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quarta-feira, 18 de março de 2020

Guiné 61/74 - P20746: Antropologia (38): Guiné Portuguesa, breve notícia sobre alguns dos seus usos, costumes…, pelo Cónego Marcelino Marques de Barros (2) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Março de 2019:

Queridos amigos,
Não é de mais recordar que o cónego Marcelino Marques de Barros pode ser encarado como uma primeira glória científica da Guiné: por ser guineense de origem, por ter exercido o múnus de Vigário-Geral, pela sua aturada pesquisa no campo da etnografia, da etnolinguística, da antropologia, por ter deixado uma miniatura de dicionário português-crioulo. Nas últimas décadas, incluindo mesmo o período colonial, procedeu-se a um levantamento de lendas, provérbios, canções, mas curiosamente quem foi o pioneiro desse levantamento tem o nome de Marcelino Marques de Barros.
Muito beneficiaria a cultura luso-guineense da edição integral de todo o seu trabalho, ele não foi um cabouqueiro amador, acresce que tinha uma escrita culta e uma clara devoção à terra que o viu nascer.

Um abraço do
Mário


Guiné Portuguesa, breve notícia sobre alguns dos seus usos, costumes… (2)

Beja Santos

O Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, 3.ª Série – Nº 12, 1882, publicou um artigo do Vigário-Geral da Guiné, Marcelino Marques de Barros, porventura o primeiro grande intelectual guineense, com o título “Guiné Portuguesa ou breve notícia sobre alguns dos seus usos, costumes, línguas e origens dos seus povos”. Marcelino Marques de Barros tem sido alvo de alguns ensaios, deplora-se que o conjunto da sua obra não tenha tido a republicação que se justifica, ele foi etnolinguístico e explorou, com os seus conhecimentos, a dimensão antropológica, como um verdadeiro pioneiro.

O Cónego Marcelino não seria certamente detentor de informações exatas quanto à topografia guineense, o seu trabalho data de quatro anos antes da Convenção Luso-Francesa mas o que refere é inteiramente impossível, quanto a números. Ele escreve: “O domínio português nesta parte ocidental de África estende-se a 62 mil quilómetros quadrados, isto é, acha-se reduzido a pouco mais da quinta parte da antiga Senegâmbia Portuguesa. A sua população deve ser muito mais de 2,5 milhões, isto é, a quinta parte da população da Senegâmbia, que é seguramente de 14 milhões. Os rios mais importantes que retalham o continente são: Casamansa, S. Domingos ou Farim, Geba, Rio Grande, Tambalé ou Nalú e o Rio Nuno. E junto à embocadura destes rios temos o arquipélago dos Bijagós todo inteiro”. Bem curiosa a sua observação sobre a extensão da Senegâmbia, parece desconhecer que a presença portuguesa era quase epidémica, circunscrita a zonas do litoral, neste tempo o posto mais avançado era Geba, não distante de Bafatá.

Refere-se à topografia e depois faz um inventário de alguns dados etnográficos a que já se fez referência, como seja a saudação, os pactos e juramentos, a hospitalidade, o roubo, as correrias e abordou-se a epigamia, poligamia e poliandria. Há aqui dados curiosos que ele evoca: “Entre Bijagós, a mulher faz casa por suas mãos e recolhe o homem da sua preferência. Uma Balanta pode ter mil amantes, e querendo passar uma temporada previne o marido, dizendo: “Vou a uma entrevista”, e sem mais cerimónias abandona-o por muitos dias; mas ao regressar a casa é mal recebida, e pode mesmo ser castigada pelo marido se se apresenta com as mãos vazias. É de estilo trazer sempre alguma coisa: um balaio de arroz, uma cabra ou uma cabaça de leite”.

Falando do aborto e infanticídio, refere que os gémeos, os albinos e os partos monstruosos são, em geral, expostos nas florestas à voracidade das feras e das aves de rapina. Os Felupes, principalmente, constituem uma exceção, quanto aos gémeos, que consideram como um prodígio de fecundidade, com que os pais muito se engrandecem. Acerca da aleitação, observa: “As mães exageram tanto o dever de aleitar os seus filhos que não é raro encontrar rapazes de três a quatro anos que para toda a parte vão, tudo comem e tudo sabem, divertirem-se com os seios da mãe, como se ainda andassem ao colo”.

Não menos curioso é o que ele escreve sobre a circuncisão: “Em toda a Senegâmbia, é opinião minha, ninguém considera a circuncisão debaixo de um aspecto religioso; um Balanta pode ser circuncisado sem que por isso se considere islamita ou judeu; um Grumete pode ser circuncisado sem que para esse facto se considere pagão ou renegado. A circuncisão, pois, não é mais do que um manto sagrado, que envolve uma sociedade secreta, universal, terrível e admiravelmente constituída, com os seus sinais e com os seus símbolos, e aonde as raças, as cores, as religiões e as hierarquias desaparecem completamente. As festas da circuncisão são as mais aparatosas que se conhecem, e nelas se notam certos usos estranhos e singulares. Não há nada, enfim, mais interessante e mais curioso no estudo dos usos e costumes africanos do que essa cerimónia a que chamam fanado, insignificante na aparência, e que, contudo, é a origem das feições políticas das nações e a fonte dos heroísmos, de grande virtude e de atentados enormes. Ali se aprendem línguas para sempre desconhecidas do vulgo; ali se cortam as excrescências físicas e morais do homem; é ainda ali onde se entra no conhecimento de um nome semelhante ao Jeová dos hebreus, para não ser pronunciado senão uma ou duas vezes na vida. Eu provarei, em outro escrito mais desenvolvido, tudo o que venho de expor neste e noutros capítulos. Os Bijagós são os únicos que se não circuncisam”.

Falando de costumes, ele escolhe os agrícolas e os guerreiros, sobre os agrícolas diz o seguinte: “Enquanto que toda a terra é insuficiente para as ambições de um Balanta e de um Felupe, o Beafada, pelo temor de ser tido na conta de feiticeiro, não cultiva as suas terras mais do que o limitado no quadrado da distância em que tombou a sua enxadinha, arremessada com toda a força. Enquanto entre Bijagós os homens passam o tempo a fisgar peixe à beira-mar ou nos bosques a beber vinho de palmeira, as mulheres lavram as terras, semeiam e recolhem o mantimento para sustentar o marido e os filhos. E enquanto, finalmente, os Felupes e Fulas engordam os seus animais com arroz e milho, de que estão cheias as suas tulhas, os Cassangas, e não poucas vezes tribos Beafadas morrem de fome aos centos por ano".

Quanto aos costumes guerreiros, é esta a sua leitura: “As declarações de guerra são sempre feitas pelas tribos que reconhecem a sua superioridade numérica: uns, como os Futa-Fulas, só combatem com o fim de acharem nos despojos das povoações destruídas ou sujeitas, os meios de subsistência. Alguns combatem sempre em campo aberto, tais como os Felupes e os Futa-Fulas; os Papéis só ocultos por trás das árvores ou espalhados pelas moitas fazem uso das suas armas. O Balanta afronta as balas com uma espada em punho, e os Futa-Fulas disparam um chuveiro de flechas envenenadas nas grandes batalhas. E a cabeça do inimigo, separada do tronco, é o maior troféu que um guerreiro pode alcançar nos combates”. Estima que a antropofagia está radicada da Guiné quando escreve: “Os Felupes de Bote e Sélek são os últimos povos que há vinte anos perderam o hábito de devorar os seus semelhantes”. E procede a uma síntese do que são as doenças da região: “Algumas enfermidades há, muito vulgares na Europa, tais como a gota e a hidrofobia, que são desconhecidas nestes países; e algumas, ao contrário, são muito vulgares, como a elefantíase, a oftalmia, a hemicrania (tipo de cefaleia), a alienação mental e a misteriosa pedra escrófula, como lhe chamam vulgarmente, mal do sono”.

