escala havia outro serviço que era, Piquete da Guarda, cuja função era a de levar os presos ao Hospital ou Tribunal Militares.
Aqui vai a história de susto e medo, em que nossa liberdade se compromete
Um prisioneiro, no fundo, boa pessoa
Como todos devem estar lembrados, na nossa juventude deu-se o grande fogo da Serra de Sintra (não me ocorre agora o ano), onde morreram 27 militares, assim foi noticiado, não sendo essa a verdade.
A verdade é que se encontrava preso, no RI1, um soldado, não me lembro do nome, acusado de ser o autor do mesmo, muitos não acreditávamos, pela figura, maneira de ser e de estar do dito soldado.
Rapaz pequeno e magro, queimado pelo sol, provavelmente da sua terra onde tinha sido sacristão, calmo no falar e na maneira de estar, cativava-nos com a sua forma de ser. Não fumava, o que dava a entender não usar fósforos ou isqueiro, talvez em Sintra, se tivesse sentido primata, pega-se em duas pedras e fizesse fricção com as mesmas.
Já tinha ido a Tribunal duas vezes, ficava sempre adiado por falta de tempo.
No tempo em que lá estive, chegou a terceira vez, tocou-me a mim e a outro camarada levarmos o pacato prisioneiro à sala das confissões.
Às três é de vez, esperávamos que sim.
Quando lá chegamos, estava em curso um julgamento, antes do dele outro iria ter lugar. Por coincidência, típico e moderno daqueles tempos.
Enquanto aguardávamos pelo corredor, de Mauser ao ombro, no mesmo, de um lado para o outro andava uma saia azul acompanhada de uma blusa creme, com um belo monumento no seu interior.
Bonita e jeitosa, com todas as curvas no seu devido lugar, com passos firmes e segura do que estava ali a fazer. Tinha feito queixa de um soldado que a tinha desonrado.
Mas a sua memória, talvez não fosse a sua melhor companheira, esqueceu-se de a lembrar dos passos que já tinha dado.
Acabado o julgamento que estava a decorrer, quando lá chegamos, foi chamado quem fazia parte do seguinte, onde fazia parte a dita dama.
Podíamos entrar, mas tínhamos de deixar as armas cá fora, num suporte que havia para elas.
A sala tinha uns três ou quatro bancos corridos, quando entramos, já se encontravam os lugares quase completos, o nosso “preso” já se encontrava sentado, nós dois encontramos lugar no banco da frente.
Comentamos, não há problema, ele não se pira.
Decorria o julgamento, há já algum tempo, nada favorável à dama, quando olhamos para trás e não o vimos.
Pensamos, foi mijar.
Saímos para ver se o encontrávamos, mas nada, não estava dentro do tribunal.
Pegamos nas duas amigas que tínhamos posto no suporte e saímos do tribunal, talvez tivesse ido beber uma bica.
Nem na rua o encontramos.
Pensamos no pior. Este erro vai-nos custar a liberdade.
Depois de perguntarmos a pessoas se tinham visto por ali um militar, obtivemos respostas negativas.
Quando já nem sabíamos que fazer, avistamos o nosso sortudo, a subir a calçada em direcção a nós, no seu passo pachorrento e com um sorriso de ingénuo nos lábios, dizer-nos:
- Não tenham medo, eu não fujo, vim apanhar ar, já estava farto de estar lá dentro.
Podem crer que não tive reacção, fiquei desarmado, só agradeci a Deus os maus pensamentos que tive.
O nosso sortudo, tinha ido praticar uma boa acção.
Estava cá fora e uma rapariga perguntou-lhe onde podia apanhar transporte para Santos, o nosso bom amigo, foi com ela até aos Caminhos de Ferro, para lhe dizer onde apanhava o eléctrico.
Regressados ao tribunal, ainda decorria o julgamento da dama.
Perdeu por 8 a 0, por a memória a ter atraiçoado, não a lembrando dos passos antes dados, 8 eram as testemunhas dele, que antes dele dormiram com ela na mesma cama.
Quanto ao nosso Soldado desenfiado, mais uma vez ficou adiado por falta de tempo.
Pouco tempo depois sou mobilizado e mandam-me para o RSS Coimbra.
Um abraço
António Paiva
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 30 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6075: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (10): Quando a missão não deixa ver
Camaradas,
Terminada a Especialidade, Janeiro de 1968, no Regimento de Cavalaria 5, no Porto, por estranho que me tivesse parecido me deram a escolher, assim como a todos do meu Pelotão (o 6.º, composto por, relaxados, preguiçosos, abandalhados e atrasados, por sermos sempre os últimos a formar, sendo todos de Lisboa, mais tarde contarei a história) a unidade para onde queríamos ir.
A maioria, senão a totalidade, escolheu Trem-Auto.
Tendo eu escolhido, Regimento de Infantaria 1, na Amadora.
Logo, por alguns, fui chamado de maluco e parvo, por ter escolhido uma Unidade onde os meus serviços iriam ser de piquetes, plantões, faxinas e guardas. Pois sim, mas a verdade é que o trabalho que eles iriam fazer a mim não me agradava. Ir buscar os Senhores Oficiais para o local de trabalho, depois levar os meninos à escola, levar as madames ao cabeleireiro, deixá-las no cinema e por vezes levá-las ao chá das 5, não era para meu feitio. Mas acima disto tudo, na Amadora morava uma andorinha com quem eu gostava de passar o tempo, quando possível, a dar umas bicadelas de vez em quando.
A minha estadia no RI1, foi perfeita e saudável. Fui colocado numa Companhia em que o Comandante, Capitão, era uma excelente pessoa, o 2.º Comandante era um Aspirante, bom moço, dias em que eu não estava escalado para serviço, me arranjava a dispensa de toque de ordem e de recolher, para eu poder ir a casa, sempre jantava melhor que no quartel.
Fiz plantões à caserna, fiz faxinas ao refeitório, fiz guardas (aqui procurava alinhar na formatura de maneira que não me calhasse a Porta de Armas ou Pinheiros, mas de vez em quanto lá ia) nestas funções, tudo correu sempre bem.
Se a memória não me falha, na escala havia outro serviço que era, Piquete da Guarda, cuja função era a de levar os presos ao Hospital ou Tribunal Militares.
Aqui vai a história de susto e medo, em que nossa liberdade se compromete
Um prisioneiro, no fundo, boa pessoa
Como todos devem estar lembrados, na nossa juventude deu-se o grande fogo da Serra de Sintra (não me ocorre agora o ano), onde morreram 27 militares, assim foi noticiado, não sendo essa a verdade.
A verdade é que se encontrava preso, no RI1, um soldado, não me lembro do nome, acusado de ser o autor do mesmo, muitos não acreditávamos, pela figura, maneira de ser e de estar do dito soldado.
Rapaz pequeno e magro, queimado pelo sol, provavelmente da sua terra onde tinha sido sacristão, calmo no falar e na maneira de estar, cativava-nos com a sua forma de ser. Não fumava, o que dava a entender não usar fósforos ou isqueiro, talvez em Sintra, se tivesse sentido primata, pega-se em duas pedras e fizesse fricção com as mesmas.
Já tinha ido a Tribunal duas vezes, ficava sempre adiado por falta de tempo.
No tempo em que lá estive, chegou a terceira vez, tocou-me a mim e a outro camarada levarmos o pacato prisioneiro à sala das confissões.
Às três é de vez, esperávamos que sim.
Quando lá chegamos, estava em curso um julgamento, antes do dele outro iria ter lugar. Por coincidência, típico e moderno daqueles tempos.
Enquanto aguardávamos pelo corredor, de Mauser ao ombro, no mesmo, de um lado para o outro andava uma saia azul acompanhada de uma blusa creme, com um belo monumento no seu interior.
Bonita e jeitosa, com todas as curvas no seu devido lugar, com passos firmes e segura do que estava ali a fazer. Tinha feito queixa de um soldado que a tinha desonrado.
Mas a sua memória, talvez não fosse a sua melhor companheira, esqueceu-se de a lembrar dos passos que já tinha dado.
Acabado o julgamento que estava a decorrer, quando lá chegamos, foi chamado quem fazia parte do seguinte, onde fazia parte a dita dama.
Podíamos entrar, mas tínhamos de deixar as armas cá fora, num suporte que havia para elas.
A sala tinha uns três ou quatro bancos corridos, quando entramos, já se encontravam os lugares quase completos, o nosso “preso” já se encontrava sentado, nós dois encontramos lugar no banco da frente.
Comentamos, não há problema, ele não se pira.
Decorria o julgamento, há já algum tempo, nada favorável à dama, quando olhamos para trás e não o vimos.
Pensamos, foi mijar.
