1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau,
1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre
outros, ao nosso blogue durante a semana, que continuamos a publicar com prazer:
A voz da consciência
Sempre presente,
nas sendas da vida,
uma voz nos fala,
nos alerta para o bem e para o recto.
Está inscrita.
É a marca registada.
Foi lá posta pelo Autor.
Sim ou não.
Não se deixa influenciar.
Tem a perspectiva das alturas.
Vê à frente.
Se antecipa ao devir da nossa vontade.
Não regateia seu aplauso.
Nunca esquece.
É paciente.
Não se cansa.
Sempre alerta.
Espera sempre até que acordes.
Ganhas sempre se a seguires...
Berlim, 8 de Fevereiro de 2020
7h52m
Jlmg
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Por entre matas e florestas
Me embrenho esbaforido por entre as matas e densas florestas.
Calcorreio os caminhos e veredas.
Cobertos de caruma e silvas rasteiras.
Vou desbravar sombras e segredos, ali escondidos.
Ouvir as vozes e os lamentos que silvam entre as ramagens.
Seguir a rota erma do silêncio, rumo ao horizonte da solidão libertadora.
Espero surpreender tesouros dos tempos idos.
Vou ceifar males que lá se acoitam, por medo à vingança.
Onde não há espaço virgem para mais sementes.
Onde vicejam as sombras desavergonhadas da civilização.
Só regressarei, se ali encontrar um rio sereno e calmo que, de vez, me liberte.
Ouvindo Rimsky-Korsakov: Scheherazade op.35 - Leif Segerstam - Sinfónica de Galitia
Berlim, 7 de Fevereiro de 2020
7h58m
Jlmg
********************
Como borboleta livre...
Como borboleta de asas coloridas, vou adejando as minhas asas.
Beijando as flores.
Sorvendo o seu néctar e perfume.
Elaborando meus eflúvios e demandando a beleza irresistível.
Na suavidade da natureza rica e sedutora.
Me associo aos namorados devorando amor e sorrindo ao nascer de cada sol.
Na candura matinal que envolve nosso viver.
Depois, regresso ao seio do meu íntimo, saboreando cada gesto puro de beleza...
Ouvindo Stefan Jackiw plays Beethoven Romance in F
Berlim, 6 de Fevereiro de 2020
9h08m
Jlmg
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Nota do editor
Último poste da série de 2 de Fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20616: Blogpoesia (658): "Falta-me o tema", "Amigo total e fiel" e "Assustado. Não aflito...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
domingo, 9 de fevereiro de 2020
sábado, 8 de fevereiro de 2020
Guiné 61/74 - P20632: Os nossos seres, saberes e lazeres (376): A Bélgica a cores que guardo no coração, e para sempre (4) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Agosto de 2019:
Queridos amigos,
Chamar a Bruxelas a capital da Europa pode ser uma pura condescendência dado o facto de ali se sediarem as principais instituições europeias, manda o rigor que se afirme que a Europa não tem capital. Aqui não se fala, em concreto, nem nas relações entre Portugal e a Flandres, nem do que atrai os nossos imigrantes ou o que da Bélgica pensam os funcionários que ali labutam com origem portuguesa. O que aqui se exprime é um olhar de fascínio, sem disfarce de alguém que aqui encontra originalidade, aprazimento, regressa quantas vezes for possível alvoraçado e parte pronto a retornar, já não é só Bruxelas, são as Ardenas, o que está na Valónia e na Flandres, é tudo perto, aquele país encantador é uma soma dos nossos Alentejos, uma superfície parecida com a da Guiné-Bissau.
E não há um recanto que não mereça ser conhecido. Como aqui se faz profissão de fé.
Um abraço do
Mário
A Bélgica a cores que guardo no coração, e para sempre (4)
Beja Santos
Nas primeiras arremetidas por Bruxelas, aí pela década de 1980, o viandante foi atraído por um edifício perto da Rua Royale, foi tudo questão de ter saído de um albergue onde pernoitou para uma reunião nas instituições europeias, meteu-se ao caminho, o edifício do Jardim Botânico chamou-lhe a atenção, pô-lo na lista para uma visita de um próximo fim de semana. Recorda belas exposições que aqui visitou, uma delas de fotografias de transatlânticos decorados no estilo Arte-Nova. O atual jardim é obra dos anos 20 do século XIX, dispõe-se em belos terraços, umas vezes de estilo francês nos jardins superiores, italiano nos espaços intermédios e à moda inglesa nos terrenos inferiores, com belo tanque. Os edifícios que integram as estufas e o espaço científico são do estilo neoclássico. Na década de 1980, depois de alguns trabalhos de restauro abriu no Botânico o Centro Cultural da Comunidade Francesa da Bélgica. Aqui perto está o Hotel Puccini, aqui se acolhia o genial compositor de ópera nas suas estadias em Bruxelas. É visita que o viandante ainda não fez, um dia será.
Hoje é praticamente impossível entrar em La Monnaie e comprar um bilhete, as temporadas são curtas, altamente disputadas, os bilhetes sobrantes orçam para cima de cem euros. O viandante tem memórias privilegiadas de grandes espetáculos a que aqui assistiu. Um deles, memorável, pagou cinco euros. Chegara à cidade já passava das quatro horas, arrumou a trouxa na baiuca, bebeu e trincou algo, lançou-se no centro da cidade, atendendo à hora mais não podia do que por ali passarinhar, o comércio fechava. Nisto, entrou pela bilheteira de La Monnaie, dentro de minutos, pelas 18 horas, iniciava-se uma récita de Tristão e Isolda. Que não, que não havia lugares, mostrou-se profundamente triste, de cabeça baixa, braços caídos, como se estivesse condenado. A senhora apiedou-se, perguntou-lhe se estava disposto a ficar no sexto andar, numa posição vertiginosa, era lugar que se dava a estudantes de música, a título excecional. Perante o inacreditável, pagou, correu pelas escadas até ficar no tal lugar vertiginoso, foram cinco horas aproximadamente da melhor música que Wagner compôs, a apreciação é exclusivamente sua, vieram-lhe as lágrimas aos olhos quando Isolda morre depois de cantar uma ária impressionante. É por isso que aqui bate à porta, guarda todas estas inexcedíveis lembranças e espera que seja assim até ao fim dos dias.
Nunca viu o Grand Sablon com esta iluminação, houve um tempo em que descobriu um modestíssimo hotel na Rua dos Mínimos, não muito longe de uma igreja onde há belíssimos concertos ao meio-dia, depois de jantado percorria calmamente estas ruas com vitrinas iluminadas de galerias de arte e artigos luxuosos. Aqui se sediam estabelecimentos para gente altamente abonada que queira arte exótica, restaurante sofisticados, por exemplo. Na sua sala, o viandante guarda uma esplêndida recordação dos belos tempos em que era possível trazer um candeeiro de teto encaixotado. Entrou no estabelecimento de velharias, embeiçou-se por um candeeiro, quando se preparava para sair por julgar impensável transportar no avião tal peça, o proprietário garantiu-lhe que o ia desmontar e meter no caixote. Em Lisboa, um perito remontou a belíssima peça com três focos. Lá está no teto para relembrar aquela saga vivida no Grand Sablon.
