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Nota do editor
Último poste da série de 22 de Agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16411: Parabéns a você (1124): Carlos Cordeiro, ex-Fur Mil Inf do CIC (Angola, 1969/71) e José Luís Vacas de Carvalho, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2206 (Guiné, 1969/71)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 24 de agosto de 2016
terça-feira, 23 de agosto de 2016
Guiné 63/74 - P16413: Álbum fotográfico de Adelaide Barata Carrêlo, a filha do ten SGE Barata (CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego, 1969/71): um regresso emocionado - Parte V: Em Bafatá, reencontrando o sr. Dinis, da Escola de Condução Automóvel
Fotos (e texto): © Adelaide Carrêlo (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Adelaide Carrelo | 10/08/2016
Assunto - A viagem pela minha Guiné
Bom dia, Luís,
Adorei ver o meu BU (*), hoje logo de manhã!!!
Seguem 2 fotos minhas (agora que já me conheces), uma com 8 anos e a
outra actual.
Um beijinho
PS - Vou fazer mais uma selecção das fotos da minha viagem, para te enviar. As próximas são de Bafatá.
2. Continuação da publicação do álbum fotográfico e das notas de viagem de Adelaide Barata Carrelo, à Guiné-Bissau, em outubro-novembro de 2015 (*):
A viagem continua de Buba até Bafatá por estradas de terra molhada pelas chuvas que caem sem pejo, escondendo o alcatrão de outrora [fotos nºs 3 e 4].
Tudo começou quando o meu filho nos disse que tinha sido selecionado para trabalhar na TESE em Bafatá. Foi como um relembrar daquilo que nunca vi mas sabia que não poderia ser muito diferente de Nova Lamego há quarenta e quatro anos atrás. Muito estranho este sentimento, não tive medo de o deixar partir. Claro que em condições diferentes de quem partiu para lá durante a Guerra.
Senti Bafatá como uma “mãe” que me iria substituir por um tempo que parecia infindável.
A esperança de voltar a pisar esta terra renasce. Durante este tempo as lembranças começam a tornar-se cada vez mais frequentes e o filme “Bafatá Filme Clube” foi a melhor estrada para entrar nesta cidade (**).
Ao seguir na estrada vermelha, vieram-me ao pensamento os militares que cruzarem esta floresta, sem saber para onde iam mas com a certeza do regresso. Pensamentos perdidos no verde da paisagem, atentos a cada passo que podia ser fatal.
Em Bafatá revi o sr. Dinis [, foto nº 2], que conheci em Nova Lamego, na altura tinha uma escola de condução que permanece ainda hoje em Bafatá [, foto nº 1]. Ele lembrava-se muito bem dos meus pais, e de nós os três ainda meninos.
Foi com as lágrimas nos olhos que abracei este senhor que tem pela Guiné um amor incondicional, fez tropa na Guiné, veio à Metrópole casar e voltou com a esposa, D. Célia, até hoje. Habituaram-se e ter e a perder, como todos os Guineenses.
Neste sítio também não há pressas. Os dias sucedem-se às noites e o tempo passa devagar. Realmente a adaptação do ser humano é impressionante. Quando a noite cai e a escuridão nos envolve, os nossos olhos passam a ver como os felinos. Só a partir das 20h00 quando a luz mortiça nos ilumina, bebemos um café no “Ponto de Encontro”, na companhia da D. Célia (sempre a sorrir) e do sr. Dinis, mas inexplicavelmente durante o dia não sentes a falta desta cafeína que pensas não poder passar sem ela.
Cá tudo nos falta, até aquilo que não existe. Quando observo as atitudes de muita gente que reclama por tudo e por nada, só penso “uma semaninha na Guiné, fazia-te bem ao corpo e à alma”.
Continuamos a viagem...
A esperança de voltar a pisar esta terra renasce. Durante este tempo as lembranças começam a tornar-se cada vez mais frequentes e o filme “Bafatá Filme Clube” foi a melhor estrada para entrar nesta cidade (**).
Ao seguir na estrada vermelha, vieram-me ao pensamento os militares que cruzarem esta floresta, sem saber para onde iam mas com a certeza do regresso. Pensamentos perdidos no verde da paisagem, atentos a cada passo que podia ser fatal.
Em Bafatá revi o sr. Dinis [, foto nº 2], que conheci em Nova Lamego, na altura tinha uma escola de condução que permanece ainda hoje em Bafatá [, foto nº 1]. Ele lembrava-se muito bem dos meus pais, e de nós os três ainda meninos.
Foi com as lágrimas nos olhos que abracei este senhor que tem pela Guiné um amor incondicional, fez tropa na Guiné, veio à Metrópole casar e voltou com a esposa, D. Célia, até hoje. Habituaram-se e ter e a perder, como todos os Guineenses.
Neste sítio também não há pressas. Os dias sucedem-se às noites e o tempo passa devagar. Realmente a adaptação do ser humano é impressionante. Quando a noite cai e a escuridão nos envolve, os nossos olhos passam a ver como os felinos. Só a partir das 20h00 quando a luz mortiça nos ilumina, bebemos um café no “Ponto de Encontro”, na companhia da D. Célia (sempre a sorrir) e do sr. Dinis, mas inexplicavelmente durante o dia não sentes a falta desta cafeína que pensas não poder passar sem ela.
Cá tudo nos falta, até aquilo que não existe. Quando observo as atitudes de muita gente que reclama por tudo e por nada, só penso “uma semaninha na Guiné, fazia-te bem ao corpo e à alma”.
Continuamos a viagem...
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Notas do editor
(*) Último poste da série > 10 de agosto de 2016 > ó o BU [um chimpanzé, ou "dari", em crioulo, que ] vivia em cativeiro numa reserva natural em Buba
(*) Último poste da série > 10 de agosto de 2016 > ó o BU [um chimpanzé, ou "dari", em crioulo, que ] vivia em cativeiro numa reserva natural em Buba
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segunda-feira, 22 de agosto de 2016
Guiné 63/74 - P16412: Notas de leitura (873): "O que a Censura cortou": notícias da Guiné, por José Pedro Castanheira (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Setembro de 2015:
Queridos amigos,
Este livro de José Pedro Castanheira, que ainda é possível adquirir a um preço próximo de 11 euros, comprando três números do Expresso de 2013, permite-nos dimensionar quem eram os grandes alvos do exame prévio, a natureza dos corpos arbitrários, tantas vezes improcedentes e inconsequentes. É ridículo o que se cortou da biografia de Amílcar Cabral, até partir para a clandestinidade. O que Augusto de Carvalho escreveu sobre Spínola foi considerado incendiário, atirado para o balde; o abate e aviões nos céus da Guiné, assunto altamente controlado e nem a fotografia do capitão Peralta em julgamento escapou ao lápis azul.
Hoje são simples curiosidades de um mundo execrável que os mais novos não conhecem. É bom rever as imagens. Foi assim.
Um abraço do
Mário
Jornal Expresso, o que a censura cortou: notícias da Guiné
Beja Santos
O jornalista José Pedro Castanheira apresentou assim a génese deste livro surgido em 2009 e republicado pelo Expresso em forma de três cadernos em 2013:
“Em Janeiro de 2008, comecei a escrever no Expresso uma coluna chamada ‘O que a Censura cortou’. A ideia era registar, semana após semana, os cortes efetuados pela Censura 35 anos antes. Foi uma das iniciativas tomadas para assinalar os 35 anos do semanário. O objetivo era não apenas revelar os efeitos da Censura no Expresso, mas tentar mostrar, a partir de um caso concreto e exemplar, o que ele significara no jornalismo português e na própria vida de uma nação. Uma compilação dos textos viria a ser editada em livro em Abril de 2009. Esta é uma reedição desse livro, que se julgou oportuna no âmbito das muitas iniciativas que serão realizadas ao longo de 2013 para comemorar os 40 anos do Expresso. Diferentemente do livro de 2009, este será dividido em três partes, oferecidas aos leitores juntamente com as edições do jornal de 19 e 26 de Janeiro e 2 de Fevereiro de 2013”.
