1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Fevereiro de 2012:
Queridos amigos,
A tese de doutoramento do Leopoldo Amado tem capítulos incontornáveis, doravante são leitura de referência para entender este período da ascensão da luta. Neste texto procura-se sumariar a génese do nacionalismo guineense, o aparecimento de partidos, o aparecimento de Cabral e as sementes que levam ao PAIGC. Na transição para os anos 60, ganha expressão o que se passa em África no que respeita ao surto independentista. E depois temos um relato altamente documentado sobre a passagem para a guerra. É impossível resistir a esta leitura. Vivamente a recomendo.
Um abraço do
Mário
Guerra Colonial versus Guerra de Libertação Nacional:
O caso da Guiné-Bissau (2)
Beja Santos
O segundo capítulo da tese de doutoramento do Leopoldo Amado é porventura o mais acabado repositório de que passamos a dispor sobre a génese do nacionalismo guineense após a II Guerra Mundial, possui uma recolha espantosa de dados e fios soltos sobre o eclodir da guerrilha que, só por si, torna o seu livro “Guerra Colonial versus Guerra de Libertação Nacional, o caso da Guiné-Bissau” (IPAD, 2011) um documento de consulta obrigatória para o estudo do conflito. Reúne uma massa informativa impressionante.
É muitas vezes esquecido que logo no termo da II Guerra Mundial se registaram amplos protestos populares contra o aparelho administrativo colonial, caso das mortandades e chacinas provocadas por autoridades locais. Leopoldo Amado destaca a grande revolta ocorrida em Dezembro de 1950 contra as práticas do administrador António Pereira que foi julgado mais tarde, no tempo do governador Vaz Monteiro. É neste período que se fundou o Partido Socialista Guineense, de vida efémera. No Outono de 1952, Amílcar Cabral e a mulher chegam à Guiné. A polícia escreverá em 1955: “O engenheiro Amílcar Cabral e a sua mulher comportaram-se de maneira a levantar suspeitas de atividades contra a nossa presença nos territórios de África com exaltação de prioridade de direitos dos nativos e, como método de difundir as suas ideias por meios legalizados. O engenheiro pretendeu e chegou a requerer, juntamente com outros nativos, a fundação de uma agremiação desportiva e recreativa de Bissau, não tendo o governo autorizado”. O autor dá-nos um quadro sumário e rigoroso do que era a oposição ao salazarismo e como se estava a processar a evolução da consciência nacionalista. No fim da década, os nacionalistas podiam dizer que tinham esperanças acrescidas, após a independência do Gana, da Guiné-Conacri e do Senegal. As atitudes unionistas passaram a ganhar forma e a serem populares. Logo no termo da guerra houve propostas para a união de todos os africanos. A própria burguesia urbana protesta contra o poder colonial centralizador, mas a sua contestação é confusa e muito pouco convergente. A primeira organização política a surgir foi o MING – Movimento Nacional para a Independência da Guiné, que também não teve projeção. Seguiu-se o PAI – Partido Africano para a Independência, que só em 1962 se transformaria em PAIGC. O MLG – Movimento de Libertação da Guiné é fundado em 1958, nele participaram, entre outros, Rafael Barbosa que depois se transferirá para o PAI. O espaço político era uma verdadeira amálgama, as diferentes entrevistas e depoimentos recolhidos por Leopoldo Amado são elucidativos da ingenuidade, da falta de experiência e da muita desorientação política destes ativistas.
O massacre do Pindjiquiti veio acelerar a atuação nacionalista, quando Cabral passa por Bissau em Setembro de 1959 acordou com os seus principais colaboradores que iria partir para Conacri e dedicar-se exclusivamente ao movimento de libertação, fazia a leitura do massacre como prova eloquente de que o Governo português não aceitaria negociações para a independência. Leopoldo Amado descreve a colocação das peças políticas nos territórios limítrofes e o desencadear da mobilização dentro da Guiné. Um exemplo: “Na madrugada de 28 de Maio de 1960, foram lançados panfletos, colados nas paredes e metidos debaixo das portas, em envelopes. Na madrugada de 26 de julho de 1960, em Bissau, foram distribuídos pelos CTT de Teixeira Pinto, em carta, dois tipos de panfletos, um cicloesticado e outro impresso. Nos dias 1 e 7 de Outubro de 1960, na caixa dos CTT de Bissau, foram introduzidos panfletos subordinados ao título: “Comunicado do Movimento de Libertação da Guiné, endereçado às diversas entidades e autoridades. No dia 24 desse mesmo mês, foram colados nas montras dos estabelecimentos e postos de iluminação de Bissau, panfletos do Movimento de Libertação da Guiné”. Mais panfletos e documentos saídos do punho de Cabral vão repetir-se. Já em Conacri, Cabral criou o Lar dos Combatentes, uma verdadeira escola de guerrilha, organizam-se vários campos de treino, isto em simultâneo com a sede clandestina a funcionar em Bissau sobre a chefia de Rafael Barbosa, que virá a ser desmantelada em Fevereiro de 1962, pela PIDE. A mobilização dos camponeses é um dado assente em 1962. Um outro exemplo: “No mês de Maio, elementos do PAIGC percorrem diversas tabancas armados de pistolas. No dia 25 de Junho, foi atacada a vila de Catió marcando-se assim a passagem à ação armada. Num ataque, registou-se a destruição da jangada de Bedanda e cortes de fios telefónicos. Na noite de 27 de Junho, numa operação na tabanca de Utasse, área de Bigene, foi morto a tiro por elementos do MLG, sob o comando de François Mendy, um agente de PIDE de nome Augusto Macias”. Cabral é cada vez mais instado pelos outros movimentos de libertação a desencadear a luta armada, vai protelando por falta de condições, há poucos quadros e o armamento é ainda irrisório, por essa razão o PAIGC aposta na subversão e o Sul é a região escolhida: estradas interrompidas, pontes incendiadas, as autoridades reprimem, em vão. Apercebendo-se que as armas são fundamentais, Cabral lançou um apelo à ajuda internacional. E vai recebê-la.
As divergências entre as formações políticas guineenses eram um motivo de preocupação internacional. O presidente Modibo Keita, do Mali, promoveu em Bamako, em 16 de abril desse ano, uma reunião visando estabelecer um acordo entre os líderes dos vários partidos: Labery, Vicente Có, François Mendy, Amílcar Cabral e Ibraima Djalo. Assinaram-se papéis mas não se conseguiu constituir uma frente de luta, tal o número de divergências. A FLING acaba por ser a fórmula encontrada para a conjugação dos vários grupos nacionalistas que não aceitavam as teses da unidade Guiné-Cabo Verde. Um dos grupos, o MLG, liderado por François Mendy, desencadeia os ataques em S. Domingos, Suzana e Varela. A recetividade da população foi praticamente nula, já que não tinha havido consciencialização política. Os ataques prosseguem, mas a população não adere. Leopoldo Amado descreve os grupos sediados em Dakar. Em 3 de Agosto de 1962, visando unicamente a independência da Guiné, fundou-se a FLING, fusão do MLG, do UPG – União Popular da Guiné, UPLG – União Popular de Libertação da Guiné e, mais tarde, da UNGP.
