Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
domingo, 23 de maio de 2021
Guiné 61/74 - P22220: Blogpoesia (737): "Semelhanças e diferenças"; Quem espera..."; "Revolução" e "Definições", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728
Semelhanças e diferenças
A semelhança e a diferença é a veste que veste a natureza.
As coisas participam de pedacinhos que todos têm.
Variam só as formas e os tons.
É inesgotáel a possibiidade de combinações.
Os cruzamentos sucedem-se na evolução do tempo e do espaço.
É caleidoscópica a imagem, em profundidade do passado.
As épocas da história se sucedem irrepetíveis.
Isto é assim por uma lei atenta e lúcida da Natureza.
Dá que pensar: porquê e para quê?...
Berlim, 16 de Maio de 2021
17h24m
Jlmg
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Quem espera...
Quem espera pode ou não obter o que gostava.
Mas é preciso fazer por isso.
Sem esforço e colaboração ninguém consegue nada.
Lícitamente. Porque, ilícitamente, é sujo.
Quase mesmo criminal.
A vida é feita de colaboração e esforço.
Enriquecer sem ele é parasitismo.
O que é detestável.
Berlim, 17 de Maio de 2021
18h14m
Jlmg
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Revolução
É preciso revolver a terra, ao menos uma vez por ano.
Pôr-lhe à mostra o húmus.
Expor os vermes ao sabor do sol.
Dar às aves o alimento devido.
Derramar a seiva nas veias das árvores.
Expor ao sol as hastes prenhes.
Para que o grão multiplique.
Encher as eiras de milho ao sol.
Abarrotar os celeiros com as maçarocas loiras.
E, depois, regalar as ceias com a broa à mão...
Berlim, 21 de Maio de 2021
17h10m
Jlmg
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Definições
Há um risco de fracasso ao não definir o objectivo.
O êxito é sempre fruto da previsão.
Nunca do acaso.
O progresso é a soma de ideias bem delineadas.
A riqueza advém do esforço e da concentração.
Quem quiser arruinar-se é deitar-se na pasmaceira.
A vida sã vem da intimidade bem resolvida.
Berlim, 22 de Maio de 2021
15h30m
Jlmg
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Nota do editor
Último poste da série de 18 DE MAIO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22212: Blogpoesia (736): "Escondam-se que eles vêm aí", por Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70)
sábado, 22 de maio de 2021
Guiné 63/74 – P22219: (Ex)citações (384): As crianças de Mansambo e de Cobumba - Que jamais esquecerei (António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo CAR da CART 3493/BART 3873)
Amigo Carlos Vinhal
Faço votos para que te encontres de boa saúde junto dos teus. Com a nossa idade podemos ainda desejar muitas coisas!... Mas certamente a saúde é a mais importante.
Recebe um abraço
As crianças de Mansambo e de Cobumba
Há dias, quando da passagem de mais um aniversário (já são 71) o amigo Cherno Baldé[1] ao enviar-me os parabéns dizia que eu ainda não teria esquecido as crianças de Mansambo assim como de outros sítios por onde passei na Guiné. Se existe alguém que eu jamais esquecerei “enquanto a mente me permitir” são as crianças da Guiné daquele tempo.
Começando pelas de Mansambo, a esta distância no tempo, basta, mentalmente olhar para lá e logo as vejo a brincar... com particular destaque para o tempo que eles passavam a jogar a bola, que era muito. Os condutores de que eu fazia parte, éramos oito no mesmo abrigo, tínhamos um menino que durante algum tempo trabalhava para nós... a quem chamávamos faxina, o primeiro foi o xerife (o nome porque era conhecido, não sei se era assim que se escrevia) o serviço que lhe estava destinado era ir à cozinha buscar a comida na hora das refeições para trazer para o abrigo... depois comia connosco e a seguir lavava a loiça. Ao fim do mês recebia algum dinheiro que todos lhe dávamos, já não me recordo qual era o valor. Passado alguns meses de lá estar vim de férias à metrópole, mas antes já lhe tinha prometido quando voltasse que lhe levava uns sapatos.
Passado o mês de férias quando regressei a Mansambo o xerife tinha sido substituído, não sei qual o motivo... o seu lugar passou a ser ocupado pelo António a quem assim que cheguei lhe pedi para ir à tabanca chamar o xerife para lhe entregar os sapatos conforme lhe tinha prometido, pedido por ele logo aceite. Assim que o xerife chegou ao nosso abrigo e lhe entreguei os sapatos novos foi grande a alegria que ele não conseguia disfarçar... e a minha não foi menor. No outro dia, logo pela manhã, o xerife apareceu lá no abrigo acompanhado por vários meninos da tabanca, todos muito alegres, e veio levar-me uma galinha. Passado algum tempo o António foi embora, (diziam que a sua partida tinha a ver com o fanado) sendo o seu lugar ocupado pelo Demba, um menino mais novo que os seus antecessores a quem prometi quando voltasse de novo à metrópole de férias, como tinha previsto, que lhe levava também uns sapatos novos. Mas as coisas alteraram-se e os sapatos para o Demba (com grande pena minha) não chegaram a ser entregues.
A nossa companhia foi transferida para Cobumba e foi já depois de lá estar que voltei de férias à Metrópole, não mais voltei a ver os meninos de Mansambo.
Em Cobumba também havia crianças, mas a distância entre eles e nós, pelo menos no início, era diferente, não estavam habituados a ter a companhia de tropa branca. Mas a alegria com que eles brincavam levava-me a pensar como era possível a viver num ambiente tão complicado como aquele que tinha lugar em Cobumba e eles sempre alegres passando muito tempo a brincar como se nada de anormal estivesse a acontecer. Certamente que os meninos da Guiné também choravam, mas durante o tempo que por lá estive nunca vi isso acontecer!... Algumas vezes, alguns atravessavam o rio Cumbijã a nado e riam-se quando sabiam que alguns de nós não sabíamos nadar. Já próximo do fim da permanência da nossa companhia naquele local, as minas na picada entre os três sítios em que se encontravam as nossas tropas, eram cada vez mais. Alguém decidiu que enquanto a viatura andasse em movimento (já só tínhamos uma pronta a andar, as outras três já tinham sido destruídas pelas minas) tinha que andar sempre alguém da população ao lado do condutor!... Os condutores éramos muitos, para uma só viatura, pelo que o nosso serviço de condução tinha um intervalo bastante grande. Só me recorda de ter de andar um dia em serviço acompanhado em que tive a companhia do José, um menino que era filho do chefe da tabanca. Foi um dia de muita conversa em que eu procurei saber como era a vida naquele local antes de nós lá chegarmos, das várias coisas que ele me falou, há uma que eu não mais esqueci, foi quando ele a rir me disse que daquilo que eles tinham mais medo antes de nós lá termos chegado, era do passarinho grande (o avião) quando andavam na bolanha. Assim que o viam deitavam-se ficando apenas com um olho fora da água enquanto ele andasse por ali.