L’Atomium é um dos ícones de Bruxelas, está no Parque do Heysel, este nome está seguramente no ouvido do leitor, num estádio próximo, numa final da Taça dos Campeões Europeus, houve para ali uma mortandade incrível, depois de uma série de arruaças entre falanges rivais, salvo erro ingleses e italianos. O viandante por aqui passeou e bem apreciou as conceções estilísticas entre as duas guerras, há para ali muito boa Arte-Deco. O Atomium é uma peça gigantesca, símbolo da Ciência e da Tecnologia. Foi edificada para a Exposição Universal de 1958. Pesa 2400 toneladas, tem uma altura superior a 100 metros e as suas nove esferas possuem um diâmetro de 18 metros. O Atomium lembra a Torre Eiffel, não foi concebido para ficar, a voz do povo teve muita força. Foi restaurado em 1993, há no seu interior um restaurante e nalgumas esferas pode-se visitar uma exposição alusiva aos progressos da Medicina.
Lembrança sempre nítida que o viandante guarda é o Parque do Cinquentenário. Almoçava e despachava-se da cantina do edifício da Comissão Europeia para se passear neste parque onde se fez a Exposição Universal de 1897. Há para aqui vários museus, sempre que pode ele vem até aos museus reais de Arte e de História, o seu acervo é de um valor impressionante, tem peças que foram oferecidas aos duques da Borgonha, aos Habsburgo, possui coleções de antiguidades do Próximo Oriente, da Grécia, da Etrúria e de Roma, tem rica tapeçaria e o seu espólio medieval, a título exemplificativo veja-se esta placa medieval. Fica-se sem palavras.
A Bélgica é uma das primeiras potências económicas ao dobrar do século XIX. O rei é riquíssimo, é o proprietário do Congo, a Valónia possui minas, a Flandres os portos, Antuérpia está à frente. É num contexto de riqueza que as novas classes se insurgem contra os estilos românticos, sentem-se atraídas por uma estética livre que radica no movimento inglês Arts and Crafts, liderado pelo genial William Morris. De potência económica, a Bélgica tornar-se-á uma grande potência de Arte Nova com Victor Horta e Paul Hankar como talentos maiores. Ainda hoje se circula no centro histórico e nos maravilhamos com edifícios incomparáveis. Sugere-se aos interessados que preparem previamente o seu passeio Arte-Nova, contem, pelo menos com dois dias em Bruxelas.
Bruxelas prima por parques e jardins, para já não falar na frondosa e grandiosa floresta de Soignes. Quando o viandante firmou o lastro da amizade com André Cornerotte, muito se passeou à entrada da floresta de Soignes até chegar a esta abadia. Aqui ocorreu um dia um episódio de grande ternura. Numa conversa no café local, apurou-se que o proprietário recebia com muito desvelo, décadas a fio, uma senhora do bairro, ali almoçava sem nunca faltar, aos sábados, badalava o meio-dia, e Madame, graciosamente, fazia a sua entrada. Um dia faltou, o estalajadeiro procurou-a, soube que tinha falecido. E passados uns meses entrou o filho de Madame, vinha cumprir uma disposição testamentária, coubera-lhe receber o automóvel de Madame. Isto contado assim não faz lacrimejar nenhum olho, era preciso ver o estalajadeiro a gesticular e a emocionar-se com a mais inesperada das lembranças. Isto muito perto desta abadia. Para que conste.
Ponha-se termo a este dia de viagem, puras lembranças. Que belas exposições se visitaram neste museu comunal de Ixelles! E mesmo quando não havia uma exposição de arromba, a coleção artística é de estalo, basta pensar no acervo de cartazes de Toulouse-Lautrec, único fora da França, graças a um colecionador que tudo ofereceu ao museu da sua terra.
La Cité du Logis… O viandante conhece-a metro por metro, rua por rua, qualquer passeio é um aprazimento. Felizmente que há ainda uma amiga que dá guarida, é tudo uma questão de acordar datas, talvez amanhã, talvez no próximo ano, ambos sabem que Bruxelas bate no coração deste portuga, sempre alvoraçado por aqui chegar. Porque a viagem nunca acaba, só os viajantes é que acabam (José Saramago dixit).
(continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 1 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20613: Os nossos seres, saberes e lazeres (375): A Bélgica a cores que guardo no coração, e para sempre (3) (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Chamar a Bruxelas a capital da Europa pode ser uma pura condescendência dado o facto de ali se sediarem as principais instituições europeias, manda o rigor que se afirme que a Europa não tem capital. Aqui não se fala, em concreto, nem nas relações entre Portugal e a Flandres, nem do que atrai os nossos imigrantes ou o que da Bélgica pensam os funcionários que ali labutam com origem portuguesa. O que aqui se exprime é um olhar de fascínio, sem disfarce de alguém que aqui encontra originalidade, aprazimento, regressa quantas vezes for possível alvoraçado e parte pronto a retornar, já não é só Bruxelas, são as Ardenas, o que está na Valónia e na Flandres, é tudo perto, aquele país encantador é uma soma dos nossos Alentejos, uma superfície parecida com a da Guiné-Bissau.
E não há um recanto que não mereça ser conhecido. Como aqui se faz profissão de fé.
Um abraço do
Mário
A Bélgica a cores que guardo no coração, e para sempre (4)
Beja Santos
Nas primeiras arremetidas por Bruxelas, aí pela década de 1980, o viandante foi atraído por um edifício perto da Rua Royale, foi tudo questão de ter saído de um albergue onde pernoitou para uma reunião nas instituições europeias, meteu-se ao caminho, o edifício do Jardim Botânico chamou-lhe a atenção, pô-lo na lista para uma visita de um próximo fim de semana. Recorda belas exposições que aqui visitou, uma delas de fotografias de transatlânticos decorados no estilo Arte-Nova. O atual jardim é obra dos anos 20 do século XIX, dispõe-se em belos terraços, umas vezes de estilo francês nos jardins superiores, italiano nos espaços intermédios e à moda inglesa nos terrenos inferiores, com belo tanque. Os edifícios que integram as estufas e o espaço científico são do estilo neoclássico. Na década de 1980, depois de alguns trabalhos de restauro abriu no Botânico o Centro Cultural da Comunidade Francesa da Bélgica. Aqui perto está o Hotel Puccini, aqui se acolhia o genial compositor de ópera nas suas estadias em Bruxelas. É visita que o viandante ainda não fez, um dia será.
Jardim Botânico de Bruxelas.
Hoje é praticamente impossível entrar em La Monnaie e comprar um bilhete, as temporadas são curtas, altamente disputadas, os bilhetes sobrantes orçam para cima de cem euros. O viandante tem memórias privilegiadas de grandes espetáculos a que aqui assistiu. Um deles, memorável, pagou cinco euros. Chegara à cidade já passava das quatro horas, arrumou a trouxa na baiuca, bebeu e trincou algo, lançou-se no centro da cidade, atendendo à hora mais não podia do que por ali passarinhar, o comércio fechava. Nisto, entrou pela bilheteira de La Monnaie, dentro de minutos, pelas 18 horas, iniciava-se uma récita de Tristão e Isolda. Que não, que não havia lugares, mostrou-se profundamente triste, de cabeça baixa, braços caídos, como se estivesse condenado. A senhora apiedou-se, perguntou-lhe se estava disposto a ficar no sexto andar, numa posição vertiginosa, era lugar que se dava a estudantes de música, a título excecional. Perante o inacreditável, pagou, correu pelas escadas até ficar no tal lugar vertiginoso, foram cinco horas aproximadamente da melhor música que Wagner compôs, a apreciação é exclusivamente sua, vieram-lhe as lágrimas aos olhos quando Isolda morre depois de cantar uma ária impressionante. É por isso que aqui bate à porta, guarda todas estas inexcedíveis lembranças e espera que seja assim até ao fim dos dias.