Esclareço o leitor que adquiri recentemente estes três números do Expresso, que ainda não estão esgotados, com o custo aproximado de 11 euros. Não vamos falar da Censura, vamos só exemplificar o que foi censurado no Expresso entre a sua data de lançamento, em 6 de Janeiro de 1973 e 25 de Abril de 1974, com notícias referentes à Guiné. Em 27 de Janeiro de 1973, o Expresso pretende abordar o assassinato de Amílcar Cabral. A Censura cortou na íntegra a biografia de Amílcar Cabral, o jornal protestou e a notícia veria a ser parcialmente autorizada. Na notícia davam-se informações totalmente inócuas, como é o caso de: “Praticando diversos desportos, pertenceu à equipa de futebol da Casa dos Estudantes do Império, que chegou a ganhar o campeonato popular de Lisboa. A sua habilidade mereceu-lhe dos colegas o cognome de ‘cabecinha de ouro’". Augusto Carvalho, a pretexto deste assassinato, vai a Bissau, traça um perfil do governador da Guiné, a Censura corta que se farta: “Foi geral a ideia que conseguimos escolher em meios muito próximos do general: que os governadores-gerais ser campeões dos movimentos de africanização enquadrada num contexto federativo do todo nacional, onde a língua seria o cimento a unir a diversidade de culturas que enriqueceriam uma pátria comum, espalhada pelos quatros cantos do universo” e a Censura revela-se inclemente quando o jornalista escreve: “Spínola é um demagogo (…) disse-nos um representante do PAIGC com quem conseguimos contactar em Bissau. Como é natural, Bissau está cheia de elementos da organização guerrilheira. Espiões e espiados ao mesmo tempo” e escrevia-se mais adiante a propósito de Aristides Pereira como o sucessor de Cabral à frente do PAIGC: “A formação portuguesa é comum a todos eles e todos insistem num ensino do português nas escolas do PAIGC como idioma de entendimento entre as diversas etnias”.
Em 6 de Outubro o Expresso pretende falar dos primeiros aviões abatidos na Guiné-Bissau, e cita a France Presse onde se dizia que o número de perdas em aeronaves ascendia a 25, desde Março. A notícia fora proibida pela Censura. E vem a seguir uma curiosidade: “Um atraso ou uma qualquer deficiência de comunicação levou a que fosse posta em página. Quando os responsáveis do semanário souberam da inclusão de uma notícia proibida, mandaram para a impressora e substituíram-na por uma breve acerca da visita a Bona do primeiro-ministro do Japão, Tanaka. A infração quase passaria despercebida não fosse a denúncia do matutino de ultradireita Época”.
Falando por mim, foi a ler o livro de José Pedro Castanheira que vi a fotografia do capitão Peralta, capturado na operação Jove. Peralta foi condenado a dez anos e um mês de prisão. O Expresso quis publicar na capa uma foto sua, a censura só autorizou a legenda.
Para Balsemão, se não fosse o 25 de Abril, o Expresso seria forçado a fechar, era totalmente impossível continuar a publicar num jornal que a Censura mutilava nos sucessivos exames. No final do ano de 1973, Marcello Rebelo de Sousa fazia o balanço do ano, levou 24 cortes, o que se dizia sobre o Ultramar era impensável, não se podia falar do Congresso dos Combatentes, nem dos oficiais que apoiavam Spínola, nem das homilias do Padre Mário, de Macieira de Lixa. Entrara-se num período tormentoso onde era totalmente proibido falar em aumentos de preços, greves, uma entrevista a Álvaro Cunhal, por exemplo. À guisa de conclusão escreve-se que das 58 edições o número de artigos que vieram da Censura pelo menos com uma mancha azul foi de 1584. Não deixa de ser revelador que em todas as edições do Expresso tenha havido pelo menos um texto cortado na íntegra. O recorde deu-se a 3 de Fevereiro de 1973, quando o carimbo ‘proibido’ foi usado 18 vezes. A grande história da semana era uma reportagem com o General Spínola em Bissau.
E uma última nota, digna de ponderação: “Nos seus primeiros 16 meses de vida – e pese embora a Censura – o jornal acompanhou, nos locais, tudo quanto demais importante se passava de interesse para Portugal e para os portugueses. Foi à Guiné quando Amílcar Cabral foi assassinado e acompanhou o comando sui generis de António de Spínola; esteve na zona de Wiriamu, para tentar fazer o rescaldo do famoso massacre; acompanhou Caetano na sua importante deslocação a Londres; trouxe reportagens de Angola e revelou a até então desconhecida e misteriosa Macau. Assistiu às grandes pelejas parlamentares dos deputados liberais, foi ao Congresso da Oposição em Aveiro, cobriu de forma exemplar as eleições para a Assembleia Nacional. No plano externo, assistiu às importantes eleições em França, enviou repórteres à África do Sul, Suazilândia e Japão, testemunhou o importante Consistório de cardeais no Vaticano, cobriu os primeiros dias da ditadura de Pinochet no Chile bem como o golpe dos coronéis na Grécia, acompanhou a instabilidade do franquismo. Muitas dessas grandes reportagens tiveram a mesma assinatura: Augusto de Carvalho, o grande repórter dos primeiros anos do Expresso e seguramente um dos grandes repórteres portugueses”.
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Nota do editor
Último poste da série de 19 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16401: Notas de leitura (872): “Subsídios para o estudo da circuncisão entre os Balantas”, por James Pinto Bull (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Este livro de José Pedro Castanheira, que ainda é possível adquirir a um preço próximo de 11 euros, comprando três números do Expresso de 2013, permite-nos dimensionar quem eram os grandes alvos do exame prévio, a natureza dos corpos arbitrários, tantas vezes improcedentes e inconsequentes. É ridículo o que se cortou da biografia de Amílcar Cabral, até partir para a clandestinidade. O que Augusto de Carvalho escreveu sobre Spínola foi considerado incendiário, atirado para o balde; o abate e aviões nos céus da Guiné, assunto altamente controlado e nem a fotografia do capitão Peralta em julgamento escapou ao lápis azul.
Hoje são simples curiosidades de um mundo execrável que os mais novos não conhecem. É bom rever as imagens. Foi assim.
Um abraço do
Mário
Jornal Expresso, o que a censura cortou: notícias da Guiné
Beja Santos
O jornalista José Pedro Castanheira apresentou assim a génese deste livro surgido em 2009 e republicado pelo Expresso em forma de três cadernos em 2013:
“Em Janeiro de 2008, comecei a escrever no Expresso uma coluna chamada ‘O que a Censura cortou’. A ideia era registar, semana após semana, os cortes efetuados pela Censura 35 anos antes. Foi uma das iniciativas tomadas para assinalar os 35 anos do semanário. O objetivo era não apenas revelar os efeitos da Censura no Expresso, mas tentar mostrar, a partir de um caso concreto e exemplar, o que ele significara no jornalismo português e na própria vida de uma nação. Uma compilação dos textos viria a ser editada em livro em Abril de 2009. Esta é uma reedição desse livro, que se julgou oportuna no âmbito das muitas iniciativas que serão realizadas ao longo de 2013 para comemorar os 40 anos do Expresso. Diferentemente do livro de 2009, este será dividido em três partes, oferecidas aos leitores juntamente com as edições do jornal de 19 e 26 de Janeiro e 2 de Fevereiro de 2013”.
