quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11912: In Memoriam (156): Manuel da Silva Marcelino Martins - N. 28 Outubro 1950 - † 07 Agosto 2013, Ex-Fur Mil Enf.º do HM 241 (Bissau, 1973/74) (José Martins)




1. Mensagem de hoje do nosso camarada José da Silva Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70) dando notícia do falecimento do seu próprio irmão, o nosso camarada e tertuliano Manuel da Silva Marcelino Martins, ex-Fur Mil Enf.º que prestou serviço no HM 241 de Bissau entre 1973 e 1974:




Cada vez, somos menos!

Manuel da Silva Marcelino Martins 
n. 28 de Outubro de 1950 - † 07 de Agosto de 2013 


Guiné 1973/74 - Entrada do Hospital Militar de Bissau - Furriel Miliciano Enfermeiro 

Fez parte da equipa médica e de enfermagem, organizada no HMBissau, para reforçar os militares de enfermagem das unidades envolvidas na força composta por mais de mil homens, que operaram na zona de Guidage entre 8 de Maio e 8 de Junho de 1973.

Foto mais actual 

A informação disponível neste momento é de que as exéquias serão celebradas na Igreja de Canidelo, Vila Nova de Gaia, onde já se encontra, pelas 10,30 horas de quinta-feira, dia 8. O corpo será cremado no cemitério da Prado do Repouso, no Porto.


2. Comentário do editor:

Já tive oportunidade de contactar o nosso camarada José Martins apresentando as minhas condolências pessoais e em nome da tertúlia. Infelizmente não me vai ser possível estar presente em Canidelo (Vila Nova de Gaia) amanhã às 10 horas da manhã para um abraço ao nosso camarada José que merece de nós toda a consideração.

Vou endereçar mensagem aos camaradas da tertúlia dando conhecimento da infausta notícia, sensibilizando também os camaradas do Grande Porto que tiverem oportunidade para estarem presentes nas cerimónias fúnebres do nosso camarada Manuel Martins.

À família nuclear do camarada Manuel Martins, esposa e filha principalmente, apresentamos os nossos sentidos pêsames.

Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 1 DE AGOSTO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11896: In Memoriam (155): A CCAÇ 3327 prestou sentida homenagem ao Soldado Manuel Veríssimo de Oliveira (José da Câmara)

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11911: Bom ou mau tempo na bolanha (24): Fala mentira (Tony Borié)

Vigésimo quarto episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66.



Já lá vivia há algum tempo. O seu trajecto era uma espécie de triângulo. Quando estava fora das suas tarefas, era a tabanca com casas cobertas de colmo, que existia perto do aquartelamento, a sede do Clube dos Balantas e a ponte sobre o rio Mansoa. Andava por ali, metia conversa com quem conhecia, nem sempre andava vestido com disciplina, a maior parte das vezes trazia na mão uma garrafita da “coca-cola”, com um líquido da cor da coca- cola, mas não era coca-cola, era alguma água e álcool roubado ao Pastilhas, e um pouco de vinho, às vezes café frio, só para lhe dar a cor, e o cigarro “três vintes”, quase sempre na boca. Desta vez o Cifra, quando tinha terminado as duas primeiras partes do triângulo, foi parado por pessoal militar, quando se dirigia para a terceira parte, que era a ponte sobre o rio Mansoa, o Cifra obedeceu e ficou-se por ali, sentando-se no chão.

Pela manhã, apareceu no aquartelamento pessoal militar e algum civil, vindo da capital da província em três jeeps. Os militares traziam camuflados novos e os galões luziam nos ombros, os civis traziam calças compridas e sapatos pretos reluzentes, camisa branca, própria de usar gravata, mas sem gravata, com as mangas arregaçadas e chapéu tropical, daqueles redondos, como se vêm nos filmes. Estiveram em conferência com o comandante do agrupamento a que o Cifra pertencia, e quando o Cifra se dirigia para a ponte e foi parado, todos estes personagens lá se encontravam, no corredor que existia ao lado da ponte, pois em cima da ponte estavam várias viaturas militares. Passados uns minutos começa um enorme tiroteio, gritos, algumas granadas foram lançadas para a água, mais tiros de G-3, mais granadas, mais gritos, mais tiros de pistola, mais gritos, mais rajadas de G-3, mais granadas a rebentarem na água, mais gritos, até que passado uns minutos tudo parou, passado outros tantos minutos a cena repetiu-se, e isto sucedeu umas tantas vezes, até que o fumo já começava a encobrir a ponte, nessa altura, as personagens retiram-se, ficando algumas viaturas, e começam a tirar fotos da ponte quase coberta de fumo.

O Cifra esperou por ali, apreciando toda aquela cena de longe, já com a garrafa da coca-cola vazia, que colocou no bolso, pois a referida garrafa era uma importante “peça de ferramenta”, que se usava por tempo indeterminado, pois as pessoas vendo a garrafa sempre pensavam que o Cifra e os seus amigos bebiam coca-cola, o que na verdade não era verdade. Mas vamos continuar com a história. Quando tudo isto acabou, regressaram com todo aquele aparato ao aquartelamento, despediram-se e foram de regresso à capital da província.

O Cifra, ao outro dia, veio a saber que toda aquela cena tinha sido uma encomenda do governo de Portugal, que foi gravada e fotografada, onde entraram alguns actores com a sua voz, para apresentarem em determinada reunião. Ao Cifra disseram que era em Nova Iorque, nas Nações Unidas, para justificar o injustificável! Passado uns dias, alguns africanos que tinham canoas e andavam um pouco longe pelo rio, pescando, perguntaram ao Cifra quando iria haver outra cena igual, pois nesse dia tinham carregado as canoas com peixe que andava a boiar no rio!
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Nota do editor

Último poste da série de 3 DE AGOSTO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11901: Bom ou mau tempo na bolanha (23): O "Mississippi" e o 11 de Setembro (Toni Borié)

Guiné 63/74 - P11910: (Ex)citações (224): Da caça, da guerra, dos copos e das nossas peripécias do dia a dia... (David Guimarães, ex-fur mil minas e armadilhas, CART 2716, Xitole, 1970/72)

1. Mensagem do David Guimarães, com data de 4 do corrente,  a propósito do poste P11903


Pois é,  Luís e mais amigos (e camaradas)... Tudo isto se passava no nosso tempo, na Guiné, e das pequenas histórias se fez a nossa história de guerra...

Estes ambientes onde todos andámos, os que lá estivemos, tinham destas coisas como a que contei. Aliás eram peripécias que no dia a dia aconteciam, umas mais giras outro menos, umas mais ou menos graciosas e outras nem tanto... A guerra, enfim, era um facto, parece que disso ninguém tem dúvidas. 

