segunda-feira, 17 de maio de 2021

Guiné 61/74 - P22206: Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo (António Graça de Abreu) - Parte V: Egipto, Alexandria, 2011






Egito, Alexandria> 2011


Texto e fotos de António Graça de Abreu, enviados em 10/5/2021. Continuação da série "Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo" (*), da autoria de António Graca de Abreu [, ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: escritor e docente universitário, sinólogo (escialista em língua, literatura e história da China); natural do Porto, vive em Cascais; é autor de mais de 20 títulos, entre eles, "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura" (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp); "globetrotter", viajante compulsivo com duas voltas em mundo, em cruzeiros, é membro da nossa Tabanca Grande desde 2007, tem mais de 270 referências no blogue]


Alexandria, Egipto, 2011

Oh, Alexandria, velha cidade grega, velha cidade bizantina, onde estás? Onde estão os teus quatro mil banhos, os teus quatro mil circos, os teus quatro mil jardins? Onde estão os teus dez mil mercadores e os doze mil judeus que pagavam tributo ao santo califa Omar? Onde estão as tuas bibliotecas, e os teus palácios egípcios, e o jardim maravilhoso de Ceres?

Eça de Queirós, em A Relíquia


Em 2011, venho pelas águas brandas do Mediterrâneo, meio iluminado pela luz turva do
farol, maravilha do mundo, há quase dois milénios inexistente. Entro na cidade pelo lado do istmo no mar, pela sombra da fortaleza. 

A minha Cleópatra chinesa cobre-se com véus do islão para não ofender crenças locais. Meio inseguros, passeamos entre as gentes. Alexandre, o Grande, há vinte e três séculos inventor do burgo, permanece há muito, silencioso, no vazio. Júlio César, envelhecido numa nuvem, ressona. Abandonada a terra pelos filhos de Roma, chegou, século após século, em avalanches, o grito e o estar dos bons seguidores de Mafoma.

Hoje, sexta-feira, milhares de fiéis muçulmanos reverenciam Alá e Maomé nas mesquitas, ou lá fora, onde ajoelham em alfombras gastas, espalhadas no chão de Alexandria, por tudo quanto á espaço aparentemente feliz nas ruas da cidade.

Caminho. Subo pela grande biblioteca, engenho aprimorado dos homens São os escritos do perpassar de cinco mil anos. Sobraço um volume sobre a China e leio. Vou-me perdendo, ao acaso, no tempo do tempo que adormece. Lá fora, desvanecendo-se, a noite anoitece.

António Graça de Abreu

Texto recebido em 5 de maio de 2021
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Nota do editor:

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