Esclareço o leitor que adquiri recentemente estes três números do Expresso, que ainda não estão esgotados, com o custo aproximado de 11 euros. Não vamos falar da Censura, vamos só exemplificar o que foi censurado no Expresso entre a sua data de lançamento, em 6 de Janeiro de 1973 e 25 de Abril de 1974, com notícias referentes à Guiné. Em 27 de Janeiro de 1973, o Expresso pretende abordar o assassinato de Amílcar Cabral. A Censura cortou na íntegra a biografia de Amílcar Cabral, o jornal protestou e a notícia veria a ser parcialmente autorizada. Na notícia davam-se informações totalmente inócuas, como é o caso de: “Praticando diversos desportos, pertenceu à equipa de futebol da Casa dos Estudantes do Império, que chegou a ganhar o campeonato popular de Lisboa. A sua habilidade mereceu-lhe dos colegas o cognome de ‘cabecinha de ouro’". Augusto Carvalho, a pretexto deste assassinato, vai a Bissau, traça um perfil do governador da Guiné, a Censura corta que se farta: “Foi geral a ideia que conseguimos escolher em meios muito próximos do general: que os governadores-gerais ser campeões dos movimentos de africanização enquadrada num contexto federativo do todo nacional, onde a língua seria o cimento a unir a diversidade de culturas que enriqueceriam uma pátria comum, espalhada pelos quatros cantos do universo” e a Censura revela-se inclemente quando o jornalista escreve: “Spínola é um demagogo (…) disse-nos um representante do PAIGC com quem conseguimos contactar em Bissau. Como é natural, Bissau está cheia de elementos da organização guerrilheira. Espiões e espiados ao mesmo tempo” e escrevia-se mais adiante a propósito de Aristides Pereira como o sucessor de Cabral à frente do PAIGC: “A formação portuguesa é comum a todos eles e todos insistem num ensino do português nas escolas do PAIGC como idioma de entendimento entre as diversas etnias”.
Em 6 de Outubro o Expresso pretende falar dos primeiros aviões abatidos na Guiné-Bissau, e cita a France Presse onde se dizia que o número de perdas em aeronaves ascendia a 25, desde Março. A notícia fora proibida pela Censura. E vem a seguir uma curiosidade: “Um atraso ou uma qualquer deficiência de comunicação levou a que fosse posta em página. Quando os responsáveis do semanário souberam da inclusão de uma notícia proibida, mandaram para a impressora e substituíram-na por uma breve acerca da visita a Bona do primeiro-ministro do Japão, Tanaka. A infração quase passaria despercebida não fosse a denúncia do matutino de ultradireita Época”.
Falando por mim, foi a ler o livro de José Pedro Castanheira que vi a fotografia do capitão Peralta, capturado na operação Jove. Peralta foi condenado a dez anos e um mês de prisão. O Expresso quis publicar na capa uma foto sua, a censura só autorizou a legenda.
Para Balsemão, se não fosse o 25 de Abril, o Expresso seria forçado a fechar, era totalmente impossível continuar a publicar num jornal que a Censura mutilava nos sucessivos exames. No final do ano de 1973, Marcello Rebelo de Sousa fazia o balanço do ano, levou 24 cortes, o que se dizia sobre o Ultramar era impensável, não se podia falar do Congresso dos Combatentes, nem dos oficiais que apoiavam Spínola, nem das homilias do Padre Mário, de Macieira de Lixa. Entrara-se num período tormentoso onde era totalmente proibido falar em aumentos de preços, greves, uma entrevista a Álvaro Cunhal, por exemplo. À guisa de conclusão escreve-se que das 58 edições o número de artigos que vieram da Censura pelo menos com uma mancha azul foi de 1584. Não deixa de ser revelador que em todas as edições do Expresso tenha havido pelo menos um texto cortado na íntegra. O recorde deu-se a 3 de Fevereiro de 1973, quando o carimbo ‘proibido’ foi usado 18 vezes. A grande história da semana era uma reportagem com o General Spínola em Bissau.
E uma última nota, digna de ponderação: “Nos seus primeiros 16 meses de vida – e pese embora a Censura – o jornal acompanhou, nos locais, tudo quanto demais importante se passava de interesse para Portugal e para os portugueses. Foi à Guiné quando Amílcar Cabral foi assassinado e acompanhou o comando sui generis de António de Spínola; esteve na zona de Wiriamu, para tentar fazer o rescaldo do famoso massacre; acompanhou Caetano na sua importante deslocação a Londres; trouxe reportagens de Angola e revelou a até então desconhecida e misteriosa Macau. Assistiu às grandes pelejas parlamentares dos deputados liberais, foi ao Congresso da Oposição em Aveiro, cobriu de forma exemplar as eleições para a Assembleia Nacional. No plano externo, assistiu às importantes eleições em França, enviou repórteres à África do Sul, Suazilândia e Japão, testemunhou o importante Consistório de cardeais no Vaticano, cobriu os primeiros dias da ditadura de Pinochet no Chile bem como o golpe dos coronéis na Grécia, acompanhou a instabilidade do franquismo. Muitas dessas grandes reportagens tiveram a mesma assinatura: Augusto de Carvalho, o grande repórter dos primeiros anos do Expresso e seguramente um dos grandes repórteres portugueses”.
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Nota do editor
Último poste da série de 19 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16401: Notas de leitura (872): “Subsídios para o estudo da circuncisão entre os Balantas”, por James Pinto Bull (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P16411: Parabéns a você (1124): Carlos Cordeiro, ex-Fur Mil Inf do CIC (Angola, 1969/71) e José Luís Vacas de Carvalho, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2206 (Guiné, 1969/71)
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Nota do editor
Último poste da série de 21 de Agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16406: Parabéns a você (1123): Vasco Santos, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 6 (Guiné, 1972/73)
domingo, 21 de agosto de 2016
Guiné 63/74 - P16410: Blogpoesia (466): "De negro a noite", "A revolta dos fragmentos" e "A Natureza", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728
1. Belíssimos poemas do nosso camarada Joaquim Luís
Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66), dos que nos vai enviando ao longo da semana, e que nós publicamos com prazer:
De negro a noite
De negro se veste a noite.
Será tristeza, será luto?
Um manto de silêncio a envolve
Como se fosse a sepultar.
Nenhum sinal de vida.
A quietude a cala.
Parece.
Jamais irá nascer outro dia.
Não suporto vê-la.
Fecho minha janela.
De luz acesa, minha alma,
Quase exausta, ressuscita.
Crepita em mim o fogo da esperança.
Minha alma exulta.
À hora certa,
Voltará o sol com seu dia
De presente...
Tapada de Mafra, 20 de Agosto de 2016
6h30m
clareando tímidamente
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
A revolta dos fragmentos
Eram majestosas estátuas.
Imponentes obeliscos.
Com tanta história.
Nas praças ao centro.
O mundo passava.
Ali impávidas.
Cumprindo a sorte.
Fazia sol.
Fazia vento.
Caía a neve.
Ninguém ligava.
Tanta indiferença.
Chegou o dia.
Tudo ruiu.
Melhor a morte,
Voltar ao chão,
Em fragmentos!...
Tapada de Mafra, 20 de Agosto de 2016
16h9m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
A Natureza
É cozinheira a Natureza.
Trabalha noite e dia na cozinha.
Que beleza de tempêros ela põe
Em cada prato.
Nos vicia...
Tem segredos. Não revela.
Só quer servir bem.
Igual para todo o mundo.
Nada cobra.
Enche o prato até esbordar.
Ninguém sai com fome,
É seu timbre.
A praia e serra é o refeitório.
De dia o sol é candelabro.
De noite um painel de estrelas
Com a lua a cirandar.
O vento silva afoito e certo
Ao ritmo das ondas
Que o mar rege
Como um maestro.
E a sala sempre cheia
Nunca fecha.
Tão belas são as sinfonias!...
Tapada de Mafra, 20 de Agosto de 2016
7h10m
depois de ouvir Maria Betânia
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
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Nota do editor
Último poste da série de 14 de Agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16387: Blogpoesia (465): "Pianista mágica" e "Vou para a minha janela falar com a lua", por J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728
De negro a noite
De negro se veste a noite.
Será tristeza, será luto?
Um manto de silêncio a envolve
Como se fosse a sepultar.
Nenhum sinal de vida.
A quietude a cala.
Parece.
Jamais irá nascer outro dia.
Não suporto vê-la.
Fecho minha janela.
De luz acesa, minha alma,
Quase exausta, ressuscita.
Crepita em mim o fogo da esperança.
