1. Mensagem do nosso camarada Domingos Gonçalves, (ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68) com data de 10 de Março de 2015:
Braga,10/03/2015
Prezado Luís Graça:
Votos de boa saúde.
Depois, tomo a liberdade de enviar mais um pequeno
têxto, que poderá ser publicado.
Um abraço amigo do
Domingos Gonçalves
MEMÓRIAS DA CCAÇ 1546 (1967)
REPORTAGENS DA ÉPOCA
9 - Golpe de mão à casa de mato de Mampatás
Binta, 13/03/1967
De tarde, por volta das quatro horas, partiu rumo a Guidage uma coluna de viaturas, transportando dois grupos de combate da minha Companhia, sendo um, o meu, a milícia de Binta, e os “Roncos” de Farim. Lentamente, sob um sol maldito, envoltas em nuvens de pó, as viaturas levaram-nos até cerca de dois quilómetros de Guidage. Aí, na margem da estrada, ficámos à espera que a noite chegasse, enquanto as viaturas, escoltadas por um pelotão de morteiros, regressavam a Farim.
A população de Guidage não podia saber, antes do anoitecer, da nossa passagem pela localidade. Quando anoiteceu iniciámos, a pé, a marcha para Guidage.
No destacamento, comeu-se alguma coisa, planeou-se a operação, interrogou-se o guia e, pouco depois das 23 horas, iniciou-se a marcha para o objectivo, constituído pela casa de mato de Mampatás, situada a sul de Jeribâ, dentro do nosso território, a cerca de 200 metros da fronteira com o Senegal.
Dia 14
A marcha para o objectivo fez-se sem problemas, sempre pelo território senegalês,
Cerca das cinco horas e meia, a vanguarda da nossa força atingiu o objectivo.
Abriu-se violento fogo sobre o mesmo e queimou-se tudo quanto havia para queimar. Capturaram-se três armas, entre as quais uma FBP portuguesa, bastantes munições, granadas de mão, fardas, livros de instrução do PAIGC, etc.
Estou convencido de que não se destruiu Mampatás, mas apenas uma pequena parte do acampamento inimigo, na periferia do mesmo.
Houve mortos confirmados, sem contar com duas mulheres, que terão morrido queimadas.
Por certo que havia lá, também, crianças (?) inocentes, que não têm nada a ver com isto, e que terão morrido queimadas.
É complicado, e difícil viver no meio desta guerra, onde muitas vezes a guerrilha se mistura com a população, ou se confunde com ela.
A retirada do local iniciou-se no meio de alguma confusão, como acontece quase sempre nestas situações.
A cerca de 500 metros esperava-nos uma emboscada dos gajos, que entretanto se tinham reorganizado.
Eles fizeram algumas rajadas de armas ligeiras sobre a nossa força, mas sem consequências graves.
Quando já estávamos a uma distância razoável do objectivo, ele começou a ser bombardeado pela artilharia, a partir de Bigene.
No ataque sofremos dois feridos, entre os quais o guia, um prisioneiro, que levou um tiro nas costas, e um Cabo da Companhia 1546.
O regresso a Guidage fez-se, também, por território do Senegal.
Pelas onze horas atingimos Guidage, onde se deslocaram dois helicópteros, para transportar os feridos para Bissau.
Depois iniciou-se a viagem de regresso a Binta.
Pelas oito horas da noite a artilharia de Bigene começou a bombardear a área de Sambuiá.
À noite, os furriéis, e bastantes soldados, andaram pelos domínios de Baco. Foi uma noite de bebedeiras.
No fim de uma operação como a de hoje, talvez não haja nada melhor do que uma bebedeira para retemperar as forças, e esquecer o que se viu, e o que se ajudou a fazer. Directamente, os homens da Companhia até não fizeram nada de especial.
O grupo de assalto era, como quase sempre, constituído por tropa nativa. Eles são duros, aguerridos e destemidos. Mas, às vezes, também são demasiado selvagens.
Eles actuam sob as nossas ordens. Cumprem os objectivos que lhes traçamos. Vão onde os mandamos. E quando se chega a um local como o de Mampatás, ou qualquer outro do género, apenas há duas hipóteses: ou se incendeia, se mata, e se foge, ou se cai, e se fica no local, na trajectória dos tiros que o inimigo dispara, ou de qualquer estilhaço de granada, que o acaso faça explodir perto de nós.
Mas, os comandos nativos também são motivados, muitas vezes, pela ideia de saque.
Eles transportam com eles tudo quanto conseguem apanhar. O interesse nos bens abandonados pelos guerrilheiros mortos, ou em fuga, não deixa de ser para eles, e quase sempre, uma forte motivação.
Trata-se, geralmente, de despojos de guerra sem grande interesse material, pelo menos para nós, europeus. Mas para esta gente, habituada a um nível de vida muito baixo, sem padrões de consumo mínimos, as coisas mais insignificantes revestem-se de importância significativa.
Apressadamente, no fim do assalto aos acampamentos, ou bases terroristas, eles passam revista ao campo de batalha e transportam tudo o que podem.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 10 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14239: Memórias da CCAÇ 1546 (1967) - Reportagens da Época (Domingos Gonçalves) (8): Guidaje 1967 - 10 de Fevereiro, ataque a Guidaje
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 14 de março de 2015
Guiné 63/74 - P14360: Parabéns a você (874): Leopoldo Correia, ex-Fur Mil Art da CART 564 (Guiné, 1963/65)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 12 de Março de 2015 > Guiné 63/74 - P14350: Parabéns a você (873): Manuel Luís R. Sousa, Sargento Ajudante Ref, ex-Soldado At Inf do BCAÇ 4512 (Guiné, 1972/74)
Nota do editor
Último poste da série de 12 de Março de 2015 > Guiné 63/74 - P14350: Parabéns a você (873): Manuel Luís R. Sousa, Sargento Ajudante Ref, ex-Soldado At Inf do BCAÇ 4512 (Guiné, 1972/74)
sexta-feira, 13 de março de 2015
Guiné 63/74 - P14359: Notas de leitura (691): “As Mulheres e a Guerra Colonial”, por Sofia Branco, A Esfera dos Livros, 2015 (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Março de 2015:
Queridos amigos,
Os elogios são merecidos, é uma reportagem em grande ecrã, relevam-se os principais tipos de protagonistas, nada nem ninguém fica descriminado nestas mulheres que têm pano de fundo histórico, valores, princípios e afetos.
Há casos visados que conhecemos bem, outros não tanto. Mulheres marcadas pela educação, pelo quadro ideológico, pela extrema dedicação, do princípio ao fim, e muitas delas ainda hoje vivem em estado de guerra, assediadas pelo fantasma do stresse pós-traumático.
E, obviamente, vistos no espelho, estamos todos lá, em todas as fases da guerra. Não sei o que são livros indispensáveis, mas este é verdadeiramente indispensável na marcha dos corações e dos agradecimentos pela ternura recebida ou vivida.
Um abraço do
Mário
As Mulheres e a Guerra Colonial, por Sofia Branco
Beja Santos
Tanto quanto me é dado saber, é a mais longa e detalhada viagem ao comportamento das mulheres durante a guerra, degrau a degrau, e numa rotação prismática onde vemos apoiantes entusiásticas, mães, mulheres e namoradas resignadas que esperam vestidas de preto os seu entes queridos, mulheres de oposição, mulheres que acompanham militares, enfermeiras paraquedistas, em “As Mulheres e a Guerra Colonial”, por Sofia Branco, A Esfera dos Livros, 2015, estão inúmeras formas de representar, de pontuar, valores, sentimentos, até o próprio termómetro com que se media o entusiasmo e depois o desfalecimento, na hora do regresso com a descolonização.
Veja-se o Traje do Ultramar em Glória do Ribatejo: “Quando os homens partem para a tropa, mães, mulheres ou namoradas passam a vestir roupa mais escura, enquanto pagam promessas a Nossa Senhora da Glória, que segue para as províncias ultramarinas em formato de postal para guardar na algibeira da farda militar. Isenta de serviço militar até à segunda metade do século XIX, Glória do Ribatejo adota um conjunto de rituais relacionados com a guerra. Os rapazes estreiam fato na inspeção militar, levam lenços oferecidos pelas namoradas, seguem cantando e tocando concertina, na camioneta, até Salvaterra de Magos. As glorianas preparam os comes com que vão recebê-los na volta”.
Temos aqui o MNF – Movimento Nacional Feminino em corpo inteiro, com ideologia e também sentida dádiva, exemplos de abnegação não faltavam.
Há as mulheres que abraçaram a clandestinidade e que protestam contra a guerra colonial e as que partem para o exílio com os seus companheiros, permanecerão em Paris, Londres, Lovaina, Lund, entre tantos outros destinos. E há as mulheres que ficam em franca oposição, manifestando-se no catolicismo de vanguarda, como Conceição Moita. As mulheres dos militares sempre com o credo na boca, os maridos partem para missão e às vezes não haverá regresso. Há até aquelas, como Dulcinea que acompanham o marido em Bissorã, experimentou uma flagelação brutal. Em Junho de 74 ela regressa a Lisboa, Henrique regressa a Bissorã mais um mês, despedida dolorosa: “Despede-se à pressa, com tristeza, de Inhatna Biofa, o rapaz órfão da guerra, de origem Balanta, que o acompanhara sempre, para todo o lado. Começara por trabalhar para a tropa em troca de comida, mas era tão especial que Henrique tomara-o por seu mainato. Acompanhava-o para todo o lado e era tratado como membro de família.
Henrique deixa-lhe o relógio Citizen, com cronómetro e de ponteiros brilhantes que se iluminam de noite”.
Há a história de Deonilde e Manuel Joaquim, dois anos de separação, ele regressa em 1967 e traz um órfão de guerra: “Quando o paquete Uíge chega ao Cais da Rocha do Conde de Óbidos, o menino vem fardado, segurando uma bandeira nacional”. A mãe de Manuel Joaquim embevece-se com a criança e apresenta às vizinhas a prenda que o seu Manel lhe trouxera da Guiné. Manuel e Deonilde casam e o menino será educado por a família, terá duas irmãs brancas. O menino, de nome Adilan, voltou à Guiné em 1978. Ficou desiludido, era já um “africano com educação europeia”. E há Natércia e Fernando Salgueiro Maia. Em Maio de 1973, quando Salgueiro Maia está pronto para regressar à metrópole, tem que partir numa emergência, Guidage está cercada: “Natércia fica 18 dias sem notícias de Fernando. Há chegada, Fernando repara como Natércia envelhecera”.
