terça-feira, 12 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14600: Memória dos lugares (290): conjunto musical "Os Bambas D' Incas" em Mansambo, 1969 (José Maria Sousa Ferreira , o "Braga", viola solo, ex-sold mec auto, CCS/BART 1904 e Pelotão de Intendência, Bambadinca, 1968/70, e hoje empresário)



Foto nº 1

Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Mansambo (CART 2339, 1968/69) > 1969 > Atuação do conjunto musical, da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), Os Bambas D' Incas": dfa esquerda para a direita, Peixoto (viola ritmo), José Maria Sousa (viola solo), Neves (bateria) (também era da CCS), Tony (vocalista) e Otacílio (viola baixo)...





Foto nº 2

Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Mansambo (CART 2339, 1968/69) > 1969 > Atuação do conjunto musical, da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), Os Bambas D' Incas": > A malta em cima de um abrigo > Da esquerda para a direita,  José Maria Sousa (viola solo), de pé;  Tony (vocalista), sentado; Otacílio (viola baixo), de pé; Neves (bateria), sentado;  e Peixoto (viola ritmo), de pé. Até à data, o José Sousa có conseguiu contactar o Peixoto, que é de Ponta da Barca.



Foto nº 3

Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Na festa do barbeiro da CCS...





Foto nº 4

Guiné-Bissau > Farim > 2011 > O José Maria Sousa Ferreira no rio Cacheu


Foto: © José Maria Sousa Ferreira (2015). Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem: L.G.)



1. Mensagem, de 6 do corrente, do nosso camarada José Sousa  [JMSF]


[foto à esquerda: de seu nome completo, José Maria Sousa Ferreira , o "Braga", viola solo do conjunto musical Os Bambas D' Iincas; natural de Braga, é hoje empresário, sendo sócio de várias escola de condução no norte; ex-soldado de rendição individual (BART 1904 e Pelotão de Intendência, Bambadinca, 1968/70)]

 Oi,  Luís,

Como te tinha dito,  envio-te mais algumas fotos de Bambadinca, Mansambo e Farim. 

As fotos onde está o conjunto foram tiradas uma a actuar para a companhia que estava em Mansambo, e a outra em cima de um abrigo também em Mansambo. (**)

Esclareço que nestas fotos aparece também um membro novo que também fez parte do conjunto que é o baterista, 1º Cabo Neves, aliás, esta foto encontrei-a no meu sótão de recoradações. 

Na outra foto da época  [,foto nº 3,] , estávamos numa festa de aniversário do barbeiro da companhia. 

As outras fotos [, a publicar em próximo poste, tendo os editores pedido a troca do formato pdf por jpg, ] foram tiradas quando estive em férias em 2011, onde se pode ver a minha pessoa na varanda do Palácio do Governo, já destruído pela guerra civil, e as outras em Bamdadinca e Farim [, foto nº 4].

Um abraço do tamanho de Braga até Bambadinca e até ao dia 30,  no nosso almoço [, na Trofa].

José Maria (Braga).

Nota - Há umas fotos numa cerimónia que tivemos em Bambadinca, em que eu apareço a colocar um relógio no pulso do chefe militar.

A foto em que tenho a mão pelas costas de um negro, esse negro, era combatente inimigo (terrorista). 
O outro que está ao meu lado,  na mesma foto, era militar português.

José Maria Sousa Ferreira

Foto à direita: o vocalista Tony, que pelo nome e nº mecanográfico terminado em 61, pode ser o 1º cabo nº 14219661 António N. Sousa ("Era refratário, e tinha cinco a seis anos a mais do que nós", diz o Sousa; julga que era condutor, e natural de Lisboa, onde já cantava, com fadistas conhecidos como a Maria da Fé; desconhece-se atualmente o seu paradeiro; foi ele que em Bambadinca, por volta de maio de 1969, cantou para a Cilinha a famosa canção do Alberto Cortez, "Mónica", adaptando a letra].


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Otacílio Luz Henriques, -1º cabo bate-chapas, do pelotão de manutenção comandado pelo alf mil Ismael Augusto, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)... Era o quinto elemento que faltava identificar. O José Maria anda a tentar falar com ele... Foto, sem legenda, do álbum do Otacílio Luz Henriques (que até há anos atrás morava em Paço de Arcos, Oeiras; o seu telefone não responde)

Foto: © Otacílio Luz Henriques (2013). Todos os direitos reservados. (Edição e legendas: LG)


Guiné > Zona Leste > Setor L1 (Bambadinca) > Mansambo > 1970 > Vista aérea do aquartelamento. Ao fundo, da esquerda para a direita, a estrada Bambadinca-Xitole. Foto do arquivo de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)

Foto: © Humberto Reis (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


O José Sousa esteve várias vezes em Mansambio, na altura da construção do aquartelamento, ainda no tempo do BART 1904. a cuja CCS pertencia... Era mecânico e andava com o reboque, a carregar cibes... E estava lá a 11 de Julho de 1968 quando o IN apanhou à unha o Francisco Manuel Monteiro, soldado de armas pesadas, do 4º Gr Comb  da CART 2339... Lembra-se de vir da fonte, onde foi sozinho, de G3, e ainda deu um tiro numa lata de coca-cola... No regresso ao quartel, deu com o Monteiro (que ele achava que seria Xavier, pela inscrição que recorda ter lido na faca de mato, e ser natural de Penafiel), que vinha em sentido inverso... O Monteiro ia lavar umas peças de roupa.... Teve azar, o IN estava à espera dele... A sua ausência só mais tarde foi notada... Nesse mesmo dia, e na perseguição, em conjunto com as NT, o alferes de milícia de  Moricanhe, cmdt do Pel Milícias 103,  acionou uma mina A/P, tendo sucumbido aos ferimentos. O José Sousa ainda se lembra bem do estado horrível em que ficou o corpo... Do Monteiro, a malta da CART 2339 só teve  notícias depois do 25 de Abril de 1974. Levado para Conacri, foi um dos 26 prisioneiros portugueses libertado em 22/11/1970, na sequência da Op' Mar Verde (***).



Guiné > Zona Leste > Setor L1 (Bambadinca) > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > Construção, de raíz, do aquartelamento, de que hoje não há praticamente nenhum vestígio...  Fotos Falantes II > Foto nº 34 [Foto do arquivo de Torcato Mendonça, ex-alf mil art, CART 2339, 1968/69].

Foto: © Torcato Mendonça  (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 29 de abril de  2015 > Guiné 63/74 - P14540: Em busca de... (234): Elementos do conjunto musical "Os Bambadincas": o Toni (cantor romântico), o Serafim (baterista), o Peixoto (viola ritmo e cantor pop) e mais um outro 1º cabo, que era viola baixo...Eu sou o o "Braga", viola solo, e queria muito abraçar-vos, na Trofa, no próximo dia 30 de maio, por ocasião do convivio do pessoal de Bambadinca 1968/71

(**) Úlotimo poste da série > 6 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14578: Memória dos lugares (289): Gampará, região de Quínara (Joviano Teixeira, sold cozinheiro, CCAÇ 4142, 1972/74)
(***) Vd. poste de 5 de novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1248: Monteiro: apanhado à unha na fonte de Mansambo em 1968, retido pelo IN em Conacri, libertado em 1970 (Torcato Mendonça)

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14599: Convívios (679): XVIII Encontro do pessoal do Hospital Militar 241 de Bissau, dia 7 de Junho de 2015, em Leiria

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Nota do editor

Último poste da série de 9 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14591: Convívios (678): Encontro do pessoal da CCS/BCAV 2868, dia 27 de Junho de 2015 em Aveiras de Cima (José Carmino Azevedo)

Guiné 63/74 - P14598: A bianda nossa de cada dia (5): Se a vida era boa em Lisboa, em Bissau nem tudo era mau... Do arroz de todas cores ao vinho verde alvarinho "Palácio da Brejoeira"... (Hélder Sousa)



Guiné > Bissau > c. 1970/72 > O Hélder de Sousa, na avenida marginal, junto ao cais.