Minha alma exulta.
À hora certa,
Voltará o sol com seu dia
De presente...
Tapada de Mafra, 20 de Agosto de 2016
6h30m
clareando tímidamente
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
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A revolta dos fragmentos
Eram majestosas estátuas.
Imponentes obeliscos.
Com tanta história.
Nas praças ao centro.
O mundo passava.
Ali impávidas.
Cumprindo a sorte.
Fazia sol.
Fazia vento.
Caía a neve.
Ninguém ligava.
Tanta indiferença.
Chegou o dia.
Tudo ruiu.
Melhor a morte,
Voltar ao chão,
Em fragmentos!...
Tapada de Mafra, 20 de Agosto de 2016
16h9m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
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A Natureza
É cozinheira a Natureza.
Trabalha noite e dia na cozinha.
Que beleza de tempêros ela põe
Em cada prato.
Nos vicia...
Tem segredos. Não revela.
Só quer servir bem.
Igual para todo o mundo.
Nada cobra.
Enche o prato até esbordar.
Ninguém sai com fome,
É seu timbre.
A praia e serra é o refeitório.
De dia o sol é candelabro.
De noite um painel de estrelas
Com a lua a cirandar.
O vento silva afoito e certo
Ao ritmo das ondas
Que o mar rege
Como um maestro.
E a sala sempre cheia
Nunca fecha.
Tão belas são as sinfonias!...
Tapada de Mafra, 20 de Agosto de 2016
7h10m
depois de ouvir Maria Betânia
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
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Nota do editor
Último poste da série de 14 de Agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16387: Blogpoesia (465): "Pianista mágica" e "Vou para a minha janela falar com a lua", por J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728
Guiné 63/74 - P16409: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral e outros / Casa Comum (20): A fábula do lobo, do boi e do elefante, contada aos pioneiros do PAIGC (Blufo, nº 7, jun-dez 1966, p. 3)
"Os seus primeiros alunos foram, precisamente, muitas das crianças que aí tinham acorrido, acompanhando os dirigentes das diferentes regiões e que, de acordo com as orientações de Amílcar Cabral, foram levadas para Conakry, a fim de aí poderem receber instrução".
"Luís Cabral foi o principal impulsionador da criação do Blufo, orgão dos pioneiros do PAIGC - o que lhe advinha das suas responsabilidades no Secretariado Permanente do Conselho Executivo da Luta em matéria de informação e propaganda".
O Arquivo & Biblioteca da Fundação Mário Soares disponibiliza um CD-ROM com a série completa do jornal "Blufo". Esssa coleção de originais foi, por sua, disponibilizada por Luís Cabral.
O "Blufo" publicou-se ao longo de cinco anos, de aneiro de 1966 a dezembro de 1970). Tinha pequena tiragem, e a sua edição irregular. mas foi uma iniciativa meritória da Escola-Piloto. Era escrito em bom português e ilistrado com algumas fotografias, Não sabemos em rigor qual o seu impacto na formação político-ideológica dos jovens do PAIGC. Recorde.se que “Blufo”, em balanta, significa o jovem ainda não circunsisado, que transporta em si o passado, o presente e o futuro.
O "Blufo" publicou-se ao longo de cinco anos, de aneiro de 1966 a dezembro de 1970). Tinha pequena tiragem, e a sua edição irregular. mas foi uma iniciativa meritória da Escola-Piloto. Era escrito em bom português e ilistrado com algumas fotografias, Não sabemos em rigor qual o seu impacto na formação político-ideológica dos jovens do PAIGC. Recorde.se que “Blufo”, em balanta, significa o jovem ainda não circunsisado, que transporta em si o passado, o presente e o futuro.
Portal Casa Comum > Arquivo Amílcar Cabral > Fábula africana, "A história do lobo, do boi e do elefante" > Blufo, nº 7, junho-dezembro de 1966, p. 7 (Reproduzido com a devida vénia...)
Fonte:
Portal Casa Comum
Instituição > Fundação Mário Soares
Pasta: 04693.007 [Disponível aqui]
Título: Blufo - Orgão dos Pioneiros do PAIGC
Número: 07
Data: Junho de 1966 - Dezembro de 1966
Observações: Publicação da Escola-Piloto
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral - Luís Cabral
Tipo Documental: IMPRENSA
Direitos:
A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.
Arquivo Amílcar Cabral > 06. Organização Civil > Ensino > Escola-Piloto > Blufo
A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.
Arquivo Amílcar Cabral > 06. Organização Civil > Ensino > Escola-Piloto > Blufo
Nota do editor:
Último poste da série > 7 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16172: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral e outros / Casa Comum (19): Declarações do 1º cabo mec auto, CCS/BART 1896 (Buba, 1966/68) à Rádio Libertação, do PAIGC, em Conacri, em 1968... O Correia foi aprisionado, em 20/5/1968, com mais 7 camaradas, na picada entre Mampatá e Uane
Último poste da série > 7 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16172: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral e outros / Casa Comum (19): Declarações do 1º cabo mec auto, CCS/BART 1896 (Buba, 1966/68) à Rádio Libertação, do PAIGC, em Conacri, em 1968... O Correia foi aprisionado, em 20/5/1968, com mais 7 camaradas, na picada entre Mampatá e Uane
Guiné 63/74 - P16408: Memórias de Gabú (José Saúde) (64): “Mansões” na densidade de um mato que acolhia combatentes exaustos. A palhota.
1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.
As minhas memórias de Gabu
“Mansões” na densidade de um mato que acolhia combatentes exaustos.
A palhota
As palhotas, vulgarmente conhecidas por cabana de negros, eram simplesmente silhuetas reais que o combatente visualizava em pleno mato. Serviam, por vezes, para um precioso descanso a militares exaustos pelas agruras de um matagal que não dava tréguas e de uma imprevisibilidade constante.
O calor intenso, o cansaço da jornada, a falta de um abençoado sossego e um momento de pausa para retemperar as forças inevitavelmente já esgotadas, a palhota era um pressuposto paraíso de uma guerrilha que teimava em manter ativa a sua persistência num terreno que nos era adverso.
Conheci, aliás conhecemos, essa indesmentível realidade em território da Guiné. Em chão fula, Gabu, deparei-me com essa inequívoca veracidade. Tratava-se de um “trono” onde se retemperavam malazengas físicas que entretanto se apoderavam de um corpo que aparentava alguma debilidade.
A palhota era normalmente construída de forma simples e pelo pessoal anfitrião que bem conhecia as técnicas artesanais utilizadas na sua feitura. Um pequeno círculo, uns paus em madeira que sustentavam o material utilizado em cima, normalmente capim, julgo, ou outro semelhante, e eis uma “mansão” que acolhia combatentes fatigados.
Não entro em pormenores sobre a sua razão de ser. As causas dos usos e costumes das palhotas terão obviamente explicações plausíveis. Sei que muitas foram as vezes que por lá passei e descansei.
Na época das chuvas as palhotas eram símbolos maiores para fugir à tempestade. Resguardávamo-nos, quanto possível, da intempérie. Sendo o espaço exíguo, a malta acomodava-se e lá deixava o tempo diluir-se num tempo sem tempo. Ah, chovesse ou não a cântaros nem uma pinga de água passava por aquele arcaico “manto”.
Creio que o tema sobre as palhotas é motivo para os camaradas dissecarem conteúdos reais sobre as nossas comissões na Guiné. Na minha perspetiva raro será certamente aquele camarada que não se obsequiou pela sombra, ou resguardo, de uma palhota no mato.
A palhota nas minhas costas (foto) situava-se numa zona onde a malta fazia uma proteção avançada que visava proteger os aviões que aterravam e levantavam voo da pista de Nova Lamego.
O tempo era de guerra, razão pela qual o meu grupo se encarregava dessa missão. Lembro que foram horas imensas que passámos nessa incumbência. Não há registos de escaramuças ao largo da minha comissão. Mas, o tempo que passei naquele chão fula faz parte absoluta das minhas memórias de Gabu e as palhotas tema de interesse.