Há as filhas dos militares de carreira, acompanhando a guerra do princípio ao fim. Há as mulheres que pressentem o desastre, caso da Manuela, mulher de Fernando José, aviador. O General Fernando Neto bate à porta da casa de Manuela em 7 de Março de 1974, ela está a ajudar a filha mais velha nos trabalhos da escola. O sexto sentido feminino dá-lhe para perceber tudo, o General abraça-a e comunica que Fernando José fora abatido por um tiro direto, durante uma operação em Tenente Valadim, na província do Niassa.
Para muitas mulheres, a guerra não acabou com a descolonização, ficam os feridos, os deficientes e há o stresse pós-traumático, Sofia Branco é bem-sucedida a percorrer todas as tonalidades da palheta, ao sintetizar contextos históricos, usou de extrema correção não descriminando quaisquer protagonistas, as madrinhas de guerra, as que trataram deles quando voltaram, mutilados e traumatizados. E a autora tem razão quando nos diz: “Cada uma à sua maneira, as protagonistas deste livro foram pioneiras, desbravando caminhos outrora vedados às mulheres. Mães, irmãs, filhas, amantes, companheiras, amigas, muitas mulheres viveram a guerra colonial como se também elas tivessem sido mobilizadas. Depois da guerra, também para elas nada foi como dantes”.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 10 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14343: Notas de leitura (690): "Neste mar é sempre inverno", romance de Tibério Paradela (edição de autor, 2014) (Parte I): a epopeia da pesca do bacalhau à linha, em plena guerra colonial (Luís Graça)
Queridos amigos,
Os elogios são merecidos, é uma reportagem em grande ecrã, relevam-se os principais tipos de protagonistas, nada nem ninguém fica descriminado nestas mulheres que têm pano de fundo histórico, valores, princípios e afetos.
Há casos visados que conhecemos bem, outros não tanto. Mulheres marcadas pela educação, pelo quadro ideológico, pela extrema dedicação, do princípio ao fim, e muitas delas ainda hoje vivem em estado de guerra, assediadas pelo fantasma do stresse pós-traumático.
E, obviamente, vistos no espelho, estamos todos lá, em todas as fases da guerra. Não sei o que são livros indispensáveis, mas este é verdadeiramente indispensável na marcha dos corações e dos agradecimentos pela ternura recebida ou vivida.
Um abraço do
Mário
As Mulheres e a Guerra Colonial, por Sofia Branco
Beja Santos
Tanto quanto me é dado saber, é a mais longa e detalhada viagem ao comportamento das mulheres durante a guerra, degrau a degrau, e numa rotação prismática onde vemos apoiantes entusiásticas, mães, mulheres e namoradas resignadas que esperam vestidas de preto os seu entes queridos, mulheres de oposição, mulheres que acompanham militares, enfermeiras paraquedistas, em “As Mulheres e a Guerra Colonial”, por Sofia Branco, A Esfera dos Livros, 2015, estão inúmeras formas de representar, de pontuar, valores, sentimentos, até o próprio termómetro com que se media o entusiasmo e depois o desfalecimento, na hora do regresso com a descolonização.
Veja-se o Traje do Ultramar em Glória do Ribatejo: “Quando os homens partem para a tropa, mães, mulheres ou namoradas passam a vestir roupa mais escura, enquanto pagam promessas a Nossa Senhora da Glória, que segue para as províncias ultramarinas em formato de postal para guardar na algibeira da farda militar. Isenta de serviço militar até à segunda metade do século XIX, Glória do Ribatejo adota um conjunto de rituais relacionados com a guerra. Os rapazes estreiam fato na inspeção militar, levam lenços oferecidos pelas namoradas, seguem cantando e tocando concertina, na camioneta, até Salvaterra de Magos. As glorianas preparam os comes com que vão recebê-los na volta”.
Temos aqui o MNF – Movimento Nacional Feminino em corpo inteiro, com ideologia e também sentida dádiva, exemplos de abnegação não faltavam.
Há as mulheres que abraçaram a clandestinidade e que protestam contra a guerra colonial e as que partem para o exílio com os seus companheiros, permanecerão em Paris, Londres, Lovaina, Lund, entre tantos outros destinos. E há as mulheres que ficam em franca oposição, manifestando-se no catolicismo de vanguarda, como Conceição Moita. As mulheres dos militares sempre com o credo na boca, os maridos partem para missão e às vezes não haverá regresso. Há até aquelas, como Dulcinea que acompanham o marido em Bissorã, experimentou uma flagelação brutal. Em Junho de 74 ela regressa a Lisboa, Henrique regressa a Bissorã mais um mês, despedida dolorosa: “Despede-se à pressa, com tristeza, de Inhatna Biofa, o rapaz órfão da guerra, de origem Balanta, que o acompanhara sempre, para todo o lado. Começara por trabalhar para a tropa em troca de comida, mas era tão especial que Henrique tomara-o por seu mainato. Acompanhava-o para todo o lado e era tratado como membro de família.
Henrique deixa-lhe o relógio Citizen, com cronómetro e de ponteiros brilhantes que se iluminam de noite”.
Há a história de Deonilde e Manuel Joaquim, dois anos de separação, ele regressa em 1967 e traz um órfão de guerra: “Quando o paquete Uíge chega ao Cais da Rocha do Conde de Óbidos, o menino vem fardado, segurando uma bandeira nacional”. A mãe de Manuel Joaquim embevece-se com a criança e apresenta às vizinhas a prenda que o seu Manel lhe trouxera da Guiné. Manuel e Deonilde casam e o menino será educado por a família, terá duas irmãs brancas. O menino, de nome Adilan, voltou à Guiné em 1978. Ficou desiludido, era já um “africano com educação europeia”. E há Natércia e Fernando Salgueiro Maia. Em Maio de 1973, quando Salgueiro Maia está pronto para regressar à metrópole, tem que partir numa emergência, Guidage está cercada: “Natércia fica 18 dias sem notícias de Fernando. Há chegada, Fernando repara como Natércia envelhecera”.
Há as filhas dos militares de carreira, acompanhando a guerra do princípio ao fim. Há as mulheres que pressentem o desastre, caso da Manuela, mulher de Fernando José, aviador. O General Fernando Neto bate à porta da casa de Manuela em 7 de Março de 1974, ela está a ajudar a filha mais velha nos trabalhos da escola. O sexto sentido feminino dá-lhe para perceber tudo, o General abraça-a e comunica que Fernando José fora abatido por um tiro direto, durante uma operação em Tenente Valadim, na província do Niassa.
Para muitas mulheres, a guerra não acabou com a descolonização, ficam os feridos, os deficientes e há o stresse pós-traumático, Sofia Branco é bem-sucedida a percorrer todas as tonalidades da palheta, ao sintetizar contextos históricos, usou de extrema correção não descriminando quaisquer protagonistas, as madrinhas de guerra, as que trataram deles quando voltaram, mutilados e traumatizados. E a autora tem razão quando nos diz: “Cada uma à sua maneira, as protagonistas deste livro foram pioneiras, desbravando caminhos outrora vedados às mulheres. Mães, irmãs, filhas, amantes, companheiras, amigas, muitas mulheres viveram a guerra colonial como se também elas tivessem sido mobilizadas. Depois da guerra, também para elas nada foi como dantes”.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 10 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14343: Notas de leitura (690): "Neste mar é sempre inverno", romance de Tibério Paradela (edição de autor, 2014) (Parte I): a epopeia da pesca do bacalhau à linha, em plena guerra colonial (Luís Graça)
Guiné 63/74 - P14358: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (23): precisam-se imagens de motorizadas de 50 cc , made in Portugal (Alma, Pachancho, Vilar Cucciolo, Famel, Macal, Sachs e Casal), ou nas ex-colónias (como a Fabimotor e a Ulisses, ambas angolanas)... Para edição de livro dos CTT.
Foto (e legenda): © Armando Pires (2014) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados
Bom dia Luís Graça
Estou a trabalhar num livro, desta vez sobre motorizadas portuguesas de 50 cc, e encontrei esta foto no seu blog. Achei muito interessante porque mostra um soldado e é tirada na Guiné, ex-colónia nossa à época… Acha que seria possível ceder esta imagem, com maior resolução, para a nossa publicação, com a devida autorização do dono e /ou do soldado representado na foto?
Agradecendo desde já a sua colaboração, apresento os meus cumprimentos,
Maria Manuel Alves Sousa
CTT Correios de Portugal
Filatelia/Conceito e Design
Philatelic Unit/Design Dept.
Av. D. João II - Lt. 01.12.03, 1.º
1999-001 LISBOA
Telef.: +351 210470578
Filatelia/Conceito e Design
Philatelic Unit/Design Dept.
Av. D. João II - Lt. 01.12.03, 1.º
1999-001 LISBOA
Telef.: +351 210470578
2. Em mensagem de ontem, a Maria Manuel Alves Sousa, a meu pedido, explicitou melhor o que pretendia:
O livro chamar-se-á Motorizadas Portuguesas de 50 cc. A edição é dos CTT.
O fabrico destas motorizadas em Portugal (Alma, Pachancho, Vilar Cucciolo, Famel, Macal, Sachs e Casal, e outras marcas fabricadas nas ex-colónias, como a Fabimotor e a Ulisses, ambas angolanas) começa no início dos anos 1950, e vai até cerca de finais de 1990.
Maria Manuel Sousa
Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS/BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do nosso saudoso Vitor Condeço (1943-2010) > Catió - Quartel > Foto nº 21: "Na arrecadação antiga de material de guerra, o 1º Cabo Camarinha e o Fur Mil Victor Condeço [sentado]. A motorizada que se vê não era material de guerra, foi comprada avariada ao electricista da central civil, sr.Jerónimo, por 250 pesos, foi reparada e ainda serviu para dar umas voltas". (**)
Foto (e legenda): © Vítor Condeço (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados
Foto (e legenda): © Vítor Condeço (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados
Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > CCAÇ 18 (1970/72) > O 1º cabo Ieró Embaló, prémio Governador da Guiné em 1972, com a sua motorizada. (***)
Foto (e legenda): © Rui Alexandrino Ferreira (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados
Foto: © Zeca Macedo (2013). Todos os direitos reservados.
