terça-feira, 18 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10401: Blogpoesia (299): Memória da guerra (António Graça de Abreu)


Memória da guerra
por António Graça de Abreu

Durante dois anos, nas terras da Guiné,

a espingarda a tiracolo, aos pés da cama.

Lá fora, o calor, o canto das cigarras, o cheiro [da guerra.

Éramos uma pátria infeliz combatendo um pobre [povo,

na bolanha, no mato, no tarrafo dos rios.

O medo, os suores, a coragem, a amargura,

soldados retalhados, queimados, encharcados [em sangue,

homens sem cor e sem ventura.

Imberbes e puros como os [
guerreiros  de Alcácer-Quibir,

as espadas de fogo dilacerando o bater dos [corações. 



Regressei um dia,

lavando a alma na espuma das lágrimas. 

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Fonte: Abreu, António Graça de:
Diário da Guiné: lama, sangue e água pura.
Lisboa: Guerra & Paz.
2007,
p. 11

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Nota do editor:
Último poste da série > 7 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10343: Blogpoesia (199): Os felizardos da guerra (Joaquim L. Mendes Gomes)
 

Guiné 63/74 - P10400: Recortes de imprensa (59): Mina antipessoal faz uma vítima na tabanca de Buruntuma, 39 anos depois do fim da guerra (Nelson Herbert)






Fonte: Portal GBissau.com. De acordo com o seu estatuto editorial, este portal "é um site de notícias, actualidades e opiniões sobre a Guiné-Bissau e as suas comunidades espalhadas pelo mundo", podendo também abordar,sempre que se justifique, "sassuntos de outros países lusófonos e africanos em geral".


O portal "foi fundada em 2012" e pretende ser "um diário de informação geral de referência para todos os cidadãos da Guiné-Bissau, independentemente da afiliação e da visão política de cada um". A ideia da sua criação "surgiu de um grupo de experientes jornalistas oriundos da Guiné-Bissau e com passagem por órgãos de comunicação social de referências nacionais e internacionais, nomeadamente a RTGB, a RDN, a Rádio Galáxia de Pindjiguiti, a Rádio Bombolom FM, a BBC, a CNN, a Voz da América, entre outros". Trata-se de um projecto de informação que se pauta "por uma postura e por um olhar factual, crítico e analítico. E acima de tudo, um olhar introspectivo, por conseguinte nacional, dos grandes desafios por que passa a Guiné-Bissau de hoje", e que se bate "por uma informação crítica, pela tolerância, pela isenção e pela verdade — de resto alicerces de um estado democrático em construção, como o caso da Guiné-Bissau".



1. Um recorte de imprensa enviado pelo nosso amigo e grã-tabanqueiro, Nelson Herbert, de origem guineense, jornalista, da VOA (Voz da América), a viver em Washington [, foto atual à direita]:


Bissau (Rádio Sol Mansi, 17 de Setembro de 2012) - Uma mulher viu um dos membros inferiores ser amputado segunda-feira por uma mina anti-pessoal na aldeia de Buruntuma, leste da Guiné Bissau, informou à imprensa a irmã da vítima.

O acidente ocorre 39 anos depois do fim da guerra de libertação nacional em setembro de 1974. De acordo com a Aminata Djaló, a sua irmã, Quinde Djaló, de 25 anos de idade, tinha ido buscar um carneiro amarrado atrás da sua casa e foi ai aonde ela pisou sobre um engenho explosivo.

“Ela apanhou ferimento no quintal da casa. Estava lá amarrado um carneiro, e por fazer muito quente, ela foi retirar o animal do local onde estava a pastar. Afinal, o carneiro pastava por cima de um engenho explosivo, que só rebentou quando a minha irmã o pisou, devido o seu peso superior ao do animal”, contou Aminata Djaló.

“No mesmo instante, ela perdeu o seu pé direito. Ela sofre muito”, observou. A vítima foi admitida no Hospital Nacional Simão Mendes em Bissau.

Fonte: Portal GBissau.com

2. Comentário de L.G.:

O título da notícia é ambivalente: "Minas antipessoais continuam a amputar 39 anos depois do fim da guerra colonial"... E no corpo da notícia, lê-se: "O acidente ocorre 39 anos depois do fim da guerra de libertação nacional em setembro de 1974"... Infelizmente, não é relevante saber a proveniência ou paternidade da mina, se do antigo exército colonial português, se da guerrilha do PAIGC, ou até se do exército bissau-guineense, envolvido em diversas lutas intestinas (golpes de estado, guerras civis, etc.) desde 1980. Este tipo de engenhos explosivos não têm bilhete de identidade, nem certidão de nascimento, são assassinos cegos, impediosos, apátridas...Só uma peritagem independente poderia datar o engenho, determinara a sua antiguidade, identificar o país de fabrico, etc. A triste verdade é que as minas continuam a matar, a amputar, a causar dor, sofrimento, medo e insegurança no antigo TO da Guiné.

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Nota do editor:

Último poste da série > 13 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10375: Recortes de imprensa (58): Até os mortos são roubados!... Desaparece lápide em bronze com os nomes dos 13 combatentes de Monção mortos na guerra colonial (Carlos Pinheiro)


Guiné 63/74 - P10399: As Nossas Tropas - Quem foi quem (10): Ten Cor Manuel Agostinho Ferreira, o "metro e oito", comandante do BCAÇ 2879 (Farim, 1969/71) e BCAÇ 2892 (Aldeia Formosa, 1969/71) (Paulo Santiago / Carlos Silva / Manuel Amaro)

1. Mail de Paulo Santiago [, foto à direita], de 15 de janeiro de 2008:

Camaradas: Acabei de ler o poste do Carlos Silva "de Abrantes para Farim" (*) onde aparece como comandante de batalhão [, o BCAÇ 2897, ] o ten-cor Agostinho Ferreira, chamado de Metro e oito, o qual tive o prazer de conhecer, numa visita ao Saltinho, em 1971, visita mencionada numa das minhas Memórias, sendo na altura comandante do batalhão de Aldeia Formosa [, o BCAÇ 2892].


Foi no mesmo dia que conheci o, na altura, cap mil Rui Alexandrino Ferreira, [o nosso] Ruizinho, comandante da CCAÇ 18, também na Aldeia Formosa. Aliás, no livro Rumo a Fulacunda, o Rui fala, em termos elogiosos, do seu comandante de batalhão, o ten-cor Agostinho Ferreira.


Porque saiu de Farim para Aldeia ? Terá sido alguma chicotada psicológica do Spínola ? O Carlos Silva que explique este desfasamento.

Abraço, Paulo Santiago

P.S.- Não descobri o mail do Carlos Silva para dar conhecimento.




Ten cor inf Manuel Agostinho Ferreira, comandante do BCAÇ 2879 (Farim, 1969/71) e do BCAÇ 2892 (Aldeia Formosa, 1969/71), popularmente conhecido como o "metro e meio". Faleceu em 2003, com o postod e major general. Foto de Mário Pinto.



2. Nota do Carlos Silva, que foi apresentado á nossa  Tabanca Grande em 20 de julho de 2007 [Foi fur mil at armas pesadas inf, tendo pertencido à CCAÇ 2548 (Jumbembem, 1969/71), do BCAÇ 2879 (Farim, 1969/71).


O ten cor Manuel Agostinho Ferreira, falecido a 29-10-2003, com a patente de Major-General, ficou conhecido pela rapaziada do Batalhão pelo “metro e oito “. Distinto oficial, inteligente e corajoso, que, sendo comandante de batalhão, não se poupava a esforços nem a sacrifícios, assim como não hesitava em participar nas operações, a fim de poder apreciar in loco a justeza dos factores de planeamento, quantas vezes abstractos, que os manuais forneciam. 