Saímos para ver se o encontrávamos, mas nada, não estava dentro do tribunal.
Pegamos nas duas amigas que tínhamos posto no suporte e saímos do tribunal, talvez tivesse ido beber uma bica.
Nem na rua o encontramos.
Pensamos no pior. Este erro vai-nos custar a liberdade.
Depois de perguntarmos a pessoas se tinham visto por ali um militar, obtivemos respostas negativas.
Quando já nem sabíamos que fazer, avistamos o nosso sortudo, a subir a calçada em direcção a nós, no seu passo pachorrento e com um sorriso de ingénuo nos lábios, dizer-nos:
- Não tenham medo, eu não fujo, vim apanhar ar, já estava farto de estar lá dentro.
Podem crer que não tive reacção, fiquei desarmado, só agradeci a Deus os maus pensamentos que tive.
O nosso sortudo, tinha ido praticar uma boa acção.
Estava cá fora e uma rapariga perguntou-lhe onde podia apanhar transporte para Santos, o nosso bom amigo, foi com ela até aos Caminhos de Ferro, para lhe dizer onde apanhava o eléctrico.
Regressados ao tribunal, ainda decorria o julgamento da dama.
Perdeu por 8 a 0, por a memória a ter atraiçoado, não a lembrando dos passos antes dados, 8 eram as testemunhas dele, que antes dele dormiram com ela na mesma cama.
Quanto ao nosso Soldado desenfiado, mais uma vez ficou adiado por falta de tempo.
Pouco tempo depois sou mobilizado e mandam-me para o RSS Coimbra.
Um abraço
António Paiva
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 30 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6075: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (10): Quando a missão não deixa ver
Guiné 63/74 - P6124: Notas de leitura (90): Relação de Bordo, de Cristóvão de Aguiar (I) (Beja Santos)
1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Abril de 2010:
Queridos amigos,
Aqui estou, dentro de uma tempestade açoriana, é um anti-ciclone que me irá devastar durante mais tempo. Aliás, a seguir ao Cristóvão de Aguiar vem o Álamo Oliveira. Renovo os meus votos de uma Páscoa renovada no ânimo de cada um.
Se me quiserem ouvir, volto a suplicar que vejam nas nossas estantes quaisquer outros autores que me possam ajudar a compreender quem mais escreveu nos anos 80, sobre a nossa guerra.
Há alguém que me possa emprestar o livro do Rui de Azevedo Teixeira?
Um abraço do
Mário
Mafra, Pico da Pedra, Contuboel, Dunane, Coimbra
Beja Santos
“Relação de Bordo” é o diário de Cristóvão de Aguiar entre 1964 e 1988 (Campo das Letras, 1999). Nascido em 1940, Cristóvão de Aguiar frequentou o curso de oficiais milicianos em Mafra, em 1964. Está na Guiné entre 1965 e 1967. A sua experiência de guerra fornece-lhe material para “Ciclone de Setembro”, que aparecerá autonomizado com o título “O Braço Tatuado”, em 1990. Cristóvão de Aguiar é detentor de importantes prémios literários e Comentador da Ordem Infante Dom Henrique.
Chega a Mafra em 26 de Janeiro de 1964 e escreve: “O casarão do Convento é tão frio e tão feio que tenho o coração a doer e vontade de chorar. Quem me dera agora na Ilha, o ventre materno para onde volto sempre que me sinto abandonado. Fiquei na caserna número 15, no terceiro piso, a maior de todas. Fiquei soldado-cadete número mil cento e catorze, barra sessenta e quatro”. Habitua-se ao toque da alvorada, faz a cama, pertence ao quarto pelotão da terceira companhia. O comandante da companhia, diz ele, é muito aparatoso nas continências, parece um sinaleiro a apascentar o trânsito. A formatura é sagrada: ali ninguém fala, mexe, ri ou pensa. Na instrução, aprende-se o conceito de pátria e fala-se em D. Duarte de Almeida, o decepado, uma verdadeira lição de patriótico amor. Estuda-se a espingarda Mauser, nessa altura a G-3 ainda não é popular. Uma boa parte da existência de um soldado-cadete passasse no corredor La Couture, o tal por onde podem andar jipes e outras viaturas. Anseia-se pelo fim-de-semana, para se sair é indispensável botas luzidias, cabelo e barba irrepreensivelmente cortados. A semana começa com um cross, na instrução da tapada a malta rasteja e dá cambalhotas na lama. Escreve em Março: “Há dois meses com uma farda e uma espingarda que, de tanto andar comigo, já me parece um membro do corpo... Estes instrutores militares são de uma crueldade mazinha. Aos e sábados e às segundas-feiras, a instrução é sempre mais dura do que nos outros dias. Hoje, sábado, o meu pelotão foi para o C.E.M.E.F.E.D., mesmo ao pé do Convento, para fazermos o pórtico. Este consiste em uma estrutura de cimento armado, com mais de três metros de altura, no cimo da qual existe um rectângulo formado por viga com não mais do que trinta centímetros de largura. O exercício consistia em subir lá para cima por umas escadinhas, com a espingarda, e depois andarmos com a arma poisada em ambas as mãos para nos equilibrarmos”. Em Maio, o quartel anda numa polvorosa, apareceram panfletos anti-guerra. A seguir, um major arengou sobre os inimigos da pátria, pediu a todos vigilância sobre o inimigo. Surgiram mais panfletos comentando os comentários do major. Chegou Junho, e com a semana de campo andaram todos a brincar à guerra. Promovido a aspirante, é colocado no Regimento de Infantaria 15, em Tomar. Aqui é chamado ao comandante, fora visto a acamaradar com um cabo miliciano, não se comove com o argumento de que é gente da terra e colega do liceu, um oficial não acamarada com um cabo miliciano em circunstância alguma. Seguem-se as férias de mobilização, no Pico da Pedra, Ilha de São Miguel, são horas de mágoa, recordações de namoros infelizes, relações familiares difíceis. Em Abril de 1965, em Sábado Aleluia, a companhia parte no Ana Mafalda. Chegado a Bissau, vão todos para a carreira de tiro, agora a espingarda é a G-3, e escreve no final do mês: “Houve tentativa de levantamento de rancho na nossa companhia. Como ninguém se tivesse acusado como cabecilha da frustrada rebelião, o capitão, furioso por não ter bode expiatório, deu como castigo aos três pelotões operacionais, neles incluindo cozinheiros e outras especialidades não bélicas, oito horas seguidas de ordem unida, entremeada com passo de corrida. Para que não houvesse quebra de ritmo nem de suor, ordenou que os quatro alferes dessem, à vez e na ordem inversa da sua antiguidade, duas horas de instrução cada um. Ainda se acredita piamente, na tropa, que a ordem unida é a mãe de todas as virtudes militares, sobretudo da disciplina”. Como se escreveu na recensão de “Ciclone de Setembro” o capitão fica ferido numa operação-treino em Nhacra. Cristovão de Aguiar fica a comandar a companhia. Em Maio estão a viajar para Bambadinca, seguem Contuboel: “Fui cumprimentar as forças vivas da terra: o chefe de posto, um branco, ex-furriel e ex-seminarista, e dois comerciantes – um português, oriundo do concelho de Góis, ainda novo, e respectiva consorte, e um libanês, cujo estabelecimento fica em frente da messe”. Em Junho vai com o pelotão para Fajonquito e seguem para uma operação no mato do Caresse. Em Outubro, chegou a hora de ir para o destacamento de Dunane, não há população. Escreve: “Eis-me aqui, diante de mim, nu, andrajoso, suplicante, a alma enregelada e crucificada na cruz destes dias sem nome. Nos olhos, uma fornalha de fúria e uma fome antiga situada não sei em que víscera, essa fome de séculos que é já grito milenário de todas as bocas em mim. Eis-me, pois, aqui, disparando bombas de palavras ao concentrar o silêncio da noite”. Depois, em Janeiro de 1966: “Ontem o nosso batalhão, Sete de Espadas, sofreu dez mortos numa emboscada. Tinha ficado com o meu pelotão na base, para montar a segurança e dar apoio logístico, quando, pouco depois de terem partido para uma operação no mato do Caresse, se ouviram grandes rebentamentos. Uma hora e pouco mais tarde, chegou uma viatura com os mortos a trouxe-mouxe sob o estrado da carroçaria. Tinham morrido ali como tordos, depois dos guerrilheiros terem lançado algumas granadas defensivas para o interior da GMC”. A comissão continua em Contuboel e no Sonaco. Em Setembro, os nervos vão-se abaixo, segue para Bissau: “Aqui estou há mais de uma semana em tratamento psiquiátrico. Vejo tudo envolto numa película de sono saboroso! Comecei por matar vacas e carneiros a tiros de Walter e de G-3. Faziam barulho, mééé, e eu não suportava o mínimo ruído, sobretudo de noite. Havia, porém, quem matasse carreiros de formigas com a G-3. Se era alta noite, gritava pelo cozinheiro e seus ajudantes e mandava que esquartejassem os animais, para que depois a carne servisse para o nosso sustento. Matava gatos também, mas esses tinham sete fôlegos e levavam muito tempo a morrer: esperneavam e miavam de tal maneira, que quase me endoideciam. O pior foi o ensaio de pancadaria, com cavalo-marinho, que dei num furriel.” Em Outubro está de regresso a Contuboel. Em Dezembro, visto que era obrigatório que os soldados analfabetos saíssem da tropa a saber ler e escrever, aldrabou com uma professora cabo-verdiana os exames dos ditos: “Encarreguei-me eu próprio de fazer o exame escrito, com caligrafia de principiante, a condizer, dos seis semi-analfabetos, que o tempo de aprendizagem e a disposição de ensinar foram mesmo muito escassos enquanto os meus camaradas se incumbiram dos restantes”. E depois é o regresso. Em Fevereiro de 1967, recomeçam os estudos. Aqui e acolá, o diário vai falando na escrita, sobretudo das diferentes reacções ao “Ciclone de Setembro”. Aparentemente, este escritor nascido no Pico da Pedra irá andar por outras errâncias, até que, em Julho de 2003 escreve “Trasfega”, uma colectânea de contos, onde em “A Noite e a Sombra” vamos ser reconduzidos à Guiné. Os escritores combatentes podem adormecer, vacilar, iludir, mas a memória e certas solidariedades cumprem inexoravelmente o seu caminho.
