quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16594: Convívios (771): No passado dia 5 de Outubro de 2016, realizou-se o XXI Encontro dos Combatentes da Guiné da Vila de Guifões, com a deposição de uma coroa de flores no Monumento aos Combatentes daquela Vila e um almoço que decorreu numa Quinta de Barcelos

XXI CONVÍVIO DOS COMBATENTES DA GUINÉ DA VILA DE GUIFÕES


Em mensagem do dia 11 de Outubro de 2016, o nosso camarada Albano Costa (ex-1.º Cabo da CCAÇ 4150, Bigene e Guidaje, 1973/74), enviou-nos a reportagem do XXI Convívio dos Combatentes da Guiné da Vila de Guifões, levado a efeito no passado dia 5 de Outubro na Quinta da Granja - Barcelos.


1. No passado dia 5 de Outubro realizou-se o XXI Convívio dos combatentes da Guiné da Vila de Guifões. 

Antes da partida para Barcelos, realizou-se uma cerimónia de homenagem aos combatentes de Guifões com a deposição de uma coroa de flores no Monumento existente no Jardim anexo à Igreja Matriz de Guifões.








2. Terminada a cerimónia, foi feita a viagem em dois autocarros para Barcelos, passando pelo Monte da Franqueira, local muito bonito com boas vistas para a cidade. 

De seguida fomos para a Quinta da Granja, onde foi servido o almoço às 116 pessoas que compunham o grupo. 

Da parte da tarde seguiu-se a entrega de lembranças aos combatentes presentes assim como de uma rosa a cada senhora. 

Tudo isto com a participação do sr. Presidente da Junta de Freguesia Vila de Guifões, a quem agradecemos a sua disponibilidade.









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Nota do editor

Último poste da série de 22 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16515: Convívios (770): Encontro do pessoal da CCAÇ 2797 e Pel Canh S/R 2199 (Cufar, 1970/72), dia 8 de Outubro de 2016, no Porto (Luís de Sousa)

Guiné 63/74 - P16593: Os nossos seres, saberes e lazeres (179): Uma viagem em diagonal pelos países dos eslavos do Sul (4) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Junho de 2016:

Queridos amigos,
Já antes da série Guerra dos Tronos que Dubrovnik era a grande atração turística da Croácia. É preciso contemplar o maciço daquelas torres, a imponência dos panos de muralha, sentir que se trata de um sistema de fortificação sem paralelo, no Mar Adriático ou fora dele, e, a par disso, percorrer o interior da cidade muralhada e desfrutar de património histórico de impressionante claridade, marcado fortemente pelas influências veneziana e austro-húngara. As ruelas são igualmente encantadoras, bem como os panoramas que se desfrutam no alto da montanha e a ilha de Lokrum e toda a linha da paisagem.
A despeito do tempo instável, o viajante por ali andou cheio de curiosidade, mal sabendo que está nas vésperas do prato de substância, a surpresa das surpresas desta passagem pelos países dos eslavos do Sul, Split. Ah, e outra grande surpresa que veio a seguir, o Parque Nacional de Plitvice.
A seu tempo, tudo se contará.

Um abraço do
Mário


Uma viagem em diagonal pelos países dos eslavos do Sul (4)

Beja Santos

Um esclarecimento prévio do viandante: para não se meter o Rossio na Betesga, melhor dito não se criar ilusão de que saltitava pela antiga Jugoslávia, teceu-se um trajeto com início em Belgrado, uma longa viagem de comboio que depois de se passar por Podgorica fez chegar a Bar e depois Sutomore, chovia que Deus dava, e a chover a cântaros entrou-se num autocarro que nos passeou pela orla do Mar Adriático, passando por Petrovac, Budva até Kotor, inegáveis belezas naturais e históricas da República do Montenegro. A nova etapa aponta para Dubrovnik, agora na moda depois das filmagens da série Guerra dos Tronos. Compreende-se o afluxo turístico, a curiosidade de gente de vários continentes que aqui arriba. As fortificações são esmagadoras, não têm paralelo no Adriático, 2000 metros de muralhas, torres angulosas, 14 torres quadrangulares, baluartes imponentes, não há melhor exemplo para um sistema de fortificação que foi aperfeiçoado do século XVI e a surpreendente harmonia que este cataclismo de pedra provoca, ninguém fica indiferente às impressionantes muralhas e ao todo arquitetónico da velha Ragusa.



Estamos na praça principal de Dubrovnik, a influência italiana. Mas a história da cidade fortificada vem de longe. Pertenceu a bizâncio até meados do século XIV, e depois a Veneza, mais tarde ficou submetida à autoridade dos reis croato-húngaros. O seu apogeu situa-se entre os séculos XV e XVI, o Mediterrâneo ainda é o centro do mundo, melhor dito centro do comércio mundial. Depois veio o apagamento, um tremor de terra destruiu a cidade, foi restaurada. Em 1806, chegaram os exércitos napoleónicos e dois anos depois Dubrovnik passou a pertencer à Dalmácia, tornou-se possessão austríaca de 1814 a 1918, até à criação da Jugoslávia.



Mais adiante, falaremos da beleza das fortificações. Naquele guia turístico de 1978 cuja capa se reproduziu, a imagem principal é de Dubrovnik, dá para perceber a imponência das suas muralhas e a organização reticular do meio urbano à volta de uma rua principal, esta é um grande alfobre de monumentos históricos, logo à entrada uma fonte sexangular que data do século XV, segue-se a Igreja do Santo Salvador, o Convento dos Franciscanos. Mas não esqueçamos que houve terramoto, a maior parte dos edifícios datam dos séculos XVII e XVIII, vai-se da fonte sexangular até ao fundo da rua principal onde está a fachada da Igreja de S. Brás, em estilo barroco, o Palácio Sponza e a Torre do Relógio, aqui está o coração da velha Ragusa, ao lado da catedral de Dubrovnik. As igrejas albergam belíssimos tesouros em pintura, órgãos, estatuária, há poucas lembranças de Bizâncio e muitos elementos barrocos para recordar a influência veneziana. Em 1991, a aviação sérvio-montenegrina fez um raide que culminou em incêndios e destruição. Por isso se fixou a imagem de um alerta para não se esquecerem essas horas negras que podiam ter arrasado irremediavelmente património da humanidade.




