quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18113: Feliz Natal 2017 e Melhor Ano Novo 2018 (3): Paulo Salgado (ex-alf mil op esp, CAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72)... "Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade /, Glória a Deus nas Alturas", citando o poeta António Gedeão


O Paulo e a Conceição Salgado na Guiné-Bissau, como cooperantes, em 1991.Foto de perfil, na página do Facebook, do nosso camarada Paulo Salgado-


Foto (e legenda): © Paulo Salgado (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camão aradas da Guiné]


 


1. Mensagem de boas festas do nosso amigo e camarada Paulo Cordeiro Salgado: 



[ex-Alf Mil Op Esp da CAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72);



autor de "Guiné - Crónicas de Guerra e Amor" (Moncorvo, Lema d' Origem, 2016); 

casado com a economista Conceição Salgado, também nossa grã-tabanqueira, e que se associa a esta mensagem]




A todos - penso para mim: será que estarão todos incluídos? - de que guardo lembrança, por esta ou aquela razão marcante - desejo (a minha mulher acompanha-me) um Feliz Natal e um Ano de 2018 com harmonia e paz e solidariedade junto dos que vos são queridos. 

Decerto que o poema que se segue é conhecido de vós. Mas não será demais lembrá-lo. De um poeta que tinha uma sensibilidade social muito profunda. 

A minha mulher lia este poema aos nossos filhos quando eles começavam a compreender que o pensamento do "doce Jesus" não se coadunava com tanta coisa que ia e vai por aí. 

Pedindo desculpa pelo BCC tão envolvente e facilitador (!) - aliás, temos de seguir o que a tecnologia, a dominadora tecnologia facilita - envio um abraço.

Paulo Salgado

Paulo Xavier Fernandes Cordeiro Salgado

Administrador Hospitalar - ENSP/UNL
Pós-graduado em Administração Pública - UMinho
Pós-graduado em Direito dos Contratos - UCP
Mestre em Gestão-Especialização em Gestão e Administração de Unidades de Saúde-UCP


2. ​Dia de Natal, poema de António Gedeão


[, pseudónimo literário de Rómulo de Carvalho (1906-1997);

o poema «Dia de Natal» é publicado em 1967 num jornal de estudantes do Liceu Camões que é apreendido pelo reitor]



Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.

É dia de pensar nos outros— coitadinhos— nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.

Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
Entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.

De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)

Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.

Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.

Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.

A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra— louvado seja o Senhor!— o que nunca tinha pensado comprado.

Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.

Cada menino
abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta.
De manhãzinha,
salta da cama,
corre à cozinha
mesmo em pijama.

Ah!!!!!!!!!!

Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.

Jesus
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.

Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.

Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas.

Dia de Confraternização Universal,
Dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.

[Fonte:  com a devida vénia, extraído de:

Guiné 61/74 - P18112: Os nossos seres, saberes e lazeres (245): São Torpes, entre Sines e Porto Covo (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 6 de Setembro de 2017:

Queridos amigos,
Foram uns dias encantadores, na companhia de uma criança de seis anos que adora o mar, saltar nas ondas, e fazer construções na areia, melhor reporte para a nossa infância não podia haver.
Conversou-se em Porto Covo com um camarada da Guiné, Inácio Maria Góis, autor de um espantoso diário, no blogue deixei a minha apreciação encomiástica. Agora vai começar o trabalho de revisão, aqui na Guiné, o Cherno Baldé tem o seu chão em Fajonquito, onde se passou o essencial da comissão deste talentoso escritor.
Sines tem muito para ver, aqueles areais até ao infinito fazem-nos sonhar. Um espetáculo que se recomenda para crianças e até nonagenários.

Um abraço do
Mário


São Torpes, entre Sines e Porto Covo (2)

Beja Santos

Qualquer pretexto é bom para que o viandante se enfronhe nesta cidade cheia de História, basta só recordar que em 1469 aqui nasceu Vasco da Gama, muito provavelmente num espaço bem próximo de onde se dispararam estas duas imagens. Não dispõe o viandante de dotes instrumentais para pôr em sequência de imagens a palpitação urbana com pescas e o que foram as conservas e agora a extensa plataforma portuária-industrial, esta imponente e omnipresente. Tivesse o viandante talentos e punha em sequência as praias com as águas de tonalidade azul-turquesa, a saliência dos rochedos, sempre a saltitar por toda a orla, a petizada no surf, os guindaste no trabalho, os marinheiros na faina, o desfrute da Avenida Vasco da Gama, a coroa de glória da regeneração urbana de Sines. Na falta desse engenho de arte, e dentro do museu é possível obter um quase bilhete-postal, num caso, e uma alegoria da longa história de Sines numa janela de tardo-gótico onde até se pode imaginar uma reminiscência árabe.



Em Sines abundam disseminados sinais de uma prosperidade fixada nas décadas de 1930 e 1940, é mesmo de questionar se a então vila não era um modelo de prosperidade em pescas e conservas de peixe, cortiça e agricultura. Tem que se arranjar uma razão para tanta Arte Deco que pontua as ruas e ruelas do casco histórico, tudo aos altos e baixos numa construção anárquica que retirou qualquer identidade que se procura encontrar neste meio urbano. Encerrada está "A Primorosa", seria seguramente leitaria, caso de pasto ou de petiscos, o importante, mesmo com as portas fechadas, é que está preservada neste azul elétrico que faísca na luz crua do dia.


Veio-se em companha conhecer a nova autoestrada e o labirinto de ramificações que põem em Sines entre o litoral e o interior, o Norte e o Sul. Aqui começa a Costa do Norte, a vista é de cortar o fôlego, há toda a vantagem em chegar aqui com bons binóculos para satisfazer a curiosidade de supor que até avistamos a Comporta e mesmo Troia. O importante é o desafogo, o rugoso tapete de areal, com sinuosas restingas, não se estivesse em férias e procurar-se-ia apurar onde está o fim da linha, entre esta areia e o espaço mar.


Esta é a Casa das Artes, edifício primoroso, uma obra-prima da arquitetura, com uma escala nada agressiva e lá dentro tudo funciona em valências: biblioteca e espaço internete, áreas de exposições e auditório. Antes de mais, o viandante andou às voltas de toda esta pedra rósea laminada, com surpreendentes vãos e desvãos, cortes que rasgam a estrutura para lá dentro sentir a bênção da luz natural, e com grande sucesso. O viandante não faz birra diante da arte contemporânea, mas na generalidade das situações o que lhe cai diante dos olhos lhe parece já visto e revisto. À entrada da área das exposições, que anunciava Estação Vernadsky teve acesso a uma folha onde se escrevem considerações para usar em muito sítio. Por exemplo, citar o filósofo italiano Giorgio Agamben, dizendo que o contemporâneo é aquele que percebe o escuro do seu tempo como algo que lhe concerne e não cessa de interpelá-lo, algo que, mais do que toda a luz, se dirige direta e singularmente a ele. Pois o viandante dá por muita coisa que já se viu em muito sítio e que aqui se arruma de outra maneira, sobretudo graças aos prodígios naturais dos arquitetos Aires Mateus. Um monte de terra de onde desponta, sabe-se lá por metáfora, colunas de luz, deixa-o indiferente, não concebe a visão de uma obra de arte sem uma emoção estética ou coisa que o valha. Nem tudo se perdeu nesta deambulação, este centro de artes é um dos nossos orgulhos na nossa frutuosa arquitetura. Mudemos de rumo.