(Continua)
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 6 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6115: Notas de leitura (89): Ciclone de Setembro, de Cristóvão de Aguiar - (II) (Beja Santos)
Queridos amigos,
Aqui estou, dentro de uma tempestade açoriana, é um anti-ciclone que me irá devastar durante mais tempo. Aliás, a seguir ao Cristóvão de Aguiar vem o Álamo Oliveira. Renovo os meus votos de uma Páscoa renovada no ânimo de cada um.
Se me quiserem ouvir, volto a suplicar que vejam nas nossas estantes quaisquer outros autores que me possam ajudar a compreender quem mais escreveu nos anos 80, sobre a nossa guerra.
Há alguém que me possa emprestar o livro do Rui de Azevedo Teixeira?
Um abraço do
Mário
Mafra, Pico da Pedra, Contuboel, Dunane, Coimbra
Beja Santos
“Relação de Bordo” é o diário de Cristóvão de Aguiar entre 1964 e 1988 (Campo das Letras, 1999). Nascido em 1940, Cristóvão de Aguiar frequentou o curso de oficiais milicianos em Mafra, em 1964. Está na Guiné entre 1965 e 1967. A sua experiência de guerra fornece-lhe material para “Ciclone de Setembro”, que aparecerá autonomizado com o título “O Braço Tatuado”, em 1990. Cristóvão de Aguiar é detentor de importantes prémios literários e Comentador da Ordem Infante Dom Henrique.
Chega a Mafra em 26 de Janeiro de 1964 e escreve: “O casarão do Convento é tão frio e tão feio que tenho o coração a doer e vontade de chorar. Quem me dera agora na Ilha, o ventre materno para onde volto sempre que me sinto abandonado. Fiquei na caserna número 15, no terceiro piso, a maior de todas. Fiquei soldado-cadete número mil cento e catorze, barra sessenta e quatro”. Habitua-se ao toque da alvorada, faz a cama, pertence ao quarto pelotão da terceira companhia. O comandante da companhia, diz ele, é muito aparatoso nas continências, parece um sinaleiro a apascentar o trânsito. A formatura é sagrada: ali ninguém fala, mexe, ri ou pensa. Na instrução, aprende-se o conceito de pátria e fala-se em D. Duarte de Almeida, o decepado, uma verdadeira lição de patriótico amor. Estuda-se a espingarda Mauser, nessa altura a G-3 ainda não é popular. Uma boa parte da existência de um soldado-cadete passasse no corredor La Couture, o tal por onde podem andar jipes e outras viaturas. Anseia-se pelo fim-de-semana, para se sair é indispensável botas luzidias, cabelo e barba irrepreensivelmente cortados. A semana começa com um cross, na instrução da tapada a malta rasteja e dá cambalhotas na lama. Escreve em Março: “Há dois meses com uma farda e uma espingarda que, de tanto andar comigo, já me parece um membro do corpo... Estes instrutores militares são de uma crueldade mazinha. Aos e sábados e às segundas-feiras, a instrução é sempre mais dura do que nos outros dias. Hoje, sábado, o meu pelotão foi para o C.E.M.E.F.E.D., mesmo ao pé do Convento, para fazermos o pórtico. Este consiste em uma estrutura de cimento armado, com mais de três metros de altura, no cimo da qual existe um rectângulo formado por viga com não mais do que trinta centímetros de largura. O exercício consistia em subir lá para cima por umas escadinhas, com a espingarda, e depois andarmos com a arma poisada em ambas as mãos para nos equilibrarmos”. Em Maio, o quartel anda numa polvorosa, apareceram panfletos anti-guerra. A seguir, um major arengou sobre os inimigos da pátria, pediu a todos vigilância sobre o inimigo. Surgiram mais panfletos comentando os comentários do major. Chegou Junho, e com a semana de campo andaram todos a brincar à guerra. Promovido a aspirante, é colocado no Regimento de Infantaria 15, em Tomar. Aqui é chamado ao comandante, fora visto a acamaradar com um cabo miliciano, não se comove com o argumento de que é gente da terra e colega do liceu, um oficial não acamarada com um cabo miliciano em circunstância alguma. Seguem-se as férias de mobilização, no Pico da Pedra, Ilha de São Miguel, são horas de mágoa, recordações de namoros infelizes, relações familiares difíceis. Em Abril de 1965, em Sábado Aleluia, a companhia parte no Ana Mafalda. Chegado a Bissau, vão todos para a carreira de tiro, agora a espingarda é a G-3, e escreve no final do mês: “Houve tentativa de levantamento de rancho na nossa companhia. Como ninguém se tivesse acusado como cabecilha da frustrada rebelião, o capitão, furioso por não ter bode expiatório, deu como castigo aos três pelotões operacionais, neles incluindo cozinheiros e outras especialidades não bélicas, oito horas seguidas de ordem unida, entremeada com passo de corrida. Para que não houvesse quebra de ritmo nem de suor, ordenou que os quatro alferes dessem, à vez e na ordem inversa da sua antiguidade, duas horas de instrução cada um. Ainda se acredita piamente, na tropa, que a ordem unida é a mãe de todas as virtudes militares, sobretudo da disciplina”. Como se escreveu na recensão de “Ciclone de Setembro” o capitão fica ferido numa operação-treino em Nhacra. Cristovão de Aguiar fica a comandar a companhia. Em Maio estão a viajar para Bambadinca, seguem Contuboel: “Fui cumprimentar as forças vivas da terra: o chefe de posto, um branco, ex-furriel e ex-seminarista, e dois comerciantes – um português, oriundo do concelho de Góis, ainda novo, e respectiva consorte, e um libanês, cujo estabelecimento fica em frente da messe”. Em Junho vai com o pelotão para Fajonquito e seguem para uma operação no mato do Caresse. Em Outubro, chegou a hora de ir para o destacamento de Dunane, não há população. Escreve: “Eis-me aqui, diante de mim, nu, andrajoso, suplicante, a alma enregelada e crucificada na cruz destes dias sem nome. Nos olhos, uma fornalha de fúria e uma fome antiga situada não sei em que víscera, essa fome de séculos que é já grito milenário de todas as bocas em mim. Eis-me, pois, aqui, disparando bombas de palavras ao concentrar o silêncio da noite”. Depois, em Janeiro de 1966: “Ontem o nosso batalhão, Sete de Espadas, sofreu dez mortos numa emboscada. Tinha ficado com o meu pelotão na base, para montar a segurança e dar apoio logístico, quando, pouco depois de terem partido para uma operação no mato do Caresse, se ouviram grandes rebentamentos. Uma hora e pouco mais tarde, chegou uma viatura com os mortos a trouxe-mouxe sob o estrado da carroçaria. Tinham morrido ali como tordos, depois dos guerrilheiros terem lançado algumas granadas defensivas para o interior da GMC”. A comissão continua em Contuboel e no Sonaco. Em Setembro, os nervos vão-se abaixo, segue para Bissau: “Aqui estou há mais de uma semana em tratamento psiquiátrico. Vejo tudo envolto numa película de sono saboroso! Comecei por matar vacas e carneiros a tiros de Walter e de G-3. Faziam barulho, mééé, e eu não suportava o mínimo ruído, sobretudo de noite. Havia, porém, quem matasse carreiros de formigas com a G-3. Se era alta noite, gritava pelo cozinheiro e seus ajudantes e mandava que esquartejassem os animais, para que depois a carne servisse para o nosso sustento. Matava gatos também, mas esses tinham sete fôlegos e levavam muito tempo a morrer: esperneavam e miavam de tal maneira, que quase me endoideciam. O pior foi o ensaio de pancadaria, com cavalo-marinho, que dei num furriel.” Em Outubro está de regresso a Contuboel. Em Dezembro, visto que era obrigatório que os soldados analfabetos saíssem da tropa a saber ler e escrever, aldrabou com uma professora cabo-verdiana os exames dos ditos: “Encarreguei-me eu próprio de fazer o exame escrito, com caligrafia de principiante, a condizer, dos seis semi-analfabetos, que o tempo de aprendizagem e a disposição de ensinar foram mesmo muito escassos enquanto os meus camaradas se incumbiram dos restantes”. E depois é o regresso. Em Fevereiro de 1967, recomeçam os estudos. Aqui e acolá, o diário vai falando na escrita, sobretudo das diferentes reacções ao “Ciclone de Setembro”. Aparentemente, este escritor nascido no Pico da Pedra irá andar por outras errâncias, até que, em Julho de 2003 escreve “Trasfega”, uma colectânea de contos, onde em “A Noite e a Sombra” vamos ser reconduzidos à Guiné. Os escritores combatentes podem adormecer, vacilar, iludir, mas a memória e certas solidariedades cumprem inexoravelmente o seu caminho.