É neste contexto que o PAIGC deflagra a luta armada, a partir do Sul. Em Março de 1963 a subversão é inequívoca no Sul: Tite e Buba, corte das estradas de acesso a Empada; incêndio de um barco a motor da carreira Bolama – Ponta Bambaiã; ataque à tabanca fula de Priame; flagelações a Cufar e Fulacunda; captura no porto de Cafine dos barcos a motor Mirandela, de Casa Gouveia, e Arouca, da Casa Brandão, foram levados para a república da Guiné Conacri. De uma forma detalhada, Leopoldo Amado elenca os ataques nos meses seguintes, no Sul, no Leste e no Norte. O PAIGC instala-se no Morés, fica aqui a sua base no interior de onde nunca sairá. A evolução da guerrilha vai entrar em espiral. Na segunda metade de outubro de 1964, o PAIGC iniciou o emprego generalizado de minas anticarro e fornilhos. E começaram a atuar nas áreas de Porto Gole, Enxalé, Xime e Bambadinca. Silva Cunha visita a Guiné e escreve um relatório: “Fiquei com o conhecimento exato da situação gravíssima que a província atravessa. Os seus aspetos mais alarmantes eram a rivalidade patente, inequívoca, entre o governador e comandante militar, a incapacidade deste para fazer frente às dificuldades e a sua falta de fé na possibilidade de o fazer. A intenção da manobra do PAIGC era nítida: dividir a província, de Norte a Sul, com base nas zonas do Morés e do Oio, em duas partes, para isolar Bissau e tornar cada vez mais difícil a defesa da zona Leste, onde era mais densa a concentração dos fulas, que se mantinham indefetivelmente fiéis; a partir deste momento, é o PAIGC quem irá encarnar e definir as orientações da luta armada".
(Continua)
O Real Instituto Tropical, dos Países Baixos, editou em 1980 uma brochura de divulgação sobre a Guiné-Bissau. Por mera curiosidade, fica aqui a capa do documento. Folheando a brochura, encontrei ainda autocarros que circulavam dentro de Bissau. A empresa faliu, a seguir vieram as candongas. Recordação de um sábado de manhã na Feira da Ladra.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 27 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9540: Notas de leitura (337): Guerra Colonial & Guerra de Libertação Nacional 1950-1974: O Caso da Guiné-Bissau, de Leopoldo Amado (1) (Mário Beja Santos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sexta-feira, 2 de março de 2012
quinta-feira, 1 de março de 2012
Guiné 63/74 - P9552: Notas de leitura (338): A resposta que me veio pelo correio, quatro anos e meio depois: o livro do Idálio Reis, A CCAÇ 2317, na guerra da Guiné. Gandembel/Ponte Balana (Luís Graça)
Acima: Capa e ficha técnica do livro do Idálio Reis, que acaba de sair do prelo... e de que o editor deste blogue teve o privilégio de receber, em primeira mão, no último dia do mês de fevereiro de 2012, um exemplar autografado... O livro, brochado, tem 256 páginas. Abaixo: Dedicatória autografada.
Uma das notáveis fotografias (num total de 22), que ilustram profusamente o livro, e que foram tiradas pelo próprio Idálio Reis, documentando magistralmente o duro quotidiano da CCAÇ 2317 em Gandembel e em Ponte Balana, entre 8 de abril de 1968 e 28 de janeiro de 1969 (menos de 9 noves, o tempo para construir de raíz um aquartelamento, defendê-lo até à morte e receber ordem para depois o abandonar...). Legenda: "Cada abrigo tinha uma única entrada e um pequeno espaço para o sentinela" (p. 82)
Reprodução da carta com que o autor fez acompanhar o exemplar do seu livro. Recorde-se que o nosso camarada Idálio Reis foi alf mil (e comandante) da CCAÇ 2317/BCAÇ 2835, Gandembel
e Ponte Balana, 1968/69, tendo publicado no nosso blogue uma notável série, a Fotobiografia da CCAÇ 2317 (19689/69), em 11 postes (*).
Na altura da publicação do último poste, em 10 de outubro de 2007, deixei escrito o seguinte:
Querido amigo e camarada Idálio:
Não há, na guerra, um fim feliz, como no cinema. Mas gostei de saber que os últimos meses dos homens-toupeiras de Gandembel/Balana permitiram-vos retemperar as forças para o regresso à Pátria, à Mátria ou à Madrasta da Pátria...
Continua a dar-nos notícias da tua/nossa gente, cuja epopeia tão bem soubeste evocar e descrever nesta fotobiografia... O teu testemunho honra-nos a todos e orgulha os editores e autores do blogue bem como todos membros da nossa Tabanca Grande.
A fotobiografia da CCAÇ 2317, escrita pelo teu punho, foi um dos momentos altos do nosso blogue. Faço daqui um veemente apelo a um editor português que arrisque publicar, em livro, esta extraordinária aventura de 9 meses no corredor da morte. Porque não o Círculo de Leitores ? (...)
Não há, na guerra, um fim feliz, como no cinema. Mas gostei de saber que os últimos meses dos homens-toupeiras de Gandembel/Balana permitiram-vos retemperar as forças para o regresso à Pátria, à Mátria ou à Madrasta da Pátria...
Continua a dar-nos notícias da tua/nossa gente, cuja epopeia tão bem soubeste evocar e descrever nesta fotobiografia... O teu testemunho honra-nos a todos e orgulha os editores e autores do blogue bem como todos membros da nossa Tabanca Grande.
A fotobiografia da CCAÇ 2317, escrita pelo teu punho, foi um dos momentos altos do nosso blogue. Faço daqui um veemente apelo a um editor português que arrisque publicar, em livro, esta extraordinária aventura de 9 meses no corredor da morte. Porque não o Círculo de Leitores ? (...)
A resposta, quatro anos e meio depois, e quando menos esperava, veio através do correio... Fiquei muito feliz por receber a encomenda do Idálio, com o seu livro lá dentro. Agradeço-lhe, de todo o coração, a dedicatória e a carta que me escreveu, a mim e aos demais camaradas da Tabanca Grande. Tenho o dever de a partilhar com todos. Quanto à leitura atenta e apaixonada do livro, um "novo filho" do blogue, essa, ficará para o próximo fim de semana. E o xicoração que o Idálio merece, esse, ficará para Monte Real, dia 21 de Abril de 2012. LG
Decerto, este livro dificilmente se concretizaria se não fora a existência do blogue "Luís Graça & Camaradas da Guiné".
Aos que, a maior parte de nós, tiveram a desdita de se embalar [?] num perverso palco de guerra, reconhecem na lonjura dos tempos que valeu a pena o lampejo da perseverança e do querer, num propósito de congregar ex-camaradas de entrar adentro de uma porta comum, sempre aberta, para exorcizarem os seus fantasmas, dando azo à reconstituição e partilha de muitas das suas mais impressivas memórias.
Se ao blogue se aditar a premência de companheiros da minha companhia, de todo me não poderia ficar indiferente, a não tentar escrever, em formarto genérico, a história de uma crucial parte da comissão de soberania, porquanto a guardada pela instituição militar é clamorosamente contristadora.
Mas tentei escrever um livro onde explanasse os condicionalismos em que assentou esse "suplício de Sísifo", vivido pelos de Gandembel/Ponte Balana, sob uma observação muito cuidada de António Spínola e Nino Vieira, seria sempre uma tarefa difícil de expor claramente, e que somente uma motivação muito forte poderia sobrepujar.
O tempo que demorei a escrever o livro, foi algo moroso, reconheço. Mas , à medida que ia alinhavando a narrativa, revelaran-se nosvos factos, que o blogue ou os meios de comunicação de massa devem [?] à estampa, e novas perspectivas se afloravam.
E fui absorvendo tudo isso, e contudo tem um limite, houve que lhe dar um fim, o que me causou bastante satisfação.