O pano de fundo de todo o combatente era a guerra, num local muito difícil de viver, a Guiné, território tão pequenino em que ela, a guerra,  se ouvia em toda a parte: quer dizer, e posso exagerar um pedaço mas não muito, sei que os obuses de Aldeia Formosa eram ouvidos bem longe, e inclusive os bombardeamentos de aviões em  zonas de intervenção do Com Chefe seriam ouvidos em toda (ou quase toda) a Guiné... 

A realidade eram as pequeninas coisas. Quando comecei a escrever neste blogue, e faz uns anitos [, em 2005,], nunca pensei em discutir em quem tinha ou não razão na guerra, Nunca vi senão operações por norma bem sucedidas, fora aquelas que o não eram e, enfim, passava-se à frente dos escritos. 

Assim leio agora reacções inflamadas,  que nós fizemos isto e aquilo, a força era esta e aquela... Fazia-se a operação tal em que se tomava conta da tabanca X do inimigo, incendiava-se e fazia-se um ronco... Depois voltava-se ao quartel e a ocupação não era feita... E Satecuta, Ponta do Inglês, disto e daquilo [, no setor L1,] ,  sempre pertenceram à tropa IN...

Também tomei boa nota de uma coisa, e muito entendem,  outros não... Sei, e por testemunhos de nossos caros camaradas,  que Mansambo, por exemplo, foi muito atacado quando se fazia a estrada para o Xitole. São testemunhos que existem aqui e são verdadeiros. No meu tempo, 1970/72,  quem me dera ter estado em Mansambo [, onde estava a CART 2714]. Quirafo, no meu tempo,  nunca aconteceu, aconteceu mal eu parti  (e parece que houve razões que facilitaram). O Xitole no meu tempo foi flagelado muitas vezes,  parece que a seguir não.... Será que temos explicações para isso ? Talvez que sim, mas isso pertence à história, só que continua mal contada e só passa a testemunho histórico passados 100 ou 200 anos. 

Porque é que a ponte Marechal Carmona estava partida? Bem,  existiam na altura três explicações: ou teriam sido eles, ou nós ou então foi um colapso da ponte. Como não interessava ao IN nem a nós dar cabo daquela via de comunicação essencial,  tanto para uns como para outros,  inclino-me para que tivesse sido um colapso. Mas que interessa isso ?  O facto é que ela estava
interrompida e está e pronto... 

Mas na vida fora de guerra também aconteciam peripécias como a caça às lebres em Cambesse, nos campos de mancarra e pela noite. Ou o  dia em que coloquei o comandante de pé a fazer a continência a um arrear de bandeira... Ou ainda o  episódio de eu e do Branquinho (António, do Pel Caç Nat 63, irmão do Alberto) a passear na zona atrás da pensão Chantra, em Bissau,  ambos à civil,  a chamarem-nos de furriéis... Que coisa, nós nem dali éramos, então sabiam quem nós éramos... 

Outra: A vez em que andava eu já com cerveja a mais na cabeça, no Xitole, debaixo de uma grande trovoada e deu um trovão maior . Os camaradas pararam e disseram: porra que isto não é trovoada! Disse eu:  vocês são malucos,  já estão com medo dos trovões... 

Pois é,  eles tinham razão: uma faisca caiu junto a um poste de iluminação onde havia o fio condutor ligado ao "explosor" e foi rebentar um fornilho feito logo a seguir ao arame farpado para o lado da pista de helicópteros... E tinha sido mesmo, que grande buraco!... E, afinal,  a azelhice tinha sido minha: coloquei um fio subterrâneo debaixo de um poste elétrico!

Tudo isto são peripécias... giras da guerra, mesmo que avulsas, sem individualizar. E  creio que são coisas que caem bem num blogue como o nosso... 

Estas são as centenas de peripécias que guardo em mente e retenho. Claro que os episódios de guerra foram evidentes mas que nunca sejam ficcionados e haja rigor e conte-se um pedaço de cada asneirita que íamos fazendo. 

Foi no meu tempo e teu,  Luis,  que o Furriel Henriques (tu mesmo) chamou assassino de guerra ao 2º Comandante [do BART 2917] depois daquela operação maldita que conheces,,, Viste,  correste um risco mas ao menos disseste o nome próprio do major.... Gostei de ver novamente essa a história que contei há uns anos  e que ainda não consigo nem retirar uma virgula, Foi mesmo assim...

Um abraço,  e ainda gostava de saber o que me levou um dia, no fim da comissão,  até á ponte do Geba em Bafatá onde eu estava de serviço... Acordei pelas três da manhã e um soltado disse-me: "Furriel, está melhor ?"... Que grande bebedeira eu tinha apanhado na cidade...

David Guimarães



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Subsetor de Xitole > Carta de Xitole (1955) (Escala 1/50 mil) > posição relativa de Xitole e de Cambesse (ou Cambéssé), na estrada que conduzia ao Saltinho. Em Cambesse havia um cruzamento para os rápidos do Cusselinta (zona paradisíaca do Rio Corubal, interdita em tempo de guerra... Cusselinta e não "Cussilinta"...).

Infografia: Blogue Luis Graça & Camaradas da Guiné (2013)
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Nota do editor:

Último poste da série > 8 dce julho de 20l3 > Guiné 63/74 - P11817: (Ex)citações (223): As lágrimas amargas do brig António de Spínola e do cor Hélio Felgas... "Presenciei-as no fim da Op Lança Afiada"... (António Azevedo Rodrigues, ex-1º cabo, Cmd Agrup 2957, Bafatá, 1968/70)... Ou não terá sido antes, na sequência do desastre do Rio Corubal, em Cheche, na retirada de Madina do Boé, em 6/2/1969 (Op Mabecos Bravios) ? No dia seguinte, Spínola deslocou-se a Nova Lamego, onde falou, às 12h00, aos sobreviventes da Op Mabecos Bravios...

Guiné 63/74 - P11909: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (16): Memórias de Guileje ao tempo da CART 1613 (1967/68), por José Neto (1929-2007) - Parte IV : Os azarados sargentos...


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) 1967 > Fotos do álbum de José Neto > Guileje 2 > Foto  nº 15 > Acácia em flor


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) 1967 > Fotos do álbum de José Neto > Guileje 2 > Foto  nº 14 > Aspeto parcial da tabanca e quartel


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) 1967 > Fotos do álbum de José Neto > Guileje 2 > Foto  nº 28 > Espigueiros


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) 1967 > Fotos do álbum de José Neto > Guileje 2 > Foto nº 29 > Espigueiros



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) 1967 > Fotos do álbum de José Neto > Guileje 2 > Foto  nº 30 > Espigueiros



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) 1967 > Fotos do álbum de José Neto > Guileje 2 > Foto nº 31 > Espigueiros


Fotos: © José Neto (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: L.G.]


1. Continuação da republicação das memórias do primeiro-sargento da Companhia de Artilharia nº 1613 (Guileje, 1967/68), o então 2º Sargento José Afonso da Silva Neto (, falecido em 2007, com o posto de capitão reformado) (*).