Quem também nasceu em Sines foi Emmérico Nunes, um dos três grandes nomes de desenhadores de humor que triunfaram pela Europa, ele, Leal da Câmara e Vasco de Castro. Hoje existe um centro cultural com o seu nome e aqui se comemorou o centenário do seu nascimento (1888-1988). Em 1906 seguiu para Paris, em 1910 foi para a Alemanha, estudou em Munique. O seu desenho cativa um semanário de grande prestígio, veio depois a guerra, abandonou o país e foi para a Suíça, no verão de 1918 regressou a Portugal. No acesso do modernismo, o seu desenho é recebido com enorme entusiasmo. Para ganhar modestamente a vida, arranjou lugar de desenhador na Companhia Industrial de Portugal e Colónias, é chamado por António Ferro, trabalhou para o pavilhão português na exposição de Nova Iorque e em muito mais eventos. Não esqueceu Sines e dedicou-lhe algumas obras. Não havia nada neste centro cultural de Emmérico Nunes para ver, a não ser postais. Pois é com um deles que nos despedimos desta maravilhosa estadia em Sines, e com uma enorme vontade para repetir.

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Nota do editor

Último poste da série de 13 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18081: Os nossos seres, saberes e lazeres (244): São Torpes, entre Sines e Porto Covo (1) (Mário Beja Santos)

Guiine 61/74 - P18111: Feliz Natal 2017 e Melhor Ano Novo 2018 (2): Que pelo menos nesta quadra festiva não tenhamos a mente entanguida e pensemos um pouco no próximo (Ernestino Caniço, ex-al mil cav., Pel Rec Daimler 2208, Mansabá, Mansoa e Bissaui, 1970/71)





1. Mensagem de boas festas do nosso amigo e camarada Ernestino Caniço,  ex-alf mil cav,  cmdt do Pel Rec Daimler 2208, Mansabá, Mansoa e Bissau, 1970/71, e hoje médico, a viver em Abrantes:


Caros amigos

Votos de Boas Festas e os desejos de um óptimo 2018.

Recordação para os que da lei da morte se foram libertando.

Que pelo menos nesta quadra festiva não tenhamos a mente entanguida e pensemos um pouco no  
próximo.


Abraços

Ernestino Caniço


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Nota do editor:

Vd. poste anterior da série > 20 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18110: Feliz Natal 2017 e Melhor Ano Novo 2018 (1): Silvério Dias (ex-1º srgt art, locutor do 'Pifas'. Bissau, QG/CTIG, 1969/74): autor do bogue "Poeta Todos Dias"

Guiné 61/74 - P18110: Feliz Natal 2017 e Melhor Ano Novo 2018 (1): Silvério Dias (ex-1º srgt art, locutor do 'Pifas'. Bissau, QG/CTIG, 1969/74): autor do blogue "Poeta Todos Dias"




1. Mensagem de boas festas do nosso grã-tabanqueiro  Silvério Dias 


[ ex-2º srgt art, CART 1802, Nova Sintra, 1967/69; 
1º srgt art, locutor do PFA, 'Pifas', Bissau QG/CTIG, 1969/74; civil, delegado de propaganda médica, 1974/76, em Bissau; 
hoje, 1º srgt art ref; 
beirão, casado com a "senhora tenente", também do 'Pifas']


No meu tempo... era o presépio!
Com ele vos desejo "Feliz Natal"


Abraço do Silvério


2. Do camarada Silvério Dias, autor do blogue Poeta Todos os Dias, se transcreve, com a devida vénia, os versos de 9 do corrente:

O MADEIRO DE NATAL

Nos meus tempos de menino,
O madeiro que aquecia Jesus,
Tinha um preceito d' ensino
E a ele se fazia continuado jus.

Cortado à força de braços
Por quem iria às "sortes",
Não provocava embaraços,
Os rapazes eram fortes!

Hoje, além, em Penamacor,
O volume é de tal porte
Que só à força de tractor
Se consegue o transporte!

Ao rever tal situação,
Que ainda se mantém,
Estou a recordar a tradição
Para todo o nosso bem!

Guiné 61/74 - P18109: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte III: Foto tirada do T/T Uíge, no nosso regresso, em 4/8/1969: vê-se o T/T Rita Maria atracado na ponte-cais de Bissau, e uma lancha da marinha que nos veio trazer o último militar a embarcar.


Foto nº 511 > Guiné > Bissau > 4 de agosto de 1969 >  A ponte-cais. o T/T Rita Maria e, ao fundo, Bissau Velha... Foto tirada do T/T Uíge. Em primeiro plano uma lancha da marinha.


Foto nº 511 A > O T/T Rita Maria, da SG


Foto nº 511 B > Guiné > Bissau > 1969 > A ponte cais e, ao fundo. Bissau Velha


Foto nº 511 C > Uma lancha da marinha (1)


Foto nbº 511 D > Uma lancha da Marinha (2) [... mas não é uma LDP - Lancha de Desembarque Pequena, segundo o nosso editor: vd. poste P18096 (*)]



Guiné > Bissau > 4 de agosto de 1969 > Zona portuária >  Foto nº 511, tirada do T/T Uíge, na viagem de regresso.


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]




O T/T Rita Maria (1952-1978) era um navio misto de 1 hélice da frota da Sociedade Geral de Comércio, Indústria e Transportes (SG), construído pela CUF nos Estaleiros da AGPL - Administração Geral do Porto de Lisboa. Tinha um comprimento de 103 metros e estava preparado para acomodar 70 passageiros.

Fonte: © Navios Mercantes Portugueses , página de Carlos Russo Belo (2006) (com a devida vénia...). O autor foi oficial da marinha mercante.



1. Mensagem de Virgílio Teixeira [ ex-alf mil, SAM – Serviço de Administração Militar, CCS – Companhia de Comando e Serviços, Chefe do Conselho Administrativo, BCAÇ 1933, mobilizado pelo RI 15, Tomar, e que esteve no CTIG, em Nova Lamego e São Domingos, 1967/1969; é economista, reformado;  passa a integrar amanhã  a nossa Tabanca Grande sob  o nº 763]


Data: 18 de dezembro de 2017 às 13:06


Bom dia Luís,

A tua mensagem foi enviada às 5 e tal da manhã? Isto é obra, pois só me levanto às 7 ou 8 horas, e apesar disso com muitos comprimidos, isso é outra história.

Responder:

Realmente a foto nº 504 é uma foto espantosa (*), tenho mais 2 ou 3 numa sequência incrível, considero isto inédito e pesado no seu significado. 