O Cónego Marcelino, percebe-se facilmente, sente-se fascinado com um conjunto de aspetos religiosos, e desenvolve o tema a partir das cerimónias fúnebres. Os tais selvagens de que fala só morrem em resultado de feitiços de um pobre diabo, sendo o cadáver metido numa tumba negra e levado aos ombros de quatro hércules, ao som de umas ladainhas. Como as cerimónias do enterramento podem demorar vários dias, para que a corrupção não incomode os vivos alimentam uma fumarada por baixo da barraca sobre a qual assentam o pobre morto. “E a minha pena recusa descrever os nauseabundos processos a quem sujeitam o cadáver. Por toda a parte se encontram sítios destinados para os enterramentos; porém, tribos há que enterram dentro de casa e por debaixo da cama dos vivos: é o costume dos Bijagós e Nalus. De duas maneiras, geralmente, cavam os gentios as suas sepulturas: horizontal e vertical. Uns sepultam os seus mortos como nós sepultamos os nossos, os Papéis e os Mandingas, por exemplo, outros no fundo da galeria horizontal, tais como os Felupes e os Beafadas. Quase todos os gentios envolvem os seus finados em panos e esteiras, e os mouros colocam os seus mortos sobre o lado direito com o rosto para o Oriente”.

OBS: - Recomenda-se vivamente a consulta dos seus elementos biográficos no site:
https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/4878/1/LS_S2_04_JoaoDVicente.pdf

(continua)
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Nota do editor

Poste anterior de 11 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20723: Antropologia (37): Guiné Portuguesa, breve notícia sobre alguns dos seus usos, costumes…, pelo Cónego Marcelino Marques de Barros (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20745: Ser solidário (229): Projecto Kassumai e homenagem ao cap Luís Rei Vilar (1941-1970), em Susana, 50 anos depois da sua morte (Duarte, Manuel e Miguel Rei Vilar)






Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Susana > 18 de fevereiro de 2020 > Os irmãos  Rei Vilar, com a população local, em dia de homenagem ao  cap cav Luís Rei Vilar (1941-1970), ex-comandante da CCAV 2538 (Susana, 1969/71), morto em combate em 18/2/1970, no decurso da Op Selva Viva-

Fotos (e legenda): © Duarte Vilar (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Mensagem que nos chega, do Duarte Vilar, amigo e condiscípulo do nosso editor Luís Graça, irmão do saudoso cap cav Luís Rei Vilar (


Data: 17 mar 2020 11h45

Assunto: Viagem a Suzana, fevereiro de 2020

Meu caro Luís

A teu pedido e com muito prazer envio texto e algumas fotos para o blogue.

A nossa viagem foi muito boa e a tempo de nos safarmos dos últimos e nefastos acontecimentos na Guiné-Bissau. Eu saí a 26 e os meus irmão a 28 de Fevereiro.

Um abraço grande e com muita amizade

Duarte Vilar



2. FAZER A MEMÓRIA ÚTIL  > Homenagem ao nosso irmão, Capitão Luis Filipe Rei Vilar 


por Duarte, Manuel e Miguel Rei Vilar

Há cerca de 3 anos e meio, um de nós recebeu um email. Um email de um enfermeiro que andava em terras felupes – em Suzana na Guiné Bissau - fazendo um estudo sobre questões de saúde.

Não nos conhecia nem nunca tinha ouvido falar de nós ou do nosso irmão Luís. Mas ao entrevistar os “homens grandes” de Suzana ouviu várias referências sobre um tal “capitão Vilar” de quem os felupes falavam, com uma boa recordação.

O enfermeiro Luís Costa teve curiosidade em conhecer o personagem referido, ”googlou” e através deste blogue,  “Luís Graça & Camaradas da Guiné”, chegou até nós, dizendo que tínhamos um património em comum com os felupes de Suzana: as memórias boas de um homem bom – o capitão Vilar – caído no contexto de uma operação militar perto de Suzana.

De facto, já conhecíamos os felupes há 47 anos porque o nosso irmão Luís nos tinha falado deles com entusiasmo, quando passou uns dias de férias antes de partir de vez.

Falou da sua famosa saudação kassumai e da resposta kassumai keb. Falou das tradições guerreiras dos felupes e da luta felupe. Trouxe consigo para nossa casa e para a nossa mesa um felupe – António Blata – um dos guias da companhia de cavalaria que comandava. Mostrou-nos as fotos de Suzana e dos felupes de Suzana que, quando o nosso irmão morreu, mesmo sem os conhecer, ficaram, para sempre, nas nossas memórias.

Por isso, depois do email, em Janeiro de 2017 fizemos as malas e fomos, os 3 irmãos, visitar os felupes de Suzana e as memórias que guardavam do capitão Vilar.

À chegada, fomos recebidos pelas crianças e pelos professores das escolas de Suzana. Abraçámos os filhos do Blata e reunimos com os homens grandes. E ouvimos então muitas histórias da boca dos felupes confirmando que, para além das preocupações militares, o nosso irmão se preocupava genuinamente com a vida dos felupes de Suzana. Soubemos que as crianças eram todos os dias recolhidas e levadas de volta às tabancas para ir à escola, que comiam sopa no aquartelamento e, por isso, eram chamados de “sopitos”.

Vimos também que a escola que tinha sido construída durante o tempo de comando do nosso irmão, apesar de estar em mau estado, continuava a funcionar como jardim de infância.

Decidimos então iniciar um projeto de apadrinhamento das crianças de Suzana, até porque os felupes de Suzana não se fizeram rogados e nos pediram apoio porque, como todos sabemos, não faltam problemas nem necessidades na Guiné Bissau. E assim nasceu o Projeto Kassumai, uma associação que reúne amigos e familiares nossos que contribuem mensalmente para a escolinha de Suzana.

Desde essa altura foram realizados, com o apoio do Projeto Kassumai, diversos melhoramentos. Mudou-se o telhado e o chão. Construíram-se sanitários e fossa séptica respetiva, pintou-se a escola, colocaram-se portas novas, fez-se uma vedação e telheiros, compraram-se carteiras e algum material escolar. Iremos apoiar agora, juntamente com a comunidade, o pagamento das educadoras da escola.

Em 18 de Fevereiro de 2020 passaram-se exatamente 50 anos sobre a morte do nosso irmão Luís nas areias do Cassuh e, nesse contexto, 12 padrinhos e madrinhas do Projeto Kassumai fomos a Suzana.

Fomos de novo recebidos com danças e cantares. Reencontrámo-nos com os “homens grandes “e as “mulheres grandes “de Suzana e novas ideias surgiram dando continuidade ao trabalho iniciado há 3 anos. E, em reconhecimento á memória do nosso irmão, as autoridades decidiram dar o seu nome à escola renovada – Escola Capitão Luis Filipe Rei Vilar.

Foi uma cerimónia emotiva e, antes de descerrar a placa com o novo nome da escola, as crianças felupes de Suzana cantaram uma canção de homenagem aos combatentes caídos na guerra de libertação, recordando assim os dois lados na guerra.

Da  esquerda para a direita, Manuel, Miguel
 e Duarte Rei Vilar

Tudo acontece por acaso, ou nada acontece por acaso.

O Luís Graça recordou uma vez que, para além das leituras históricas e políticas da guerra colonial, existem as inúmeras histórias pessoais de quem combateu, de quem esteve lá, de quem não esteve lá, de quem viu gente morrer de perto, e de quem perdeu familiares seus.