O Zé Neto,. como era conhecido entre nós,  é um dos primeiros 50 camaradas a ingressar no nosso blogue. Hoje somos 12 vezes mais, a maior parte dos tabanqueiros não o conheceram nem têm acesso à sua colaboração, dispersa, incluindo as valiosas fotos do seu álbum . Daí também esta nova edição dos seus postes sobre Guileje, no ano em que celebramos o 9º aniversário. Por outr lado, fez 40 anos, a 22 de maio de 1973, que retirámos de Guileje.

2. Memórias de Guileje, ao tempo da CART 1613, por José Neto (1929-2007) > Parte IV

O abrigo subterrâneo que nós, os sargentos, mais utilizávamos,  situava-se a meia dúzia de passos do coberto da messe, dado que parecia que os turras esperavam que acabássemos de jantar para abrir fogo [vd. planta do quartel de Guileje, 1966].

O acesso ao amplo salão enterrado era feito através dum pequeno poço para onde saltavam os que não tinham posto de combate definido e dali para o dito salão. A abertura era estreita e, se havia muita afluência, tornava-se necessário esperar vez para entrar, o que não deixava de provocar alguma confusão. Foi numa dessas confusões que levei com um furriel em cima do meu pé esquerdo. Andei mais de um mês com a perna engessada.

Doutra vez, nós ouvimos a orquestra a fazer o seu barulho para os lados do Mejo [a noroeste de Guileje] e as nossas transmissões entraram em acção a fazer as perguntas habituais à companhia de lá. Ao mesmo tempo eles faziam o mesmo para nós.

No reconhecimento veio a verificar-se que o ataque foi para despachar e chefe ouvir, porque os impactos eram bem visíveis num descampado a meio caminho entre as duas localidades. Não havia possibilidades de engano porque os quartéis estavam toda a noite iluminados.

Um dos ataques deu-se quando já lá se encontrava a CCAÇ 2317 que, em princípio, nos ia substituir. Nós, como é natural, transmitimos aos novatos a experiência acumulada de como safar o pêlo quando havia festivais. Só que o manual não previa a situação caricata que se passou.

Desencadeou-se a saraivada de morteiros e,  quando já todos estávamos recolhidos no abrigo, ouvimos alguém gritar:
─ Acudem-me!!! Salvem-me!!!.

Um furriel que estava mais perto da entrada do abrigo conseguiu entabular conversa com o aflito e disse-nos que era o 1º sargento da companhia nova [CCAÇ 2317] que foi apanhado na retrete quando o ataque começou e que não conseguia sair de lá.

Convém esclarecer que a latrina era daquelas em que o utilizador se põe de cócoras e defeca a poucos centímetros dos calcanhares. Para o sossegar,  dissemos-lhe que o cubículo estava protegido por um tecto de cibos e paredes fortes e que portanto não tivesse receio. O homem lá se aquietou, mas no nosso espírito subsistia a dúvida de qual seria o motivo que o impedia de dar uma pequena corrida e saltar para junto de nós. Quando a coisa acabou e as luzes se reacenderam,  fomos encontrar o 1º Sargento Martins preso por um pé no sifão da latrina.

Ao primeiro estrondo ergueu-se e, com a atrapalhação, escorregou no serviço que estava a fazer e calçou a cagadeira. Não pudemos conter as gargalhadas, pois o senhor continuava a tentar tirar o pé e não conseguia. Com calma, acabou por ser fácil. Bastou flectir a perna, ajoelhar-se e o calcanhar escorregou no bem lubrificado tubo do sifão.

Um dos efeitos mais aborrecidos das flagelações, a partir da altura em que eles tinham a pontaria mais afinada, era a destruição do forno da padaria. Ficávamos a pão duro, ou sem ele, uns três ou quatro dias até que se reconstruísse. Nunca foi atingido directamente, mas qualquer granada que rebentasse nas redondezas provocava o efeito de sopro suficiente para mandar com a frágil abóbada abaixo.

Durante uma das reconstruções eu estava por ali a dar os meus palpites quando o Soldado Fernandes se aproximou e me disse:
─ Estes gajos não percebem nada disto.
─ Então percebe você?
─ Eu já da primeira vez disse que punha isso em pé e só se lhe acertassem em cima é que desabava, mas eles é que acham que são os mestres ─ respondeu o Fernandes, cujos registos indicavam a profissão de estucador.
─ Ora bem, então você vai dizer o que entende que se deve fazer ─ ripostei.
─ Assim não. O meu sargento manda-os sair daqui, eu escolho um servente e enquanto eu estiver a trabalhar, esses (os pedreiros) não põem aqui o cu. Já tentei ensiná-los, mas correram comigo. Agora também não quero que eles aprendam a técnica, está bem?
─ Vamos a isso ─ Concordei.

Isto foi por volta das oito da manhã e à hora do almoço estava o forno erguido. O Fernandes pediu para que lhe levassem lá a refeição, pois queria guardar a obra dos olhares dos espiões, dado que só da parte da tarde é que rebocava com barro o exterior da cúpula. Antes do jantar a lenha já ardia dentro do novo forno e nunca mais desabou… Segredos do ofício.

Para concluir a descrição desta faceta da luta, as flagelações, resta-me acrescentar que durante o ano que estivemos em Guilege tivemos duas baixas mortais: uma criança, atingida pelos estilhaços duma granada; e um adulto, irmão do Régulo,  que, possivelmente, foi atingido pelo nosso fogo. Na investigação que foi feita, em que tomou parte o próprio irmão, conclui-se que ele, a vítima, devia estar no espigueiro, fora do perímetro fortificado, quando estalou o ataque e, ao querer saltar o talude, foi baleado por um dos elementos da Autometralhadora Fox que guarnecia aquele flanco.

Entre o pessoal militar e militarizado (os milícias) fui eu o mais castigado pelas flagelações, pois, como já referi, andei uns tempos com a perna engessada.

(Continua)
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Guiné 63/74 - P11908: Memória dos lugares (243): Núcleo Museológico Memória de Guileje - Parte II (Carlos Afeitos, ex-cooperante, 2008/2012)


Foto nº 11


Foto nº 12


Foto nº 13


Foto nº 14


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > c. 2011 > Memorial à CCAV 8350 (1972/1974) e ao alf mil Lourenço, morto por acidente em 5/3/1973. De seu nome completo Victor Paulo Vasconcelos Lourenço, era natural de Torre de Moncorvo, está sepultado na Caparica. Foi uma das 9 baixas mortais da companhia também por "Piratas de Guileje" e um dos 75 alferes que perdeu a vida no CTIG.



Fotos; © Carlos Afeitos (2013). Todos os direitos reservados


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico 
do Carlos Afeitos, professor de matemática, cooperante na Guiné-Bissau, durante 4 anos (2008-2012), e nosso grã-tabanqueiro, com o nº 606 [, foto à à direita ], que nos mandou mais de uma meia centenas de fotos recentes de Guilejem, em finais de maio passado.