Contudo é o dia 4 de Agosto de 1969 e não 20 de Agosto, como vi no blogue, que por engano escrevi em algumas das fotos. Acho que se puderes deve ser colocada a data exacta, pois no dia 20 já estava em casa a passar umas férias pagas pelo RI 15, dado que só passei à disponibilidade em 2 de Setembro de 1969.

Quanto à foto 511, que não estava incluída na minha lista, já envio novamente a legenda, o descritivo e história desta foto, da chegada de um camarada, e doutra em sentido contrário, na direcção de Bissau!... As alterações estão sublinhadas. (...).

(...) Foto 511 – Esta foto é do dia 4 de Agosto de 69, a bordo do T/T Uige, cerca do meio dia, e esta lancha LDP [ ?]  está a chegar com o último militar a embarcar. 

Não sei o que se passou, mas vieram buscar este camarada já a bordo do Uige, levaram-no nesta lancha, tenho outra foto a levarem-no, depois esperamos uma hora, e chegou, entrou, nunca soube o que se passou, nem interessa agora, foi uma situação algo dramática.

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Guiné 61/74 - P18108: Parabéns a você (1359): José Casimiro Carvalho, ex-Fur Mil Op Esp da CCAV 8350 e CCAÇ 11 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 19 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18104: Parabéns a você (1358): Humberto Reis, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 12 (Guiné, 1969/71) e João Melo, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAV 8351 (Guiné, 1972/74)

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18107: Tabanca Grande (454): Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); economista reformado, vive entre Vila do Conde e o Porto; grã-tabanqueiro nº 763.


Virgílio Teixeira, em 2014, com a medalha comemorativa das campanhas de África; economista reformado, vive entre Vila do Conde e o Porto.


[..."No dia em que na Escola Prática de Transmissões no Porto – Senhora da Hora, ex- RI 6, foi feita a cerimónia de entrega das medalhas comemorativas das Campanhas de África, eu lá estava, tenho várias fotos da cerimónia, pois os meus filhos estavam lá e filmaram tudo. Acho que representa, entre centenas de outras fotos que tenho desta idade já dos 70 para cima, vou fazer no próximo mês 75 anos, aquilo que eu penso e sofro pela Guiné. Se há alguém que vive estes 50 anos intensamente sou eu, pode haver iguais, mas não que vivam isto dia após dia, ao acordar é a primeira coisa que me lembro, parece ridículo, mas é assim."]




Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Virgílio Teixeira, alf mil SAM, em "traje de ronco"...

[..."Eu sei que é uma foto de ‘ronco’ mas foi numa deslocação de Nova Lamego a Bambadinca, numa coluna, para carregar mantimentos, cerca de 100 km. Paramos e depois fiz esta foto, lembro-me bem. Posso fornecer mais, pois tenho dezenas delas, mas gostava desta, por questões pessoais."]


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem, de 17 do corrente,  do nosso editor ao camarada Virgílio Teixeira, leitor do nosso blogue há pelo menos 5 anos, e de quem começámos há dias a publicar as primeiras fotos do seu vasto e rico álbum:

Camarada Virgílio: se não te importas tratamo-nos por tu, que dá muito mais jeito, e faz parte das nossas regras de convívio... Afinal, somos e seremos sempre camaradas de armas, e a Guiné marcou-nos no corpo e na alma para sempre...

Parto do princípio que a autorização para publicarmos as tuas fotos, de grande qualidade e interesse documental, é também a aceitação do nosso convite para integrares a Tabanca Grande... Para já, o álbum vai com o teu nome, posto e unidade... Mais tarde decidirás, quando vamos publicar as duas fotos, tuas, de apresentação ao resto dos camaradas,e que são as fotos da praxe (uma antiga, da Guiné, e outra mais atual...). 

Vamos começar o publicar o teu  álbum fotográfico (*). Obrigado pelo que já enviaste, com as respetivas e preciosas legendas. Tomei boa nota das fotos (f104 e f133) que queres retirar.... Quanto ao formato, para efeitos de digitalização e envio, se calhar é mais fácil o formato JPEG, com resolução de um ou mais MG (megabytes). O formato TIF é pesado... Pelo gmail podes mandar anexos até 15 MG, creio eu...E pelo Sapo temos só 7 dias para descarregar as fotos... Vou ver se não me escapa nenhuma... Estou a guardá.las  num ficheiro, converto-as depois em formato JPEG.

Desejo-te também um feliz e santo Natal, para ti, família e amigos.  (...) Se me mandares o teu nº de telemóvel, eu terei muito gosto em ligar-te um dia destes... O editor e camarada Luís Graça


2. Mensagem de 18 do corrente do Virgílio Teixeria, que vai passar, a partir de hoje, 3ª feira,  dia 19, a ser membro de pleno direito do nosso blogue e da nossa Tabanca Grande, sob o nº 763:


Está tudo combinado quanto ao nosso relacionamento. Não há problema nenhum...

(...) Gostei imenso da forma como tudo isto é colocado no blogue, desdobrar as fotos em imagem parciais, acho que dá uma ideia mais real e forte às situações (*). Vou mandar mais algumas, estas que começam pelo fim, ou seja o dia da saída.

Não sei porque levei tanto tempo a entrar na Tabanca Grande? Estou à espera de um lote de mais 255 slides que mandei digitalizar em casa especializada, e há lá muita coisa que já nem me lembro, vou ver e há material para muitas fotos. Só eu poderia encher o Blogue todo, pois tirei cerca de 5000 fotos.

Em relação às fotos para identificar o autor, envio aqui duas, uma nos primeiros meses após a chega à Guiné - Nova Lamego, e outra em 2014, nas cerimónias de imposição da medalha comemorativa das campanhas de África, neste caso, da Guiné. Pode haver alguns camaradas que não se identifiquem com este tipo de fotos escolhidas, mas é a minha vontade, e se puder são estas que quero, mas tenho mais.

Obrigado pela boa recepção que tive, nesta porta de entrada para um outro mundo, nunca estive exposto nas redes sociais, mas algum dia teria de ser.

Até à próxima e espero que com isto venha a ter contactos com alguém que deixei de ter, realmente o BCAÇ 1933 não aparece muito no Blogue.

Aquela foto do médico Lema Santos também pode ser postada, acho eu. (*)

Um abraço,

Virgilio

3. Comentário do editor LG:

Virgílio: Ficas apresentado  à Tabanca Grande, como deve ser... Ou seja, na "parada"... Vais passar a ser o nº 763, por ordem cronológica de entrada, e o teu nome passa a figurar na coluna do lado esquerdo do blogue, na lista alfabética dos membros da Tabanca Grande...(**)

Somos  todos camaradas da Guiné (há duas ou três exceções, de camaradas que estiveram noutros teatros de operações, Angola ou Moçambique)... E há alguns "amigos": guineenses, por um lado, investigadores, por outro, ou ainda familiares (filhos, viúvas, irmãos, etc). de camaradas falecidos, no TO da Guiné)...Mais de 60 dos "grã-abanqueiros" (membros da Tabanca Grande) já morreram (entre 2007 e 2017).