É um livro meu. E assim , terei o grato prazer de o partilhar com todos os que manifestarem interesse na sua narrativa, desde logo na próxima festa de Monte Real. Com grande estima e consideração, Idálio Reis. (**)
______________
Notas do editor:
(*) Vd. todo o dossiê do Idálio Reis (11 postes, profusamente ilustrados) sobre Gandembel/Balana, e que já na altura dizíamos que "merecia ser publicado em livro": 10 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2172: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/69) (Idálio Reis) (11): Em Buba e depois no Gabu, fomos gente feliz... sem lágrimas (Fim)
Último poste da série > 27 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9540: Notas de leitura (337): Guerra Colonial & Guerra de Libertação Nacional 1950-1974: O Caso da Guiné-Bissau, de Leopoldo Amado (1) (Mário Beja Santos)
É um livro meu. E assim , terei o grato prazer de o partilhar com todos os que manifestarem interesse na sua narrativa, desde logo na próxima festa de Monte Real. Com grande estima e consideração, Idálio Reis. (**)
______________
Notas do editor:
(*) Vd. todo o dossiê do Idálio Reis (11 postes, profusamente ilustrados) sobre Gandembel/Balana, e que já na altura dizíamos que "merecia ser publicado em livro": 10 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2172: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/69) (Idálio Reis) (11): Em Buba e depois no Gabu, fomos gente feliz... sem lágrimas (Fim)
Último poste da série > 27 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9540: Notas de leitura (337): Guerra Colonial & Guerra de Libertação Nacional 1950-1974: O Caso da Guiné-Bissau, de Leopoldo Amado (1) (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P9551: Álbum fotográfico do Luís Guerreiro (Montreal, Canadá): O valoroso Pel Caç Nat 65, em Piche, Buruntuma, Bajocunda e Tabassai, em 1970
1. O nosso camarada Luís Guerreiro (ex-Fur Mil da CART 2410 , Gadamael e Ganturé, e Pel Caç Nat 65, Piche, Buruntuma e Bajocunda, 1968/70), enviou-nos a seguinte mensagem.
Pel Caç Na 65
Camarada Luís,
Ultimamente tem-se falado sobre Buruntuma e Tabassi/Tabassai.
O Pel Caç Nat 65 encontrou-se nesses dois locais em 1970.
Estacionados em Piche na sede do BArt 2857, fomos para Buruntuma em 27 de Fevereiro de 1970, para tomar parte na operação do ataque a Kandica. Constou que o 65 seria armado com armamento igual ao do PAIGC e iria fazer o assalto a essa base, mas finalmente fizemos a protecção ao Pel Art 12 e às peças 11.4, em Camajabá.
Depois do ataque fomos para Buruntuma, para reforçar a guarnição, chegamos ao anoitecer, e tudo já se encontrava muito calmo.
Permanecemos até ao dia 23 de Abril de 1970. Buruntuma era uma povoação algo distante, mas as condições e as instalações eram razoáveis.
Durante o tempo que ali permanecemos não houve nenhum problema, a actividade operacional foi somente de patrulhamentos e emboscadas nocturnas. A camaradagem era excelente por parte de sargentos e oficiais da companhia, e dos dois funcionários da DGS [, Direcção Geral de Segurança], e também um comerciante continental, de nome Mota, que nos convidou diversas vezes para almoçar em sua casa.
Buruntuma, 1970 > Rua principal
Buruntuma, 1970 > Aspecto geral da tabanca
Buruntuma > Tabanca queimada no ataque do PAIGC de 24 de Fevereiro de 1970, que deu origem ao ataque à base de Kandica
Nota, de mil e cinco mil francos, da Guiné-Conacri, que foram apanhadas depois do ataque a Kandica, talvez por indivíduo da população e que me foram oferecidas por um soldado nativo do meu pelotão.
Em seguida fomos destacados para Bajocunda, dizia-se que íamos para descansar pois a zona na altura estava calma e circulava-se relativamente à vontade, e assim aconteceu nos dois primeiros meses.
A actividade operacional, resumia-se a colunas a Nova Lamego e a Copá, e fazer protecção à noite na tabanca de Tabassai.
Bajocunda, 1970
Bajocunda, 1970
Bajocunda, 1970 > Comandos africanos da companhia do capitão João Bacar Jaló
Bajocunda, 1970 > Obus de 10.5 cm fazendo fogo
Bajocunda, 1970 > Visita do general Spínola
A partir do mês de Julho a situação começou a deteriorar-se, como já foi referido por mim no poste P4919 de 8/9/2009, a emboscada à coluna de civis e comandos africanos na estrada de Pirada para Bajocunda, no dia 4 de Julho de 1970.
E a partir daí a actividade do PAIGC começou a ser mais constante, especialmente mais para os lados de Pirada, aonde durante a noite algumas tabancas foram atacadas e incendiadas.
E foi neste contexto, que fomos uma semana fazer a segurança a Tabassai. Ficamos instalados com uma tenda de campanha, a povoação constava de uma fiada de arame farpado e como defesa tinha várias escavações de cerca de 3x2 metros áà volta do perímetro.
Tabassai, 1970 > Estrada para Bajocunda
Tabassai, 1970 > Bolanha
Tabassai, 1970 > Uma bajuda
Quanto à população, eu não tinha muita confiança_ um dia tendo eu ido a Bajocunda tomar um bom duche, andou um nativo a olhar para as nossas posições e a perguntar qual era o pessoal que lá ficava instalado. Quando cheguei e fiquei ao corrente do sucedido fui à sua procura mas o indivíduo já tinha desaparecido, o que me levou a crer que era um informador espia.
A decisão foi que nessa noite podíamos dormir descansados. No dia seguinte, 23 de Julho, mudamos algumas das posições e também o pessoal, e por volta das 21 horas, como se tinha previsto, fomos atacados.
Este foi o primeiro ataque efectuado pelo PAIGC à tabanca de Tabassai, o inimigo com um grande efectivo e grande potencial de fogo, fizeram o ataque do lado errado pois pensavam que era o certo, tudo durou cerca de 30 minutos sem problemas da nossa parte, retiraram com baixas e feridos e deixando algum material. Segundo em informações, tiveram 9 mortos. Da parte da população houve uma mulher e uma criança que faleceram devido a uma granada de RPG.
Pessoal do Pel Caç Nat 65
No dia seguinte foi o meu dia de sorte e também do condutor, tendo ido a Bajocunda para trazer mais munições, passamos duas vezes a um palmo de uma mina A/C, que de certeza tinha sido instalada antes do ataque, e foi localizada a uns 500 metros da tabanca por um soldado do 65. Tdo isto aconteceu, duas semanas antes de terminar a minha comissão, pois o meu substituto já se encontrava em Bissau.
No dia 8 de Agosto de 1970, dia do meu aniversário, recebi como prenda uma viagem de avioneta até Bissau, para esperar transporte para Lisboa, mas como não havia barco nos tempos próximos, no dia 25 de Agosto apanhei o avião e regressei a casa.
Ainda hoje tenho estes soldados nativos no coração. Apesar de serem grandes combatentes, foram grandes amigos, pois quando me despedi vi alguns com a lágrima no canto do olho, e outros a pedirem para ficar mais um tempo.
Por hoje é tudo um forte abraço para toda a equipa.
Luís Guerreiro
Fur Mil da CART 2410 e Pel Caç Nat 65
Fotos e legendas: © Luís Guerreiro (2012). Todos os direitos reservados.
Guiné 63/74 - P9550: As novas milícias de Spínola & Fabião (4): Em 225 localidades ocupadas pelas NT no CTIG, 71 eram exclusivamente guarnecidas por unidades de milícias, no 1º trimestre de 1974 (gen Bettencourt Rodrigues)
Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Militares guineenses da CCAÇ 12, presumivelmente da 2ª secção do 3º Gr Comb, numa tabanca fula em autodefesa... O elemento da ponta esquerda é um milícia, empunhando uma espingarda automática FN... Não consigo identificar a tabanca: poderá ser Candamã, no regulado do Corubal...