Esta história faz parte do segundo tipo de leituras.

O certo é que os felupes de Suzana, e a família Rei Vilar partilham mesmo a memória do nosso irmão Luís, Capitão Vilar para os felupes de Suzana.

E desta partilha nasceu um pequeno exemplo de como, a memória de alguém que partiu há 50 anos, pode ser transformada utilmente em amizade e solidariedade entre os povos.

18 de Fevereiro de 2020

Duarte Rei Vilar
Manuel Rei Vilar
Miguel Rei Vilar
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Nota do editor:

Último poste da série > 10 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20719: Ser solidário (228): Consignação de 0,5% do IRS à Associação "Afectos com Letras"...levando mais esperança e educação às meninas guineenses

Guiné 61/74 - P20744: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (1): "Op Lampreia", levada a efeito no passado dia 12 de Fevereiro de 2020, pelo "Bando do Café Progresso - das Caldas à Guiné", em Penafiel

1. Em mensagem do dia 18 de Março de 2020, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos a primeira Boa memória da sua paz, neste caso da "Op Lampreia", levada a efeito no passado dia 12 de Fevereiro de 2020, pelo "Bando do Café Progresso - das Caldas à Guiné", em Penafiel.


BOAS MEMÓRIAS DA MINHA PAZ

1 - Op Lampreia


Há mais de onze anos que o pequeno grupo de ex-combatentes auto-denominado “Bando do Café Progresso - das Caldas à Guiné”, reúne, em convívio, todas as segundas quartas-feiras de cada mês.

Inicialmente, reunia na “Sede”, mas logo diversificou a iniciativa e avançou para oportunas deslocações/visitas, na procura de boa gastronomia, boas paisagens e bons conhecimentos da nossa história.
Sempre bem complementado por agradáveis e excelentes convívios.
O grande mentor desta iniciativa foi o falecido e saudoso Jorge Portojo, Homem muito ligado às belas imagens e interessantes histórias da sua cidade do Porto, bem como de toda a região nortenha.
Desde então, são já largas dezenas de eventos, bem aproveitados e bem vividos, sempre em ambiente de camaradagem excelente.Comemos as fartas feijoadas, o bacalhau à maneira, as tripas, os rojões, o cozido, o cabrito, a cabra velha, o sável, a lampreia, as enguias e tudo o que mais que possa ser apreciado da nossa patriótica e caseira gastronomia.
Claro que há programas que muito gostamos de repetir. E para que se tornem mais atractivos, enriquecemo-los com outras actividades sócio-culturais diferentes. Desta forma, vamo-nos entretendo saudavelmente, gozando os derradeiros tempos desta “comissão terrena”, com alegria, amizade e óptimo ambiente.



Desta vez, a 12 de Fevereiro, fomos à lampreia e ao sável lá para os lados de Rio de Moinhos, onde nos presenteou com a sua simpatia, o anfitrião José Manuel Cancela.
O ponto de encontro e de partida para estas deslocações costuma ser junto ao Estádio do Dragão. Não é por imposição do “Papa” nem por ordem do nosso “Presidente Vitalício”. Nem todos somos da mesma “religião” (há um ou dois infiéis, um “boavistoso” e outro da “cruz de Cristo”), mas esse lugar tornou-se no mais central e mais funcional para as nossas deslocações para “Além-Minho” e arredores.


A saída para Penafiel estava marcada para as 11H00, mas fomos interceptados por jornalistas da TVE que queriam saber a opinião do nosso Bando sobre a possível candidatura de San Iker Casillas à presidência da Federação Espanhola de Futebol. Todos manifestámos amor e a admiração pelo nosso Grande Casillas e aproveitámos para lhe desejar que, nessa nova função, sirva também de exemplo aos “maiores” do nosso futebol.
Em Rio de Moinhos, enquanto esperávamos outros camaradas, aproveitámos para disfrutar da deslumbrante paisagem, a partir da Capela de Nª Sª dos Remédios.



Tirada a foto de grupo, mesmo com as ausências do costume, entrámos para o Restaurante Do Paço. Como sempre, cada um senta-se onde quer ou se sente melhor. Também como vem sendo hábito, inicia-se a comezaina com as tradicionais entradas, para sossegar o apetite. A lampreia estava espectacular. O sável também. Apesar de ainda ser um pouco cedo para a dita (e mais cara!), comemos em abundância.



Após o almoço, partimos para Galegos a fim de visitarmos o Castro do Monte Mozinho, onde fomos honrados com a presença da Drª. Rosário Marques, que nos guiou e nos ilustrou com uma fascinante aula de História e Arqueologia.
https://www.youtube.com/watch?v=B13tRp-uV24


O Castro do Monte Mozinho já era habitado há cerca de 1000 anos quando por aqui apareceram os Romanos. Estes fizeram agrupar ali gentes dos vários castros vizinhos, dando início a uma romanização por mais de 600 anos.


O Castro estende-se por uma vasta extensão, ainda longe de ser totalmente explorada. Nesta foto vê-se uma campa com ossadas.


Não existem indícios que mostrem ter havido guerras ou revoltas durante esse período romano .


Digamos que estamos aqui perante a avenida principal que nos levaria à acrópole/praça/recinto central, ponto de encontro e de maior defesa.


Ao castro tradicional de casas de palha, arredondadas, foram se juntando, ordenadamente, as casas romanas em formato rectangular e, supostamente, cobertas com telha.


A Drª. Rosário Marques, Técnica da Câmara Municipal de Penafiel, deu-nos uma excelente aula de história e arqueologia.


Há 70 anos alguém encontrou um pote com 1500 moedas do Sec.V, o que despertou uma ambiciosa procura de mais achados valiosos. Assim se deu início à descoberta deste conjunto monumental de grande interesse arqueológico.


Fala-se que ali, na parte mais alta, havia uma grande estátua de um chefe guerreiro nortenho do tempo da era castreja (que não é o que figura acima com boina). Perguntámos se ele poderia ter alguma ligação com o tal Pinto da Costa, mas não obtivemos confirmação. De assinalar a reacção imediata de desagrado da parte de um "infiel", possivelmente mais ligado aos tempos da ocupação mourisca.


Nas óptimas instalações de apoio ao Castro Mozinho, recebemos imensa informação de grande interesse.


O Presidente do Bando esteve muito activo nos pedidos de esclarecimento e não só.


Foi, também, explicado que, quando as populações se foram afastando do castro, deslocando-se para junto de terras de melhor cultivo e maiores rendimentos, alguns indígenas se fixaram em Boelhe, junto à margem direita do Rio Tâmega e se tornaram famosos na criação e roubo de cabritos.

José Ferreira
(Silva da Cart 1689)
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terça-feira, 17 de março de 2020

Guiné 61/74 - P20743: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca...é Grande (116): A COVID-19 não passará!... Até maio ou junho, camaradas! (Constantino Ferreira, MSC - World Cruise, Austrália, Sidney, 16/3/2020)




MSC - Magnífica > Cruzeiro de Volta ao Mundo > Austrália > Sidney > 16 de março de 2020 > Cortesia da página do faceboook de Constantino Ferreira

[, Constantino Ferreira d'Alva foi fur mil art da CART 2521 (Aldeia Formosa, Nhala e Mampatá, 1969/71);   trabalhou 30 anos na TAP, como tripulante de cabine; é nosso grã-tabanqueiro desde 16 de fevereiro de 2016.]

1. Mensagem, no Facebook do Constantino Ferreira,  que está na Austrália, a bordo do MSC- Magnífica, em cruzerio de volta ao mundo, juntamente com outros portugueses, incluindo o António Graça de Abreu

Obrigado, Luís, pelas boas palavras escritas com fé e determinação! (*)

Ainda estamos atracados no Cais de Sydney, mas só saíram uma centena de pessoas, esta manhã directamente para o aeroporto, com a obrigação de saírem nos voos de hoje !