A arquitetura civil e a arquitetura religiosa estão amplamente abonadas dentro das fortificações: igrejas, conventos, palácios, escadarias monumentais, torres, há a sinagoga de Dubrovnik, antiquíssima porque construída no século XV, há mesmo uma igreja ortodoxa (importa não esquecer que estamos na Croácia, país eminentemente católico). Frente a Dubrovnik espraia-se a ilha de Lokrum que atrai os turistas com as suas praias e a sua vegetação mediterrânica e subtropical luxuriante. Mais tarde li que Maximiliano de Habsburgo, irmão do Imperador Francisco José, e que foi imperador do México, onde acabou fuzilado, comprou esta ilha e construiu um castelo. O viajante não foi lá mas sentou-se num balcão na muralha a contemplar essa indizível beleza.




O turista, de um modo geral, sabe bem o que o espera em Dubrovnik: a cidade propriamente dita, as suas ruas transformadas numa sucessão de restaurantes e estabelecimentos comerciais e nas ruelas que sobem até às alturas as habitações dos nativos, mais restaurantes, pensões e albergues; e as muralhas, a toda a hora chegam e partem excursões, ouve-se falar mandarim, coreano, russo, italiano, francês e inglês, tudo numa agitação para justificar as expressões embasbacadas com tanto colosso de pedra e a tal harmonia que ressalta daquelas dimensões e a arte de construir muralhas gigantescas introduzindo ondulação e suavidade que impressiona e não se esquece. Foi uma das pérolas ou jóias da coroa da antiga Jugoslávia, foi sempre uma atração turística, equiparada a Belgrado, Zagreb, Sarajevo, Split e às belezas naturais do Parque Nacional de Plitvice. E merece a honraria. O único desabono que o viandante lhe encontrou foi não poder andar descansado pelas ruas, era um aceno permanente de menus a qualquer hora do dia ou da noite, paciência, é uma das faturas do turismo de massas. Mas as recordações são inolvidáveis, a seguir veio a experiência maior desta viagem, Split, a cidade do imperador Diocleciano, recanto magnífico. Vamos então falar de Split.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16563: Os nossos seres, saberes e lazeres (178): Uma viagem em diagonal pelos países dos eslavos do Sul (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P16592: Notas de leitura (889): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte X: O caso do médico militar, especialista em cirurgia cardiovascular, Virgílio Camacho Duverger´[I]: viajando até Conacri com nomes falsos... (Jorge Araújo)


Cuba > Havana > Janeiro de 1966 > Amílcar Cabral com Fidel Castro, em Cuba por ocasião da Conferência Tricontinental. Fonte:  Fundação Mário Soares > Portal Casa Comum > Arquivo Amílcar Cabral. (Com a devida vénia...)

Citação: (1966), "Amílcar Cabral com Fidel Castro", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43973 (2016-10-11)



 
Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); doutorado pela Universidade de León (Espanha) (2009), em Ciências da Actividade Física e do Desporto; professor universitário, no ISMAT (Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes),
Portimão, Grupo Lusófona.


1. INTRODUÇÃO

Depois de dois pequenos desvios ao tema em título, mas complementares, tendo por protagonistas os comandantes Mamadu Indjai (o enigma dos seus ferimentos em combate) e Bobo Keita (os fundamentos que estiveram na base da sua saída da Mata do Fiofioli em maio de 1970) [P16506 + P16562], regressamos ao “trilho” anterior (passe a imagem metafórica) para retomar a divulgação de algumas das memórias transmitidas por três médicos cubanos que estiveram na Guiné Portuguesa [hoje Guiné-Bissau] em missão de “ajuda humanitária” ao PAIGC, na sua luta pela independência, nos anos de 1966 a 1969.

Esta narrativa, que é a décima, inicia a entrevista ao médico
militar Virgílio Camacho Duverger (1934-2003), a terceira no alinhamento do livro escrito em castelhano pelo jornalista e investigador Hedelberto López Blanch, uma coletânea de memórias e experiências divulgadas pelos seus diferentes entrevistados, a que deu o título de «Histórias Secretas de Médicos Cubanos» [La Habana: Centro Cultural Pablo de la Torriente Brau, 2005, 248 pp.] ou “on line” em formato pdf, em versão de pré-publicação. [Consulta em 30 de maio de 2016]. Disponível em: 
http://www.centropablo.cult.cu/libros_descargar/historiamedicos_cubanos.pdf ]

Recordo que,  por ser uma tradução e adaptação do castelhano, onde procurei respeitar as ideias expressas nas respostas dadas a cada questão, entendi não fazer juízos de valor sobre o seu conteúdo, colocando entre parênteses rectos, quando possível, algumas notas avulsas de reforço histórico ao que foi transmitido, com recurso ao vasto espólio disponível no nosso blogue e a outras referências retiradas da Net.

Esta decisão não quer dizer que não se possa acrescentar algo mais em cada situação ou facto concreto, antes pelo contrário, pois o objectivo supremo é ficarmos cada vez mais perto da verdade, ainda que neste conflito bélico se tenham enfrentado poderes com interesses antagónicos e avaliações diferenciadas, e daí o título com que baptizei este trabalho de investigação: “d(o) outro lado do combate – memórias de médicos cubanos”.


2. O CASO DO MÉDICO VIRGÍLIO CAMACHO DUVERGER [I]

Virgílio Camacho Duverger nasceu em novembro de 1934, em Guantánamo, cidade a oitenta quilómetros de Santiago de Cuba, esta fundada pelo conquistador espanhol Diego Velázquez de Cuéllar (1465-1524), em 28 de junho de 1514.

A sua cidade, Guantánamo, tornou-se célebre após a implantação, a quinze quilómetros de distância, da Base Naval do mesmo nome pertencente aos Estados Unidos da América, onde no seu interior se encontra a também célebre «Prisão de Guantánamo». Esta Base Naval, situada na Baía, igualmente como o mesmo nome, foi arrendada de forma perpétua pelos Estados Unidos, em 23 de fevereiro de 1903.

O seu percurso académico foi realizado entre Guantánamo e Santiago de Cuba, aonde concluiu o seu bacharelato em 1952.

Iniciou a carreira de medicina em Havana, nesse mesmo ano, concluindo-a em dezembro de 1960, depois de um interregno de dois anos por motivo de terem encerrado a Universidade na sequência do ataque ao Palácio Presidencial em 1957, e reaberta depois do triunfo da Revolução. Em julho de 1959 ingressa no Exército Rebelde como técnico de saúde.