Um abraço, camaradas
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BRT 6523
Mini-guião de
colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
8 DE JUNHO
DE 2016 > Guiné 63/74 -
P16177: Memórias de Gabú (José Saúde) (63): O “ventre” de um espólio raramente
conhecido. Passagem de bens alimentícios em armazém.
Guiné 63/74 - P16407: Álbum fotográfico de Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089, ao tempo do BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto, 1971/73) - Parte X: A faixa litoral, de Teixeira Pinto a Bissau, vista "by air", em fevereiro de 1972
Foto nº 42
Foto nº 41
Foto nº 43
Foto nº 44
Guiné > Região do Cacheu > Fevereiro de 1972 > Vistas aéreas da faixa litoral entre Teixeira Pinto e Bissau. Fotos, n~s de 41 a 44).
Fotos (e legenda): © Francisco Gamelas (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089 (Teixeira Pinto, 1971/73), adido ao BCAÇ 3863 (1971/73) (*).
Francisco Gamelas, que é engenheiro eletrotécnico de formação, quadro superior da PT Inovação reformado, vive em Aveiro, e publicou recentemente "Outro olhar - Guiné 1971-1973" (Aveiro, 2016, ed. de autor, 127 pp. + ilust; preço de capa 12,50 €). Os interessados podem encomendá-lo ao autor através do seu email pessoalfranciscogamelas@sapo.pt. O design é da arquiteta Beatriz Ribau Pimenta, a partir da foto. nº 29. Tiragem: 150 exemplares. Impressão e acabamento: Grafigamelas, Lda, Esgueira, Aveiro.
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Nota do editor:
(*) Último poste da série > 14 de agosto de 2016> Guiné 63/74 - P16386: Álbum fotográfico de Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089, ao tempo do BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto, 1971/73) - Parte IX: Março de 1972, Cacheu... "Pintado de branco, o forte / que defendeu a velha feitoria. / Aqui, o negro evitava a morte / tornando-se mercadoria"
(*) Último poste da série > 14 de agosto de 2016> Guiné 63/74 - P16386: Álbum fotográfico de Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089, ao tempo do BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto, 1971/73) - Parte IX: Março de 1972, Cacheu... "Pintado de branco, o forte / que defendeu a velha feitoria. / Aqui, o negro evitava a morte / tornando-se mercadoria"
Guiné 63/74 - P16406: Parabéns a você (1123): Vasco Santos, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 6 (Guiné, 1972/73)
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Nota do editor
Último poste da série de 20 DE AGOSTO DE 2016 > Guiné 63/74 - P16403: Parabéns a você (1122): Manuel Amaro, ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 2615 (Guiné, 1969/71)
Nota do editor
Último poste da série de 20 DE AGOSTO DE 2016 > Guiné 63/74 - P16403: Parabéns a você (1122): Manuel Amaro, ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 2615 (Guiné, 1969/71)
sábado, 20 de agosto de 2016
Guiné 63/74 - P16405: Manuscrito(s) (Luís Graça) (92): Praia do Caniçal: memórias
Lourinhã > Praia do Caniçal > 5 de agosto de 2010 > Memória(s)
Fotos (e texto): © Luís Graça(2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Praia
do Caniçal:
aqui gostaria de deixar a minha caixa preta,
antes de trepar
pela tua árvore genealógica,
como o salmão,
até ao paleolítico superior,
pelo leito dos rios que sobem, secos,
pelo interior do planeta,
até às grandes fossas marinhas.
Luís Graça (2004)
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Nota do editor:
Último poste da série > 18 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16398: Manuscrito(s) (Luís Graça) (91): A ilha da praia do Caniçal...
Guiné 63/74 - P16404: Magnífica Tabanca da Linha: oferta de emprego: secretário de SEXA, o Senhor Comandante, precisa-se!... (José Manuel Matos Dinis)
O secretário demissionário, Zé Manel Matos Dinis |
Assunto - OFERTA DE EMPREGOL SECRETÁRIO DA TABANCA DA LINHA
Requisitos e competências exigidas:
1 - Certificado do Instituto Português de Psicologia, que confirme uma personalidade de subserviência activa, mas não canina (muitíssimo essencial);
2 - Conhecimento profundo das rotas dos vinhos e petiscos, com disponibilidade para não se enfrascar e arriscar a vida de terceiros, (essencial);
3 - Resistir à crítica, quando em auto-estrada conduz o Exmo. Senhor Comandante à velocidade vertiginosa de 70 Km / hora , (muito conveniente);
4 - Disponibilidade permanente para aceitar encargos meditativos, ou alinhar em desvairadas patuscadas,(muito essencial);
5 - Não se aceitam candidaturas de homossexuais (impensável).
Também se repudia a acusação de homofóbico, pois cada um leva onde quiser, menos na Magnífica Tabanca da Linha.
Já antevejo o próximo secretário de SEXA. o Senhor Comandante, metido em alguma situação embaraçosa. SEXA. barricado e com uma arma de guerra a disparar sobre manifestações de maricas, e a berrar para o próximo secretário:
– Ó Beto, dá-me aí mais carregadores cheios, que estes gajos são mais que muitos.
E depois de o servir, o Beto, à rasca, alerta-o para a situação eminente:
– Ó Senhor Comandante, veja lá se ao menos acerta nalguns (palavra derivada de nalgas), que já só temos quatro cunhetes.
– Tens a certeza?
– Tens a certeza?
O resto do diálogo não foi ouvido, pois, entretanto, recomeçou o tiroteio, mas SEXA, o Senhor Comandante, ainda cogitou:
– O Zé é que me faz cá falta.
Trata-se de uma oportunidade de grande prestigio, com evidente promoção social, destinada a pessoa ambiciosa e bem ataviada, discreta e competente, que saiba reconhecer e divulgar em constância as virtudes de quem serve.
De facto, passados estes anos em que servi o melhor que pude SEXA, o Senhor Comandante da Magnífica Tabanca da Linha, chegou a hora de passar a outro a invejada função de que me tenho desembaraçado com natural júbilo e admiração.
– O Zé é que me faz cá falta.
O comandante, Jorge Rosales |
De facto, passados estes anos em que servi o melhor que pude SEXA, o Senhor Comandante da Magnífica Tabanca da Linha, chegou a hora de passar a outro a invejada função de que me tenho desembaraçado com natural júbilo e admiração.
Ainda ontem à noite, a caminho da uma da matina, tocou o telefone com estrídula insistência, o que não me permitiu fingir que não ouvia. Calcei os chinelos trocados, marrei em dois móveis que se atravessaram ao caminho, e perguntei:
– Quem é?
Do outro lado respondeu SEXA, o Senhor Comandante, com o seu tom afável, mas inflexível:
– Olá, Zé, 'tás bom? É pá, diz-me aí o número do telefone do Resende - o Exmo Comandante das tecnologias da Magnífica, que falta-me um número do telefone dele.
– Algarismo, falta um algarismo– arrisquei corrigir.
– É pá, tá bem. Diz-me lá isso. ´
Ripostei:
– Mas ainda há dias o disse.
Ripostei:
– Mas ainda há dias o disse.
– Pois foi – respondeu– mas enganei-me a passar para a agenda.
Esgotadas as tentativas de lhe fazer ver o incómodo a que me obrigava, e na óbvia condição de sujeição em que me encontrava, voltei a calçar os chinelos, evitei marrar com os móveis, e fui à procura dos apontamentos telefónicos. Fiz-me sacana, e demorei mais para o fazer sofrer à espera.
– Tá? toma nota.
– É pá, que horas são?
– É quase uma da matina, tinha acabado de ferrar o galho. Olha, deitei-me por um bocadinho, e só agora acordei.
– Desculpa lá isso.
– Certamente!
– É quase uma da matina, tinha acabado de ferrar o galho. Olha, deitei-me por um bocadinho, e só agora acordei.
– Desculpa lá isso.
– Certamente!