Teatro La Monnaie.
Nunca viu o Grand Sablon com esta iluminação, houve um tempo em que descobriu um modestíssimo hotel na Rua dos Mínimos, não muito longe de uma igreja onde há belíssimos concertos ao meio-dia, depois de jantado percorria calmamente estas ruas com vitrinas iluminadas de galerias de arte e artigos luxuosos. Aqui se sediam estabelecimentos para gente altamente abonada que queira arte exótica, restaurante sofisticados, por exemplo. Na sua sala, o viandante guarda uma esplêndida recordação dos belos tempos em que era possível trazer um candeeiro de teto encaixotado. Entrou no estabelecimento de velharias, embeiçou-se por um candeeiro, quando se preparava para sair por julgar impensável transportar no avião tal peça, o proprietário garantiu-lhe que o ia desmontar e meter no caixote. Em Lisboa, um perito remontou a belíssima peça com três focos. Lá está no teto para relembrar aquela saga vivida no Grand Sablon.
Le Grand Sablon.
L’Atomium é um dos ícones de Bruxelas, está no Parque do Heysel, este nome está seguramente no ouvido do leitor, num estádio próximo, numa final da Taça dos Campeões Europeus, houve para ali uma mortandade incrível, depois de uma série de arruaças entre falanges rivais, salvo erro ingleses e italianos. O viandante por aqui passeou e bem apreciou as conceções estilísticas entre as duas guerras, há para ali muito boa Arte-Deco. O Atomium é uma peça gigantesca, símbolo da Ciência e da Tecnologia. Foi edificada para a Exposição Universal de 1958. Pesa 2400 toneladas, tem uma altura superior a 100 metros e as suas nove esferas possuem um diâmetro de 18 metros. O Atomium lembra a Torre Eiffel, não foi concebido para ficar, a voz do povo teve muita força. Foi restaurado em 1993, há no seu interior um restaurante e nalgumas esferas pode-se visitar uma exposição alusiva aos progressos da Medicina.
L’Atomium.
Lembrança sempre nítida que o viandante guarda é o Parque do Cinquentenário. Almoçava e despachava-se da cantina do edifício da Comissão Europeia para se passear neste parque onde se fez a Exposição Universal de 1897. Há para aqui vários museus, sempre que pode ele vem até aos museus reais de Arte e de História, o seu acervo é de um valor impressionante, tem peças que foram oferecidas aos duques da Borgonha, aos Habsburgo, possui coleções de antiguidades do Próximo Oriente, da Grécia, da Etrúria e de Roma, tem rica tapeçaria e o seu espólio medieval, a título exemplificativo veja-se esta placa medieval. Fica-se sem palavras.
Placa medieval, peça do Museu do Cinquentenário.
A Bélgica é uma das primeiras potências económicas ao dobrar do século XIX. O rei é riquíssimo, é o proprietário do Congo, a Valónia possui minas, a Flandres os portos, Antuérpia está à frente. É num contexto de riqueza que as novas classes se insurgem contra os estilos românticos, sentem-se atraídas por uma estética livre que radica no movimento inglês Arts and Crafts, liderado pelo genial William Morris. De potência económica, a Bélgica tornar-se-á uma grande potência de Arte Nova com Victor Horta e Paul Hankar como talentos maiores. Ainda hoje se circula no centro histórico e nos maravilhamos com edifícios incomparáveis. Sugere-se aos interessados que preparem previamente o seu passeio Arte-Nova, contem, pelo menos com dois dias em Bruxelas.
La Maison Saint-Cyr, expoente da Arte-Nova.
La Maison Cauchie: o assombro da fachada num quadro de harmonia absoluta.
Bruxelas prima por parques e jardins, para já não falar na frondosa e grandiosa floresta de Soignes. Quando o viandante firmou o lastro da amizade com André Cornerotte, muito se passeou à entrada da floresta de Soignes até chegar a esta abadia. Aqui ocorreu um dia um episódio de grande ternura. Numa conversa no café local, apurou-se que o proprietário recebia com muito desvelo, décadas a fio, uma senhora do bairro, ali almoçava sem nunca faltar, aos sábados, badalava o meio-dia, e Madame, graciosamente, fazia a sua entrada. Um dia faltou, o estalajadeiro procurou-a, soube que tinha falecido. E passados uns meses entrou o filho de Madame, vinha cumprir uma disposição testamentária, coubera-lhe receber o automóvel de Madame. Isto contado assim não faz lacrimejar nenhum olho, era preciso ver o estalajadeiro a gesticular e a emocionar-se com a mais inesperada das lembranças. Isto muito perto desta abadia. Para que conste.
L’Abbaye du Rouge Cloître.
Ponha-se termo a este dia de viagem, puras lembranças. Que belas exposições se visitaram neste museu comunal de Ixelles! E mesmo quando não havia uma exposição de arromba, a coleção artística é de estalo, basta pensar no acervo de cartazes de Toulouse-Lautrec, único fora da França, graças a um colecionador que tudo ofereceu ao museu da sua terra.
Musée Communal d’Ixelles.
La Cité du Logis… O viandante conhece-a metro por metro, rua por rua, qualquer passeio é um aprazimento. Felizmente que há ainda uma amiga que dá guarida, é tudo uma questão de acordar datas, talvez amanhã, talvez no próximo ano, ambos sabem que Bruxelas bate no coração deste portuga, sempre alvoraçado por aqui chegar. Porque a viagem nunca acaba, só os viajantes é que acabam (José Saramago dixit).
La Cité du Logis, Watermael-Boitsfort.
(continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 1 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20613: Os nossos seres, saberes e lazeres (375): A Bélgica a cores que guardo no coração, e para sempre (3) (Mário Beja Santos)
Guiné 61/74 - P20631: A minha máquina fotográfica (20): carta de amor à minha querida Olympus Pen, comprada em Nova Lamego, em 1973, numa loja de libaneses (José Saúde, ex-fur mil op esp / ranger, CCS/ BART 6523, 1973/74)
Olympus Pen [EE, 1959 ?]
A primeira pen foi produzida em 1959 e tornou-se uma das mais pequenas máquinas fotográficas a usar rolo de 35mm, pensava-se que era tão portátil quanto uma esferográfica, daí o nome Pen. (...) A versão EE-S foi produzida nos anos 60 e vem substituir a anterior EE com uma lente mais luminosa." (...)
O modelo EE-S (1962-8) custa hoje cerca de 75 euros [o equivalente em 1973 a 355 escudos da metrópole; c. 320 pesos]
Foto nº 1 > Nova Lamego: c. 1973/74: a "menina do Gabu", uma "filha do vento"... Morreria, mais tarde, de doença, aos 12 anos.