(Continua)
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 6 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6115: Notas de leitura (89): Ciclone de Setembro, de Cristóvão de Aguiar - (II) (Beja Santos)
Guiné 63/74 - P6123: Agenda cultural (69): Apresentação da biografia Spínola, de Luís Nuno Rodrigues, amanhã, 18h30, Fundação Mário Soares, Lisboa
1. Amável convite que nos foi enviado pela Margarida Damião, da editora Esfera dos Livros:
Caro Luís Graça,
Espero que posso divilgar este convite junto dos visitantes do seu blog e que possa estar presente amanhã no lançamento.
Gostava muito de lhe enviar um exemplar da obra para sua análise e posterir publicação no blog, será que me pode enviar a sua morada?
Muito obrigada,
Margarida Damião
Rua Barata Salgueiro, n.º 30- 1º Esq.
1269-056 Lisboa
Tel. 21 340 40 64
Telm.963441979
www.esferadoslivros.pt
2. Comentário de L.G.:
Espero que os nossos amigos e camaradas da Guiné, nomeadamente os da área da Grande Lisboa, possam estar presentes neste evento. Spínola foi o comandante-chefe de muitos nós. No nosso blogue, temos cerca de uma centena de referências a Spínola (incluindo o descritor Marechal António Spínola).
De Spínola conhecemos apenas o anedótico, a pequena história, o fait-divers... Falta-nos, de facto, a grande biografia do homem, do português, do militar, do político. O seu papel como militar e como político não pode ser ignorado, esquecido, escamoteado. Simpatize-se ou não com o personagem, nuinguém lhe pode tirar o protagonismo que teve na nossa história contemporânea, antes do 25 do Abril (e nomeadamente no TO da Guiné) bem como no imediato pós-25 de Abril.
É altura de olharmos, desapaixonadamente, para aquele que foi um dos mais importantes actores da cena político-militar do nosso tempo de juventude... Connheci-o, pessoalmente, ao fim de vinte meses, na ponte do Rio Udunduma, a 3 de Fevereiro de 1971, em estado menos recomendável em termos de aprumo militar: a barba de muitos dias por fazer, o cabelo comprido... Sempre tive dele uma "opinião pré-concebida", que já levava da Metrópole (*)... Hoje não gosto de fazer juízos sumários sobre ninguém...
Já folheei o livro, mas não tenho uma ideia formada sobre a resposta à pergunta: É esta a grande biografia de Spínola ? Primeiro é preciso ler o livro para avaliar e julgar... E, muito provavelmente, ainda nos falta a distância efectiva e efectiva para compreender e explicar o que fez correr o autor de Portugal e o Futuro.
Quem é o autor da obra ? Sobre ele, diz a editora:
Luís Nuno Rodrigues é doutor em História Americana pela Universidade do Wisconsin (EUA) e em História Moderna e Contemporânea pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE). Actualmente é professor auxiliar com agregação no Departamento de História do ISCTE.
Tem publicado vários livros e dezenas de artigos sobre os temas da sua especialidade. A sua obra Kennedy-Salazar: a crise de uma aliança. As relações luso-americanas entre 1961 e 1963, publicada em 2002, foram galardoadas com os Prémios Fundação Mário Soares e Aristides Sousa Mendes.
Nota de L.G.: O autor é também investigador do IPRI - Instituto Português de Relações Internacionais, da Universidade Nova de Lisboa.
Ficha técnica do livro:
Título: Spínola
Colecção: História Biográfica
Nr de páginas: 744 + 28 extratextos
PVP /c Iva: 28 €
ISBN: 978-989-626-208-2
Formato: 16 X 23,5
Encadernação: Cartonado
Data de edição: Março de 2010
Sinopse:
Em 1961 tomou uma decisão que mudaria para sempre a sua vida: ofereceu-se como voluntário para a guerra em Angola. Começava assim a construção do mito em torno de António de Spínola. Uma imagem que se fortaleceu na Guiné, onde desempenhou os cargos de governador-geral e de comandante-chefe.
O homem que uns meses antes agitou o país com a publicação de Portugal e o Futuro, onde defendia que o problema colonial português não teria uma solução militar. A sua passagem pela vida política revestiu-se de aspectos dramáticos e foi uma decepção, quer para os seus opositores, quer para alguns dos seus apoiantes e seguidores, que nele depositaram fortes esperanças num momento-chave da História portuguesa.
O certo é que, entre 25 de Abril de 1974 e 11 de Março de 1975, a «glória» cedeu lugar ao «drama» na vida de António de Spínola. Uma série de passos em falso levaram o «general do monóculo» da Presidência da República ao exílio no Brasil, de símbolo da esperança nascida em Abril de 1974, a líder de um movimento clandestino que, a partir do estrangeiro, visava alterar pela força o regime político vigente.
Regressou a Portugal em Agosto de 1976, recebendo ordem de prisão ainda no aeroporto. Reintegrado posteriormente nas Forças Armadas, António de Spínola foi nomeado marechal e, mais tarde, recebeu a Grã Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada do Valor, Lealdade e Mérito.
Quando morreu em 1996, com 86 anos, Spínola era um homem que ainda não se tinha reconciliado com o seu pais, nem esquecido ou perdoado erros cometidos no passado.
_________________
Nota de L.G.:
(*) Vd. poste de 4 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2239: Tugas - Quem é quem (2): António de Spínola, Governador e Comandante-Chefe (1968/73)
(...) Ponte do Rio Udunduma, 3 de Fevereiro de 1971:
De visita aos trabalhos da estrada Bambadinca-Xime, esteve aqui de passagem, com uma matilha de Cães Grandes atrás, Sexa General António de Spínola, Governador-Geral e Comandante-Chefe (vulgo, o Homem Grande). Eu gosto mais de chamar-lhe Herr Spínola, tout court. De monóculo, luvas pretas e pingalim, dá-me sempre a impressão de ser um fantasma da II Guerra Mundial, um sobrevivmente da Wermacht nazi.
Mas o que é que faz correr este velho soldado, como ele próprio gosta de se chamar ? É difícil adivinhar-lhe a sua paixão secreta, o seu móbil, sob a sua impassibilidade de samurai (ou de figura de cera?): a mitomania, o culto da personalidade ou, hélàs!, a presidência da república ...
Há qualquer coisa de sinistro na sua voz de ventríloquo, no seu olhar vidrado ou no seu sorriso sardónico: talvez seja a superioridade olímpica do guerreiro.
Cumprimentou-me mecanicamente. Eu devia ter um aspecto miserável. Eu e os meus nharros, vivendo como bichos em valas protegidas por bidões de areia e chapa de zinco. O coronel (?) que vinha atrás do General chamou-me depois à parte e ordenou-me que, no regresso a Bambadinca, cortasse o cabelo e a barba…
A visita-surpresa do Deus-Todo-Poderoso foi o meu único monumento de glória em toda esta guerra… Ao fim de vinte meses!... Só quero regressar, são e salvo, a casa, daqui a um mês e, se possível, levar comigo a barba que deixei crescer… na Guiné, longe do Vietname.