Junto à tabamca onde se encontravam dois pelotões e quase toda a formação da nossa companhia, quando lá chegamos já eles tinham um abrigo junto a um mangueiro onde várias pessoas da tabamca, certos dias, passavam grande parte do tempo, o que nos causava alguma apreensão, talvez eles soubessem de alguma coisa que nós desconhecíamos.
A vida das crianças em Mansambo e Cobumba, sempre me causou bastante preocupação ainda que nem sempre a expressasse. Esse modo de eu as observar e sentir alguns dos problemas que elas tinham de enfrentar, talvez tivesse a ver com a situação difícil porque passei quando parti para a Guiné (a primeira vez) no dia 24 de janeiro de 1972 o meu filho tinha ficado com a mãe no hospital, onde tinha nascido há dois dias.
António Eduardo Ferreira
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Notas do editor:
[1] - Comentário deixado no Poste 22201:
Anónimo Cherno Baldé disse...
Amigo Eduardo Ferreia, um abraço de parabéns, com votos de saúde e felicidades na certeza de que não se esqueceu das crianças de Mansambo e d'outras localidades por onde tem passado na Guiné.
Cherno AB
Vd. poste de 5 DE JULHO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10119: Pedaços de um tempo (António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CART 3493) (3): Crianças de Mansambo, jamais vos esquecerei!
Último poste da série de 7 DE ABRIL DE 2021 > Guiné 63/74 – P22079: (Ex)citações (383): Os conflitos e a dedicação do povo. Gratidão. (José Saúde)
Guiné 61/74 - P22218: Os nossos seres, saberes e lazeres (452): Lembranças para Gonçalo Ribeiro Telles (2) (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Encontrar uma fotografia em que apareço ao lado do consagrado ambientalista Gonçalo Ribeiro Telles, com quem tive a honra de participar em colóquios e debates, foi o ponto de partida para recordar um passeio por ele guiado nas imediações da sua casa, na Rua de São José, igualmente neste local funciona a sede do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas. O passeio começou propriamente junto da Sociedade de Geografia de Lisboa, falou-se da vida animada em torno da Rua dos Condes (Cinema Condes, Cinema Olímpia, Odéon, Coliseu) das muitas casas apalaçadas entre a Rua de São José e Rua de Santa Marta, parou-se no Pátio do Tronco, onde Camões esteve preso, andou-se pelo Largo da Anunciada, passou-se a Rua do Telhal, muitos comentários houve da Igreja de São José dos Carpinteiros e Gonçalo Ribeiro Telles apontou para todas as tasquinhas e foi lembrando que estávamos igualmente num velho itinerário utilizado pelos saloios que depois das suas vendas na Praça da Ribeira subiam as Portas de Santo Antão até perto do Conde Redondo e daqui para São Sebastião da Pedreira. Passeio magnífico, e parece-me bem apropriado recordar tão prestimoso guia, um dos sábios mais gentis, disponíveis e desafetados que conheci. Talvez por ser sábio...
Um abraço do
Mário
Lembranças para Gonçalo Ribeiro Telles (2)
Mário Beja Santos
Convidado para coordenar uma semana cultural bancária, de um sindicato sediado na Rua de São José, logo me ocorreu sugerir uma visita-guiada a esta rua e imediações, encontrar significados para este itinerário, a sugestão foi aceite e não me ocorreu melhor guia do que um seu perfeito conhecedor e intérprete, Gonçalo Ribeiro Telles. Em sua casa debatemos várias hipóteses sobre edifícios a visitar. Ainda se pensou começarmos pelo Largo de São Domingos, entrar no Palácio Almada, depois no Teatro Nacional D. Maria II, entrar na Casa do Alentejo, seguir para a Sociedade de Geografia de Lisboa, e foi nesta digressão que o Gonçalo Ribeiro Telles me fez descer à terra e lembrar que um passeio com paragens, entradas e saídas, comentários, ou era uma visita de um dia inteiro, com petiscos pelo meio, ou havia que moderar os ímpetos. E assentámos nessa moderação de ímpetos. Depois de termos saído da Sociedade de Geografia de Lisboa, de ele ter feito comentários ao Teatro Politeama, falou da vida cultural da Rua dos Condes, olhando com tristeza a degradação a que chegara o Odéon (felizmente que está a ser requalificado, a sua bela fachada permanecerá), levou-nos até ao Pátio do Tronco onde o autor d’Os Lusíadas, depois de uma rixa valente, entrou na prisão que existia neste local. E prosseguimos para o Largo da Anunciada.
Na minha memória, o que havia de mais significativo no Largo da Anunciada era um bebedouro mandado fazer pela Liga Protetora dos Animais, ali bem perto da Companhia das Águas de Lisboa, a ervanária (que ainda hoje existe) e a Igreja de São José da Anunciada onde, nos meus trinta anos, fui ao velório do Dr. Cícero Galvão, que fora meu responsável no meu primeiro emprego, quando trabalhei em mecanografia. A Igreja sempre me pareceu uma coisa insípida. O guia confirmou. É uma estrutura do século XIX com um padrão arquitetónico fora do tempo, o anacronismo estampa-se no próprio altar com as suas colunas em volutas, como se estivéssemos no barroco. Foi entrada por saída, mas ainda deu para descobrir uma curiosidade, o interior da lanterna parece insinuar que estamos a olhar para o céu infinito, onde Deus nos espreita. E partimos seguidamente para a Rua de São José, o Elevador do Lavra ter-nos-ia propiciado ir ver o Jardim do Torel, mas não havia tempo, passou-se pela casa apalaçada onde a administração dos CTT pontificava (curiosamente, anos depois desta quinzena cultural bancária ali fui assistir ao lançamento do selo que homenageou José Saramago, guardo o selo e o autógrafo do homenageado), seguia-se a Cooperativa Militar fundada pelo rei D. Carlos, atravessava-se a Rua do Telhal, o guia aponta para o andar onde funcionava uma Liga de Cegos, vai apontando para as tasquinhas, comenta a importância das travessas que vão sulcar todo o trajeto até Santa Marta, mostra pormenores deliciosos como belos azulejos incrustados na parede de edifícios.
Guardo memórias muito agradáveis de passeios que aqui dei para bisbilhotar bricabraque e antiguidades. Trabalhei no Ministério do Comércio Interno e Ministério do Comércio e Turismo entre 1975 e 1977, muitas vezes fiz jornada contínua entre as nove e as cinco e meia, para ter o prazer de andar aqui à caça de pechinchas, algumas vezes fui bem-sucedido. Este universo mudou, mas ainda encontrei uma recordação, há mais de vinte anos comprei aqui uma bela lâmpada Arte Deco ao sogro do senhor que aparece na fotografia, falámos de tudo um pouco, a pandemia afetou profundamente este tipo de negócios, mas ele gosta a valer do que faz.