Nos seus tempos livres, ele foi, por volta de 2011, duas vezes a Guileje. Foi depois do golpe de Estado de 12 de abril de 2012 viver para  Londres. Um abraço para ele, se nos estiver a  ler.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11907: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (72): O reencontro de dois camaradas da CART 1659 (Gadamael e Ganturé, 1967/68), Joaquim Fernandes Alves e Augusto Varandas Casimiro


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gadamael Porto > 2011 > Vestígos da CART 1659 (1967/68)... Foto do álbum de Carlos Afeitos, professor, cooperante (2008/12) (*)... Foram os "Zorbas" que construiram o cais de acostagem, em Gadamael-Porto.

Foto: © Carlos Afeitos (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]

1. O primeiro representante da CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68), o Joaquim Fernandes Alves, ex-fur mil, residente em Vila Nova de Gaia, acaba de entrar para a nossa Tabanca Grande, com o nº 625.

Ele acabou por aparecer no nosso blogue, à procura de camaradad da companhia, que gostaria de voltar a reunir. Tem os nomes de todos mas não os contactos. Na sequência de um primeiro poste, alguém apareceu  a escreber em nome do ex-fur mil vaguemestre, Augusto Varandas Casimiro.

Afonso Silva
24/6/2013, 21:37

Boa noite

Pertenci também à CART 1659 (OS ZORBAS) e solicito o contacto do meu camarada Joaquim F. Alves que mora em Olival-Gaia

Obrigado
Augusto Varandas Casimiro


Escrevia ao Joaquim, F. Alves no passado dia 30/7, o seguinte, a propósito deste seu camarada e do seu contacto:

Joaquim: Vamos ver se o teu camarada Casimiro nos lê... Não tenho a certeza de quem é o email... Pode ser de um filho ou genro (Afonso Silva)... Manda as tuas fotos que é para eu te apresentar à Tabanca Grande. Assim chegas a mais malta... Um abraço. Luis

E logo a seguir, responde-nos a filha do Casimiro... Como se vê o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca.. é Grande!...

Gisa Casimiro
30/07

Boa noite a todos,

Efectivamente este é um email da filha (Adalgisa) e quem despoletou o contacto foi o meu sogro (Afonso Silva).

O meu pai teve conhecimento do vosso blog por via do meu sogro, que lhe mostrou algumas das fotografias, mas é uma pessoa completamente desligada destas tecnologias, não tem computador e a melhor forma de o contactar/falar será mesmo por telefone/telemóvel.

O contacto fixo: 227138096, muitas vezes está pelo quintal, mas se ligar ele depois devolve. Ou em alternativa, se me enviar um contacto telefónico,  ele concerteza retornará.

Qualquer outra coisa podem falar comigo! Ficamos a aguardar novas,

Adalgisa Casimiro.


2. Comentário de L.G.:

Saúdo a Gisa Casimiro!... As filhas (e os filhos) dos nossos camaradas têm-nos dado exemplos extraordinários de amor filial... Já não é o primeiro caso: são elas (até mais do que eles...) a procurar-nos, a contactar-nos, em nome do pai...

Eu fico extremamemte sensibilizado e emocionado com estas manifestações de carinho filial e estes exemplos de ajuda intergeracional!... Sei que o Augusto Casimiro pode passar a ter,  na sua filha, uma boa e leal intermediária, fazendo a ponte com o nosso blogue. Espero, por outro lado, que o o Joaquim F. Alves já tenha contactado o Augusto Casimiro por telefone. Eu estou de férias, ainda não tive oportunidade de falar ao telefone  com a Gisa.

De qualquer modo quero que a Gisa saiba que as filhas dos nossos camaradas... nossas filhas são!... Muita saúde e longa vida para o teu querido pai. E vai-nos dando notícias dele e dos demais "zorbas"...

Um abraço, para os três, do Luís Graça, fundador deste blogue, e que neste momento está de férias... Sem esquecer o Carlos Afeitos, antigo cooperante na Guiné-Bissau (2008/12), e que deve estar agora em Londres (ou em Portugal, de férias)... Foi através de um foto dele, de 2011, que chegámos a estes dois "zorbas"...

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Nota do editor:

Último poste da série > 30 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11779: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (71): as pinturas do Xitole, recentemente redescobertas pelo Francisco Silva e pelo José Teixeira, são do meu amigo e vizinho, o pintor de Espinho, Armando Ribeiro que pertenceu à CCAÇ 818 (Bissau, Xitole e Saltinho, 1965/67) (David Guimarães, CART 2716, Xitole, 1970/72)

Guiné 63/74 - P11906: Notas de leitura (508): "Das Guerras Africanas à Diàspora Americana", organização de Adelino Cabral e Eduardo Mayone Dias (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Abril de 2013:

Queridos amigos,
Para mim é uma completa surpresa, o depoimento destes luso-americanos que combateram na Guiné.
Mas o livro vale a pena ser lido na íntegra, há para ali histórias espantosas, é bem provável que o nosso confrade Carlos Cordeiro ande à cata destas lembranças, lá pelos Açores, afinal temos que tomar em conta os que se dispersaram, sobretudo pelas europas e américas.
Maravilha confrontar este antes e depois, no antes aparecem sorridentes com um grande amigo, depois a cantar ou no escritório, talvez em Massachusetts ou na Califórnia.
Temos de os desencantar e trazê-los para o blogue, é trabalho para o Nelson Herbert e para o João Crisóstomo, entre outros.

Um abraço do
Mário


Das guerras africanas à diáspora americana

Beja Santos

Eduardo Mayone Dias é um conceituado investigador universitário há muito radicado nos EUA, portugueses e Califórnia é nele um tema central de estudo, a diáspora, os portugueses na guerra do Vietname, a literatura portuguesa na Califórnia, etc., são áreas sacramentais da sua pesquisa. Adalino Cabral tem feito parceria com Eduardo Mayone Dias nos estudos que falam de guerra onde intervieram os portugueses. Eles explicam na introdução o móbil do trabalho: “Pretendíamos obter um relato pessoal da experiência de campanha. Fizemos o possível para obter testemunhos espontâneos com a sua natural oralidade. E o discurso recolhido foi transcrito com a maior exatidão. Respeitámos a irrupção do “portinglês” na língua de origem. A escolha dos nossos entrevistados foi quase aleatória. Catorze entrevistas foram gravadas em Massachusetts e três na Califórnia. Os dezassete que tão generosamente se prontificaram a participar neste empreendimento refletem bem o arco-íris regional da nossa emigração nos EUA: onze açorianos, três madeirenses e três continentais. Oito dos nossos entrevistados foram mobilizados para Angola, seis para Moçambique e três para a Guiné. Quase todos entraram em combate. Mesmo os que atuaram na retaguarda eram suscetíveis de serem atacados perto dos postos ou nas suas deslocações. Destes testemunhos deduz-se uma considerável ausência de preocupação do jovem soldado ante o que o esperava ou o que dele se esperava. Passivo, aceita o que lhe impõem, não questionando a validade daquela guerra. Era “um dever que a gente tinha”. As cenas de combate são dadas com relativa moderação, numa forte economia de pormenor. Nas emboscadas enfrentava-se um inimigo invisível. Trocavam-se uns tiros e o inimigo desaparecia. A religião – a crença mais do que a participação em cerimónias religiosas – representou um importante papel na manutenção do moral de alguns dos nossos entrevistados. O intenso culto micaelense ao Senhor Santo Cristo dos Milagres motivou um soldado e a sua família a que se deslocassem, depois do regresso daquele, ao templo de Ponta Delgada com o fim de pagar duas promessas de 500 escudos cada. A fascinação por África, tão comum nos portugueses que por lá passaram, transparecem vários dos depoimentos. A recordação da dureza da vida em estado de guerra adoça-se aqui e além pela ironia e quase mesmo pela caricatura”. O livro organizado por Adalino Cabral e Eduardo Mayone Dias intitula-se “Das guerras africanas à diáspora americana”, Peregrinação Publications, 36 Brayton Avenue, Rumford, RI 02916, USA.