3. Depois de a pôr em contacto com o João Rebola e o Armando Pires, mandei a seguinte informação à Maria Manuel Alves Sousa:
Mas havia mais motorizadas na Guiné no tempo da guerra colonial... Use a funcionalidade "Pesquisar neste blogue" (coluna do lado esquerdo) e escreva "motorizada"... Podem é ser "japonesas"... O régulo de Badora, em Bambadinca, no meu tempo (1969/71) tinha uma, de 50 cc, oferecida pelo Spínola ou pelo Schulz (, não posso precisar; era um homem poderoso, foi fuzilado depois da independência)... Temos mais imagens)... É procurar... Boa pesquisa...
De qualquer modo, vamos dar uma ajuda, pedindo à malta do blogue para colaborar. Haverá, por certo, fotos de motorizadas portuguesas da época, nos nossos álbuns fotográficos. Tudo o que é português merece o nosso carinho, ternura, cuidado... E para mais tratando-se de gente como nós, ex-.combatentes da Guiné que somos uma espécie em vias de extinção... (*****)
4. Mensagem de ontem enviada pela Maria Manuel ao João Rebola (que , entretanto, tem novo endereço de email):
Não consigo perceber a marca da motorizada. Será uma Honda? É que se for, não dá porque não é de fabrico nacional….
É tão complicado arranjar imagens assim da época. Esta era mesmo uma maravilha duma foto! Se se lembrar de alguém que tenha tido uma motorizada de fabrico nacional, e que possa ter fotografias…
Espero não estar a perturbar demasiado com o meu pedido.
Com os meus cumprimentos,
Maria Manuel
____________________
Não consigo perceber a marca da motorizada. Será uma Honda? É que se for, não dá porque não é de fabrico nacional….
É tão complicado arranjar imagens assim da época. Esta era mesmo uma maravilha duma foto! Se se lembrar de alguém que tenha tido uma motorizada de fabrico nacional, e que possa ter fotografias…
Espero não estar a perturbar demasiado com o meu pedido.
Com os meus cumprimentos,
Maria Manuel
____________________
Notas do editor:
(*) Vd. postes de:
(*) Vd. postes de:
10 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12023: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (10): Alô Bissorã, cheguei!!!
Saímos de casa, e, quando íamos a atravessar a rua, quase fui abalroado por um gajo em grande velocidade numa motorizada que fez duas “chicuelinas” para me evitar, seguindo em frente sem dizer água vai nem água vem.
– Que é isto, ó Filipe?
Com um largo sorriso na cara, responde-me ele, “é pá, é o maluco do Rebola, furriel da 2444”.
Apresentado assim pelo Filipe, a espantação passou-me e pensei para com os meus botões:
– Queres ver que já estou com a minha gente? (...)
27 de março de 2014 > Guiné 63/74 - P12905: Furriel Enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (13): O fadista regressa ao palco
(...) Pois deu-se o caso que num certo fim de tarde, indo eu de 7 [ Quartos de sargentos da CCS e bar] para 12 [Armazém de armamentos, enfermaria da CCS e Oficinas auto] passei em 10 10 [ Bar de sargentos da CCAÇ 2444, depois da CCAÇ 13] ouvi uma viola a tocar.
Poupando-lhes a maçada de revisitarem a legenda, quero eu dizer que tendo saído do meu quarto para ir à enfermaria ver como marchavam as coisas, passei à porta do bar de sargentos da 2444 de cujo interior saiam uns acordes de viola, que por acaso até me soarem bem ao ouvido.
– Pode-se entrar, camaradas?
Entrei, apresentámo-nos, sai um Johnnie Walker com duas pedras de gelo a selar o momento, e dei comigo a pensar que o gajo da viola era o mesmo que, no dia da minha chegada, me ia “atropelando” com a mota.
– Ouve lá, pá, tu não és o João Rebola?
Claro que era ele, sim senhor, contei-lhe que tinha sido o Filipe a dizer-me quem ele era, que isso se passara logo no dia da minha chegada, quando, à saída dos quartos de sargentos da CCS, ele, João Rebola, que vinha de mota, desenhara uma perfeita “chicuelina” para evitar atropelar-me (P12023).
Gargalhada geral, venha de lá esse abraço, “agora tenho de ir lá acima à enfermaria ver como estão as coisas, mas hei de vir aqui mais vezes que talvez ainda façamos umas fadistices".
Lá na enfermaria estava tudo bem, o que nem era de estranhar dada a qualidade do pessoal da minha equipa, saí para ir jantar “à D. Maria” e tropecei, de novo, no João Rebola.
– Queres boleia, pá?
Primeiro: a D. Maria e o marido, o senhor Maximiano, um velho casal de cabo-verdianos, tinham um restaurante que era subvencionado pelo exército para funcionar como messe de sargentos. Segundo: o Rebola vinha a sair do quarto de sargentos da 2444, que era ali quase paredes meias com a minha enfermaria, e indo jantar à messe, tal como eu ia, convidou-me a fazer “a viagem” na sua motorizada.
– Tens medo de andar nisto, pá?
– Só não sei andar, mas medo de andar não tenho.
– Ó pá, mas se quiseres aprender eu ensino-te já. Isto é o mesmo que andar de bicicleta.
E foi assim que o João Rebola, antes de ser meu viola privativo, se transformou no meu instrutor de motorizada.(...)
(**) Vd. poste de 9 de junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6563: Banco do Afecto contra a Solidão (11): Vamos telefonar ao Victor Condeço (que vive no Entroncamento)
Poupando-lhes a maçada de revisitarem a legenda, quero eu dizer que tendo saído do meu quarto para ir à enfermaria ver como marchavam as coisas, passei à porta do bar de sargentos da 2444 de cujo interior saiam uns acordes de viola, que por acaso até me soarem bem ao ouvido.
– Pode-se entrar, camaradas?
Entrei, apresentámo-nos, sai um Johnnie Walker com duas pedras de gelo a selar o momento, e dei comigo a pensar que o gajo da viola era o mesmo que, no dia da minha chegada, me ia “atropelando” com a mota.
– Ouve lá, pá, tu não és o João Rebola?
Claro que era ele, sim senhor, contei-lhe que tinha sido o Filipe a dizer-me quem ele era, que isso se passara logo no dia da minha chegada, quando, à saída dos quartos de sargentos da CCS, ele, João Rebola, que vinha de mota, desenhara uma perfeita “chicuelina” para evitar atropelar-me (P12023).
Gargalhada geral, venha de lá esse abraço, “agora tenho de ir lá acima à enfermaria ver como estão as coisas, mas hei de vir aqui mais vezes que talvez ainda façamos umas fadistices".
Lá na enfermaria estava tudo bem, o que nem era de estranhar dada a qualidade do pessoal da minha equipa, saí para ir jantar “à D. Maria” e tropecei, de novo, no João Rebola.
– Queres boleia, pá?
Primeiro: a D. Maria e o marido, o senhor Maximiano, um velho casal de cabo-verdianos, tinham um restaurante que era subvencionado pelo exército para funcionar como messe de sargentos. Segundo: o Rebola vinha a sair do quarto de sargentos da 2444, que era ali quase paredes meias com a minha enfermaria, e indo jantar à messe, tal como eu ia, convidou-me a fazer “a viagem” na sua motorizada.
– Tens medo de andar nisto, pá?
– Só não sei andar, mas medo de andar não tenho.
– Ó pá, mas se quiseres aprender eu ensino-te já. Isto é o mesmo que andar de bicicleta.
E foi assim que o João Rebola, antes de ser meu viola privativo, se transformou no meu instrutor de motorizada.(...)
(**) Vd. poste de 9 de junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6563: Banco do Afecto contra a Solidão (11): Vamos telefonar ao Victor Condeço (que vive no Entroncamento)
(***) Vd. poste de 2 de dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5394: In Memoriam (35): Ieró Embaló, o desaparecimento dum Homem de Verdade (Rui A. Ferreira)
(*****) ÚLtimo poste da série > 11 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14349: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (22): Procura-se letra e/ou registo sonoro de "Djiu di Galinha" [Ilha das Galinhas], canção de José Carlos Schwarz, imortalizada por ele e por Miriam Makeba, a 'Mama Africa' (Helena Pinto Janeiro, investigadora, FCSH / Universidade NOVA de Lisboa)
Marcadores:
Armando Pires,
Bissorã,
João Rebola,
José Macedo,
made in Portugal,
motorizadas,
O nosso Blogue informação e conhecimento,
Rui A. Ferreira,
Victor Condeço
Guiné 63/74 – P14357: Divagações de reformado (Pacífico dos Reis) (7): Vivo num país que não me faz chorar, faz-me enraivecer
1. Em mensagem do dia 8 de Março de 2015, o nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude,
1968/70), envia-nos mais uma Divagação de um Reformado, no caso o Cor Cav Ref Pacífico dos Reis, ex-Capitão Cav e Comandante da CCAÇ 5 entre 1968 e 1970:
Bom dia
Tive ontem noticias do "meu comandante" e nosso camarigo Pacifico dos Reis.
Junto o texto recebido, depois de complementado com fotos.
Bom Domingo para todos.
Zé Martins
7 - Vivo num país que não me faz chorar, faz-me enraivecer
Já estou na idade da “lágrima fácil“. Vivo no entanto num país que não me faz chorar, faz-me enraivecer. Li que 26% dos portugueses não ”mexeriam uma palha” se tivessem que defender o seu País. De quem é a culpa? Deles? Não! Dos muitos pseudo políticos que inculcaram nos jovens uma vida de facilitismo, das famílias que não souberam passar valores à nova geração, dos progenitores que pretendiam que os filhos não passassem as dificuldades que eles passaram.
Nas décadas de 60/70 muitos milhares defenderam o Portugal de então. Nessa altura o nosso Portugal estava espalhado por três continentes. Íamos para o Ultramar com Portugal no Coração. Agora os políticos pavoneiam-se com Portugal na lapela.
Morria-se a defender o País. Neste momento a gente séria morre de vergonha com a catadupa de escândalos de corrupção, lavagens de dinheiro, subserviência ao poder estrangeiro, etc., etc.
À, Eça tanto material que terias agora para as tuas escritas.
Por isso prefiro relembrar as saudades que tenho da Guiné e dos tempos que passei em Canjadude, a comandar homens com H grande, guinéus mas portugueses completos, que tinham Portugal no Coração. Sofremos, mas todos em conjunto. Combatemos lado a lado. Sentimos a dor dos feridos (felizmente nunca tivemos mortos debaixo do meu comando) que caíram ao nosso lado.
