quinta-feira, 1 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22331: Tabanca do Atira-te ao Mar (5): O "círio" ao Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal - Parte III: Os painéis de azulejos com os nomes dos círios


Foto nº 1 > Bombarral > Carvalhal > Recinto do Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 > O 1º "círio" da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã) > Altar campal no sítio das antigas cocheiras > Painel com os nomes das terras da região (Bombarral, Cadaval, Lourinhã, Peniche e Torres Vedras) que, historicamente, realizam os círios ao Santuário



Foto nº 2 > Bombarral > Carvalhal > Recinto do Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 > O 1º "círio" da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã) > Altar campal no sítio das antigas cocheiras >  Painel do Merendeito (Lourinhã), Carvalhal (Bombarral), Papagovas (Lourinhã)  e Seixal (Lourinhã)



Foto nº 3 > Bombarral > Carvalhal > Recinto do Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 > O 1º "círio" da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã) >  Altar campal no sítio das antigas cocheiras > Painel  de Ribeira de Palheiros (Lourinhã), Maxial  (Torres Vedras), Ferrel (Peniche), Atouguia da Baleia (Peniche) e Bolhos (Peniche)



Foto nº 4 > Bombarral > Carvalhal > Recinto do Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 > O 1º "círio" da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã) > 
 Altar campal no sítio das antigas cocheiras > Painel de Casais do Rijo e das Campaínhas (Lourinhã), Carrasqueira (Torres Vedras), Sobral do Parelhão (Bombarral) e Casalinho das Oliveiras (Lourinhã)
 


Foto nº 5 > Bombarral > Carvalhal > Recinto do Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 > O 1º "círio" da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã) >  Altar campal no sítio das antigas cocheiras > Painel  da Marquiteira (Lourinhã), Adão Lobo (Cadaval), Campelos (Torres Vedras), Cabeça Gorda (Lourinhã e Torres Vedras)


 1. Azulejos, pintados à mão, do altar campal, construído no sítio das antigas cocheiras. Não sabemos a data nem conseguimos identificar o autor e a fábrica. Mas devem ser relativamente recentes. Talvez de finais do séc. XX. (Talvez sejam da Oficina Brito, Caldas da Rainha.)

Para além do eventual valor estético e documental, têm inegável interesse socioantropológico, para o estudo daquele santuário e da história dos seus círios. Não resisti a fotografá-los, por ocasião do 1º "círio" da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã).(*)

A Lourinhã, com 8 círios, é o concelho que mais vezes aflui a este Santuário ao longo do ano. Segue-se Torres Verdas (com 4), Peniche (com 3), Bombarral (com 2) e Cadaval (com 1). Mas parece que fica aqui o círio da Bufarda (Peniche), que se realiza a 29 de junho. (De qualquer modo, este ano não vimos lá ninguém, talvez devido à pandemia; e a verdade é que o da Bufrada não consta do registo da página oficial do Santuário.)

Para o ano, a Tabanca do Atira-te ao Mar vai oficializar a sua candidatura a Círio do Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal. Os tabanqueiros gostaram e já apontaram a data nas agendas: 29 de junho de 2022... 

O próximo "círio" será ao Santuário de Nossa Senhora dos Remédios, Cabo Carvoeiro, Peniche. Em data a anunciar.... Aceitam-se inscrições. Almoço: Restaurante Toca do Texugo.

quarta-feira, 30 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22330: Tabanca do Atira-te ao Mar (4): O "círio" ao Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal - Parte II: O que resta dos ex-votos dos antigos combatentes da guerra do ultramar


Foto nº 1 > Bombarral > Carvalhal > Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 >  Museu > Móvel com ex-votos de militares, na sua maioria do tempo da guerra do ultramar,  sob a forma de retratos emoldurados, como prova de gratidão ao Senhor Jesus... Esta amostra é o que resta de uma coleção muito maior, que foi destruída por cheias aqui ocorridas há anos. Na realidade, trata-se de um "nucleo museológico", composto de algumas centenas de peças, e que ocupa apenas uma sala térrea,
 

Foto nº 2 > Bombarral > Carvalhal > Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 >  Museu > Mais um aspecto das peças que estão expostas, sem legendas nem qualquer tratamento temático.


Foto nº 3 > Bombarral > Carvalhal > Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 >  Museu >  Ex-voto:

 "Ao Nosso Senhor Bom Jesus do Carvalhal ofereço a foto de militar para que me proteja sempre nas terras do Ultramar, Angola, João Carlos Jesus Marques"

 Foto nº 4 > Bombarral > Carvalhal > Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 >  Museu >Ex-voto: 

"Boas festas a todos os visitantes ao Senhor Bom Jesus do Cavalhal…

Meu Bom Jesus do Carvalhal: aqui lhe ofereço e outras coisas mais, eu não pude cá vir, mas mandei [ pelos] meus queridos pais este retrato doloroso: é de um homem cheio de fé, ao tirar este retrato encontrava-se em defesa da província da Guiné.

Meu Bom Jesus, eu estou na Guiné a lutar, peço a Deus e a Todos os Santos para sempre me acompanhar, este forte pedido lhe faço. Julgo ser aquilo que eu penso, um pedido com muita fé. Eu um dia o recompenso no regresso da Guiné.

 Meu Bom Jesus, eu de si me despeço, cheio de fé, este soldado fiel que se encontra na Guiné e foi criado no lugar de Ferrel.

Soldado João Miguel da Purificação Rosa, nº 155326/72, A.P. Morteiro, SPM  4238".