Temos algumas regras de convívio que são consensuais: uma delas é o tratamento por tu e outra é também elementar: não falamos de "política, religião e futebol". A Guiné 1961/74 é o nosso "core business"... Partilhamos memórias (mas também afetos)... A ideia da Tabanca Grande (comunidade virtual) é óbvia: cabemos todos nela com tudo o que nos une e até com aquilo que nos pode separar...

Outra ideia importante é que procuramos não fazer juízos de valor sobre o comportamento (militar, disciplinar, operacional, humano, ético, moral...) uns dos outros, não julganos ninguén, não somos nenhum tribunal, é a História que nos julgará...Mas recusamos a ir para a "vala comum do esquecimento"... E temos o "dever de memória"... De resto, todos fomos heróis, que souberam fazer a guerra e a paz... (Heróis, "mais do que homens, menos do que deuses")...

Podes ler aqui o essencial da nossa política editorial.

Sê bem-vindo, camarada, à Tabanca Grande. E nunca é tarde para entrar. A tua presença honra-nos a todos. E tens aqui um simbólico poilão, a árvore sagrada da Guiné, que nos protege a todos/as...

Daqui a 4 meses, a 23/4/2018, o nosso blogue completa 14 anos de existência. E nesse mês, em data ainda a confirmar,  vamos realizar em Monte Real, no Palace Hotel de Monte Real, o XII Encontro Nacional da Tabanca Grande (realiza-se todos os anos desde 2006). Aponta na tua agenda.

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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

17 de dezembro de 2017 >  Guiné 61/74 - P18096: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte II: Zona portuária de Bissau e o heli do Spínola a dizer adeus ao T/T Uíge, em 4/8/1969

Guiné 61/74 - P18106: Blogues da nossa blogosfera (85): Do Blogue "reservanaval", do nosso camarada Manuel Lema Santos, 1.º Tenente da Reserva Naval, Imediato no NRP Orion, 1966/68, o artigo de sua autoria "Guiné, 1969 – Emboscada a um comboio naval - Parte I"



Guiné, 1969 – Emboscada a um comboio naval - Parte I

Afundamento do batelão “Guadiana” por EEA–Engenho Explosivo Aquático (Post reformulado a partir de outro já publicado em 15 de Julho de 2010)

Considerações gerais


O 2TEN FZE RN João António Lopes da Silva Leite do 10.º CFORN e o STEN FZ RN Carlos Alberto Gil Nascimento e Silva do 11.º CFORN, depois de concluírem os respectivos cursos foram ambos mobilizados para a Guiné, o primeiro integrado no Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º 10 (1967) e o segundo na Companhia de Fuzileiros n.º 6 (1968).

Em Maio de 1969, viriam ambos a protagonizar, um episódio marcante da complexa actividade da Marinha ao longo dos doze anos de guerra, o primeiro como comandante operacional de uma “task unit” activada na sequência da organização de um comboio logístico, integrando LDM e embarcações comerciais e, o segundo, como comandante operacional de uma outra LDM, também com batelões mas que, numa parte comum do percurso, se juntava àquela task unit.


O 2TEN FZE RN João António Lopes da Silva Leite do 10.º CFORN e o STEN RN Carlos Alberto Gil Nascimento e Silva do 11.º CFORN


A organização e planeamento dos comboios de abastecimento logístico estavam atribuídos pelo Comando de Defesa Marítima da Guiné à Esquadrilha de Lanchas que, de acordo com as exigências operacionais, disponibilidade de meios navais e o tão criterioso como indispensável apoio da tabela de marés, procedia à escolha do período e datas em que se efectuavam os comboios - RCU.

A necessidade de manutenção de uma logística de apoio a populações e unidades militares, tornava alguns dos percursos não só frequentes mas de periodicidade obrigatória, quer para norte quer para sul daquele território, situação também decorrente do normal escoamento de produtos agrícolas essenciais à economia do território.

Entre os mais carismáticos, cabe destacar Farim, no norte, cerca de 85 milhas a montante da foz do rio Cacheu e Bedanda ou Gadamael, no sul, ambas a uma distância próxima de 20 milhas da foz nos rios Cumbijã e Cacine (rio do Porto de Gadamael) respectivamente.

As distâncias totais percorridas a partir de Bissau – normais pontos de partida e chegada destes comboios - dependiam dos percursos parciais efectuados e dos navios e embarcações presentes. Havia ainda a considerar, de acordo com as unidades navais utilizadas, rotas alternativas às barras convencionais dos rios.


A tracejado (violeta) o percurso Bissau - Bolama e, na continuação, Bolama - TT (confluência dos rios Tombali e Cobade); igualmente visível o percurso de regresso a Bolama (laranja)


Estavam nesse caso o Canal de Melo, na travessia do rio Cumbijã para o rio Cacine, a passagem do rio Tombali para o rio Cumbijã, via rio Cobade ou a ida para o Cacheu navegando pelo interior do baixo dos Macacões, este só acessível a LDM. Claro que esta possível utilização, válida igualmente para os percursos inversos, permitia encurtamentos de caminho e reduções de tempo notáveis.

Enquanto a uma LFG de escolta estava vedada a possibilidade de efectuar atalhos por causa dos 2.20 m de calado daquela unidade naval e as LFP -Lanchas de Fiscalização Pequenas, ainda que com limitações, efectuassem diversos percursos com alguns shortcuts, as LDM - Lanchas de Desembarque Médias efectuavam verdadeiros milagres no encurtamento de traçados, quase bastando haver alguma altura de água para passarem e muita, mesmo muita, experiência do "patrão".

Afinal, com a maré na enchente, um encalhe resolvia-se quase sempre por si próprio, em fundos lodosos sem cristas rochosas. Bastava arriscar primeiro e esperar depois, raciocínio obviamente limitado para as unidades com quilha.

Para comandar estes RCU eram habitualmente nomeados oficiais subalternos dos Destacamentos ou Companhias de Fuzileiros, dos Quadros Permanentes ou da Reserva Naval, reforçados por esquadras ou grupos de combate daquelas unidades e com o armamento adequado à missão, por forma a aumentar a segurança dos comboios, garantindo um destino seguro às guarnições, populações e bens por eles transportados.

Se algumas das embarcações ou batelões comerciais dispunham de motor, outras não tinham propulsão própria, sendo por isso rebocadas por aqueles que tivessem condições para o fazer. Navegação com velocidades diferentes, cabos de reboque partidos e avarias frequentes, era um panorama comum que gerava confusão e granel, obrigando o comandante do comboio, com as LDM disponíveis, a um enquadramento atento e disciplinado.

Esta estratégia era sobretudo importante a partir do ponto de confluência de todas as unidades, normalmente situado no início das bacias hidrográficas dos rios onde se situavam os locais a aportar. Aí se reviam os derradeiros pormenores da navegação a efectuar, procedimentos de comunicações e a abordagem de eventuais zonas de risco de ataques ou emboscadas do inimigo.