Prefiro recordar as bolanhas, os espaços livres, a vida simples da população, todo um conjunto de pequenas coisas que sociedade europeia já esqueceu preferindo viver sem valores, formatada pelos grandes banqueiros, secundados pelos políticos corruptos e por um sistema que prepara todo um envolvimento para facilitar a vida a uma corja de privilegiados.
Recordo que muitas vezes saí em operações somente com a secção de Comando (10 homens), todos africanos, sem qualquer problema. Porque eles eram e sentiam-se portugueses. Tinham algo para mostrar ao Mundo. Queriam ser portugueses para todo o sempre. Tinham valores que respeitavam. Muitos depois do 25/4 morreram por manterem esses ideais.
Prefiro recordar com saudade o meu Sargento Enfermeiro, também guinéu, que me salvou a vida por duas vezes. A primeira quando adoeci com paludismo cerebral, que geralmente é fatal, mas que conseguiu debelar pelo seu enorme conhecimento das doenças tropicais e grande dedicação.
A segunda quando um dos militares da Companhia se etilizou e meteu na cabeça que queria matar o Comandante. Estava à espera na Parada que chegasse ao pé de mim. Era fundamental para a minha credibilidade na Unidade. Já tinha visto que a Madsen que ele trazia estava em segurança. Não havia perigo iminente. No entanto o sargento Cipriano com risco para si próprio injectou-lhe um calmante que o pôs a dormir.
Este homem bom, cidadão português, corajoso, foi morto em Nova Lamego conjuntamente com a família pelos “libertadores“, já depois de eu ter saído da Companhia
É isto que, já no final desta passagem por este mundo louco, pretendo recordar.
É por isso que nesta ”idade do condor“ esqueço as dores nas articulações e recordo com saudade as dores em todo o corpo ao fim de 4 a 5 dias de operações.
Recordo com saudade a “granada de 60“ vulgo garrafa de cerveja que me vinham trazer mal chegava. Nunca mais bebi uma cerveja tão gelada e tão boa. Recordo emocionado o dia em que retornei a Canjadude para desactivar um campo de minas e toda a Companhia me levou em ombros até ao meu antigo gabinete julgando que ia regressar ao Comando da Unidade. Foi difícil e pungente desenganá-los. E mais tarde, já no ”Puto“, tive o prazer de receber muitos daqueles portugueses africanos que removeram céus e terra para me encontrarem. Muitos com marcas do que sofreram às mãos dos “libertadores”, com histórias daqueles que fugiram e agora eram mercenários noutras terras, aqueles cujas famílias desapareceram, etc..
Tudo isto faz uma vida.
Tudo isto recordo com saudade.
Pacífico dos Reis
Gato Preto
“Faca de Mato “
____________
Nota do editor
Último poste da série de 30 de agosto de 2010 > Guiné 63/74 – P6911: Divagações de reformado (Pacífico dos Reis) (6): TAP ou TAPioca…? (José Martins)
Bom dia
Tive ontem noticias do "meu comandante" e nosso camarigo Pacifico dos Reis.
Junto o texto recebido, depois de complementado com fotos.
Bom Domingo para todos.
Zé Martins
Divagações de Reformado
7 - Vivo num país que não me faz chorar, faz-me enraivecer
Já estou na idade da “lágrima fácil“. Vivo no entanto num país que não me faz chorar, faz-me enraivecer. Li que 26% dos portugueses não ”mexeriam uma palha” se tivessem que defender o seu País. De quem é a culpa? Deles? Não! Dos muitos pseudo políticos que inculcaram nos jovens uma vida de facilitismo, das famílias que não souberam passar valores à nova geração, dos progenitores que pretendiam que os filhos não passassem as dificuldades que eles passaram.
Nas décadas de 60/70 muitos milhares defenderam o Portugal de então. Nessa altura o nosso Portugal estava espalhado por três continentes. Íamos para o Ultramar com Portugal no Coração. Agora os políticos pavoneiam-se com Portugal na lapela.
Morria-se a defender o País. Neste momento a gente séria morre de vergonha com a catadupa de escândalos de corrupção, lavagens de dinheiro, subserviência ao poder estrangeiro, etc., etc.
À, Eça tanto material que terias agora para as tuas escritas.
Secção de Comando Dragão
© Foto: José Martins
© Foto: José Martins
Por isso prefiro relembrar as saudades que tenho da Guiné e dos tempos que passei em Canjadude, a comandar homens com H grande, guinéus mas portugueses completos, que tinham Portugal no Coração. Sofremos, mas todos em conjunto. Combatemos lado a lado. Sentimos a dor dos feridos (felizmente nunca tivemos mortos debaixo do meu comando) que caíram ao nosso lado.
Prefiro recordar as bolanhas, os espaços livres, a vida simples da população, todo um conjunto de pequenas coisas que sociedade europeia já esqueceu preferindo viver sem valores, formatada pelos grandes banqueiros, secundados pelos políticos corruptos e por um sistema que prepara todo um envolvimento para facilitar a vida a uma corja de privilegiados.
Recordo que muitas vezes saí em operações somente com a secção de Comando (10 homens), todos africanos, sem qualquer problema. Porque eles eram e sentiam-se portugueses. Tinham algo para mostrar ao Mundo. Queriam ser portugueses para todo o sempre. Tinham valores que respeitavam. Muitos depois do 25/4 morreram por manterem esses ideais.
2.º Sargento Enfermeiro Cipriano Mendes Pereira, tombado em 16 de Novembro de 1970, durante um ataque a Nova Lamego
© Foto: José Manuel Corceiro
Prefiro recordar com saudade o meu Sargento Enfermeiro, também guinéu, que me salvou a vida por duas vezes. A primeira quando adoeci com paludismo cerebral, que geralmente é fatal, mas que conseguiu debelar pelo seu enorme conhecimento das doenças tropicais e grande dedicação.
A segunda quando um dos militares da Companhia se etilizou e meteu na cabeça que queria matar o Comandante. Estava à espera na Parada que chegasse ao pé de mim. Era fundamental para a minha credibilidade na Unidade. Já tinha visto que a Madsen que ele trazia estava em segurança. Não havia perigo iminente. No entanto o sargento Cipriano com risco para si próprio injectou-lhe um calmante que o pôs a dormir.
Este homem bom, cidadão português, corajoso, foi morto em Nova Lamego conjuntamente com a família pelos “libertadores“, já depois de eu ter saído da Companhia
É isto que, já no final desta passagem por este mundo louco, pretendo recordar.
É por isso que nesta ”idade do condor“ esqueço as dores nas articulações e recordo com saudade as dores em todo o corpo ao fim de 4 a 5 dias de operações.
Recordo com saudade a “granada de 60“ vulgo garrafa de cerveja que me vinham trazer mal chegava. Nunca mais bebi uma cerveja tão gelada e tão boa. Recordo emocionado o dia em que retornei a Canjadude para desactivar um campo de minas e toda a Companhia me levou em ombros até ao meu antigo gabinete julgando que ia regressar ao Comando da Unidade. Foi difícil e pungente desenganá-los. E mais tarde, já no ”Puto“, tive o prazer de receber muitos daqueles portugueses africanos que removeram céus e terra para me encontrarem. Muitos com marcas do que sofreram às mãos dos “libertadores”, com histórias daqueles que fugiram e agora eram mercenários noutras terras, aqueles cujas famílias desapareceram, etc..
Tudo isto faz uma vida.
Tudo isto recordo com saudade.
Pacífico dos Reis
Gato Preto
“Faca de Mato “
____________
Nota do editor
Último poste da série de 30 de agosto de 2010 > Guiné 63/74 – P6911: Divagações de reformado (Pacífico dos Reis) (6): TAP ou TAPioca…? (José Martins)
Guiné 63/74 - P14356: A minha mãe, Maria Eugénia da Conceição Vitorino Gaspar, a minha Padeira de Aljubarrota (Mário Vitorino Gaspar)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Vitorino Gaspar (ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68), com data de 3 de Março de 2015:
Caros Camaradas e Amigos
Nós temos bem de agradecer aos nossos pais: – e “Meu pai, meu velho, meu camarada".
Idêntico o procedimento para as “Nossas mães, verdadeiras padeiras de Aljubarrota”.
E como foi afirmado, e com pleno direito de não esquecer: - “… fotos do álbum de família que correm o risco de desaparecer com o tempo… Interessa-nos salvaguardar (e divulgar) aquelas que têm a ver com a juventude e a tropa dos nossos progenitores...
Sabemos das dificuldades que eles passaram nos anos 30/40, ensombrados pela tragédia da crise económica e social e pelas guerras que também nos tocaram, directa ou indirectamente (guerra civil de Espanha, II Guerra Mundial…)”.
Atrevo-me a enviar também um texto sobre “A Minha Mãe”, e não fico chateado, de modo nenhum, por não ser publicado.
Tenho a dizer-lhes que sinto enorme prazer em pertencer a uma Família de Amigos que possuem elos fortes com a Guiné. Fui, sou e continuarei a ser contrário a qualquer guerra, mesmo a que vem mascarada como de “Missão de Paz, Técnico-Militar no Estrangeiro” e outros termos para emoldurarem a guerra.
Sou contra, mas cumpri, não com Portugal, o Estado ou país, mas cumpri o que a consciência ordenou. Fui combatente, sou combatente e combato e jamais deixarei de o fazer.
A Amizade está em segundo lugar em toda a minha vida. Prezo e defendo os Amigos.
Mas tinha de ser: em primeiro lugar está a Família.
Gosto muito do Tejo e da minha bonita terra onde nasci: Sintra.
Um abraço a todos os Amigos da Tabanca Grande
Mário Vitorino Gaspar
Para mim chama-se simplesmente MÃE – filha de José Vitorino e Rosa Vitorino, nasceu em A-do-Barriga, concelho de Arruda dos Vinhos, distrito de Lisboa.
A minha mãe teve mais dois filhos: o Ramiro Fernando e o José Alberto. A minha mãe foi, e é, o primeiro e grande amor da minha vida.
Tenho-a prisioneira dentro de mim, no meu coração, na minha mente, desde que os meus olhos se abriram para o mundo. Ali estava ela, sorrindo. Hoje continua a sorrir e sempre sorrirá.
Um sorriso da minha mãe, que supera em beleza o mais belo quadro pintado por um grande mestre da pintura, um artista, talvez uma rosa vermelha, que significa amor e paixão, luzindo suas coloridas cores irisada, ou ainda a papoila, com o significado de fragilidade, que parece de beleza efémera e mensagem, num vasto campo de trigo e um girassol, que dizem significar felicidade, e possuindo um ano de vida, que abre suas pétalas mui luzidias de manhã e fecha à tardinha.