Estamos em frente ao Hospital de Santa Marta, os participantes começam a dar sinais de cansaço. Ainda bem que o guia prescindiu de irmos visitar os belos azulejos que forram as paredes do claustro do antigo convento. Aqui expirou em 1986 o meu querido amigo Ruy Cinatti, este troço da Rua de Santa Marta está a ser alvo de muitas intervenções no presente e a casa apalaçada da Universidade Autónoma mantém a cara lavada. Lembrei-me de que aqui existia a União Gráfica e o jornal onde publiquei poesia no fim da adolescência. E subimos em direção ao Conde Redondo, o guia vai mostrar o itinerário seguido pelos saloios em direção a São Sebastião da Pedreira, a Estrada de Benfica e depois as portas, que davam pelo nome de Brandoa.
E aqui acaba o passeio, para nosso pesar. Entrega-se uma singela lembrança ao mais proveitoso dos guias e cada um segue o seu destino. Nunca cansado de ver a Rua Rodrigues Sampaio, era ali que eu ia entregar os meus artigos para o Jornal de Notícias e muitas vezes pedia licença para entrar no Hotel Império, dali segui até ao Cinema Tivoli e fui visitar o Palácio Lambertini onde em 1974 trabalhei na Direção-Geral de Preços, até seguir para o Ministério do Comércio Interno, no Terreiro do Paço. E nunca me canso de ver o Hotel Vitória, uma das obras-primas de Cassiano Branco. Agora é só pensar no próximo passeio.
Nota do editor
Último poste da série de 15 DE MAIO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22203: Os nossos seres, saberes e lazeres (451): Lembranças para Gonçalo Ribeiro Telles (1) (Mário Beja Santos)
Guiné 61/74 - P22217: Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo (António Graça de Abreu) - Parte VI: ilha da Elefanta, Bombaim ou Mumbai , Índia, 2016
Continuação da série "Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo" (*), da autoria de António Graca de Abreu [, ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74.
Ilha da Elefanta, Bombaim, Índia
É de estarrecer a promiscuidade, a porcaria, a miséria em que esta gente vive mergulhada! Custa a crer. Mas que serenidade, que compostura, que dignidade generalizadas.
Miguel Torga, Diário XV
Novembro de 2016.
Aí vou numa utilitária barca de Madeira para os vinte quilómetros desde o porto de Bombaim até à ilha da Elefanta.
Chego. Cabras, vacas e macacos passeando-se nas entradas e nos socalcos da ilha, montões pestilentos de excrementos sagrados espalhados por tudo quanto é sítio. Mais acima, nas grutas suspensas em quinze séculos de obscuridade, estátuas delapidadas de Brahma, o criador, de Vishna, o preservador, de Shiva, o destruidor. Tudo Património da Humanidade, pela Unesco. Avançar pela mitologia hindu de que sei tão pouco.
Sempre me fez confusão a mescla deliberada entre homens e deuses. Nós, pessoas inventadas pelos divinos seres, eles, os deuses, todos poderosos, criados pelo imaginário carente e necessário dos pobres povos da terra.
Natália Correia (1923-1993), senhora de grandes poemas, que ainda tive a sorte de conhecer e de ter, ao de leve, como amiga, falava dos homens como sendo "um projecto falhado de Deus." Na Índia (ah, e também na nossa terra!) são grandes e pesadas as contas do rosário das imperfeições humanas.
Caminho para o outro lado desta ilha da Elefanta, um monte de arvoredo e rochas rodeado pelo azul de dez mil centúrias. Aqui subsiste o recordar de pedras cinzeladas há meia dúzia de séculos na figura do paquiderme entretanto transferidas para jardins em Bombaim. Daí o nome do lugar que elefantes não tem. Em Cannon Hill, sobrevive, no entanto, uma velha bateria de canhões portugueses. Tudo o mais é passado, a limpar, a depurar no presente.
Há quatrocentos anos atrás, à deriva por todos os oceanos, excelsas gentes da nossa "ditosa pátria", instaladas em Bombaim, por aqui disparavam para o mar e para o vazio. Hoje, no dilacerar da memória, no grito atenuado do entardecer, desaparecidos os elefantes, ouve-se ainda, esbatido nas ondas do Índico, o troar das bombardas.
António Graça de Abreu
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sexta-feira, 21 de maio de 2021
Guiné 61/74 - P22216: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (53): A funda que arremessa para o fundo da memória
Queridos amigos,
A curiosidade de Annette galga os marcos cronológicos da comissão de Paulo entre os anos de 1968 a 1970, naqueles pontos do Leste da Guiné. Quer saber mais, empolgou-se com as histórias da avó Ângela, quer mesmo conhecer episódios referentes à mãe e à madrinha de Paulo, é permanente o entusiasmo com que este fala de tais mulheres que o prepararam para a vida. Tem agora as cartas para conhecer a região de Bambadinca, mormente o Cuor, e o Xime, a que Paulo vai estar ligado até agosto de 1970. Annette questiona-o muito, às vezes é uma autêntica verruma, obriga-o a saltar para o passado, ele não se impacienta nem diz que não, se a começou a amar quando ela se prontificou a pôr ordem em toda a sua presença na Guiné, agora que a ternura entre eles se enquistou avança-se para o passado remoto, até porque ela conhece na perfeição as suas atividades na Bélgica. Há dias ao telefone ele comunicou-lhe que se conhecem há três anos, parece que foi ontem, e um tanto malicioso ele indicou-lhe a data em que pela primeira vez estacionou na Rua do Eclipse, "foste tu que exigiste que eu não voltasse ao hotel, acedi prontamente, havia pólvora, o rastilho foi curto, a chama explodiu, e aqui estamos, fascinados pelo que a sorte nos bafejou".
Um abraço do
Mário
Rua do Eclipse (53): A funda que arremessa para o fundo da memória
Mário Beja Santos
Annette mon trésor, nunca deixas de me surpreender com a avalanche e o surpreendente dos pedidos. Digo surpreendente na medida em que me questionas sobre pessoas e situações que nada têm a ver com o escopo do teu trabalho, a minha presença na Guiné, entre 1968 e 1970. Estávamos ao telefone e falei-te nas minhas três madres fundadoras, comecei pela minha avó Ângela, foi determinante nos meus primeiros anos de vida, tenho 11 anos quando um AVC lhe subtraiu todos os sonhos e a imobilizou, passou a viver entre um cadeirão e a cama, só muito mais tarde é que apareceu uma cadeira-de-rodas e então passeávamos nas redondezas, virá a falecer quando eu tenho 19 anos. Pediste uma fotografia, ela aqui vai, olha bem para este semblante triste, mantê-lo-á toda a vida, a despeito de ser muito carinhosa, solícita e comunicativa. Notei a tua admiração quando te contei a história do casamento, era uma jovem adolescente, os pais anteviram um futuro muito promissor para aquela filha a quem eles mais não poderiam dar que um destino de pequena agricultora numa aldeia ao pé de Tomar. A avó Ângela nem discutiu a decisão dos pais, só exigiu levar as suas bonecas e os seus dois irmãos, será uma relação fraterna excecional que os unirá, ela a mais velha irá ver os seus dois irmãos falecer precocemente.