Hau Yuan e o António. 
Foto: arquivo do Blogue Luís Graça
& Camaradas da Guiné
A Hai Yuan [, a esposa do António, médica,natural de Xangai, ]  também saiu para voar para Xangai. Eu a Elsa e o António Graça de Abreu, estamos bem, mas não podemos sair do navio desde Hobart na Tasmânia.

Mas procuramos manter o nosso bom humor !

Com muito gosto, nos iremos encontrar em Maio ou Junho !

Tenho pena de me ter descuidado de “escrever” na nosso blogue, na  Tabanca Grande. (**)

E vai um abraço!

2. Mensagens do nosso editor Luís Graça:

Confiança no capitão que vos há de levar a bom porto. Mas sejam proativos e nada de pânico. Vejam o que se passou noutros cruzeiros que estiveram de quarentena. Juntem os portugueses e animem-se. Nós também estamos trancados em casa para evitar o aumento exponencial de infetados. Ânimo!

3. Resposta do Constantino Ferreira:

Estamos a organizar e a criar um grupo de comunicação com todos os portugueses a bordo: “Tugas a bordo do MSC-World Cruise” !

Obrigado, pelo incentivo ao bom humor !

Abraços

4. Cruzeiro de volta ao mundo: diário de bordo (Constantino Ferreira)

Austrália, Sidney > Segund feira, 16 de março de 2020, 7h45:

Entrámos na Baía de Sidney pelas seis horas da manhã. Tivemos que aguardar cerca de duas horas, para avançar e fundear frente á Opera Hause e da ponte de ferro em arco por cima, também chamada de ponte cabide.

São os dois símbolos emblemáticos da cidade, mas devemos acrescentar-lhe um terceiro “ícone”, que é a moderna Sky Tower, de Sydney!

O nosso primeiro olhar, na aproximação, ao navegarmos já na Baía, é realmente esta silhueta inconfundível. Ficamos deslumbrados ao fixar esta silhueta inconfundível.

Estamos aqui ancorados com as próprias âncoras do navio, desde as 8 horas da manhã. Mas pelas 18 joras, já teremos local de acostagem, no Cais dos Cruzeiros. Logo que saia o navio, que está nessa posição, vai o nosso MSC-Magnifica ocupar esse lugar para poder ser abastecido de tudo o que necessita, fundamentalmente alimentos para os cerca de 3.000 passageiros e tripulantes.

Quanto á combustível, já foi abastecido aqui no meio da Baía, por um minipetroleiro que aqui se encostou durante seis horas, para reabastecer cerca de 14 toneladas de fiel, para os seus cinco geradores elétricos de bordo. Toda a restante maquinaria de bordo funciona a electricidade produzida ir estes geradores, inclusive os quatro motores elétricos de propulsão para vante e para ré. Assim como os três motores laterais á ré e os dois de vante.

Esta manhã, pelas 8 Horas, a maioria das pessoas estava nos nos três convés superiores, para ver a a aproximação até ao meio da Baía.

Agora pelas seis da tarde vai ser o mesmo, milhares de pessoas de câmaras fotográficas e telemóveis na mão, para registar imagens únicas, na vida de cada um!

Como já são 17Horas, interrompo aqui esta crónica, vou tomar um chá com dois ou três scones e, vou para o convés superior, para assistir a esta manobra de atracar ao Cais de Cruzeiros e, certamente tirar mais umas fotos para aqui publicar ainda hoje.

Acabei de tirar mais umas fotografias, que já acrescentei ás anteriores, inevitavelmente ao edifício da Ópera, á ponte do arco por cima e á silhueta dos prédios, com a Sky Tower.

Como a mudança do navio para o Cais dos Cruzeiros está demorada e, o dia de amanhã também vai ser a bordo, exceção feita aos passageiros que voluntariamente querem abandonar o navio, que vão sair amanhã, “escoltados” diretamente para o aeroporto, já com os respectivos voos marcados, alguns poucos para Xangai - China, mas a maioria dos sessenta, irão em voos para a Europa, por sua vontade e conta própria.

A tarde está a escurecer, mas o Sol quando rompe por de traz das nuvens, cria um efeito de raios de luz raramente visto, criando uma beleza misteriosa na silhueta desta cidade belíssima.

Amanhã irei enviar estas fotos.

(Reproduzido com a devida vénia)

5. Mensagem de incentivo para os nossos dois grã-tabanqueiros, Constantino Ferreira e António Graça de Abreu:

Bom dia, Constantino e António. Vocês são homens com vasta experiência de viagens pelo mundo. E tu, Constantino, como tripulante de bordo na TAP, sabes bem como é viver em espaços confinados. Aprendeste a lidar com o leque variado de comportamentos humanos dos viajantes aéreos, desde os fumadores compulsivos aos claustrofóbicos... Num avião, são algumas horas de viagem, mais ou menos suportáveis. Num navio, que é um autêntica cidade flutuante, e nas atuais circunstâncias, em que vocês estão a fazer a vossa tão sonhada volta ao mundo em cento e tal dias (, mas agora. com severas restrições devido à situação emergente da pandemia de COVID-19 , provocada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2),  mais difícil manter, individualmente e em grupo, a serenidade, a presença de espírito, o bom humor...

Há seguramente frustração e medo do que possa vir a acontecer,,,. As emoções vão estar mais à flor da pele...Em todo o caso, vocês estão em segurança, mesmo longe de casa... A vossa casa agora é (ou continua a ser) o MSC Magnífica... Como foi, para ti, Constantino, Aldeia Formosa,em 1969/71...São duas situações-limite. Aproveita-as. 

Esta não se vai repetir. Aproveita para ir escrevendo e fotografando. E comunicando com nós, que também estamos em quarentena social...No final teremos um livro de um camarada da Tabanca Grande que fez a volta ao mundo e, contrariamente ao "tuga" Fernão Magalhães (que tinha um "escriba", mas "sem rede"...), foi contando. dia a dia, aos amigos as peripécias da viagem... 

Ofereço-me, desde já, para te escrever o prefácio...Até lá, até ao vosso regresso, com saúde e em segurança, aumentem a vossa resiliência, apoiem.se uns aos outros, não desanimem, tirem partido das circunstâncias... No séc XVI ir à India e voltar eram quase dois anos... Como dizia o provérbio antigo: "À Índia mais vão do que tornam"...Só gente "louca", como nós... Bem diziam os espanhóis, desconfiados dos "vizinhos": "Portugueses, pocos. pero...locos"!...

Um chicoração para vocês três, Elsa, Constantino e António. E também para a esposa do António que vos deixou, na Austrália, para dar um salto à sua China... que está a sair, ao que parece e felizmente, de uma grande provação: foi lá que tudo começou....



MSC - Magnífica > Cruzeiro de Volta ao Mundo > Austrália > Taiti > Papeete >  6 de março de 2020 > Foto de grupo: da esquerda para a direita, Hai Yuan, António Graça de Abreu, um casal português, o Constantino Ferreira e a Elsa, tapada pelo rosto da guia local, aqui em primeiro plano). Cortesia da página do faceboook de Constantino Ferreira.

[, Constantino Ferreira d'Alva foi fur mil art da CART 2521 (Aldeia Formosa, Nhala e Mampatá, 1969/71); trabalhou 30 anos na TAP, como tripulante de cabine; é nosso grã-tabanqueiro desde 16 de fevereiro de 2016.]
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Nota do editor:

(*) Vd. último poste da série > 16 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20739: O que é feito de ti, camarada ? (10): António Graça de Abreu e Constantino Ferreira d' Alva, a bordo do MSC Magnifica... Estão impedidos de desembarcar, em Hobart, capital da Tasmânia, e nos restantes portos da Austrália, devido à pandemia de Coronavírus COVID 19... Estão a um mês e meio de regressar a casa.