Um sorriso da minha mãe que supera em beleza quem sabe se a dança aérea, como se de ballet se tratasse – num qualquer palco do mundo – de borboletas, que é um símbolo de ligeireza e de inconstância, de transformação e de um novo começo, voando livremente num dia de primavera. E o voo em liberdade das andorinhas, vestidas como viúvas, na primavera ou no verão em Portugal – e que passam o outono e o inverno em África – que simbolizam a boa sorte, a pureza e a fidelidade.
Um sorriso da minha mãe que supera em beleza as pombas brancas, que simbolizam a paz, que o mundo e principalmente o homem necessitam, esvoaçando pelo céu pintado pela natureza de um azul puro.
Mentalmente, beijei milhões de vezes a minha heroína, o meu grande primeiro amor – quando algum problema me surgia, ou surge, é ela que me ajuda – na realidade, beijei-a milhares de vezes. Senti e sinto o aroma dos seus beijos no meu rosto.
O amor que sentia pelos seus três filhos e seis netos, não igualava qualquer outro amor, consigo avaliá-lo quando recordo o nascimento dos meus sobrinhos, e principalmente do nascimento dos meus filhos, visto ter sido eu que dei a notícia dos acontecimentos. Senti a sua alegria.
Algo me intrigava, era o amor que sentia também pelos sete sobrinhos. Hoje entendo! Vivia em paz, pretendendo a paz para os seus entes queridos.
A minha mãe é simplesmente o amor – o primeiro e único verdadeiro e puro sentimento – que perdurará para toda a minha vida.
A minha mãe, foi e será, a minha padeira de Aljubarrota, e que já me perdoou pelas ocasiões em que a fiz chorar – embora não fosse essa a minha intenção – tanto de tristeza como de alegria.
Em ocasiões amargas da vida não brotava dos seus olhos uma lágrima, pretendendo assim não levar os outros a pensar ser dolorosa a situação.
Via-a chorar muitas vezes, mas fazia-o silenciosamente. Bebi, por vezes, as suas lágrimas
Foi o amor de mãe que me deu a força anímica para fazer frente à minha vida.
Na minha despedida dos meus pais, quando parti para a Guiné, não verteu uma lágrima. Meu pai, que nunca vira sinais de água salgada vertida dos olhos, chorou. A única vez que o vi chorar.
Nos seus olhos, na sua boca e nos seus gestos, encontrava o amor de mãe, um amor mais destemido que todos os amores, muito mais inflexível, um amor para durar para sempre.
Estive junto dela quando estava à porta da morte. Depois de ser sujeita a uma operação cirúrgica no Hospital de Vila Franca de Xira, teve alta e fui visitá-la. Preparei-lhe um banho, visto ela já não estar em condições de o fazer e, e enquanto a lavava ela disse:
– Filho, tantas vezes que te dei banho, e agora és tu que me dás banho!
Depois piorou, informaram-me que tinha sido internada e fui visitá-la. Quando entrei no Serviço de Urgência do Hospital não a reconheci entre os doentes, em qualquer cama na enfermaria. Vim mais tarde, ter passado por ela.
Perguntei à enfermeira onde se encontrava a minha mãe, tendo-me dado a informação. Descobria-a finalmente. Voltei para junto da sua cama. Sei que me reconheceu. Fiquei envergonhado, sentindo-me muito mal comigo.
Via-a, embora ficasse triste por verificar tão diferente se encontrava. Era a minha mãe e aproximei-me, após a enfermeira me ter feito sinal para ir junto do seu leito. Beijei-a na testa. Foi o único beijo que até à data dava na testa da minha mãe. Após a enfermeira me ter feito sinal para me afastar, dei-lhe outro beijo na testa. Num rosto desfigurado pela doença, nasce o sorriso da minha mãe. Ela não falou. Foi a despedida. Foi a despedida.
Foi a despedida.
Foi d derradeira vez que a beijei, ainda com vida. Não o esqueço!
Faleceu nesse mesmo dia. E não chorei. Nem sequer no velório, onde a beijei pela última vez. Acho que verti lágrimas interiormente.
Guardo o seu sorriso, segurei-o entre mãos e transporto comigo para sempre…
“Tudo aquilo que sou, ou pretendo ser, sou devedor ao devo-o ao anjo, minha mãe”.
____________
Caros Camaradas e Amigos
Nós temos bem de agradecer aos nossos pais: – e “Meu pai, meu velho, meu camarada".
Idêntico o procedimento para as “Nossas mães, verdadeiras padeiras de Aljubarrota”.
E como foi afirmado, e com pleno direito de não esquecer: - “… fotos do álbum de família que correm o risco de desaparecer com o tempo… Interessa-nos salvaguardar (e divulgar) aquelas que têm a ver com a juventude e a tropa dos nossos progenitores...
Sabemos das dificuldades que eles passaram nos anos 30/40, ensombrados pela tragédia da crise económica e social e pelas guerras que também nos tocaram, directa ou indirectamente (guerra civil de Espanha, II Guerra Mundial…)”.
Atrevo-me a enviar também um texto sobre “A Minha Mãe”, e não fico chateado, de modo nenhum, por não ser publicado.
Tenho a dizer-lhes que sinto enorme prazer em pertencer a uma Família de Amigos que possuem elos fortes com a Guiné. Fui, sou e continuarei a ser contrário a qualquer guerra, mesmo a que vem mascarada como de “Missão de Paz, Técnico-Militar no Estrangeiro” e outros termos para emoldurarem a guerra.
Sou contra, mas cumpri, não com Portugal, o Estado ou país, mas cumpri o que a consciência ordenou. Fui combatente, sou combatente e combato e jamais deixarei de o fazer.
A Amizade está em segundo lugar em toda a minha vida. Prezo e defendo os Amigos.
Mas tinha de ser: em primeiro lugar está a Família.
Gosto muito do Tejo e da minha bonita terra onde nasci: Sintra.
Um abraço a todos os Amigos da Tabanca Grande
Mário Vitorino Gaspar
A minha mãe, Maria Eugénia da Conceição Vitorino Gaspar
Para mim chama-se simplesmente MÃE – filha de José Vitorino e Rosa Vitorino, nasceu em A-do-Barriga, concelho de Arruda dos Vinhos, distrito de Lisboa.
A minha mãe teve mais dois filhos: o Ramiro Fernando e o José Alberto. A minha mãe foi, e é, o primeiro e grande amor da minha vida.
Tenho-a prisioneira dentro de mim, no meu coração, na minha mente, desde que os meus olhos se abriram para o mundo. Ali estava ela, sorrindo. Hoje continua a sorrir e sempre sorrirá.
Um sorriso da minha mãe, que supera em beleza o mais belo quadro pintado por um grande mestre da pintura, um artista, talvez uma rosa vermelha, que significa amor e paixão, luzindo suas coloridas cores irisada, ou ainda a papoila, com o significado de fragilidade, que parece de beleza efémera e mensagem, num vasto campo de trigo e um girassol, que dizem significar felicidade, e possuindo um ano de vida, que abre suas pétalas mui luzidias de manhã e fecha à tardinha.
Um sorriso da minha mãe que supera em beleza quem sabe se a dança aérea, como se de ballet se tratasse – num qualquer palco do mundo – de borboletas, que é um símbolo de ligeireza e de inconstância, de transformação e de um novo começo, voando livremente num dia de primavera. E o voo em liberdade das andorinhas, vestidas como viúvas, na primavera ou no verão em Portugal – e que passam o outono e o inverno em África – que simbolizam a boa sorte, a pureza e a fidelidade.
Um sorriso da minha mãe que supera em beleza as pombas brancas, que simbolizam a paz, que o mundo e principalmente o homem necessitam, esvoaçando pelo céu pintado pela natureza de um azul puro.
Mentalmente, beijei milhões de vezes a minha heroína, o meu grande primeiro amor – quando algum problema me surgia, ou surge, é ela que me ajuda – na realidade, beijei-a milhares de vezes. Senti e sinto o aroma dos seus beijos no meu rosto.
O amor que sentia pelos seus três filhos e seis netos, não igualava qualquer outro amor, consigo avaliá-lo quando recordo o nascimento dos meus sobrinhos, e principalmente do nascimento dos meus filhos, visto ter sido eu que dei a notícia dos acontecimentos. Senti a sua alegria.
Algo me intrigava, era o amor que sentia também pelos sete sobrinhos. Hoje entendo! Vivia em paz, pretendendo a paz para os seus entes queridos.
A minha mãe é simplesmente o amor – o primeiro e único verdadeiro e puro sentimento – que perdurará para toda a minha vida.
A minha mãe, foi e será, a minha padeira de Aljubarrota, e que já me perdoou pelas ocasiões em que a fiz chorar – embora não fosse essa a minha intenção – tanto de tristeza como de alegria.
Em ocasiões amargas da vida não brotava dos seus olhos uma lágrima, pretendendo assim não levar os outros a pensar ser dolorosa a situação.
Via-a chorar muitas vezes, mas fazia-o silenciosamente. Bebi, por vezes, as suas lágrimas
Foi o amor de mãe que me deu a força anímica para fazer frente à minha vida.
Na minha despedida dos meus pais, quando parti para a Guiné, não verteu uma lágrima. Meu pai, que nunca vira sinais de água salgada vertida dos olhos, chorou. A única vez que o vi chorar.
Nos seus olhos, na sua boca e nos seus gestos, encontrava o amor de mãe, um amor mais destemido que todos os amores, muito mais inflexível, um amor para durar para sempre.
Estive junto dela quando estava à porta da morte. Depois de ser sujeita a uma operação cirúrgica no Hospital de Vila Franca de Xira, teve alta e fui visitá-la. Preparei-lhe um banho, visto ela já não estar em condições de o fazer e, e enquanto a lavava ela disse:
– Filho, tantas vezes que te dei banho, e agora és tu que me dás banho!
Depois piorou, informaram-me que tinha sido internada e fui visitá-la. Quando entrei no Serviço de Urgência do Hospital não a reconheci entre os doentes, em qualquer cama na enfermaria. Vim mais tarde, ter passado por ela.
Perguntei à enfermeira onde se encontrava a minha mãe, tendo-me dado a informação. Descobria-a finalmente. Voltei para junto da sua cama. Sei que me reconheceu. Fiquei envergonhado, sentindo-me muito mal comigo.