A 2º secção do 3º Gr Comb era constituída por, além dos metropolitanos Fur Mil 07098068 Arlindo Teixeira Roda e 1º Cabo 17625368 António Braga Rodrigues Mateus, os seguintes soldados do recrutamento local, de etnia fula ou futa-fula: Soldado Arvorado 82108369 Mamadú Jau (Ap Dilagrama) (F); Soldado 82109369 Malan Jau (Ap Mort 60) (F); Sold 82100769 Amadú Candé (Mun Mort 60) (F); Sold 82108869 Quembura Candé (F); Sold 82109769 Sherifo Baldé (F); Sold 82115369 Ussumane Jaló (FF); Sold 82110169 Madina Jamanca (F)... Recorde-se que os apontadores de dilagrama, morteiro e LGFog tinham direito à famosa pistola Walther, de 9 mm...
Foto: © Arlindo Teixeira Roda (2010). Todos os direitos reservados. Legendas de L.G.
1. Diversos comentários ao postes P9532 ou P9526
(i) Comentário de L.G.:
Seria interessante que os camaradas nos dessem uma estimativa da proporção de guineenses (milícias incluídos) que faziam partem do dispositivo militar do respetivo setor...
No setor L1 (Zona leste, Bambadinca), no 1º trimestre de 1972, a proporção poderia ser de 1 (guineense) para 1 (metropolitano)... Mas noutros setores (do leste mas também do oeste, do norte e do sul), as coisas poderiam ser diferentes... Vejam o dispositivo militar do vosso setor e contem as G3 ou as cabeças...
(ii) José da Câmara:
Para vosso conhecimento, os Pel Mil 294 e 295 estiveram adidos à CCaç 3327, quando esta esteve em Bissassema, zona de Tite.
(ii) José da Câmara:
Para vosso conhecimento, os Pel Mil 294 e 295 estiveram adidos à CCaç 3327, quando esta esteve em Bissassema, zona de Tite.
Cada um destes pelotões era constituído por 39 elementos.
Com a excepção de 3 elementos do Pel Mil 295, recenseados em 1971, os outros tinham-no sido em 1970.
Não posso acrescentar muito sobre a articulação das nossas Milícias. Como sabes, eu estive ligado ao Pel Nat 56.
Todavia, posso dizer que a G3 era a única arma que estava distribuída aos Pel Mil 294 e 295.
Também não é fácil fazer uma estimativa correcta da proporção do dispositivo militar que englobava a CCaç 3327 no seu sector. Primeiro, porque a CCaç mantinha um pelotão de reforço à guarnição de Tite. Em depois porque a companhia tinha muitos militares envolvidos na construção do reordenamento.
Mesmo assim, sem aqueles constrangimentos, a proporção era de 2 por 1 em favor da CCaç 3327.
Não posso acrescentar muito sobre a articulação das nossas Milícias. Como sabes, eu estive ligado ao Pel Nat 56.
Todavia, posso dizer que a G3 era a única arma que estava distribuída aos Pel Mil 294 e 295.
Também não é fácil fazer uma estimativa correcta da proporção do dispositivo militar que englobava a CCaç 3327 no seu sector. Primeiro, porque a CCaç mantinha um pelotão de reforço à guarnição de Tite. Em depois porque a companhia tinha muitos militares envolvidos na construção do reordenamento.
Mesmo assim, sem aqueles constrangimentos, a proporção era de 2 por 1 em favor da CCaç 3327.
Facto interessante naqueles pelotões era a nomeação dos graduados ser da responsabilidade directa do Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné.
(iii) António José Pereira da Costa:
(...) Sobre este assunto creio fundamental fazer uma separação entre militares (metropolitanos e guineenses) e milícias.
Estes tinham um estatuto diferente e eram civis armados. Recordo, por exemplo, que, se concorressem aos "comandos" eram incorporados como praças e não lhes era concedida qualquer vantagem por terem sido milícias. Ganhavam menos do que os soldados, só tinham alimentação durante a "formação" (como se diz em eduquês moderno) e, mesmo neste caso, a verba era claramente inferior à dos soldados (creio que era pouco mais de 50%).
(...) Sobre este assunto creio fundamental fazer uma separação entre militares (metropolitanos e guineenses) e milícias.
Estes tinham um estatuto diferente e eram civis armados. Recordo, por exemplo, que, se concorressem aos "comandos" eram incorporados como praças e não lhes era concedida qualquer vantagem por terem sido milícias. Ganhavam menos do que os soldados, só tinham alimentação durante a "formação" (como se diz em eduquês moderno) e, mesmo neste caso, a verba era claramente inferior à dos soldados (creio que era pouco mais de 50%).
Além disso, procurava-se, e conseguia-se normalmente, que tivessem as famílias junto ou próximo do quartel a que pertenciam. Cito de memória porque em Mansabá foi formada uma companhia de milícia, durante a minha permanência.
É capaz de ser pouco exacto metê-los nas contas juntamente com os soldados (CCaç, Artilharia, Comandos, Serviço de Material, Intendência, etc.). Ficam bem ou mal (conforme as leituras) nas estatísticas, mas não é exacto.
(iv) Paulo Santiago:
(...) Quanto a vencimentos de milícias não posso ajudar. Como "instrutor" [, no CIMIL de Bambadinca], era um assunto que me ultrapassava. Não sei se os 700 escudos estão certos. Um dos meus soldados, Amadú Baldé, tinha sido milícia na zona de Aldeia Formosa, passou para o Exército e posteriormente voltou à Milícia, ficando a comandar um dos pelotões da segunda companhia que formei em Bambadinca.É natural que ficasse a ganhar mais.
É capaz de ser pouco exacto metê-los nas contas juntamente com os soldados (CCaç, Artilharia, Comandos, Serviço de Material, Intendência, etc.). Ficam bem ou mal (conforme as leituras) nas estatísticas, mas não é exacto.
(iv) Paulo Santiago:
(...) Quanto a vencimentos de milícias não posso ajudar. Como "instrutor" [, no CIMIL de Bambadinca], era um assunto que me ultrapassava. Não sei se os 700 escudos estão certos. Um dos meus soldados, Amadú Baldé, tinha sido milícia na zona de Aldeia Formosa, passou para o Exército e posteriormente voltou à Milícia, ficando a comandar um dos pelotões da segunda companhia que formei em Bambadinca.É natural que ficasse a ganhar mais.
Também o 1º Cabo Suleimane Baldé, actual Régulo de Contabane, foi milícia, em Aldeia Formosa, antes de passar ao Exército. (...)
2. Informação prestada pelo gen Bethencourt Rodrigues (1918-2010), antigo comandante-chefe e governador da Guiné (1973/74), nome às vezes também grafado como "Bettencourt" Rodrigues:
As NT eram constituídas por:
(i) “órgãos de comando e de apoio logístico, unidades e meios navais da Armada; algumas unidades de Fuzileiros Navais eram integradas por pessoal voluntário da Guiné, com enquadramento europeu”;
(ii) “órgãos de comando e de apoio logístico, unidades do Exército; cerca de 20% das unidades combatentes eram de pessoal recrutado na Guiné e em algumas todo o pessoal era guinéum, incluindo o enquadramento;
(iii) “ órgãos de comando e de apoio logístico e unidades da Força Aérea; (iv) “unidades de milícias, integralmente com pessoal da Guiné” (pp. 129/130).
2. Informação prestada pelo gen Bethencourt Rodrigues (1918-2010), antigo comandante-chefe e governador da Guiné (1973/74), nome às vezes também grafado como "Bettencourt" Rodrigues:
As NT eram constituídas por:
(i) “órgãos de comando e de apoio logístico, unidades e meios navais da Armada; algumas unidades de Fuzileiros Navais eram integradas por pessoal voluntário da Guiné, com enquadramento europeu”;
(ii) “órgãos de comando e de apoio logístico, unidades do Exército; cerca de 20% das unidades combatentes eram de pessoal recrutado na Guiné e em algumas todo o pessoal era guinéum, incluindo o enquadramento;
(iii) “ órgãos de comando e de apoio logístico e unidades da Força Aérea; (iv) “unidades de milícias, integralmente com pessoal da Guiné” (pp. 129/130).