Fonte: 30 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1132: Spínola e os seus 'Cães Grandes' na ponte do Rio Udunduma (Luís Graça) (...)
Guiné 63/74 - P6122: (Ex)citações (64): Guerras feitas, amores desfeitos (José Corceiro)
1. Comentário, de 6 de Abril de 2010, do José Corceiro, ao poste de P6115:
Estimados Tertulianos: Na resenha que o Beja Santos faz do livro Ciclone em Setembro, de Cristovão de Aguiar, refere o drama do Niza (**).
Em Canjadude, na CCAÇ 5, houve um caso, real, do qual fui testemunha, que eu considero bem mais grave.
Um militar, metropolitano e já casado, faltavam-lhe cerca de três meses para terminar a comissão na Guiné, quando recebeu uma carta dos pais, a comunicar-lhe que a esposa tinha ido a entregar os dois filhos do casal, ainda bebés, aos pais dele, ela abandonou o lar, ausentando-se para parte incerta, na companhia de outro homem.
Também ele tinha uma tatuagem no peito, onde estava rabiscado um coração a ser penetrado por uma seta e dentro deste, as palavras,"amor de esposa", seguido do nome desta. No abrigo onde dormia, improvisado numa prateleira junto da cabeceira da cama, tinha sempre a fotografia da esposa e dos filhos.
Passou um mau momento, muito perturbado, e ameaçava que ia cometer triplo homicídio. Acabou a comissão, nada mais soube [dele].
Um abraço
Também ele tinha uma tatuagem no peito, onde estava rabiscado um coração a ser penetrado por uma seta e dentro deste, as palavras,"amor de esposa", seguido do nome desta. No abrigo onde dormia, improvisado numa prateleira junto da cabeceira da cama, tinha sempre a fotografia da esposa e dos filhos.
Passou um mau momento, muito perturbado, e ameaçava que ia cometer triplo homicídio. Acabou a comissão, nada mais soube [dele].
Um abraço
José Corceiro
_______________
Nota de L.G.:
(*) Vd. poste de 6 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6115: Notas de leitura (89): Ciclone de Setembro, de Cristóvão de Aguiar - (II) (Beja Santos)
(...) E estamos chegados ao drama do Niza, que não recebeu a carta da sua Lena. A carta dos pais prenuncia a grande tragédia que vem aí: “Não queríamos mandar-te dizer nada disto bem basta a tua consumição nessa guerra. A rapariga que namoravas, a Lena da Maria Calva, roeu-te a corda, a grande galdéria. Anda agora de namoro pegado com o filho mais velho do Rolo o que está emigrado para França”. O Niza vai desvairar, dispara carregadores de G-3, Dunane entra em estado sítio. A grande porra é que o desgraçado do Niza tem no braço tatuado o amor da Lena, ele anda aos gritos a mostrar a sua desgraça, grande puta que ficas para sempre com o teu nome gravado na minha pele, é uma seta que atravessa o coração tatuado, Amor de Lena. Não há injecção que acalme um homem que se considere corno. O Niza irá enforcar-se no hospital.
Este braço tatuado, iremos ver mais adiante, transformar-se-á numa auto-estrada da memória dilacerada de Cristóvão de Aguiar. E um dia as lanchas virão rio Geba abaixo, até Bissau. Passaram seguramente por Mato de Cão, mas naquele tempo não fui eu que lhes dei segurança. Diz o autor que não dormiram na travessia do rio, tal era o medo de serem atacados. De Bissau subiram o portaló do Uíge, a comissão terminara. É o regresso à ilha, tudo fantasiado, ele vai para Coimbra, acaba os estudos, encontra trabalho como leitor de inglês, anos mais tarde, escalavrando o caminho, descobrirá o formigueiro da escrita, a peçonha e o êxtase fugaz que tiranizam a existência do escritor. Bom, ele volta à ilha só para reconstituir as coisas sofridas da adolescência entre o Pico da Pedra e Ponta Delgada. A ilha é uma danação, é a raiz profunda da açorianidade.
Este Cristóvão de Aguiar fez bem em voltar à guerra, tal é o fulgor original desta narrativa de vanguarda que se embebe no casticismo dos mestres telúricos, como Nemésio, Tomaz de Figueiredo ou Araújo Correia. Vamos seguidamente ver como ele volta à Guiné em “Relação de Bordo”, em 1999. (...)
Guiné 63/74 - P6121: Parabéns a você (100): O meu coração cresceu mais um pouco para conter toda a amizade demonstrada (Joaquim Mexia Alves)
O nosso camarada Joaquim Mexia Alves enviou-nos esta mensagem com pedido de publicação:
Meus camarigos Luís, Carlos, Virgínio e Eduardo
A vós, que pela vossa dedicação e trabalho, permitis que nenhum de nós seja esquecido no dia do seu aniversário e que leva a manifestações de amizade como a que ontem senti de todos os camarigos: OBRIGADO!
Peço-vos, abusando da vossa paciência que publiqueis então o meu profundo agradecimento a todos os camarigos, para que assim não me esqueça de ninguém.
Um abraço forte e amigo do
Joaquim
Meus queridos Camarigos
E agora?!
Agora como se agradecem todas estas manifestações de amizade que quase me convencem que eu sou aquilo que os meus camarigos escreveram sobre mim.
Vanitas, vanitas!
Ontem fui almoçar a Alcobaça, com a minha mulher e os meus filhos mais novos, e todos vós meus camarigos estiveram comigo!
Admirados?
Não se admirem, porque o Jero, um modelo de “camarigagem” e amizade, foi ter connosco a meio do almoço, distribuindo simpatia e presentes pela família toda.
Ora isto quer dizer, que todos vós, representados no Jero, estiveram comigo, estiveram connosco, no dia dos meus 61 anos.
Falámos então, que conhecendo-nos há poucos meses, já éramos velhos amigos!
Ora sendo Alcobaça, pelo menos dantes assim era, terra de antiguidades, lembrei-me agora, que tal como as coisas antigas, as antigas amizades têm um valor precioso.
Ora a amizade que nos une a todos é já antiga, e foi forjada na dificuldade, na provação, no risco de vida, e por isso mesmo é amizade forte e para durar, e consegue ultrapassar todas as diferenças que haja entre nós e por isso me orgulho de ter tantos amigos como vós.
Acreditamos e dizemos na Fé Cristã que eu vivo, que Deus, mesmo das coisas más consegue retirar o bem.
E ao pensar nisto, tenho que ver um paralelo com a guerra que vivemos, e a “camarigagem” que temos.
A guerra não presta para nada, é coisa ruim que a nada leva, a não ser destruição e tristeza, mas no meio de tudo o que é mau, forja amizades para toda a vida, que vencem os tempos e as provações, e unem homens tão diferentes como somos todos nós.
Ontem o meu coração cresceu mais um pouco, para conter toda a amizade que vós meus camarigos me quiseram demonstrar.
E agora?!
Agora digo-vos obrigado, do mais íntimo de mim mesmo, agora digo-vos bem hajam, que é uma expressão bem portuguesa que o meu pai sempre utilizava quando estava emocionado, e eu estou emocionado, não tenham dúvidas.
Agradeço-vos da melhor maneira que sei, e que é colocar-vos a todos e às vossas famílias nas minhas orações.
Num abraço a todos, forte, sentido, camarigo, (não esquecendo a camariga Filomena), deixo-vos uma parte de mim, escrita há já alguns anos
O meu hino à liberdade
Deixa-me escrever-te um poema,
Que tenha por tema
A liberdade.
Porque sabes,
Eu sou livre e sou alegre,
Sou teimoso, obstinado,
Corajoso, apaixonado,
Defeituoso e sem jeito,
Mas trago dentro do peito
Esta minha liberdade.
Que é cantar, como os cantores,
Sem jamais saber cantar,
Escrever como os escritores,
Sem nunca saber escrever,
Ensinar como os Doutores,
Sem nunca ter de aprender,
Fugir e ser soldado,
Apenas porque se quer,
Olhar e ser olhado,
Sempre que a gente quiser,
Ser homem e ser mulher,
Sem nunca estar acabado,
Partir pelo mundo fora,
Sem nunca daqui ter saído,
Ter saudades de partir,
Sem nunca aqui ter chegado,
Passar uma vida a rir,
Sem ter razões para ter rido,
Olhar para o mundo
E dizer:
Esta é a minha vontade,
O meu voto mais profundo,
O meu hino
À liberdade...