Via-a, embora ficasse triste por verificar tão diferente se encontrava. Era a minha mãe e aproximei-me, após a enfermeira me ter feito sinal para ir junto do seu leito. Beijei-a na testa. Foi o único beijo que até à data dava na testa da minha mãe. Após a enfermeira me ter feito sinal para me afastar, dei-lhe outro beijo na testa. Num rosto desfigurado pela doença, nasce o sorriso da minha mãe. Ela não falou. Foi a despedida. Foi a despedida.
Foi a despedida.
Foi d derradeira vez que a beijei, ainda com vida. Não o esqueço!
Faleceu nesse mesmo dia. E não chorei. Nem sequer no velório, onde a beijei pela última vez. Acho que verti lágrimas interiormente.
Guardo o seu sorriso, segurei-o entre mãos e transporto comigo para sempre…
“Tudo aquilo que sou, ou pretendo ser, sou devedor ao devo-o ao anjo, minha mãe”.
____________
Guiné 63/74 - P14355: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXIX: Quando falhava o abastecimento, ainda havia o recurso à "bianda com marmelada"...
Canjambari... Um bar ou cantina onde podia faltar muita coisa, até o feijão mas não a cerveja... "estupidamente gelada", como na letra da célebre canção de Chico Buarque, de 1977 (*) [Fotógrafo desconhecido]
1. Continuação da publicação das "histórias da CCAÇ 2533", a partir do documento editado pelo ex-1º cabo quarteleiro, Joaquim Lessa, e impresso na Tipografia Lessa, na Maia (115 pp. + 30 pp, inumeradas, de fotografias). (**)
Hoje reproduz-se mais dois textos deliciosos, da autoria do ex-alf mil Timóteo Rosa, do 4º pelotão : (i) o cardápio do rancho da CCAÇ 2533, planeado para o mês de jullho de 1969 (p, 94); e (ii) o "apicultor" da companhia, o srgt Félix (p. 97)...
Quem disse que a malta rapava fome no CTIG e não tinha sentido de humor ?... Por outro lado, nunca será de mais recordar, como facto digno de nota, que esta publicação é uma obra coletiva, feita com a participação de diversos ex-militares da CCAÇ 2533 (oficiais, sargentos e praças), num louvável esforço de partilha de memórias comuns...
A brochura, com cerca de 6 dezenas de curtas histórias, de uma a duas páginas, e profusamente ilustrada (cerca de meia centena de fotos), chegou às mãos dos nossos editores, em suporte digital, através do Luís Nascimento, que vive em Viseu, e que também nos facultou um exemplar em papel. para consulta. Até ao momento, e com muita pena nossa, ele é o único representante da CCAÇ 2533, na nossa Tabanca Grande, apesar dos convites, públicos, que temos feito aos autores cujas histórias vamos publicando.
Temos autorização dos responsáveis pela edição e pelos autores para dar a conhecer, a um público mais vasto de amigos e camaradas da Guiné, as aventuras e as desventuras vividas pelo pessoal da CCAÇ 2533, companhia independente que esteve sediada em Canjambari e Farim, região do Oio, ao serviço do BCAÇ 2879, o batalhão dos Cobras (Farim, 1969/71). O primeiro excerto destas histórias foi publicado em 16 de abril de 2014, com um texto do ex-comandante da companhia, o cap inf Silvino R. Silva, hoje cor ref.
_____________
Notas do editor:
(*) Feijoada completa
Chico Buarque/1977
Para o filme Se segura malandro de Hugo Carvana
[Letra, reproduzida aqui, com a devida venia... da página oficial do cantor]
Mulher
Você vai gostar
Tô levando uns amigos pra conversar
Eles vão com uma fome que nem me contem
Eles vão com uma sede de anteontem
Salta cerveja estupidamente gelada prum batalhão
E vamos botar água no feijão
Mulher
Não vá se afobar
Não tem que pôr a mesa, nem dá lugar
Ponha os pratos no chão, e o chão tá posto
E prepare as linguiças pro tiragosto
Uca, açúcar, cumbuca de gelo, limão
E vamos botar água no feijão
Mulher
Você vai fritar
Um montão de torresmo pra acompanhar
Arroz branco, farofa e a malagueta
A laranja-bahia ou da seleta
Joga o paio, carne-seca, toucinho no caldeirão
E vamos botar água no feijão
Mulher
Depois de salgar
Faça um bom refogado, que é pra engrossar
Aproveite a gordura da frigideira
Pra melhor temperar a couve mineira
Diz que tá dura, pendura a fatura no nosso irmão
E vamos botar água no feijão
1977 © Marola Edições Musicais
Todos os direitos reservados. Copyright Internacional Assegurado. Impresso no Brasil
[Letra, reproduzida aqui, com a devida venia... da página oficial do cantor]
Mulher
Você vai gostar
Tô levando uns amigos pra conversar
Eles vão com uma fome que nem me contem
Eles vão com uma sede de anteontem
Salta cerveja estupidamente gelada prum batalhão
E vamos botar água no feijão
Mulher
Não vá se afobar
Não tem que pôr a mesa, nem dá lugar
Ponha os pratos no chão, e o chão tá posto
E prepare as linguiças pro tiragosto
Uca, açúcar, cumbuca de gelo, limão
E vamos botar água no feijão
Mulher
Você vai fritar
Um montão de torresmo pra acompanhar
Arroz branco, farofa e a malagueta
A laranja-bahia ou da seleta
Joga o paio, carne-seca, toucinho no caldeirão
E vamos botar água no feijão
Mulher
Depois de salgar
Faça um bom refogado, que é pra engrossar
Aproveite a gordura da frigideira
Pra melhor temperar a couve mineira
Diz que tá dura, pendura a fatura no nosso irmão
E vamos botar água no feijão
1977 © Marola Edições Musicais
Todos os direitos reservados. Copyright Internacional Assegurado. Impresso no Brasil
(**) Último poste da série > 2 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14108: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXVIII: (i) Um natal do mato (Timóteo Rosa, ex-alf mil, 4º pel); (ii) a prenda do MNF (José Luís Sousa, ex-fur mill,1º pel)
Últimos postes da série (desde a parte XX):
1 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13962: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXVII: Boas vindas à equipa da RTP que foi gravar as mensagens do Natal de 1969: Benvindos!... Jamgarte!... Welcome!... (José Luís Sousa, ex-fur mil, 1º Pelotão)
Últimos postes da série (desde a parte XX):
1 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13962: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXVII: Boas vindas à equipa da RTP que foi gravar as mensagens do Natal de 1969: Benvindos!... Jamgarte!... Welcome!... (José Luís Sousa, ex-fur mil, 1º Pelotão)
6 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13854: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXV: (i) o final da comissão em Farim, com os últimos mortos e feridos na zona de Lamel;: (ii) humilhados e ofendidos: regressados á Pátria, somos obrigados a ir a Chaves, num comboio ronceiro, entregar meia dúzia de trapos desfeitos, os restos das nossas fardas ! (Agostinho Evangelista, 1º pelotão)
24 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13642: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXIII: O quotidiano em Canjambari...(Agostinho Evangelista, 1º pelotão)
10 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13481: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XX: a festa dos meus 25 anos, em Farim (Carlos Simões, ex-fur mil op esp. 1º pelotão)
quinta-feira, 12 de março de 2015
Guiné 63/74 - P14354: Meu pai, meu velho, meu camarada (42): 1.º Cabo Manuel de Assunção Peres (1912-1997), meu sogro, que fez tropa em Elvas... Um dia, quando teve uma curta licença para férias, foi a pé até Castro Verde (, o que em linha reta são mais de 200 km)... (José Colaço)
1. Mensagem do nosso camarada José Colaço (ex-Soldado TRMS da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), com data de 4 de Março de 2015:
O meu pai, meu velho, na inspecção saiu-lhe a fita vermelha. Mas, como os pais das nossas mulheres nossos pais são, apresento-lhes o meu sogro, meu camarada, pai da mulher com a qual casei em 1973 e que tem tido a paciência de me aturar e desculpar desde essa data até aos dias presentes.
José Colaço
Manuel de Assunção Peres
2. Este nosso camarada Manuel de Assunção Peres, nasceu em 17 de Abril de 1912 e faleceu em 29 de Dezembro de 1997, vítima de cancro pulmonar, talvez devido ao tabaco pois era um fumador viciado desde os bancos da escola primária. Quando morreu, tinha uma memória perfeita tanto em matemática como em português, disciplinas que gostava e que dominava com alguma facilidade.
Fez a tropa no quartel de Elvas, tendo sido promovido a 1.º Cabo.
Histórias da sua vida militar não as registei em papel nem em memória, culpa minha porque ele falou várias vezes no assunto, mas uma que me chamou a atenção e que registei em parte, foi quando lhe foi concedido um curto período de férias.
Ele mais um camarada do concelho de Odemira deram corda aos cordões das botas e marcharam a pé, de Elvas... até Castro Verde [, são mais de 200 km em linha reta!].
Um abraço
Colaço
____________
Nota do editor
Último poste da série de 12 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14353: Meu pai, meu velho, meu camarada (41): Jorge Manuel Augusto da Silva, o "binte oito", era um orgulhoso sapador de assalto, da arma de engenharia... Fez a tropa em Tancos, em 1947, ainda chegou a jogar futebol e era amigo do histórico guarda-redes do Porto, o Barrigana (Henrique Cerqueira)
Postes anteriores (desde o nº 30 da série):
3 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14316: Meu pai, meu velho, meu camarada (40): Torcato Prudêncio da Silva (1915-1977) faria 100 anos no passado dia 28 de fevereiro...Na tropa (entre 1936/37 e 1943), foi da arma de artilharia, como o filho que o recorda hoje com muita saudade (Torcato Mendonça, ex-alf mil art, CART 2339, Mansambo, 1968/69)
4 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11803: Meu pai, meu velho meu camarada (39): Amadeu Simões Picado, ilhavense, 1º cabo quarteleiro, da arma de engenharia, integrou o corpo expedicionário português, em França, na I Guerra Mundial (1917/18), e emigrou depois para os EUA onde trabalhou quase sempre como pescador... Só o conheci aos 9 anos, em 1946... (Jorge Picado)
8 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11358: Meu pai, meu velho, meu camarada (38): Evocando a figura de Luís Henriques (1920-2012) que há precisamente um ano se despedia da terra da alegria (Luís Graça / Pedro Martins)
19 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11275: Meu pai, meu velho, meu camarada (37): Memórias do Mindelo, São Vicente, Cabo Verde, no dia do pai...