E pedias igualmente uma fotografia de antes da Guiné, mando-te esta, foi tirada quando me promoveram a aspirante oficial miliciano, aí tens o menino e moço que dentro em breve embarcará com o destino de Ponta Delgada. Neste mesmo barco regressarei da Guiné, em agosto de 1970, chamava-se Carvalho Araújo, pertencia ao lote de barcos alemães apresados pelas autoridades portuguesas em 1916.
E fizeste novo pedido singular, uma imagem com gente da Associação Europeia de Consumidores, as tais reuniões que algumas vezes me levam a Bruxelas e à alegria de estar contigo, seja na Rua do Eclipse seja noutras paragens. Introduzo um elemento novo, julgo que para ti terá alguma utilidade ver as cartas geográficas das regiões onde vivi e mesmo onde combati, começo pelas cartas geográficas de Bambadinca e do Xime, são aquelas que particularmente mais te interessam. Muito há a dizer sobre este mapeamento. Tu já ouviste falar em regiões libertadas pela guerrilha, há para ali muito slogan propagandístico, lembra-te do Cuor, por onde eu me passeava razoavelmente por cerca de três quartos do regulado, a despeito de haver terra de ninguém, e se não me afoitava a avançar em territórios lavrados e onde habitava população civil e o exército popular estava presente era um ditame da prudência, lembra-te daquele acidente em que o Paulo Semedo se sinistrou com uma granada de dilagrama na região do Chicri, foi o cabo dos trabalhos, as transmissões não funcionavam, o maqueiro mais não podia fazer que pensar aquele corpo devastado por estilhaços, foi uma longa e penosa retirada, e muito desmoraliza termos um ferido em estado grave que não se pode evacuar com rapidez. Quanto ao Xime, falaremos mais adiante, estamos agora no período de novembro a dezembro de 1969, começaram a surgir informações que o PAIGC tendia a aproximar-se de Bambadinca fazendo pressão nos regulados fiéis aos portugueses, Cossé e Badora. As diferentes etnias que habitavam os Nhabijões estavam sujeitas ao duplo controlo, depois de eu regressar chegaram mesmo a pôr minas na estrada que ligava os reordenamentos a Bambadinca, vinham de noite e faziam exigências, queriam comida e tabaco, não se podia negar com medo das represálias, as famílias viviam divididas entre o lado português e a guerrilha. Para garantir a segurança de Bambadinca criou-se um arremedo de destacamento na ponte de Undunduma, procurou-se um ponto altaneiro com mais visibilidade a toda a volta, dormíamos nuns buracos com camas e mosquiteiros, maior desconforto não podia haver, quando nos batia à porta este tipo de suplício, procurávamos melhorar as fieiras de arame farpado e manter os abrigos limpos.
Tens aí a minha correspondência para vários destinatários com o nosso dia-a-dia sem parança. Eu começara a cismar com aquela história do patrulhamento à volta da pista de aviação, o corpo e a mente deram de si na noite de 2 de dezembro. Tínhamos andado ali às voltas, não tinha ilusões de que eramos perfeitos alvos em movimento, caminhámos para a estrada que leva exatamente para o rio de Undunduma, para fazer um alto, seriam aí duas da madrugada. E vou escrever que senti tremuras, um suor frio, um formigueiro nos lábios, um peso na caixa torácica, não sei a proveniência destas manifestações, jantei ligeiro, nunca bebo mais de dois copos de vinho, não sei se o que sinto é náusea, tudo se tolda à minha frente, caio redondo no chão, oiço vozes de dois soldados possantes, Tunca Sanhá e Nhaga Macque, que me soerguem e me levam a cambalear até ao quartel. Sinto que durmo e acordo com sobressaltos, de manhã cedo vou à enfermaria e descubro que tenho a tensão elevada. Falei com o médico, de nome Vidal Saraiva, auscultou-me, olhou-me bem e disse-me que eu estava a ter manifestações de cansaço extremo, que não me preocupasse, iria informar o comandante que precisava de dois dias inteiros na cama. Tento explicar a este excelente camarada como passo os dias, ele atalhou a conversa, sabe muito bem que o nome pomposo de intervenção significa reforços, escoltas, emboscadas, patrulhas, há mesmo uma intervenção que lembra uma variante de Polícia Militar junto das populações civis que são visitadas pelos guerrilheiros. Disse para não me preocupar, e ali estava a olhar para o teto quando entrou o major de operações para me dizer que está a preparar uma operação no Xime e que conta comigo, que eu esteja tranquilo, a data ainda não está marcada.
Junto outra carta em que me ocorreu contar o que era comandar uma coluna ao Xitole, era uma completa novidade para mim, mas não desgostei da experiência. Acho que deves tomar isso em consideração, mais adiante mando-te imagens, toda aquela imensa estrada que liga Bambadinca ao Xitole é orlada de mata frondosa, mas não esconde apreensão por aqueles quilómetros de capim alto que são intimidantes, dali pode partir uma emboscada, e aquela coluna é um somatório de dezenas de viaturas civis e militares, na testa vai uma GMC e uma autometralhadora, os Unimog seguem intercalados com as viaturas civis, imagine-se o pandemónio que seria rebentar ali uma emboscada, na frente, no meio ou na retaguarda. Verás pelas imagens a espetacularidade daquele mundo vegetal, passamos pela última tabanca fiel aos portugueses, Samba Juli, depois são rios, pontões e cerca de três horas depois atravessa-se o rio Corubal, passa-se por uma tabanca que já não existe que dava pelo nome de Portugal, chega-se ao Xitole, uma importante população, onde no passado devia haver algumas representações comerciais, no meio de uma enorme algazarra descarrega-se toda aquela mercadoria, já se amontoam na berma sacos enormes, é uma operação que decorre em tempo recorde este descarregar e carregar de novo, e se viermos numa nuvem de pó empoeirados como fantasmas desenterrados vamos regressar, são montada seguranças pelo caminho, é lícito que nos apressemos para não darmos meios a que a guerrilha reaja, e pelas cinco da tarde esta imensa coluna de viaturas detém-se no mesmo sítio de onde partiu, entre as duas portas-de-armas do quartel de Bambadinca. Os transportadores das viaturas civis despedem-se, correu tudo muito bem, as viaturas militares regressam aos estacionamentos, recolhem-se as armas e munições. E quando me preparava para remover aqueles quilos de pó de laterite acumulada entre o cabelo e os pés, o mesmo major de operações que prometia não me inquietar nos próximos dias ordenava um patrulhamento para a manhã seguinte, exatamente para a região de Badora, onde grupos de guerrilha revelavam a sua presença ameaçadora.