Foto do álbum de Hélder de Sousa, ex-fur mil de trms TSF (Piche e Bissau, 1970/72), ribatejano, engenheiro técnico, residente em Setúbal, membro da Tabanca Grande desde abril de 2007 e nosso colaborador permanente.

Foto: © Hélder de Sousa (2007). Todos os direitos reservados




Guiné > Zona leste >  Piche  > março de  1971 >>  Da esquerda para a direita, Centeno, Hélder e Herlander

Foto: © Hélder de Sousa (2012). Todos os direitos reservados

1. Texto de Hélder Sousa, recuoerado a partir de comentários ao poste P14574 (*)

Caros camaradas

Isto das comidas e bebidas tem que se lhe diga!

No que diz respeito à bebida e relativamente ao vinho, tenho pouca recordação. Lembro-me que durante o CSM [, Curso de Sargentos Milicianos,] em Santarém o que se bebia era pouco menos que intragável, eu que até sou de uma região, Cartaxo, onde o vinho sabia a vinho, pelo menos o que chegava à mesa de casa e aquando dos petiscos com os amigos.

Não sei se era por saber mesmo ou por sugestão do que se dizia, lá no Destacamento da EPC {[, Escola Prática de Cavalaria,] aquela zurrapa sabia a cânfora...

Na Guiné, devo dividir a 'coisa' em três partes: (i) nas refeições na Messe de Sargentos do QG [, Quartel General,]; (ii) durante a permanência em Piche;  e (iii) em Bissau, nos estabelecimentos civis.
Da primeira parte não guardo memória.
Ródulo do Alvarimho Palácio
da Brejoeira. Cortesia do sítio
Garrafeira Nacional
De Piche, em termos de Messe também não me lembro como era. Sei que cá fora, no Tufico, bebia cerveja. Mas no Quartel lembro-me bem de "estrear" Alvarinho "Palácio da Brejoeira". Nunca tinha bebido (para mim 'vinho verde' era Casal Garcia e similares) e isso foi possível porque um dos Capitães era uma pessoa de gostos refinados (até mandou vir, a suas custas, um aparelho de ar condicionado que mandou montar no quarto) fez com que fossem fornecidas algumas caixas e como uma delas de "partiu" lá tivemos a sorte (eu, o vaguemestre cúmplice e mais uns dois ou três esforçados companheiros) de experimentar esse vinho. E gostei!

Já nos diversos estabelecimentos civis, para além da cerveja, em termos de vinho a diversificação foi a característica principal: no "Solar do 10", quando jantava do lado mais requintado e maioritariamente ocupado pelos senhores Oficiais da Marinha, para acompanhar o "steak" à inglesa ia uma garrafa de "FR" velho, se a refeição era do lado da esplanada interior, a acompanhar a "Açorda à Santa Teresinha" ia um "Dão" (não dava nada, tinha que pagar!).

No restaurante do Pelicano optava mais geralmente por "Grão Vasco".

Quando ficava pelo "Oásis" e me deliciava com umas excelentes alheiras, 'bati' todas as 'monocastas' brancas que por lá havia até as esgotar: "Fernão Pires", "Tália", "Boal", "Trincadeira", etc... 

Portanto, em termos de bebida, melhor dizendo, em termos de vinho.... não me queixei!

O Hélder Sousa em Piche...
Quanto à comida.....

Em termos de Guiné, também divido isso em partes: (i) a comida na Messe de Sargentos do QG; (ii) os tempos de Piche; e (iii) as refeições nos espaços civis, podendo-se acrescentar as 'petiscadas'.

Da Messe confesso que algumas vezes não me pareceu mal de todo mas o que mais 'retive para memória' foi os diferentes tipos de arroz: o "vermelho" quando pretendia ser de tomate, o "verde" quando misturado com verduras, o "alaranjado" quando de cenoura, o "amarelo", quando de açafrão ou caril e ainda havia o "branco". O que o acompanhava era irrelevante.

Em Piche, fazia-se o que se podia, em função dos fornecimentos. Não posso dizer que desgostei. Comi razoavelmente bem, tendo em conta as circunstâncias.

E ainda houve tempo para se experimentar pratos novos, como por exemplo as "almôndegas de mancarra ao suor", as quais eram uma espécie de carne picada mas que não sendo muita era enrolada e recheada com pedaços de mancarra e que antes de irem para a confecção eram passados pelo suor do corpo do cozinheiro negro. Muito bom!

Petiscos eram bastantes e em função do que os fornecimentos proporcionavam. Comi um leitão (já um bocadinho crescido...) com arroz no bucho, em casa do Chefe de Posto e arranjado pelo homem da Casa Gouveia que "soube pela vida". Coisas proporcionadas pelo meu amigo vaguemestre Herlander, que tinha estado comigo em Santarém.

Na 'vida civil' de Bissau e arredores, enquanto havia 'patacão', não falando em ostras e camarões ou iscas às tirinhas no Zé D'Amura, fui variando e experimentando diversos locais e pratos, lembrando-me agora assim de repente, para além dos já citados "Solar do 10", "Pelicano" e "Oásis", também a "Meta", o "Sporting de Bissau", umas duas vezes o "Grande Hotel", etc.

Em resumo, dum modo geral, tendo em atenção o tipo de funções e ocupações funcionais que me tocaram, não tenho grandes razões de queixa quanto à alimentação, pois sempre que não era boa foi-se arranjando alternativas.

Hélder S.
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Notas do editor:

Vd. postes da série:

11 de maio de  2015 > Guiné 63/74 - P14595: A bianda nossa de cada dia (4): Os nossos "chefs gourmet", lá no mato.. A fome aguçava o engenho... (Jorge Rosales / Manuel Serôdio / Vasco Pires)

9 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14589: A bianda nossa de cada dia (3): o melhor casqueiro da zona leste, amassado e cozido em forno a lenha pelo Jacinto Cristina e pelo Manuel Sobral, no destacamento da ponte Caium... Mas nem só de pão viviam os homens do 3º Gr Comb, os "fantasmas do leste", da CCAÇ 3546 (Piche, 1972/74)

7 de maio de 2015 >  Guiné 63/74 - P14584: A bianda nossa de cada dia (2): homenagem ao nosso cozinheiro Manuel, hoje empresário de restauração (Abílio Duarte, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Nova Lamego, Paunca, 1969/1970)

5 de maio de 2015 Guiné 63/74 - P14574: A bianda nossa de cada dia (1): histórias do pão e do vinho... precisam-se!