11 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10924: Meu pai, meu velho, meu camarada (36): Fotos recentes do Mindelo, em memória do meu avô Luís Henriques (1920-2012) (João Graça)
13 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10793: Meu pai, meu velho, meu camarada (35b): José Baptista de Sousa (1904-1967), capitão médico-cirurgião, expedicionário, um 'anjo di céu', em São Vicente, fev 1942/ set 1944 - Parte II (Adriano Miranda Lima)
12 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10790: Meu pai, meu velho, meu camarada (35a): José Baptista de Sousa (1904-1967), capitão médico-cirurgião, expedicionário, um 'anjo di céu', em São Vicente, fev 1942/ set 1944 - Parte I (Adriano Miranda Lima)
23 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10712: Meu pai, meu velho, meu camarada (34): Tropas expedicionárias portuguesas, em São Vicente, Cabo Verde, 1941/45, mostram solidariedade com o povo sofrido da ilha (Adriano Miranda Lima, cor inf ref, Tomar; cortesia de Praia de Bote)
7 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10496 Meu pai, meu velho, meu camarada (33): Mais notícias das forças expedicionárias da ilha de São Vicente, Cabo Verde (1941/45) (Adriano Miranda Lima, cor inf ref)
22 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10420: Meu pai, meu velho, meu camarada ( 32): Luís Henriques (1920-2012) evoca, em entrevista gravada em 10 de março de 2010, os sítios onde passou 26 meses, na ilha de São Vicente, em plena II Guerra Mundial: Mindelo, Lazareto, Matiota, São Pedro, Calhau...
20 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10282: Meu pai, meu velho, meu camarada (30): Dispositivo militar metropolitano em Cabo Verde (Ilhas de São Vicente, Santo Antão e Sal) durante a II Grande Guerra (José Martins)
O meu pai, meu velho, na inspecção saiu-lhe a fita vermelha. Mas, como os pais das nossas mulheres nossos pais são, apresento-lhes o meu sogro, meu camarada, pai da mulher com a qual casei em 1973 e que tem tido a paciência de me aturar e desculpar desde essa data até aos dias presentes.
José Colaço
Manuel de Assunção Peres
2. Este nosso camarada Manuel de Assunção Peres, nasceu em 17 de Abril de 1912 e faleceu em 29 de Dezembro de 1997, vítima de cancro pulmonar, talvez devido ao tabaco pois era um fumador viciado desde os bancos da escola primária. Quando morreu, tinha uma memória perfeita tanto em matemática como em português, disciplinas que gostava e que dominava com alguma facilidade.
Fez a tropa no quartel de Elvas, tendo sido promovido a 1.º Cabo.
Histórias da sua vida militar não as registei em papel nem em memória, culpa minha porque ele falou várias vezes no assunto, mas uma que me chamou a atenção e que registei em parte, foi quando lhe foi concedido um curto período de férias.
Ele mais um camarada do concelho de Odemira deram corda aos cordões das botas e marcharam a pé, de Elvas... até Castro Verde [, são mais de 200 km em linha reta!].
Um abraço
Colaço
____________
Nota do editor
Último poste da série de 12 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14353: Meu pai, meu velho, meu camarada (41): Jorge Manuel Augusto da Silva, o "binte oito", era um orgulhoso sapador de assalto, da arma de engenharia... Fez a tropa em Tancos, em 1947, ainda chegou a jogar futebol e era amigo do histórico guarda-redes do Porto, o Barrigana (Henrique Cerqueira)
Postes anteriores (desde o nº 30 da série):
3 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14316: Meu pai, meu velho, meu camarada (40): Torcato Prudêncio da Silva (1915-1977) faria 100 anos no passado dia 28 de fevereiro...Na tropa (entre 1936/37 e 1943), foi da arma de artilharia, como o filho que o recorda hoje com muita saudade (Torcato Mendonça, ex-alf mil art, CART 2339, Mansambo, 1968/69)
4 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11803: Meu pai, meu velho meu camarada (39): Amadeu Simões Picado, ilhavense, 1º cabo quarteleiro, da arma de engenharia, integrou o corpo expedicionário português, em França, na I Guerra Mundial (1917/18), e emigrou depois para os EUA onde trabalhou quase sempre como pescador... Só o conheci aos 9 anos, em 1946... (Jorge Picado)
12 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10790: Meu pai, meu velho, meu camarada (35a): José Baptista de Sousa (1904-1967), capitão médico-cirurgião, expedicionário, um 'anjo di céu', em São Vicente, fev 1942/ set 1944 - Parte I (Adriano Miranda Lima)
22 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10420: Meu pai, meu velho, meu camarada ( 32): Luís Henriques (1920-2012) evoca, em entrevista gravada em 10 de março de 2010, os sítios onde passou 26 meses, na ilha de São Vicente, em plena II Guerra Mundial: Mindelo, Lazareto, Matiota, São Pedro, Calhau...
21 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10284: Meu pai, meu velho, meu camarada (31): Expedicionários em Cabo Verde, mortos entre 1903 e 1946 e inumados nas ilhas de São Vicente e Sal (Lia Medina / José Martins)
Guiné 63/74 - P14353: Meu pai, meu velho, meu camarada (41): Jorge Manuel Augusto da Silva, o "binte oito", era um orgulhoso sapador de assalto, da arma de engenharia... Fez a tropa em Tancos, em 1947, ainda chegou a jogar futebol e era amigo do histórico guarda-redes do Porto, o Barrigana (Henrique Cerqueira)
Jorge Manuel Augusto da Silva, natural do Porto, fez a tropa em 1947...
Era soldado sapador de assalto... e conhecido pelo "Binte Oito"
Data: 8 de março de 2015 às 11:32
Assunto: Meu pai,meu velho , meu camarada
Caro Camarada Luís Graça:
Há muito tempo, mais precisamente a partir da altura em que publicaste um dos primeiros postes sobre o tema " Meu pai, meu velho, meu camarada " (*), que senti um grande carinho pelo tema. No entanto não ganhava coragem para escrever sobre o pai do qual passei quase toda a minha vida a ouvir as suas estórias de quando esteve na tropa (hoje são os nossos filhos e netos a ouvir as nossas).
Bom, e vai daí, tu relanças novamente o tema e então lá fui procurar no meu "baú" das recordações e encontrei a caderneta militar do meu pai . E assim sendo vou tentar escrever algo que homenageie a memória do meu e de todos os nossos pais que são: "O Meu Pai , Meu Velho, Meu Camarada ". Espero não ser muito aborrecido mas vou escrever principalmente com o coração e amor pelo meu pai já retirado desta vida terrena.
Apresento o Meu pai, Jorge Manuel, que foi Sapador de Assalto em Tancos [em 1947].
Sempre ouvi falar o meu pai e muitos dos seus amigos da altura que ele era um pouco irrascível na sua vida militar, mas sempre que era necessária aplicação da sua especialidade, ele então tinha que ser o melhor. Era com muito orgulho que me contava a vitória obtida numa competição (???) entre vários países da NATO, numas provas militares . E como ele era Sapador de Assalto, orgulhava-se de ser bom a lidar com explosivos.
Uma outra estória muito engraçada (para mim, claro) foi a sua narrativa de uma célebre "fuga" de que foi protagonista precisamente do interior do Castelo de Almourol. Segundo ele a tropa de Tancos na altura fazia serviço nesse famoso Castelo. Pelos vistos, o meu pai era um "bom Casanova" e nem as muralhas de um Castelo o detinham quando havia "rabo de saia" nas redondezas.
Já agora o meu pai também foi um excelente jogador de futebol mas, que também acabou por ser irradiado dessa atividade por ter "acertado o passo" a um árbitro e a um polícia. Não pensem que o meu pai era um violento, era sim um rebelde e talvez em demasia para a época.
Estou aqui a pensar que tinha tanto, mas tanto para contar sobre o meu pai, mas não sai... não sai mesmo e por isso vou ficar por aqui e até vou pensar ainda se mando ou não este escrito para a malta ler.
Ah!, é verdade, o meu pai era conhecido na tropa pelo "Binte Oito" (28), á moda do Porto, já se vê. Era eu miúdo e conheci um famoso jogador da altura que era o saudoso Barrigana [, Frederico Barrigana, 1922-2007], penso que jogava no Salgueiros ou Porto. Estava ele junto do meu pai e só falavam da tropa e era então "Binte oito prá qui....binte oito prá acolá"....
Meu Pai, Meu Amigo, Meu Camarada, que saudades tenho de ti. Dá um beijo à Mãe e aguarda por mim.
Um grande abraço a todos os Pais, Amigos e Camaradas da nossa Tabanca Grande.
Henrique Cerqueira
PS - Envio em anexo algumas imagens possíveis da Caderneta militar do meu pai, achei particular graça às páginas descritivas do material recebido para uso pessoal.
Folhas da caderneta militar de Jorge Manuel Augusto da Silva, pai do nosso camarada Henrique Cerqueira
Fotos : © Henrique Cerqueira (2015). Todos os direitos reservados.
_________________
Nota do editor:
(*) Último poste da série > 3 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14316: Meu pai, meu velho, meu camarada (40): Torcato Prudêncio da Silva (1915-1977) faria 100 anos no passado dia 28 de fevereiro...Na tropa (entre 1936/37 e 1943), foi da arma de artilharia, como o filho que o recorda hoje com muita saudade (Torcato Mendonça, ex-alf mil art, CART 2339, Mansambo, 1968/69)
Guiné 63/74 - P14352: Convívios (656): IX Encontro dos Combatentes do Ultramar do Concelho de Matosinhos, levado a efeito no passado dia 7 de Março de 2015, em Leça da Palmeira (Carlos Vinhal)
IX ENCONTRO DOS COMBATENTES DO ULTRAMAR
DO CONCELHO DE MATOSINHOS
DO CONCELHO DE MATOSINHOS
DIA 7 DE MARÇO DE 2015
Foto de família, com alguns dos participantes no IX Encontro dos Combatentes da Guerra do Ultramar do Concelho de Matosinhos, tirada na marginal de Leça da Palmeira
No passado sábado, dia 7 de Março de 2015, cumpriu-se o IX Convívio dos Combatentes do Ultramar do Concelho de Matosinhos, assim designado agora por se estenderem estes Encontros aos camaradas de Angola e Moçambique.