O “efetivo em pessoal armado era constituído, em percentagem superior a 50%, por elementos naturais da Guiné” (p. 130).
No 1º trimestre de 1974, as NT ”ocupavam, com guarnições militares ou de milícias, 225 localidades” (p. 141)…. Era a seguinte a distribuição dessas guarnições:
(i) “72 ocupadas exc lusivamente por tropas do Exército e Armada”; (ii) “82 por tropas do Exército e Armada e unidades de milícias”; e (iii) “71 só por unidades de milícias” (p. 130).
Fonte: Gen Bethencourt Rodrigues – Guiné. In: Cunha, Joaquim Luz; Arriaga, Kaúlza de; Rodrigues, Bethencourt; Marques, Silvino Silvério- África: a vitória traída. Braga: Editorial Intervenção, 1977, pp. 103-142.
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Nota do editor:
Último poste da série > 28 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9543 : As novas milícias de Spínola & Fabião (3): Comandante de Companhia de Instrução de Milícias, no CIMIL de Bambadinca, em set/out de 1973 (Luís Dias)
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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
Guiné 63/74 - P9549: Tabanca Grande (323): Jorge Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger da CART 3494/BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/74)
1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano Jorge Araújo* (ex-Fur Mil Op Esp/Ranger da CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1972/74), com data de 28 de Fevereiro de 2012:
Caríssimo camarada Luís Graça,
Os meus melhores cumprimentos.
Com um atraso imperdoável e sem qualquer hipótese de defesa, anexo o texto que me foi pedido como condição para fazer parte da numerosa família de ex-militares que serviram no C.T.I.Guiné.
Na expectativa de merecer o V. superior apoio, sou
Com um forte abraço,
Saudações militantes,
Jorge Araújo
Ex-Furriel Mil Op Esp/RANGER,
CART 3494
Xime-Mansambo,
1972/1974
Cumprindo, tardiamente, a palavra dada no V Encontro Nacional realizado em Monte Real, em 26.Jun.2010, eis-nos à entrada da porta da TABANCA GRANDE, esperando autorização para entrar.
Como manda a tradição, apresento a todos os camaradas que fazem parte desta já numerosa família de ex-combatentes na Guiné uma síntese daquela que é a nossa história de vida, em particular o «projecto militar», na medida em que ninguém é igual a ninguém; pois todo o Ser Humano é um estranho ímpar, como nos diz o poeta Carlos D. Andrade (1902-1987).
Natural da Freguesia de Santa Maria dos Olivais, Lisboa, onde nasci em 10.Nov.1950, concluí o período da recruta, do Curso de Sargentos Milicianos, no R.I.5, nas Caldas da Rainha, em 26.Set.1971, tendo seguido de imediato para o Centro de Instrução de Operações Especiais (C.I.O.E.), em Lamego/Penude, a fim de aí completar a minha (e nossa) formação militar.
Concluído este processo, que seria o principal requisito de Mobilização para um dos três cenários possíveis da Guerra Ultramarina, eis que somos colocados no Regimento de Artilharia Pesada n.º 2 (RAP2), depois RASP; em Vila Nova de Gaia (Serra do Pilar), instituição que aguardava pela nossa chegada para nos dar a notícia que eu, e todos nós à época, já adivinhávamos – a mobilização (para o C.T.I.Guiné).
Seguiu-se, depois, a informação de que pertenceria à Companhia de Artilharia 3494, a última das três Companhias Operacionais que constituiriam o contingente do Batalhão de Artilharia 3873, o qual iria render o BART 2917 sediado na região de Bambadinca, leste da Guiné, local situado na margem esquerda do Rio Geba.
Considerando que o período final de instrução, também designado por I.A.O., foi realizado em Bolama durante o mês de Janeiro/1972, e uma vez que não tínhamos ainda gozado a Licença de Mobilização, nos termos do Artº. 20º das NNCCMU, a inclusão na CART 3494 foi adiada, vindo somente a ser concretizada no XIME, dois meses depois.
Durante a Comissão de Serviço, que durou até Abril de 1974, alguns foram os episódios que jamais esqueceremos, pelas aprendizagens que produziram em nós, em função da natureza de cada uma delas.
Desde logo a primeira a acontecer foi no dia 22.Abr.1972, sábado, pelas 08:30 horas, na emboscada sofrida pelo nosso GCOMB (4.º) na Ponta Coli (Xime) e referida na porta P6669* pelo nosso ex-Comandante Cap. Art. António José Pereira da Costa (Coronel de Artª. na Reserva), em que, num total de 23 elementos no terreno, as NT tiveram um morto (Furriel), dezassete feridos e, apenas, cinco ilesos, um dos quais fomos nós. No próximo dia 22 de Abril fará quarenta anos que registámos e guardamos as imagens desse contexto.
Oportunamente passaremos a escrito essas imagens, dando, assim, resposta ao desejo do nosso camarada e amigo Coronel Pereira da Costa. De referir que nessa mesma data se comemorou, em Portugal e no Brasil, a passagem do 472.º aniversário da descoberta do Brasil por Pedro Álvares Cabral, conforme se prova na capa do Diário de Lisboa, ao lado. São apenas meras coincidências. De referir, também, que esse mesmo dia 22 de Abril, mas de 1973, foi Domingo de Páscoa.
Seguiram-se outros episódios em que estivemos directamente ligados, cujas datas continuamos a lembrar: 10 de Agosto de 1972 (naufrágio no Rio Geba); 29 de Setembro de 1972 (ataque ao aquartelamento com armas pesadas, numa noite de intensa trovoada, dia em que o meu pai comemorou o seu 49.º aniversário); 01 de Dezembro de 1972, nova emboscada na Ponta Coli; 03 de Fevereiro de 1973, emboscada na Ponta Varela, entre outras.
Quanto ao presente, a nossa actividade profissional é a nível universitário, com uma prática docente de mais de duas décadas. Temos actualmente um vínculo institucional ao ISMAT (Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes), em Portimão, do Grupo Lusófona, onde, para além de leccionarmos diversas Unidades Curriculares, coordenamos o ramo de Educação Física e Desporto, da Licenciatura em Educação Física e Desporto.
Realizamos o doutoramento na Universidade de León (Espanha) em 2009, em Ciências da Actividade Física e do Desporto, com a tese: "A prática Desportiva em Idade Escolar em Portugal – análise das influências nos itinerários entre a Escola e a Comunidade em Jovens até aos 11 anos".
Pelo exposto, espero merecer a confiança de todos os meus amigos ex- militares atabancados.
Um grande abraço para todos, deste cidadão que é, apenas, uma partícula da terra.
Jorge Araújo.
2. Comentário de CV:
Caro camarigo Jorge Araújo, está formalizada a tua adesão à Tabanca Grande.
Participaste já num dos nossos Encontros Nacionais, como se prova abaixo, pelo que és já uma cara conhecida para alguns de nós. E, de resto, já constas da nossa lista alfabética de "tabanqueiros", desde o nosso último convívio... Estás desculpado pelo atraso no envio deo "resto da papelada"...
O teu texto de apresentação está cinco estrelas pelo que adivinhamos muitas e boas histórias para o nosso espólio de memórias. Também aceitamos fotos legendadas, ilustrando as histórias ou para publicar autonomamente como álbum fotográfico.
Há muita maneira de participar no nosso Blogue, haja um pouco de disponiblidade.