 

Foto nº 5 > Bombarral > Carvalhal > Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 >  Museu > Ex-voto: 

"João da Costa, lugar das Matas, freguesia de Lourinhã"




Foto nº 6 > Bombarral > Carvalhal > Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 >  Museu > Ex-voto: 

"Senhor Jesus, tenha piedade de mim e de todos aqueles que lutam pela Pátria. Manuel Pinto da Fonseca. Peniche"
 

Foto nº 7 > Bombarral > Carvalhal > Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 >  Museu > Ex-voto:

" Ofereço a fotografia do meu querido irmão ao Bom Jesus do Carvalhal ao ter cumprido o tempo do seu serviço militar sem novidade alguma. Maria Alice Lima [ ?]  Alexandre, Adão -Lobo  [ Cadaval]." 

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2021). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1.  Não temos falado aqui dos ex-votos, ofertados por antigos combatentes (ou seus familiares), e que existem em todos os nossos santuários, de Norte a Sul do País... Não sei se há estudos sobre estas manifestações de religiosidade, cristã, mas de origem pagã, como muitas outras práticas...

Diz o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa:

ex-voto
ex-voto | n. m.
ex·-vo·to |ó|
(latim ex voto, por causa do voto)

nome masculino

[Religião católica] Peça de cera, de plástico ou de madeira que representa uma parte do corpo humano, podendo ser também uma madeixa de cabelo, um quadro, uma placa ou outro objecto, que os crentes oferecem a Deus, a Nossa Senhora ou a algum santo e que depositam em lugar de culto ao cumprirem um voto ou uma promessa (ex.: o tecto da capela está repleto de ex-votos pendurados em sinal de gratidão).

"ex-voto", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/ex-voto [consultado em 30-06-2021].


2. Não frequento santuários, a não ser em viagens turísticas (*). Por feliz acaso, apanhei ontem aberto o "museu" (sic) do Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal (**).

Sabemos que os edifícios, adjacentes ao Santuário do Carvalhal (casa dos romeiros, cocheiras, parque de merendas,  etc.) degradaram-se com o tempo. A recuperação e a remodelação do Santuário e espaço envolvente foram feitas pelos diversos párocos da freguesia do Carvalhal e pela comunidade cristã local. Não sabemos exatamente ao que aconteceu aos ex-votos ali deixados, ao longo do tempo. Terão ficado ao abandono e uma grande parte terão sido destruídos pela água, em resultado de inundações, foi o que me disse o meu amigo e camarada Jaime Silva.

Aqui ficam algumas fotos que fiz ao acaso, sem qualquer critério. Pode ser que suscitem o interesse dos estudiosos ea curiosidade dos nossos leitores. (LG)

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Notas do editor:


(*) Vd. poste de 31 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9296: Blogpoesia (174): Dies irae! (Luís Graça)

Guiné 61/74 - P22329: Historiografia da presença portuguesa em África (269): O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (6) (Mário Beja Santos)

Uma das salas com os tesouros da Sociedade de Geografia de Lisboa


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Novembro de 2020:

Queridos amigos,
Estamos em 1890, aquele Ultimatum que surgiu em janeiro ajuntou uma comoção nacional, estava-se há pouco tempo a cerzir o tecido do III Império Português, a procurar dar-lhe forma, isto no meio de uma tormenta económico-financeira completamente nova, parecia que se voltara ao tempo anterior à Regeneração, os sócios fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa pareciam apóstolos iluminados pelo farol da civilização, pediam tudo ao Governo, cultuavam os nossos heróis africanos, Capelo e Ivens, Serpa Pinto, dentro em breve Caldas Xavier, Mouzinho de Albuquerque, Paiva Couceiro. Querem-se caminhos-de-ferro, inflexões no surto migratório, quem vive mal no continente europeu deve ser canalizado sobretudo para Angola e depois para Moçambique, apela-se a leis que ponham o indígena a trabalhar. Estas atas são o espelho de um admirável mundo novo onde os portugueses retomam a sua consciência colonizadora, o Oriente longínquo a poucos interessa, fazem-se fortunas nas roças de São Tomé, em Portugal insiste-se na industrialização, ela está a chegar sobretudo a Lisboa, uma parte da intelectualidade, da pequena burguesia e a massa operária aproximam-se do Partido Republicano, que quer uma mudança de regime mas que prossegue de braço dado com o sonho imperial que está a sarar a ferida do trauma brasileiro.

Um abraço do
Mário


O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (6)

Mário Beja Santos

Como é óbvio, é pedir demasiado às atas das sessões dos sócios da Sociedade de Geografia, no período correspondente aos cerca dos primeiros quinze anos de vida, que elas exprimam com meridiana clareza o que de mais vigoroso sobressaía na época quer ao nível do entusiasmo pelo ressurgimento imperial, quer pelos interesses económicos subjacentes, e até mesmo é difícil poder contabilizar as aspirações científicas exclusivamente pelas propostas apresentadas nestas reuniões. Mas que é uma ferramenta indispensável para o culto dos heróis, para o estudo da vida portuguesa neste período em que já passara a Regeneração e que emergiam alterações no xadrez político, não tínhamos dúvidas. Vimos como em 20 de janeiro de 1890 os sócios-fundadores se revelaram compungidos com a natureza do Ultimatum, e reagiram, pedindo afastamento do mundo da libra. É sintomático que nesse dia se tenham apresentado propostas para o estabelecimento de carreiras de navegação regulares entre a barra principal do Zambeze e o começo das Cachoeiras; deu-se a sugestão da abertura de estradas e permitiu-se o trânsito tão longe destas Cachoeiras; e mais se pedia ao Governo: a construção de linhas telegráficas ligando Quelimane, o Lago Niassa, Tete, Zumbo, Manica, Beira, Sofala, Inhambane e Lourenço Marques; e que se mandasse proceder ao estudo das linhas férreas de penetração de Inhambane à fronteira do Transval. Uma leitura possível de tal proposta é que houvesse afastamento dos interesses exclusivamente britânicos e se privilegiasse a região Bóer.