Incorporou-se como médico militar e,  no dia seguinte a obter o seu diploma, foi mobilizado para Mariel, seguindo-se, depois, a transferência para La Limpia del Escambray como médico militar. Poucos meses depois é designado para fazer a pós-graduação no Serviço Médico Rural. Seguiu-se Minas de Frio, uma localidade existente na Serra Maestra, que era aonde funcionava a escola de recrutas [cadetes] que Ernesto 'Che' Guevara [1928-1967] havia fundado em 1958.

[Foto à esquerda: Ernesto 'Che' Guevara.  1960, mundialmente famosa foto de Alberto Korda (1928-2001)]

Como era militar, enviaram-no para o acampamento Pino del Água, na província de Oriente, que pertencia à Associação de Jovens Rebeldes, aonde só havia um estomatologista.

Nesse contexto, recebe um telefonema donde lhe pedem para se apresentar em Santiago de Cuba, onde o chefe dos Serviços Médicos em Oriente lhe coloca a necessidade de ir como médico para o Batalhão fronteiriço, em Guantánamo, que acabara de fundar-se. Foi o primeiro médico desse Batalhão aonde termina a pós-graduação, passando, em maio de 1962, para o Instituto Nacional de Cirurgia e Anestesiologia [INCA]. Conclui a cirurgia geral em 1964 (como militar) e transita para o Hospital Militar Dr. Carlos J. Finlay como especialista.

Em janeiro de 1966, durante a 1.ª Conferência Tricontinental, é contactado pelo doutor José Ramón Balaguer Cabrera, naquele tempo chefe dos Serviços Médicos das Forças Armadas, a quem lhe é colocada a possibilidade de ir cumprir uma missão ao estrangeiro mas sem lhe dizerem o seu destino, o que aceita.

Concluído um período de treino de cerca de dois meses, seguiu em finais de maio de 1966 até Conacri, a bordo do barco «Lídia Doce», na companhia de mais vinte e seis “internacionalistas cubanos”, grupo constituído por artilheiros, médicos e motoristas. Este contingente acabaria por ser considerado o primeiro a chegar em missão de ajuda ao PAIGC.

Seguem-se os primeiros desenvolvimentos revelados durante a entrevista dada pelo dr. Virgílio Camacho Duverger.

Entrevista com 22 questões [Parte1 > da 1.ª à 7.ª]

“Testemunhos antes da morte” [Cap. XII, pp. 154-165]

[As notas introdutórias sobre o entrevistado são da responsabilidade do jornalista Hedelberto López Blanch, justificando-se, pelo desenlace à posteriori, o título dado à entrevista: «testemunhos antes da morte»... Vão a itálico. A perguntas vão numerados, em romano. Optámos também pelo itálico na transcrição da respostas do entrevistadlo. Os parêntes retos são nossos.]

Virgílio Camacho Duverger, destacado
Cuba, Havana, Hospital Hermanos Ameijeiras.
À esquerda. monumento a Antonio Maceo.
 Fonte: Wikipedia
profissional de saúde, pessoa amável e respeitada que nasceua 29 de novembro de 1934 em Guantánamo, antiga província do Oriente, entrevistei-o numa tarde de janeiro de 2003,  num pequeno gabinete do Hospital [Clínico-Cirúrgico] Hermanos Ameijeiras, [hospital líder de Cuba, situado no centro de Havana, entre o centro histórico  e o bairro de Vedado], aonde mantinha uma consulta voluntária todas as terças-feiras.

[De referir, como curiosidade, que no terreno onde se ergueu este hospital, inaugurado em 3 de dezembro de 1982, aí funcionou durante um século aproximadamente (1852-1950), a Casa de Beneficência e Maternidade de Havana e, depois, até ao triunfo da Revolução Cubana, em 1959, o Banco Nacional de Cuba e mais algumas dependências, nomeadamente a bolsa. Estes primeiros serviços estavam instalados em edifícios que ocupavam somente metade da área e que o novo estado cubano decidiu ampliar a sua construção, transformando-os em hospital, considerado dos melhores centros, da sua classe, no mundo. Quanto ao nome do hospital, este recorda os três irmãos Ameijeiras, mártires da luta revolucionária, que cresceram ao redor deste edifício].

Estava eu muito longe de pensar que somente dez meses após ter conversado com ele, em novembro de 2003, Camacho Duverger falecerá, vítima de enfarte do miocárdio. Incrivelmente,  fora atraiçoado na sua própria especialidade de cirurgião cardiovascular, depois de ter operado e salvado centenas de pacientes.

Como meritória homenagem a este destacado académico e médico internacionalista, que cumpriu a sua missão na Guiné-Bissau, eis as suas últimas declarações para este livro que colige histórias inéditas de alguns dos homens que, como Duverger, cumpriram o dever patriótico e humano de salvar vidas em outras terras do mundo.



(i) Fale-me dos seus estudos 

e da sua carreira médica.



Fiz os primeiros graus no Colégio La Salle de Guantánamo, e parte do ensino secundário nessa mesma cidade e erminei-o em Santiago de Cuba, em 1952 [, aos 17 anos]. Dou início à carreira de medicina nesse mesmo ano, em Havana, e quando estou no quarto ano, fecham a Universidade, depois do ataque ao Palácio Presidencial em 13 de março de 1957. 

Retomo o curso depois do triunfo da Revolução, e em julho de 1959 ingresso, com outros companheiros, no Exército Rebelde como técnico de saúde. Era aluno de medicina e faltava pessoal para os serviços médicos. Colocaram-me no Centro de Cria Cavalar, em El Cotorro [um município situado a sudoeste da Província e cidade de Havana]. Concluo o curso  de medicina em 6 de dezembro de 1960.

(ii) Que fez depois?

Imediatamente incorporei-me como médico militar, pois até a esse momento era aluno de saúde, e no dia seguinte a obter o título, mobilizam-me para Mariel [um município da província de Artemisa, a quarenta quilómetros de Havana], porque era a mudança [20 de janeiro de 1961] de governo de Dwight D. Eisenhower [1890-1969] para John F. Kennedy [1917-1963]. 

[Eisenhower foi um general de cinco estrelas dos Estados Unidos, tendo participado na Segunda Guerra Mundial como Cmdt Supremo das Forças Aliadas na Europa, assumindo a responsabilidade de comandar e supervisionar a invasão do Norte de África durante a “Op. Tocha”, entre 1942 e 1943. 

[Assumiu, ainda, a planificação da invasão da França e da Alemanha, entre 1944 e 1945. Em 1951 tornou-se o primeiro Cmdt Supremo da OTAN (NATO). 