Despedimo-nos, e cada um foi à sua vida. Escorreguei na cama e ajeitei-me numa posição confortável. Sorri, ao imaginar o Exmo. Comandante das tecnologias a acordar com outro telefonema urgente.
AS INSCRIÇÕES ESTÃO ABERTAS
Para alcançar vantagem sobre a concorrência, alerto cada candidato para as mais que certas boas impressões a causar, no caso de acrescentar ao necessário CV. uma interessante colecção de vinhos das diferentes proveniências, bem como uns preparos regionais, de que destaco o presunto, o queijo e os maranhos. Para lhe adoçar a escolha, recomendo barricas de ovos moles; e para aromatizar o arroto final, sugiro uma boa bagaceira do Cartaxo, ou de vinho verde, ou de medronho, ou mesmo de zimbro. São dicas tão significativas, que devem agradecer-me.
JD - o secretário demissionário
AS INSCRIÇÕES ESTÃO ABERTAS
Para alcançar vantagem sobre a concorrência, alerto cada candidato para as mais que certas boas impressões a causar, no caso de acrescentar ao necessário CV. uma interessante colecção de vinhos das diferentes proveniências, bem como uns preparos regionais, de que destaco o presunto, o queijo e os maranhos. Para lhe adoçar a escolha, recomendo barricas de ovos moles; e para aromatizar o arroto final, sugiro uma boa bagaceira do Cartaxo, ou de vinho verde, ou de medronho, ou mesmo de zimbro. São dicas tão significativas, que devem agradecer-me.
JD - o secretário demissionário
Guiné 63/74 - P16403: Parabéns a você (1122): Manuel Amaro, ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 2615 (Guiné, 1969/71)
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Nota do editor
Último poste da série de 19 de Agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16399: Parabéns a você (1121): Mário Fitas, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 763 (Guiné, 1965/66)
Nota do editor
Último poste da série de 19 de Agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16399: Parabéns a você (1121): Mário Fitas, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 763 (Guiné, 1965/66)
sexta-feira, 19 de agosto de 2016
Guiné 63/74 - P16402: Em busca de... (270): Demba Baldé, falecido em 2003... Teria sido chefe de tabanca, comandante de milícia ou militar em Cansissé, região do Gabu (Francisco Teixeira)
Guiné > Região de Gabu > Cansissé > CCAÇ 2317 > Julho de 1969 > Entre as forças militarizadas, agora juntas, foi criado um forte espírito de coesão. Até ao Unimog, lhe coube um papel relevante para esse reforço, pois possibilitou a muitos dos milícias ter a grata sensação de desfrutar de um meio de transporte desconhecido.
Foto e legenda: © Idálio Reis (2006). Todos os direitos reservados
______________Foto e legenda: © Idálio Reis (2006). Todos os direitos reservados
1. Mensagem do nosso leitor (e presumivelmente camarada) Francisco Teixeira:
Data: 10 de agosto de 2016 às 03:01
Assunto: Demba Baldé.
Boa Noite.
Quem sabe se no Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné me ajudam a descobrir este homem, Demba Baldé, da tabanca de Canxixé [, ou melhor, Cansissé], Nova Lamego [, região de Gabu,] e que seria o chefe de tabanca, ou o comandante de milícia ou militar.
Data: 10 de agosto de 2016 às 03:01
Assunto: Demba Baldé.
Boa Noite.
Quem sabe se no Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné me ajudam a descobrir este homem, Demba Baldé, da tabanca de Canxixé [, ou melhor, Cansissé], Nova Lamego [, região de Gabu,] e que seria o chefe de tabanca, ou o comandante de milícia ou militar.
O mesmo faleceu em 2003, ou seja o PAIC não deu cabo dele.
Agradeço a sua ajuda.
Os meus cumprimentos.
F. Teixeira
Os meus cumprimentos.
F. Teixeira
2. Comentário do editor:
Amigos e camaradas, com estes elementos, como poderemos ajudar?
Ab, Carlos
Ab, Carlos
Nota de leitura:
Último poste da série > 19 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16318: Em busca de... (269): Alf mil médico, estomatologista, radioamador, CR8AK... Raul [Luís Vilhena Soares] Nobre, Guiné (1969) e Timor (1971/73) (Artur Marcos, professor, radioamador, escritor, especialista em cultura timorense, residente em Queluz)
Último poste da série > 19 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16318: Em busca de... (269): Alf mil médico, estomatologista, radioamador, CR8AK... Raul [Luís Vilhena Soares] Nobre, Guiné (1969) e Timor (1971/73) (Artur Marcos, professor, radioamador, escritor, especialista em cultura timorense, residente em Queluz)
Guiné 63/74 - P16401: Notas de leitura (872): “Subsídios para o estudo da circuncisão entre os Balantas”, por James Pinto Bull (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Setembro de 2015:
Queridos amigos,
Independentemente do que aqui se escreve a propósito de um encontro fortuito na Feira da Ladra e de uma dedicatória de James Pinto Bull ao seu prezado primo Jorge, quis o acaso que o tenha visto pela primeira e última vez em Julho de 1970, dois helicópteros trouxeram um conjunto de deputados a Bambadinca, foram até aos Nhabijões e conversaram com o comandante e o segundo comandante. E refrescaram-se na messe. Vindo dos Nhabijões, onde montáramos segurança aos ilustres visitantes, reencontrei José Pedro Pinto Leite e conversámos à parte. O deputado estava ciente que as coisas da Guiné caminhavam para o beco sem saída, disse-me que ia avisar Marcello Caetano. Não teve tempo, morreu dois dias depois no rio Mansoa, tal como James Pinto Bull.
Casos e acasos de que se fazem as nossas vidas.
Um Abraço do
Mário
Da circuncisão entre os Balantas, por James Pinto Bull
Beja Santos
Em 1951, James Pinto Bull, nascido em 1913 em Bolama, funcionário colonial, ao tempo administrador de circunscrição, e com carreira de deputado pela frente, três vezes eleito pelo círculo da Guiné para a Assembleia Nacional, escreve no Boletim Cultural da Guiné um artigo intitulado “Subsídios para o estudo da circuncisão entre os Balantas”. É uma escrita direta, de pendor marcadamente divulgativo, chama à atenção para o “fanado” e para o modo como os Balantas encaram esta cerimónia religiosa, começando logo por referir que os “grandes” das tabancas apresentam-se com o tradicional “lopé” e trazendo enrolado pelo corpo pedaços de corda, vão à autoridade local pedir autorização para “deitar o fanado”.
Segue-se uma descrição vivacíssima:
“Dada a autorização, rompe imediatamente o tamborilar de um pequeno tambor para levar a nova aos indígenas reunidos nas moranças e com danças alusivas à cerimónia que se vai iniciar, os velhos regressam à tabanca. Toda a noite se ouve o barulho do “ẽbõbor” (tambor grande, anunciando às tabancas distantes a realização do fanado, convidando os jovens a virem alegrar com a sua presença a grande festa. Rompe a aurora e principia a concentração da turba nas proximidades da tabanca onde se realiza o fanado. A falange engrossa rapidamente e os assistentes vão-se aquecendo, não só pela ação do calor que sufoca, mas também pela do álcool. O mestre-cerimónia dá o sinal para se fazer a concentração geral. Começa a marcha e centenas de indígenas lançam-se em correria desenfreada, parecendo à primeira vista que se trata de um ataque guerreiro, pois quase todos os do sexo masculino ostentam espadas e cacetes. O grupo dos futuros circuncisos esforça-se por abrir caminho a fim de se dirigir para o porto ou bolanha mais próximos, onde besuntam o corpo com lama. Em correria louca e entoando cânticos variados, os blufos regressam à tabanca, formando grupos separados, para que cada um possa mostrar o seu valor. Continua nos arredores da tabanca o barulho ensurdecedor dos tambores, misturado com milhares de vozes e com a gritaria infernal dos mais alcoolizados. O sol vai declinando e, enquanto os futuros circuncisos se reúnem na tabanca para tomarem a última refeição ainda como blufos e receberem as mezinhas para os proteger contra os feiticeiros durante a permanência na barraca, a multidão alegra-se cada vez mais, chegando a tomar o aspeto de verdadeira orgia. Todos estão em maior ou menor grau sobre a ação etilisante do álcool”.