No início de fevereiro, o rei D. Carlos recebe os Órgãos Sociais da Sociedade que protestam contra o insólito procedimento do Governo britânico. O Presidente da Sociedade expôs ao monarca o que estava a ser idealizado para a celebração do IV Centenário da Partida para a Descoberta da Índia e pediu a confirmação da Carta Régia pela qual o chefe de Estado se declarara em 1878 protetor da Sociedade de Geografia. Tudo quanto afirmasse a solidez de Moçambique era de bom augúrio, e na primeira sessão de fevereiro o presidente anunciou que a embaixada da regente de Maputo visitara a Sociedade e manifestara fidelidade à soberania portuguesa. Quatro figuras foram proclamadas sócios honorários: Joaquim José Machado (que proferira antes do Ultimatum conferências avisando para a natureza a cobiça britânica nos territórios situados entre Angola e Moçambique), António Maria Cardoso, Henrique de Carvalho e Victor Cordon. E discutiram-se direitos majestáticos para as companhias que se pudessem implantar em Moçambique, a opinião dominante foi de rejeição, entrara-se num quadro nacionalista e de profunda desconfiança dos interesses britânicos: “Deve ser rejeitada como contrária ao direito constitucional português e como politicamente inconveniente e economicamente errónea a ideia de entregar parte ou todo o território de uma província ultramarina à ocupação e exploração de uma grande companhia mercantil de todos os quaisquer direitos, privilégios ou poderes de soberania ou de jurisdição pública”.

Em junho, muito à moda da época, apresenta-se a proposta de um estudo que hoje é encarado como caricato por qualquer cientista: “Proponho que se promova um inquérito ao estado hodierno físico, moral, intelectual, industrial e artístico do povo português, comparando-o, tanto quanto possível, com o das suas épocas passadas e com o das outras nações europeias”. Pedia-se o impossível, seguramente que se andava à procura de uma base da lusitanidade, queria-se ir ao âmago de uma raça portuguesa, e num país de penúria, já sacudido por uma crise financeira sem precedentes, parecia que se queria conhecer tudo: dados antropométricos; dados sobre a natalidade, mortalidade, crescimento da população, emigração; estudo de todas as doenças, não esquecendo as nervosas e mentais, as dos órgãos de respiração e circulação, lepra, paludismo, febres tifoides e raquitismo; estudo sobre a alimentação principalmente das classes trabalhadoras; estudo tendente a determinar se a indolência, a falta de energia física, que alguns viajantes nos atribuem, é maior que a de outros povos europeus do Sul. Era um estudo de arromba, os membros da Sociedade de Geografia devem ter ficado a olhar uns para os outros e a não saber como moderar o ímpeto do proponente. Porque o estudo ia em todas as direções: pretendia determinar as nossas aptidões industriais e artísticas; até determinar se o uso ou desuso dos antigos jogos tradicionais contribuía para a conservação ou diminuição das forças físicas do povo. E queria-se apurar o estado intelectual do país, até os progressos das ciências desde o estabelecimento do regime institucional, comparado com o absolutismo, em praticamente todas as áreas: matemáticas, física e química, história natural, fisiologia e medicina, ciências sociais, ciências históricas e geográficas, ciências filológicas e filosofia. Que grande empreitada!

Suceder-se-ão propostas mais conformes ao realismo como o pedido de um estudo sobre a iluminação e balizagem no arquipélago de Cabo Verde e a homenagem prestada a Henrique Dias de Carvalho, um militar que se revelara um importante administrador colonial. O pretexto da homenagem viera da análise de um documento de Henrique Dias de Carvalho intitulado “A questão da Lunda”, seguira-se um agradecimento de comerciantes da região do Malange aos empreendimentos deste prestigiado major, e é neste papel que vem um curioso apelo colonizador:
“Uma missão que por modesta que seja, no meio da barbárie indígena, significa sempre um esforço generoso da civilização e do cristianismo para melhorar a condição social dos nossos irmãos, e, portanto, é respeitável e respeitada. Uma ocupação militar no meio do sertão, realizada por alguns soldados pretos e um cabo, só desafia o ridículo, e apresenta perante o indígena a fraqueza e a decrepitude daqueles que este julgava fortes e invencíveis. Deixemos, pois, quanto for possível as espadas nas suas bainhas e as balas nos seus cartuchos e lancemos mão do homem da cruz do missionário, e não só do missionário, da irmã educadora, do negociante e de todos os que tiveram a coragem das privações e do sacrifício”.