Esta postura do nosso comandante que, por um lado, era altamente louvável, por outro incutia na rapaziada uma confiança que fazia ultrapassar o medo que porventura existisse. Tal atitude granjeou-lhe da nossa parte uma grande simpatia e admiração que ainda hoje se faz sentir e há-de perdurar ao longo dos tempos até ao último sobrevivente do Batalhão. expressão de tal sentimento resulta bem claro nos almoços de confraternização do Batalhão (*). 


3. Resposta à pergunta do Paulo Santiago, que ficou mais de quatro anos por responder:
Excerto do poste 8 de outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5075: Não-Estórias de Guerra (1): O Furriel Enfermeiro de Quebo (Manuel Amaro)  [, foto atual, à direita]:
 (...) Quando cheguei a Aldeia Formosa (Quebo) no final de 1969, aquilo era assim quase um paraíso.

Tínhamos feito um mês de estágio em Nhacra (englobando Safim, João Landim, Cumeré e Dugal). Aqui no Dugal, o Pelotão do Alferes Caçador ainda foi presenteado com uma rocketada que levantou as chapas da cobertura.

A viagem em LDG, via Bolama, até Buba, foi desagradável. A coluna Buba/Aldeia de uma qualidade indescritível.

Mas em Aldeia Formosa não havia guerra. Diziam os mais velhos que isso se devia à acção de alguns Comandantes que por lá passaram, nomeadamente o major Azeredo e o major Fabião. E também devido à existência do Cherno Rachid Djaló. Mas… como não há bem que sempre dure…

Entre 20 de Março e 30 de Abril de 1970, Aldeia Formosa foi duramente castigada pelo inimigo. Tanto com emboscadas no mato, de que resultaram três mortos, como ataques ao quartel.

Os ataques do PAIGC a Aldeia Formosa incomodaram tanto o General Spínola que este tomou a decisão de substituir o Comandante do BCAÇ 2892, nomeando para o cargo, o Ten Cor Manuel Agostinho Ferreira.

O novo Comandante, mal tomou posse reuniu com o 2.º Comandante, o Oficial de Operações, Comandantes de Companhia, Oficiais e Sargentos. Falou muito e ouviu pouco. De seguida, sentou-se naquela mesa enorme, na Sala de Operações, e, olhando para os mapas, questionava o oficial de operações:
- A CART 2521 tem o pessoal todo operacional?
- Sim, tem, meu Comandante.
- E a CCAÇ 2615 tem o pessoal todo operacional?
- Sim, tem, meu Comandante - repetiu o Major... Mas hesitou e corrigiu…
- Bem, quer dizer… o Furriel Enfermeiro está destacado no Posto Escolar.

O Comandante deu um salto e gritou:
- É isso… não pode ser. O pessoal de saúde tem que estar integrado nas suas Unidades Operacionais. Esse Furriel cessa funções hoje. Amanhã já está integrado na Companhia. Nomeia-se outro Furriel, Amanuense ou de Transmissões, para a Escola.

O Tenente Lopes, que dava os últimos retoques no stencil da Ordem de Serviço, ainda conseguiu incluir o texto do Despacho, que foi publicado e distribuído, nesse dia, já noite dentro.

Esta foi a grande decisão do novo Comandante. E a decisão foi cumprida

No dia 6 de Maio de 1970, quando o Pelotão (aqui apetece-me chamar-lhe Grupo de Combate) saiu para a Operação de rotina, já integrava o Furriel Enfermeiro, de camuflado, carregando uma bolsa tradicional, mas de G3 a tiracolo. Esta cena teve assistência, mirones, assim uma coisa semelhante à apresentação do Cristiano Ronaldo, em Madrid…

Saliente-se que esta decisão e a sua imediata implementação, foi tão importante que, quando o Pelotão que fazia a segurança nocturna, no exterior do quartel, regressava a casa, já se cruzou com o gila, informador do PAIGC, que ia a caminho da fronteira, para transmitir a novidade.

Nino recebeu o mensageiro que chegou com ar cansado da viagem, mas feliz por cumprir tão importante missão informativa:
- O novo Comandante de Quebo já tomou uma decisão. O Furriel Enfermeiro que estava na Escola passou a operacional. A partir de hoje, cerca de 15% das operações na área de Quebo terão a sua participação.

Nino, que de início parecia tranquilo, começou a dar sinais de impaciência e algum nervosismo. Para disfarçar, começou por acariciar a sua kalash com a mão direita, mas a esquerda, mais difícil de controlar, começou a coçar a cabeça. Quando o Nino coçava a cabeça já se sabia que alguma coisa estava a correr muito mal.
- Isso é mau. E logo agora que tínhamos algum controlo na zona.

Nino pensou, pensou… mas não demorou mais de cinco minutos para ordenar aos seus adjuntos o que fazer de imediato:
- As armas pesadas cumprem o plano até esgotar as munições... O grupo do GB, até ordem em contrário, não faz as emboscadas previstas na zona de Quebo.

E a ordem foi cumprida. E a vida continuou. Até que uns dias depois, ainda em Maio, o gila aparece de novo e informa:
- Camarada Comandante Nino, o Furriel Enfermeiro deixou a zona operacional. Agora só faz colunas de reabastecimento Quebo/Buba/Quebo. É que os outros enfermeiros não gostam de fazer colunas e ele gosta de ir a Buba comer peixe grelhado e cumprimentar os amigos que tem em Buba e Nhala.

Nino pareceu não dar muita importância à informação, mas logo que o gila se afastou, ordenou, até ordem em contrário, a paragem da colocação de minas na estrada e/ou ataques às ditas colunas. E a ordem foi cumprida.

Mas a vida no teatro de guerra é muito agitada, mesmo para quem não faz a dita. Ainda decorria o mês de Junho e já o gila estava a solicitar nova audiência.
- Camarada Comandante Nino´, lembra-se do Furriel Enfermeiro de Buba, que foi ferido e não foi substituído? Está no Hospital em Lisboa, com uns centímetros de intestino a menos…

Nino não entendeu a razão desta conversa, mas replicou:
- Em Buba os colonialistas têm um médico.
- Pois - concordou o gila -, mas o médico vai de férias a Portugal. O Camarada Nino imagina quem vai substituir o médico durante esse tempo?... O Furriel Enfermeiro do Quebo.

Nino soltou um palavrão. (Que eu não repito, porque eu não escrevo palavrões, mesmo quando são ditos por outros). E depois ordenou:
- Até ordem em contrário, o Grupo do MS não executa ataques na zona de Buba.

E a ordem foi cumprida.... Em Outubro lá estava de novo o gila informador, o que era um incómodo para Nino, porque estas informações eram pagas, mas ao mesmo tempo eram informações válidas e sempre credíveis, portanto úteis, para a operação do PAIGC.
- Então que notícias temos de Quebo? - perguntou Nino.
- Coisa grande, Camarada. A Companhia de Nhala vai para Quebo e a de Quebo vai para Nhala.

Nino não entendeu a razão da importância desta informação e argumentou:
- Mas isso é uma simples troca, não altera nada.
- Altera, sim, camarada Comandante. É que o Furriel Enfermeiro, agora, vai ficar em Nhala, até ao fim da comissão, em Setembro do ano que vem. – sentenciou o gila.

Nino, que até ali estivera de pé, durante toda a conversa, sentou-se, baixou a cabeça, colocou-a entre as mãos e, em vez do tradicional palavrão, disse baixinho:
- … Dasse… dasse… dasse…

Passados uns minutos levantou-se, passou as mãos pelo rosto, alisou o cabelo e ordenou a todos os seus comandantes:
- Até Setembro de 1971, não haverá qualquer acção contra os militares colonialistas instalados em Nhala, incluindo o quartel, a estrada e os carreiros.