Adorada Annette, aqui tens apontamentos até à primeira semana de dezembro, deixo agora as boas notícias para o fim. Mandaste-me datas das tuas disponibilidades em junho, vou imediatamente comprar a passagem de avião. Haverá, como te recordas, um dia de permeio das férias em que reunirei com a Direção da Associação Europeia. E a última boa notícia é que volto a Bruxelas no fim do mês de junho para a tal conferência sobre a presença portuguesa na Bélgica, estou a organizar a papelada, mas já disse que sim ao Noël Molisse, o organizador destas conferências. É viagem meteórica, não te esqueças que é período de exames e tenho a pesada responsabilidade junto da Comissão Europeia com a organização do Concurso Europeu do Jovem Consumidor. Comme toujours, bien à toi, des souvenirs interminables, Paulo.
(continua)
Annette, compreendo perfeitamente a tua curiosidade quanto ao casamento da minha avó Ângela. O marido pôs anúncio no jornal, um tio da minha avó leu-o lá em casa, o pai da minha avó mandou fotografia da criança, o Sr. António Joaquim da Costa, a viver em Lucala, respondeu a dizer que casava com a menina, de 14 anos. Confrontada com os ditames da família, a avó Ângela fez duas exigências, mesmo indiferente à fotografia do Sr. Costa, que acompanhava o pedido de casamento: queria levar todas as suas bonecas e os muito amados irmãos. Ei-la já casada, o rosto espelha a tristeza que sempre lhe conheci, emoldurada pelos irmãos, ele adolescente pernalta, ela uma menina muito enfiada, os seus nomes eram José e Lucília, serão companheiros inestimáveis, terão negócios com o Sr. Costa em N’Dalatando (Vila Salazar), Malanje e Lucala
Annette, que pedido o teu, uma imagem de alguém que acaba de sair de Mafra e vai para Ponta Delgada, a fotografia era obrigatória, o aspirante oficial miliciano tem cartão militar, passa a constar das repartições, é obrigatória a identificação. Ei-lo, um tanto hirto, pronto para ganhar o futuro, estamos em setembro de 1967, não sei se encontrarás qualquer afinidade pelo tal senhor que tu dizes, quase 35 anos depois da fotografia, que é a Estrela Polar da tua vida
Annette, pediste-me imagens das nossas reuniões ao nível da Associação Europeia de Consumidores. Encontrei estas duas que têm a data de 20 de dezembro de 1999, eu era mais ou menos assim quando te conheci. E, curiosamente, num espaço um tanto idêntico àquele em que nos vimos pela primeira vez, uma pequena sala de um edifício da Comissão na Rue Froissart, tinha sido agendada uma reunião com o comissário David Byrne, que tutelava a Saúde e os Consumidores, solicitámos que nos dispensassem a sala duas horas antes, a Direção reuniu, ali podes ver os meus colegas italianos, espanhol, franceses, belga, luxemburguês e sueco, na fotografia de baixo já estamos a reunir com David Byrne, que tem o dossiê entre mãos, finda a reunião, mudámos de poiso e fomos para a Rue du Commerce, muito trabalho até ao anoitecer, estava aprovado o nosso programa de atividades para os três anos seguintes, infelizmente tudo correu mal, como tu bem sabes
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Nota do editor
Último poste da série de 14 DE MAIO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22200: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (52): A funda que arremessa para o fundo da memória
quinta-feira, 20 de maio de 2021
Guiné 61/74 - P22215: Casos: a verdade sobre... (24): o roubo de 200 cartas (ou mapas) do Serviço Cartográfico do Exército, atribuido às Brigadas Revolucionárias, em dezembro de 1972: o seu impacto no CTIG (Luís Graça / C. Martins / António J. Pereira da Costa)
Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Bambadinca, a porta do leste > Carta de Bambadinca > Escala 1/50 mil (1955) > Detalhe, posição relativa de Bambadinca, posto administrativo do concelho de Bafatá, com as várias direções: a norte,o regulado do Cuor (Finete e Missirá, Fá Mandinga); a nordeste, Bafatá; a sul, Mansambo, Xitole, Saltinho; a sudoeste, Xime; a oeste, Enchalé, Portogole... A única zona a que ainda não tinha chegado a guerra era a leste e imediatamente a sul de Bambadinca, abrangendo o regulado de Badora... Todos os outros regulados (Enxalé e Cuor, a norte do Geba), Xime e Corubal (a sul) estavam em guerra...
Infografia : Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2015)
1. Comentários ao poste P22208 (*)
Luís Graça
C. Martins, salvo melhor opinião, e respeitando a tua, eu não daria tanta importância assim às acções das Brigadas Revolucionárias… (Enfim, acaba de morrer, vítima de Covid-19, um dos seus cofundadores e líder, o Carlos Antunes).
Leia-se, em todo o caso, com atenção este excerto da tese de doutoramento em História, já aqui citada po mim, a propósito do assalto aos serviços cartográficos do exército, em dezembro de 1972, pp. 289/290 (**)
"(…) 4.2.7. Assalto aos serviços cartográficos do exército
Em Dezembro de 1972, as Brigadas Revolucionárias realizam um assalto aos Serviços
Cartográficos do Exército e apoderaram-se de cartas militares de Angola, Guiné, Cabo Verde e Moçambique que seriam, posteriormente, entregues aos movimentos de libertação das colónias.
Os planos desta acção foram sofrendo várias alterações, pois parecia difícíl entrar nos
Serviços Cartográficos. Por fim, prevaleceu a ideia de fazer o assalto através do Laboratório de Engenharia Civil, por haver ligações entre as duas instituições e porque um dos elementos das BR, Maria Elisa da Costa, trabalhava aí. Maria Elisa confirmou a existência de mapas, mas não sabia como chegar a eles, nem tão pouco de que tipo de mapas se tratava. Porém, conhecia um funcionário dos Serviços Cartográficos que, na altura prestava serviço militar no Laboratório.
Reuniram com ele diversas vezes ao longo de várias semanas e compreenderam que a melhor forma de entrar nos Serviços Cartográficos seria de noite, de modo a retirar os mapas de madrugada. José Paulo Viana ficou encarregado de executar a acção, entrou disfarçado no edifício, escondeu-se, e às duas da manhã abriu a porta aos restantes elementos das Brigadas, que retiraram os mapas.