E com alguma regularidade constata-se que continua a insistir-se na urgência de haver caminhos-de-ferro em Angola e Moçambique. Aparece nesta sessão um texto de uma conferência sobre o Porto, o caminho-de-ferro e o distrito de Lourenço Marques onde em dado momento o Major de Engenharia António José de Araújo proferiu o seguinte:
“O indígena de Lourenço Marques conhece do europeu apenas as vantagens que ele pode proporcionar-lhe, mas recusa completamente, ou executa de má vontade, os encargos que tais vantagens exigem. O indígena deste distrito considera-se credor do dever do europeu em fazê-lo viver, reservando, porém, para si, o gozo da liberdade. O indígena de Lourenço Marques adquiriu os vícios que o convívio do homem branco lhe incutiu, mas guardou bem vivaz a noção da liberdade ociosa e selvagem que gozavam os seus antepassados. Em 1882, via eu o indígena lançar orgulhosamente fora a moeda portuguesa de cobre com que se lhe pagava um pequeno serviço que prestara. Em 1883, via eu os indígenas serviçais dos habitantes do distrito abandonarem a cidade, porque estranhos bem intencionados lhes sugeriram que uma corveta portuguesa de guerra, então surta em Lourenço Marques, pretendia obter indígenas para serviço de bordo, sendo preciso nada menos que a palavra de um governador para que o régulo do Amule fosse visitar aquela corveta, muito embora acompanhado pelos seus secretários grandes e ficando os seus súbditos esperando, armados, na praia, o seu regresso.

Em 1886 e 1887, graças à fome que assolava o distrito, tive o prazer de vê-los a fluir em abundância ao trabalho, mediante 225 reis diários, mas logo no ano seguinte os encontrei exigindo 2,3 e 4 xelins diários para salários. Como, pelas atribuições do meu cargo, eu podia de algum modo regular o custo do braço indígena, intentei lutar, mas fui vencido! E quando eu penso que estes semisselvagens, estes homens problematicamente civilizados, consomem salários superiores aos dos nossos trabalhadores europeus, bebendo álcool e sustentando até ao último requinte o gozo dos seus prazeres sensuais; quando os vejo miseravelmente cobertos, cheios de andrajos, sofismando as leis, mesmo envergonhando-nos, compreendo então que há uma grande lacuna no nosso regime colonial; que é indispensável a todo o custo criar, não só uma lei de trabalho prática, útil e sobretudo eficaz, mas ainda uma reforma judicial que habilite os magistrados a rapidamente aplicarem justiça”
.

(continua)

Durante anos, era este o aspeto do vestíbulo da Sociedade de Geografia, o quadro de Veloso Salgado estava à altura dos nossos olhos
Pormenor da Sala Portugal no decurso de uma exposição
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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22310: Historiografia da presença portuguesa em África (268): O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (5) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P22328: Tabanca do Atira-te ao Mar (3): O "círio" ao Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal - Parte I: como há 62 anos, em 29 de junho de 1959...


Foto nº 1 > Bombarral > Carvalhal > Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 > O 1º "círio" da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã) > Esperemos que seja o primeiro de vários que ainda tencionamos fazer nos próximos anos... se o Senhor Bom Jesus do Carvalhal nos der vida e saúde... Da Lourinhã até lá, por estrada e camimhos rurais forma 25 quilómetros a pé, realizados em menos de seis horas (das 7h00 às 13h00).


Foto nº 2 > Bombarral > Carvalhal > Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 > O 1º "círio" da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã) > NO parque das merendas, retemperam-se depois as forças... Da esquerda para a direita: Eugénia, Luís Graça, Jaime Silva. Alice Carneiro, Conceição Ferreira (viúva do Eduardo Jorge Ferreira, 1952-2019), Joaquim Pinto Carvalho, Esmeralda Costa e Maria do Céu Pinteus... A foto foi tirada pelo Xico Costa.


Foto nº 3 > Bombarral > Carvalhal > Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de... 1959 > Foi há 62 anos, que o futuro régulo da Tabanca do Atira-te ao Mar, foi com a família, em carro de bois enfeitado, do Cadaval até ao Carvalhal (cerca de 7 km), com toda a família (pais, mais 6 rapazes e 3 raparigas, alguns já casados e com filhos)... O Joaquim Pinto de Carvalho, aqui com 11 anos, é o rapaz de boné, da primeira fila. 


Foto nº 3A > Bombarral > Carvalhal > Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de... 1959 > Há 62 anos, o futuro régulo da Tabanca do Atira-te ao Mar, "agarrado ao tacho"... A seu lado, o  sobrinho Luís
... (Foto do álbum do Joaquim Pinto Carvalho)
 

Foto nº 4 > Bombarral > Carvalhal > Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 > O 1º "círio" da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã) >  O régulo, Joaquim Pinto de Carvalho, 62 anos depois, sentado no chão a guardar o tacho ( com o caldo verde feito pela Conceição Ferreira, que também chegou a vir a este santuário, com o seu querido e saudoso Eduardo  ...


Foto nº 5 > Bombarral > Carvalhal > Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 > O 1º "círio" da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã) > A Conceição Ferreira, viúva do Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019) cuja memória recordámos com saudade.


Foto nº 6 > Bombarral > Carvalhal > Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 > O 1º "círio" da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã) > O Jaime Silva, que em jovem, também vinha ao Santuário, integrado no círio do Seixal, que se realizava (e continua a realizar-se) no dia 7 de setembro.  Ao fundo, eram as antigas cavalariças ou currais onde os romeiros guardavam os seus animais (burros, cavalos, machos)... A casa da ponta esquerda aloja hoje um pequeno museu. O Santuário também também tinha casas para os peregrinos ou romeiros.



Foto nº 7 > Bombarral > Carvalhal > Recinto do Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 > O 1º "círio" da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã) > O Joaquim Jorge, a sair do carro,  também nos quis fazer uma visita de surpresa... O régulo da Tabanca de Ferrel, que fez em pouco tempo duas opreações à coluna, continua a escrever os seus livros: tens dois para lançar, um com versos da sua lavra e outro sobre a praia do Baleal... O círio de Ferrel continua a ser o maior círio que vem a este Santuário. Na foto, à direita, o Joaquim Pinto Carvalho e a Alice Carneiro.