Posto isto, falta enviar-te um abraço de boas vindas em nome do Luís Graça, restantes editores e tertúlia em geral. Ficamos ao teu dispor. Parabéns pelo teu esforço de valorização académica e profissional
Pela tertúlia
Carlos Vinhal
Monte Real, Palace Hotel, 26 de Junho de 2010 > V Encontro Nacional do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné > Pessoal da CART 3494 (Xime e Mansambo, 1971/74), visivelmente bem disposto, à hora dos aperitivos & entradas: Jorge Araújo (Almada), António Costa (Mem Martins / Sintra), Acácio Correia (Algés / Oeiras), António Sousa Bonito (Montemor-o-Velho) e Sousa de Castro (Viana do Castelo)... O Jorge e o Acácio são caras novas nos nossos encontros.
Vídeo (34''): Luís Graça (2010). Alojado em You Tube > Nhabijoes
____________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 2 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6669: V Convívio da Tabanca Grande (13): Caras novas (Parte II): Jorge Araújo, Acácio Correia, Manuel Carmelita, Eduardo Campos, João Malhão Gonçalves, Júlia Neto, Arménio Santos.. (Luís Graça)
Vd. último poste da série de 29 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9548: Tabanca Grande (322): Eduardo Estrela, ex-Fur Mil da CCAÇ 14 (Cuntima, 1969/71)
Caríssimo camarada Luís Graça,
Os meus melhores cumprimentos.
Com um atraso imperdoável e sem qualquer hipótese de defesa, anexo o texto que me foi pedido como condição para fazer parte da numerosa família de ex-militares que serviram no C.T.I.Guiné.
Na expectativa de merecer o V. superior apoio, sou
Com um forte abraço,
Saudações militantes,
Jorge Araújo
Ex-Furriel Mil Op Esp/RANGER,
CART 3494
Xime-Mansambo,
1972/1974
Cumprindo, tardiamente, a palavra dada no V Encontro Nacional realizado em Monte Real, em 26.Jun.2010, eis-nos à entrada da porta da TABANCA GRANDE, esperando autorização para entrar.
Como manda a tradição, apresento a todos os camaradas que fazem parte desta já numerosa família de ex-combatentes na Guiné uma síntese daquela que é a nossa história de vida, em particular o «projecto militar», na medida em que ninguém é igual a ninguém; pois todo o Ser Humano é um estranho ímpar, como nos diz o poeta Carlos D. Andrade (1902-1987).
Natural da Freguesia de Santa Maria dos Olivais, Lisboa, onde nasci em 10.Nov.1950, concluí o período da recruta, do Curso de Sargentos Milicianos, no R.I.5, nas Caldas da Rainha, em 26.Set.1971, tendo seguido de imediato para o Centro de Instrução de Operações Especiais (C.I.O.E.), em Lamego/Penude, a fim de aí completar a minha (e nossa) formação militar.
Concluído este processo, que seria o principal requisito de Mobilização para um dos três cenários possíveis da Guerra Ultramarina, eis que somos colocados no Regimento de Artilharia Pesada n.º 2 (RAP2), depois RASP; em Vila Nova de Gaia (Serra do Pilar), instituição que aguardava pela nossa chegada para nos dar a notícia que eu, e todos nós à época, já adivinhávamos – a mobilização (para o C.T.I.Guiné).
Seguiu-se, depois, a informação de que pertenceria à Companhia de Artilharia 3494, a última das três Companhias Operacionais que constituiriam o contingente do Batalhão de Artilharia 3873, o qual iria render o BART 2917 sediado na região de Bambadinca, leste da Guiné, local situado na margem esquerda do Rio Geba.
Considerando que o período final de instrução, também designado por I.A.O., foi realizado em Bolama durante o mês de Janeiro/1972, e uma vez que não tínhamos ainda gozado a Licença de Mobilização, nos termos do Artº. 20º das NNCCMU, a inclusão na CART 3494 foi adiada, vindo somente a ser concretizada no XIME, dois meses depois.
Durante a Comissão de Serviço, que durou até Abril de 1974, alguns foram os episódios que jamais esqueceremos, pelas aprendizagens que produziram em nós, em função da natureza de cada uma delas.
Desde logo a primeira a acontecer foi no dia 22.Abr.1972, sábado, pelas 08:30 horas, na emboscada sofrida pelo nosso GCOMB (4.º) na Ponta Coli (Xime) e referida na porta P6669* pelo nosso ex-Comandante Cap. Art. António José Pereira da Costa (Coronel de Artª. na Reserva), em que, num total de 23 elementos no terreno, as NT tiveram um morto (Furriel), dezassete feridos e, apenas, cinco ilesos, um dos quais fomos nós. No próximo dia 22 de Abril fará quarenta anos que registámos e guardamos as imagens desse contexto.
Oportunamente passaremos a escrito essas imagens, dando, assim, resposta ao desejo do nosso camarada e amigo Coronel Pereira da Costa. De referir que nessa mesma data se comemorou, em Portugal e no Brasil, a passagem do 472.º aniversário da descoberta do Brasil por Pedro Álvares Cabral, conforme se prova na capa do Diário de Lisboa, ao lado. São apenas meras coincidências. De referir, também, que esse mesmo dia 22 de Abril, mas de 1973, foi Domingo de Páscoa.
Seguiram-se outros episódios em que estivemos directamente ligados, cujas datas continuamos a lembrar: 10 de Agosto de 1972 (naufrágio no Rio Geba); 29 de Setembro de 1972 (ataque ao aquartelamento com armas pesadas, numa noite de intensa trovoada, dia em que o meu pai comemorou o seu 49.º aniversário); 01 de Dezembro de 1972, nova emboscada na Ponta Coli; 03 de Fevereiro de 1973, emboscada na Ponta Varela, entre outras.
Quanto ao presente, a nossa actividade profissional é a nível universitário, com uma prática docente de mais de duas décadas. Temos actualmente um vínculo institucional ao ISMAT (Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes), em Portimão, do Grupo Lusófona, onde, para além de leccionarmos diversas Unidades Curriculares, coordenamos o ramo de Educação Física e Desporto, da Licenciatura em Educação Física e Desporto.
Realizamos o doutoramento na Universidade de León (Espanha) em 2009, em Ciências da Actividade Física e do Desporto, com a tese: "A prática Desportiva em Idade Escolar em Portugal – análise das influências nos itinerários entre a Escola e a Comunidade em Jovens até aos 11 anos".
Pelo exposto, espero merecer a confiança de todos os meus amigos ex- militares atabancados.
Um grande abraço para todos, deste cidadão que é, apenas, uma partícula da terra.
Jorge Araújo.
2. Comentário de CV:
Caro camarigo Jorge Araújo, está formalizada a tua adesão à Tabanca Grande.
Participaste já num dos nossos Encontros Nacionais, como se prova abaixo, pelo que és já uma cara conhecida para alguns de nós. E, de resto, já constas da nossa lista alfabética de "tabanqueiros", desde o nosso último convívio... Estás desculpado pelo atraso no envio deo "resto da papelada"...
O teu texto de apresentação está cinco estrelas pelo que adivinhamos muitas e boas histórias para o nosso espólio de memórias. Também aceitamos fotos legendadas, ilustrando as histórias ou para publicar autonomamente como álbum fotográfico.
Há muita maneira de participar no nosso Blogue, haja um pouco de disponiblidade.