No total foram retirados cerca de 200 mapas que, de acordo com os movimentos de
libertação, constituíram um instrumento importante para a intensificação da luta, pois permitiram planear de modo mais eficaz a movimentação das tropas africanas no terreno.
A acção expressava a solidariedade e entreajuda entre os movimentos de libertação e as BR, traço fundamental da sua orientação, no sentido de articular a luta nas colónias com a luta no interior, já que defendiam que o fim da guerra colonial dependia do fim do regime.
A partir desta acção verificaram-se excepcionais medidas de segurança em todas as
instalações militares (...) , não impedindo, porém, que as BR viessem a realizar novas acções dentro da instituição militar, como se verificou em 1973. (,,,)"
Ainda voltando à carga...
Meu querido amigo e camarada C. Martins, pergunto:
(i) em 200 cartas ou mapas que teriam sido roubadas dos serviços cartográficos do exército pelas Brigadas Revolucionárias, em dezembro de 1972 (e posteriormente entregues ao PAIGC, MPLA e FRELIMO, a partir de Argel), quantas seraim as respeitantes à Guiné ? (Só as da Guiné eram mais de 70, no total)...
(ii) a nossa doutora Ana Sofia de Matos Ferreira (e seguraente o seu orientador) não sabia do que estava a falar quando escreveu esta enormidade: "Eram mapas secretos, que registavam o posicionamento das tropas portuguesas no terreno e planos de ataque aos movimentos de libertação." (!!!)
(iii) recorde-se que as cartas ou mapas da Guiné estão publicadas no nosso blogue, desde 2005, por cortesia do nosso camarada Humberto Reis: "Quando voltou à Guiné-Bissau, em 1996, em viagem de negócios (mas também em romagem de saudade), o Eng. Humberto Reis (ex-furriel miliciano da CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71) já tinha adquirido as 72 cartas da antiga província portuguesa, à escala de 1/50.000. (...) Em Dezembro de 94 já me custaram 450$00 cada uma". O mapa geral custou 600$00."
(iv) by the way, o Humberto gastou, em 2005, 33 contos pela aquisição das 73 cartas (, com a devida autorização da embaixada da República da Guiné-Bissau!), o que, a preços de hoje, equivaleria a cerca de... 200 euros (!);
(v) deixámos logo expressa, em 2005, a nossa homenagem aos nossos cartógrafos militares:
(...) "Fica também aqui a nossa homenagem aos valorosos cartógrafos militares portugueses. Esta (a de Bambadinca) e outras cartas da Guiné resultam do levantamento efectuado em 1955 pela missão geo-hidrográfica da Guiné – Comandante e oficiais do N.H. Mandovi. A fotografia aérea é da aviação naval (Março de 1953). Restituição dos Serviços Cartográficos do Exército. Fotolitografia e impressão: Arnaldo F. Silva. A edição é da Junta das Missões Geográficas e de Investigações do Ultramar, do antigo Ministério do Ultramar, s/d. Digitalização efectuada na Rank Xerox (2005)."
(vi) todo este trabalho da cartografia portuguesa é dos anos 50, longe ainda do início da guerra, pelo que os mapas (ou cartas) nunca poderiam (nem nunca seria essa a intenção dos nossos cartógrafos) dar qualquer informação relevante sobre o dispositivo das nossas tropas (aquartelamentos e destacamentios) e muito menos sobre as "barracas" do PAIGC...
(vii) por outro lado, tirando um ou outro artilheiro, cabo-verdiano ou cubano, quem eram os comandantes da guerrilha que sabiam utilizar as nossas cartas, nomeadamente para efeitos de regulação de tiro de armas pesadas de infantaria e de arilharia ?... Se é que alguma vez foram utilizadas!... )Memso em Guileje, foi tudo a "olhómetro"!)...
C. Martins
(..) Quanto aos comunicados do PAIGC, valem o que valem, que é zero, aliás com o exagero e aproveitamento de sempre.
Quem colocou os engenhos explosivos, em Bissau, foram as BR. Cada um pense o que quiser. No mato gozamos com a situação caricata na piscina do QG.
Quanto a doutoramentos sobre a guerra colonial, de alguns só dá vontade de rir da ignorância tanto dos doutorandos como dos avaliadores.
Sobre as cartas militares se soubessem utilizá-las, nomeadamente para fazerem fogo com a artilharia, seria muito complicado para as NT.
Senti isso em Março de 74 quando fomos flagelados com granadas incendiárias caindo todas na orla da mata em frente aos obuses. Mais tarde soube que os cálculos de tiro foram feitos por oficiais cubanos, e mesmo estes, felizmente para nós, não eram muito eficazes, provavelmente porque tinham que mudar constantemente a base de fogos. (...)
António J. Pereira da Costa
Os "mapas" (cartas 1/50.000) eram classificados de "reservado". Obviamente que o trabalho de localização dos quartéis era um trabalho a fazer pelos guerrilheiros, o que não seria difícil. As nossas posições eram mais "conhecidas do que o peixe frito" e ninguém assinalaria a posição dos quartéis nos mapas em depósito no Serviço Cartográfico do Exército (SCE).
Devo esclarecer que as cartas do SCE - em 1/25.000 ou em 1/50.000 - eram muito perfeitas.
As cartas 1/25.000 (em uso na Metrópole) eram muito parecidas com pranchetas de tiro e durante muitos anos eram a única carta de fomento que existia no nosso país
Sempre me surpreendeu que o PAIGC não se tivesse envolvido mais cedo em acções de terrorismo urbano. Tinha todas as condições para isso. Ter-se-á limitado a colectar informação junto da estrutura militar ou civil (entre os habitantes da cidade).
Lembro o ataque a todos os quartéis da área de Bissau no noite de 09/10Jun71, assim como as flagelações à BA 12, que só pode ter sido levado a efeito com uma estrutura deste tipo.
A BA 12 considerava como ponto muito sensível a enfermaria que ficava junto da casa da guarda e a cerca de 5 metros da estrada. O pessoal da BAA 3434 tinha ali um posto de sentinela guarnecido por 3 homens e uma metralhadora quádrupla.