Faz-se aqui uma pausa para recordar duas coisas. Primeiro, ao tempo do Governador Sarmento Rodrigues começou-se a solicitar aos quadros da administração colonial espalhados pela província que enviassem regularmente relatórios com pendor etnográfico, etnológico e antropológico, sugeria-se mesmo que elaborassem monografias e enviassem quer para o boletim cultural quer para o Centro de Estudos da Guiné Portuguesa artigos ou dados relevantes que se prendiam com observação do funcionário. Segundo, este texto decorre dessa mesma observação, é feita sem comentários, sem interpretação, não há pretensões de qualquer leitura científica, o que aqui se escreve é o que James Pinto Bull viu e fotografou, e escreveu com gosto, vê-se que aprecia temperar os seus relatos. Continuando:
“As mulheres e as bajudas estão completamente excitadas sobre a dupla ação do álcool e algumas delas não resistem à tentação de se deixar agarrar pelo blufos que sabem tirar partido destas oportunidades. É que nesse dia tudo é permitido, desde o adultério, que para certos maridos até constitui honra, por verem que as suas mulheres foram muito apreciadas, até a própria violação das bajudas, facto que alguns pais perdoam, não exigindo a costumada reparação material”.
É então que o mestre-cerimónia, velhos e rapazes já circuncidados seguem para a bolanha para que se cumpra a operação. A festa acabou. Os futuros circuncisos já chegaram à bolanha e estão atolados pelo menos até aos joelhos. Vamos regressar ao relato:
“Começa então a operação feita pelo parente mais próximo, a qual consiste no corte do prepúcio, por um ou mais golpes ao contrário do que se sucede nas outras tribos em que o corte tem que ser rápido e com um único golpe. Acaba a operação, os pacientes recolhem-se a um local antecipadamente escolhido, em princípio numa mata próxima da tabanca, e onde é feita previamente uma clareira protegida por uma paliçada. A permanência varia de um a três meses, e enquanto os circuncidados ali permanecerem, as famílias são obrigadas a preparar-lhes as melhores comidas e a confecionar os tradicionais e caprichosos panos de fanado. Terminado o tempo julgado necessário, os circuncisos descem às povoações, formando um único grupo, envolto nos panos do fanado. Cumpridas estas regras, o irresponsável blufo que até vivia em comum com os seus camaradas, adquire todos os direitos e deveres de homem, podendo construir a sua palhota e arranjar mulher para constituir família”.
Pergunta o leitor a que propósito se descreve a circuncisão entre Balantas, assunto que praticamente ninguém desconhece. Esta separata de James Pinto Bull tem a sua história. Num vendedor da Feira da Ladra encontrei esta separata e francamente que não lhe teria dado qualquer atenção não contivesse a dedicatória do autor ao prezado primo Jorge. Acicatado pela dedicatória, comecei a vasculhar em toda a papelada à venda e lá encontrei fotografias e referências a Jorge Wahnon Pinto Costa. São momentos em que junto à excitação a repugnância pelas pessoas que se desfazem da intimidade daqueles que morreram e são assim postos a nu na praça pública, na rua do Século, em Lisboa existe um alfarrabista que tem a biblioteca e dossiês do professor Silva Cunha, que foi ministro do Ultramar. Interrogo-me como é que é possível desbaratar tal património que devia ser apreciado pelos competentes investigadores. Uma última nota, James Pinto Bull irá falecer num acidente de helicóptero, em Julho de 1970, faleceram entre outros, José Pedro Pinto Leite, considerado como uma das grandes promessas da Ala Liberal. As voltas que o mundo dá.
Nota do editor
Último poste da série de 17 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16396: Notas de leitura (871): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte VII: o caso do clínico geral Amado Alfonso Delgado (III): Na mata do Fiofioli, pensei que ia morrer, pensei nos meus filhos, que iriam ficar sem pai… coitados, tão pequenos
Queridos amigos,
Independentemente do que aqui se escreve a propósito de um encontro fortuito na Feira da Ladra e de uma dedicatória de James Pinto Bull ao seu prezado primo Jorge, quis o acaso que o tenha visto pela primeira e última vez em Julho de 1970, dois helicópteros trouxeram um conjunto de deputados a Bambadinca, foram até aos Nhabijões e conversaram com o comandante e o segundo comandante. E refrescaram-se na messe. Vindo dos Nhabijões, onde montáramos segurança aos ilustres visitantes, reencontrei José Pedro Pinto Leite e conversámos à parte. O deputado estava ciente que as coisas da Guiné caminhavam para o beco sem saída, disse-me que ia avisar Marcello Caetano. Não teve tempo, morreu dois dias depois no rio Mansoa, tal como James Pinto Bull.
Casos e acasos de que se fazem as nossas vidas.
Um Abraço do
Mário
Da circuncisão entre os Balantas, por James Pinto Bull
Beja Santos
Em 1951, James Pinto Bull, nascido em 1913 em Bolama, funcionário colonial, ao tempo administrador de circunscrição, e com carreira de deputado pela frente, três vezes eleito pelo círculo da Guiné para a Assembleia Nacional, escreve no Boletim Cultural da Guiné um artigo intitulado “Subsídios para o estudo da circuncisão entre os Balantas”. É uma escrita direta, de pendor marcadamente divulgativo, chama à atenção para o “fanado” e para o modo como os Balantas encaram esta cerimónia religiosa, começando logo por referir que os “grandes” das tabancas apresentam-se com o tradicional “lopé” e trazendo enrolado pelo corpo pedaços de corda, vão à autoridade local pedir autorização para “deitar o fanado”.
Segue-se uma descrição vivacíssima:
“Dada a autorização, rompe imediatamente o tamborilar de um pequeno tambor para levar a nova aos indígenas reunidos nas moranças e com danças alusivas à cerimónia que se vai iniciar, os velhos regressam à tabanca. Toda a noite se ouve o barulho do “ẽbõbor” (tambor grande, anunciando às tabancas distantes a realização do fanado, convidando os jovens a virem alegrar com a sua presença a grande festa. Rompe a aurora e principia a concentração da turba nas proximidades da tabanca onde se realiza o fanado. A falange engrossa rapidamente e os assistentes vão-se aquecendo, não só pela ação do calor que sufoca, mas também pela do álcool. O mestre-cerimónia dá o sinal para se fazer a concentração geral. Começa a marcha e centenas de indígenas lançam-se em correria desenfreada, parecendo à primeira vista que se trata de um ataque guerreiro, pois quase todos os do sexo masculino ostentam espadas e cacetes. O grupo dos futuros circuncisos esforça-se por abrir caminho a fim de se dirigir para o porto ou bolanha mais próximos, onde besuntam o corpo com lama. Em correria louca e entoando cânticos variados, os blufos regressam à tabanca, formando grupos separados, para que cada um possa mostrar o seu valor. Continua nos arredores da tabanca o barulho ensurdecedor dos tambores, misturado com milhares de vozes e com a gritaria infernal dos mais alcoolizados. O sol vai declinando e, enquanto os futuros circuncisos se reúnem na tabanca para tomarem a última refeição ainda como blufos e receberem as mezinhas para os proteger contra os feiticeiros durante a permanência na barraca, a multidão alegra-se cada vez mais, chegando a tomar o aspeto de verdadeira orgia. Todos estão em maior ou menor grau sobre a ação etilisante do álcool”.