(...) Um alfabravo fraterno e emocionado para ti, Constantino, e para o António, e respetivas esposas!... Que regressem a casa com saúde e em segurança... Por aqui estamos a "aguentar o barco", mas já se grita às janelas das nossas ruas: "Viva o SNS!", "O Covid 19 não passará!"... Haveremos de beber um copo, os três, em maio ou junho, na próximo almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, quando este pesadelo acabar para todos nós!.. Vai escrevendo e mantendo o teu bom humor! (...)

Vd. também poste anterior > 16 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20738: O que é feito de ti, camarada ? (8): António Graça de Abreu e Constantino Ferreira D'Alva, andam a fazer a volta ao mundo num cruzeiro, no MSC Magnifica... E ainda falta metade do percurso, com o cenário da pandemia de coronavírus COVID 19 na linha do horizonte mais próximo... Boa continuação da viagem e melhor regresso a casa!

Guiné 61/74 - P20742: Memória dos lugares (405): Cacela, a fadista Lucinda Cordeiro e o grupo "Cantar de Amigos", num vídeo do Zeca Romão (ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 3461 / BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, e CCAÇ 16, Bachile, 1971/73)


Vídeo (2' 58'') > Alojado no You Tube > Romão José

Título: Cantar de Amigos - Lucinda Cordeiro - canta: Miúdo da Rua

Sinopse: Um pequeno vídeo dedicado à nossa amiga Lucinda Cordeiro, uma das maiores fadistas,do nosso concelho [, Vila Real de Santo António[. Acompanhada pelo seu esposo, José Gonçalves e por Toy Dourado, Lucinda, canta "Miúdo da Rua", fado gravado no CD nº 9 de "Cantar de Amigos" [, grupo fundado em 1993]. As fotografias são de Cacela Velha, localidade que faz parte do concelho de Vila Real de Santo António. Vídeo: realização de Zeca Romão, 17 de março de 2010.


José Romão no Bachile, c. 1972/74
Arquivo do autor (2010)
1. O nosso camarada José Romão, de Vila Real de Santo  António, tem um especial carinho pela sua terra (e tem uma segunda terra, a Guiné-Bissau, e em especial o "chão manjaco", do qual  guarda "recordações inesquecíveis" do tempo em que foi Fur Mil At Inf, CCAÇ 3461 / BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, e CCAÇ 16, Bachile, 1971/73).  Tem 16 referências no nosso blogue. 

Há dias mandou-nos um vídeo seu, de 2010, e que é um tripla homenagem a três "joias" vila-realenses:  Cacela, a fadista Lucinda Cordeiro e o grupo Cantar de Amigos. 

Os nossos camaradas, que fizeram o Curso de Sargentos Milicianos, no CISMI em Tavira, a recruta e/ ou a especialidade, nos anos 60/70, vão adorar a música e as imagens, que lhes vão avivar memórias...

Obrigado, Zeca Romão!


2. Sobre Tavira, e o sítio onde fizemos os fogos, no último  trimestre de 1968, escreveu o Eduardo Estrela o seguinte  comentário ao poste P20732 (*):

"Bom dia Luís! É uma alegria enorme ouvir falar da nossa terra com tanto carinho e amor. Obrigado pelas tuas palavras elogiosas. Façamos votos que haja coragem de preservar a autenticidade desta parte do Algarve denominada Sotavento.

Seguindo o percurso da EN 125, no sentido Tavira-Vila Real Sto. António, passamos Conceição de Tavira e, cerca de 3 km mais á frente,  há uma estrada à direita que vai ter ao sítio do Lacem. Foi neste sítio, local de confluência dos concelhos de Tavira e Vila Real, que fizemos os fogos reais, numa arriba sobranceira á ria e ao mar. Dista de Cacela Velha em linha recta, mais ou menos 1 km. 

O fabuloso tasco da Fábrica era do Costa, onde se comiam todas as iguarias da Ria, com a particularidade de saberem divinalmente. O Costa era compadre do meu sogro, pois era padrinho de baptismo duma das minhas cunhadas. 'O mundo é pequeno e a nossa Tabanca... é grande.' Abraço fraterno.

P.S. Fica pois o Lacem para a direita da fotografia da fortaleza de  Cacela Velha. A estrada da ilha é a das quatro águas."


3. Comentário de Luís Graça (*):

Fantástico, Eduardo!...Tens uma invejável memória topográfica!... É certo que jogas em casa...Esse é o teu reino, mas já me deste uma ajuda estupenda para "relocalizar" o sítio onde fizemos os nossos fogos reais, no final da instrução do 2º ciclo do CSM, no último trimestre de 1968... Que, reconheça-se, foi importante para nós, que fizemos fogo, pela primeira vez (, os que nunca foram caçadores...) na carreira de tiro e depois no tal sítio do Lacem. Quando aí voltar, ao teu/nosso querido Sotavento, quero revisitar esse sítio. E, se possível, contigo, se estiveres por aí, disponível, como cicerone!

Guiné 61/74 - P20741: Parabéns a você (1772): José Armando F. Almeida, ex-Fur Mil TRMS do BART 2917 (Guiné, 1970/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 16 de Março de 2020 > Guiné 61/74 - P20737: Parabéns a você (1771): Joviano Teixeira, ex-Soldado At Inf da CCAÇ 4142 (Guiné, 1972/74)

segunda-feira, 16 de março de 2020

Guiné 61/74 - P20740: Notas de leitura (1273): “A Engenharia Militar na Guiné, O Batalhão de Engenharia”, Exército, Direção de Infraestruturas, Julho de 2014 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Março de 2017:

Queridos amigos,
Tenho uma dívida de gratidão com o BENG 447 inultrapassável. Recebi, em Agosto de 1968, um quartel em escombros e outro sem o mínimo de requisitos defensivos, falo de Missirá e de Finete, no regulado do Cuor. Um dia aterrou um helicóptero e dele saiu um Capitão de Engenharia que eu conheci na viagem do Uíge, em Julho de 1968, Rui Gamito, compadeceu-se daquela extrema penúria, deu instruções à secção do BENG em Bambadinca para me fornecer forte e feio, rachas de cibe, chapas de zinco, toneladas de cimento, rolos inumeráveis de arame-farpado, tesouras corta-arame, e tudo o mais o que se sabe. Com o quartel de Missirá destruído em Março de 1969, as ajudas triplicaram e aconteceu o milagre da ressurreição. Finete passou a ter abrigos dignos desse nome e uma boa proteção de arame-farpado. Fiz amizades, de tal modo que o meu padrinho de casamento é Emílio Rosa, ao tempo Alferes Miliciano de Engenharia, e meu doador de materiais, incluindo o gerador que chegou depois de eu ter partido.
São recordações pessoais, e já não falo da proteção que deu, durante um mês a fio na construção da estrada entre Xime e Bambadinca, que vi nascer, tinha um opulente cais, hoje tragado pela incúria.
Entre as imagens que extrai do livro vem o plano da Cerca Defensiva de Bissau, mostra-se uma loja do comércio tradicional para se matar saudades.

Um abraço do
Mário




A Engenharia Militar na Guiné:
O Batalhão de Engenharia

Beja Santos

“A Engenharia Militar na Guiné, O Batalhão de Engenharia”, Exército, Direção de Infraestruturas, Julho de 2014, é apresentado como um tributo aos militares portugueses e aos guineenses que fizeram parte do Batalhão de Engenharia da Guiné.