[Dois anos depois foi eleito o 34.º Presidente dos Estados Unidos da América, mandato que decorreu entre 1953 e 1961].

Mais tarde transfiro-me para La Limpia del Escambray como médico militar. Três ou quatro meses depois sou designado para fazer a pós-graduação no Serviço Médico Rural, cujo chefe administrativo no Ministério da Saúde era o doutor José Miyar Barruecos (Chomi), [n. 1932; sendo-lhe atribuídas responsabilidades relacionadas com o desenvolvimento da biotecnologia, a criação e o funcionamento da Escola Latino-americana de Ciências Médicas (ELAM) e da Internacional de Educação Física e Desporto. É professor de Mérito da Faculdade de Medicina Victória de Girón].

Colocaram-me, então, em Minas de Frio [localidade existente na Serra Maestra, pertencente ao município de Bartolomé Masó, na província de Granma], Era aí que funcionava a Escola de Recrutas [Ciro Redondo (cadetes)] que Ernesto 'Che' Guevara [1928-1967] havia fundado [em 1958]. 

O chefe da Escola era Aldo Santamaria Cuadrado [1933-2003]. Durante a minha presença, passam a direcção administrativa de Minas de Frio para o Ministério da Educação. Como eu era militar, enviaram-me para o acampamento Pino del Agua, na província de Oriente, que pertencia à Associação de Jovens Rebeldes. Quando lá cheguei, só havia um estomatólogo.

Muitos jovens que passaram por essa Escola hoje são generais. Por essa altura, recebo um telefonema donde me pedem para me apresentar em Santiago de Cuba. Ali o doutor Monreal, chefe dos Serviços Médicos em Oriente, coloca-me a necessidade de eu ir como médico para o Batalhão fronteiriço, em Guantánamo, que acabara de fundar-se. Fui o primeiro médico desse Batalhão. Termino a pós-graduação e passo, em maio de 1962, para o Instituto Nacional de Cirurgia e Anestesiologia [INCA], que era dirigido pelo doutor René Cirilo Vallejo Ortiz [1920-1969] (médico de Fidel de Castro).

Esse instituto surge porque Fidel [de Castro], depois da invasão da Praia Girón [conhecida em Cuba como a “Batalha de Girón”, na Baía dos Porcos, que fora uma tentativa frustrada de invadir o sul de Cuba empreendida em abril de 1961 por um grupo paramilitar de exilados cubanos anticastristas, a chamada Brigada de Assalto 2506], deu-se conta da falta de cirurgiões, anestesistas e de outras diferentes especialidades cirúrgicas. 

Ali surge também o INCA [Instituto Nacional de Cirurgia e Anestesiologia] e a especialidade de maxilofacial, que não existia. Concluo a cirurgia geral em 1964 (como militar) e transito para o Hospital Militar Dr. Carlos J. Finlay como especialista.

(iii) Quando e quem lhe propôs 
a missão internacionalista?

Em janeiro de 1966, durante a [1.ª] Conferência Tricontinental [realizada em Havana, Cuba, entre 3 e 15 desse mês, e onde esteve presente Amílcar Cabral (1924-1973), foi aprovada, em 12 de janeiro, a criação da Organização de Solidariedade dos Povos de África, Ásia e América Latina], contacta comigo do Hospital Dr. Carlos J. Finlay, o doutor José Ramón Balaguer Cabrera [n. 1932], naquele tempo chefe dos Serviços Médicos das Forças Armadas.



[Havana (Cuba), janeiro de 1966. Intervenção de Fidel de Castro durante a Primeira Conferência Tricontinental, onde marcaram presença 512 delegados, provenientes de 82 países, bem como de 64 observadores e 24 convidados. 

De entre as centenas de delegados, destacam-se: Amílcar Cabral [1924-1973], da Guiné-Bissau; Salvador Allende [1908-1973], do Chile; Luís Augusto Turcios Lima [1941-1966], da Guatemala; Cheddy Bharat Jagan [1918-1997], da Guiana [Inglesa]; Pedro Medina Silva [1924-2012], da Venezuela; Nguyen Van Tien [1923-2001], do Vietnam do Sul; e Rodney Arismendi [1913-1989], do Uruguai].

[Fonte: http://epoca2.lajiribilla.cu/2011/n514_03/514_03.html - com a devida vénia]

[vídeo da conferência em: https://www.youtube.com/watch?v=CVZoxudN_Rk]


[O doutor José Cabrera, chefe militar da Força Armadas de Cuba] coloca-me a possibilidade de ir cumprir uma missão ao estrangeiro sem me dizer em que sítio. Incorporo-me num grupo para treino. Eram três grupos: um de artilheiros, outro de mecânicos-auto e outro de médicos. Cada grupo tinha nove elementos

Depois nos reagrupámos numa casa dividida por classes e na supervisão dos grupos encontrava-se um companheiro que era da “segurança”, conhecido por Artemio [tenente Aurélio Riscar Hernández Artemio] (com ele existiram alguns pequenos problemas porque quis aplicar algumas teorias e passado algum tempo na Guiné-Bissau o substituíram pelo Cmdt Victor Dreke) [facto ocorrido em fevereiro de 1967]. 

Dos três grupos de nove cada um, saíram em avião até Conacri, três artilheiros e dois médicos que o PAIGC necessitava com urgência. [Estes cinco elementos chegaram à capital da Guiné-Conacri em 29 de abril de 1966, numa viagem entre Havana-Moscovo-Praga-Marrocos-Conacri, chefiados por Aurélio Artemio].

Estivemos nessa casa aproximadamente dois meses. Deram-nos algumas aulas militares e de português. Aí começámos a suspeitar de que iríamos para alguma das colónias portuguesas. Por coincidência irónica, a casa aonde nos colocaram estava perto da embaixada de Portugal e às vezes, quando saíamos, passávamos em frente dessa vivenda diplomática. 

[Portugal mantem relações diplomáticas formais com Cuba pelo menos desde 1929, altura em que o Chefe de Missão em Washington passa a poder também ser acreditado em Cuba.]

Ao concluir o intenso e curto período de treino, saímos um dia numas viaturas fechadas e imaginei que íamos a caminho de Mariel, e porque não nos dizem o destino.

(iv) Os seus familiares 
sabiam alguma coisa?

Para os nossos familiares, desde que abandonámos a casa, estávamos na União Soviética a fazer um curso. Recordo-me que vivia no município de Playa, em 41 e 30, e às vezes passava perto de minha casa, quando tinha alguma coisa de trabalho para fazer, e não podia nem falar ao telefone.