E a ordem foi cumprida.... Em Setembro de 1971, o Furriel Enfermeiro do Quebo e Nhala regressou à Metrópole. O gila emigrou e é estivador no porto de Marselha. O Nino… bem, sobre o Nino toda a gente sabe tudo.

A maior parte dos protagonistas desta não-estória já faleceram e não poderão confirmar o que aqui está escrito. Mas o nosso Camarada José Martins, recorrendo a todas as suas fontes de informação, poderá confirmar que todas as ordens de Nino, aqui referidas, foram cumpridas. (...)

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Nota do editor:

(*) Poste de 15 de Janeiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2440: História do BCAÇ 2879, 1969/71 (1): De Abrantes para Farim (Carlos Silva) ]

Útimo poste da série > 25 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10193: As Nossas Tropas - Quem foi quem (9): Marcelino da Mata, 1º cabo, Gr Cmds Diabólicos (1965/66) (Virgínio Briote)

Guiné 63/74 - P10398: Notas de leitura (405): "Les Héros de la Guinée-Bissau: La Fin D'Une Légende", de Lourenço da Silva (2) (Francisco Henriques da Silva)

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Henriques da Silva (ex-Alf Mil da CCAÇ 2402/BCAÇ 2851, , Mansabá e Olossato, 1968/70), ex-embaixador na Guiné-Bissau nos anos de 1997 a 1999, com data de 7 de Setembro de 2012:

Meus amigos,
Eis a segunda parte da minha recensão ao livro "Les Héros de la Guinée-Bissau: la fin d'une légende" de Lourenço da Silva.

Com os meus cumprimentos cordiais e amigos
Francisco Henriques da Silva


Nino Vieira – o mito* (2/2)

Por Francisco Henriques da Silva

Ficamos eternamente à espera de argumentos e provas convincentes, mas o autor não produz nem uns, nem outras. Limita-se a avançar com alegações disparatadas e sem sentido.

Lourenço da Silva menciona 3 “pecados” atribuídos ao ex-Chefe de Estado e que teriam contribuído para a sua morte. Em primeiro lugar, o seu apoio ao PRID (Partido Republicano para a Independência e o Desenvolvimento), de Aristides Gomes – um dissidente do PAIGC, que foi seu Primeiro-ministro -, integrado por elementos ninistas e “pelas antigas forças governamentais” que estariam na base da sua eleição para o cargo de Presidente da República, uma vez que não beneficiava do respaldo do PAIGC, o que redundou num enorme fracasso. O segundo “pecado” consistiu na “incapacidade ou recusa do Presidente em exonerar todos os chefes militares, bem como os ministros do Interior e da Defesa, na sequência dos acontecimentos de 23 de Novembro de 2008” – como se pode ler na p. 149 (no caso em consideração, tratou-se de uma tentativa frustrada de golpe de Estado em que os amotinados pretenderam tomar de assalto o palácio presidencial). O terceiro “pecado” terá sido a luta de bastidores para impedir a investidura de Cadogo (Carlos Domingos Gomes Júnior) como Primeiro-ministro.

Ao longo da obra, o autor não deixa de mencionar repetidas vezes as múltiplas tensões que opunham o “Chefe” ao líder governamental (Carlos Gomes), bem como a outras figuras do regime, designadamente aos militares “analfabetos” (illetrés) Tagmé Na Waye e Bubo Na Tchuto, interrogando-se, como toda a gente, porque é que aqueles oficiais-generais não podiam ser afastados. Cela au moment où d’un côté, ils étaient tous pointés du doigt comme étant les principaux responsables de l’instabilité qui régnait dans le pays , et de l’autre côté, l’illetrisme pesait sur chacun d’eux (trad. – “isto num momento em que, por um lado, eram todos apontados a dedo como sendo os principais responsáveis pela instabilidade que reinava no país e, por outro, o analfabetismo pesava sobre cada um deles” – p. 137). Sem prejuízo dos encómios e ditirambos com que o autor o mimoseia em permanência, “Nino” Vieira parecia ter plena consciência dos perigos que o rodeavam oriundos do sector castrense, mas preferia não agir, atitude que nos parece verdadeiramente surpreendente para um homem com a personalidade de Kabi. Lourenço da Silva refere-se inclusive a uma certa padronização dos comportamentos dos militares golpistas (cfr. p. 161).

O autor não conclui, nem pode concluir, porque fugiria aos parâmetros do panegírico, o óbvio: toda a história da Guiné-Bissau é uma história de violência contínua de que “Nino” Vieira foi um dos principais protagonistas. Chefe guerrilheiro, ascendeu ao Poder com o apoio de uma facção militar (14 de Novembro de 1980); manteve-se na chefia do Estado, com o voto popular e o consequente respaldo dos militares (1994); viu-se confrontado e saiu derrotado por uma rebelião militar (1998-1999); o país viveu, entretanto, inúmeros golpes de Estado reais ou imaginados; exilado durante vários, regressou ao país; foi de novo eleito, mas teve de beneficiar de um suporte militar sólido. Por conseguinte, das duas uma: ou Kabi dispunha de força militar necessária e suficiente para se manter no Poder ou então o destino estava-lhe traçado à partida.

A guerra civil de 98-99, um acontecimento capital na história da Guiné-Bissau, é apenas abordada numas escassas 5 páginas (da p. 77 à p. 81), em que a complexidade do conflito é analisada com enormes ligeireza e displicência. O autor passa por cima das respectivas causas, da problemática política, económica e social como cão por vinha vindimada. Para não fugir à regra, Lourenço da Silva repisa outro dos seus grandes leit motivs, ou seja a diabolização do nosso país: “Nino” Vieira refugia-se na embaixada de Portugal, son pire ennemi historique (trad. – o seu pior inimigo histórico – p. 81).

Na parte final da obra, são transcritos, em francês, alguns dos discursos mais significativos de João Bernardo Vieira, proferidos no decurso do seu último mandato como Presidente da República, cujo interesse é, na maior parte dos casos, meramente documental.

De salientar, porém, a alocução proferida na 35ª cimeira da CEDEAO em Abuja, em Dezembro de 2008, na sequência da tentativa de golpe de Estado de 23 de Novembro já mencionada, de que se reproduz um excerto que, para além de se revelar uma asserção a todos os títulos, justa, seria pré-monitória em relação aos acontecimentos futuros na Guiné-Bissau: Nous avons une armée hautement politisée et déséqilibrée du point de vue ethnique, devenant ainsi le plus grand obstacle à la paix, à la stabilité et une véritable menace à la culture démocratique en Guinée-Bissau (trad. “Temos um exército altamente politizado e desequilibrado do ponto de vista étnico, tornando-se assim o maior obstáculo à paz, à estabilidade e uma verdadeira ameaça à cultura democrática na Guiné-Bissau - p. 231)
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 14 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10380: Notas de leitura (402): "Les Héros de la Guinée-Bissau: La Fin D'Une Légende", de Lourenço da Silva (Francisco Henriques da Silva)

Vd. último poste da série de 17 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10395: Notas de leitura (404): Desvendar alguns segredos do crioulo da Guiné-Bissau (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10397: Em busca de... (203): Exemplar do livro de Fernando de Sousa Henriques "Picadas e Caminhos da Vida na Guiné" (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 13 de Setembro de 2012:

Meus prezados amigos,
O Prof. René Pélissier gostaria muito de publicar uma resenha sobre o livro do nosso malogrado confrade Fernando de Sousa Henriques.

Eu pedia a generosidade a alguém que com ele se tivesse relacionado se mo podia enviar para eu reencaminhar para o Prof. Pélissier, acho que era uma bonita homenagem que prestaríamos ao Sousa Henriques.