Escreve o Tenente-General António José Maia de Mascarenhas:  

“Considero como fazendo parte do Batalhão os elementos as organizações que o antecederam e que estão na sua origem como foram a Companhia de Engenharia Mista (criada em 1963 por mobilização no Regimento de Engenharia n.º 1, sob o comando do então Capitão de Engenharia Perry da Câmara) e as secções de delegações dos Serviços de Fortificações e Obras Militares. O autor principal deste livro é o Coronel Tirocinado de Engenharia Alberto da Maia e Costa, o último Comandante do Batalhão. Como é timbre destas obras, dá-se um bosquejo histórico da Guiné, apresenta-se uma pequena monografia da Guiné na década de 70, incluindo elementos socioeconómicos e culturais. Quando eclode a subversão na Guiné, a estrutura da Arma de Engenharia compreendia na região: um órgão de Direcção, o Comando de Engenharia localizado em Bissau e os órgãos de execução, inicialmente a Companhia Mista de Engenharia n.º 447 e, posteriormente, o Batalhão de Engenharia da Guiné". 

Dentro do historial que o autor apresenta sobre a Engenharia Militar Portuguesa na Guiné, refere-se em 1961 a criação da Direcção do Serviço de Fortificações e Obras Militares, e enumeram-se os seus responsáveis incluindo os do Batalhão de Engenharia, a partir de 1964, até ao fim da presença portuguesa na Guiné-Bissau. O autor enumera os dados relevantes da organização emissões do Batalhão de Engenharia até à data da independência, dando especial relevo às realizações da Engenharia naquele teatro de operações, veja-se, a título exemplificativo: antes de eclodir a guerra, obras em Santa Luzia e Bolama, fiscalização das obras do aeródromo de Bissau, transferência do Quartel-General de Amura para um novo aquartelamento de Santa Luzia, aquartelamentos em Nova Lamego, Buba, Farim, Bafatá, quartéis de Cacheu, Fulacunda, Sedengal e Bolama, sendo estas para o futuro centro de instrução militar.

A partir da guerrilha, a Engenharia vai ser chamada a uma multiplicidade de atividades na construção de edifícios como seja a ampliação do edifício do Quartel-General, ampliação do edifício do Serviço de Telecomunicações Militares; construção de aquartelamentos, um pouco por toda a Guiné, mas também cais como o de Bambadinca, pontes, como a ponte de Maqué, a ampliação do Hospital Militar 241, asfaltagens, obras de abastecimento de água, construção de estradas, redes de arame-farpado. Foi crescendo o parque de máquinas com o seu equipamento de terraplanagem, viaturas basculantes e autotanques, era de enorme valor o parque de máquinas do Batalhão de Engenharia.


O autor destaca igualmente uma obra de grande fôlego, a Cerca Defensiva de Bissau, assim apresentada: 

“A Cerca Defensiva de Bissau foi executada envolvendo o perímetro de toda a cidade e dos arredores onde se localizavam aquartelamentos e instalações militares, para impedir o acesso aberto à cidade. Consistia num perímetro minado, entre duas fiadas de rede de arame-farpado paralelas, com várias torres de vigilância e postos de controlo, servido por caminhos de serventia para ronda pelo interior. Para a sua execução houve que realizar as seguintes atividades: planeamento, desmatação, execução de estacas de madeira e de betão, lançamento de rede, colocação de rede nas bolanhas, utilização de centrais de betonagem, estudo dos avisos e da camuflagem, colocação dos avisos nas redes, lançamento das minas, construção prévia das torres, preparação das fundações das torres, montagem das torres em terreno seco e na Bolanha, executar instalações dos postos de vigilância, eletrificação dos postos, etc.”. 

Dir-se-á noutro relatório: 

“Durante 17 dias 1500 toneladas de materiais e 813 homens (trabalhando mais de 8 horas diárias) percorreram, em duas plataformas e 32 viaturas, 56 mil quilómetros, na construção de 20 torres de vigia e de uma rede de cintura minada com mais de 400 quilómetros de arame-farpado”.


O Batalhão de Engenharia teve uma intervenção fundamental no reordenamento de populações e organizações em autodefesa, o autor esmiúça este campo de atividades.

Todo este historial é igualmente acompanhado de histórias saborosas, informações sobre os geradores na Guiné testemunhos quem acompanhou obras de estrada, descreve-se a participação do Batalhão de Engenharia na "Operação Grande Empresa" iniciada em Dezembro de 1972, a construção em tempo recorde do quartel de Mansabá como centro de instrução de tropas africanas. Também se fala de situações dolorosas como a emboscada de 22 de Março de 1974, entre Piche e Nova Lamego, uma coluna militar foi atacada pelo PAIGC com grande efetivo, este documento incorpora o testemunho do Furriel Miliciano de Engenharia Pedro Manuel Santos, muito emotivo.

Há igualmente testemunhos como o de Nuno Nazareth Fernandes, que deu uma inestimável colaboração às atividades musicais do BENG 447.

Presta-se homenagem aos mortos, e em nota final Alberto da Maia e Costa manifesta o seu orgulho pelo serviço prestado pela Unidade de Engenharia de que ele foi o último comandante:

“A Guiné ficou a dispor de instalações militares adequadas e satisfatórias, como nenhum outro território português. O esforço feito relativamente ao abastecimento de água pela execução de furtos artesianos, montagem de depósitos e construção de redes foi digno de registo, por quanto a Guiné desfrutava, nos seus centros populacionais médios, já de água potável canalizada. Mas não foi só nestes aspetos que a Engenharia Militar deu a sua valiosa colaboração. Deu-a na montagem de centrais geradoras de energia elétrica e na construção das respetivas redes, na execução de redes de saneamento, na sua atuação do campo de construção de estradas, mercê de equipamento adequado, organização quase perfeita, tendo conseguido altos rendimentos de trabalho na execução de estradas de terra e asfaltadas e na de pistas de aviação. Desta forma as estradas construídas por si só ou com a colaboração das obras públicas, atingiram quilometragens apreciáveis, que serviram tanto as necessidades militares como as de fomento”.
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20729: Notas de leitura (1272): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (49) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20739: O que é feito de ti, camarada ? (10): António Graça de Abreu e Constantino Ferreira d' Alva, a bordo do MSC Magnifica... Estão impedidos de desembarcar, em Hobart, capital da Tasmânia, e nos restantes portos da Austrália, devido à pandemia do Coronavírus COVID 19... Estão a um mês e meio de regressar a casa.



MSC Magnifica > 16 de março de 2020 > Austrália > Hobart, capital da Tasmânia

Cortesia de Constantino Ferreira (2020)


1. Último poste  do Constantino Ferreira d'Alva, publicado na sua página do Facebook, há quatro horas. O Constantino, tal como o António Graça de Abreu (*),  segue num cruzeiro de volta ao mundo,  a bordo do MSC Magnifica (, MSC é a sigla da multinacional Mediterranean Shipping Company, com sede na Suiça)...

A frota da MSC Cruzeiros está praticamente parada devido à pandemia do Coronavírus COVID 19... O MSC Magnifica deve ser  o único navio que ainda está a operar, segundo nos informa o Constantino, devendo chegar à Europa daqui a mês e meio...

Esta volta ao mundo, que era pressuposto ser uma viagem de sonho, pra muitos dos seus passageiros,  está a tornar-se um pesadelo, devido á pandemia do Coronavírus COVID 19, ... Deve levar a bordo muitos mais portugueses, além dos nossos camaradas Constantino Ferreira d'Alva e António Graça de Abreu, e suas esposas.

A todos desejamos o melhor regresso possível a casa, com saúde e em segurança.