A tracejado (violeta) o percurso Bolama - ponto TT - Catió e os restantes percursos parciais, ponto CC (confluência dos rios Cobade e Cumbijã)- Bedanda - Cabedú - Cacine - Gadamael e respectivos regressos



A missão

Pela "Ordmove" 132/69 o Comando de Defesa Marítima da Guiné ordenou à LDM 302 que, a partir de 16 de Maio de 1969 pelas 16:30, sob o comando operacional do STEN FZ RN Carlos Alberto Gil Nascimento e Silva, largasse de Bissau com o objectivo de escoltar as embarcações motor «Portugal» que rebocava o batelão «Angola» levando carga geral, o Pelotão de Morteiros 2115 e respectivas bagagens com destino a Vila Catió. A guarnição da LDM e o motor «Portugal» foram reforçados com elementos da CF 10.

O comboio (RCU) escalou Bolama no mesmo dia da largada e completou o percurso no rio Cobade no dia seguinte de manhã, entre o rio Tombali e a foz do rio Cagopere que dá acesso ao porto de Catió, esta parte do trajecto feita com apoio aéreo. Durante a permanência naquele porto foi montada segurança pelas FT (Forças Terrestres) locais. No regresso, a LDM 302 e as embarcações civis confluíram para a foz do rio Cagopere no dia 21 pelas 10:00 passando a estar integradas no RCU 9/69.


As embarcações comerciais motoras «Portugal» e «Angola»

Quase simultaneamente, pelo "Ordmove" 136/69 – RCU 9/69 o Comando de Defesa Marítima da Guiné ordenou a activação da TU 5 com a nomeação do 2TEN FZE RN João António Lopes da Silva Leite para comandar aquela task unit a partir do dia 20 de Maio de 1969, pelas 00:00. Foi constituída pelas LDM 105 e LDM 313, com o fim de escoltar as embarcações motor «Rio Tua» rebocando um batelão, motor «Vencedor», motor «Gouveia 17» rebocando os batelões «Guadiana» e «Lima» com destino a Bedanda e Cacine.

Houve ainda que transportar 12 toneladas de produtos de reabastecimento, enviados para Cufar pelo CTIG (Comando Territorial Independente da Guiné) na LDM 105 e ainda um veículo "GMC" do exército para Gadamael na LDM 313.


O batelão «Guadiana» que viria a ser afundado mais tarde.

Tal como previsto, a partir do dia 21, pelas 10:30, foi integrada no comboio a LDM 302 com a embarcação com motor «Portugal» rebocando o batelão «Angola», sendo este grupo (RCU) a integrar comandado pelo STEN FZ RN Carlos Alberto Gil Nascimento e Silva.

Com início e regresso a Bissau, estavam definidos os movimentos previstos com respectivas escalas e horários de chegada/largada, tendo em atenção as marés: Bissau, Bolama, ponto TT (confluência dos rios Tombali e Cobade), foz rio Cagopere, ponto CC (confluência dos rios Cobade e Cumbijã), Impungueda, Bedanda, Impungueda, ponto CC, ponto TT, Bolama e Bissau.

No dia 23 pela manhã a LDM 313 deixou o comboio no ponto CC, rumando a Cacine e Gadamael pelo Canal de Melo, com as embarcações motor «Vencedor», motor «Gouveia 17» rebocando os batelões «Lima» e «Guadiana».


O batelão motor «Gouveia 17» que rebocava os batelões «Lima» e «Guadiana»

O movimento efectuado para o aquartelamento de Cabedú com os batelões «Lima» e «Gouveia» permitiu ganhar um dia ao movimento destas embarcações, escoltadas pela LDM 313 para Cacine.

A descarga em Cacine não foi concluída mas, a necessidade do rigoroso cumprimento do planeamento imposto pelos horários das marés, obrigava a algumas decisões incompatíveis com atrasos nas cargas e descarga dos locais aportados, por problemas de estiva alheios ao comando operacional do comboio.

A progressão para montante do rio Cumbijã a partir dos ponto CC fez-se sem problemas e as descargas em Cufar e Bedanda fizeram-se dentro dos horários e com normalidade.

Regresso, rebentamento de um EEA (Engenho Explosivo Aquático) e o ataque IN

No regresso, o percurso descendente do rio fez-se com as LDM 105 e LDM 302 com as embarcações motor “Portugal” rebocando o batelão “Angola” e motor “Rio Tua” com outro batelão.

Dia 27 pelas 11:00, juntaram-se a estas unidades, no ponto CC, as provenientes do regresso de Cacine. A LDM 313 trazia de Gadamael para Bissau uma viatura GMC e destruiu uma canoa abandonada na foz do rio Meldabom. Cerca das 13:00 do dia 27 de Maio de 1969, e com apoio duma parelha de aviões Harvard T6, iniciou-se o percurso do rio Cobade.


Os batelões motores «Rio Rua» e «Vencedor»

O comboio navegava em coluna, com as unidades navais e embarcações pela seguinte ordem na formatura: «Gouveia 17» rebocando os batelões «Lima» e «Guadiana», LDM 313, motor «Portugal» com o batelão «Angola» de braço dado, LDM 105, motor «Rio Tua» de braço dado com um batelão, LDM 302 e finalmente o motor «Vencedor».

Foi adoptada esta formatura para o motor «Gouveia 17» estabelecer a velocidade do comboio, uma vez que era a embarcação motora com menor velocidade de progressão. Pouco tempo depois, pelas 14:30, o IN (inimigo) viria a revelar-se.

Cerca de meia milha após o desembarcadouro do Cachil, foi avistado pelo pessoal da escolta, fornecida pela CF10 que se encontrava a bordo do «Gouveia 17», um fio que atravessava da margem do lado do Cachil para o meio do rio. Por analogia com casos anteriores, este pessoal mandou parar imediatamente o «Gouveia 17», o que foi tentado pelo patrão desta embarcação metendo máquinas a ré.

Como consequência desta manobra necessariamente brusca e devido ao normal seguimento por inércia, os dois batelões rebocados aproximaram-se do «Gouveia 17», tendo o primeiro reboque, o batelão «Lima», colidido com a popa do «Gouveia 17», enquanto que o outro que o seguia, o batelão «Guadiana», devido ao comprimento do cabo de reboque, ultrapassou por estibordo o «Gouveia 17», e no final do comprimento do cabo, rodopiou ficando aproado em sentido contrário ao da marcha invadindo, com a parte de ré, o local onde o fio tinha sido avistado.


Pormenor do porto interior de Bedanda

Nesse exacto momento, verificou-se uma forte explosão à popa do batelão «Guadiana». Simultaneamente, o inimigo, emboscado em ambas as margens desencadeou violento ataque com armamento ligeiro e morteiro, sem consequências pessoais.