(v) Quando e por que meio 
viajou?

Saímos em finais de maio de 1966 [21], porque passámos o Dia das Mães em Cuba. Numa lancha grande fomos até ao alto mar e aí subimos para o barco «Lídia Doce», um navio mercante cubano. Fizemos a travessia [atlântica] com dificuldades, pois em duas ou três ocasiões estivemos à deriva por avarias. 

[De notar que o dr. Virgílio Camacho Duverger, médico especialista,  fez parte do grupo no qual estava incluído o dr. Domingo Diaz Delgado, o primeiro entrevistado deste projecto, e que conta a história da viagem com mais detalhes – P16224. A missão do dr. Duverger vai-se prolongar até finais de 1967, tendo regressado a Cuba em princípios de 1968. Esteve boa parte do tempo na base de Boké, mas também passou pela  frente leste e pela  frente sul. Estava no Boé quando o cmdt do PAIGC Domingos Ramos foi morto por um estilhaço de morteiro das NT, aquerteladas em Madina do Boé.]


(vi) Iam vestidos 
à civil?

Chegámos a Conacri vestidos à civil e sem armamento. Todos os que faziam parte do meu grupo eram militares, sem excepção. Levávamos passaportes falsos.

(vii) Qual era 
o seu nome?

Víctor Córdoba Duque, porque como nos informou o nosso instrutor de “segurança” as iniciais dos nomes dos passaportes coincidiam com as reais (os nomes eram escolhidos por nós) [Virgílio Camacho Duverger], para que se alguma vez surgissem referências em algum documento com as nossas iniciais poderiam levantar suspeita e desse modo descobrir a nossa identidade.

(Continua) (**)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 2 de setembro de  2016 > Guiné 63/74 - P16441: Notas de leitura (874): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte IX: o caso do clínico geral Amado Alfonso Delgado (V): Finalmente o regresso a casa, depois do pesadelo do Fiofioli, na margem direita do Rio Corubal... Este homem, hoje professor universitário (?), tem histórias para contar aos netos... (Jorge Araújo)

(**) Último poste da série > 10 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16584: Notas de leitura (888): Guiné-Bissau entre 1960 e 1990: um olhar de um oficial português (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P16591: Parabéns a você (1147): Cátia Félix, Amiga Grã-Tabanqueira

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Nota do editor

Último poste da série de 11 de Outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16586: Parabéns a você (1146): Benito Neves, ex-Fur Mil Cav da CCAV 1484 (Guiné, 1956/67) e Eduardo Campos, ex-1.º Cabo TRMS da CCAÇ 4540 (Guiné, 1972/74)

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16590: Efemérides (238): Cerimónia do Dia Municipal do Combatente do Concelho de Gondomar, a levar a efeito no próxio dia 15 de Outubro, pelas 11 horas da manhã, na Praça Heróis do Ultramar, em Fânzeres (Carlos Silva)



1. Hoje, 11 de Outubro de 2016, é o Dia Municipal do Combatente no Concelho de Gondomar.
Por ser dia de semana, as respectivas cerimónias terão lugar no próximo sábado, dia 15, pelas 11 horas da manhã, na Praça Heróis do Ultramar, em Fânzeres, conforme Convite que se publica.

C O N V I T E 





Registos fotográficos das Cerimónias de 2015
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16557: Efemérides (237): Cerimónia de homenagem ao Combatente José Manuel Tomé, falecido na Guerra do Ultramar, e aos Combatentes da Freguesia da Senhora da Hora, a levar a efeito no próximo dia 8 de Outubro de 2016 (Carlos Vinhal)

Guiné 63/74 - P16589: Agenda cultural (506): Lançamento do livro de poemas "Sussuros Meus", da autoria de Fernando Jesus Sousa, dia 14 de Outubro de 2016, pelas 15 horas, no Salão Nobre da ADFA, Av. Padre Cruz, Lisboa

1. Mensagens do nosso camarada Fernando de Jesus Sousa (ex-1.º Cabo da CCAÇ 6, Bedanda, 1970/71, DFA), com datas de 23 e 30 de Setembro de 2016:

Caros amigos e leitores.

É com enorme satisfação e muita felicidade, que trago até vós, novidades!

"Quatro Rios e um Destino", não é mais um livro solitário. Tem finalmente companhia! Um segundo livro, "Sussurros Meus", para que ambos possam trilhar o mesmo caminho, até aos vossos espaços de leitura e proporcionar aos seus leitores, interesse e prazer, algumas reflecções e porventura algumas emoções.

Sussurros Meus é um livro de poesia, no qual o autor liberta muitos dos seus sentimentos, ficando assim as duas obras irmanadas nos mesmos valores. Porém, em Sussurros Meus, encontramos algo diferente. Aqui o amor é rei e senhor, interligado entre raízes, os sentimentos de alma e estados de espírito, que o autor verteu para o papel, na sua forma e estilo próprios.

A todos vós endereço o meu convite, extensivo também aos vossos amigos, para que, no dia 14 de Outubro, às 15 horas, nos acompanhem no momento solene da apresentação de mais esta obra, que eu espero e muito desejo, seja do agrado de todos os que percorrerem as suas páginas.

O lançamento será no Salão nobre da Associação dos Deficientes das Forças Armadas, Av. Padre Cruz, edifício ADFA Lisboa.

Conto com a vossa presença e apoio, naquele dia, em que ficará escrita mais uma página da história da minha vida, entre o ser e o estar.

Quatro Rios e um Destino e o seu autor, agradecem a vossa presença

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2. Deixo para os meus amigos um poema de que gosto muito. Faz parte dos 125 que completam "Sussurros Meus"

Livro a Lançar no próximo dia 14 de Outubro pelas 15 horas, na sede da Associação dos Deficientes das Forças Armadas, na Av. Padre Cruz em Lisboa, no Salão Nobre.
Aqui deixo o meu convite, para assistir ao lançamento de mais uma obra. Ficarei muito honrado com a sua participação. Vamos todos em amizade e respeito celebrar e brindar com um Porto de honra.


Outono

Cai a noite no outono,
Sente-se o frio lá fora.
Preciso de aconchego na minha alma!
Nesta noite, em que o silêncio mora,
Vazia de calor! E uma lareira sem chama!