Foto nº 2 > Nova Lamego, c. 1973/74 > O "ranger" no seu quarto, no quartel de Nova Lamego
Foto nº 3 > Nova Lamego, c. 1973//4 : o rádio de pilhas e a decoração erótica que "humanizava" e "climatizava" o universo concentracionário dos aquartelamentos
Foto nº 4 > Gabu, c. 1973/74 : numa tabanca fula, o "ranger" e a menina com irmão ás costas
Foto nº 5 > Bafatá, c. 1973/74: a rua principal, o rio Geba ao fundo
Foto nº 6 > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > Xime > 1973 > O cais fluvial do Xime, na margem esquerda do Geba Estreito
Foto nº 7 > Gabu, c. 1973/74 > Uma aldeia fula, crianças em tempo de guerra
Foto nº 8 > Nova Lamego: 14 de março de 1974 > Dia de juramento de bandeira de uma companhia de milícias, com a presença do alferes graduado cmd Marcelino da Mata > "Dia de ronco", com um grupo de músicos que tocavam música afro-mandinga (com os tradicionais instrumenos: kora, à esquerda, e balafon, à direita) > Os militares, de pé, na terceira fila (o Zé Saúde, de óculos escuros) e as mulheres grandes, sentadas, na segunda fila.
Foto nº 9 > Nova Lamego > s/d > Vista aérea do quartel novo e da pista de aviação, Foto do fur mil Amílcar Ramos, que pertencia à BAA (Bateria Anti-Aérea)
Foto nº 10 > Nova Lamego > c. julho / agosto de 1974 > Antes do regresso a casa (em 9/9/1974), a "limpeza dos paióis":
Foto nº 11 > Nova Lamego > c. julho / agosto de 1974 > Antes do regresso a casa (em 9/9/1974), a "limpeza dos paióis": o fur mil minas e armadilhas Santos mais um soldado
Foto nº 12 > Gabu, c. 1973/74 > O "ranger" José Saúde
Foto nº 13 > Gabu, c. 1973/74 > No mato
Foto nº 14 > 2/8/1973 > Aquando da chegada a Bissau, nos barracões do QG/CTIG, destinados aos sargentos, com o Ramos, fur mil ranger que há de desertar, mais tarde, para o PAIGC
Foto nº 15 > Nova Lamego, c. 1973/74: Uma equipa de futebol (reduzida): de pé, Santos, Dias, "Maia" e Fonseca. Em primeiro plano, Zé Saúde e Rui
Foto nº 16 > Gabu, c. 1973/74 algures numa tabanca > Encontro com o velho do cachimbo
Foto nº 17 > Nova Lamego, c. 1973/74 > Lavadeiras, "duquesas do quartel"
Foto nº 18 > Nova Lameg, c. 1973/74 > No quarto, lendo "Um Deus na Palma da Mão", romance de Josúé da Silva (Edições Plexo, 1973, 368 pp.)
Foto nº 19 > Nova Lamego, c. 1973/74 > Cozinha da messe de sragentos > O Zé Saúde, parodiando o "sermão aos peixes" do Padre António Vieira...
Foto nº 20 > Bafatá > Pós-25 de Abril de 1974 > Delegação do PAIGC
Fotos (e legendas): © José Saúde (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Carta de amor à minha querida máquina fotográfica Olympus Pen: obrigado pelas tuas imagens (*)
por José Saúde
Olho, hoje, para ti e relembro os momentos em que foste, para mim, uma insofismável companheira!
Tu, minha Olympus, ias acumulando, pausadamente, registos que hoje me fazem recuar no tempo e trazer à estampa nacos de memórias inesquecíveis. Fomos combatentes na Guiné. Convivemos, ambos, , com a guerra e a paz. Conhecemos o odor da desgraça.
Vimos companheiros perderem a vida em plena juventude em defesa de interesses alheios. Estropiados que sempre reclamaram uma maior justiça social. Outros que ainda coabitam com traumas psíquicos de um conflito que lhes quebrou uma vida saudável. Outros que tentam passar imunes a problemas mentais que sistematicamente lhes causam problemas no seio familiar ou na comunidade.
Enfim, um rol de aromas nauseabundas de um tempo sem tempo que desafiou gerações transversais e que nos obrigou a combater num conflito sem rumo.
Para ti, minha querida Olympus, que continuo a guardar devotamente no baú da saudade, vai o meu muito obrigado.
Olho, hoje, para ti e relembro os momentos em que foste, para mim, uma insofismável companheira!
Comprei-te numa loja de libaneses, em Nova Lamego. A aquisição baseou-se, essencialmente, sobre uma carência pressupostamente sentida quando ostentava, ainda, a alcunha de "piriquito".
Optei, no ato da compra, pela marca que já conhecia e fiz menção que o seu manuseamento fosse o mais simples possível. Vislumbrava no horizonte que poderias, em momentos cruciais, debitares imagens capitais para mais tarde recordar.
Seguias viagem no bolso do camuflado e a tua humilde ação apresentou-se, a espaços, importante para a reposição de reproduções que nos leva a viajar nas asas do vento e trazer à memória pedaços de indeléveis recordações.
Seguias viagem no bolso do camuflado e a tua humilde ação apresentou-se, a espaços, importante para a reposição de reproduções que nos leva a viajar nas asas do vento e trazer à memória pedaços de indeléveis recordações.
O teu aspeto simples, e de mecânica sumária, jamais me deu o mínimo de problemas ou/e de preocupações. Ou seja, tu, a minha Olympus, eras uma máquina divinal. Não recordo o teu custo exato. Talvez uns quinhentos ou setecentos e cinquenta pesos [equivalente, a preços de hoje a 105 € e 158 €, respetivamente].
Afirmo, por outro lado, que a generalidade dos documentos visualizados nesta obra, tiveram como base tu, meu pequeno brinquedo que teimosamente acostou junto a este antigo combatente - sem nome - que prestou serviço militar em território da Guiné.
O clique não obedecia a cuidados antecipados. A visualização do objetivo não apresentava dificuldades pré-concebidas. Colocava-te na posição de automática e saía, normalmente, uma imagem de se lhe tirar o chapéu. Contigo, minha querida Olympus, recolhi pormenores de gentes que viviam no meio de duas frentes de guerra que impunham leis horrendas no terreno.
Recolhi imagens de crianças que muito cedo se habituaram a ouvir os sons horripilantes das armas de fogo que serviam simplesmente para matar outros homens considerados inimigos. Imagens de homens e de mulheres grandes que serviam, por vezes, de fúteis objetos. Em prol da sobrevivência tudo se aceitavam.
A guerra, a tal maldita guerra, traçava horizontes deveras débeis. Melhor, medonhos. Gentes que caminhavam para o campo com uma aparente ligeireza. Pareciam conhecer, e bem, os trilhos do medo. E tudo se conjugava numa irreverente certeza: a população era um alvo apetecível para as duas frentes de guerra. E o povo sabia que eram seres importantes num xadrez de incertezas.
Afirmo, por outro lado, que a generalidade dos documentos visualizados nesta obra, tiveram como base tu, meu pequeno brinquedo que teimosamente acostou junto a este antigo combatente - sem nome - que prestou serviço militar em território da Guiné.
O clique não obedecia a cuidados antecipados. A visualização do objetivo não apresentava dificuldades pré-concebidas. Colocava-te na posição de automática e saía, normalmente, uma imagem de se lhe tirar o chapéu. Contigo, minha querida Olympus, recolhi pormenores de gentes que viviam no meio de duas frentes de guerra que impunham leis horrendas no terreno.
Recolhi imagens de crianças que muito cedo se habituaram a ouvir os sons horripilantes das armas de fogo que serviam simplesmente para matar outros homens considerados inimigos. Imagens de homens e de mulheres grandes que serviam, por vezes, de fúteis objetos. Em prol da sobrevivência tudo se aceitavam.