Antecipadamente grato,
Mário




2. Hoje mesmo o Blogue enviou a seguinte mensagem à tertúlia:

Caros camaradas e amigos tertulianos

De acordo com a mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos, o nosso conhecido Prof René Pélissier gostava de ter acesso ao livro do falecido camarada Fernando de Sousa Henriques "Picadas e Caminhos da Vida na Guiné" para fazer uma recensão desta obra.

Se alguém tiver algum exemplar e puder emprestar ao Professor, via Mário Beja Santos, seria, como diz o nosso camarada Mário, uma hipótese de homenagear o malogrado Fernando de Sousa Henriques.

Deixo-vos um abraço
Carlos Vinhal


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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 4 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10326: Em busca de... (202): Memórias de uma infância perdida .... (Paulo Mendonça, nascido em 1961, em Có, Bula, Cacheu, trazido para Matosinhos em finais de 1967, criado na Casa do Gaiato até aos 14 anos, e a viver há 20 em França)

Guiné 63/74 - P10396: Tabanca Grande (361): Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705 (Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66)

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66), com data de 2 de Setembro de 2012:

Caro Luís Graça e demais Camaradas de Arrmas.

Sou Manuel Luís Lomba, ex-furriel mil da CCav 703, do BCav 705, os "Cavaleiros Marinhos", e penamos na Guiné, em 1964/66.

Estivemos um ano na Amura, como reserva às ordens do Comando-Chefe e terminámos a comissão no Sector de Nova Lamego - a Companhia 703 na quadrícula de Buruntuma, a 704 em Bajocunda e a 702 em Madina do Boé.

O BCaç 1856 foi render-nos, ficando a Companhia 1418 em Buruntuma e a 1416 em Madina do Boé, a qual causará a morte, em combate, a Domingos Ramos, um dos primeiros e dos mais competentes comandantes do PAIGC, ex-furriel mil desertado do Exército Português, por ter sido vítima de flagrante injustiça de superior hierárquico, quando era instrutor no CIM (Centro de Instrução Mililitar), em Bolama.

Nas muitas missões de intervenção interagimos com o BCav 490, os Sempre em Frente", com o BCaç 600 (desconheço a divisa), com o BCaç 619, as "Sentinelas do Sul", com o BArt 635, os "Águias Negras", com Companhias independentes, com Grupos de Comandos, a Companhia de Pára-quedistas e Destacamentos de Fuzileiros.

Chegado à reforma, entrei em correntes de escrita. Acabo de publicar o livro "Guerra da Guiné: A Batalha de Cufar Nalu", em edição de autor.

Manifesto o mais elevado apreço pelas vossas iniciativas e a minha vontade de adesão.
(Manuel Luís Lomba)


2. Em resposta, foi enviada em 7 de Setembro a seguinte mensagem ao camarada Manuel Lomba:

Caro camarada Manuel Lomba

À boa maneira do nosso Blogue vamo-nos tratar por tu.

Muito obrigado pelo teu contacto e pela vontade de pertenceres a esta família de ex-combatentes da Guiné. Na qualidade de relações públicas deste Blogue estou a receber-te e a sugerir que nos mandes uma foto do teu tempo de Guiné e outra actual (mais ou menos) para podermos proceder à tua apresentação formal à tertúlia.

Se quiseres desenvolver um pouco mais o texto da mensagem que nos mandaste servirá para a tua apresentação. Fala-nos um pouco mais do teu livro, manda-nos a capa digitalizada, e se há hipótese de algum interessado o adquirir, à cobrança, por exemplo.

Fica a teu critério outros pormenores para que te possamos ficar a conhecer melhor.

A tua correspondência deverá ser enviada sempre para luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com e simultaneamente para mim ou para o Eduardo.

Qualquer dúvida, é só perguntar.

Sem outro assunto de momento, fico ao teu inteiro dispor.
O camarada e amigo
Carlos Vinhal


3. No dia 9 de Setembro recebemos esta mensagem do camarada Manuel Lomba:

Meu caro Carlos Vinhal.

Grato pela sua resposta, a que tento corresponder em conformidade.

Envio duas fotos e acrescento um texto extraído do livro que acabo de publicar: "Guerra da Guiné: A Batalha de Cufar Nalu" (opto por escrever conforme a antiga ortografia).

Manuel Lomba


4. Do livro "Guerra da Guiné: A Batalha de Cufar Nalu",  de Manuel Luís Lomba:

Outras manobras, no contexto da manobra da rendição da CCav 703 pela CCaç 763, na nomadização de Cufar, em 18 de Março de 1965

Chegou ao cais do rio Meterunga o grosso do efectivo da Companhia de Caçadores 763, comandada pelo capitão Costa Campos, para a nossa rendição, dotada de 8 cães de guerra, treinados por si e por sua conta e risco, género de combatentes que os turras também já mobilizavam. Os cães vieram acrescentar-se aos passarinhos, às vacas, aos patos bravos, às árvores, à vegetação, a toda a magia da Natureza, na engrenagem da máquina de sacrifícios, de sofrimento e morte que era a guerra da Guiné. Pelos cães, pelo brasão e pelo guião, pusemos-lhe o nome da Companhia dos Cães. Os turras não terão visto o que vimos deles, mas sobrar-lhes-ão motivos para, posteriormente, os alcunhar de “lassas” (abelhas).

O abrigo do depósito de géneros do estacionamento estava escancarado e vazio. Havia dias que não se via o fumo das chaminés das cozinhas rodadas a elevar-se ao céu, a anunciar rancho quente, e o estado de ruína dos nossos aparelhos digestivos já tolerava melhor a fome que a ingestão das rações de combate da Manutenção Militar. Aqueles “periquitos” (fardas verdes) da rendição vieram de Bissau, com volumoso carregamento de mantimentos e de suficiência, ou soberba, na exibição do direito ao seu exclusivo proveito. Coube a nós, mais velhos e “maçaricos”, (fardas amarelas), manter os turras à distância, para a chegada das suas pessoas e bagagens e tivemos de continuar a contê-los, a seco, para o desembarque dos comes e bebes, próprios para gente refeiçoar. Alguém bichanou a ideia e começamos a magicar expedientes de como lhes surripiar um garrafão de vinho e um bacalhau, para dizermos o adeus às armas de Cufar com uma “punheta” (do dito).

A ambiência da guerra é vivida como de outro mundo; mas aqueles “periquitos” da Companhia dos Cães pareciam vindos de outro, tal era a disciplina e método incutidos à desestiva das lanchas e ao tráfego das suas provisões de géneros alimentícios. Treinavam os cães e parecia-nos que os cães os treinavam a eles. O seu furriel vagomestre supervisionava todos e tudo, omnipresente, e enviava uma espécie de “guia de remessa” pelos grupos que faziam o tráfego para o estacionamento, que o seu primeiro-sargento conferia no destino, presencialmente. Os garrafões partidos ou esvaziados por consumo na viagem eram-nos entregues, com a maior displicência, qual tarefa menor, pela nossa missão de segurança, para os levar a vazadouro, à montureira que o estacionamento havia criado, na margem direita do Meterunga, exterior ao perímetro da sua segurança, povoada por um bando de flamingos, originários do rio Cumbijã, e por uma colónia de abutres jagudis, que a putrefacção do lixo atraíra para ali.

Tamanha vigilância conseguia conter as nossas intenções predadoras. Justificava-se a falta de iniciativa da acção específica fazendo circular entre nós o trocadilho de que tínhamos “os cães da Companhia” à perna. Nenhum mal é absoluto e havia muito tempo que a vida nos ensinara a reverter em nosso proveito a pequena parcela de bem que todo o mal contém. A situação não nos escapará à melhor análise, para o desencadear da acção dela consequente. Um tiro de aviso seria decisivo; mas com coisas sérias não se brinca, a despeito de dispostos a fazer um séria brincadeira.