Guiné 63/74 - P14597: Notas de leitura (711): "O Outro Lado da Guerra Colonial", por Dora Alexandre, A Esfera dos Livros, 2015 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Abril de 2015:

Queridos amigos,
O outro lado da guerra não precisa de ser visto com olhos coloridos, nem tudo é diversão nem constituído pelo bizarro ou pelo insólito. Para muitos, era a primeira viagem de barco, havia o inesperado do embate dos costumes, usos e gentes. Nesse outro lado da guerra inventaram-se ofícios, nasceu o temor reverencial pela mata e perigos recônditos, descobriu-se que a guerra era urdida com infinitas perícias, com barcos zebro, com o tratamento de informações, com maqueiros e transmissões, com tropa em destacamentos e forças especiais, havia o bendito helicóptero e as benditas enfermeiras. Faziam sinos, melhoravam as suas instalações, erguiam-se memoriais aos mortos, cultivavam-se rivalidades, os cozinheiros sofriam as iras de quem queria um rancho melhorado, uma coisinha diferente.
Dora Alexandre fez 50 entrevistas e deixa-nos aqui uma molhada de peripécias a que não ficamos indiferentes. Até aparece o cabo Domingos, conhecido como Belle Dominique.
Não sei se é bem o outro lado da guerra, mas há aqui muitas recordações felizes, muitas saudades da camaradagem de antanho.

Um abraço do
Mário


O outro lado da guerra colonial, por Dora Alexandre

Beja Santos

A autora adverte-nos logo no limiar da conversa de que não é um livro convencional sobre aquelas guerras de África que mobilizaram mais de um milhão de jovens, entre 1961 e 1975: “Não se centra nos conflitos, não explica os bastidores ou a estratégia militar. Mas é um livro sobre a vida durante a guerra. Apesar dos momentos menos bons que muitos terão vivido, os militares portugueses não passavam os dias a lamentar a sua sorte. Souberam adaptar-se às circunstâncias, ser fortes, encontrar soluções criativas e trazer de lá momentos que vale a pena recordar”.

Primeiro, aquelas viagens de barco, para alguns de avião, as despedidas dolorosas, os enjoos, a expetativa do desembarque. E depois a descoberta de uma nova realidade, o embate perante gentes e costumes, o deslumbramento com a fauna e a flora, os mosquitos, o calor infernal, as formigas construtoras de bagabaga, a marabunta, as formigas devoradoras, os tornados, as chuvas diluvianas, os arrozais, as florestas espetaculares.

Segundo, a diversidade de fazer a guerra, as tropas em destacamentos, vivendo como em ermitérios, abastecidas sabe Deus como, as tropas especiais, os fuzileiros com as suas lanchas e os seus zebros, guerras com muitos tiros ou muito poucos, e as múltiplas especialidades, desde as transmissões, passando pelos maqueiros e cozinheiros até às autometralhadoras, os batismos de fogo, o primeiro morto do nosso grupo de combate, os hinos e cantigas para animar a malta, é um repositório de peripécias de que se escolhe uma, felizmente com um final feliz.

Era conhecido pelo Vila de Rei, um soldado muito alto em bem constituído que andava para ali cheio de febres altas e tremores. Combatia a doença indiferente aos tiroteios e morteiradas constantes. “A dada altura, quando a Companhia de Paraquedistas 121 estava dentro do perímetro de Gadamael-Porto, presenciou o cúmulo do azar: uma granada acertou precisamente na palhota onde estava o soldado doente, deixando-a completamente destruída. Nem queriam acreditar… Dentro da vala onde se protegiam do ataque inimigo, os paraquedistas entreolharam-se, consternados, comentado o infortúnio do rapaz por quem, infelizmente, já nada havia a fazer. A granada acertara-lhe em cheio. Eis que, para surpresa de todos, viram então chegar o suposto defunto a arrastar o físico a muito custo, e a ficar especado e incrédulo perante a destruição do local onde tentava curar-se do paludismo: tinha ido à casa de banho…”.

A vida no mato tinha a ver com toda esta diversidade e as respostas que as unidades encontravam, melhorando o conforto, cultivando hortas, dando assistência médica às populações, assegurando a defesa com fortins, arame-farpado, valas, abrigos para os combustíveis e viaturas.

Quarto, era um mundo de logística complicada, por vezes os reabastecimentos eram verdadeiras operações, os cozinheiros tinham que imaginar menus com ingredientes intragáveis, como a dobrada liofilizada, e os quartéis sujeitos a flagelações permanentes tinham que receber as munições na manhã seguinte, lá vinham os helicópteros. Logística complexa, e também prestadores de serviços desvelados, caso dos médicos e dos enfermeiros nos hospitais da retaguarda.

Quinto, as diversões, a procura de sexo, o ensino das primeiras letras aos soldados praticamente analfabetos que não podiam abandonar a tropa sem o exame da 4.ª classe. Ficamos aqui com um quadro bem completo que como se desanuviava o espírito em tempo de guerra, imitando touradas, indo à caça, ouvindo música, escrevendo aerogramas. E um dia a guerra acabou, nuns casos houve conversações amistosas com os inimigos de ontem, como na Guiné, noutros assistiu-se à eclosão da guerra civil, como em Angola, com os seus cenários dantescos.

Dora Alexandre em 50 entrevistas registou memórias e vivências especiais e soube vazá-las numa reportagem animada, colorida, onde entram artistas, militares de carreira, somos tomados por histórias insólitas, algumas bem divertidas, casos de boémia desopilante e até entra no saco das memórias o cabo Domingos, conhecido como Belle Dominique, um travesti que deu muito que falar. Uma interessante recolha de peripécias e recordações… porque há memórias da guerra que nunca se apagam, mesmo que não metam mortos nem feridos.
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14586: Notas de leitura (710): "Cabra Cega - Do seminário para a guerra colonial", por João Gaspar Carrasqueira, Chiado Editora, 2015 (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P14596: Agenda cultural (397): Comemorando o Dia da Europa mas também o fim da II Guerra Mundial... Reitoria da Universidade de Lisboa, 8/5/2015... Canção ("Refugee blues"), de W. H. Auden / David Mourão Ferreira, magistralmente dita pela jovem atriz Catarina Wallenstein


Cartaz do evento > Comemoração do Dia da Europa, na Reitoria da Universidade de Lisboa

1."A Europa continua a mostrar a sua incapacidade de resolver os problemas políticos e económicos que se agravam todos os dias. Nesse ambiente, apraz registar a resposta criativa de tantos artistas que todos os dias lançam pistas para o futuro".

Nesse sentido, o Instituto Europeu e o Instituto de Direito Económico Financeiro e Fiscal (IDEFF), da Faculdade de Direito (FD) da Universidade de Lisboa (ULisboa), decidiram comemorar o Dia da Europa (que se celebra a 9 de maio, um dia a seguir ao da celebreação do fim da II Guerra Mundial na Europa) (*) com um grande concerto na Aula Magna da Reitoria, no passado dia 8, pelas 21 horas.

O espectáculo que se prolongou por mais de 3 horas, com um público jovem entusiástico,   teve a  participação o Coro Juvenil da Universidade, e de jovens três músicos, de grande talento e irreverência:

Éme,
To Trips (Dead Combo)
B Fachada,

Houve ainda uma pssagem,breve pelo palco, de um "homem da casa", José Barata Moura (filósofo, professor universitário, antigo reitor da UL),  que, acampanhado da sua viola, cantou alguns dos seus  míticos temas, que ficaram nos nossos ouvidos de pais e filhos: "Olha a Bola, Manel", "Joana, Come a Papa", "Fungagá da Bicharada"... Curiosamente acabava de chegar do "Parque Jurássico" (leia-se, Lourinhã)...