A guerra, a tal maldita guerra, traçava horizontes deveras débeis. Melhor, medonhos. Gentes que caminhavam para o campo com uma aparente ligeireza. Pareciam conhecer, e bem, os trilhos do medo. E tudo se conjugava numa irreverente certeza: a população era um alvo apetecível para as duas frentes de guerra. E o povo sabia que eram seres importantes num xadrez de incertezas.
Tu, minha Olympus, ias acumulando, pausadamente, registos que hoje me fazem recuar no tempo e trazer à estampa nacos de memórias inesquecíveis. Fomos combatentes na Guiné. Convivemos, ambos, , com a guerra e a paz. Conhecemos o odor da desgraça.
Vimos companheiros perderem a vida em plena juventude em defesa de interesses alheios. Estropiados que sempre reclamaram uma maior justiça social. Outros que ainda coabitam com traumas psíquicos de um conflito que lhes quebrou uma vida saudável. Outros que tentam passar imunes a problemas mentais que sistematicamente lhes causam problemas no seio familiar ou na comunidade.
Enfim, um rol de aromas nauseabundas de um tempo sem tempo que desafiou gerações transversais e que nos obrigou a combater num conflito sem rumo.
Para ti, minha querida Olympus, que continuo a guardar devotamente no baú da saudade, vai o meu muito obrigado.
Zé Saúde (**)
[daptação, revisão, fixação de texto: LG]
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Nota do editor:
(*) Vd. postes anteriores da série:
5 de janeiro de 2015> Guiné 63/74 - P14121: A minha máquina fotográfica (19): Quando embarquei no T/T Índia, em julho de 1964, já levava uma Kodak... Ficou-me no rio de Canjambari... (António Bastos,ex-1.º Cabo do Pel Caç Ind 953, Teixeira Pinto e Farim, 1964/66)
3 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14113: A minha máquina fotográfica (18): A minha máquina foi comigo da Metrópole mas já conhecia os cantos da guerra. Tinha feito uma comissão de serviço, para os lados de Bissum, com um irmão meu, entre 1970 e 1972 (Albano Costa)
31 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14103: A minha máquina fotográfica (17): Comprei uma Canon no navio "Timor" e andei com ela muitas vezes no mato... Tirou centenas de fotos e "slides" (que mandava para a Alemanha, para revelar) (Abílio Duarte, ex-fur mil,CART 11, Nova Lamego, Paunca, 1969/1970)
21 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14061: A minha máquina fotográfica (16): Comprei uma Olympus 35 SP e um projetor de "slides" na casa Pintozinho, em Bissau (César Dias, ex-fur mil sapador, CCS/BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/71)
18 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14047: A minha máquina fotográfica (15): Comprei-a em 73, em Bissau por 5.000 pesos, que utilizei durante muitos anos na vida civil e fez algumas viagens ao estrangeiro na década de 80 (Agostinho Gaspar)
18 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14046: A minha máquina fotográdfica (14): Comprei-a logo nos primeiros dias em Bissau, numa loja de material fotográfico ao lado do forte da Amura, em Julho de 1968, com dois colegas do curso de Mafra, o Rego e o Amorim. Eram todas iguais, marca “Fujica” (Fernando Gouveia)
12 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14018: A minha máquina fotográfica (9): a minha "arma de recordações" era uma Chinon M-1... E também tenho uma Olympus Pen D3, à espera, há 40 anos, de ser entregue ao seu dono: o ex-fur mil Guerreiro, da CCAÇ 13, algarvio de Boliqueime, tanto quanto sei... Ele por favor que me contacte... Foi o libanês Alfredo Kali que me encarregou da encomenda... (Henrique Cerqueira, ex-fur mil, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, e CCAÇ 13, Bissorã, 1972/74)
12 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14012: A Minha Máquina Fotográfica (8): A minha era uma AGFA Silette I que comprei em Bissau antes de me ir cobrir de glória na região de Cacine, corria o auspicioso ano de 1968 (António J. Pereira da Costa, cor art ref, ex-alf art, CART 1692, Cacine, 1968/69; ex-cap art, CART 3494, Xime, e CART 3567, Mansabá, 1972/74)
11 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14009: A minha máquina fotográfica (7): Comprei a um gila em Teixeira Pinto, em 2/11/1973, uma Minolta SRT 101, por 5850$00 (António Graça de Abreu, ex-alf mil, CAOP1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74
11 de dezembro de 2014 > Guiné 63774 - P14007: A minha máquina fotográfica (6): (i) levei da metrópole um "caixote" Kodak; e (ii) em Bafatá comprei uma Franka Solida Record, alemã (José Colaço, ex-sold trms, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65)
10 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14006: A minha máquina fotográfica (5): (i) comprei a minha Yashica Linx 5000 em Bissau por 3 contos; (ii) e que tal criar-se um museu de máquinas fotográficas de guerra? (Manuel Coelho, ex-fur mil trms, CCAÇ 1589, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68)
9 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13995: A minha máquina fotográfica(4): (i) Comprei em Cabo Verde uma Yashica Electro 35 a um primeiro srgt que se dedicava ao contrabando; e (ii) improvisei um estúdio de fotografia (José Augusto Ribeiro, ex-fur mil da CART 566, Cabo Verde, Ilha do Sal, outubro de 1963 a julho de 1964, e Guiné, Olossato, julho de 1964 a outubro de 1965)
8 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13990: A minha máquina fotográfica (3): (i) A Kodak Brownie Fiesta foi, depois da G3, a minha segunda companheira do mato (Vitor Garcia, ex-1º cabo at cav, CCAV 2639, Binar, Bula e Capunga, 1969/71); (ii) tive uma Olympus Trip 35 (António Murta, ex-allf mil inf, 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74)
8 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13989: A minha máquina fotográfica (2): (i) a minha velhina Yashica, comprada no T/T Uíge: e (ii) os calotes dos trabalhos fotográficos em Empada (Manuel Serôdio, ex-fur mil CCAÇ 1787 / BCAÇ 1932, Empada, Buba, Bissau, Quinhamel, 1967/68)
8 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13987: A minha máquina fotográfica (1): (i) da velhíssima Kodak do meu pai à minha Canonet; (ii) da Filmarte (Lisboa) à Foto Íris (Bissau); e (iii) das minhas fotos importantes, a preto e branco (Mário Gaspar, ex-fur mil at art minas e armadilhas, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)
3 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14113: A minha máquina fotográfica (18): A minha máquina foi comigo da Metrópole mas já conhecia os cantos da guerra. Tinha feito uma comissão de serviço, para os lados de Bissum, com um irmão meu, entre 1970 e 1972 (Albano Costa)
31 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14103: A minha máquina fotográfica (17): Comprei uma Canon no navio "Timor" e andei com ela muitas vezes no mato... Tirou centenas de fotos e "slides" (que mandava para a Alemanha, para revelar) (Abílio Duarte, ex-fur mil,CART 11, Nova Lamego, Paunca, 1969/1970)
21 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14061: A minha máquina fotográfica (16): Comprei uma Olympus 35 SP e um projetor de "slides" na casa Pintozinho, em Bissau (César Dias, ex-fur mil sapador, CCS/BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/71)
18 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14047: A minha máquina fotográfica (15): Comprei-a em 73, em Bissau por 5.000 pesos, que utilizei durante muitos anos na vida civil e fez algumas viagens ao estrangeiro na década de 80 (Agostinho Gaspar)