Saiu um aviso, dirigido àquele vagomestre, a alertar que os turras viviam a cerca de 2 km, com super-metralhadoras, morteiros e canhões, que a morosidade do serviço estava a colocar-nos em grande risco, pelo que a segurança disponibilizava dois elementos em seu reforço e ajuda.

A invocação da proximidade dos turras era eficaz a impor o respeitinho, monopolizador das atenções. A solicitude sensibilizou o vagomestre, a contribuir para a sua fragilização. Um dos disponibilizados encheu um garrafão vazio no rio, outro pegou num garrafão partido e começou a dissimular um desvio, em sentido oposto à montureira; ele deu em cima dele, a farejar furto, afrouxou a vigilância, já afrouxada pela solicitude e pela atenção a eventuais sinais dos turras, enquanto aqueloutro trocava o garrafão de água por um garrafão de vinho, que levou, na maior das calmas, a esconder na montureira. O vigilante voltou, contou e recontou os garrafões. Tudo em conformidade, tudo num ápice, como de um golpe de mão se tratasse. O inconfundível cheiro de bacalhau salgado andava no ar, a provocar-nos as suas memórias gustativas, libertado duma caixa rebentada, com dizeres “graúdo” a encimar o lote do dito, rabos e badanas esparramados - e as operações da desestiva das lanchas aproximavam-se do fim. A sorte protege a audácia, escrevera Virgílio, na Eneida. Ante essa iminência, a segurança instruiu e destacou um outro do seu efectivo, para ajudar “a esfolar o rabo” e dar fim a esse trabalho, que o vigilante se apressou a agradecer, sem reparar no pormenor de ele se apresentar com o dólmen camuflado, a contrastar com a generalidade, em tronco nu.

Era sabido que os turras não gostavam de andar à luz do dia e, partindo da ideia que estariam a descansar das suas noitadas operacionais, um vigilante foi destacado para irritar os abutres jagudis, que reagiram furiosamente, com o seu grasnar fúnebre, contagiando os flamingos e toda a passarada ao redor entrou em alvoroço. A segurança correspondeu ao alarido com a emissão do alerta de perigo, toda a malta se colou ao chão - o respeitinho que faltava, decisivo, pelos turras. O último “maçarico” disponibilizado para o “tráfego e estiva” mergulhou junto ao lote das caixas de bacalhau e atracou-se à rompida, para surgir a rastejar, no sentido da montureira, tendo alegado ao vigilante que ia “pela arma”. No sítio certo, largou dois bacalhaus, que levava sob o dólmen camuflado, badanas entaladas na cintura e rabos entalados nos sovacos, razão bastante e suficiente para provocar o imediato levantamento do alerta de perigo; logo ele foi retomar a sua tarefa de ajuda, agora com a arma, mas em tronco nu, tal como os “periquitos”.

Algumas horas passadas, aqueles dois bacalhaus estavam desfiados, dessalgados por açúcar, feitos em salada com as últimas cebolas picadas, regados com os restos de azeite e comidos (e “bebidos”), com a discrição aconselhável, no ventre do poilão sagrado, novo posto de sentinelas avançadas, no segmento que nos cabia na defesa da nomadização em Cufar. Os turras e o Irã da mata de Cufar Nalu portaram-se condescendentes. A irreverência não negligenciara a prudência; para não se correr riscos, como alvos de participação e acção disciplinar, a prevenir “porradas” e, também, pela ausência de confiança mútua, a praxe não foi respeitada, ao não se convidar o proficiente vagomestre da Companhia de Caçadores 763 a partilhar da petiscada, na nossa despedida da nossa estada de 65 dias naquele palco no coração da guerra da Guiné.


5. Comentário de CV:

Caro Manuel Lomba, à boa maneira do Blogue (onde é que já ouvi isto?) temos que nos tratar por tu.
Estás apresentado à tertúlia, e logo com um texto muito curioso do teu livro, onde falas dos Lassas, Companhia do outro nosso camarada Mário Fitas. Podeis trocar impressões sobre o tempo de sobreposição, se é que deu tempo para vos conhecerdes. Este nosso camarada, assinando-se como Mário Vicente, escreveu um pequeno livro, também edição de autor, patrocinado pela Junta de Freguesia do Estoril, com o título "Pami Na Dondo A Guerrilheira", passado em Cufar, uma história, segundo o autor, ficção e realidade, de uma prisioneira. Para conheceres a história, que foi publicada na íntegra no nosso blogue, clica no título sublinhado.

Fiquei agradavelmente surpreendido pela tua vinda a minha casa para me entregares de mão um exemplar do teu livro "Guerra da Guiné: A Batalha de Cufar Nalu". Não chegaste a dizer-me como é que os possíveis interessados em adquiri-lo o poderão fazer.

Durante a nossa conversa apercebi-me que os anos não passaram por ti, estás em boa forma, tens uma excelente memória, muitas recordações do tempo da Guiné "à flor da pele" e escreves muito bem. Pelo que acabo de dizer, poderás ser uma mais-valia para o nosso Blogue, ainda mais se acrescentar que estiveste mais recentemente na Guiné-Bissau, em trabalho, onde tiveste oportunidade de estar com ex-combatentes do PAIGC.

Depois do que acabo de dizer sobre ti, não poderás escusar-te a falar-nos da guerra que viveste nos meados dos anos 60 em Cufar e Buruntuma e do que viste na Guiné-Bissau já independente e soberana. Disseste-me que muitas das tuas fotos desapareceram, mas incluíste algumas no teu livro, e outras terás que nos poderás facultar para publicação.

Termino a tua apresentação enviando um abraço de boas vindas em nome da tertúlia e dos editores.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10381: Tabanca Grande (360): Manuel Serôdio, mais um camarada da diáspora, ex-fur mil at inf, CCAÇ 1787/BCAÇ 1932 (Bula, Bissau, Empada, Buba, Quinhamel, 1967/68)

Guiné 63/74 - P10395: Notas de leitura (404): Desvendar alguns segredos do crioulo da Guiné-Bissau (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 10 de Julho de 2012:

Queridos amigos,
Qualquer passeata pelo Google à procura de gramáticas e dicionários da língua crioula é uma agradável surpresa. O crioulo e o seu primeiro dicionário foram objeto do estudo paciente daquele que terá sido o primeiro investigador da língua, nativo da Guiné, o admirável investigador padre Marcelino Marques de Barros, que foi Vigário-Mor da Guiné e morreu em Portugal, muito velhinho. Quanto mais oiço o crioulo mais orgulho tenho na nossa língua e nas dádivas de comunicação que ela permitiu ao longo dos séculos. Diga-se o que se disser, é aquele crioulo que dá os fundamentos à identidade guineense, é uma das matrizes do seu caráter enquanto país independente.

Um abraço do
Mário


Desvendar alguns segredos do crioulo da Guiné-Bissau

Beja Santos

O crioulo guineense é uma língua veicular, um meio de encontro de povos e de culturas. É uma língua simples, concreta mas com exuberâncias e algum fogo-de-artifício. Um padre missionário decidiu estudá-la e cedo apurou que o crioulo estava longe de ser uma língua portuguesa mal falada; igualmente apurou que havia uma enorme incapacidade de apreciar as derivações e as divergências fonéticas e lexicais com a língua portuguesa. O trabalho do padre Luigi Scantamburlo começa por procurar as raízes deste crioulo. Segundo o estudioso padre Marcelino Marques de Barros, “Os povos Mandingas, de Dandu, os Colincas de Geba, Farim e Casamansa, e alguns Beafadas, foram os primeiros a conhecer e a crioulizar a língua da gente branca, numa altura em que ninguém aprendia línguas, mas somente o vocabulário”.