Durante o concerto houve, igualmente, espaço para "outros criativos" como David Machado (Prémio de Literatura da União Europeia de 2015), Catarina Wallenstein e  Nuno Costa Santos, bem como jovens estudantes, que nos deram o seu testemunho sobre a Europa. É uma geração, "filha do Erasmus",  que já não conheceu as fronteiras (físicas, culturais e simbólicas) que nos dividiram s nós, europeus,   no passado... A nós, a nossa geração, e a geração dos nossos pais e avós... (**)



Lisboa, Reitoria da Universidade de Lisboa, 8 de maio de 2015 > Final da atuação do coro juvenil da Universidade de Lisboa




Vídeo (3' 04''). Alojado em You Tube / Luís Graça 


Reitoria da Universidade de Lisboa, 8 de maio de 2015 >  Comemoração do Dia da Europa.> A Nova Música da Velha Europa > A atriz Catarina Wallenstein (n. 1986) declamou um poema de H.W. Auden, traduzido por David Mourão Ferreira. Reproduz-se aqui um excerto com a devida vénia...

A poesia tal como a música faz parte do nosso riquissimo património comum europeu.  O nosso obrigado também,à Catarina, pela beleza, juventude, talento, generosidade e exercício de  cidadania que emprestou ao espetáculo. Espero que ela entenda este vídeo (amador) como um tributo... Foi feito  à distância, em condições técnicas necessariamente deficientes...

O poema "Canção", na tradução de David Mourão Ferreira, tem como título original em inglês "Refugee Blues", e foi publicado no outono de 1939. É um poema premonitório do Holocausto... que alguns ainda hoje continuam a negar, a minimizar ou a querer esqucer. Vídeo de Luís Graça (2015)


Canção

de H.W. Auden (1907-1973)
[trad. de David Mourão-Ferreira, poema repoduzido com a devida vénia] (***)




Dizem que esta cidade tem dez milhões de almas:
Umas vivem em mansões, outras em tugúrios;
Não há contudo lugar para nós, meu amor, 
não há contudo lugar para nós.

- Outrora tivemos uma pátria e pensávamos que isso era justo.
Olha o mapa, e ali a encontrarás.
Não mais podemos lá voltar, meu amor, 
não mais podemos lá voltar.

- O cônsul deu um murro na mesa e disse:
«Se não têm passaporte, estão oficialmente mortos.»
Mas nós ainda estamos vivos, meu amor, 
mas nós ainda estamos vivos.

- Aí em baixo, no adro da igreja, ergue-se um velho teixo:
Em cada primavera floresce de novo;
Velhos passaportes não podem fazê-lo, meu amor, 
velhos passaportes não podem fazê-lo.

- Fui a uma repartição; ofereceram-me uma cadeira;
Disseram-me polidamente para voltar no próximo ano;
Mas onde iremos hoje, meu amor, 
mas onde iremos hoje?

- Fomos a um comício público; o orador levantou-se e disse:
«Se os deixarmos aqui ficar, hão-de roubar-nos o pão de cada dia»:
Estava a falar de ti e de mim, meu amor, 
estava a falar de ti e de mim.

- Ouvimos um clamor que nem trovão retumbando no céu;
Era Hitler berrando através da Europa: «Eles têm de morrer!»
Oh, nós estávamos no seu pensamento, meu amor, 
nós estávamos no seu pensamento.

- Vimos um cachorro, de jaqueta apertada com um alfinete;
Vimos uma porta aberta e um gato a entrar;
Mas não eram judeus alemães, meu amor, 
não eram judeus alemães.

- Descemos ao porto e parámos no cais;
Vimos os peixes nadando como se fossem livres;
Apenas a dez pés de distância, meu amor, 
apenas a dez pés de distância.

- Passeámos por um bosque, havia pássaros nas árvores;
Não tinham políticos e cantavam despreocupados;
Não eram de raça humana, meu amor, 
não eram de raça humana.

- Sonhámos com um edifício de mil andares,
Com mil portas e com mil janelas;
Nenhuma delas era nossa, meu amor, 
nenhuma delas era nossa.

- Corremos à estação para apanhar o comboio expresso;
Pedimos dois bilhetes para a Felicidade;
Mas todas as carruagens estavam cheias, meu amor, 
mas todas as carruagens estavam cheias.

- Quedámo-nos numa grande planura com a neve a cair;
Dez mil soldados marchavam para cá e para lá,
À tua e à minha procura, meu amor, 
à tua e à minha procura. 

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Notas do editor:

(*) Vd. sítio Comissão Europeia em Portugal:

(...) Porquê um Dia da Europa?

Quando, em 9 de maio de 1950, propôs à República Federal da Alemanha e aos outros países europeus que quisessem associar-se a criação de uma comunidade de interesses pacíficos, Robert Schuman realizou um acto histórico. Ao estender a mão aos adversários da véspera, não só apagava os rancores da guerra e o peso do passado como desencadeava um processo totalmente novo na ordem das relações internacionais, ao propor a velhas nações, pelo exercício conjunto das suas próprias soberanias, a recuperação da influência que cada uma delas se revelava impotente para exercer sozinha. Esta proposta de Robert Schuman, conhecida como "Declaração Schuman", é considerada o começo da criação do que é hoje a União Europeia. Na Cimeira de Milão de 1985, os Chefes de Estado e de Governo decidiram celebrar o dia 9 de maio como "Dia da Europa".

A Europa que, desde essa data, se constrói dia a dia representou o grande desígnio do século XX e uma nova esperança para o século que se inicia. A sua dinâmica nasce do projecto visionário e generoso dos pais fundadores saídos da guerra e animados pelo desejo de criar entre os povos europeus as condições de uma paz duradoura. Esta dinâmica renova-se sem cessar, alimentada pelos desafios que se colocam aos nossos países num universo em rápida e profunda mutação. Este imenso desejo de democracia e de liberdade fez cair o muro de Berlim, devolveu o controlo do seu destino aos povos da Europa Central e Oriental e hoje, com a perspectiva de próximos alargamentos que consagrem a unidade do continente, confere uma nova dimensão ao ideal da construção europeia.(...) 


(**) Último poste da série > 7 de maio de 2015 >  Guiné 63/74 - P14579: Agenda cultural (396): no 70º aniversário do final da II Guerra Mundial, uma sugestão iimperdível: três obras-primas do realizador de cinema italiano Roberto Rossellini: Roma, Cidade Aberta (1945), Paisá-Libertação (1946) e Alemanha, Ano Zero (1948)...Em cartaz, em cópias restauradas, em Lisboa (Espaço Nimas) e no Porto (Teatro do Campo Alegre)

(***) MOURÃO-FERREIRA, David - "W. H. Auden -- Canção" / David Mourão-Ferreira. In: Revista Colóquio/Letras. Tradução de Poesia, n.º 165, Set. 2003, p. 161-162.  [Original em imnglês "Refugee Blues", escrito em 1939]

Guiné 63/74 - P14595: A bianda nossa de cada dia (4): Os nossos "chefs gourmet", lá no mato.. A fome aguçava o engenho... (Jorge Rosales / Manuel Serôdio / Vasco Pires)


Jorge Rosales,  alf mil da 1ª CCaç Indígena, Porto Gole, 1964/66, e  atual "régulo" da Tabanca da Linha



 Manuel Serôdio . camarada da diáspora lusitana, vive em Rennes, Bretanha, França; ex-fur mil CCAÇ 1787 / BCAÇ 1932, Empada, Buba, Bissau, Quinhamel, 1967/68



Vasco Pires, o primeiro à esquerda, de óculos escuros, no final da comissão, em Ingoré, região do Cacheu,  1972; ex-allf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72; bairradino até à medula, é outro camarada da diáspora lusitana: vive no Brasil esde 1972



1. Mensagens de 5 do corrente  de  três queridos camaradas nossos, a propósito do tema "A bianda nossa de cada dia":



(i) Manuel Seròdio

A guerra não se fazia sem eles, e quando se regressava à "base" a seguir a uns dias de mato e às famosas rações de combate, comer um "pitéu" cozinhado nessas cozinhas de 5 estrelas era uma satisfação para as barrigas esfomeadas.