18 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14045: A minha máquina fotográdfica (13): Tive, desse tempo, uma Kowa SE T que depois vendi; e tenho ainda uma Minolta SR T 101... Se um dia quiserem fazer um museu com as "máquinas de guerra", contem com a minha... Não a vendo, tem um grande valor sentimental... (Manuel Resende, ex-alf mil, CCaç 2585, Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71)
15 de dezembro de2014 > Guiné 63/74 - P14030: A minha máquina fotográfica (12): Ainda tenho, operacional, a minha Fujica Compact S, comprada em finais de 1972, em Bissau (Armando Faria, ex-fur mil, MA, CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74)
13 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14021: A minha máquina fotográfica (10): Cerqueira, a Olympus Pen D3 que tens há 40 anos para entregar a um furriel da CCAÇ 13, a pedido do libanês Alfredo Kali, de Bissorã, deve ser do Alberto de Jesus Ribeiro, de Estremoz ( Carlos Fortunato, ex-fur mil trms, CCAÇ 13, Os Leões Negros, Bissorã, 1969/71; presidente da direcção da ONG Ajuda Amiga)
15 de dezembro de2014 > Guiné 63/74 - P14030: A minha máquina fotográfica (12): Ainda tenho, operacional, a minha Fujica Compact S, comprada em finais de 1972, em Bissau (Armando Faria, ex-fur mil, MA, CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74)
11 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14009: A minha máquina fotográfica (7): Comprei a um gila em Teixeira Pinto, em 2/11/1973, uma Minolta SRT 101, por 5850$00 (António Graça de Abreu, ex-alf mil, CAOP1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74
9 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13995: A minha máquina fotográfica(4): (i) Comprei em Cabo Verde uma Yashica Electro 35 a um primeiro srgt que se dedicava ao contrabando; e (ii) improvisei um estúdio de fotografia (José Augusto Ribeiro, ex-fur mil da CART 566, Cabo Verde, Ilha do Sal, outubro de 1963 a julho de 1964, e Guiné, Olossato, julho de 1964 a outubro de 1965)
8 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13990: A minha máquina fotográfica (3): (i) A Kodak Brownie Fiesta foi, depois da G3, a minha segunda companheira do mato (Vitor Garcia, ex-1º cabo at cav, CCAV 2639, Binar, Bula e Capunga, 1969/71); (ii) tive uma Olympus Trip 35 (António Murta, ex-allf mil inf, 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74)
8 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13989: A minha máquina fotográfica (2): (i) a minha velhina Yashica, comprada no T/T Uíge: e (ii) os calotes dos trabalhos fotográficos em Empada (Manuel Serôdio, ex-fur mil CCAÇ 1787 / BCAÇ 1932, Empada, Buba, Bissau, Quinhamel, 1967/68)
8 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13987: A minha máquina fotográfica (1): (i) da velhíssima Kodak do meu pai à minha Canonet; (ii) da Filmarte (Lisboa) à Foto Íris (Bissau); e (iii) das minhas fotos importantes, a preto e branco (Mário Gaspar, ex-fur mil at art minas e armadilhas, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)
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Guiné 61/74 - P20630: Parabéns a você (1754): Constantino Neves, ex-1.º Cabo Escriturário do BCAÇ 2893 (Guiné, 1969/71)
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Nota do editor
Último poste da série de 6 de Fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20625: Parabéns a você (1753): Ana Mittermayer Duarte, Amiga Grâ-Tabanqueira; Hugo Moura Ferreira, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1621 e CCAÇ 6 (Guiné, 1966/68) e José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70)
Nota do editor
Último poste da série de 6 de Fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20625: Parabéns a você (1753): Ana Mittermayer Duarte, Amiga Grâ-Tabanqueira; Hugo Moura Ferreira, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1621 e CCAÇ 6 (Guiné, 1966/68) e José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70)
sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020
Guiné 61/74 - P20629: Jorge Araújo: ensaio sobre as mortes de militares do Exército no CTIG (1963/74), Condutores Auto-Rodas, devidas a combate, acidente ou doença - Parte VII
Citação: (1963-1973), "Guerrilheiros do PAIGC colocando uma mina", Fundação Mário Soares / DAC – Documentos Amílcar Cabral, disponível HTTP:http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43786 (com a devida vénia)
Citação: (1963-1973), "Guerrilheiros do PAIGC colocando uma mina antipessoal num trilho.", Fundação Mário Soares / DAC – Documentos Amílcar Cabral, disponível HTTP:http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43129 (com a devida vénia).
Citação: (1963-1973), "Guerrilheiros do PAIGC montando uma mina", Fundação Mário Soares / DAC – Documentos Amílcar Cabral, disponível HTTP:http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_44195 (com a devida vénia).
O nosso coeditor Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger,
CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/1974), professor do ensino superior, indigitado régulo da Tabanca de Almada e da Tabanca dos Emiratos; tem 230 registos no nosso blogue.GUINÉ
ENSAIO SOBRE AS MORTES DE MILITARES DO EXÉRCITO, NO CTIG (1963-1974), DA ESPECIALIDADE DE "CONDUTOR AUTO RODAS": COMBATE, ACIDENTE, DOENÇA – PARTE VII
1. - INTRODUÇÃO
Continuamos a levar ao conhecimento do colectivo da «Tabanca Grande» os resultados da investigação que encetámos, titulada de «Ensaio sobre as mortes de militares do Exército, no CTIG (1963-1974), da especialidade de "condutores auto rodas"», tendo por principal fonte de consulta e análise o universo das "Baixas em Campanha" identificadas na literatura "Oficial" publicada pelo Estado-Maior do Exército.
Para a estruturação do presente fragmento – o sétimo – partimos do contexto abordado no anterior (P20576), que tinha por cenário Cumbijã – "um deserto cheio de minas" – e onde o colectivo da CCAV 8351 (os Tigres do Cumbijã), do ex-Cap Mil Vasco da Gama, contabilizou o levantamento de mais de três dezenas de engenhos explosivos durante o mês de Abril de 1973.
Porque a acção do levantamento desses engenhos é "causa e efeito" da sua existência, onde o primeiro acto (colocação) é responsável pelo segundo (levantamento), quem sabe se na "árvore de minas", ronco e obra do colectivo da CCAV 8351, apresentada no poste anterior, está alguma que as imagens acima documentam/comprovam. Ou se, na pior das hipóteses, foram accionadas, provocando dor, sofrimento e perdas humanas.
2. - ANÁLISE DEMOGRÁFICA DAS MORTES DE MILITARES DO EXÉRCITO, NO CTIG (1963-1974), DA ESPECIALIDADE DE "CONDUTOR AUTO RODAS": COMBATE-ACIDENTE-DOENÇA (n=191)
Recordamos que a análise demográfica que comporta esta investigação, e as variáveis com ela relacionada, continuam a incidir sobre os casos de mortes de militares do Exército durante a guerra no CTIG (1963-1974), da especialidade de "condutor auto rodas", ocorridas durante a guerra no CTIG (1963-1974), e identificados nos "Dados Oficiais" publicados pelo Estado-Maior do Exército, elaborados pela Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974), 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II, Guiné; Livros 1 e 2; 1.ª Edição, Lisboa (2001).