Historicamente está demonstrado que os colonizadores portugueses começaram a fixar-se ao longo do rio de Farim durante o século XVI e Cacheu foi construído em 1587-1588, era um posto comercial para transações com o interior do país. Outro estudioso, Raymond Wood, observa que “Os colonizadores portugueses tinham como objetivo a europeização da cultura africana. Este objetivo falhou, contudo, e os portugueses é que foram absorvidos pela cultura e maneira de vida africanas… por volta de 1620, os portugueses eram quase todos indistinguíveis dos residentes africanos ao longo da Gâmbia”. É nestes ambientes que se vai formar e falar o crioulo, em Cacheu, Geba, Farim, Bafatá e Bissau. Há especificações do crioulo, pode considerar-se que o de Bissau e Bolama é o mais completo seguindo-se o de Cacheu e São Domingos e o de Bafatá e Geba. Obviamente que a massificação do crioulo, a partir da independência, falado nos meios de comunicação social está a gerar uma normalização e a perda de aspetos típicos da língua.

O crioulo é praticamente a língua nacional da Guiné. Sobre o fenómeno emitem-se vaticínios, há quem sugira que as novas gerações irão falar o português dentro de algumas décadas. Mas a opinião mais generalizada é a de que o crioulo numa perfeita continuidade, irá evoluindo e acomodar-se à língua portuguesa, e aderir às suas regras gramaticais. Recorde-se que não existe um sistema oficial de escrita da língua crioula. O contributo do padre missionário com este livro foi exatamente o de procurar ajudar a resolver situações anómalas de que a gramática e dicionários revelam. Daí o autor apresentar um esquema da fonologia e ortografia crioulas. O crioulo tem 22 consoantes, 2 semivogais e 9 vogais. O acento não tem regras fixas em alguns vocábulos, há vocábulos com acento na última sílaba, outros na primeira.

Sendo uma língua também com expressão gutural, a letra h funciona como uma nasal entre duas vogais (luha em crioulo, lua em português, luhada em crioulo, luar em português). Há sons típicos como tchikeru (chiqueiro) ou chicotia (chicotear), o que vem adoçar o fonema. Em suma, temos uma fonologia própria que é indispensável conhecer para falar corretamente o crioulo. Quanto à ortografia, o autor refere fonemas como o k que se deve ler c (a letra k adotada no alfabeto das outras línguas africanas.

Passando para a morfologia, o autor destaca que muitos dos elementos do crioulo derivam da estrutura do português, reduzindo a flexão das palavras e suprimindo os artigos, por exemplo. A estrutura sintática parece mais simples em comparação com o português (um exemplo dado pelo autor: nós encontramos alguém a chorar (português) que se diz em crioulo "nó contra cu alguin i na tchora").

Após apresentar estes aspetos elementares da fonologia e ortografia, da morfologia e da sintaxe, o autor socorre-se do conjunto de textos para comparar o português com o crioulo. É exatamente do texto Criason di Mundu (Criação do Mundo) que se destaca um exemplo retirado do génese bíblico: “No princípio a terra estava misturada com a água. Não havia forma nenhuma, tudo estava na escuridão e o espírito de Deus pairava sobre a água”, que se escreve em crioulo: “Na cunsada terá e staba tudu iacasidu cu iagu. I ka temba nin uma forma nin nada. Tudu i sta scuru, i Spíritu di Deus i ta ianda riba di iagu”.

E por fim temos um dicionário português-crioulo guineense que é apresentado como uma primeira ajuda para iniciação do estudo mais profundo do crioulo. Aparecem cerca de 4 mil vocábulos que o estudioso recolheu entre Maio de 1975 e Dezembro de 1976 com a ajuda de professores e amigos em Farim, Bubaque e Bafatá. Rapidamente nos é dado a perceber que a maioria do léxico do crioulo provém da língua portuguesa com alterações fonéticas (orlodju, relógio; montia, montear ou caçar). Há vocábulos adotados da língua portuguesa que têm um significado mais rico no crioulo (pecadur é pecador mas também pessoa; fidju é filho ou filha mas também fruto ou cria). Na formação dos vocábulos, o crioulo emprega sufixos e prefixos, tal como na língua portuguesa (sinhu é o diminutivo zinho; ndadi é dade, para indicar estado ou situação e dis é des, para indicar negação). Há vocábulos que são derivados das línguas africanas da Senegâmbia (badjuda é rapariga; bulanha é arrozal; nhinhi é rir). O crioulo tem plasticidade, acolhe novos vocábulos da língua portuguesa e adapta-os (elicópter é helicóptero; guerrilha é comum para as duas línguas; independénsia é independência). O autor volta a citar observações de Marcelino Marques de Barros quanto à pronúncia do crioulo, isto num trabalho de 1902: “A pronúncia pode dizer-se sem exceções é muito branda e muito suave, tanto ou mais que no italiano: menos dura nas consoantes e menos viva nas vogais; e tão fluente e tão dúctil que, na conversação animada mal se destaca uma sílaba de outra sílaba, o que muitas vezes também acontece nas próprias palavras”.

Posto isto, o autor abalança-se ao dicionário e lá encontramos as muitas semelhanças e as muitas dissemelhanças: abalo é trimidura; abelha é baguera; aborto é dizmantchu; achincalhar é fasi mangason; adobe é dubi; ágil é lestu; barbaridade é salvazaria; boquiaberto é impasmadu; capitão é capiton di barcu ou capiton di tropa. E ficamos por aqui, está criada uma área de interferência, confrades como o Cherno Baldé ou o Nelson Hebert podem entrar na conversa e espraiar ricos ensinamentos sobre esta língua que o português ali deixou e o guineense moldou. Porque esta língua, venha ou não um dia a plasmar-se no atual português, é produto de um encontro de séculos, é o nosso património comum.

Aproveito para recomendar uma visita ao Google, o padre Luigi Scantamburlo aparece com regularidade quando se procura “Dicionário Crioulo Guineense Português”, há lá edições da Colibri, partes de dicionário de que se pode fazer download, etc.

Boa viagem até ao nosso querido crioulo, onde xarope se escreve charopi, Xícara, chicra e Zanga, raiba.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10383: Notas de leitura (403): Relatório do Conselho Superior de Luta ao III Congresso do PAIGC (1977) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P10394: Os nossos médicos (43): Amaral Bernardo e Mário Bravo, em Guileje, ao tempo do cap Jorge Parracho, comandante da CCAÇ 3325 (1971)




Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto nº 26 > Bar/messe de oficiais:  convívio de oficiais de duas companhias, presidido pelo cap inf Parracho (ao fundo, ao centro)... O segundo à esquerda, parece-me o cap mil Abílio Delgado, o então mais jovem capitão do exército português (com 21 anos!, se não me engano)... À direita, em primeiro plano, o alf mil médico Amaral Bernardo... É possível que esta foto tinha sido tiradas em finais de 1971, na sequência da rendição da CCAÇ 3325 (Cobras de Guileje) pela  CCAÇ 3477 (Gringos de Guilejm, nov 71/dez 72). Tanto o Abílio como o Amaral são nossos grã-tabanqueiros.


Foto: © Jorge Parracho / AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [As fotos de Jorge Parracho foram disponibilizadas à ONG AD- Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau, em 2007, no âmbito do projecto de criação do Núcleo Museológico Memória de Guiledje. Não têm legendas, vêm apenas numeradas. Legendagem da responsabilidade de L.G,, que recorreu às informações já aqui publicadas pelo Orlando Silva sobre a CCAÇ 3325].



1. Comentário do nosso camarada [José Maria Ferreira do ] Amaral Bernardo [, foto atual, à direita,]  ao poste P10390:

Com emoção, reconheço-me na foto nº 26; sou o último à direita, o então alf mil médico Amaral Bernardo.