Noite fria, esta, de outono!...
Na rua sente-se o frio.
A chuva bate fria, bate forte,
Para lá longe encher o rio.
Do vento, ouve-se o seu trote…

A correr, como um cavalo bravio,
De crina solta em pleno desafio.
Aperto o cobertor que me enrosca.
Neste pesado silêncio, gentio.
Nem o meu telefone toca!

Nem os cães vadios ladram!
Mas ouve-se a água, a caminho do rio…
Todos dormem, em silêncio profundo,
Porque cai a chuva e faz muito frio.
Até parece que fiquei só neste mundo!

Tenho uma pequeníssima satisfação:
Notar que apenas chove lá fora!
Mas sinto tanto frio no meu coração!
É tanta a solidão, que no meu peito mora!...
Porquê? O outono? Que seja sempre verão…

Continuo só, de caneta na mão,
Rabiscando o que me vai na alma.
Nem o cobertor aquece a minha solidão!
Nem a sinfonia da chuva me acalma.
Preciso de aconchego no meu colchão!...

20/11/2015
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16582: Agenda cultural (499): Apresentação do livro "Guerra da Guiné: A Batalha de Cufar Nalu", da autoria de Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil da CCAV 703 / BCAV 705, dia 13 de Outubro de 2016, pelas 15 horas, na Messe Militar do Porto, Praça da Batalha

Guiné 63/74 - P16588: Banco do Afecto contra a Solidão (18): Regressei de Runa.. e velhos são os trapos !... (Mário Vitorino Gaspar, ex-Fur Mil At Art, Minas e Armadilhas, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)

1. Mensagem de Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, Minas e Armadilhas, CART 1659,Gadamael e Ganturé, 1967/68]


Data: 5 de outubro de 2016 às 23:48
Assunto: VELHOS SÃO OS TRAPOS
  
Caras Amigas, Amigos e Camaradas


Ignoro se sabem que regressei do Centro de Apoio Social de Runa – IASFA, Ministério da Defesa Nacional.

Houve informação para umas e uns e falhou para outras e outros. Inclusive fui chamado para entrar no Centro de Apoio Social do Porto. Visitei.

Escrever e passar o tempo… Mas como se o meu relógio biológico deixou de actuar. Perdi-me num vazio. Fico deveras danado por verificar que o ser humano não se prepara para atravessar o tal "corredor – o da morte", que vi bem ao vivo em Runa. Nem se fala lá em Lar. Talvez com
razão. Parece não fazer sentido discutir e falar da morte.

Ingmar Bergman, grande realizador sueco que ficará com o seu nome vincado na História, não só do Cinema como do Mundo, num dos seus filmes coloca na boca de uma sua personagem uma explicação para esse final de vida – antes e sabendo que vai morrer. Talvez depois de ver
bem nos seus olhos:
– A Morte é… – E cai em terra.

Pois ela é o fim. Antes dela? Velhice. Ser velho? Direi e convicto:
– Velhos são os trapos. Não sou velho!
– Mau agouro. Nem sequer vou pensar nisso! – Dizem por aí.

Pois esse período que a antecede. Nem sequer temos pesos e medidas – gosto muito desta afirmação: "Pesos e medidas" – nem sei o autor.

Queda!

Há, nos dias de hoje,  velhice? É uma doença! Só se for na província, lá para o interior! – Palavras ditas…

Mas é o ciclo natural da vida. Principalmente as mulheres disfarçam ao retirarem de um lado… Pondo noutro.

Bisturis retira anos. Matematicamente retiram uma, quem sabe… Duas décadas. Além de operações, tatuagens. Vestidos berrantes e largos, para esconderem a barriga e seios descaídos.

Julgo ter sido Cícero – se não foi ele fui eu ou alguém:
– Somente os idiotas se lamentam em envelhecer…

Destaco, para terminar por hoje algo escrito pelo Poeta do Mundo, é a minha enciclopédia:
– "O próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos nela".

Um abraço

Mário Vitorino Gaspar

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Nota do editor:

Último poste da série > 4 de setembro de  2016 > Guiné 63/74 - P16446: Banco do Afecto contra a Solidão (17): Regressei do Lar de Runa... ap

Guiné 63/74 - P16587: O cruzeiro das nossas vidas (25): O meu regresso a casa, no N/M Uíge (Manuel Resende (ex-alf mil art, CCAÇ 2585/BCAÇ 2884, Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71)


Foto nº 1 > N/M Uíge > Regresso a Lisboa > Março de 1971 > Jantar de Gala, onde estou eu (de óculos), à direita da foto o alf Marques Pereira, da minha Companhia, vive em Maputo. À esquerda da foto o alf José Alves Calado e o último creio que se chama Miranda, não tenho a certeza




Foto nº 2 > Uma foto do médico da meu Batalhão, dr. Dinis Martins Calado. Na viagem de ida para a Guiné, a bordo do Niassa [em 1969].




Foto nº 3 > E mais uma do nosso capelão Pe. António Gameiro, na mesma viagem, para a Guiné, no Niassa [1969]


Fotos  (e legendas): © Manuel Resende (2016) Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário ao poste P16576 (*), inserido na página do Facebook do Manuel Resende (ex-alf mil art, CCAÇ 2585/BCAÇ 2884, Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71).


Parabéns por estares na Magnífica [Tabanca da Linha]. Caro Luís, eu tenho esse folheto do meu regresso no Uíge, digamos que em óptimas condições. 

Tenho uma vaga idéia do tenente Barata, lembro-me perfeitamente das crianças que vinham na viagem, mas não posso identificar ninguém. 

Quanto aos camaradas alferes conheço muitos. O meu Batalhão 2884 e o 2885 fomos e viemos juntos. Além do mais, os alferes dos dois Batalhões andaram em Mafra na mesma incorporação e alguns foram meus camaradas em Vendas Novas.

Tenho uma foto desse Jantar de Gala, onde estou eu (de óculos), à direita da foto o alf Marques Pereira, da minha Companhia, vive em Maputo. À esquerda da foto o alf José Alves Calado e o último creio que se chama Miranda, não tenho a certeza (Foto nº1). Fomos todos colegas em Mafra e Vendas Novas.

Em relação a outros nomes, conheço o Raúl Godinho, da minha Companhia; o médico Diniz Calado, médico do meu Batalhão 2884, presentemente director clinico das Termas da Curia, ainda estive com ele há pouco tempo (Foto nº2); e o nosso capelão Pe. António Gameiro (Foto nº 3) que não encontro em lado nenhum, já fui a Fátima, de propósito, ao Seminário a que eu penso que ele pertencia, e nada.