David de Sousa Barros nasceu em Terra do Raposo, Santo Espírito, Santa Maria. Trabalhou na taberna e dedicou-se à lavoura. Em 1971 emigrou para os EUA, trabalhou na construção civil em Hudson, Massachusetts. Fez a recruta nos Arrifes, em Abril de 1968, daqui seguiu para Santa Margarida, levava um terço para rezar e um crucifixo no pescoço. Foram diretos para Cacine, fala dos patrulhamentos e das emboscadas. Recorda os seus mortos, os momentos de perigo, lembra que Cacine tinha uma loja de um português, mercearia e taberna, era ali que ia beber cerveja. Nunca esqueceu as crianças a pedir comida: “Pediam comida e a gente dava no quartel. A gente quando acabava de comer dava comida. Às vezes a gente não gostava dela mas para eles aquilo era um luxo. À hora de comer eles estavam sempre lá. Acontece que a gente comia e eles comiam”.

Fernando Amaral Dutra nasceu em Madalena, Ilha do Pico. Esteve dois anos num seminário menor, frequentou o ensino liceal e iniciou o seu serviço militar aos 18 anos, foi para a Guiné, era voluntário. Fez o curso de mecânico eletricista. Foi para a Guiné em 1964. O primeiro destino foi Nova Lamego. Foi ferido três vezes. “A primeira vez foi um estilhaço de morteiro, era fogo para cá e fogo para lá, eles de um lado do rio, do Farim, e nós do outro lado. E de repente cai uma granada de morteiro no meio das nossas tropas. Oito ficámos todos feridos. Foi bom, foi muita sorte, nas pernas, nos braços e um pedaço de aço na barriga. Estive pouco tempo no hospital”. Embora fosse do quadro permanente, num aceitou a guerra de África, esteve mesmo preparado para passar para o Senegal. Queria vir para a América. Também comandou tropa africana, guardou recordações dos Balantas, eram obedientes. “Os melhores para nós eram os Fulas mas os mais guerrilheiros, aqueles em quem tínhamos mais confiança, eram os Balantas. Naquele tempo, diz ele, o nosso armamento era muito superior, e havia os T-6 e os Fiat e o napalm. Nunca esqueceu do pânico do capelão durante uma operação, a rezar o Padre-Nosso até meio e passando logo para Ave-Maria: “Trocava o Padre-Nosso com Ave-Maria e Ave-Maria com o Padre-Nosso. Oh, coitado, ele tremia com o texto na mão, tremia para todos os lados. E elas caíam. Caíam que era uma coisa séria”.

Jaime Soares nasceu em Santa Maria, trabalhou na lavoura, dedicou-se à pesca, num barco do seu pai, que também era carpinteiro. Emigrou em 1973 e fixou-se em Massachusetts. Assentou praça nos Arrifes e seguiu para Santa Margarida. Foi para o Cacheu. Recorda as patrulhas a dois pelotões. Diz ter comido muita carne de gazela. Recorda os seus mortos, um amigo seu que perdeu um pé e o seu dia inesquecível foi 29 de Julho de 1969. “Um soldado amigo meu, de Santa Maria, morreu numa emboscada. Um soldado de São Miguel pegou nele às costas. A gente tínhamos que atravessar uma área clara, o soldado deixou um morto no chão. Quando quisemos voltar para trás já não pudemos. Viemos embora. Sempre debaixo de fogo. Não pudemos recuperar o corpo. Era o dia da festa da Senhora do Bom Despacho da minha freguesia”. Foi o Jaime Soares da Costa quem cumpriu a promessa: “Fiz uma promessa ao Santo Cristo de São Miguel. A minha mãe prometeu que se eu escapasse da guerra que dava 500 escudos ao Santo Cristo. Eu prometi também 500 escudos. Então quando eu cheguei a São Miguel a gente fomos ao Santos Cristo e demos o dinheiro”.

O livro é profusamente ilustrado. É tocante ver cada um deles aparecer abraçado ao seu melhor amigo, alguns já desaparecidos. Aparece gente a passar a roupa a ferro, ao volante de viaturas, na guerra e depois na América, alguns deles em festas.

A todos os inquiridos os autores perguntaram se valeu a pena. Muitos deles responderam que se tratou de um fútil desperdício, que houve muita vida destroçada e há muita recriminação ao modo como a descolonização se processou. Para que conste.
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Nota do editor

Último poste da série de 2 DE AGOSTO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11899: Notas de leitura (507): Memórias de Carlos Domingos Gomes (Cadogo Pai) (Mário Beja Santos)

domingo, 4 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11905: Tabanca Grande (406): Joaquim Fernandes Alves, ex-Fur Mil da CART 1659 - "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967-68)



1. Mensagem do nosso camarada, e novo tertuliano, Joaquim Fernandes Alves* (ex-Fur Mil da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68), com data de 30 de Julho de 2013:

Camarigo Luís Graça
Como prometi junto envio as respectivas fotos, assim como o emblema da "ZORBA" Junto também, tirado da "in história da Unidade", um relato real sobre a construção do cais.

Mais uma vez, os meus dados pessoais:
Joaquim Fernandes Alves
Ex-Furriel Mil Artª.  da Cart 1659
1967-1968
ZA: Gadamael Porto e Ganturé
Local de residência: Olival, Vila Nova de Gaia

Joaquim F. Alves




Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gadamael Porto > 2011 > "Cais 3". Foto do álbum de Carlos Afeitos, professor, cooperante (2008/12).

Foto: © Carlos Afeitos (2013). Todos os direitos reservados.


2. Comentário do editor:

Caro camarada Joaquim Alves,

Bem-vindo à Tabanca Grande onde és o tertuliano n.º 625.

Uma vez que conversaste com o editor-chefe Luís Graça, e a mensagem que mandaste é muito sucinta, não sabemos se é tua intenção colaborar activamente no nosso Blogue.