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2021). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. A ideia foi do régulo... Queria comemorar a ida ao Santuário de há 62 anos atrás... Precisamente em 29 de junho de 1959. Tinha ele 11 aninhos... Foi lá com a família, de carro de bois, todos em fato domingueiro, que o dia era de festa rija... 

Os restantes tabanqueiros da Tabanca do Atira-te ao Mar (... e Não Tenhas Medo!) alinharam: uns iriam a pé, outros iriam lá ter de carro... Até porque que havia de necessidade de dois ou três carros para trazer de volta os romeiros e de dar o necessário apoio logístico.  

A peregrinação, por estradas e caminhos rurais, foi um pouco mais "puxada" do que o previsto. Mas todos os corpos e almas se portaram bem. E o desafio foi conseguido. Fica desde já marcado o próximo para o dia 29 de junho de 2022.

A pouco e pouco, o "tabancal" começa arriscar a aparecer mais vezes em grupo e em pequenas saídas como esta...Ontem fomos nove, para o ano esperamos poder ser mais.  Aqui fica uma primeira reportagem. 

A ideia é também dar ânimo aos demais amigos e camaradas de outras tabancas da Tabanca Grande.  Para uma das próximas semanas, está já "apalavrada" a ida ao Santuário da Senhora dos Remédios, no Cabo Carvoeiro, Peniche... com sardinhada no restaurante Toca do Texugo... A distância   é  mais curta, 19 km.  Na altura podemos alargar o grupo... Já estamos todos vacinados e com os respetivos certificados digitais, como convém. (LG)

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Notsa do editor:


(**) Último poste da série > 5 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21418: Tabanca do Atira-te ao Mar, Porto das Barcas, Lourinhã (2): A despedida do verão ou a vida que segue dentro de momentos (texto e fotos: Luís Graça)

Guiné 61/74 - P22327: Efemérides (349): Recordando o dia 24 de junho de 1622, a vitória de Macau sobre os holandese, hoje dia da cidade (Virgílio Valente, ex-alf mil, CCAÇ 4142/72, Gampará, 1972/74)

 

 紀念澳門「六月廿四」過去‧現在‧未來 

24 de Junho em Macau - Memórias e perspectivas para o futuro 

 Vídeo (23' 09'') > 24/6/2021 | IMM - Instituto Português de Macau



1. Mensagem do nosso camarada da Diáspora Lusófona, Virgílio Valente [Wai Tchi Lone, em chinês], que vive e trabalha há mais de 2 décadas, em Macau, região autónoma da China, e que foi alf mil, CCAÇ 4142/72, "Os Herdeiros de Gampará" (Gampará, 1972/74); é o nosso grã-tabanqueiro nº 709, desde 18 de dezembro de 2015, e régulo da Tabanca de Macau :

Date: terça, 29/06/2021 à(s) 03:39
Subject: Sessão sobre o dia 24 de Junho | 紀念澳門 「六月廿四」講座 | Session regarding the 24th of June


Sessão sobre o dia 24 de Junho

No dia 24 de Junho, Dia da Cidade, o Instituto Internacional de Macau promoveu uma sessão aberta ao público, destinada a comemorar o acontecimento histórico que marcou Macau neste dia, em 1622, da vitória sobre os holandeses que tentaram apoderar-se de Macau, no dia de São João Baptista, pelo que a edilidade lhe consagrou Padroeiro da Cidade.

A sessão pretendeu de forma simples homenageá-lo, relembrando à população uma promessa que tinha sido feita há quase 400 anos.

O IIM tem vindo a realizar desde 2018 diferentes manifestações, destinados as estudantes e à camada mais jovem para uma continuada promoção deste acontecimento que poderá ajudar a população a compreender melhor a importância desta data, e contribuir para melhorar o sentido de pertença e uma percepção mais nítida da importância da preservação desta memória, que recentemente tem sido comemorada através de um Arraial que foi classificada como um dos elementos do Património Cultural Intangível de Macau.

Houve uma breve apresentação por várias representantes presentes, do IIM, com a moderação do seu secretário-geral, Rufino Ramos, Miguel de Senna Fernandes, da Associação de Macaenses, Amélia António, da Casa de Portugal, Paula Carion da Associação dos Jovens de Macau, e Wallace Kwah, da Associação dos Embaixadores do Património de Macau, que colaboraram no projecto, além de uma intervenção online da investigadora Mariana Pereira, que apresentou e lançou uma página electrónica dedicada a este acontecimento (https://macaense24junho.wixsite.com/evento).

O IIM apresentou e lançou ainda um vídeo sobre o acontecimento histórico, memórias das celebrações anteriores e perspectivas para o futuro sobre esta importante data, agora com acesso nas suas redes sociais, através do seu canal YouTube e Facebook (iim macau).

A sessão contou com o apoio da Fundação Macau.

Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=5ac3-TUp4eM

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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de junho de  2021 > Guiné 61/74 - P22320: Efemérides (348 ): Foi há 50 anos, a partida da CCAÇ 3398 / BCAÇ 3852 (Buba, 1971/73) (Pinto Carvalho, ex-alf mil, poeta, músico e régulo da Tabanca do Atira-te ao Mar)

terça-feira, 29 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22326: Documentos (32): Ordem de Serviço n.º 40 do Comandante-Chefe Interino das Forças Armadas da Guiné com o discurso de despedida do General Spínola, dirigido aos Militares de Terra, Ar e Mar e Mílicias em serviço na Guiné (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando)

1. Mensagem do nosso camarada Virgínio Briote, ex-Alf Mil da CCAV 489 (Cuntima e Alf Mil Comando, CMDT do Grupo Diabólicos, Brá; 1965/67), com data de 25 de Junho de 2021, trazendo em anexo a transcrição da OS N.º 40, de 13 de Setembro de 1973, do Comandante-Chefe Interino das Forças Armadas da Guiné, com a mensagem de despedida do General Spínola após terminar as suas funções de Governador da Província e Comandante-Chefe da Forças Armadas da Guiné:


ORDEM DE SERVIÇO N.º 49

BISSAU, 13 DE SETEMBRO DE 1973

SUA EXCELÊNCIA O COMODORO COMANDANTE-CHEFE INTERINO DAS FORÇAS ARMADAS DA GUINÉ DETERMINA E MANDA PUBLICAR:

Art.º 1.º - MENSAGEM DE DESPEDIDA DE SUA EXCELÊNCIA O GENERAL COMANDANTE-CHEFE DAS FORÇAS ARMADAS DA GUINÉ

Militares de Terra, Ar e Mar
Milícias

Após mais de cinco anos no Governo da Província e no Comando das suas Forças Armadas, chegou o momento do render da guarda. E ao cessar as funções de Comandante-Chefe, é sob a mais viva emoção que vos dirijo esta mensagem de despedida, em testemunho do meu muito apreço pelo gigantesco esforço que vindes desenvolvendo na defesa desse sagrado rincão da Pátria e do ideal que preside à construção da nova sociedade que aí se ergue. E embora as minhas palavras sejam para todos, sem distinção de origem ou hierarquia, elas destinam-se, em especial, aos Soldados e Marinheiros, Europeus e Africanos.

Para os Europeus, que obedecendo ao imperativo do Dever se arrancaram ao seio das suas famílias para darem à causa da Pátria o melhor de si próprios, vai toda a expressão de um vivo sentimento repassado de verdadeira admiração. Cumprindo com sublime nobreza e inexcedível generosidade a vossa comissão de serviço, sois o espelho de um Povo que ao longo de oito séculos de História jamais regateou o suor e o sangue ao serviço de ideais em que acredita; povo que em vós bem merece ser venerado e amado, no profundo respeito pela obra eminentemente humana que aí estais edificando com a arma numa das mãos e na outra a ferramenta do progresso através do qual vindes a operar a mais nobre das conquistas: a do coração dos nossos Irmãos Africanos. A esta cruzada eminentemente nacional vos devotaste em dádiva de total generosidade, não olhando a sacrifícios e desprezando perigos. Magnífica lição de verdadeiro patriotismo, esta que vindes dando àqueles que teimam em ignorar que a Pátria é, acima de tudo, uma ideia viva alimentada pelo esforço de quantos por ela são capazes de dar a vida. Destes-me, dessa Pátria, uma imagem sublime que jamais colhi senão junto dos soldados que comandei nos matos de Angola e Guiné. Por isso me orgulho de vos ter comandado e agradeço a lição que, de vós, recebi.

Dirijo-me aos Africanos, que encontraram, finalmente, na justiça, na valorização e dignificação humana o caminho da verdadeira independência, e que por ele optaram, empunhando as armas. E, dentre Vós, a primeira palavra é para os “Comandos Africanos” que se cobriram de glória em defesa do chão português da Guiné e das suas martirizadas Gentes. Formulo votos para que o vosso ânimo não esmoreça na luta para a construção de uma fraterna comunidade Luso-Guineense, em cujo seio os Guinéus se sintam conscientes da sua dignidade de homens e orgulhosos da sua qualidade de cidadãos livres.

Desejo ainda deixar uma palavra de despedida ao Corpo de Milícias. A mais bela e inequívoca expressão de livre vontade de um Povo que defende, lado a lado com as Forças Armadas, a terra onde nasceu e o seu ideal de afirmação humana.

De todos vós, militares de Terra, Ar e Mar e Milícias, me despeço emocionado e agradecido pelo esforço que vindes desenvolvendo na construção do Portugal do Futuro; esforço que não podemos deixar trair, pois não só assim o querem todos os que aí lutam e trabalham, como também o exigem o sangue dos nossos mutilados e a memória dos nossos mortos.

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Guiné 61/74 - P22325: Tabancas da Tabanca Grande (7): O "círio" da Tabanca do Atira-te ao Mar ao Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal parte hoje, às 7h00 da manhã...


Igreja do Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal... Cortesia da página do Facebook do Santuário.


1. Hoje, dia 29 de junho, dia de São Pedro, um dos três santos populares juninos, alguns dos mais valentes tabanqueiros da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã), vão fazer um "círio" ao Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal. A partida está marcada paras as 7h00. Na Lourinhã... Uns vão a pé (cerca de cinco de horas); outros vão de carro.

O Santuário localiza-se na freguesia do Carvalhal, no concelho de Bombarral, distrito de Leiria, diocese de Lisboa, em Portugal, a c.. 25 km da Lourinhã.

Este santuário é, desde há séculos, um  local de peregrinações, círios, feiras e romarias, vindas das mais diversas partes da região (Bombarral, Cadaval, Lourinhã, Peniche, Torres Vedras). Os círios realizam-se sobetudo no verão, indo de maio a outubro. E têm datas fixas.