(ii) Vasco Pires

Pois ém  Luis, Esse negócio da bianda era um caso sério. Exceto alguns poucos meses de "férias" em Ingoré, passei a maior parte da comissão em Gadamael. O abastecimento era por via marítima, de dois em dois meses,  se não me falha a memória, aí quando a Lancha (LDM/LDP) não vinha, aí a memória também "patina", as coisas ficavam difíceis, apesar da improvisação do pessoal do rancho..

Em Gadamael, existiam pescadores e caçadores, contudo em quantidades insuficientes para abastecer a tropa.

Desde, logo após a minha chegada, eu e os Furrieis, fomos viver na Tabanca. Numa dessas crises, o Furriel Oliveira, cozinheiro e "gourmet, avant la lettre", montou, junto com o meu ordenança, Cabo Apontador da guarnição local, um sofisticado esquema logístico, para interceptar durante a madrugada, pescadores e caçadores, com o fim de adquirir as preciosas proteínas animais, Ter guarnição local tinha algumas vantagens.

Para manter os "canhões troando ",os operadores precisavam de proteína.

Forte abraço
Vasco Pires
Ex-soldado de Artilharia

(iii) Jorge Rosales


Luís:

Em Porto Gole, 30 homens, o problema da "bianda" estava entregue ao Furriel Victor Gregório da "556". A comida e o pão, era ele,que orientava tudo, em como bom caçador, tudo corria bem...

Na minha memória,recordo-me que uma vez o barco não entregou farinha e fermento, e aí é que foi um problema, porque faltava o casqueiro!!!

Fomos buscar ao Geba, pequenas pedras, que serviram para acompanhar o molho.

Este grupo, tinha o Alface, sargento do quadro, que com o seu "saber", safava sempre nos dias mais dificeis, Aí aprendi, ou refinei, o espirito de equipe, que resolve tudo.

domingo, 10 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14594: Libertando-me (Tony Borié) (16): Napa Valley & Sonoma

Décimo sexto episódio da série "Libertando-me" do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66.



Lá na Guiné, na “Mansoa City”, como o comandante Luís gosta de lhe chamar, um certo dia de princípio de mês, pagámos sete ou oito “pesos”, no bar dos “Balantas”, por um copo de vinho verde.

O Curvas, alto e refilão, deu-nos um “abanão”, chamando-nos entre outras palavras reles do seu normal vocabulário, “bêbado”, “alcoólico”, “é só cigarros e vinho”, depois, lá para o fim do mês, “andas à crava”, e por fim, mal podendo abrir os olhos, pelo reflexo do luar, colocando-nos a mão sobre o ombro, não sabendo nós, se era num afecto de irmão ou talvez para se equilibrar, entre dois soluços, dizia, “três cervejas, já não te chegam”.

O vinho servido no aquartelamento era tinto e do barril, estava a cargo do “Arroz com pão”, que era o cabo do rancho, que para nós era um irmão, sempre nos facilitava o seu consumo, cedendo-nos a chave do “curral”, que era um casebre feito de latas, que existia entre outro casebre do forno da padaria, onde entre outras coisas roubávamos pão, quase todos os dias.
Mas voltando ao vinho verde, daquelas garrafas ovais, era um luxo, era uma novidade, pelo menos para nós que éramos “beirões”, e mais, servido lá no bar dos “Balantas” era um “ronco”, bebido e saboreado entre o aspirar do fumo dum cigarro “Três Vintes”, sem filtro, daqueles que deixavam marcas entre os dedos.

Lembranças de uma zona de guerra, de irmãos combatentes, de quem nunca mais tivemos qualquer notícia, oxalá andem por aí, fica-nos a lembrança, há que seguir em frente, vamos contar um pouco daqui, onde também existe vinho, que pode ser verde, tinto, branco, do Porto, que dizem que é uma cópia, champanhe ou qualquer outro derivado das milagrosas uvas.

Quase cinquenta anos depois, deixando a cidade de São Francisco, no estado da Califórnia, atravessando a “Oakland Bay Bridge”, sobre a Baía de São Francisco, que é uma longa ponte, sobre um estuário que recebe não só as águas do rio Sacramento e do rio São Joaquim a partir das montanhas da Serra Nevada, como também os rios que desaguam na baía de Suisun, a qual desagua no estreito de Carquinez, para se unir ao rio Napa na entrada da baía de São Paulo que se conecta com a Baía de São Francisco, entrando finalmente no oceano Pacífico.

Descrevendo tudo isto com alguns pormenores, talvez faça alguma confusão, mas só assim podemos explicar a importância do rio Napa e do seu extenso vale, que tomando a rota de leste, um pouco para norte, nas montanhas que circundam a estrada rápida, pode-se admirar por uma extensão de dezenas e dezenas de quilómetros, tanto de um lado como do outro, plantações de vinha, organizadas, alinhadas, onde a sua pulverização é feita por avionetas, que passam rasteiras, assim como a sua colheita é mecanizada, fazendo-nos entender que dali podia sair vinho ou seus derivados, que podiam abastecer o resto do mundo.

Seguíamos em direcção à região do Napa Valley e Sonoma Valley, que são dois extensos vales seguidos de enorme planície, com algumas pequenas montanhas, mesmo pequenas, mas cobertas de videiras e outras árvores de fruto, onde nos disseram que sendo nós europeus com toda a certeza que gostaríamos, pois quintas, vinhas e adegas, não faltam na área.

Assim aconteceu, algum tempo depois, surgiu a placa de sinalização anunciando “Napa Valley & Sonoma” e, dizem-nos que tudo começou por volta da metade do século dezoito, quando um tal H. W. Crabb, se estabeleceu por aqui, próximo do rio Napa, e plantou 130 acres (1 acre = 4046,8564224 metros quadrados) de vinha, depois começou a dizer a toda a gente que produzia 50.000 galões de vinho por ano, claro no final desse mesmo século, já existiam centenas de casas agrícolas plantando videiras, hoje existem aqui casas agrícolas com vinhas e outras árvores de fruto por distâncias de quilómetros, dizem que está considerada a primeira região de vinho do mundo, existem mesmo recordes de produção de vinho que vão desde o século dezanove.


É uma zona de combinação de clima mediterrâneo e a geologia na região, que fazem nascer videiras saudáveis e as uvas com muita qualidade. Nós, lembrando o vinho verde, dos sete ou oito “pesos”, do bar dos “Balantas”, andámos de quinta para quinta, entrando e provando em algumas, que sempre nos ofereciam o precioso líquido, verificámos em algumas o modo de fabricação do vinho, a limpeza e cuidado na preparação das pipas, o envelhecimento e armazenamento, em túneis abertos na rocha, por distâncias de centenas de metros, com temperaturas controladas, com o líquido armazenado em pipas de carvalho, que só tinham vida de cinco anos, depois eram destruídas, ficando somente uma pequena amostra para futura análise. Em algumas quintas também serviam comida à base de queijos, carne curtida, grelhados, saladas, pão de trigo ou centeio, e claro, vinho, branco ou tinto, e com fartura, só que nesta idade, havia controle, não como quando éramos jovens, mas mesmo que não quiséssemos, eram amáveis, insistiam para provar o precioso líquido, dizendo sempre que aquela quinta produzia o melhor vinho.