Como saberás,  és o primeiro representante da "Zorba" (CART 1659) na nossa tertúlia. Ficas assim com a responsabilidade de contar a história da tua Unidade, socorrendo-te das memórias que ainda retenhas da tua passagem por aquelas terras vermelhas da Guiné. Não esqueças a palavra de "Homem Grande".

Sei que tens como missão encontrar camaradas que não vês há muito, pelo que ficam aqui algumas da tuas palavras escritas em mensagem de 7 de Junho passado:

Camarada Luís Graça 

Descobri o vosso blogue por mero acaso e já lá vai algum tempo.  Depois de algumas hesitações hoje mesmo decidi pôr a minha questão à prova. 

O meu nome é Joaquim Fernandes Alves. Sou ex-furriel mil. da CART 1659 - Zorba, que fez o IAO no RAC, Oeiras.  Partimos de Lisboa a 11 de Janeiro de 1967, e não regressámos todos, como é óbvio, em 10 de Novembro de 1968. 

A nossa área de intervenção foi Gadamael Porto / Ganturé.  Desembarcámos no meio daquele grande lamaçal do rio que penso ser, o Cachima, onde depois, durante o nosso tempo, construímos um cais. 

Após esta pequena apresentação, e tendo a lista de todos os elementos que faziam parte da Companhia, o que pretendo é saber se há possibilidades de obter as moradas de cada um, pelo menos nessa altura da formação da Companhia. 

Um abraço do camarada 
J.Alves
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3. Como na devida altura te elucidou o Luís, não podemos satisfazer o teu pedido pelas razões por ele aduzidas. Fica no entanto, de novo aqui e agora, o teu apelo na hipótese de algum dos teus camaradas, ou alguém por eles, te leia e te possa contactar por nosso intermédio.

Resta-me deixar-te, em nome dos editores e da tertúlia, um abraço de boas-vindas. Fico ao teu dispor para qualquer esclarecimento adicional.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

20 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11738: Em busca de... (225): Os "Zorbas", camaradas da minha CART 1659 (Gadamael e Ganturé, 1967/68) (Joaquim F. Alves, ex-fur mil, residente em Olival, Vila Nova de Gaia)
e
30 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11887: Em busca de... (226): Augusto Varandas Casimiro, ex-fur mil vaguemestre, CART 1659, Os Zorbas, Gadamael e Canturé, 1967/68 (Joaquim F. Alves, residente em Olival, Vila Nova de Gaia)

Último poste da série de 18 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11852: Tabanca Grande (405): Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518, Galomaro, 1973/74 (Tertuliano n.º 624)

Guiné 63/74 - P11904: O pós-Guiné (Veríssimo Ferreira) (1): A minha cicatriz, resultante do corte do cordão umbilical, está cheio de cotão

1. Em mensagem do dia 31 de Julho de 2013, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67) enviou-nos o primeiro episódio do seu Pós-Guiné, que esperamos nos traga ironia e humor, mesmo tratando um assunto muito sério como se adivinha. 


O PÓS-GUINÉ 65/67

1 - A MINHA CICATRIZ, RESULTANTE DO CORTE DO CORDÃO UMBILICAL, ESTÁ CHEIA DE COTÃO

E ao pisar o cais de desembarque, plagiei e gritei: 
- Mulheres... cheguei. Regressei à minha terra e para o anterior emprego de funcionário público. 

E na viagem nocturna em comboio correio, (que demorava seis horas para chegar ao destino), devidamente acompanhado pela minha mulher, que me fora esperar, aconteceu mais uma cena de solidariedade linda que conto, porque digna de se saber.

Então lá vai:

O revisor, que me afirmara ter um filho na Guiné, quando ao picar dos bilhetes da 3ª classe (bancos em madeira) apercebeu-se que eu havia chegado da guerra e convidou-me para mudar para a carruagem da 1ª, qu'até cama tinha e comprometeu-se a acordar-nos quando estivéssemos próximo da Ponte de Sôr (como se eu fosse dormir numa cama daquelas e embalado que seria pelo solavanquear... também resultado, das rodas quadradas do TGV d'então.

Surpreso fiquei pela amabilidade, fui... ai nanas !!! Quem não iria?

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E assim se passou um ano, naquele ramerrame, com as sem jeito, mas costumadas conversas de café.
No fundo, começava a sentir a saudade dos "meus" da 1422.
E que falta me fazia, aquela adrenalina anterior... a alegria do "acordar" e de continuar vivo...
E que falta me estava a fazer aquela camaradagem que houvera tido e que sabemos quão boa e saudável.

Numa tentativa de alterar qualquer coisa que ainda nem sabia bem o quê, consegui emprego na capital do Império, onde amenizei saudades conversando com a rapaziada amiga e com quem convivera a maior parte dos meus melhores 40 meses da minha vida.

Aqui, Restauradores em Lisboa, acabei por me envolver de novo com tudo o que se ia passando, por lá longe. Primeiro, pelos contactos que começaram a acontecer com os ex-soldados Domingues, Soares e Lavado, com o ex-1º Cabo Fernando Nascimento da minha Secção de Morteiros 60, com o ex-fur. mil. Raul Durão (almoçámos todos várias vezes), com os ex-alf. mil's Macedo e Simões, mensalmente, com o Gualter, com o Formigo (estes dois também ex-furriéis) e mais ainda com alguns camaradas doutras companhias chegantes e com quem ia acabando por me actualizar.

E foi assim que soube do desaparecimento físico, na estrada do Pelundo para Jol*, dos nossos homens (sete ao todo), que desarmados, foram cruel e barbaramente assassinados a sangue frio...
E foi assim que tomei conhecimento da operação a Conakry, que tanto me enche, ainda hoje, de orgulho.

E foi assim, que soube da morte do Amílcar Cabral, cuja causa ainda hoje não esclarecida, embora a versão à época, seja bem diferente das que, de quando em vez por aí circulam.

Elucidado fui mais tarde, do porquê de nos chamarem "Brancos" e refiro-me particularmente aos felupes e futa-fulas com quem convivi no K3, pois que e quanto aos outros chamavam russos, americanos, suecos, e por aí fora. Compreendia finalmente, que aquela generosidade, apenas queria dizer que nos consideravam a raça superior.

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Nem tudo era fácil e lembro-me até daquele dia a que fui assistir à estreia do filme Apocalipse Now, ali no cinema Monumental, e embora posteriormente já o tenha visto... revisto e revisto, na altura saí da sala, enervado, tremente e passados que foram os primeiros dez minutos projectados.

Apanhado pelo clima? Quem disse?

Mas a alegria também aconteceu, como naquela vez que recebi uma carta do Batalhão de Caçadores 1 e pensei cheio de fé que me estariam a convidar de novo a integrar as fileiras (era normal então voltar ao combate, até que fizéssemos 45 anos de idade), mas não... apenas me informavam que havia sido promovido a 2º Sargento.