Facebook > Constantino Ferreira > segunda-feira, 16 de março de 2020, 1:52:

Isto foi o Diabo 👿!

Pois foi! ..... Mas não o Diabo da Tasmânia, que nós muito carinhosamente pretendíamos ir conseguir ver, na nossa visita de hoje !

Não! ..... Aqui o Diabo 👿 foi outro ! Foi o “coronavirus” que já apareceu em cinco casos na Tasmânia, que nos impediu a visita programada.


A notícia, foi-nos dada pelo Comandante no Royal Theatre esta manhã, acompanhado pelo segundo comandante, pelo médico-chefe de bordo e o director de comunicação a bordo. (Conforme fotografias que publico!)

As autoridades de fronteiras da Austrália, fecharam todos os portos, por razões de segurança pública! Foi assim, que recebemos a notícia.

No entanto, teríamos que descer a terra para a formalidade de controlo de vistos e passaportes! Uma vez que iríamos passar por mais três portos na Austrália; Sydney, Cairns e Darwin! Podendo a situação modificar-se, para melhor ou ... para pior !

Pois foi para pior, porque também já têm mais casos dentro da Austrália.

Estivemos atracados no cais, durante todo o dia, a cidade e as montanhas lá estavam à nossa frente, fomos tirando umas fotografias, ouvindo as notícias da Europa, tomando consciência da gravidade a nível Mundial, lamentando esta situação, mas sempre com alguma esperança de melhores dias !

A vida a bordo continua, não temos nenhum caso de “coronavirus”, lagarto,... lagarto,.... lagaaarto! Mantemos todas as regras e disciplina de segurança, para que isso não aconteça !

A boa disposição também se mantém, até com algum humor, (é o meu caso!). Mas a “Volta ao Mundo”...... já não vai ser como até aqui !

Tem sido verdadeiramente uma maravilha, em todos os aspectos ! Pelo menos, esta “meia-volta”, foi um espetáculo!
Agora, temos que concluir o que falta, com a máxima segurança, procurando mesmo assim, usufrui o melhor possível!

De toda a frota da MSC-Cruzeiros, este “nosso” navio, MSC-Magnífica, é o único a navegar, toda a frota parou ! Na Europa, América, Caraíbas, China, Japão, ..... tudo parou e “encostou”!

Mas a decisão da companhia, de não nos desembarcar, foi bem acolhida, pelos cerca de três mil passageiros e tripulantes!

Assim, a decisão da MSC e do nosso comandante, é seguirmos nesta “nave”, até á Europa, onde esperamos chegar dentro de um mês e meio, com paragens para reabastecimento de combustível e alimentos.

Se a situação, entretanto melhorar, até podemos manter a esperança de ir ver o Dragão de Cômoro, como estava planeado, mas as belezas de Bali, ainda na Indonésia, ficam para outra oportunidade, assim como todos os outros portos planeados, “nesta” nossa Volta ao Mundo”!

A ver vamos! Como vai ser este mês e meio, aqui a bordo !

Na “nossa” Carreira da Índia, nos Séculos XVI, XVII  e .... XVIII, .... não tinham este conforto a bordo e, ... faziam muito mais tempo em mar alto !

Se pensarmos “assim”, isto vai ser uma festa a bordo ! A “fé”... é que nos salva! ..... Não è o pau da barca !

Até sempre!

(Com a devida vénia ao nosso camarada Constantino Ferreira, tripulante da TAP,  reformado)
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 16 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20738: O que é feito de ti, camarada ? (8): António Graça de Abreu e Constantino Ferreira D'Alva, andam a fazer a volta ao mundo num cruzeiro, no MSC Magnifica... E ainda falta metade do percurso, com o cenário da pandemia do coronavírus COVID 19 na linha do horizonte mais próximo... Boa continuação da viagem e melhor regresso a casa!

Guiné 61/74 - P20738: O que é feito de ti, camarada ? (9): António Graça de Abreu e Constantino Ferreira D'Alva, andam a fazer a volta ao mundo num cruzeiro, no MSC Magnifica... E ainda falta metade do percurso, com o cenário da pandemia do coronavírus COVID 19 na linha do horizonte mais próximo... Boa continuação da viagem e melhor regresso a casa!



Oeiras >Algés > Restaurante Caravela de Ouro > Tabanca da Linha > 42º Convívio > 21 de março de 2019 > À mesa, o Constantino Ferreira d'Alva e o António Graça de Abreu. Na altura soubemos que iam os dois fazer um cruzeiro de volta ao mundo, no princípio do novo ano de 2020, com regresso em finais de abril (*)

Foto (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. O António Graça de Abreu, ex-alf mil,  CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), nosso camarada e amigo, membro da nossa Tabanca Grande de longa data, com mais de 240 referências no blogue,  cofundador, em 14/10/2010, da Magnífica Tabanca da Linha, já não nos dá notícias desde o fim do ano passado... 

O último poste que li dele, da sua autoria, na página do Facebook, é de 31 de dezembro passado. É um excerto do seu "diário secreto de Pequim" dos anos 80... Sabemos, pelo Constantino, que ele vai a bordo do MSC Magnifica, mas que não escreve para o Facebook, até porque a ligação à Net, a bordo, é lenta e cara.

Pequim, 1 de Setembro de 1981

Um dos meus grandes prazeres, nestes últimos tempos, é atravessar meia Pequim ou perder-me deliberadamente pelos milhentos atalhos e recantos dos arredores da cidade, aos comandos da minha mota, a pequena Peugeot 102 que fura com facilidade por dentro destes imensos pelotões de ciclistas que pedalam, pedalam e eu acelero, acelero levado pelo motorzinho do meu extraordinário velocípede.


No fim do ano passado, trouxe de Macau algo que, tal como a moto, é diferente de quase tudo o que os chineses possuem, um Walkman, marca Toshiba, azul, maneirinho que prendo no cinto das calças, meto a cassete, coloco os auscultadores, ligo e aí vou eu, singrando na minha Peugeot 102, por tudo quanto é avenida, rua ou caminho de terra batida, ultrapassando todos os ciclistas (as motas são raríssimas, estão ainda quase proibidas para os chineses), circundando carroças, autocarros, furando entre as gentes. 

Tenho estereofonia, som total a cantar-me aos ouvidos e toda a imensa cidade de Pequim a perpassar diante dos meus olhos. Tenho os cinco concertos para piano, de Beethoven, e que prazer a grande música na minha cabeça, ressoando em mim, atravessando Pequim. 

Tenho a batida fantástica do álbum The Wall, dos Pink Floyd, com palavras sábias do Roger Waters e do David Gilmour que bem podem ser adaptadas às realidades chinesas que me enchem os olhos e que a minha costela, meia anarca, hoje já acaricia:

We don't need no education
We don't need no thought control
No dark sarcasm in the classroom
Teacher leave the kids alone,
Hey, teacher! Leave the kids alone!
All in all it's just another brick in the wall
All in all you're just another brick in the wall.



Nova Zelândia, Napier, 14 de março de 2020 > O Constantino Ferreira d'Alva, desembarcando do MCS Magnifica. 

Fonte: página do Facebook do nosso camarada.



2. O Constantino Ferreira d'Alva foi fur mil art da CART 2521 (Aldeia Formosa, Nhala e Mampatá, 1969/71), é um camarada do meu tempo (CCAÇ 2590 / CCAÇ 12): viajámos juntos, no T/T Niassa, em 24 de maio de 1969.... e penso que regressámos juntos, no T/T Uíge, em 17/3/1971. A CART 2521, mobilizada pelo GACA 2, esteve em Aldeia Formosa.