Monte Real, 7 de Abril de 2010
__________
Nota de CV:
Vd. poste de 6 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6112: Parabéns a você (99): Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil OP Esp (Os editores)
Meus camarigos Luís, Carlos, Virgínio e Eduardo
A vós, que pela vossa dedicação e trabalho, permitis que nenhum de nós seja esquecido no dia do seu aniversário e que leva a manifestações de amizade como a que ontem senti de todos os camarigos: OBRIGADO!
Peço-vos, abusando da vossa paciência que publiqueis então o meu profundo agradecimento a todos os camarigos, para que assim não me esqueça de ninguém.
Um abraço forte e amigo do
Joaquim
Meus queridos Camarigos
E agora?!
Agora como se agradecem todas estas manifestações de amizade que quase me convencem que eu sou aquilo que os meus camarigos escreveram sobre mim.
Vanitas, vanitas!
Ontem fui almoçar a Alcobaça, com a minha mulher e os meus filhos mais novos, e todos vós meus camarigos estiveram comigo!
Admirados?
Não se admirem, porque o Jero, um modelo de “camarigagem” e amizade, foi ter connosco a meio do almoço, distribuindo simpatia e presentes pela família toda.
Ora isto quer dizer, que todos vós, representados no Jero, estiveram comigo, estiveram connosco, no dia dos meus 61 anos.
Falámos então, que conhecendo-nos há poucos meses, já éramos velhos amigos!
Ora sendo Alcobaça, pelo menos dantes assim era, terra de antiguidades, lembrei-me agora, que tal como as coisas antigas, as antigas amizades têm um valor precioso.
Ora a amizade que nos une a todos é já antiga, e foi forjada na dificuldade, na provação, no risco de vida, e por isso mesmo é amizade forte e para durar, e consegue ultrapassar todas as diferenças que haja entre nós e por isso me orgulho de ter tantos amigos como vós.
Acreditamos e dizemos na Fé Cristã que eu vivo, que Deus, mesmo das coisas más consegue retirar o bem.
E ao pensar nisto, tenho que ver um paralelo com a guerra que vivemos, e a “camarigagem” que temos.
A guerra não presta para nada, é coisa ruim que a nada leva, a não ser destruição e tristeza, mas no meio de tudo o que é mau, forja amizades para toda a vida, que vencem os tempos e as provações, e unem homens tão diferentes como somos todos nós.
Ontem o meu coração cresceu mais um pouco, para conter toda a amizade que vós meus camarigos me quiseram demonstrar.
E agora?!
Agora digo-vos obrigado, do mais íntimo de mim mesmo, agora digo-vos bem hajam, que é uma expressão bem portuguesa que o meu pai sempre utilizava quando estava emocionado, e eu estou emocionado, não tenham dúvidas.
Agradeço-vos da melhor maneira que sei, e que é colocar-vos a todos e às vossas famílias nas minhas orações.
Num abraço a todos, forte, sentido, camarigo, (não esquecendo a camariga Filomena), deixo-vos uma parte de mim, escrita há já alguns anos
O meu hino à liberdade
Deixa-me escrever-te um poema,
Que tenha por tema
A liberdade.
Porque sabes,
Eu sou livre e sou alegre,
Sou teimoso, obstinado,
Corajoso, apaixonado,
Defeituoso e sem jeito,
Mas trago dentro do peito
Esta minha liberdade.
Que é cantar, como os cantores,
Sem jamais saber cantar,
Escrever como os escritores,
Sem nunca saber escrever,
Ensinar como os Doutores,
Sem nunca ter de aprender,
Fugir e ser soldado,
Apenas porque se quer,
Olhar e ser olhado,
Sempre que a gente quiser,
Ser homem e ser mulher,
Sem nunca estar acabado,
Partir pelo mundo fora,
Sem nunca daqui ter saído,
Ter saudades de partir,
Sem nunca aqui ter chegado,
Passar uma vida a rir,
Sem ter razões para ter rido,
Olhar para o mundo
E dizer:
Esta é a minha vontade,
O meu voto mais profundo,
O meu hino
À liberdade...
Monte Real, 7 de Abril de 2010
__________
Nota de CV:
Vd. poste de 6 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6112: Parabéns a você (99): Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil OP Esp (Os editores)
Guiné 63/74 - P6120: Convívios (213): 27.º Encontro Nacional de ex-militares do BENG 447 - Brá - Bissau, dia 8 de Maio de 2010 em Martingança
Pede-nos o nosso camarada Lima Ferreira, ex-Fur Mil, para divulgarmos o 27.º Encontro Nacional dos ex-Oficiais, Sargentos e Praças do BENG 447 - Brá - Guiné, que se realiza no próximo dia 8 de Maio de 2010 em Martingança.
Clicar na imagem para ampliar
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 6 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6113: Convívios (126): Pessoal da CART 2412 - "Sempre Diferentes", no dia 15 de Maio de 2010, em Fátima (Jorge Teixeira)
Clicar na imagem para ampliar
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 6 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6113: Convívios (126): Pessoal da CART 2412 - "Sempre Diferentes", no dia 15 de Maio de 2010, em Fátima (Jorge Teixeira)
Guiné 63/74 - P6119: Agenda cultural (68): Toque de Caixa, jogando em casa: próximo concerto a 9 de Abril, na FNAC, Norteshopping, Porto, às 22h
Fotos: © Luís Graça (2010). Direitos reservados.
Assunto - Concertos do Toque de Caixa...
Caros amigos :
Para os interessados, aí vai a agenda de concertos do Toque de Caixa nos tempos mais próximos :
9 de Abril, 6ª feira - Porto, FNAC ( Norteshopping) - 22 h.
9 de Maio, domingo - Porto, FNAC (Via Catarina ) -18 h.
23 de Maio, domingo - Porto, CASA da MÚSICA : APRESENTAÇÃO DO CD [, Cruzes, Canhoto] - hora a determinar
2 ou 9 de Julho, sexta-feira - Casa da Cultura de Bragança - 21,30 h.
24 de Julho, sábado - Tavira - 21,30 h.
Um abraço
Abilio Machado
2. Comentário de L.G.:
Santos da casa não fazem milagres ? Não é o caso... O Toque de Caixa está vivo e recomenda-se. É conhecido, reconhecido e apreciado na sua terra natal, ou melhor, região natal, uma vez que o grupo reúne músicos (todos eles excelentes, multifacetados) da Maia, de Matosinhos e do Porto (cito de cor, já que o grupo nasceu na Maia em finais de 1985, fundindo-se mais tarde com outro grupo; entretanto, houve gente que entrou e saiu). Um dos pais-fundadores foi o Abílio Machado, nosso camarada e amigo de Bambadinca (CCS / BART 2917, 1970/72).
Depois do sucesso do lançamento do seu segundo CD (Cruzes, Canhoto), em Lisboa, na FNAC Colombo, em 12 de Março último (*), os seus admiradores da região Norte poderão ouvi-los, ao vivo, já no próximo dia 9 de Abril, na FNAC Norteshopping, Porto.
As sonoridades do Toque de Caixa mergulham nas raízes da música tradicional portuguesa, abrindo uma nova fileira que, oxalá, continue a ser cultivada, explorada e desenvolvida pela nova geração de músicos portugueses.
Depois do primeiro disco, as Histórias do Som (1993), saiu este ano o seu segundo trabalho, Cruzes, Canhoto. A qualidade das (re)criações musicais e o profissionalismo dos executantes são uma garantia do sucesso que, acreditamos, se vai repetir no Porto. Faço apelo aos nossos camaradas da Tabanca de Matosinhos para darem um pulinho, no dia 9, ao concerto dos Toque de Caixa na FNAC Norteshopping.
___________
Depois do primeiro disco, as Histórias do Som (1993), saiu este ano o seu segundo trabalho, Cruzes, Canhoto. A qualidade das (re)criações musicais e o profissionalismo dos executantes são uma garantia do sucesso que, acreditamos, se vai repetir no Porto. Faço apelo aos nossos camaradas da Tabanca de Matosinhos para darem um pulinho, no dia 9, ao concerto dos Toque de Caixa na FNAC Norteshopping.
___________
Nota de L.G.:
(*) Vd. poste de 21 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6031: Os nossos seres, saberes e lazeres (17): Cruzes, Canhoto: O novo CD da caixa de música do Bilocas e dos seus amigos... (Luís Graça)
(*) Vd. poste de 21 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6031: Os nossos seres, saberes e lazeres (17): Cruzes, Canhoto: O novo CD da caixa de música do Bilocas e dos seus amigos... (Luís Graça)
terça-feira, 6 de abril de 2010
Guiné 63/74 - P6118: História da CCAÇ 2679 (34): Situação geral em Novembro de 1970 (José Manuel M. Dinis)
1. Mensagem de José Manuel Matos Dinis* (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 3 de Abril de 2010:
Carlos, meu amigo,
Folgo por estar resolvida a questão do V Encontro da Tabanca, obrigando-te a comparecer para ajustes de contas diversos. É verdade: nesta vida não podemos andar sempre a fugir à seringa. E por isso, deixa-me seringar-te com mais este texto, maioritariamente extraído da História da Unidade, é que tenho andado com uma ausência de inspiramento... agravada pela preguiça da primaVera.