(...) "Os Círios são outra manifestação religiosa presente neste Santuário com características populares onde algumas comunidades cristãs, desde tempos antigos, organizam peregrinações ao Santuário do Senhor Jesus para louvar e dar graças em cumprimento de promessas. Nestas celebrações mantêm-se as tradições antigas como o Canto da Loas e a Gaita de Foles; depois das três voltas em redor do templo fazem as ofertas dos frutos da terra." (Fonte: Santuário Senhor Jesus)

A motivação dos tabanqueiros da Tabanca do Atira-te ao Mar é  a mais diversa diversa: uns vão para matar saudades do tempo de infância e adolescência em que iam integrados em peregrinação de família ou no círio da sua terra, sendo esta uma festa sacro-profana;  outros vão por simples curiosidade etnogáfica; outros  por devoção; e outros ainda  pelo lado lúdico... Fazer uma caminhada, a pé, de cinco / seis horas horas é obra na nossa idade...Mesmo com o apoio do "carro vassoura"...

No adro do santuário, sob frondosas árvores seculares, fazer-se-à depois um piquenique: a "chef" Alice fez uma tachada de "dobrada à moda da Lourinhã" (ou "tripas à moda do Porto", conforme lhe quiserem chamar)...Cada "peregrino"  ou "romeiro" acrescenta mais qualquer coisinha ao farnel coletivo: o pão, o vinho, as azeitinas, o queijo, as pataniscas, os pastelinhos de bacalhau, a sericaia, etc... que "o santo é pobre mas bem agradecido"... 

O que importa, afinal,  é o convívio e o melhor conhecimento das tradições populares da nossa região estremenha. E, nos tempos que correm, exorcizar os fantasmas, reais e imaginários, desta pandemia que teima em não deixar-nos em paz...

A escassas centenas de metros do Santuário fica a Quinta dos Lorigos, Bacalhôa Budda Eden, que tabém vale uma visita...


2. Sobre o a história do Santuário, lemos na Wikipedia:


(...) Remonta a uma primitiva ermida sob a invocação de São Pedro, padroeiro da freguesia desde o século XIV.

A atual igreja remonta ao século XVI, tendo ruído a primitiva, provavelmente, no grande terramoto de 1531. Pelas descrições feitas nos assentos de óbito, pode verificar-se que no início do século XVII a igreja já tinha as feições que tem hoje. As memórias paroquiais de 1758 não referem qualquer dano causado pelo terramoto de 1755, facto que a ter acontecido deveria ter sido referido, uma vez que era uma das questões colocadas.

Nas aludidas memórias paroquiais, de 1758, é referida a existência dos altares colaterais (um deles já é referido em 1607, num assento de óbito, dedicado a Nossa Senhora da Graça) e a capela-mor já é descrita com as características que tem hoje, nomeadamente o facto de o altar-mor estar separado da tribuna, sem santos na banqueta, com duas imagens a ladear a tribuna, e no vão da tribuna a imagem do Senhor Jesus. Esta descrição da igreja, assim como os assentos de óbito, e as características das cantarias do arco do cruzeiro e dos altares colaterais e da talha dourada do camarim da imagem do senhor Jesus, contrariam a lenda de que a construção da igreja é do século XIX.

Dos finais do século XIX e inícios do século XX, será a capela do Senhor dos Passos, as tribunas da capela-mor, os braços laterais do coro alto e alguns elementos decorativos, como estuques, azulejos e talha dourada. (...)




 3. Lenda da imagem do Senhor Jesus:

Segundo o nosso camarada Joaquim da Silva Jorge, natural de Ferrel, ex-alf mil, CCAÇ 616, Empada, 1964/66, BCAÇ 619, Catió, 1964/66), de "Ferrel através dos tempos" (edição de autor, junho de 2019, 388 pp.),, há várias versões da lenda, mas é esta que se cont na sua terra:

(...) "Vinha um almocreve de Ferrel como seu burro,  carregado de peixe para vender, e viu um grande caixa  que as ondas tinham arrojado à praia. Pegou na caixa  sem grande esforço, apesar das dimensões, e  pô-la em cima do burro, continuando o seu caminho até ao local  da venda do peixe. Depois de ter andado muito tempo, a caixa começar a ficar cada vez mais pesada até que, chegando a um ponto mais alto com árvores, onde existia uma pequena capela em honra de  São Pedro, o burro não conseguia aguentar nem andar mais. Então o homem  descarregou a caixa  e foi chamar   o prior, que a abriu. Depararam-se então com a imagem de Jesus crucificado, que foi recolhida e exposta à veneração pública.  A história depressa de espalhou  e deu origem ao início da devocção dos círios" (pp. 125/126).

4. O círio de Ferrel, uma festa sacro-profana

O círio de Ferrel é, historicamente,  "o maior, em duração de tempo e em número de pessoas, que visita o Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal" (p. 127). Nas páginas 127/133, o Joaquim Jorge descreve, com detalhe, o ritual do círio da sua terra, dos anos 60, e as loas que se cantavam durante três dias (sábado, domingo e segunda-feira). Este círio realiza-se sempre no 4º domingo de setembro. Já o do Seixal da Louirinhã é em dia fixo, o dia 7 de Setembro, integrado nas festas anuais da terra.