Um pequeno pormenor, em algumas quintas um pouco mais pequenas na sua dimensão, havia sempre um jardim com plantas aromáticas, no meio das vinhas, dizendo os responsáveis que era para atrair os insectos ou mosquitos que por ali viviam, deixando assim as uvas em paz, podendo crescer saudáveis.

Quando nos falaram em insectos ou mosquitos, logo nos lembrámos das “bolanhas” de Mansoa e arredores, onde aqueles malditos, pelo menos no começo da comissão, nos feriam muito mais que as palavras reles do seu normal vocabulário, do saudoso amigo e companheiro combatente, Curvas, alto e refilão.

Tony Borie, Maio de 2015
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Nota do editor

Último poste da série de 3 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14561: Libertando-me (Tony Borié) (15): Atravessando a Ponte Golden Gate, a pé, em S. Francisco

Guiné 63/74 - P14593: Manuscrito(s) (Luís Graça) (56): O rio, grande, da tua infância

O rio, grande, da tua infância

por Luís Graça


Da serra, azul, de Montejunto
Às dunas da Praia da Areia Branca
Corria o rio,
Grande,
Da tua infância.

Era grande só de nome,
Era grande à tua escala,
Quando eras menino,
E nele brincavas,
Apanhando enguias,
Com o teu pai…
Lembras-te ?
Usavam um velho chapéu de chuva,
Preto,
Como se fosse um camaroeiro.


Só era verdadeiramente grande
Quando violento,
Galgando casas e campos,
O rio, grande, da tua infância.
Até Deus ficava isolado
Na igreja do convento,
Deus,
Os presos da cadeia comarcã
E a mestre escola.
Nos dias de inundações e enxurradas,
Fazia-se gazeta à escola e à missa.


Lembras-te
Como era larga a foz
E grandes as férias de verão,
Uma eternidade,
Duravam enquanto durasse o pião.
E havia uma ponte de madeira,
Com as Berlengas ao largo
E o cabo Carvoeiro, ao fundo,
E mais longe ainda,
Onde o sol se punha,
O mar, medonho, dos teus avoengos,
Desaparecidos
Entre as brumas da memória
Das Índias e dos Brasis
E o cacimbo matinal
Das bolanhas das Guinés.

Talvez houvesse, também,
Senhoras de chapéu alto,
Passeando em barcos a remos.
Já não te lembras dos barqueiros,
Passados todos estes anos.
Mas devia haver barqueiros,
No rio, grande,  da tua infância,
Como no rio Sena
E nos quadros do Renoir.

Dizem que os vivos
Voltam sempre ao local do crime
Onde nasceram.
Mas um dia o tsunami do esquecimento
Irá varrer
A tua praia,
As tuas dunas,
O teu rio,
O adro do recreio da tua escola,
A tua rede neuronal,
O teu álbum de fotografias,
Amarelecidas, do Geba e do Corubal,
E os lugares da infância
Onde tu poderias ter sido feliz.
Mas quem sabe se foste feliz
Ou se poderias tê-lo sido ?
Felizmente que não há
Escalas de medição da felicidade,
Válidas e fiáveis.

Dizia-se que o rio, grande, da tua infância
Era navegável
No tempo dos fenícios, romanos e mouros,
Mas não era rio,
Era braço de mar, indomável,
Braço armado
Do terrível poder
De ditar as leis da vida e da morte,
De fecundar a terra
E de semear os cemitérios.

Nasceste a ouvir o mar,
O barulho do mar
E dos moinhos de vento
Que te deixaram os árabes.
Não sei o que está inscrito
No teu ADN,
Mas se Deus te marcou
É porque algum defeito te achou.

Batizaram-te cristão,
Na pia da igreja, gótica, do castelo,
Que foi românica,
E como antes tinha sido mesquita mourisca
Ou capela visigótica,
E, muito antes ainda, templo romano
Ou anta, dólmen, menir.

Perdeste-te, por amores e guerras,
No caminho sul de Santiago
E chamaram grande
Ao rio da tua infância.
Em noites de pavor palúdico.
Imaginavas-te numa piroga louca,
À deriva,
Pelo Rio Grande de Buba.





Loruinhã, Praia da Areia Branca > Setembro de 2014 > O Rio Grande, a chegar  à foz...
Foto: LG (2014)

Nascia, pensavas tu,  em Montejunto
O rio, grande, da tua infância,
E era azul a serra,
Vista do mar.
Mas tu nunca soubeste,
Em menino,
O que ficava por detrás do horizonte.
Por detrás de uma serra
Ficava outra serra,
Explicava-te a senhora professora de geografia,
Da 4ª classe
E do exame de admissão ao liceu.
Era curto o horizonte
Dos meninos da tua rua,
A rua do castelo
Que terminava no cemitério;
De um lado o mar,
Que era muito maior
Que o pobre rio, grande, da tua infância;
E do outro a silhueta, azul,
Da serra.
Que afinal não era tão alta
Como tu a vias
Da torre de menagem dos teus castelos
De brincar às guerras de mouros e cristãos,
Ou quando ias pescar enguias
No rio, grande, da tua infância.

Hoje sabes
Que tudo é à escala
Do que é infinitamente pequeno e humano.
E só Alá, dizem, é grande.





Lourinhã > c. 1940 > Ponte sobre o Rio Grande, na avenida e António José de Almeida... Foto de Francisco Fernandes. Cortesia da página no Facebook Lourinhã noutros tempos, mantida pela ADL - Associação para o Desenvolvimento da Lourinhã. 
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Nota do editor:

Último poste da série > 25 de abril  2015 > Guiné 63/74 - P14521: Manuscrito(s) (Luís Graça) (55): I'm sorry

Guiné 63/74 - P14592: Parabéns a você (901): Fernando Valente (Magro), ex-Cap Mil do BENG 447 (Guiné, 1970/72) e Henrique Matos, ex-Alf Mil Art, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Guiné, 1966/68)


____________

Nota do editor:

Último poste da série  > 5 de maio de 2015 >  Guiné 63/74 - P14567: Parabéns a você (900): Joaquim Gomes Soares, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 2317 (Guiné, 1968/69)

sábado, 9 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14591: Convívios (678): Encontro do pessoal da CCS/BCAV 2868, dia 27 de Junho de 2015 em Aveiras de Cima (José Carmino Azevedo)

O nosso camarada José Carmino Azevedo (ex-Soldado Condutor Auto Rodas da CCAV 2487/BCAV 2868, Bula, 1969/71), solicita o anúncio de mais um Encontro do pessoal da CCS do seu Batalhão.