No presente fragmento, a análise demográfica foi estratificada a partir da naturalidade do universo dos casos (n=191), primeiro por Distrito (dezoito no continente), Ilhas do Atlântico (Arquipélagos da Madeira e dos Açores) e CTIG (Recrutamento Local). Seguiu-se a sua organização pelas três Regiões Continentais (Norte, Centro e Sul), mais as duas Regiões Autónomas (Madeira e Açores) e o CTIG (Recrutamento Local).
São de salientar dois casos particulares. No continente, o Distrito de Setúbal não registou qualquer baixa na especialidade de "condutor auto rodas" durante o conflito. Igual resultado foi apurado na Região Autónoma da Madeira.
Para conhecimento do vasto auditório, abaixo de apresentam os diferentes quadros elaborados para o efeito, seguido do mapa do território nacional à data do conflito.
3. - MAIS ALGUNS EPISÓDIOS E CONTEXTOS ONDE OCORRERAM MORTES DE CONDUTORES AUTO RODAS ["CAR"] POR EFEITO DE REBENTAMENTO DE "MINAS"
Neste ponto, reservado à caracterização de cada uma das ocorrências identificadas durante a realização do estudo, apresentamos mais dois "casos" (de um total de trinta e três). Em cada um deles, recuperamos algumas memórias, consideradas relevantes, extraídas das diferentes fontes de informação consultadas, em particular o vasto espólio do nosso blogue, enquadradas pelos contextos conhecidos.
3.20 - O CASO DO 1.º CABO 'CAR' JÚLIO FERNANDO ANTUNES FERNANDES, DO PREC FOX 1101, EM 19.MAI.1967, ENTRE ALDEIA FORMOSA E MISSIRÁ
A nona morte de um condutor auto rodas, do Exército, em "combate", por efeito do rebentamento de uma mina, foi a do 1.º Cabo Júlio Fernando Antunes Fernandes, natural da freguesia de Vilarinho, Município da Lousã, Coimbra, ocorrida no dia 19 de Maio de 1967, 6.ª feira, no decurso de uma coluna militar, no itinerário entre Aldeia Formosa e Missirá (ver mapa abaixo), na qual participavam, também, elementos da CCAÇ 1622.
O condutor Júlio Fernandes pertencia ao Pelotão de Reconhecimento FOX 1101 [PEL REC FOX 1101], uma unidade formada no Regimento de Cavalaria 8, de Castelo Branco. O contingente do PREC 1101 cumpriu a sua comissão entre 12Mai66 (chegada a Bissau) e 17Jan68 (regresso a Lisboa). Sobre a História desta unidade não foi possível obter qualquer informação, apenas sabemos que os seus dezanove meses de missão foram passados em Aldeia Formosa.
De referir que a morte do condutor Júlio Fernandes ocorreu oito meses e meio depois da primeira baixa registada pelo Pel Rec Foz 1101, pelos mesmos motivos, como foi o caso do soldado Arnaldo Augusto Fernandes Clemente, natural da freguesia de Chacim, Município de Macedo de Cavaleiros, Bragança. Esta verificou-se no decurso de uma coluna militar, no itinerário entre Aldeia Formosa e Cumbijã (P20576).
Quanto à CCAÇ 1622 [18Nov66-18Ago68, do Cap Mil António Egídio Fernandes Loja], assumiu, em 18Nov66, a responsabilidade do subsector de Aldeia Formosa, em substituição da CCAÇ 764 [17Fev65-20Nov66, do Cap Inf António Jorge Teixeira (1.º), Cap Inf José Domingos Ferros de Azevedo (2.º) e Ten Inf José Alberto Cardeira Rino (3.º)], destacando um Gr Comb para Cumbijã e, depois, outro para Chamarra, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1861 [23Ago65-17Abr67, do TCor Inf Alfredo Henriques Baeta] e depois do BART 1896 [18Nov66-18Ago68, do TCor Art Celestino da Cunha Rodrigues].
Em 09Fev67, deslocou um Gr Comb para Colibuia, a fim de colmatar a saída da CCAÇ 1488 [26Out65-01Ago67, do Cap Inf António Manuel Rodrigues Cardoso] até à instalação da CART 1613 [18Nov66-18Ago68, do Cap Mil Grad Art Fausto Manteigas da Fonseca Ferraz (1.º) e Cap Art Eurico de Deus Corvacho (2.º) e de onde saiu em 28Mai67, a fim de guarnecer, temporariamente, a localidade de Contabane.
Em 18Jun67, após rotação com a CCAÇ 1591 [04Ago66-09Mai68, do Cap Inf Luís Carlos Loureiro Cadete], foi instalada em Mejo, no mesmo sector, com vista à realização continuada de emboscadas e patrulhamentos no corredor de Guileje, em coordenação com a actividade de outras subunidades do sector e onde se manteve até ser substituída pela CCAÇ 2316 [24Jan68-08Nov69, do Cap Inf Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos (1.º), do Cap Inf António Jacques Favre Castel Branco Ferreira (2.º), …], em 22Mar68, após o que se deslocou para Bolama, mantendo, no entanto, um Gr Comb em Catió até 16Mai68, em reforço do BART 1896 [18Nov66-18Ago68, do TCor Art Celestino da Cunha Rodrigues].
Após um período de descanso e recuperação em Bolama [vinte e cinco dias], então como subunidade de reserva do Comando-Chefe, foi transferida para Jolmete em 17Abr68, onde substituiu a CCAÇ 1683 [02Mai67-16Mai69, do Cap Mil Cav José Manuel Pontífice Mancoto Monteiro], ficando então integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1911 [o seu, do TCor Inf Álvaro Romão Duarte (1.º), …] e depois do BCAÇ 2845.
Em 05Jun68, foi substituída em Jolmete pela CCAÇ 2366 [06Mai68-03Abr70, do Cap Mil Art Fernando Lourenço Barbeitos], por troca, seguindo para Teixeira Pinto, no mesmo sector, onde se manteve até 22Jun68, colaborando na realização de patrulhamentos, emboscadas e na segurança do aquartelamento. Em 23Jun68, recolheu a Bissau, onde se manteve a aguardar o embarque de regresso.
3.21 - O CASO DO SOLDADO 'CAR' JOAQUIM CORVO TRINDADE, DA CCAÇ 2446, EM 29.AGO.1969, ENTRE GALOMARO E DULOMBI
A vigésima quarta morte de um condutor auto rodas, do Exército, em "combate", por efeito do rebentamento de uma mina anticarro, foi a do soldado Joaquim Corvo Trindade, natural da freguesia e Município de Castro Marim, Faro, ocorrida no dia 29 de Agosto de 1969, 6.ª feira, no decurso de uma coluna militar de reabastecimento, no itinerário entre Galomaro e Dulombi, na qual participava, também, o 3.º Gr Comb da CART 2339 [21Jan68-04Dez69, do Cap Mil Grad Art Arnaldo Manuel Pedroso de Lima (1.º), …], do camarada Carlos Marques dos Santos, falecido em 30 de Dezembro último (P20513).
Este episódio aconteceu três dias depois de uma outra viatura da mesma unidade ter accionado uma mina anticarro na região de Cansissé, na estrada Madina Xaquili-Galomaro, provocando a morte do soldado Fernando Orlando Rodrigues Vasconcelos, natural da freguesia de Santa Luzia, Município do Funchal, Madeira.
O soldado Fernando Vasconcelos e o soldado "CAR" Joaquim Trindade pertenciam à Companhia de Caçadores 2446 [CCAÇ 2446], uma unidade formada no Batalhão Independente de Infantaria 19 [BII19], no Funchal, Madeira [15Nov68-01Out70, do Cap Mil Inf Manuel Ferreira de Carvalho].