Posto isto, falta enviar-te um abraço de boas vindas em nome do Luís Graça, restantes editores e tertúlia em geral. Ficamos ao teu dispor. Parabéns pelo teu esforço de valorização académica e profissional
Pela tertúlia
Carlos Vinhal
Vídeo (34''): Luís Graça (2010). Alojado em You Tube > Nhabijoes
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 2 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6669: V Convívio da Tabanca Grande (13): Caras novas (Parte II): Jorge Araújo, Acácio Correia, Manuel Carmelita, Eduardo Campos, João Malhão Gonçalves, Júlia Neto, Arménio Santos.. (Luís Graça)
Vd. último poste da série de 29 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9548: Tabanca Grande (322): Eduardo Estrela, ex-Fur Mil da CCAÇ 14 (Cuntima, 1969/71)
Guiné 63/74 - P9548: Tabanca Grande (322): Eduardo Estrela, ex-Fur Mil da CCAÇ 14 (Cuntima, 1969/71)
1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano Eduardo Estrela* (ex-Fur Mil da CCAÇ 14, Cuntima, 1969/71), com data de 28 de Fevereiro de 2012:
A história é a narração de factos sociais, políticos, económicos, militares, etc. Aquilo que na Tabanca Grande se vem fazendo é extremamente importante para a nossa memória colectiva e a par dos outros "sítios", um contributo para esclarecimento daquilo que aconteceu aos jovens Portugueses nascidos entre 1940 e 1955 e que largaram a pele na Guiné, em Angola e Moçambique.
Sou o ex-Fur Mil Eduardo Estrela e enquadrei o início da CCaç 14, originalmente CCaç 2592.
Embarcámos para a Guiné em 24 de maio de 1969 e depois de termos dado instrução aos militares africanos que compunham a Companhia (dado e recebido, pois muitos deles já tinham experiência de combate), partimos em 3 de novembro de 1969 para a zona operacional que nos tinha sido destinada, Cuntima, junto à linha de fronteira do Senegal.
Ainda em Bolama, onde a instrução foi dada e recebida e depois de uma operação mal programada para a zona de S. João, onde as CCaç 13 e CCaç 14 podiam ter sofrido sério revés, face ao local de desembarque escolhido, extremamente lodoso e onde vi camaradas atolados até à cintura, ainda em Bolama dizia, sofremos, à hora da saída da LDG, um ataque onde o PAIGC utilizou pela primeira vez foguetões terra-terra. Ninguém sabia que tipo de armamento o PAIGC utilizara e só em Bissau, no dia seguinte, nos foi comunicado o tipo de arma.
Em Cuntima, a actividade operacional era intensa pois estavam no mato permanentemente 2 ou mais grupos de combate, por períodos de 48 horas. A guarnição de Cuntima normalmente composta por 2 Companhias operacionais, Pelotão de Obuses e Pelotão de Milícias, para além das interdições ao corredor de Sitató, fazia picagens à estrada, escolta às colunas para Farim, segurança próxima e afastada ao aquartelamento e as operações militares que obrigavam a utilização de maiores meios.
Aquando do reordenamento de Cuntima, as colunas a Farim eram diárias e o desgaste físico e psíquico muito grande, pois volta não volta o PAIGC aparecia. O meu grupo de combate foi o primeiro a transitar para Farim, no início de dezembro de 1970 e não no fim de dezembro como já vi indicado, e durante um mês estivemos a reforçar a CCaç 2549 estacionada em Nema, a qual tinha estado anteriormente connosco em Cuntima.
Em Farim fazíamos interdição ao corredor de Lamel, numa época em que o PAIGC estava muito activo. De tal modo activo que entre o início de dezembro de 1970 e meados de janeiro de 1971, a guarnição do Batalhão 2879 sofreu na zona de Lamel 14 mortos, uns em combate e outros por acidente resultante de actividade operacional. Para além dos camaradas falecidos, também houve muitos feridos.
No final de 1970, o meu grupo de combate regressou a Cuntima e só no início de fevereiro de 1971 a CCAÇ 14 foi para Farim, tendo o meu grupo ficado em Cuntima para dar sobreposição à Cart 3331, até ao fim de fevereiro.
Mas a "actividade operacional" que mais me agradava, eram os "golpes de mão" que fazíamos à messe ou ao bar e onde através duma "emboscada" bem montada, agarrávamos a amizade a fraternidade e a comunhão de alegrias e tristezas, partilhadas por irmãos que fomos e que sei, continuamos a ser.
Foto: © Vítor Silva (2008). Direitos reservados.
Às vezes fecho os olhos e deixo as lembranças viajarem ao encontro daquela terra vermelha. Então, sinto os sons os cheiros e os sabores da Guiné e os meus sentidos ficam inundados pela beleza daquele bocado de África. Aqueles que calcorrearam os matos e as bolanhas da Guiné sabem bem do que falo. Por isso a Guiné é para mim como que uma segunda Pátria, lamentavelmente cheia de problemas.
A todos os nossos irmãos camaradas da Tabanca Grande e de todas as outras Tabancas, o meu abraço fraterno. Aproveito para dar ao ex-Alf Mil Virgínio Briote uma triste notícia. O camarada Heitor que foi Fur Mil duma das equipas de Comandos que o Briote comandou, faleceu há mais ou menos dois anos aqui em Faro.
Um abraço para ti, Luís, e oportunamente mandarei as fotos.
Eduardo Estrela,
ex-Fur Mil
CCaç 14
2. Comentário de CV:
Caro camarada Eduardo Estrela, em nome do Luís Graça, dos restantes editores e da tertúlia em geral, recebe um abraço de boas vindas.
Estou a receber-te nesta caserna virtual a que chamamos Tabanca Grande, onde os camaradas que combateram ou cumpriram a sua comissão de serviço na Guiné em funções menos bélicas, são recebidos de braço abertos, porque todos nós os que pisámos aquele chão de África, temos em comum o amor àquele povo irmão e àquele país que nos marcou para sempre. Fomos para lá meninos e regressámos homens feitos pelo sacrifício imposto, pela fome, pelo sangue derramado e pela saudade dos que connosco fizeram a viagem de ida, mas não nos acompanharam no regresso pela perda da sua jovem vida, por evacuação motivada por ferimentos recebidos em combate ou doença grave adquirida em campanha.
Honrando a memória dos que hoje não podem falar, cabe-nos deixar aqui o nosso testemunho e contarmos o porquê do seu sacrifício. Morreram ou ficaram estropiados, mas não foram esquecidos. Contamos contigo para nos ajudares a complementar este registo. E para trazer novos camaradas para a Tabanca Grande!
Para completar a tua apresentação, por favor manda-nos as fotos da praxe que serão em devido tempo acrescentadas a este poste. Passas a ser o tabanqueiro nº 541.
Por agora é tudo, recebe um abraço do teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
____________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 8 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9456: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (50): Em busca do Joaquim Fernandes (ex-Fur Mil, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71), meu camarada da recruta e da especialidade do CISMI, Tavira (Eduardo Estrela, ex-Fur Mil, CCAÇ 2592 / CCAÇ 14, Cuntima, 1969/71)
Vd. último poste da série de 16 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9493: Tabanca Grande (321): João José Alves Martins, ex-Alf Mil Art.ª, BAC 1 (Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1971/74)
A história é a narração de factos sociais, políticos, económicos, militares, etc. Aquilo que na Tabanca Grande se vem fazendo é extremamente importante para a nossa memória colectiva e a par dos outros "sítios", um contributo para esclarecimento daquilo que aconteceu aos jovens Portugueses nascidos entre 1940 e 1955 e que largaram a pele na Guiné, em Angola e Moçambique.
Sou o ex-Fur Mil Eduardo Estrela e enquadrei o início da CCaç 14, originalmente CCaç 2592.
Embarcámos para a Guiné em 24 de maio de 1969 e depois de termos dado instrução aos militares africanos que compunham a Companhia (dado e recebido, pois muitos deles já tinham experiência de combate), partimos em 3 de novembro de 1969 para a zona operacional que nos tinha sido destinada, Cuntima, junto à linha de fronteira do Senegal.