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Guiné 63/74 - P16586: Parabéns a você (1146): Benito Neves, ex-Fur Mil Cav da CCAV 1484 (Guiné, 1956/67) e Eduardo Campos, ex-1.º Cabo TRMS da CCAÇ 4540 (Guiné, 1972/74)


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Nota do editor

Último poste da série de 10 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16583: Parabéns a você (1145): Manuel Resende, ex-Alf Mil Art da CCAÇ 2585 (Guiné, 1969/71)

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16585: (Ex)citações (319): O cap inf José Abílio Lomba Martins que eu conheci, no Enxalé, em novembro de 1963, antigo professor da Academia Militar, cmdt da CCAÇ 556 (Bissau, Enxalé, Bambadinca, 1963/65) (Alcídio Marinho, ex-fur mil inf, CCAÇ 412, Bafatá, 1963/65) (*)

1. Comentário do nosso vetaraníssimo Alcídio [José Gonçalves] Marinho, ex-fur mil inf, CCAÇ 412 (Bafatá, 1963/65) (*)

Luís

Conheci o capitão [de infantaria] José Abílio Lomba Martins, no Enxalé. Estávamos em fins de novembro de 1963 e um dia apareceu uma coluna da nossa Companhia que levava um senhor capitão que se apresentou como Lomba Martins, professor na Academia Militar que queria conhecer a região e os métodos de contra-guerrilha que utilizávamos, bem como a minha técnica de fazer minas e armadilhas.

Ficou espantado com os resultados reais e os efeitos das armadilhas, pois chegou a acompanhar-me na sua elaboração e na sua montagem e verificou os efeitos devastadores no inimigo.

Na semana passada connosco, ficou tão entusiasmado que me pediu dois exemplares de duas armadilhas para levar para Lisboa, para ensinar na Academia, segundo me afirmou.

Mais tarde a 25 de janeiro de 1964, apareceu a comandar a CCaç 556, que nos substituiu (3.º pelotão), no Enxalé.

Nessa substituição, recordo que me apresentou, aos seus oficiais e sargentos, como alguém que era um operacional, conhecedor da guerra de guerrilha e contra-guerrilha, o que me deixou cheio de orgulho.

Acabou por dizer ao nosso Capitão Braga, que eu merecia um louvor, pois fazia mais estragos no inimigo do que muitas companhias. O que veio acontecer mais tarde.

Encontrei-o em abril de 1965, em Bissau e ele apresentou-me a vários Oficiais sempre
em termos muitos elogiosos para a minha pessoa.

Um exemplo foi: uma noite o 'Nino' Vieira comandou um ataque ao nosso aquartelamento com 150 guerrilheiros (homens e mulheres) que desde as 21 até às 4 horas da manhã, tentaram aproximar-se, por diversas picadas e estrada, mas caíram em mais de dez armadilhas, onde tiveram mortos e feridos, e ao chegar ao arame farpado, apenas se atreveram a dar um tiro de pistola.

Retiram alguns dos mortos e feridos, mas outros ficaram escondidos pelo mato, que nós recuperamos mais tarde durante o dia.

Foi assim que conheci o Sr. Capitão Lomba Martins. (**)

Ab
Alcídio Marinho
CCaç 412,  3ª pelotão
(Bafatá., 1963/65)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 10 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16584: Notas de leitura (887): Guiné-Bissau entre 1960 e 1990: um olhar de um oficial português (Mário Beja Santos)

(**) Último poste da série > 24 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16520: (Ex)citações (318): Ponte Balana e/ou Porto Balana (Idálio Reis, ex-Alf Mil At Inf da CCAÇ 2317 / BCAÇ 2835, Gandembel e Ponte Balana, Nova Lamego, 1968/69)

Guiné 63/74 - P16584: Notas de leitura (888): Guiné-Bissau entre 1960 e 1990: um olhar de um oficial português (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Setembro de 2015:

Queridos amigos,
Trata-se de uma novidade, alguém que foi oficial da ação psicológica e que se pode pronunciar sobre esta atividade no tempo do General Schulz; acompanhou de perto os projetos de desenvolvimento económico e social da era Spínola e dá-nos uma síntese de que se procurava uma modernização de infraestruturas, uma aceleração na construção de estradas, melhorias na educação e na saúde, etc.
Pronuncia-se pois sobre os desaires das eras de Luís Cabral e Nino Vieira e observa que no essencial não se entenderam as expetativas do mundo rural, além de que a corrupção minou importantes projetos da ajuda internacional.
Para ler e pensar.

Um abraço do
Mário


Guiné-Bissau entre 1960 e 1990: um olhar de um oficial português

Beja Santos

Na revista Africana (editada pela Universidade Portucalense), n.º 10, de Março de 1992, apareceu um artigo intitulado “Guiné-Bissau – da década de 60 à atualidade”, o seu autor é José Abílio Lomba Martins, que foi oficial de ação psicológica do Gabinete Militar do Comando-Chefe da Guiné.

Inicia o seu trabalho referindo-se a um livro que fez época intitulado “Guinea-Bissau, politics, economics and society”, Frances Pinter, Londres, 1987, da autoria de Rosmary Galli e Joselyn Jones, estas duas investigadoras perante o insucesso das políticas económicas a partir da independência consideravam que para se encontrar respostas para determinadas questões suscetíveis de conduzir a uma avanço metodológico, era preciso esclarecer qual deveria ter sido o processamento mais adequado para o sucesso de um modelo de desenvolvimento socialista, quais as políticas e com que estruturas é que a população agrícola predominante se deveria ter inserido no processo de crescimento e, por último, qual a credibilidade resultante para o processo de desenvolvimento socialista após o recurso à ajuda externa capitalista.

Estas duas autoras, que estudaram aprofundadamente a evolução e económica e social da Guiné a seguir à independência e até meados da década de 1980, consideram que o governo criou barreiras para os agricultores, estabeleceu obstáculos ao crescimento da produção agrícola, ignorando as suas mais profundas aspirações. Ainda que com uma atenuante: “O PAIGC não cometeu o erro de proceder à coletivização em grande escala”. Todo este processo de indiferença perante o vital setor rural levou um declínio de todo o setor agrícola, isto apesar da intenção mil vezes expressa pelos dirigentes do PAIGC em dar prioridade ao desenvolvimento rural. Para as autoras, os dirigentes do PAIGC mais não fizeram de que fazer concentrar no aparelho estatal os melhores quadros que ficaram em Bissau, o PAIGC limitou-se a adotar um modelo de centralização do poder que só visava assegurar o controlo e a supervisão da economia. Os projetos financiados por múltiplas instâncias internacionais acabaram por ser devorados por 15 ministérios e a sua colossal máquina burocrática, que se revelou inoperante.