Por sua vez, o engenho explosivo aquático que havia deflagrado à popa do batelão «Guadiana» causou 5 mortos e dez feridos, confirmados pelo sargento enfermeiro - 2Sarg H Cotovio que, seguindo na LDM 105 e após a explosão, passou imediatamente para bordo daquela embarcação. Foram rapidamente assistidos no local por aquele profissional de saúde com a colaboração de um colega - 2Sarg H Mesuras - embarcado na LDM 302. Ambos, debaixo de fogo e no meio de grande confusão por parte de passageiros civis, mantiveram a presença de espírito suficiente para desempenharem as suas funções.

Entretanto, o comandante operacional informou o apoio aéreo do sucedido e, dentro das possibilidades, solicitou cobertura mais cerrada na zona, a fim de ganhar tempo e conseguir a segurança necessária para proceder a uma busca junto ao batelão sinistrado, prevendo a eventualidade de virem a ser encontrados mais mortos ou feridos. Foi informado da impossibilidade de satisfação do pedido por um dos aviões T6.

Calado o IN por acção do fogo efectuado pelas LDM e pelo pessoal de reforço da CF 10 pertencente às escoltas das embarcações civis, reiniciou-se imediatamente a marcha, tendo sido ordenado à LDM 105 que passasse um cabo ao motor «Gouveia 17» dado continuar com os dois batelões a reboque.

Desde o momento do rebentamento junto à popa do «Guadiana» tinham passado uns escassos dez minutos e a embarcação afundava-se rapidamente. Urgia sair da zona da ocorrência e encalhá-lo em local mais seguro, o que veio a suceder próximo da foz do rio Ganjola.


Um comboio no rio Cumbijã, na foz do rio Macobum, na zona de Cafine

Pelas 14:45, quando o comboio navegava já próximo daquele local, o 2TEN FZE RN Silva Leite, por intermédio da FAP, pediu evacuação para dez feridos a partir de Catió. Entretanto contactou igualmente as FT de Catió pedindo ao aquartelamento local a presença de transporte e médico no porto exterior, a fim de prestar assistência aos feridos e recolher os mortos que seguiam a bordo da LDM 313 para aquela localidade.

Nesta altura, o comboio reiniciou a descida do rio Cobade até à confluência com rio Tombali, depois do comandante operacional ter confirmado a presença do apoio aéreo na zona, tendo atingido aquele ponto TT pelas 16:00.

De acordo com o Comando de Defesa Marítima da Guiné (CDMG), foi dada ordem à LDM 303 para permanecer em Catió até ordem em contrário, às embarcações civis para prosseguirem independentemente para Bissau e às LDM 105 e LDM 302 para seguirem para Bolama, onde ficaram a aguardar novas instruções.

Como resultado do acontecimento e das condições de mau tempo verificadas na altura, extraviou-se diverso material fixo que se fez constar nas relações de ocorrências de cada unidade.


Um avião Harvard T6 sobrevoando o rio Cumbijã, próximo de um comboio

Foram consumidas na resposta à emboscada 2200 munições de 20 mm, 2100 de 7.62 mm, 8 granadas ofensivas, 30 munições de ALG (dilagramas), 4 de LGF (lança-granadas foguete) e 10 rockets.

O comandante operacional, por intermédio de um militar do exército responsável pelo carregamento, foi informado de que a carga era composta por 17 bidons de gasolina, cerca de 2000 detonadores e caixas de whisky velho. O transporte deste material terá agravado substancialmente as consequências da explosão.

Observou-se ainda a presença de inúmeros passageiros civis sem qualquer identificação que, por serem familiares de militares ou por lhes interessar visitar as famílias fora da localidade a que pertenciam, pediam aos patrões das embarcações civis para lhes facilitarem transporte para pontos de paragem do comboio de conhecimento antecipado.

Depois da chegada àquela cidade, no dia 28 pelas 18:00, foi dissolvida a task unit, regressando o 2TEN FZE RN Silva Leite a Bissau, de avião.

(continua)

Fontes: Pesquisa e compilação de texto a partir do relatório do 2TEN FZE RN José António Lopes da Silva Leite, núcleo 236-A do Arquivo de Marinha; fotos do Arquivo de Marinha; imagens do autor do blogue efectuadas a partir de extractos da carta da Guiné (cortesia IICT);

mls
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Nota do editor

Último poste da série de 17 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18099: Blogues da nossa blogosfera (84): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (5): "Lágrima de Sol" e "Dentro do Meu Caderno"

Guiné 61/74 - P18105: Manuscrito(s) (Luís Graça) (134): As nossas comidinhas... guineenses, "manga di sabi"


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > Simpósio Internacional de Guileje (Bissua, 1-7 de março de 2008  > 2 de Março de 2008 >  O famoso óleo de palma do Cantanhez. A sua cor vermelha intensa deve-se às características da variedade do chabéu (termo científico, Elaeis guineenses), que é rico em caroteno.




Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > Simpósio Internacional de Guileje (Bissua, 1-7 de março de 2008  > 2 de Março de 2008 >

A simpatiquíssima Cadidjatu Candé, da comissão organizadora do Simpósio Internacional de Guileje e colaborada da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, servindo um fabuloso arroz com filetes de peixe do rio Cacine e óleo de palma local, que tem fama de ser o mais saboroso do país, devido à qualidade da matéria-prima e às técnicas e condições de produção (artesanal). Na imagem, um diplomata português, o nº 2 da Embaixada Portuguesa, que integrava a nossa caravana (e cujo nome, por lapso, não registei, lapso de que peço desculpa).

Um dos pratos que foi servido no almoço de domingo, aos participantes do Simpósio Internacional de Guileje, foi peixe de chabéu, do Rio Cacine, do melhor que comi em África... Durante a guerra colonial, na zona leste, em Bambadinca, só conheci conhecíamos o desgraçado peixe da bolanha que sabia  a lodo....

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís  Graça & Camaradas da Guiné] (*)


1. A propósita da nota de leitura que o Mário Beja Santos fez do livro  "Tera Sabi: receitas da gastronomia tradicional guineense",  2ª ed., 2013 (**)


Mário: o teu amor àquela terra e àquela gente, a "nossa" terra, a "nossa" gente,  passa também pelas comidinhas... Acho que estamos todos hoje a (re)descobrir as cores, os sabores, os ingredientes e as receitas da culinária guineense... Tal como no Alentejo, a pobreza pode ser (e é) criativa... na cozinha!... Veja-se as "sopas dos ganhões" a irem á "mesa dos chefs", sendo já hoje verdadeiros produtos "gourmet"...

Quando lá estive (... quando lá estivemos) na Guiné, estupidamente o meu, nosso, prato favorito era... o "bife com batatas fritas e ovo a cavalo"!... Fazíamos 60 km (ida e volta) para o ir comer à "Transmontana", em Bafatá, à civil"!... Nio intervalo da guerra...

Ainda comi algumas vezes o "frango de chabéu" da dona Auá Seidi, mulher do Fernando Rendeiro, as ostras ao natural (em Bissau) e os lagostins do Geba (no Zé Maria, em Bambadinca)...Alguma caça, alguma fruta... e pouco mais.