Dá-me a impressão de que os guerrilheiros tinham um certo receio que lhes tolhia(?) a eficácia. (,...) (***)
Revisão / fixação de texto: LG
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 17 de maio de 2021 > Guiné 61/74 - P22208: (D)o outro lado do combate (66): As sabotagens do PAIGC, em Bissau, no início de 1974 (Jorge Araújo)
Disponível aqui em formato pdf:
https://run.unl.pt/bitstream/10362/16326/1/Tese%20Doutoramento%20Luta%20Armada%20em%20Portugal.pdf
quarta-feira, 19 de maio de 2021
Guiné 61/74 - P22214: Historiografia da presença portuguesa em África (263): Corografia cabo-verdiana das ilhas de Cabo Verde e Guiné, 1841-1843 (5) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Abril de 2021:
Queridos amigos,
Aqui se põe termo à recensão do trabalho do gGneral Chelmicki no tocante à Guiné Portuguesa, que ele considera ser uma colónia de exportação. Emite sérias advertências quanto às colónias que visitou e que correm grandes perigos, como escreve: "Bem sabemos que haverá quem considere que este esboço de um brilhante futuro como visões quiméricas. Porém, no estado atual, caminhando e esperando pela sua total e próxima dissolução, não é possível assim conservar tais possessões. Pois em breve, nos pontos intermediários desocupados, estabelecendo-se os estrangeiros, como já têm principiado, acabarão o nosso comércio e cairão os estabelecimentos".
Isto tudo para recordar que o oficial foi extremamente minucioso, propondo medidas de defesa (o mesmo é dizer de ocupação) de incentivo à agricultura, à morigeração das alfândegas já que os empregados, com os salários em atraso, faziam grande contrabando e toleravam o comércio direto dos estrangeiros com os gentios. Era preciso agir rapidamente, a questão do Casamansa era extremamente gravosa, havia cada vez mais franceses. Sabemos em que deu o desleixo. Em Portugal, estava-se no rescaldo da guerra civil, surgia uma nova classe política e empresarial, tinha havido a revolta da Maria da Fonte que acabou por liquidar o governo de Costa Cabral, em breve entrar-se-á na Regeneração, continuou o silêncio sobre a Guiné. Em 1879, deu-se a separação da província, os conflitos étnicos agravaram-se e os sonhos de Chelmicki não tiveram realização.
Um abraço do
Mário
Corografia cabo-verdiana das ilhas de Cabo Verde e Guiné, 1841-1843 (5)
Mário Beja Santos
José Conrado Carlos de Chelmicki é autor da "Corografia Cabo-verdiana ou Descrição Geográfico-Histórica da Província das Ilhas de Cabo Verde e Guiné", em dois volumes, tendo sido o primeiro publicado em 1841. Este Tenente do Corpo de Engenharia nasceu em Varsóvia, é um jovem quando vem combater pela causa liberal em Portugal, distingue-se pela sua bravura, foi Cavaleiro da Ordem de Cristo, da Torre e Espada, de Nossa Senhora da Vila Viçosa, igualmente condecorado em Espanha, distintíssimo oficial colocado em vários pontos do país, deve-se-lhe uma obra singular, uma descrição ampla e certamente documentada de uma Guiné que poucos anos depois da publicação dos Tomos I e II é alvo de um documento que vem confirmar o que ele observara na sua digressão numa Guiné sem fronteiras, refiro-me concretamente à Memória da Senegâmbia, de Honório Pereira Barreto. São dois volumes com o recheio precioso de informação, já descreveu uma súmula histórica, percorremos os dois distritos da colónia, Chelmicki alertou para as potencialidades agrícolas, ao tempo o tráfico de escravos caminha para o fim, era crucial encontrar alternativas, atrair investimentos, trazer mais gente.
Ganha-se a consciência de que o distinto oficial recebera a incumbência de tudo anotar e tudo perguntar, desde os usos e costumes, a natureza das gentes, onde e como se produzia, o sistema defensivo, a Saúde, a Educação, não se fica com a convicção de que foi a todos os lugares, mas vemo-lo altamente informado e conclui com raro entusiasmo, propondo a afluência de gentes, havia que contrariar o estado deplorável em que se encontrava a Guiné. Propôs pequenos fortes nas embocaduras dos rios; considerou que a Guiné Portuguesa deveria ser uma colónia de exportação de produções agrícolas como de café, arroz, anil, algodão, açúcar. Um comércio ativo em troca dos géneros do país, e enuncia o que se deve exportar: goma, marfim, azeite de palma, tartaruga, ouro, peles, couros. O desenvolvimento iria repousar na agricultura, Chelmicki lembra a superior qualidade da madeira que devia ser destinada para a construção naval e de guerra, bem como para o comércio.
O estado atual da Guiné é como na descoberta, ou pior ainda, pois sem nenhuns haver melhoramentos, vestígios de mão europeia, há nocivos costumes, usos e superstições inveteradas, obstáculos a qualquer inovação. Tudo está por fazer, e como tudo é possível consegui-lo com os rendimentos da Província, ficando para o futuro os lucros à metrópole.
Assim da imediata precisão é ocupar o Ilhéu dos Mosquitos na foz do Casamansa, como obter a cessão de Sedhiou, ponto que no mesmo rio ocuparam os franceses, violando todos os tratados inclusive o de 1814, onde claramente se considera este rio de Casamansa como pertencente unicamente à Coroa Portuguesa. Simultaneamente deve ocupar-se a embocadura do Rio Grande e Rio Nunez, formar um estabelecimento na Bolama e Ilha das Galinhas, e pôr uma guarnição nos ilhéus do Rei e de Bandim”. Lembra a quem o está a ler que no Rio Grande de Buba e Rio Nunez há restos de ruínas de antigos mas abandonados estabelecimentos, diz haver grande comércio de ouro em pó na Guiné, comenta dizeres de viajantes que referem haver muito ouro no reino de Geba (o que se demonstrou ser falso). E assim termina:
“Eis a descrição geográfica da província das ilhas de Cabo Verde e costa da Guiné, no desgraçado estado em que está atualmente. Com muitíssimo talento, conhecimento de causa e profundeza, tratou este mesmo objeto o Exm.º Visconde de Sá da Bandeira, no seu belo relatório do Ministério do Ultramar de 19 de fevereiro de 1836. Oxalá que o sábio Congresso Legislativo atenda como convém. Limitamos aqui a descrição da província das ilhas de Cabo Verde e Guiné; embora sentimos com demasia a sua insuficiência, e quanto restava ainda a dizer a penas mais hábeis que juntassem mais perfeito conhecimento da localidade”.