Como atrás refiro, ia entendendo que tudo estava a mudar para pior para as NT, que agora combatiam ainda e se possível mais aguerridamente, um IN porém mais municiado, com a ajuda de países que ainda agora alguns põem nos píncaros, esquecendo que foram estes os causadores de muitas vidas desfeitas.

Posteriormente, não me foi fácil também, aceitar o acolhimento em Portugal, dalguns exilados chefes inimigos, principescamente recebidos e alguns até desdenhando publicamente das nossas tropas, quando em solo nacional estavam a beneficiar de benesses que deveriam antes, ser concedidas àquelas etnias guineenses que combateram do nosso lado.

Como Portugueses que foram, eram e continuariam provavelmente a gostar de ser, deveriam ter sido melhor tratados.

(Continua)
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OBS:
(*) Jol - o mesmo que Jolmete
Negritos e itálicos da responsabilidade do editor
Emblema da CCAÇ 1422 da coleçção do nosso camarada Carlos Coutinho
O editor
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Nota do editor

Vd. série anterior de Veríssimo Ferreira: "Os melhores 40 meses da minha vida

Guiné 63/74 - P11903: Estórias do Xitole (David Guimarães, ex-fur mil, CART 2716, 1970/72) (4): Um tiro numa cabra de mato... que deu direito a um prémio Governador Geral


1. Mais uma estória do David J. Guimarães, passada no Xitole, nos primeiros tempos da comissão da CART 2716 (1970/1972), e que andava perdida na I Série do nosso blogue:


Um dia, novinhos ainda, piras, com as fardinhas novinhas em folha, aí vamos nós. Sai o 1º Grupo de Combate. Patrulha em volta do aquartelamento para os lados de Seco Braima, o que era normal: acampamento IN....

Era bem de manhã. E a certa altura, zás, ouve-se o matraquear de espingardas automáticas:
Que coisa!... Oh diabo, estão a enrolar…

Os morteiros fixos lá fazem fogo de barragem. Novamente os experientes homens de armas pesadas. E que eficientes! Como eles faziam aqueles morteiros dispar tão amiúde e certeiro... Cessar fogo, tudo silêncio à volta, fora os abutres que logo foram ver o que acontecia.
─  Que aconteceu? E agora... Estará alguém ferido? O que aconteceu? O que vamos fazer?

Nenhum deles disse nada... mas voltaram depressa. E nós nem percebíamos ainda porque que é que eles voltaram assim tão rapidamente... Bem, lá regressa, da patrulha, o 1º Grupo de Combate. Ofegantes, e agora dentro do aquartelamento esboçando sorrisos, todos pretos... Que coisa, sempre que havias tiros ficava-se todo preto!
─  Que aconteceu ???

Lá vem a explicação: o grupo estava a instalar-se, para um tempinho em posição de emboscada. Uma cabra de mato passa em frente... Um soldado diz para o Alferes muito baixinho:
─  Alferes, cabra de mato!
─ Atira-lhe ─  responde o Alferes ─  Há rico tiro, pum, pum!!!

E não é que o IN estava lá emboscado, do outro lado da cabra? Seriam poucos, mas ao sentirem-se detectados deram uns tiros e fugiram, pois que entretanto também começaram a cair bem perto as granadas do morteiro do aquartelamento...
─  Manga de cu pequenino…

Olha que sorte, a santa cabra do mato!... Foi ela, afinal, o nosso anjo da guarda. O Correia voltou com o seu grupo de combate inteiro e o soldado que detectou a cabra... herói. Mais tarde foi-lhe proposto e concedido o prémio Governador Geral. Todos achámos muito bem, veio à metrópole. Se não fora assim, nunca iria lá de férias, porque não tinha dinheiro para isso...

Ninguém soube se a cabra morreu ou não, mas os homens, depois de contados, estavam todos... E os abutres também voltaram ao aquartelamento e continuaram a comer o que restava da vaca morta nesse dia...

A guerra tinha disto também, e ainda bem... Como entendê-la? Só um combatente... Este era o nosso tempo de recreio de guerra dentro da guerra.

David J. Guimarães
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Nota do editor:

Último poste da série > 12 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11556: Estórias do Xitole (David Guimarães, ex-fur mil, CART 2716, 1970/72) (3): Era do caraças o paludismo

Guiné 63/74 - P11902: Parabéns a você (606): José Nunes, ex-1.º Cabo Mec Electricista do BENG 447 (Guiné, 1968/70) e Rui Alexandrino Ferreira, TCor Ref das CCAÇ 1420 e CCAÇ 18 (Guiné, 1965/67 e 1970/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 31 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11889: Parabéns a você (605): Manuel Reis, ex-Alf Mil Cav da CCAV 8350 (Guiné, 1972/74)

sábado, 3 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11901: Bom ou mau tempo na bolanha (23): O "Mississippi" e o 11 de Setembro (Tony Borié)

Vigésimo terceiro episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66.




A Multinacional onde o Tony exercia a sua profissão, vendia o seu produto para algumas agências do governo americano, como tal, tinha um contrato onde lhe era imposto que aceitasse alguns presos de delito comum de uma cadeia estatal que havia nas redondezas. Seguindo algumas normas de segurança, vinha um carro celular com os presos pela manhã, recolhendo-os à tarde, eram homens que estavam em final de cumprir as penas a que estavam sujeitos e se encontravam numa fase de análise, era quase como uma experiência de começo de vida, pois assim ambientavam-se melhor a conviver com a normal população quando acabassem de cumprir as suas penas, e fossem colocados em total liberdade.

O “Mississippi”, era um desses homens a quem a sorte não protegeu lá muito enquanto jovem. Trabalhou com o Tony nos primeiros tempos quando começou na multinacional, mais tarde, dado o seu bom comportamento, ficou como empregado, portanto, colega de trabalho do Tony. Era afro-americano e quase como todos os afro-americanos, naquele tempo, tinham orgulho em dizer que os seus bisavós tinham vindo de África, do litoral deste continente, quem sabe se da região de Bissau, Mansoa, Mansabá, Olossato, ou até mesmo Bissorã, portanto naquele tempo quando chegaram ao continente americano foram escravos, alguns até explicavam ao pormenor que o seu bisavô, foi escravo na plantação com o nome tal, e foi vendido duas vezes, pois era muito valente e todos o queriam ter naquelas plantações de tabaco, de algodão, de cana de açúcar ou de outra qualquer coisa, no estado do Mississippi. Ele próprio tinha algumas marcas, no peito, no braço e uma outra ao lado, um pouco abaixo da orelha esquerda, com que os pais o marcaram quando nasceu, ele orgulhava-se de mostrar essas marcas, eram desenhos na pele, parecidos com os que o Tony via frequentemente na Guiné, quando o seu nome de guerra era Cifra, e estava ao serviço do exército de Portugal.