Com os meus 23/24 anos, não tinha nem estômago nem muito menos sensibilidade cultural, nem "mundo" em matéria gastronómica... para apreciar as iguarias guineenses... Muito menos tinha a indispensável "paz de espírito"...

Voltei lá em 2008, e aí comecei a experimentar algumas coisas, boas, que me deliciaram, como o peixe do rio Cacine... Mas, por causa do pãnico das diarreias, mal toquei no pitchipatche (canja ou sopa de ostra) em Bissau, na casa do Pepito...

Parabéns pela tua recensão, parabéns ao Tony Tcheka pelo texto introdutório... Vou ver se encontro o livrinho nas "lojas do comércio"...Porque nas nossas livrarias nem pensar... Muito menos nas grandes superfícies (FNAC, etc.)... Nem na Net, há referência a esta 2ª edição... (A não ser, claro, está no nosso blogue e naqueles blogues que nos seguem, e já são bastantes...). (***)


2. Tony Tcheka é o pseudónimo literário de António Soares Lopes Júnior, nascido em Bissau, em  21 de dezembro de 1951.  É já uma das referências maiores da poesia guineense pós-independência.

Vive em Portugal, é (ou foi)  jornalista.  E vai, portanto, fazer, depois de amanhã  66 anos. Partimos mantenhas com ele... e convidamos os nossos leitores a conhecer 10  dos seus poemas, disponíveis aqui. Gosto particularmente de:

Batucada na noite
Povo adormecido
Concerto de 'Djunta mon'
Zé da Tugalândia
Mulher da Guiné
Lusa língua

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Notas do editor:

Guiné 61/74 - P18104: Parabéns a você (1358): Humberto Reis, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 12 (Guiné, 1969/71) e João Melo, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAV 8351 (Guiné, 1972/74)


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Nota do editor

Último poste da série de 17 de Dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18097: Parabéns a você (1357): Francisco Henriques da Silva, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2402 (Guiné, 1968/70)

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18103: (De)Caras (102): O nosso João Crisóstomo em estampilha comemortativa da Fundação Internacional Raoul Wallenberg, emitida pelos correios postais do estado de Israel





Cópia do estampilha  emitida pelos correios do Estado de Israel, por iniciativa da Fundação Internacional Raoul Wallenberg. Trata-se de uma coleção de estampilhas comemorativas da Fundação. Entre os anteriores homenageados, pessoas inidviduais e coletivas, num total de cerca de 3 dezenas,   está, por exemplo, o português Aristides Sousa Mendes (por ocasião do 50º aniversário do seu falecimento).



1. Mensagem do nosso amigo e camarada da diáspora, João Crisóstomo (Nova Iorque), ativista de causas sociais, ex-alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67):
-
Data: 18 de dezembro de 2017 às 15:20
Assunto: Fwd: Stamp -Israel

Caríssimos,

Junto um e mail que  enviei  aos meus filhos ( e que junto a seguir ).    Francamente não sei que fazer disto.  Sem  querer ser ridículo e idiota (, pois sei muito bem que  muita  gente merece estes reconhecimentos   muito mais do que eu  e  permanecem sempre 'esquecidos" e só um conjunto de circunstancias inesperadas deu azo a isto), não quis com  falsa modéstia pretender  não querer que ninguém saiba; e por isso  lembrei-me   de dar conhecimento  disto aos meus amigos mais chegados. 

Deixa-me porém "pôr os pontos nos iis" e explicar  a natureza deste selo, conforme ( a meu pedido)
 me foi  explicado pela IRWF - International Raoul Vallenberg Foundation: 

"The stamp ……. was commissioned by the IRWF and issued by the Israel Postal Authority,,,It is perfectly valid for postage purposes, but it is a limited edition,  not available for the public at large. Only the IRWF can authorize the issuance of further sheets"...

Como tu me tens dado o privilégio da tua muito apreciada amizade, aqui vai. 

Um grande abraço grande de Boas Festas para ti e a Alice.

João C

2. Mensagem de João Crisóstimo para os filhos, Cristina e John Crisóstomo:


Subject: Fwd: Stamp -Israel
Date: December 16, 2017 at 11:37:53 PM EST

Meus filhos queridos,


Há tempos falaram-me que, dado o meu esforço no sentido de diálogo e compreensão entre diversas religiões e no reconhecimento e divulgação de Aristides de Sousa Mendes, Luís Martins de Sousa Dantas, Angelo Roncalli (agora S. João XXIII) e outros,  a IRWF ia sugerir um selo em Israel…

Na altura nem cheguei bem a compreender do que estavam a falar, mas agora enviaram-me isto.

Vocês são meus filhos e portanto, sem pretensões de merecimento ou não da minha parte , aqui está, FYI.

Dad, Vovô


 3. Mensagem  de  ZK-IRWF para o João Crisóstomo:

Subject: Stamp -Israel
Date: December 15, 2017 at 3:58:40 PM EST

Hi Joao,

Attached please find a copy of the new stamp.  As soon as we receive the originals I will let you know.

Best, Zvika 

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Nota do editor:

Ultimo poste da série > 30 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18030: (De)Caras (101): J. Casimiro Carvalho, ex-fur mil op esp, CCAV 8530 (Guileje, 1972/73) e a "patrulha fantasma", massacrada em Gadamael, em 4/6/1973

Guiné 61/74 - P18102: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capºs 15 (A picada) e 16 (O analfabetismo)...Terei escrito meio milhão de palavras em cartas e aerogramas durante a comissão...


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BART 6520/72 (1972/74) > "Porto fluvial", no Rio Fulacunda > Chegada de uma LDP com reabastecimentos.

[ Foto do álbum de Jorge Pinto [ex-alf mil da 3.ª CART/BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74), professor de história reformado; natural de Alcobaça, vive na Grande Lisboa e é também membro da nossa Tabanca Grande e da Tabanca da Linha]

Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da pré-publicação do próximo livro (na versão manuscrita, "Em Nome da Pátria") do nosso camarada José Claudino Silva:


Nascido em Penafiel, em 1950, criado pela avó materna, reside hoje em Amarante. Está reformado como bate-chapas. Tem o 12º ano de escolaridade. Foi um "homem que se fez a si próprio", sendo já autor de dois livros,  publicados (um de poesia e outro de ficção). Tem página no Facebook. É membro nº 756 da nossa Tabanca Grande .


Sinopse:

(i) foi à inspeção em 27 de junho de 1970, e começou a fazer a recruta, no dia 3 de janeiro de 1972, no CICA 1 [Centro de Instrução de Condutores Auto-rodas], no Porto, junto ao palácio de Cristal;

(ii) escreveu a sua primeira carta em 4 de janeiro de 1972, na recruta, no Porto; foi guia ocasional, para os camaradas que vinham de fora e queriam conhecer a cidade, da Via Norte à Rua Escura.