À  conversa com ele,  à mesa,  no 42º convívio da Magnífica Tabanca da Linha, em 21 de março de 2019 (*), disse-me que era natural de Arganil, e trabalhara na TAP como tripulante de cabine, estando reformado há uns largos anos... Naturalmente que conhecia (e era amigo de) o José Brás e de outros amigos meus da TAP, como é o caso do Jorge Mateus... Confidenciou-me, na altura, que tinha intenção de fazer uma "cruzeiro de volta ao mundo", no princípio do ano de 2020, juntamente com o António Graça de Abreu, que acabara de conhecer num outro cruzeiro.

Eu não tinha a certeza se esses planos se tinha concretizado, e se tinham chegado a  partir juntos, no mesmo navio, até em dezembro passado começaram a surgir notícias de mai agoiro, provenientes da China... Nas a MSC manteve os seus cruzeiros para aquelas bandas...

Pela consulta que fiz à sua página do Facebook, verifiquei que  o Constantino deve estar hoje no hemisfério sul, na Oceania, já na Austrália, a bordo do MSC Magnífica, depois de terem parado na Nova Zelânida. E, com ele, ficamos a saber que está... o António Graça de Abreu.

Escreveu o Constantino anteontem, às 5h45:

(...) Cá estamos a entrar na Baía de Napier! Hoje a entrada faz-se já com o luz do Sol a iluminar esta Baía, larga e profunda, com a cidade lá ao fundo, já bem visível com a luz do Sol.

Logo que atracamos ao cais dos cruzeiros, o grupo que vai na excursão de visita com recepção pela chefe indígena, de uma aldeia do povo Maori, está pronto para seguir no autocarro. (...)


(...) Assistimos a todo o cerimonial de aproximação de um povo estranho. A recepção dos indígenas era feita com aproximações e afastamentos, até que se realizava o contacto, mas com os Maoris sempre à defesa e desconfiados !

De seguida, as demonstrações guerreiras, os seus cantares e danças rituais. A demonstração num lago ou ribeira, da pesca ás enguias, como sobrevivência deste povo na sua alimentação, foi tema de uma palestra à beira do lago. A visita termina com a venda de alguns produtos de seu artesanato. (...)


(...) Ficamos com uma ideia bem formada, da vida e cultura deste povo guerreiro, que quase foi apagada pelas políticas britânicas, nos últimos duzentos anos ! Agora em tentativa de recuperação, por pessoas como a nossa guia, mas também com o apoia do Parlamento da Nova Zelândia.

Regressamos a Napier, novamente por montanhas e vales, em que pastam milhares de ovelhas e carneiros, mas nos vales e terras chãs, lá estão as plantações de kiwis e maçãs, a perder de vista.(...) Foi um dia de vistas largas, de cultura e de reflexão sobre a destruição da cultura Maori , pela Europa colonizadora do Mundo, nos séculos de descobrimentos e encobrimentos !

Embarcamos no MSC-Magnífica, e assistimos á saída lenta do navio, ao som da magnífica voz de Andrea Bocelli.(...), 
O nosso próximo encontro, será na Baía de Wellington. Já amanhã de manhã ! (...)

Por uma rápida visita ao último poste,  de ontem, às 15h. Confirmo, pela leitura, que o MCS Magnífica está a dar a volta ao mundo... e ainda falta metade do percurso (com mês e meio para voltar à Europa) , mas já com o fantasma da pandemia do coronavírus  COVID 19 na "agenda de bordo"... O Constantino, bem humiorado, bem disposto,  tem escrito uma espécie de "diário de bordo" que partilha com os seus amigos do Facebook

(...) Largámos de Wellington  [, capital da Nova Zelândia,] ao fim do dia, navegamos pelo Canal Cook rumo West, durante toda noite. Mas pela madrugada já levamos o rumo Sul, tendo a ilha a bombordo, lado esquerdo.

Pelas 3 horas da tarde, damos entrada no Fiorde Milford Sound. Um outro navio de cruzeiro, navega lentamente à nossa frente. Mas outros pequenos barcos e lanchas, passam por nós nos dois sentidos. São turistas amantes da natureza, que viajam em pequenos aviões, que aterram numa pista lá ao fundo, onde o Fiorde acaba e tem uma pequena planície antes das montanhas.

As margens apresentam algumas cascatas e, lá nos cumes das montanhas algumas têm neve outras não. Os pequenos aviões passam por cima de nós, o som com a ressonância das montanhas, multiplica-se com os ecos repetidos e multiplica-se, criando um ambiente de guerra “pacífica” !

Lá está o pequeno aeroporto, com alguns aviões estacionados, anunciando o fim do Fiorde. Inverter o rumo para a saída é uma manobra delicada, pois o navio tem mais de 300 metros e este fiorde tem pouco mais de 700 metros de largura neste local da manobra! Esta pequena localidade de apoio ao aeroporto, está absolutamente isolada por ausência de estradas, só se tem acesso a esta localidade de barco ou de avião pequeno.

Navegamos agora rumo West e, ao sairmos do fiorde, tomamos o rumo Noroeste, navegando no mar da Tasmânia, rum
o a Hobart [, a capital e a maior cidade do estado australiano da Tasmânia], a nossa próxima escala, onde chegaremos com dois dias de navegação. 

Quando lá chegarmos, é que veremos o Diabo da Tasmânia, ou será que o Coronavírus é que vai ser o nosso Diabo?!

Teremos que enfrentar os dois “bichos”, com muita calma, disciplina, saber e segurança sanitária. Consta que o coronavírus já se manifestou em cinco pessoas na cidade de Hobart. A confirmar-se estes casos, não sabemos se seremos autorizados a desembarcar!

Daqui a dois dias, saberemos a confirmação ou não, destes cinco casos de coronavirus, que aguardamos com alguma ansiedade, mas com calma e esperança, nestes próximos dias e, da Volta ao Mundo,  apenas temos metade realizada.

Aqui a bordo, não temos, felizmente, nenhum caso de coronovirus. Quando chegarmos á Tasmânia, a ver vamos que “Diabo” iremos ver. Esperamos que seja o Diabo  da Tasmânia! (...)


Há dias, a 10 de março, o Constantino tinha respondido ao Manuel Resende, régulo da Tabanca da Linha, nestes termos, tranquilizando-o sobre a saúde do pessoal a bordo e dando notícias do António Graça de Abreu:

(...) Depois, vamos ver o Diabo na Tasmânia e os cangurus na Austrália! Mesmo agora estive com o António Graça de Abreu, que está muito bem, a escrever um novo livro !... Aqui a bordo não tivemos nada de Coronavírus! (...)

Desejamos, a estes nossos amigos e camaradas  boa continuação da viagem de volta oa mundo e bom regresso a casa!... Ficamos mais tranquilos por saber notícias deles!...

Mas quando chegarem, à Europa [, a Génova ? a Marselha ?],  deve estar a pandemia, aqui em Portugal,  no seu pico e a nossa vida feita... num pandemónio... (Esperemos que não, e que saibamos todos dizer, em voz alta, com determinação e coragem: O COVID 19 não passará!... Mesmo à custa de sangue, suor e lágrimas.)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 22 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19612: Tabanca da Linha (1): 42º convívio, Algés, 21 de março de 2019: Caras novas: o Constantino Ferreira d'Alva, nosso grã-tabanqueiro nº 711, desde 16 de fevereiro de 2016Último poste da série > 

Guiné 61/74 - P20737: Parabéns a você (1771): Joviano Teixeira, ex-Soldado At Inf da CCAÇ 4142 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 14 de Março de 2020 > Guiné 61/74 - P20731: Parabéns a você (1770): Leopoldo Correia, ex-Fur Mil Art da CART 564 (Guiné, 1963/65)