Faz-se aqui uma pausa para recordar duas coisas. Primeiro, ao tempo do Governador Sarmento Rodrigues começou-se a solicitar aos quadros da administração colonial espalhados pela província que enviassem regularmente relatórios com pendor etnográfico, etnológico e antropológico, sugeria-se mesmo que elaborassem monografias e enviassem quer para o boletim cultural quer para o Centro de Estudos da Guiné Portuguesa artigos ou dados relevantes que se prendiam com observação do funcionário. Segundo, este texto decorre dessa mesma observação, é feita sem comentários, sem interpretação, não há pretensões de qualquer leitura científica, o que aqui se escreve é o que James Pinto Bull viu e fotografou, e escreveu com gosto, vê-se que aprecia temperar os seus relatos. Continuando:
“As mulheres e as bajudas estão completamente excitadas sobre a dupla ação do álcool e algumas delas não resistem à tentação de se deixar agarrar pelo blufos que sabem tirar partido destas oportunidades. É que nesse dia tudo é permitido, desde o adultério, que para certos maridos até constitui honra, por verem que as suas mulheres foram muito apreciadas, até a própria violação das bajudas, facto que alguns pais perdoam, não exigindo a costumada reparação material”.
É então que o mestre-cerimónia, velhos e rapazes já circuncidados seguem para a bolanha para que se cumpra a operação. A festa acabou. Os futuros circuncisos já chegaram à bolanha e estão atolados pelo menos até aos joelhos. Vamos regressar ao relato:
“Começa então a operação feita pelo parente mais próximo, a qual consiste no corte do prepúcio, por um ou mais golpes ao contrário do que se sucede nas outras tribos em que o corte tem que ser rápido e com um único golpe. Acaba a operação, os pacientes recolhem-se a um local antecipadamente escolhido, em princípio numa mata próxima da tabanca, e onde é feita previamente uma clareira protegida por uma paliçada. A permanência varia de um a três meses, e enquanto os circuncidados ali permanecerem, as famílias são obrigadas a preparar-lhes as melhores comidas e a confecionar os tradicionais e caprichosos panos de fanado. Terminado o tempo julgado necessário, os circuncisos descem às povoações, formando um único grupo, envolto nos panos do fanado. Cumpridas estas regras, o irresponsável blufo que até vivia em comum com os seus camaradas, adquire todos os direitos e deveres de homem, podendo construir a sua palhota e arranjar mulher para constituir família”.
Pergunta o leitor a que propósito se descreve a circuncisão entre Balantas, assunto que praticamente ninguém desconhece. Esta separata de James Pinto Bull tem a sua história. Num vendedor da Feira da Ladra encontrei esta separata e francamente que não lhe teria dado qualquer atenção não contivesse a dedicatória do autor ao prezado primo Jorge. Acicatado pela dedicatória, comecei a vasculhar em toda a papelada à venda e lá encontrei fotografias e referências a Jorge Wahnon Pinto Costa. São momentos em que junto à excitação a repugnância pelas pessoas que se desfazem da intimidade daqueles que morreram e são assim postos a nu na praça pública, na rua do Século, em Lisboa existe um alfarrabista que tem a biblioteca e dossiês do professor Silva Cunha, que foi ministro do Ultramar. Interrogo-me como é que é possível desbaratar tal património que devia ser apreciado pelos competentes investigadores. Uma última nota, James Pinto Bull irá falecer num acidente de helicóptero, em Julho de 1970, faleceram entre outros, José Pedro Pinto Leite, considerado como uma das grandes promessas da Ala Liberal. As voltas que o mundo dá.
Dedicatória
____________Nota do editor
Último poste da série de 17 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16396: Notas de leitura (871): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte VII: o caso do clínico geral Amado Alfonso Delgado (III): Na mata do Fiofioli, pensei que ia morrer, pensei nos meus filhos, que iriam ficar sem pai… coitados, tão pequenos
Guiné 63/74 - P16400: Inquérito 'on line' (66): Num total de 20 respostas até agora, a maioria (12) diz que nunca conheceu camaradas guineenses, nas nossas fileiras, menores de idade (aparentando ter 18 ou menos anos)... O prazo para responder termina no domingo, dia 21, às 13h44
Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Contuboel > 1969 > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > > O Valdemar Queiroz, com os recrutas Cherno, Sori e Umarau (que irão depois para a CCAÇ 2590/CCAÇ 12). Estes mancebos aparentavam etr 16 ou menos anos de idade. Era,m do recrutamento local.
Foto: © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados.
Porugal > Resende > 1999 > Num dos convívios do pessoal de Bambadinca, de 1968/71, o Umaru Baldé. já com 46 anos, parece ter mais de um metro e noventa de altura... Ao centro o Fernando Andrade Sousa e outro camarada da CCAÇ 12 que não é possível idemtificar.
INQUÉRITO DE OPINIÃO:
"SIM, CONHECI CAMARADAS APARENTANDO 16 ANOS OU MENOS COMO O UMARU BALDÉ"...
As primeiras 20 respostas, quando faltam 2 dias para encerrar o inquérito em curso:
"SIM, CONHECI CAMARADAS APARENTANDO 16 ANOS OU MENOS COMO O UMARU BALDÉ"...
As primeiras 20 respostas, quando faltam 2 dias para encerrar o inquérito em curso:
1. Sim, aparentando 16 ou até menos anos > 1 (5%)
2. Sim, aparentando 16/17 anos > 4 (20%)
3. Sim, aparentando 18 anos > 0 (0%)
4. Não, não conheci camaradas guineenses com 18 ou menos anos > 12 (60%)
5. Não sei/ não tenho opinião > 3 (15%) (*)
Votos apurados > 20 (100%)
Dias que restam para votar: 2. O prazo termina em 21 de agosto de 2016, às 13h44 (**)
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Notas do editor;
(*) Vd. poste de 13 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16385: Manuscrito(s) (Luís Graça) (89): O exército de reserva de mão de obra infantil...
Vd. também:
12 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16382: Álbum fotográfico de Fernando Andrade Sousa (ex-1º cabo aux enf, CCAÇ 12, 1969/71) - Parte III: Lembrando, com saudade, o "puto" Umaru Baldé
16 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16393: Facebook...ando (40): Sou açoriano, nasci em janeiro de 1955, fui à inspeção em dezembro de 1970, com 15 anos... Em abril de 1971 fui para a tropa, e em setembro, com apenas 16 anos, parti para o CTIG... (ex-1º cabo Alcides, da CCÇ 3476, "Bebés de Canjambari", Canjambari e Dugal, 1971/73; emigrante no Canadá, desde junho de 1974)
(**) Último poste da série > 6 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16364: Inquérito 'on line' (65): em outubro de 1963, quando parti para o CTIG, deram-me um kit de sobrevivência: canivete de bolso com saca-rolhas, abre-latas e abre-cápsulas; copo, prato, marmita, colher e garfo, tudo inox (José Botelho, ex-sold trms, CCAÇ 557, Cachil, Bissau, Bafatá, 1963/65)
(**) Último poste da série > 6 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16364: Inquérito 'on line' (65): em outubro de 1963, quando parti para o CTIG, deram-me um kit de sobrevivência: canivete de bolso com saca-rolhas, abre-latas e abre-cápsulas; copo, prato, marmita, colher e garfo, tudo inox (José Botelho, ex-sold trms, CCAÇ 557, Cachil, Bissau, Bafatá, 1963/65)
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CART 11,
CCAÇ 12,
Fernando Andrade Sousa,
inquérito online,
instrução militar,
Os nossos camaradas guineenses,
Umaru Baldé,
Valdemar Queiroz
Guiné 63/74 - P16399: Parabéns a você (1121): Mário Fitas, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 763 (Guiné, 1965/66)
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Nota do editor
Último poste da série de 18 de Agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16397: Parabéns a você (1120): Maria Alice Carneiro, Amiga Grã-Tabanqueira de Lisboa e Coronel Inf Ref António Melo de Carvalho, ex-Cap Inf, CMDT da CCAÇ 2465 (Guiné, 1969/70)
Nota do editor
Último poste da série de 18 de Agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16397: Parabéns a você (1120): Maria Alice Carneiro, Amiga Grã-Tabanqueira de Lisboa e Coronel Inf Ref António Melo de Carvalho, ex-Cap Inf, CMDT da CCAÇ 2465 (Guiné, 1969/70)
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