O PAIGC, sugestionado pelas economias socialistas, privilegiou o controlo do comércio, a regulação dos preços e o monopólio sobre o comércio externo. Porém, as empresas estatais vieram a sofrer do problema com má gestão, e regularidades de abastecimento e corrupção. De um modo geral, estes gestores envolveram-se em contrabando e desvios em grande escala, para proveito próprio. Num livro de que já aqui se fez recensão, o testemunho de Filinto Barros[1], publicado na Guiné-Bissau pouco antes de falecer, todo este desvario aparecia claramente denunciado.

Feito este registo, Lomba Martins explana largamente sobre os programas aprovados por Spínola para o fomento económico. Subentende-se que a sua inclusão neste artigo é para permitir ao leitor mais interessado se aperceber se houve algum aproveitamento das investigações feitas na última fase do período colonial.

Ao tempo da independência, a Guiné-Bissau não tinha unidades fabris, havia uma fábrica de cerveja e de refrigerantes e uma dúzia de fábricas de descasco de arroz e de mancarra. A agricultura era tipicamente de subsistência.

Muito cedo se anunciou o cutelo da dívida pública, e o seu crescimento foi exponencial. A partir de 1983, adotaram-se políticas de desvalorização do peso, aumentaram as produções de arroz e mancarra; de 1987 a 1989, foi decidido implantar um programa de ajustamento estrutural com base numa estratégia de médio e longo prazo. Também não resultou em pleno.

A então CEE dava apoio a um conjunto de projetos, em diferentes direções: caso da melhoria da estrada Bambadinca-Xitole-Quebo e ligações à República da Guiné; telecomunicações entre Banjul e Bissau e a ponte sobre o rio Campossa, entre Bafatá e Gabu. Também os acordos de cooperação entre Portugal e a Guiné-Bissau eram bastantes diferenciados, abrangiam a cooperação das Forças Armadas, o Centro do Quebo (investigação, formação, produção e comercialização frutícola e hortícola); Projeto do Cacheu, que incluía a participação portuguesa na construção de um museu e de uma biblioteca.

Uma outra dimensão do artigo de Lomba Martins é revelar que afinal Schulz tinha cuidado desde muito cedo uma estratégia para a ação psicológica adequada à situação revolucionária. Quando se pega nos trabalhos da era de Spínola, vem sempre ao de cima uma crítica profunda às incúrias e incompetências anteriores, havendo mesmo opiniões de que nada se fazia no campo da ação psicológica. Pois Lomba Martins, foi oficial de ação psicológica, refere que no tempo de Schulz, para além do reforço dos aquartelamentos, da proliferação de tabancas em autodefesa, da substituição da polícia administrativa por um número crescente de corpos de milícia e da formação de unidades de caçadores africanos, incluindo pequenos grupos de comandos africanos, como aliás o Virgínio Briote aqui tem largamente referido. Mas segundo Lomba Martins data de 1965 um plano de ação psicológica, a criação de um serviço da radiodifusão e imprensa bem como recomendações às autoridades civis para intensificar um melhor tratamento às populações africanas. E Lomba Martins exibe larga documentação produzida por si e pela sua equipa no tocante a panfletos que eram largados nas áreas de duplo controlo ou perto dos santuários do PAIGC.

Ficamos pois com a visão de alguém que depois de acompanhar diretamente os projetos de desenvolvimento económico, em pleno período da luta de emancipação, acompanhou a evolução socioeconómica da Guiné até ao início da década de 1990 e relata os desaires desde a independência até ao período que precede o multipartidarismo.

Spínola e Costa Gomes
Foto: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

Luís Cabral
Foto: Fundação Mário Soares. Com a devida vénia

 Nino Vieira
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Notas do editor

[1] - Vd. poste 19 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9626: Notas de leitura (343): Testemunho, de Filinto Barros (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 7 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16572: Notas de leitura (887): “Paz e Guerra, Memórias da Guiné", pelo Coronel António Melo de Carvalho, edição de autor, 2015 (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P16583: Parabéns a você (1145): Manuel Resende, ex-Alf Mil Art da CCAÇ 2585 (Guiné, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 9 de Outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16578: Parabéns a você (1144): José Carmino Azevedo, ex-Soldado Condutor Auto do BCAV 2861 (Guiné, 1969/71)

domingo, 9 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16582: Agenda cultural (505): Apresentação do livro "Guerra da Guiné: A Batalha de Cufar Nalu", da autoria de Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil da CCAV 703 / BCAV 705, dia 13 de Outubro de 2016, pelas 15 horas, na Messe Militar do Porto, Praça da Batalha.


Em mensagem datada de 4 de Outubro de 2016, o nosso camarada Manuel Barão da Cunha, Coronel de Cav Ref, que foi CMDT da CCAV 704 / BCAV 705, Guiné, 1964/66, dá-nos notícia da apresentação de mais um livro, integrada na 148.ª Tertúlia do 16.º Ciclo de Tertúlias Fim do Império, a levar a efeito na próxima quarta-feira, dia 13 de Outubro, na Messe Militar do Porto. Desta feita o livro é já nosso conhecido, trata-se de "Guerra da Guiné: A Batalha de Cufar Nalu", da autoria do nosso camarada Manuel Luís Lomba.




16.º CICLO DE TERTÚLIAS FIM DO IMPÉRIO

148.ª TERTÚLIA

PORTO, 13 DE OUTUBRO, 5.ª FEIRA, ÀS 15 HORAS

MESSE MILITAR DO PORTO



"Guerra da Guiné: A Batalha de Cufar Nalu", da autoria de Manuel Luís Lomba, ex-Furriel Miliciano da CCAV 703 / BCAV 705, Guiné 1964/66, residente em Barcelos. 

Edição: Terras de Faria.
terrafaria@iol.pt 
Número de páginas: 340
Impresso em 2012
Telef: 253 851 242 e 934 774 330
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16567: Agenda cultural (498): Lançamento do 1.º Volume de "Memórias Boas da Minha Guerra", da autoria do nosso camarada José Ferreira da Silva, dia 14 de Outubro de 2016, pelas 16h30, no Salão Nobre do Mosteiro da Serra do Pilar, na Rua Rodrigues de Freitas, Vila Nova de Gaia, com apresentação do Dr. Alberto Branquinho