ENCONTRO DO PESSOAL DA CCS/BCAV 2868 
(Guiné, 1969/70)

DIA 27 DE JUNHO DE 2015

AVEIRAS DE CIMA


EMENTA:
Lombo assado
e
Bacalhau com natas

PREÇO: 18,00 Euros

RESTAURANTE: Pôr do Sol 2
Estrada Nacional, 366
Aveiras de Cima

Contacto para inscrições: 919 143 520
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14588: Convívios (677): Mais um Encontro do pessoal da Magnífica Tabanca da Linha, desta feita no próximo dia 21 de Maio, em Arneiro, S. Domingos de Rana (José Manuel Matos Dinis)

Guiné 63/74 - P14590: Agenda cultural (397): Apresentação do livro "O General Ramalho Eanes e a História Recente de Portugal" - 1.º Volume, dia 14 de Maio de 2015, pelas 15 horas, na Messe Militar do Porto, Praça da Batalha (Manuel Barão da Cunha)

APRESENTAÇÃO DO LIVRO "O GENERAL RAMALHO EANES E A HISTÓRIA RECENTE DE PORTUGAL" - 1.º VOLUME, DIA 14 DE MAIO DE 2015, PELAS 15H00, NA MESSE MILITAR DO PORTO - PRAÇA DA BATALHA

C O N V I T E

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Nota do editor

Último poste da série de 7 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14579: Agenda cultural (396): no 70º aniversário do final da II Guerra Mundial, uma sugestão iimperdível: três obras-primas do realizador de cinema italiano Roberto Rossellini: Roma, Cidade Aberta (1945), Paisá-Libertação (1946) e Alemanha, Ano Zero (1948)...Em cartaz, em cópias restauradas, em Lisboa (Espaço Nimas) e no Porto (Teatro do Campo Alegre)

Guiné 63/74 - P14589: A bianda nossa de cada dia (3): o melhor casqueiro da zona leste, amassado e cozido em forno a lenha pelo Jacinto Cristina e pelo Manuel Sobral, no destacamento da ponte Caium... Mas nem só de pão viviam os homens do 3º Gr Comb, os "fantasmas do leste", da CCAÇ 3546 (Piche, 1972/74)


Foto nº 1 A


Footo nº 1 


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4

Foto nº 5


Foto nº 6


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Setor de Piche > CCAÇ 3546 (1972/74) > Destacamento da Ponte de Caium, guarnecido pelo 3º grupo de combate, "Os fantasmas do leste".(*)


Fotos: © Jacinto Cristina (2010). Todos  Todos os direitos reservados. [EDição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. A ponte, a padaria e o padeiro... O forno foi construído na parte inferior da ponte... Como o espaço era acanhado, tudo se aproveitava... O forno e a cozinha ficavam do lado esquerdo, no sentido Piche-Buruntuma... 

De costas, em tronco nu, vê-se o Manuel da Conceição Sobral (que vive hoje em Cercal do Alentejo, Santiago do Cacém), e era o ajudante de padeiro  (Foto nº 1). O Jacinto Cristina, o padeiro, está a enfornar (Foto nº 1A)...

No destacamento da ponte de Caium estava um grupo de combate, à época pertencente à CCAÇ 3546 (Piche, 1972/74). O Sobral e o Cristina  faziam reforço das 4 às 6 da manhã. Por volta das 5h/5h30, um deles ia amassar a farinha (12 kg / dia)... O outro ficava de reforço até às 6. Depois das seis, até às 8h/8h30, ficavam os dois a trabalhar. Às 9h já havia pão fresco... 

Todos os dias coziam. Tinham um stock de farinha que dava para um mês. Faziam uma média de 30 pães de 400 gramas, por dia. Como bons tugas, os camaradas que defendiam a ponte, adoravam pão!... O resto do dia os padeiros descansavam, ou jogavam à bola, ou brincavam no rio, quando levava água...

O Sobral era o apontador do morteiro 81 e o Cristina o municiador. Portanto, uma parelha completa! Também havia um morteiro 10,7,  ao cuidado do Pinto e do Algés. O 81 ficava do lado direito, à saída da ponte, no sentido de Buruntuma. O 10,7 ficava no lado esquerdo, junto ao paiol, também no sentido de Buruntuma... Mais à frente estava o 1º cabo Torrão, apontador da HK 21 (irá morrer em 14 de Junho de 1973). Também havia o morteiro 60 e a bazuca 8,9.

O Cristina (eu trato-o sempre por Jacinto, pai da minha querida amiga engª Cristina Silva e sogro do meu querido amigo, dr. Rui Silva) tornou-se de tal maneira imprescindível (por causa do "pão nosso de cada dia") que, além de municiador (e apontador, quando necessário) do morteiro 81, ficou na ponte de Caium 14 meses (em rigor, 13, se descontarmos o glorioso mês de férias, em abril de 1973, em que veio a casa para estar com a mulher e a filha; com ele, de férias, vieram também  o Pinto, o Charlot e o Algés; no avião da TAP, uma alegria!...Já não se lembra de quanto pagou... "Seis contos, para aí", diz-me ele).

Diziam que era o melhor casqueiro da Zona Leste... Na foto nº 2  o Jacinto está varrer e a limpar o forno... Na foto nº 3, está a fazer um petisco, ou não fosse ele um alentejano dos quatro costados... Na foto nº 4, está a barbear-se... Mesmo com o metro quadrado mais caro da Guiné, nas "suites" da Ponte Caium não faltava nada... O chuveiro era um bidão de 200 litros, furado...

Terrível foi aquele período de um mês (entre meados de maio e junho de 1973) em que o destacamento esteve sem reabastecimentos, sem farinha, sem pão... Por que a fome era negra, meteram-se a caminho de Piche, a 14 de junho de 1973, tendo sofrido uma brutal emboscada, em que morreram o 1º cabo apontador de metralhadora David Fernandes Torrão, e os soldados atiradores Carlos Alberto Graça Gonçalves ("Charlot"), Hermínio Esteves Fernandes e José Maria dos Santos... 

Disse-me o Jacinto Cristina (que ficou na ponte a tomar conta do seu morteiro 81), que os corpos foram cortados em quatro, com rajadas de Kalash... O bigrupo do PAIGC (onde foram referenciados  cubanos) levou cinco armas (incluindo a do furriel que foi projectado com o impacto do RPG7, juntamente com o sold cond auto Rocha, o Florimundo ).

Uns meses antes, em 19 de Fevereiro de 1973, tinha morrido o fur mil op esp Amândio de Morais Cardoso, na sequência da desmontagem de uma armadilha de caça. Essa cena passou-se debaixo dos olhos do Cristina que se salvou, ao pressentir o perigo.

Na foto nº 5, vê-se o tabuleiro da ponte por onde passava a estrada Piche-Buruntuma,,, A padaria ficava em segundo plano do lado esquerdo... A foto deve ter sido tirada no dia dos anos do Sobral, em março de 1973, a avaliar pelos dois cabritos que estão junto ao "burrinho" (o Unimog 411)... Tinham sido comprados na tabanca fula, que ficava a nordeste da ponte, a 3 km, e onde residiam as lavadeiras...

Soldado atirador, o Cristina era, como já dissemos, municiador do morteiro 81. Mas, uma vez que Piche ficava longe e era preciso fazer pão todos os dias,  aprendeu a arte de padeiro (que depois seria o seu ganha-pão, em Figueira de Cavaleiros, Ferreira do Alentejo, onde vive, hoje já refiormado; durante anos, teve um negócio próprio na  área da panificação; passei várias vezes pela casa e padaria, e trazia para Lisboa o seu pão feito na hora;  pude, pois, comprovar  que o seu "casqueiro" era, de facto, o melhor da região).

Como se percebe pelas fotografias, as estruturas da ponte foram aproveitadas ao milímetro...

Na foto nº 6 (s/d, tirada na  época seca, em 1973), o destacamento é visto da margem esquerda do Rio Caium, a sul da estrada, no sentido Buruntuma-Piche. Segundo o Carlos Alexandre (, de alcunha,  "Peniche"), ao  examinar melhor uma imagem destas  que lhe mandei, com maior resolução, vê que  à entrada do tabuleiro, estão dois camaradas que parecem ser o Cristina e o Sobral.

Um novo troço da estrada Piche-Buruntuma estava então em construção, a cargo da Tecnil. De Nova Lamego a Piche já se ia, há muito,  em estrada asfaltada. Daí talvez este desvio, contornando a ponte e atravessando. O desvio  é visível (parcialmente, em primeiro plano)  na foto nº 6.