Abraços
JD
HISTÓRIA DA CCAÇ 2679 (34)
1 - Situação geral em Novembro/70 (integral da H.Unidade)
Durante o mês de Novembro, o IN manifestou-se por três vezes no sub-sector da Companhia, através de 02 flagelações ao Destacamento de Copá e de outra ao Aquartelamento de Bajocunda.
A actividade operacional das NT também se manteve bastante intensa, efectuando várias operações e acções, constando de patrulhamentos conjugados com emboscadas nocturnas e realizando frequentes contactos com as populações da área simultaneamente com a sua assistência sanitária.
Pelos revezes sofridos nas suas flagelações e pela intensa actividade operacional desenvolvida pelas NT, o IN não parece ter criado adeptos entre a população que se mostrou positivamente colaborante com as NT.
Prosseguiram as obras em curso dos reordenamentos (Escola de Amedalai e auto defesas de Amedalai e Tabassi), sendo porém de assinalar o desinteresse e falta de colaboração da população de Tabassi neste aspecto.
O PEL MIL 269 continua sediado em Amedaçai onde exerca a protecção àquela tabanca.
Quanto à protecção a Tabassi continua a ser feita alternadamente por 01 GCOMB da Companhia e outro da CCAV 2747.
Aquelas duas tabancas continuam a ser reforçadas diariamente à noite por duas secções de Atiradores.
É ainda de assinalar neste período a apresentação de 08 elementos da população de Copá que se achavam refugiados na República do Senegal.
Minhas observações à actividade mensal:
Durante o período são referidos 11 patrulhamentos de combate realizados por Bajocunda; 6 realizados por Copá e 1 realizado por Amedalai. Ainda se referem 3 patrulhamentos de assistência às populações, bem como duas operações a nível de bi-Grupo, incluindo emboscadas nocturnas, e uma saída para emboscada nocturna.
É de salientar que no dia 06NOV70 foram flageladas as povoações de Copá, Bajocunda e Pirada. Nenhuma das acções constituíu perigo real, pois os disparos foram mal regulados. No entanto, durante o ataque a Bajocunda, registou-se um "morto por acidente, causado pelo rebentamento de um dilagrama", que vitimou um militar da CCAV 2747, pertencente a um pelotão que reforçava Bajocunda. O acidente consubstanciou-se pela utilização de bala real no lançamento de dilagrama, operação efectuada por um Furriel daquela Companhia que tinha bebido excessivamente. Apenas registo o facto, sem qualquer pretensão de fazer julgamento. Acidentes assim decorriam da guerra e das circunstâncias de vida locais que condicionavam o dia-a-dia dos militares. Não se pode pretender que durante a permanência na Guiné o pessoal não cometesse excessos. Cometeram-se, e muitos, alguns, infelizmente, com resultados frustrantes, ou condenáveis. Este foi um acidente absolutamente imprevisto.
2 - Breve abordagem política daquela época:
Em Fevereiro de 1970 aconteceu uma primeira remodelação governamental no governo de Marcelo Caetano. Foram afastados os críticos Franco Nogueira, um dos herdeiros do espírito salazarista, e Correia de Oliveira, um delfim do Botas, fazendo entrar Rui Patricio (Negócios Estrangeiros), José Veiga Simão (Educação), e Baltasar Rebelo de Sousa (Corporações), qual tentativa de refrescamento da imagem de Portugal, quer para o interior, quer para o exterior, como que a reacender a esperança na busca de soluções para o ultramar e o desenvolvimento económico e social.
Os "tecnocratas" Xavier Pintado, João Salgueiro e Rogério Martins, dão sinal de aproximação à Europa, contra o afrocentrismo, ou seja, a preocupação ideológica de manter as possessões, a todo o custo, como parte integrante na continuidade do modelo político anterior. Porque poderia imaginar-se alguma solução diferente para o relacionamento entre todas as partes. No entanto, passados alguns meses, face ao acumular de hesitações do primeiro-ministro, verificou-se que Marcelo continuava refém dos velhos e duros defensores do regime, partidários de posições intransigentes no campo da defesa, da ordem interna (em sentido político) e da continuação da guerra colonial.
Spínola concitava admiração, embora nem sempre bem estribada. Passava por manter elevado o moral das tropas, formou uma élite de peso, e evidenciava-se pelo destemor pessoal. Também passou a ser o mais beneficiado pela máquina de propaganda.
Pedro Theotónio Pereira fez-se eco: "Ouço que o Spínola, governador da Guiné, mandou em certos postos avançados colocar o dispositivo de segurança à frente do arame farpado", e "prossegue a revolução social e explora as rivalidades étnicas".
O que eu sei, é que no primeiro semestre do ano, mandou retirar o arame de protecção e tapar as valas em Pirada, com o argumento de que sendo um posto fronteiriço, devia apresentar condições de plena abertura ao exterior e tranquilidade interna, do que resultou a invasão da localidade, enquanto a tropa assistia a uma projecção de cinema (Exército e Páras), que não redundou num massacre, porque o pessoal IN perdeu a cabeça na tentativa de saquear as lojas de comércio local, e bateu em retirada, quando de surpreendedores, passaram a surpreendidos. Foi um momento de grande sorte para o velho cabo de guerra que, assim, saíu imaculado daquela infeliz decisão.
Em Abril, três majores do Exército foram atraídos a uma emboscada, e mortos pelo PAIGC. Foi o mais trágico da Operação Chão Manjaco, lançada por Spínola como meio de paz, e que previa a integração da guerrilha nas Forças Armadas Portuguesas. Outra medida de grande ingenuidade.
Entretanto, cento e quarenta e sete figuras de perfil "liberal", entre as quais Xavier Pintado e Rogério Martins, secretários de estado, pedem a legalização da Associação para o Desenvolvimento Económico e Social (SEDES), que é pensada como um instrumento de apoio ao governo e um polo agregador do "centro político", mas tornou-se depois um grupo crítico e distanciado.
Por esta altura Marcelo Caetano autorizou a Operação Mar Verde (imaginada por Alpoim Calvão, que a fez interessar a Spínola, e envolvia oposicionistas do regime da Guiné-Conakry), provavelmente convencido de uma vitória retumbante sobre o PAIGC e o governo de Conakry que lhe dava apoio, e tinha como principais objectivos, a destituição do presidente Sekou Touré, o desmembramento do PAIGC e a eventual eliminação de Cabral, para o que contava com um desembarque surpresa, a que se seguiria o controle da área portuária, a tomada da rádio, como condição necessária para surpreender o país e anunciar o novo governo de revoltosos, a tomada da base aérea e destruição dos aviões MIG, para além dos assaltos às residências de Touré e Cabral. A estes objectivos iniciais veio juntar-se a libertação dos prisioneiros de guerra portugueses, a única parte que correu bem. No final da operação ainda foram afundados vários barcos que se encontravam no porto.
Em S. Bento, entretanto, distinguia-se um grupo de deputados da nação, que fazia oposição interna, e ficou conhecido pela designação de Ala Liberal, onde se distinguiam Pinto Leite, Sá Carneiro, Pinto Balsemão, Miller Guerra e Magalhães Mota.
Destas evidências, resulta que o regime apresentava fragilidades que, cada vez mais, se acentuavam e dificultavam a prossecução da política do governo (tanto interna como externamente) e a estabilidade social. Nas "Conversas em Família", Caetano difundia contra grupos de católicos inquietos, e referia: "... que bom é ser moralista, que bom poder resolver os problemas de consciência com algumas sentenças ambiguas no remanso do lar... Mas os governantes também têm problemas de consciência... Pelo lugar que ocupo, enquanto o país quiser, cumpre-me avisar para os perigos que o país corre... Sobre os ombros de quem governa pesa a responsabilidade do ultramar português... Eu, por mim, não aconselharei a renúncia..."
Estrebuchava sem dar sinais de competência ou inovadores.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 20 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6026: Convívios (120): Próximo convívio da Tabanca da Linha, dia 8 de Abril de 2010, no Talho do Diamantino - Quinta do Cortador (José Manuel M. Dinis)
Vd. último poste da série de1 4 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5818: História da CCAÇ 2679 (33): Vesti toalha de praia para ir falar com o Trapinhos (José Manuel M. Dinis)
Carlos, meu amigo,
Folgo por estar resolvida a questão do V Encontro da Tabanca, obrigando-te a comparecer para ajustes de contas diversos. É verdade: nesta vida não podemos andar sempre a fugir à seringa. E por isso, deixa-me seringar-te com mais este texto, maioritariamente extraído da História da Unidade, é que tenho andado com uma ausência de inspiramento... agravada pela preguiça da primaVera.