Só quem teve o "privilégio" de ir a Guileje nessa época, pode entender como era possível, no meio da maior adversidade, num minúsculo redil de arame farpado, perdido algures em África, com condições de sobrevivência no limite...haver alguém para quem a dignidade e a autoestima de todos os militares era uma preocupação prioritária. A porta de armas e a messe são só a parte aparente desse esforço. Quem conhece o então cap Parracho, sabe do que falo.

A última vez que nos encontramos foi num almoço em Quinhamel que teve a gentileza de oferecer.

Abraço rijo, Coronel Parracho

Amaral Bernardo, alf mil médico, CCS/BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72)

2. Comentário de Mário Bravo [, foto atual, à esquerda,] ao poste P10362


Amigos e Camaradas. Nas rápidas idas a Guileje, como médico e estacionado em Bedanda, tive o grato prazer de conhecer o Cap. Parracho. Mal vi a foto publicada no blogue, fácilmente o reconheci. Pouco tempo depois, foi suibstituido pelo Cap. Abílio Delgado com quem contactei durante mais tempo. Como recordação desses tempos, possuo dois crachás - da C.Caç- 3325 e da C.Caç.3477. Apesar das fracas condições de vida dessa época, gostei desses dias. !!

Mário Bravo (alf mil méd, CCAÇ 6, Bedanda,  e HM241, Bissau, 1971/72)

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Nota do editor:

Último poste da série > 1 de agosto de 2011 >  Guiné 63/74 - P8624: Os nossos médicos (42): O Teles de Araújo, o Morais Sarmento, o Horta e Vale e o Fernando Garcia (J. Pardete Ferreira / P. Santiago / M. Amaro / A. Paiva / J. Câmara / C. Cordeiro)

Guiné 63/74 - P10393: O PIFAS de saudosa memória (14): Garcez Costa e mais alguns camaradas do seu tempo (1970/72)


Guiné > Bissau > PFA - Programa das Forças Armadas > c. 1970/72 > Álbum de Garcez Costa > Foto nº 7 > O Zé Pifas, alcunha do Garcez Costa...



Guiné > Bissau > PFA - Programa das Forças Armadas > c. 1970/72 > Álbum de Garcez Costa > F
oto nº 1 > Da esquerda para a direita: Arlindo  de Carvalho e Camacho Costa [, Arlindo de Carvalho é uma figura pública: gestor e político, militante e dirigente do PSD,  foi presidente do conselho de administração da Radiodifusão Portuguese, e ministro da saúde, do XI e do XII Govermo Constitucional]



Guiné > Bissau > PFA - Programa das Forças Armadas > c. 1970/72  > Álbum de Garcez Costa > Foto nº 2 > O Garcez Costa e o João Paulo Diniz (ao volante)


Guiné > Bissau > PFA - Programa das Forças Armadas > c. 1970/72 > Álbum de Garcez Costa > Foto nº 4  > Da direita para a esquerda:  Garcez Costa e João Paulo Diniz, à porta das instalações do Comando-Chefe das Forças Armadas




Guiné > Bissau > PFA - Programa das Forças Armadas > c. 1970/72 > Álbum de Garcez Costa > Foto nº 3> O João Pauio Diniz



Guiné > Bissau > PFA - Programa das Forças Armadas > c. 1970/72 > Álbum de Garcez Costa > Foto nº 5  >  Maria Eugénia, a popular "senhora tenente", esposa do 1º sargento Silvério Dias



Guiné > Bissau > PFA - Programa das Forças Armadas > c. 1970/72 > Álbum de Garcez Costa > Foto nº 6 > António (Tony) Carvalho


Fotos: © Garcez Costa (2012). Todos os direitos reservados



1. Mensagem do nosso camarada Garcez Costa, com data de ontem [O Garcez, locutor do PIFAS, foi apresentado à nossa Tabanca Grande no poste P10366 (*); foto atual à direita]


No passado guineense já fui o Zé Garcez e Zé Pifas mas aqui sou o Garcez Costa pelo que determino e mando publicar que seja retirada a referência ao Tony Sacavém destas páginas, pois a mesma faz parte de uma certa dissimulação, de quem utiliza endereços do Messenger, a fim de evitar a invasão de trojans e outros afins. Também espero não estar a invadir a privacidade de cada qual ao remeter estas fotos de arquivo:


1ª - Arlindo de Carvalho / José Camacho Costa

2ª - Garcez Costa / João Paulo Diniz

3ª - João Paulo Diniz

4ª - João Paulo Diniz / Garcez Costa

5ª - Maria Eugénia (a senhora tenente)

6ª - António (Tony) Carvalho

7ª - Eu, já menos puto, de cara rapada mas cabelo um pouco crescido além do permitido, enfim, um miúdo mais homenzinho a ficar "apanhado pelo clima".


Em relação às tuas questões (*) talvez quem sabe numa tertúlia tudo fique melhor respondido. Posso adiantar que ainda não "matei o bicho", no sentido das imagens de som, visto ter instalado em casa um miniestúdio para gozo pessoal e protestos dos vizinhos. 


No regresso da Guiné era impossivel a minha integração nos quadros da Emissora Nacional, pois estava na lista negra, por motivos não alheios à minha vontade, e de ter sido até apelidado por uma alta patente de "subversivo".

Para a próxima seguem gravações audio.

Adeus e até ao meu regresso.

G.C.
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Nota do editor:


(*) Vd. último poste da série > 11 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10366: O PIFAS de saudosa memória (13): O ex-fur mil Garcez Costa, que trabalhou como radialista, ao lado do 1º srgt Silvério Dias, do José Camacho Costa e do João Paulo Diniz... É o nosso grã-tabanqueiro nº 577

domingo, 16 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10392: Blogues da nossa blogosfera (54): A Página do nosso camarada Carlos Silva "Guerra na Guiné 63/74" atingiu o milhão de visitas

1. Em mensagem de há momentos, o nosso camarada Carlos Silva (ex-Fur Mil Inf CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Jumbembem, 1969/71), deu-nos a notícia de que o seu blogue atingiu o milhão de visitas, facto que merece os nossos parabéns:

Caros Amigos
É com satisfação que vos informo que o Site entrou na "era dos milhões", pois hoje foi ultrapassado o milhão de visitas.
Devagar, devagarinho, mas a rapaziada vai colaborando.

Com um abraço amigo
Carlos Silva
16-09-2012



Mais informamos que a página do nosso camarada pode ser visitado sem medo em: http://www.carlosilva-guine.com/ e que está livre dos problemas que teve há umas semanas.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 9 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10355: Blogues da nossa blogosfera (53): Nova ligação para aceder ao Blogue Lapland-Key West (Tabanca da Lapónia) (José Belo)

Guiné 63/74 - P10391: (Ex)citações (195): Considero que todos os ex-combatentes do ultramar são Heróis (António Melo)

1. Mensagem do nosso camarada António Melo (ex-1.º Cabo Rec Inf, BCAÇ 2930, Catió e QG, Bissau, 1972/74), com data de hoje 16 de Setembro de 2012, a propósito do livro "Heróis do Ultramar", de autoria do jornalista Nuno Castro, divulgado no poste P10389:

Camaradas e amigos ex-combatentes
Aqui me encontro de novo a comentar algo com que estou em desacordo.

Ao ler hoje no nosso blog o pedido de divulgaçao do livro escrito por Nuno Castro, com o titulo heróis do ultramar que escrevo com letra minúscula de propósito porque me repugna o título e não penso lê-lo.

No pouco que li escrito pela sra Maria Teresa Almeida que pede a sua divulgação, e que conste que isto não é nada contra a senhora mas sim pelo que escreve, nem sequer pela sua divulgação pelo nosso blog, pois tudo o que se escreve merece ser divulgado, mas sim porque eu com a minha fraca opnião considero que todos os ex-combatentes do ultramar são HERÓIS e passo a explicar.