(iii) passou pelo Regimento de Cavalaria 6, depois da recruta; promovido a 1º cabo condutor autorrodas, será colocado em Penafiel, e daqui é mobilizado para a Guiné, fazendo parte da 3ª CART / BART 6250 (Fulacunda, 1972/74);

(iv) chegada à Bissalanca, em 26/6/1972, a bordo de um Boeing dos TAM - Transportes Aéreos Militares; faz a IAO no quartel do Cumeré;

(v) no dia 2 de julho de 1972, domingo, tem licença para ir visitar Bissau,

(vi) fica mais uns tempos em Bissau para um tirar um curso de especialista em Berliet;

(vii) um mês depois, parte para Bolama onde se junta aos seus camaradas companhia; partida em duas LDM parea Fulacunda; são "praxados" pelos 'velhinhos', os 'Capicuas", da CART 2772;

(viii) Faz a primeira coluna auto até à foz do Rio Fulacunda, onde de 15 em 15 dias a companhia era abastecida por LDM ou LDP; escreve e lê as cartas e os aerogramas de muitos dos seus camaradas analfabetos.

2. Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capºs 15 (A picada) e 16 (O analfabetismo)


[O autor faz questão de não corrigir as transcrições das cartas e aerogramas que começou a escrever na tropa e depois no CTIG à sua futura esposa. Esses excertos vêm a negrito. O livro, que tinha originalmente como título "Em Nome da Pátria", passa a chamar-se "Ai, Dino, o que te fizeram!", frase dita pela avó materna do autor, quando o viu fardado pela primeira vez. Foi ela, de resto, que o criou. ]


Capº 14 > A PICADA

Pela imeira vez percorri os 4 km, do aquartelamento até ao rio, para recolher os abastecimentos que chegavam através de um barco, aparentemente civil. O que, quando não havia problemas, acontecia de 15 em 15 dias. E a “Picada” tinha de ser picada.

Chamávamos “Picadas” a todas as vias de terra batida que percorríamos nas províncias ultramarinas. Tal devia-se ao cuidado a ter pela provável colocação de “Minas” antipessoais ou anticarro, pelos “terroristas”.

Todas as armas que levem ao extermínio da vida humana são abomináveis, mas a “Mina” é de todas a mais execrável, levando à morte milhares de pessoas e deixando milhões de estropiados, entre eles, contam-se milhares de crianças que na sua ignorância as activam infantilmente. Infelizmente, nestes últimos 45 anos, creio que nunca deixaram de ser produzidas. Talvez a mina seja a arma que mais justamente empresta à guerra de guerrilha o nome de terrorismo. É letal, é imprevisível, é cobarde, é psicologicamente um terror.

“Sabes meu amor para ir ao rio, temos de picar a picada. Isto não é para rir. A picada é um carreiro de terra”.

Iria então ser um ritual quinzenal, ter um pequeno grupo de soldados a caminhar à nossa frente com uns bastões, muito finos nas pontas, picando cada centímetro de terra, para que a maioria dos soldados, as viaturas e a mesmo a população civil, pudesse transitar em segurança porque, por vezes, eram estes os mais atingidos; até mesmo aqueles que eram coniventes com o PAIGC.

Não posso deixar de mencionar neste capítulo que não eram só os inimigos que colocavam “Minas”; nós próprios também o fazíamos. Em todas as companhias existia a especialidade de Minas e Armadilhas.

Hoje existem vários modelos de detectores de minas terrestres, sendo mais fácil detectá-las, mas essas armas continuam a matar e a estropiar; continuam a ser aterradoras. Uma vez mais, podemos dizer que a mente humana continua, perfidamente, a mostrar os tristes caminhos por onde caminhamos. Caminhos que estão, de facto, cheios de armadilhas.


16º Capítulo > O ANALFABETISMO


Fiquei a saber muito depressa que no seio da minha companhia havia muitos analfabetos. Surpreendi-me por haver também muitos casados e com filhos. Apesar de se terem passado tantos anos, recordo, com uma enorme dor, muitas das cartas que li para alguns, e das respostas que eles me mandavam dar.

Não tinham nome, eram apenas números por isso, não sei quem eram. Os números já não existem, agora têm nome. Pela mesma razão, não sei quem são. Apenas sei que pertencem às minhas recordações.

Tive de amar muitas mulheres que nunca conheci, embora o fosse, somente nas palavras que lhes escrevia. Confesso que saber a intimidade dos meus colegas chegou a ser muito mau para mim.

Em algumas cartas, ou aerogramas, bastava-me copiar as palavras que escrevia à minha namorada... Que raio!, era tão parecido o que me mandavam dizer às deles. Reparem! Hoje estamos no dia 10 de setembro de 2017 - domingo. O furacão IRMA chegou à Flórida.

O dia 10 de setembro de 1972 foi também ele, a um domingo. O jornal Diário de Lisboa tinha na primeira página “Inflação assola a Europa” (Aonde é que já li isto?). Nesse dia, há 45 anos atrás, escrevi cinco aerogramas, com cinco endereços diferentes, que começavam assim…

“Meu eterno amor:

Aqui em Fulacunda longe de ti e das tuas carícias passei mais um Domingo só. Só com a minha dor e o meu desespero e como este outros Domingos já se passaram e muito mais tenho de passar e eu tal como a Maioria dos meus colegas temos de resistir a esta tragédia quando ainda há pouco tínhamos uma vida tão alegre.”


Claro que escrevia frases de todos os géneros. Muitas de cariz sexual. Pedidos dos maridos para as esposas se portarem bem. Muitas juras de amor que, na Maioria das vezes, se foram perdendo com o decorrer dos dias. Li cartas de mães extremamente pungentes, lembro-me de algumas.

“Meu rico filhinho que Deus te guarde e te proteja. Rezo todos os dias por ti, mas mesmo assim, sinto que não voltarei a ver-te.”

Que poderia eu responder a cartas assim? Não seria suficiente o meu próprio sofrimento?

O melhor é voltar a este tema mais para diante. Não estou a sentir-me com coragem para prosseguir. Algumas mães tinham razão. Não voltaram a ver o seu filho.

Em média, escrevia num aerograma, entre 70 a 80 linhas. Fiz isso, praticamente, todos os dias, o que, num cálculo aproximado, teria escrito mais de 500.000 palavras, naqueles funestos dois anos. Ainda hoje me surpreendo: não foi fácil.

Interrogo-me se teria escrito 1% de frases ditadas pelos meus camaradas que fossem alegres. Nas minhas, pude e posso provar, pouca alegria transmitia. É que, ao contrário do que muitos dos ex-combatentes apregoam, as histórias dramáticas, nas circunstâncias em que foram vividas, muito dificilmente se transformariam em histórias cómicas.

Eu ia mudando e, comigo, todos os meus camaradas alteravam comportamentos. Prossigamos mais para diante. Ainda só reli o aerograma no nº 100 (Aerograma ou apenas aéro. Sobrescrito usado durante a Guerra Colonial).

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Nota do editor:

Último poste da série > 9 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18066: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capºs 13 (Não quero morrer( e 14 (As praxes dos 'Capicuas', CART 2772)