Abraços
JD
HISTÓRIA DA CCAÇ 2679 (34)
1 - Situação geral em Novembro/70 (integral da H.Unidade)
Durante o mês de Novembro, o IN manifestou-se por três vezes no sub-sector da Companhia, através de 02 flagelações ao Destacamento de Copá e de outra ao Aquartelamento de Bajocunda.
A actividade operacional das NT também se manteve bastante intensa, efectuando várias operações e acções, constando de patrulhamentos conjugados com emboscadas nocturnas e realizando frequentes contactos com as populações da área simultaneamente com a sua assistência sanitária.
Pelos revezes sofridos nas suas flagelações e pela intensa actividade operacional desenvolvida pelas NT, o IN não parece ter criado adeptos entre a população que se mostrou positivamente colaborante com as NT.
Prosseguiram as obras em curso dos reordenamentos (Escola de Amedalai e auto defesas de Amedalai e Tabassi), sendo porém de assinalar o desinteresse e falta de colaboração da população de Tabassi neste aspecto.
O PEL MIL 269 continua sediado em Amedaçai onde exerca a protecção àquela tabanca.
Quanto à protecção a Tabassi continua a ser feita alternadamente por 01 GCOMB da Companhia e outro da CCAV 2747.
Aquelas duas tabancas continuam a ser reforçadas diariamente à noite por duas secções de Atiradores.
É ainda de assinalar neste período a apresentação de 08 elementos da população de Copá que se achavam refugiados na República do Senegal.
Minhas observações à actividade mensal:
Durante o período são referidos 11 patrulhamentos de combate realizados por Bajocunda; 6 realizados por Copá e 1 realizado por Amedalai. Ainda se referem 3 patrulhamentos de assistência às populações, bem como duas operações a nível de bi-Grupo, incluindo emboscadas nocturnas, e uma saída para emboscada nocturna.
É de salientar que no dia 06NOV70 foram flageladas as povoações de Copá, Bajocunda e Pirada. Nenhuma das acções constituíu perigo real, pois os disparos foram mal regulados. No entanto, durante o ataque a Bajocunda, registou-se um "morto por acidente, causado pelo rebentamento de um dilagrama", que vitimou um militar da CCAV 2747, pertencente a um pelotão que reforçava Bajocunda. O acidente consubstanciou-se pela utilização de bala real no lançamento de dilagrama, operação efectuada por um Furriel daquela Companhia que tinha bebido excessivamente. Apenas registo o facto, sem qualquer pretensão de fazer julgamento. Acidentes assim decorriam da guerra e das circunstâncias de vida locais que condicionavam o dia-a-dia dos militares. Não se pode pretender que durante a permanência na Guiné o pessoal não cometesse excessos. Cometeram-se, e muitos, alguns, infelizmente, com resultados frustrantes, ou condenáveis. Este foi um acidente absolutamente imprevisto.
2 - Breve abordagem política daquela época:
Em Fevereiro de 1970 aconteceu uma primeira remodelação governamental no governo de Marcelo Caetano. Foram afastados os críticos Franco Nogueira, um dos herdeiros do espírito salazarista, e Correia de Oliveira, um delfim do Botas, fazendo entrar Rui Patricio (Negócios Estrangeiros), José Veiga Simão (Educação), e Baltasar Rebelo de Sousa (Corporações), qual tentativa de refrescamento da imagem de Portugal, quer para o interior, quer para o exterior, como que a reacender a esperança na busca de soluções para o ultramar e o desenvolvimento económico e social.
Os "tecnocratas" Xavier Pintado, João Salgueiro e Rogério Martins, dão sinal de aproximação à Europa, contra o afrocentrismo, ou seja, a preocupação ideológica de manter as possessões, a todo o custo, como parte integrante na continuidade do modelo político anterior. Porque poderia imaginar-se alguma solução diferente para o relacionamento entre todas as partes. No entanto, passados alguns meses, face ao acumular de hesitações do primeiro-ministro, verificou-se que Marcelo continuava refém dos velhos e duros defensores do regime, partidários de posições intransigentes no campo da defesa, da ordem interna (em sentido político) e da continuação da guerra colonial.
Spínola concitava admiração, embora nem sempre bem estribada. Passava por manter elevado o moral das tropas, formou uma élite de peso, e evidenciava-se pelo destemor pessoal. Também passou a ser o mais beneficiado pela máquina de propaganda.
Pedro Theotónio Pereira fez-se eco: "Ouço que o Spínola, governador da Guiné, mandou em certos postos avançados colocar o dispositivo de segurança à frente do arame farpado", e "prossegue a revolução social e explora as rivalidades étnicas".
O que eu sei, é que no primeiro semestre do ano, mandou retirar o arame de protecção e tapar as valas em Pirada, com o argumento de que sendo um posto fronteiriço, devia apresentar condições de plena abertura ao exterior e tranquilidade interna, do que resultou a invasão da localidade, enquanto a tropa assistia a uma projecção de cinema (Exército e Páras), que não redundou num massacre, porque o pessoal IN perdeu a cabeça na tentativa de saquear as lojas de comércio local, e bateu em retirada, quando de surpreendedores, passaram a surpreendidos. Foi um momento de grande sorte para o velho cabo de guerra que, assim, saíu imaculado daquela infeliz decisão.
Em Abril, três majores do Exército foram atraídos a uma emboscada, e mortos pelo PAIGC. Foi o mais trágico da Operação Chão Manjaco, lançada por Spínola como meio de paz, e que previa a integração da guerrilha nas Forças Armadas Portuguesas. Outra medida de grande ingenuidade.
Entretanto, cento e quarenta e sete figuras de perfil "liberal", entre as quais Xavier Pintado e Rogério Martins, secretários de estado, pedem a legalização da Associação para o Desenvolvimento Económico e Social (SEDES), que é pensada como um instrumento de apoio ao governo e um polo agregador do "centro político", mas tornou-se depois um grupo crítico e distanciado.
Por esta altura Marcelo Caetano autorizou a Operação Mar Verde (imaginada por Alpoim Calvão, que a fez interessar a Spínola, e envolvia oposicionistas do regime da Guiné-Conakry), provavelmente convencido de uma vitória retumbante sobre o PAIGC e o governo de Conakry que lhe dava apoio, e tinha como principais objectivos, a destituição do presidente Sekou Touré, o desmembramento do PAIGC e a eventual eliminação de Cabral, para o que contava com um desembarque surpresa, a que se seguiria o controle da área portuária, a tomada da rádio, como condição necessária para surpreender o país e anunciar o novo governo de revoltosos, a tomada da base aérea e destruição dos aviões MIG, para além dos assaltos às residências de Touré e Cabral. A estes objectivos iniciais veio juntar-se a libertação dos prisioneiros de guerra portugueses, a única parte que correu bem. No final da operação ainda foram afundados vários barcos que se encontravam no porto.
Em S. Bento, entretanto, distinguia-se um grupo de deputados da nação, que fazia oposição interna, e ficou conhecido pela designação de Ala Liberal, onde se distinguiam Pinto Leite, Sá Carneiro, Pinto Balsemão, Miller Guerra e Magalhães Mota.
Destas evidências, resulta que o regime apresentava fragilidades que, cada vez mais, se acentuavam e dificultavam a prossecução da política do governo (tanto interna como externamente) e a estabilidade social. Nas "Conversas em Família", Caetano difundia contra grupos de católicos inquietos, e referia: "... que bom é ser moralista, que bom poder resolver os problemas de consciência com algumas sentenças ambiguas no remanso do lar... Mas os governantes também têm problemas de consciência... Pelo lugar que ocupo, enquanto o país quiser, cumpre-me avisar para os perigos que o país corre... Sobre os ombros de quem governa pesa a responsabilidade do ultramar português... Eu, por mim, não aconselharei a renúncia..."
Estrebuchava sem dar sinais de competência ou inovadores.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 20 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6026: Convívios (120): Próximo convívio da Tabanca da Linha, dia 8 de Abril de 2010, no Talho do Diamantino - Quinta do Cortador (José Manuel M. Dinis)
Vd. último poste da série de1 4 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5818: História da CCAÇ 2679 (33): Vesti toalha de praia para ir falar com o Trapinhos (José Manuel M. Dinis)
Subscrever:
Mensagens (Atom)