Para mim todos são heróis todos aqueles que saídos do seu ambiente familiar e levados para uma guerra de interesses e que não sabiam se voltariam a ver os seus entes queridos (pais, esposas, filhos, oitros familiares) como aconteceu com milhares dos nossos camaradas.

Todos aqueles que carregaram com seus camaradas às costas, uns mortos outros feridos; todos os que tiveram que cavar seus abrigos; os que carregaram água para nos banharmos; os que foram apanhar lenha para que se cozinhar; os que rotos e sujos tiveram que trabalhar a abrir as picadas para nos movimentarmos; os que carregaram material de guerra para nos defendermos, às vezes exaustos de dor pelo peso; os que dormiram em qualquer lado menos numa cama; os que molhados de barro e água, cansados e tinham que caminhar (recordo-me do título de um filme que é caminha ou rebenta); os que tinham que trabalhar fora dia e noite para que ao outro dia estivesse operacional um camião ou qualquer outro meio de transporte para sair; os que muitas vezes doentes tiveram que sair para qualquer missão e se calavam para serem solidários com os camaradas ou porque pensavam: - com o aspecto que tenho não me vão fazer prisioneiro, mas estava verdadeiramente e a sua honra e coragem era heróica; os que para salvar um camarada da morte, como os médicos e os enfermeiros, sem meios, tiveram que fazer intervenções cirúrgicas em qualquer lado no mato e muitas vezes correndo perigo da sua própria vida; os jovens oficiais e sargentos que tão jovens como nós, nos tinham que conduzir e muitas vezes corrigir; também os que se destacaram na frente de combate aos que se referem no citado livro, todos foram heróis por isso discordo do titulo que ressalta uns quantos.


2. Comentário de CV:

Caro camarada António.
Não pondo em causa a justeza da tua apreciação, apenas venho esclarecer-te do seguinte:

A senhora D. Maria Teresa Almeida, funcionária da Liga dos Combatentes e senhora que dedicou toda a sua vida ao serviço do combatentes do ultramar, e nos considera a todos de igual modo quer nos conheça quer não, apenas pediu para divulgar o livro já que nele eram entrevistados camaradas da nossa tertúlia. Eu, que editei o poste, é que pesquisei na internete a sinopse do livro assim como a sua capa. Se lesses bem verias lá a indicação da sua procedência, no caso o site da Fnac.

Não ires ler o livro é uma opção pessoal que se respeita, mas não pode ser baseada nos argumentos que referes. Julgo que as entrevistas são uma amostragem, que foram ouvidos aqueles militares como poderiam ter sido outros quaiquer, dos tais que tu muito bem referes e que como milhares e milhares de camaradas (eu e tu incluídos) serão verdadeiros HERÓIS anónimos que nunca constarão da História.

Muito obrigado pela tua opinião que, como vês, mereceu a nossa melhor atenção.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 12 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10371: (Ex)citações (194): O então cap mil Jorge Saraiva Parracho foi o meu primeiro comandante de companhia, a CCAÇ 462, em Chaves e em Ingoré, 1963/64 (José Marques Ferreira)

Guiné 63/74 - P10390: CCAÇ 3325, Cobras de Guileje (1971/73): Parte VIII: Mais fotos do álbum do cor inf ref Jorge Parracho, que integram hoje o Núcleo Museológico Memória de Guiledje


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto nº 16 > O com-chefe gen António de Spínola numa duas visitas que efetuou a Guileje em no espaço de um ano. Foto possivelmente tirada pelo nosso alf mil José Orlando Almeida e Silva.



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Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto nº  7 >   Bar/Messe de Oficiais, possivelmente em dia de festa de aniversário: da esquerda para a direita, cap inf Parracho, alf Rodrigues, alf Cristina 8cmdt do 5º Pel Art) e alf Cunha. Tudo indica que a foto tenha sido tirada pel alf mil José Orlando Almeida e Silva.



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto nº 21 >  O alf mil art Cristina, comandante do 5º Pel Art, possivelmente na sua festa de aniversário...



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto nº 21 >  Os "bartmen", ordenanças do bar/messe de oficiais "vestidos a rigor" (não sei que indumentária é aquela, mas seguramente pouco ou nada de acordo com o RDM))... Quem serão estes camaradas ? Onde viverão hoje ? Que comentário poderiam fazer a esta foto ? Que recordações guardam deste tempo de passagem por Guileje ?



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto nº  26 >   Bar/messe de oficiias: jantar (?) presidido pelo cap inf Parracho... Ao fundo, de pé, os ordenanças (afinal,. eram três)... Como era praticamente generalizado no TO da Guiné, as "três classes militares", oficiais, sargentos e praças,  não se misturavam nos aquartelamentos a nível de companhia e batalhão... Apesar das duras condições de vida no mato e dos riscos comuns a todos os militares, quer em subunidades de quadrícula quer de interervenção (incluindo as tropas especiais: páras, comandos e fizos)... Havia honrosas, saudáveis e surpreendentes exceções, mas creio que muito poucas... A camaragem que é hoje possível no nosso blogue, era impensável em teatro de guerra, e num exército como nosso... 



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto nº 27  >  Uma alegre confraternização entre oficiais... No topo da mesa, o cap inf Parracho.


Fotos: © Jorge Parracho / AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [As fotos de Jorge Parracho foram disponibilizadas à ONG AD- Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau, em 2007, no âmbito do projecto de criação do Núcleo Museológico Memória de Guiledje. Não têm legendas, vêm apenas numeradas. Legendagem da responsabilidade de L.G,, que recorreu às informações já aqui publicadas pelo Orlando Silva sobre a CCAÇ 3325].

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Nota do editor

Último poste da série > 12 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10370: CCAÇ 3325,Cobras de Guileje (1971/73): Parte VII: Mais fotos do álbum do cor inf ref Jorge Parracho, que integram hoje o Núcleo Museológico Memória de Guiledje

sábado, 15 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10389: Bibliografia de uma guerra (64): Heróis do Ultramar, de Nuno Castro (Maria Teresa Almeida)

1. Mensagem da nossa amiga tertuliana D. Teresa Almeida (Liga dos Combatentes) com data de 11 de Setembro de 2012:

Boa Tarde meu Estimado Combatente Dr. Luís Graça
Verifico agora que o Livro HERÓIS DO ULTRAMAR, que peço divulgação no blog, tem depoimentos escritos dos nossos Amigos e Combatentes na Guiné: José Eduardo Oliveira, Belmiro Tavares, do Sr. General Tomé Pinto e vários.

Um abraço muito amigo
Teresa Almeida


Sinopse*:

Entre 1961 e 1974, centenas de milhares de portugueses combateram em Angola, em Moçambique e na Guiné. Mas, como acontece em todos os conflitos, só alguns combatentes se destacaram. Heróis do Ultramar traça o retrato de um punhado de homens que se distinguiram nos campos de batalha da Guerra Colonial e que ainda hoje são recordados pela sua bravura extrema. Portugueses que, independentemente do curso da História, da política ditada pelo governo de Lisboa, das suas próprias convicções e até das suas personalidades por vezes polémicas, demonstraram uma extraordinária capacidade de liderança debaixo de fogo e uma determinação inabalável perante a adversidade e o terror que só uma guerra consegue despertar. Escrito a partir de vários testemunhos e das memórias dos combatentes, Heróis do Ultramar reúne alguns dos episódios mais ousados e dramáticos das três frentes do conflito português em África, na perspectiva dos seus principais protagonistas no terreno.

Autor: Nuno Castro
Editora: Oficina do Livro
Lançamento: Agosto de 2012
N.º páginas: 192
Encadernação: Capa mole

(*) Com a devida vénia a Site da FNAC
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 15 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10266: Bibliografia de uma guerra (63): Uma foto de 1972 que documenta a visita da Cilinha a Cufar (Armando Faria)