Ainda em Bolama, onde a instrução foi dada e recebida e depois de uma operação mal programada para a zona de S. João, onde as CCaç 13 e CCaç 14 podiam ter sofrido sério revés, face ao local de desembarque escolhido, extremamente lodoso e onde vi camaradas atolados até à cintura, ainda em Bolama dizia, sofremos, à hora da saída da LDG, um ataque onde o PAIGC utilizou pela primeira vez foguetões terra-terra. Ninguém sabia que tipo de armamento o PAIGC utilizara e só em Bissau, no dia seguinte, nos foi comunicado o tipo de arma.
Em Cuntima, a actividade operacional era intensa pois estavam no mato permanentemente 2 ou mais grupos de combate, por períodos de 48 horas. A guarnição de Cuntima normalmente composta por 2 Companhias operacionais, Pelotão de Obuses e Pelotão de Milícias, para além das interdições ao corredor de Sitató, fazia picagens à estrada, escolta às colunas para Farim, segurança próxima e afastada ao aquartelamento e as operações militares que obrigavam a utilização de maiores meios.
Eduardo Estrela em Cuntima
Aquando do reordenamento de Cuntima, as colunas a Farim eram diárias e o desgaste físico e psíquico muito grande, pois volta não volta o PAIGC aparecia. O meu grupo de combate foi o primeiro a transitar para Farim, no início de dezembro de 1970 e não no fim de dezembro como já vi indicado, e durante um mês estivemos a reforçar a CCaç 2549 estacionada em Nema, a qual tinha estado anteriormente connosco em Cuntima.
Em Farim fazíamos interdição ao corredor de Lamel, numa época em que o PAIGC estava muito activo. De tal modo activo que entre o início de dezembro de 1970 e meados de janeiro de 1971, a guarnição do Batalhão 2879 sofreu na zona de Lamel 14 mortos, uns em combate e outros por acidente resultante de actividade operacional. Para além dos camaradas falecidos, também houve muitos feridos.
No final de 1970, o meu grupo de combate regressou a Cuntima e só no início de fevereiro de 1971 a CCAÇ 14 foi para Farim, tendo o meu grupo ficado em Cuntima para dar sobreposição à Cart 3331, até ao fim de fevereiro.
Mas a "actividade operacional" que mais me agradava, eram os "golpes de mão" que fazíamos à messe ou ao bar e onde através duma "emboscada" bem montada, agarrávamos a amizade a fraternidade e a comunhão de alegrias e tristezas, partilhadas por irmãos que fomos e que sei, continuamos a ser.
Vista panorâmica de Cuntima. Uma povoação com gentes de várias origens (não faltavam os comerciantes libaneses).
Foto: © Vítor Silva (2008). Direitos reservados.
Na Guiné todos deixámos dois anos da nossa juventude, mas eu para além disso deixei também o meu coração. Habituei-me a gostar daquela gente e ainda hoje me preocupo com tudo o que diga respeito aos meus irmãos guinéus.
Às vezes fecho os olhos e deixo as lembranças viajarem ao encontro daquela terra vermelha. Então, sinto os sons os cheiros e os sabores da Guiné e os meus sentidos ficam inundados pela beleza daquele bocado de África. Aqueles que calcorrearam os matos e as bolanhas da Guiné sabem bem do que falo. Por isso a Guiné é para mim como que uma segunda Pátria, lamentavelmente cheia de problemas.
A todos os nossos irmãos camaradas da Tabanca Grande e de todas as outras Tabancas, o meu abraço fraterno. Aproveito para dar ao ex-Alf Mil Virgínio Briote uma triste notícia. O camarada Heitor que foi Fur Mil duma das equipas de Comandos que o Briote comandou, faleceu há mais ou menos dois anos aqui em Faro.
Um abraço para ti, Luís, e oportunamente mandarei as fotos.
Eduardo Estrela,
ex-Fur Mil
CCaç 14
2. Comentário de CV:
Caro camarada Eduardo Estrela, em nome do Luís Graça, dos restantes editores e da tertúlia em geral, recebe um abraço de boas vindas.
Estou a receber-te nesta caserna virtual a que chamamos Tabanca Grande, onde os camaradas que combateram ou cumpriram a sua comissão de serviço na Guiné em funções menos bélicas, são recebidos de braço abertos, porque todos nós os que pisámos aquele chão de África, temos em comum o amor àquele povo irmão e àquele país que nos marcou para sempre. Fomos para lá meninos e regressámos homens feitos pelo sacrifício imposto, pela fome, pelo sangue derramado e pela saudade dos que connosco fizeram a viagem de ida, mas não nos acompanharam no regresso pela perda da sua jovem vida, por evacuação motivada por ferimentos recebidos em combate ou doença grave adquirida em campanha.
Honrando a memória dos que hoje não podem falar, cabe-nos deixar aqui o nosso testemunho e contarmos o porquê do seu sacrifício. Morreram ou ficaram estropiados, mas não foram esquecidos. Contamos contigo para nos ajudares a complementar este registo. E para trazer novos camaradas para a Tabanca Grande!
Para completar a tua apresentação, por favor manda-nos as fotos da praxe que serão em devido tempo acrescentadas a este poste. Passas a ser o tabanqueiro nº 541.
Por agora é tudo, recebe um abraço do teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 8 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9456: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (50): Em busca do Joaquim Fernandes (ex-Fur Mil, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71), meu camarada da recruta e da especialidade do CISMI, Tavira (Eduardo Estrela, ex-Fur Mil, CCAÇ 2592 / CCAÇ 14, Cuntima, 1969/71)
Vd. último poste da série de 16 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9493: Tabanca Grande (321): João José Alves Martins, ex-Alf Mil Art.ª, BAC 1 (Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1971/74)
Guiné 63/74 - P9547: Memória dos lugares (177): Canquelifá, a ferro e fogo, fevereiro / abril de 1974 (José Marques)
Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Setor de Piche > Canquelifá > CCAÇ 3545 (Canquelifá e Piche, 1972/74) > 18 de Março de 1974 > A paisagem desoladora da tabanca, depois do violento ataque do PAIGC com morteiros 120 e foguetões 122, durante 4 horas... Foto, de autor desconhecido, do álbum do Jacinto Cristina (Sold At Inf, CCAÇ 3546, 1972/74)
Foto: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados
1. Comentário do nosso leitor (e camarada) José Marques (que presumimos ter pertencido à CCAÇ 3545 / BCAÇ 3883 ou mais provavelmente a outra subunidade, já que lá esteve menos de dois meses em Canquelifá), com data de 23 do corrente, ao poste P7438 (*)
[Conjunto de seis] fotos que testemunham o que se passou em Canquelifá, mas estes estragos não ocorreram apenas no dia 18 de março de 74 (*).
Nos dias seguintes, a 19, 20, 21, 24 e 31 de março de 74, houve ataques mais prolongados e intensos, por isso julgo que as fotos tenham sido tiradas já após os últimos ataques. (**)
Estive em Canquelifá, de 22 de fevereiro de 74 a 12 de abril de 74, ainda apanhei os ataques de 24 de fevereiro e 5 de março, estes mais fracos em comparação com os últimos.
Obrigado pela divulgação destas fotos.
Um abraço!
José Marques
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Notas do editor
(*) Vd. poste de 15 de dezembro de 201o > Guiné 63/74 - P7438: Álbum fotográfico de Jacinto Cristina, o padeiro da Ponte Caium, 3º Gr Comb da CCAÇ 3546, 1972/74 (5): Canquelifá, a ferro e fogo, 18 de Março de 1974
(**) Vd. poste de 27 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1216: A batalha (esquecida) de Canquelifá, em Março de 1974 (A. Santos)
(***) Último poste da série > 19 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9505: Memória dos lugares (176): Buruntuma, lá no "cu de Judas"...
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