Esta unidade "Madeirense" foi colocada no Cacheu, em 04Dez68, a fim de render a CCAÇ 1681 [02Mai67-16Mai69, do Cap Inf Manuel Francisco da Silva], assumindo, então, a responsabilidade do respectivo subsector em 07Dez68, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 2845 [06Mai68-03Abr70, do TCor José Martiniano Moreno Gonçalves] e depois do BCAV 2868 [01Mar69-30Dez70, do TCor Cav Carlos José Machado Alves Morgado], com um Gr Comb destacado em Bachile, desde 29Nov68 a 24Abr69. Em 24Abr69, foi substituída na missão de quadrícula pela CCAV 2485/BCAV 2868 [do Cap Cav José Maria de Campos Mendes Sentieiro], ali colocada anteriormente de reforço, recolhendo temporariamente a Bissau.
Em 01Mai69, foi deslocada para Mansabá, onde se manteve até 20Jun69. Em 21Jun69, seguiu para Bafatá, a fim de assumir a função de subunidade de intervenção e reserva do AGR 2957, tendo sido atribuída em reforço do BCAÇ 2856 [28Out68-01Out70, do TCor Inf Jaime António Tavares Machado Banazol], para a realização de operações na região de Sinchã Jobel e de emboscadas na região de Padada, tendo-se deslocado para Madina Xaquili, en 24Jul69.
Em 28Jul69, foi atribuída ao COP 7, então criado, com vista à realização de emboscadas e batidas na região de Cansissé/Madina Xaquili/Duas Fontes, estacionando em Dulombi a partir de 31Jul69, permanecendo dois Grs Comb em Madina Xaquili.
Em 19Ago69, o comando e um Gr Comb foram deslocados para Galomaro, continuando dois Grs Comb destacados em Madina Xaquili e Dulombi, respectivamente até 05Nov69 e 23Nov69. Em 07Nov69, a subunidade assumiu a responsabilidade do subsector de Cancolim, então criado com a entrada em sector do BCAÇ 2861 [11Fev69-07Dez70, do TCor Inf César Cardoso da Silva (1.º) e TCor Inf João Polidoro Monteiro (2.º)] e respectiva reformulação de limites de zonas de acção do AGR Leste, tendo transferido para aquela localidade a sua sede em 16Nov69 e guarnecido o destacamento de Sanguê Cambomba, a partir de 23Nov69.
Em 30Jun70, foi rendida no subsector de Cancolim pela CCAÇ 2699 [01Mai70-20Mar72, do Cap Mil Art João Fernando Rosa Caetano], por troca, tendo-se deslocado, por fracções, para o sector de Bissau, em 28Jun70 e 02Jul70, assumindo então a responsabilidade do subsector de Brá (Bissau).
Mapa da região de Bafatá e do subsector de Galomaro por onde circulou o contingente da CCaç 2446 (Madeirense) durante um ano (Jun'69-Jun'70).
Entretanto, e em face do particular agravamento da situação na zona de Pirada, foi atribuída, temporariamente, ao COP 1 em reforço dos efectivos na área, em 17Jul70, com vista a garantir a defesa de Pirada e povoações de Sissancunda, Goler e Deabugu, ali permanecendo até à chegada da CART 2762 [20Jul70-17Jun72, do Cap Art Fernando Manuel Gomes da Silva Malha], em 26Jul70, após o que regressou a Bissau, permanecendo em Brá até finais set/70.
Pela análise à síntese operacional da CCAÇ 2446, constata-se que o episódio que vitimou o soldado "CAR" Joaquim Trindade ocorreu um mês após o estacionamento da sua unidade em Dulombi.
Um dos elementos que esteve envolvido neste doloroso acontecimento foi o nosso camarada ex-Fur Mil Art Carlos Marques dos Santos (1943-2019), da CART 2339 (Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69) [imagem ao lado]. Sobre esta ocorrência, a nossa testemunha ocular conta-nos o que presenciou (P9340):
"Um mês a feijão-frade, sem banho e sem muda de roupa, em Mondajane (Dulombi-Galomaro), de 27 de Agosto a 27 de Setembro de 1969, a menos de três meses do fim da comissão, onde estive com o meu pelotão em reforço do sector de Galomaro/Dulombi, mais propriamente em Mondajane. (…)
"A 27Ago69 foi recebida a notícia de que íamos para Galomaro, em reforço da CCAÇ 2405 [30Jul68-28Mai70, do Cap Mil Inf José Miguel Novais Jerónimo]. No dia seguinte (28), saímos e chegámos cerca do meio-dia com indicação de que iríamos para Mondajane, a seguir a Dulombi, o que não aconteceu nesse dia mas sim no dia seguinte (29). No cruzamento para Dulombi rebenta uma mina na GMC que segue à minha frente (nós íamos apeados, fazendo a segurança à coluna que integrava uma nova Companhia em treino operacional e que era de madeirenses, a CCAÇ 2446, a cerca de 15/20 metros, destruindo a sua frente.
"O resultado desta explosão foi um morto (desintegrado) [António Camacho da Silva, natural da freguesia de Estreito de Câmara de Lobos, Município de Câmara de Lobos, Madeira] e um ferido (condutor) [Joaquim Corvo Trindade] que faleceu nesse dia. Esta mina rebentou a cerca de 12 metros de mim e felizmente nada sofri. O soldado, pela acção da mina, desintegrou-se, literalmente. Bocados desse soldado, o relógio, roupa, etc., ficaram agarrados à árvore. Impossibilitados de prosseguir fomos para Dulombi com os reabastecimentos. Aí fomos informados que deveríamos seguir a pé para Mondajane (a sudoeste de Dulombi), que atingimos e onde nos instalámos." (…).
Em comentário à narrativa do Carlos Santos, publicada no P9340, Luís Dias, ex-Alf Mil da CCAÇ
3491 (Dulombi e Galomaro, 1971/1974) refere:
"A minha companhia foi render a CCAÇ 2700 [01Mai70-22Mar72, do Cap Inf Carlos Alberto Maurício Gomes], no Dulombi, em Janeiro de 1972 (…). Passado aquele tempo todo [dezasseis meses], um pouco a seguir ao cruzamento da picada entre Galomaro e Dulombi, com a picada para Mondajane, ainda existiam vestígios nas árvores dessa mina A/C que tu referes. A tabanca de Mondajane terá sido abandonada, após uma forte ataque do PAIGC já em 1970".
Continua …
_________
Fontes Consultadas:
Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 7.º Volume; Fichas das Unidades; Tomo II; Guiné; 1.ª edição, Lisboa (2002).
Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 1; 1.ª edição, Lisboa (2001); pp 23-569.
Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 2; 1.ª edição, Lisboa (2001); pp 23-304.
Outras: as referidas em cada caso.
Termino, agradecendo a atenção dispensada.
Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.
Jorge Araújo.
31Jan2020
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Nota do editor:
Último poste da série > 20 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20576: Jorge Araújo: ensaio sobre as mortes de militares do Exército no CTIG (1963/74), Condutores Auto-Rodas, devidas a combate, acidente ou doença - Parte VI
Último poste da série > 20 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20576: Jorge Araújo: ensaio sobre as mortes de militares do Exército no CTIG (1963/74), Condutores Auto-Rodas, devidas a combate, acidente ou doença - Parte VI
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