Castelo e Pelourinho de Penedono, distrito de Viseu
Distrito de Viseu, Terras do Demo, Sernancelhe, Santuário de N. Sra. da Lapa, um dos lugares de culto mariano mais antigos da Península Ibérica
Distrito de Viseu, Terras do Demo, Sernancelhe > Santuário de N. Sra. da Lapa > Sanitários públicos > Grafitos de antigos combatentes da guerra colonial e de outros peregrinos.
Fotos: © Luís Graça (2011). Todos os direitos reservados
Dies iræ, dies illa!
Dedicado a todos os camaradas,
humilhados,
esquecidos,
abandonados,
ostracizados,
emigrados,
exilados,
que um dia subiram o portaló
dos Niassa, dos Uíge, dos Ana Mafalda,
a caminho da Guiné,
aquela terra verde e vermelha
que a todos nos marcou,
a ferro e fogo...
sem esquecer os que simplesmente viajaram nos TAM!
Que o ano de 2012,
mesmo de raiva,
seja de coragem e de esperança!
Como os que os anos que passámos na Guiné!
Dedicado a todos os camaradas,
humilhados,
esquecidos,
abandonados,
ostracizados,
emigrados,
exilados,
que um dia subiram o portaló
dos Niassa, dos Uíge, dos Ana Mafalda,
a caminho da Guiné,
aquela terra verde e vermelha
que a todos nos marcou,
a ferro e fogo...
sem esquecer os que simplesmente viajaram nos TAM!
Que o ano de 2012,
mesmo de raiva,
seja de coragem e de esperança!
Como os que os anos que passámos na Guiné!
Cavalgam caudalosos os rios
Pela terra adentro,
Enquanto fluem ruidosos
Os dias da guerra.
Rios que não são rios
Mas rias,
Entranhas ubérrimas
Fustigadas pelo vento,
Rias baixas pela manhã,
Pedaços, braços de mar,
Restos de tsunamis,
Pontas de fuzis,
Palavras acérrimas,
Imprecações ao Grande Irã,
Picadas minadas
De ir e não mais voltar.
Dias que não são dias,
Circadianos,
Mas fragmentos,
Ora ledos ora amargos enganos,
Ora ledos ora amargos enganos,
Estilhaços de tempo,
Riscos nas paredes sujas dos bunkers,
Repentinas emboscadas,
Breves finais de tarde,
Instantes,
Flagelações,
Balas tracejantes
Sob o céu verde e vermelho
Enquanto o capim arde.
Narciso, reveste ao espelho,
Quebrado,
Vais nu,
De camuflado,
De azul,
Celestial,
Celestial,
Ao encontro do anjo da morte
Em Jugudul.
E não há estrelas
À noite,
Mas a bússola indica o norte,
Sideral,
Sideral,
Nunca o sul,
Nunca o nascer nem o morrer.
Dies irae, dies illa,
Dia de ira, aquele,
Em que subiste o cadafalso do Niassa,
Ou do Uíge ou do Ana Mafalda,
Em que subiste o cadafalso do Niassa,
Ou do Uíge ou do Ana Mafalda,
Dias de ira, aqueles,
Os da guerra!
Os da guerra!
Calai-vos,
Rápidos do Saltinho,
Rápidos de Cussilinta,
Vós que mais não sois
Do que canoas loucas,
Desenfreadas,
Levadas pelo macaréu da nossa raiva,
Entre o Geba e o Corubal.
Braços que não são braços,
Braços que não são braços,
Amputados,
Mas apenas tatuagens,
Traços,
Letras de fado pungentes,
Pontes que são miragens,
Tentáculos, serpentes,
Lianas, cortadas pela catana,
A eito,
Pela floresta-galeria,
Inferno tropical,
Inferno tropical,
Túneis, tarrafo,
Bolanhas, lalas, bissilões,
Curvas da morte do Cacheu ao Cumbijã,
Curvas da morte do Cacheu ao Cumbijã,
Apocalípticos palmeirais,
Pontas de punhais
Cravadas no peito,
Irãs acocorados
No alto dos poilões.
E depois o silêncio.
O impossível silêncio.
O silêncio das partituras,
Das mapas dos argonautas,
Partículas,
Pausas,
Pautas,
Cartas de tiro
Cartas de tiro
Com claves de sol,
Desidratação,
A ogiva do obus,
O medo da avestruz,
O roncar do helicanhão,
Gritos do djambé,
E do macaco-cão,
E do macaco-cão,
Gemidos de kora,
Espasmos de balafon,
Rajadas de kalash
Ecos do bombolom,
Bombas de fragmentação
Que correm no dorso dos cavalos
Desde o Futa Djalon.
Não vais poder ouvir o silêncio do Cantanhez,
Nem queres voltar a ouvir o grito da morte
Outra vez.
Terras do Demo, 27-29 de Dezembro de 2011;
Madalena, Vila Nova de Gaia, 30-31 de Dezembro de 2011
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Nota do editor:
Último poste da série > 17 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9215: Blogpoesia (173): Natal da raiva e solidão (Armor Pires Mota, 1974)
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Nota do editor:
Último poste da série > 17 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9215: Blogpoesia (173): Natal da raiva e solidão (Armor Pires Mota, 1974)