É um documento, insista-se, do maior interesse, procurei edições recentes da obra e só encontrei editores estrangeiros, é lastimável a falta de edição portuguesa. Chelmicki regista os efetivos militares, propõe a criação para a Guiné de um primeiro batalhão de caçadores de África que se repartiria por Bissau, Cacheu, Geba, Farim, Fá, Bolama, Ilha das Galinhas, deu-nos a saber o estado deplorável em que estavam os edifícios religiosos da Guiné em S. José de Bissau, a Igreja de Nossa Senhora da Graça em Geba, a Igreja de Nossa Senhora do Nascimento em Cacheu, a Igreja de Nossa Senhora da Graça em Farim e a Igreja de Nossa Senhora da Luz em Ziguinchor, tudo a pedir reparos. Ao tempo em que Chelmicki viajou já só havia lembranças de conventos e hospícios, tudo se perdera. “O convento de Bissau era mais pequeno que o de Cacheu, sempre conservava porém pelo menos três ou quase religiosos; tinha uma cerca com muitas laranjeiras e uma fonte que servia para os padres lavarem, cozinharem e beberem”. Diz claramente não haver instrução pública na Guiné. Diz que a costa da Guiné é doentia e muitíssimo prejudicial aos europeus. Alude ao temível vento Sirocco ou Harmattan. "O embaciado quase opaco, um pó fino que cobre o ar, a secura da pele, dos beiços e do nariz, como se fossem expostos ao gelo, o encorneamento de livros e papéis, o encolher-se das juntas da madeira, tudo isso são sinais precursores deste terrível filho dos desertos”. Como se disse, descreveu fauna, botânica, geologia e mineralogia. Não é possível avaliar o número de habitantes. O seu quadro das etnias reproduz aquele que foi utilizado por Francisco Azevedo Coelho em 1669: Jalofos, Felupes, Banhuns, Balantas, Cassangas, Brames ou Papéis, Fulas, Nalus e Mandingas. Verdadeiramente sonhador, como se viu atrás, apela a que se mandem vir colonos da Holanda, Suiça e Alemanha e também dos Açores, todos os degredados iriam para a agricultura… Curiosamente quando faz a história da Guiné não fala dos Tangomaus que tanto importância tiveram, durante séculos, no comércio de rios como o Gâmbia e o Senegal. E é tudo, só resta dizer que é um livro de história que interessa a três países, Portugal, Cabo Verde e Guiné-Bissau, é muito estranho que este precioso documento de consulta só esteja acessível num número reduzido de bibliotecas.
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Nota do editor
Último poste da série de 12 DE MAIO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22194: Historiografia da presença portuguesa em África (262): Corografia cabo-verdiana das ilhas de Cabo Verde e Guiné, 1841-1843 (4) (Mário Beja Santos)
terça-feira, 18 de maio de 2021
Guiné 61/74 - P22213: Tabancas da Tabanca Grande (4): A Tabanca de Matosinhos, fundada há 16 anos (!), retoma as "hostilidades", no restaurante O Espigueiro, em Matosinhos, às quartas-feiras (José Teixeira)
Assunto - Tabanca de Matosinhos: Retoma das "hostilidades"
Faço votos para que estejas em boa recuperação. E muita saúde para todos os editores. Junto um pequeno texto sobre a Tabanca de Matosinhos que gostava de ver estampada no nosso bogue, onde se anuncia o retomar das hostilidades de combate à fome de convívio que grassa no espírito dos nos combatentes., com a garantia de continuarem a poder saborear um bom petisco.
Fraternal abraço para todos.
2. A TABANCA DE MATOSINHOS E A COLUNA SEMANAL DE REABASTECIMENTO
A pouco e pouco, devagarinho e com muita cerimónia, o maldito Covid vai deixando que nós possamos respirar um pouco com mais segurança. Os amigos da Guiné-Bissau, ex-combatentes, vão arriscando sair do abrigo em foram obrigados a enfiarem-se por longo e cansativo tempo para se juntarem e darem ao dente no Restaurante O Espigueiro (ex-Milho Rei) em Matosinhos.
Uns menos temerosos que outros, devidamente camuflados e desobedecendo às ordens do comandante, foram aparecendo durante o conflito vírico para matar saudades e a fome que era negra, pé ante pé, escondidos por detrás dos poilões. não fosse o malvado armadilhar a picada ou montar-lhes alguma emboscada.
Agora que o maldito corno do vírus está a esgotar as munições e nós estamos a conseguir coletes garantidamente à prova das suas balas, é tempo de pensar em voltar a fazer as colunas para o Espigueiro a fim de recargar as baterias da amizade que foi sendo construída ao longo dos dezasseis anos de vida da Tertúlia da Tabanca de Matosinhos, aproveitando para encher o bandulho, beber uns copos e conviver enquanto é tempo e temos alguma saúde, porque o tempo de vida e a saúde estão cada vez mais caros e sobretudo mais escassos.
Com a mudança de tempo, temos a nosso favor a famosa sardinha assada, que está a chegar fresquinha e do nosso mar. Foi ela, a sardinha assada, que começou por nos unir nesta façanha de unir combatentes na Guiné, sedentos de um convívio sadio que nos recordasse os belos e menos belos anos passados na Guiné em cumprimento de uma missão. Espinhosa missão que nos roubou anos de vida, destruiu a saúde física e psíquica de muitos e nos roubou amigos de peito. Mas por outro lado nos enriqueceu com amizades geradas na luta pela sobrevivência que jamais esqueceremos e gerou também saudades que nos ajudam a viver o futuro que começa a mostrar o fim da picada.
A vida merece ser vivida com garra, enquanto andarmos por cá. Não a desperdicemos o que a vida tem de melhor. Saibamos saboreá-la no que ela tem para nos dar. Comamos e bebamos com moderação e cuidem-nos porque o covid ainda anda por aí.
Na quarta-feira passada começamos as hostilidades. Éramos poucos, mas vencemos a refrega, como se pode apreciar pelas fotos, mas a “luta” continua.
Assim. na(s) próximas(s) quarta(s) Feira(s), lá estaremos para partilhar gratuitamente os abraços da fraternidade que nos une e foi gerada quando éramos jovens, nas quentes terras da Guiné.
Zé Teixeira
Guiné 61/74 - P22212: Blogpoesia (736): "Escondam-se que eles vêm aí", por Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70)
Olá Carlos Vinhal
Aqui vai mais este trabalhinho para a Tabanca Grande.
Entretanto ficam aqui outros à espera e que serão também enviados muito brevemente.
Por cá vou vendo e lendo o que se vai publicando na Tabanca.
Lembro que fiz comentários em alguns de meus trabalhos, ou seja, fiz esclarecimentos para aqueles que não sabiam o significado de algumas publicações, sobretudo nas que falo de Angola.
Para todos os Tertulianos e em especial, para os Chefes de Tabanca, como tu e o Luís Graça, um grande abraço.
Albino Silva
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Nota do editor
Último poste da série de 16 DE MAIO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22204: Blogpoesia (735): "Brunir o fato"; Abram as portas!..."; "Brincar à macaca" e "Dum momento para o outro", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728
Guiné 61/74 - P22211: Parabéns a você (1964): Joaquim Fernandes Alves, ex-Fur Mil Art da CART 1659 (Gadamael, 1967/68)
Nota do editor
Último poste da série de 15 DE MAIO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22201: Parabéns a você (1963): António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo CAR da CART 3493/BART 3873 (Mansambo, Cobumba e Fá Mandinga, 1971/74)