Na época seca, o rio Caium ficava seco (ou reduzia-se a um pequeno charco à volta da ponte). Este rio é um afluente do Rio Coli, que fica a sul da estrada Nova Lamego-Piche-Buruntuma e serve de linha fronteiriça entre a Guiné-Bissau e a Guiné-Conacri.

2. Quem passou por aqui, entre Piche e Buruntuma, dificilmente acredita que um homem pudesse aguentar mais do que um mês, dois meses, neste Bu...rako. Recorde-se aqui a opinião, autorizada, do nosso camarada Luís Borrega (que infelizmdente, já nos deixou, em agosto de 2013, ficando vazio o  seu lugar à sombra do nosso poilão):

"Se houvesse um ranking para os maiores BURACOS da Guiné, Ponte Caium estaria certamente no TOP TEN, e provavelmente dentro dos 10, muito à cabeça (...) . O destacamento tinha que ser rendido a cada três semanas, (só em teoria), pela necessidade de géneros, mas também porque psicologicamente era o máximo de tempo que (...) podia aguentar. No entanto só éramos rendidos mês e meio ou dois meses depois. Numa das vezes estivemos 15 dias a sobreviver só com latas de atum, café e pão confeccionado sem fermento. Podem imaginar a qualidade desta panificação. Não havia mais nada no depósito de géneros. Era o meu grupo de combate que estava lá nessa altura. Foi um bocado complicado lidar com a situação, especialmente acalmar a guarnição" (...).

Houve quem vivessse e  sobrevivesse na Ponte Caium, comendo o pão que o Cristina e o Sobral amassaram e cozaram, sempre com dedicação e carinho... Mas também lembrando aos camaradas  que defendiam a ponte e aos transeuntes, que "nem só do pão vive o homem (**),,,




Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Ponte Caium > Ao lado de um memorial aos mortos do 3º Gr Comb da  CCAÇ 3546 (1972/74) ("Honra e Glória: Fur Mil Cardoso, 1º Cabo Torrão, Sold Gonçalves, Fernandes, Santos, Sold AP Dani Silva. 3º Gr Comb, Fantasmas do Leste,. Guiné- 72/74"; ainda existia em 2010, no tabuleiro da ponte esta base "Nem só de pão vive o home. Guiné, 1972-1974".


Foto: © Eduardo Campos (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.




Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Setor de Piche > Carta de Piche > Localização (assinalada a amarelo) da Ponte do Rio Caium, na estrada Piche (a sudoeste)-Buruntuma (nordeste, junto à fronteira com a Guiné-Conacri), sensivelmente a meio entre as duas localidades. O Rio Caium corre para sul, sendo um afluente do Rio Coli (que separa os dois países, num largo troco da fronteira leste).

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14588: Convívios (677): Mais um Encontro do pessoal da Magnífica Tabanca da Linha, desta feita no próximo dia 21 de Maio, em Arneiro, S. Domingos de Rana (José Manuel Matos Dinis)

1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), Amanuense da Magnífica Tabanca da Linha, em efectividade de serviço, com data de 7 de Maio de 2015:

Viva Carlos, boa tarde!
Prosto-me a teus pés e,
Volto a contar contigo para publicitares o próximo encontro da MAGNÍFICA, pois se não o fizeres, corro o risco de ser degradado para um qualquer lugar que não tenha as magníficas praias de S.Tomé, e sem os privilégios antigos e tolerantes de um outro degradado de luxo naquelas paragens.

De facto, S. Ex.ª o Senhor Comandante Rosales criou um interregno nos seus múltiplos afazeres, e mandou-me conduzi-lo a um lugar respeitoso, respeitado, e onde se servem famosas refeições, que se presume susceptível de nos fazer esquecer Oitavos. Não tem a mesma vista, nem a mesma facilidade de estacionamento, mas situa-se a meio da linha, pelo que em princípio será de mais fácil acesso para a maioria. Tem fama de bom serviço, que já é um contributo para a adaptação. O preço é que medra para os 20 aéreos (mas é equivalente para a Marinha, como para o Exército. Em suma, é de 20 paus para cada um, e de qualquer origem). Acabada a diligência, depositei S. Ex.ª na sua residência no nobiliário Monte Estoril, que me incumbiu de esmero nesta tarefa de promoção.
Tratando-se de pessoa afável, mas vingativo, apelo ao teu coração e à tua criatividade, para me salvares da terrível punição em caso do seu, dele, desagrado.

Hei-de pagar-te.

Nota - peço que preserves a imagem de Oitavos para esta convocatória, no sentido de evitar uma crise de identidade..

Então lá vai:

CONVÍVIO DA MAGNÍFICA TABANCA DA LINHA

DIA 21 DE MAIO DE 2015, EM S. DOMINGOS DE RANA

Conforme diversos relatos oficiais e particulares, faltou muita seriedade à empresa de Oitavos relativamente ao serviço do último encontro. Nessa esteira, e levando em conta o politicamente correcto, S. Ex.ª deu acolhimento a vários protestos sobre a qualidade, a quantidade, e a (in)delicadeza do serviço, para além da traição vínica, o costumeiro e honesto Esteva douriense, substituído por uma zurrapa não sei de onde. Dessa decisão decorreu a transferência, definitiva ou provisória, para outro local de amesentação, onde a tertúlia possa continuar a proporcionar magníficos e saudáveis encontros de confraternização. Tal mudança tem custos: a refeição completa tem novo preço, que já foi referido e não me atrevo a repetir, e o vinho passa a ser da Ermelinda, e do mais fracote dos produzidos naquela casa. De resto, continua a haver breves entradas, e uma escolha de duas sobremesas. Também haverá uma escolha de dois pratos. Esta concepção de ementa implica que ninguém se esqueça de notificar as escolhas com que deseja ser contemplado.

Assim, da estrada do Guincho, passamos para o Arneiro, a S. Domingos de Rana. Saindo da A5, vira-se logo à direita, passam-se 3 indicações do Arneiro, e vira-se à direita, onde o Caseiro está a breves 100 metros. Há uma dúzia de lugares ali à porta, e os atrasados terão que procurar nos quarteirões próximos.

Sobre os comeres, como já referi haverá "couvert", pratos e sobremesas à escolha, rematados com café, mai-la pinga, pelo valor citado de 20 paus. E o que se poderá escolher, perguntarão os excelentíssimos tertulianos. Nos pratos existem as alternativas de arroz de tamboril e maminha (uma carne grelhada) fatiada, enquanto nas sobremesas as alternativas serão delícia de nata com chocolate quente e salada de frutas. O "couvert" constará de pão, manteiga, patês, queijo de cabra com azeite e orégãos.

Vamos a alinhar, que o IMI já passou. As respostas e inscrições terão que chegar até ao dia 18, segunda-feira. Peço ao Manuel Resende para divulgar no blogue da Magnífica. Há alguns camaradas sem identificação de contacto, casos de Filipe (amigo do Pires), Tirano, Zé Rosales, Rogê, Santiago e Sottomouro.

Com os habituais desejos de saúde, boa disposição, e tostões para estragos, S. Ex.ª o Senhor Comandante Rosales abraça-vos, e refere estar atento aos faltosos, desertores e outros complicados, mas para quem vier a apresentar-se promete o derretimento máximo.

A minha humilde pessoa deseja que no dia 21 compareçam com muita e espontânea alegria.

Abraços fraternos
JD
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14582: Convívios (676): VI Almoço do pessoal da CCS do BCAÇ 2834 (Buba, 1968/69), dia 20 de Junho de 2015 em Mira (Flávio Ribeiro, Op Cripto)