Nasceu e cresceu, numas terras, por onde passava um comboio, ao lado do rio Mississippi, que os seus pais não sabiam a quem pertenciam, simplesmente nasceu lá, com mais três irmãos e seis irmãs. Aprendeu a nadar no rio Mississippi e não tinha receio de cobras, nem de “alligatores”, uma espécie de crocodilos, pelo contrário, caçava-os o comia-os.


Um dia, seguindo o exemplo de muitos jovens na sua situação, pois era normal naquela época, e querendo fugir da fome e da miséria que levava, entra, juntamente com outro irmão mais velho, com a roupa que traziam vestida, pela calada da noite, numa carruagem dum comboio de mercadorias que por lá passava. Vieram parar ao Estado de Nova Jersey, mas muitos iam parar ao estado de Illinois, principalmente à cidade de Chicago. Outros ficavam em Detroit, no Estado de Michigan, ou outros com indústria, onde lhes diziam que havia muito trabalho. Juntou-se com o irmão, à comunidade afro-americana, que vivia nos subúrbios da cidade, tiveram algumas dificuldades no princípio, com a adaptação a um estado mais industrializado. Habituado a viver numa aldeia isolada na beira do rio, não aguentou o impacto com a população de uma grande cidade, sem dar por nada, estava inserido no crime, na droga e na prostituição. Muitas vezes dizia ao Tony que o mais difícil foi assaltar o primeiro estabelecimento de bebidas, depois tudo foi normal, até a polícia o encontrar por mais do que uma vez no local e na hora errados. Foi preso e cumpriu o seu tempo de punição, agora era um homem livre.

Era alto, com corpo de um atleta e forca física um pouco fora do normal, mas o coração era de uma boa pessoa e obediente, quase de uma criança, compreendia o bem e o mal, pedia desculpa, se sem querer insultava alguém, talvez pelo tempo que passou na prisão, com receio de que alguém o acusasse de novo, às vezes até era obediente demais.

Este homem passou a ser amigo do Tony, todos os dias se viam, pois trabalhavam juntos. Nas festas, que por vezes havia em casa do Tony, o “Mississippi” estava presente com a família e o mesmo acontecia, quando qualquer evento se realizava em sua casa.

Certo dia, pela manhã, o Tony liderava um projecto de instalação de um novo sistema para extrair o ar quente dos fornos de fundição de metais, no telhado de determinado edifício, na multinacional. Ao norte, do lado de lá do rio, lá longe, para os lados de Nova Iorque, surge uma enorme nuvem de fumo, logo o avisaram pelo rádio de comunicação interna, que o Tony sempre trazia consigo, para saírem daquela zona de trabalho e regressar imediatamente ao local onde era normal se reunirem pela manhã.

Nesse local, ficaram a saber de todos os ataques que o solo americano estava a sofrer nesse momento. O “Mississippi” olha para o Tony, abraça-o e vendo o Tony limpando algumas lágrimas, diz, com os seus olhos bondosos:
- Tony, the war begins in the world today, everything will be different from now on!

Tomando a liberdade de traduzir, ele dizia mais ou menos isto:
- Tony, a guerra no mundo, começa hoje, vai ser tudo diferente a partir de agora!

Os seus bisavós eram escravos, tinham vindo da costa de África, ele sabia do que falava.

Tony Borie,
Julho de 2013.
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Nota do editor

Último poste da série de30 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11885: Bom ou mau tempo na bolanha (22): O típico emigrante do século passado (Toni Borié)

Guiné 63/74 - P11900: Memória dos lugares (242): Núcleo Museológico Memória de Guileje - Parte I (Carlos Afeitos, ex-cooperante, 2008/2012)



Foto nº 1 > Placa indciativa do antigo heliporto


Fotio nº 2 > O trajeto do quartel para o heliporto, feito com garrafas de cerveja


Foto nº 3 > Uma garrafa de cerveja



Foto nº 4 > O antigo heliporto


Foto nº 5 > Placa indicativa do local onde existiu um dos espaldões de artilharia


Foto nº 6 >  Resto de caixa de munições, com orifícios de estilhaços



 Foto nº 7 >  Caixas, metálicas, de munições de artiharia


Foto nº 8 > Granadas de obus 14 ou peça de artilharia 11.4



Foto nº 9 > "Posto de socorros"


Foto nº 10 > Brasão dos "Cobras", CCAÇ 3325 (1971/72)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico memória de Guiledje > c. 2011



Fotos (e legendas);  © Carlos Afeitos (2013). Todos os direitos reservados


1. Mensagem de 30 de maio último, do Carlos Afeitos, professor de matemática, cooperante na Guiné-Bissau, durante 4 anos (2008-2012), e nosso grã-tabanqueiro, com o nº 606 [, foto à esquerda], que nos mandou mais de uma meia centenas de fotos recentes de Guileje. Vamos fazer uma seleção desse material.

Bom dia,  caro Luís,

Nos meus devaneios encontrei estas fotos de Guilege, já vi muitas postadas no blog e não sei se já tem algumas parecidas a estas ou não. Durante o tempo que estive na Guiné passei por Guilege duas vezes. A primeira vez foi a caminho de Cantanhez, região lindíssima e que vale a pena visitar. A segunda vez foi quando convidei a minha irmã para ir conhecer a Guiné em 2 semanas. Fiz questão de levá-la um bocado ao sul e ficar a conhecer um bocado mais da história que une os dois países.

Pelas conversas que tive com um homem a viver e a recuperar o antigo aquartelamento, está previsto edificar um complexo que irá servir de escola profissional no sítio da pista de aterragem de helicópteros, relembro que isto segundo as informações.

O senhor serviu de guia e explicou-nos como estava ordenado o quartel e como viviam os militares que estavam destacados para lá. O museu relembra muito bem da vida e da luta de ambas as partes envolvidas no conflito. À entrada podemos ver uma anti-aérea e um Unimog, lado a lado. Fizemos uma visita à pista de aterragem exactamente pelo caminho feito de garrafas e depois mais umas voltas pelos pontos assinalados. 

Na minha segunda visita também tive uma conversa muito amigável com uma pessoa que estava a viver na tabanca no interior do quartel aquando da retirada. Ele contou-me alguns dos momentos complicados que passou e recordou com alguma angústia e nostalgia. As memórias ainda fazem chorar...

Uma das coisas curiosas que eu reparei é do carinho que a população tinha por alguns militares portugueses, pois é uma das coisas que todos falam é nos nomes deles. Depois de tantos anos ainda os recordam e sabem exactamente quem são, a graduação que tinham e de onde eram.

Como as fotos são algumas, vou enviar em 3 mails diferentes, pode fazer o que quiser com elas. Algumas não estão legendadas pois não me lembro muito bem.

Com os melhores cumprimentos,


Carlos Afeitos

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Nota do editor:

Último poste da série > 31 de julho de 2013 >  Guiné 63/74 - P11894: Memória dos lugares (241): Surpresas que só a Feira da Ladra oferece (Mário Beja Santos)