Modéstia à parte, os Organizadores do evento consideram que foi um êxito, não só pelo número de participantes, 110, mas pelo recorde de presença de senhoras.
Conforme o programa estabelecido, pelas 11 horas foi celebrada uma Missa de Sufrágio pelos camaradas caídos em campanha e já durante a vida civil, presidida pelo, já nosso amigo, Padre Marcelino da Capela do Espírito Santo de Leça da Palmeira.
Exterior da Capela do Sagrado Coração de Jesus, em Leça da Palmeira
O senhor Padre Marcelino durante a celebração da Missa
O Padre Marcelino realçou a presença dos muitos combatentes e familiares nesta celebração. Lembrou o sacrifício que foi imposto a uma geração e o sentido de união que persiste, volvidos já mais de 50 anos desde o início da guerra. Disponibilizou-se a receber-nos sempre que queiramos a sua colaboração espiritual. Agradeceu e declinou, por motivos de saúde, o convite que lhe formulámos para almoçar connosco.
Tirada a foto de família com alguns dos participantes no Encontro, o destino foi o Tryp Porto Expo Hotel onde iria decorrer o almoço.
Após a recepção aos participantes pelo camarada Ribeiro Agostinho, a "alma" destes Convívios, foi dado o tiro de partida para a mesa das "entradas".
O primeiro obstáculo a vencer foi a mesa dos frios
A Mesa VIP, com: Abel Santos, à esquerda; Dr. Eduardo Nuno, Vice-Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos; camaradas Francisco Oliveira, António Maria, António Vieira e Dr. Pedro Sousa, Presidente da União de Freguesias Matosinhos/Leça da Palmeira.
Nesta perspectiva da Mesa: O TCor Armando Costa, Presidente da Direcção do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes; Dr. Eduardo Nuno e o camarada Francisco Oliveira.
Vista parcial da sala de jantar
Ex-Combatentes dos três teatros de operações: António Coelho, Moçambique; António Silva, Angola e António Sampaio, Guiné.
No decorrer do almoço houve lugar às habituais, e sempre desejadas, alocuções por parte das personalidades presentes. Abriu as hostilidades o senhor TCor Armando Costa da Liga dos Combatentes que salientou o papel desta instituição ao serviço de todos os combatentes, particularmente o Núcleo de Matosinhos que se tem empenhado na concretização dos projectos levados a cabo neste Concelho.
TCor Armando Costa no uso da palavra
O senhor Dr. Pedro Sousa, Presidente da União das Freguesias Matosinhos/Leça da Palmeira, apesar de por motivos oficiais não poder estar presente no almoço, não deixou de comparecer para cumprimentar os combatentes e deixar algumas palavras de apreço.
O senhor Dr. Eduardo Nuno, Vice-Presidente da Edilidade, também deixou algumas palavras de simpatia por mais esta manifestação de camaradagem e união entre quem lutou há tantos anos numa guerra que ninguém quis e que felizmente já acabou.
O camarada Ribeiro Agostinho, o principal impulsionador destes convívios, deixou uma palavra de agradecimento aos combatentes e familiares presentes e às personalidades que ali representavam a Edilidade e a Liga dos Combatentes.
Nesta foto, atrás, de pé: O combatente Ribeiro Agostinho, TCor Armando Costa, Dr. Pedro Sousa, Dr. Eduardo Nuno e os combatentes Francisco Oliveira, António Maria e Carlos Vinhal. Falta o camarada Abel Santos que estava do lado contrário da objectiva.
Um dos momentos de animação protagonizado pelo nosso velho amigo Victor
O Coro do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, com algumas ausências, actou interpretando alguns trechos da Música Popular Portuguesa. Finalizou a sua actução com o Hino da Liga dos Combatentes...
...ouvido de pé e em silêncio por todos os presentes.
Cerca das 18 horas o pessoal começou a retirar. Tenhamos força e engenho para voltar a reunir as hostes no próximo ano.
************
Texto e edição de fotos: Carlos VinhalFotos: Abel Santos, Carlos Vinhal, Ribeiro Agostinho e Raul Ramos
____________
Nota do editor
Último poste da série de 11 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14348: Convívios (655): Encontro Pré-Primaveril da Magnífica Tabanca da Linha, dia 19 de Março de 2015, no sítio do costume (José Manuel Matos Dinis / Jorge Rosales)
Guiné 63/74 - P14351: Blogoterapia (266): O Senhor M. Proust escreveu milhares de páginas "À la recherche du temps perdu"... Será que nós estamos escrevendo milhares de postes, à procura da juventude "perdida" na guerra? (Vasco Pires, ex-alf mil art. cmdt do 23º Pel Art. Gadamael, 1970/72)
1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72), com data de 11 de Março de 2015:
Pois é Luis, como dizia o meu avô, do alto da sua "sabedoria Bairradina": pela boca, morre o peixe, e tu "implacável" editor, te encarregaste da cobrança.
Vamos lá tentar então, mesmo sabendo que estou entrando "numa rua escura" ou ao menos mal iluminada.
Nós, da nossa geração, nascemos numa "ilha ".
Ao passo que no resto da Europa, tudo tinha sido destruído pela Segunda Guerra, - infra-estruturas, estruturas e superestruturas - neste nosso "Jardim à beira mar plantado" tudo continuava de pé.
Éramos também filhos da "Guerra fria", bombardeados pela propaganda dos dois lados.
Sabemos hoje que o nosso "Último Imperador ", tinha a "certeza" que Portugal não sobreviveria sem o "Império", a máquina de propaganda, alardeava que éramos um País multirracial e pluricontinental.
E lá fomos nós para outro Continente "dilatar a fé e o Império", erámos jovens inocentes na maioria, alguns de nós, nunca tínha visto o mar nem um comboio.
Alguns outros se achavam bem informados, porque ouviam a BBC ou a Rádio Moscovo.
Sei, havia também os "filhos" da República Velha, o meu avô era um deles, culpando os "Jesuítas" de todos os males da Nação.
Também não éramos (somos) Europeus, nem antropológica nem culturalmente, mais tarde nos convenceram do contrário, e vimos no que deu!
Enquanto todos os países coloniais negociavam a transição, nós fomos à guerra, guerra politicamente perdida "ab initio".
Pergunto eu então, o que eu tenho a ver com esse soldado largado nas "bolanhas" Africanas?
Ah, sim, entre eu hoje, e o jovem Soldado de Artilharia, há as memórias.
O Senhor M. Proust escreveu milhares de páginas "À la recherche du temps perdu", será que nós estamos escrevendo milhares de postes, à procura da juventude "perdida" na guerra?
E as memórias, serão reprodução de vivências, ou construções mentais? Memória involuntária ou memória voluntária?
Nesta hora lembro a frase afixada na fachada da República Praquistão, na Coimbra de então: "Não sou eu nem o outro, sou algo de intermédio..." Mário de Sá-Carneiro.
Há sim muitas perguntas, mas (felizmente) temos o Blog à procura das respostas!
Forte abraço
VP
___________
Pois é Luis, como dizia o meu avô, do alto da sua "sabedoria Bairradina": pela boca, morre o peixe, e tu "implacável" editor, te encarregaste da cobrança.
Vamos lá tentar então, mesmo sabendo que estou entrando "numa rua escura" ou ao menos mal iluminada.
Nós, da nossa geração, nascemos numa "ilha ".
Ao passo que no resto da Europa, tudo tinha sido destruído pela Segunda Guerra, - infra-estruturas, estruturas e superestruturas - neste nosso "Jardim à beira mar plantado" tudo continuava de pé.
Éramos também filhos da "Guerra fria", bombardeados pela propaganda dos dois lados.
Sabemos hoje que o nosso "Último Imperador ", tinha a "certeza" que Portugal não sobreviveria sem o "Império", a máquina de propaganda, alardeava que éramos um País multirracial e pluricontinental.
E lá fomos nós para outro Continente "dilatar a fé e o Império", erámos jovens inocentes na maioria, alguns de nós, nunca tínha visto o mar nem um comboio.
Alguns outros se achavam bem informados, porque ouviam a BBC ou a Rádio Moscovo.
Sei, havia também os "filhos" da República Velha, o meu avô era um deles, culpando os "Jesuítas" de todos os males da Nação.
Também não éramos (somos) Europeus, nem antropológica nem culturalmente, mais tarde nos convenceram do contrário, e vimos no que deu!
Enquanto todos os países coloniais negociavam a transição, nós fomos à guerra, guerra politicamente perdida "ab initio".
Pergunto eu então, o que eu tenho a ver com esse soldado largado nas "bolanhas" Africanas?
Ah, sim, entre eu hoje, e o jovem Soldado de Artilharia, há as memórias.
O Senhor M. Proust escreveu milhares de páginas "À la recherche du temps perdu", será que nós estamos escrevendo milhares de postes, à procura da juventude "perdida" na guerra?
E as memórias, serão reprodução de vivências, ou construções mentais? Memória involuntária ou memória voluntária?
Nesta hora lembro a frase afixada na fachada da República Praquistão, na Coimbra de então: "Não sou eu nem o outro, sou algo de intermédio..." Mário de Sá-Carneiro.
Há sim muitas perguntas, mas (felizmente) temos o Blog à procura das respostas!
Forte abraço
VP
___________
Nota do editor:
Último poste da série > 11 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14241: Blogoterapia (265): Ainda a tragédia do Quirafo, apesar do muito que já se disse e escreveu (Juvenal Amado / João Maximiano)
Último poste da série > 11 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14241: Blogoterapia (265): Ainda a tragédia do Quirafo, apesar do muito que já se disse e escreveu (Juvenal Amado / João Maximiano)
Guiné 63/74 - P14350: Parabéns a você (873): Manuel Luís R. Sousa, Sargento Ajudante Ref, ex-Soldado At Inf do BCAÇ 4512 (Guiné, 1972/74)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 11 de Março de 2015 > Guiné 63/74 - P14346: Parabéns a você (872): Artur Soares, ex-Fur Mil Mec Auto da CART 3492 (Guiné, 1972/74) e Joaquim Sequeira, ex-1.º Cabo Canalizador do BENG 447 (Guiné, 1965/67)
Nota do editor
Último poste da série de 11 de Março de 2015 > Guiné 63/74 - P14346: Parabéns a você (872): Artur Soares, ex-Fur Mil Mec Auto da CART 3492 (Guiné, 1972/74) e Joaquim Sequeira, ex-1.º Cabo Canalizador do BENG 447 (Guiné, 1965/67)
Subscrever:
Mensagens (Atom)