Vale a pena voltar a reproduzir aqui o supracitado autor, com a reconstituição da memória do Círio de Ferrel:

(...) "Começava sexta-feira, com o gaiteiro a tocar pelas ruas da povoação, anunciando o início da festa. A partida era no dia seguinte, sábado, depois do almoço, Um pouco antes tocava o sino da igreja para lembrar que estava próxima a hora da partida.  No Largo  de Nossa Senhora da Guia juntavam-se os que iam e também os que ficavam. Estes iam ver a partida do Círio. O Juiz da festa  levava o Guião com a cruz a abrir e a seguir o Anjo  com a bandeira do Senhor Jesus e atrás uma grande multidão. Iniciavam-se assim três voltas à igreja, findas as quais o Anjo dava o sinal de partida cantando as loas da despedida da nossa aldeia" (pág. 127).

(...) Apareceu o belo dia / Por nós todos desejado / Dia de gozo e prazer / A Jesus dedicado (...) (pág. 128).

(...) "O sino tocava a repique e começava a partida em galeras, trens, carroças, burros e alguns a pé, talvez cumprindo alguma promessa. Todos levavam enxergas e mantas, galinhas e coelhos e, no princípio da semana, já tinha partido a galera do João Maltez, carregada de lenha para todos. Seguiam pela Atouguia, Serra d'El-Rei, Olho Marinho, Pó, Roliça e São Mamede e costumavam parar e saudar as igrejas destas localidades.

(...) "Finalmente chegava-se ao Santuário. Ao portão do recinto esperam aqueles que partiram nas vésperas. Formava-se a procissão com o guião, o pendão, os mordomos,  o Anjo e o povo e iniciavam-se as três voltas à igreja em louvor da Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, no fim das quais o Anjo cantava as Loas da chegada que rezavam assim:

(...) Vinde ó povo desta terra / O Senhor Jesus venerar / Dia em que o Círio de Ferrel / O vem aqui visitar (...) (pág. 129)

(...) "Logo após, entrava-se na igreja para uma primeira visita ao Senhor Jesus, deixando o Guião e o pemdão junto do altar. Entretanto ocupavam-se as casas dos romeiros; acomodavam-se. As mulheres fazaim o jantar enquanto  os homens iam  arrecadar os animais nas cocheiras e tratar deles. Depois do jantar. já noite dentro,  começava o bailarico. Os povos das aldeias vizinhas eram avisados pelo foguetório. Os rapazes eram livers de dançarem com todas as raparigas, os homens com todas as mulheres, os habitantes das aldeias vizinhas com as nossas raparigas e os nossos rapazes  com as raparigas de lá; trocavam-se pares durannte a dança. O folguedo prolongava-se até  de madrugada.

"Chegava o domingo com a 'Festa de Igreja' ou Missa que era celebrada pelas quinze horas. A manhã era aproveitada para visitar a imagem do Senhor  Jesus, beijar-lhe os pés, deixar uma esmola, colocar uma vela ou pagar alguma promessa. Entretanto as mulheres iam preparando o almoço que era ao ar livre. (...) 

"A festa da igreja começava com a saudação solene ao Senhor Jesus cantada pelo Anjo:

(...) Bendita é a cruz / Do Senhor Sagrado / Em que o Bom Jesus / Foi por nós pregado  (pág. 130) (...)

(...) "Depois da missa começavam as arrumações  dos apetrechos levados e a aparelhar os animais e por volta das 17 horas formava-se a procissão para dar três voltas à igreja (...) Na despedida o Anjo cantava assim: 

(...) Adeus Senhor Jesus do Carvalhal / Adeus ditoso lugar / Agora na retirada / Deve-nos acompanhar. (...) (pág. 131).

(...) Deitava-se um foguete e era a  partida.À entrada da Atouguia da Baleia faz-se uma paragem para esperar pelos mais atrasados a fim de que a caravana se recompanha  e para impressionar os nossos vizinhos. (...) O gaiteiro não parava de tocar. A entrada  no largo da igreja [ de Ferrel] era triunfal. Seguiam-se as três voltas à igreja e no fim ouvia-se o Anjo cantar os últimos versos das loas:

(...) Aqui  chegámos enfim /  Em alegre romaria /  Trazendo nossos corações /  Cheios de prazer e alegria (...)

(...) Terminva assim a parte religiosa do nosso Círio, mas a festa  ia continuar à noite e no dia seguinte com animados bailes. A festa tinha três dias: sábado, domingo e  segunda-feira" (pág. 132).

...Claro que hoje a tradição já é não o que era, conclui o nosso Joaqyim Jorge... Mas os nossos amigos ferralejos continuam a ir lá,  todos os anos,  ao Santuário do Bom Jesus do Carvalhal, no 4º domingo de setembro.

O nosso editor promete lá ir ter depois, finda a sessão de fisioterapia, às 11h20...Alguém tem que fazer a  reportagem e provar o rancho... LG
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Nota do editor:

Último poste da série >26 de junho de 2021 > Guiné 61/74 - P22317: Tabancas da Tabanca Grande (6): O régulo vitalício, José Belo, da sempre saudosa Tabanda da Lapónia, de regresso de Key West, traz-nos uma história da espionagem russa e sueca durante a guerra fria, em 1982, ao tempo ainda de Olof Palm

Guiné 61/74 - P22324: Parabéns a você (1974): Santos Oliveira, ex-2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf do Pel Mort Ind 912 (Como, Cufar e Tite, 1964/66)

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Nota do editor

Último poste da série de 22 de Junho de 2021 > Guiné 61/74 - P22305: Parabéns a você (1973): Coronel Art Ref António José Pereira da Costa (Guiné, 1968/69 e 1972/74); Ex-Alf Mil Inf João Crisóstomo da CCAÇ 1439 (Guiné, 1965/67) e Soldado TRMS Júlio Martins Pereira da CCAÇ 1439 (Guiné, 1965/67)

segunda-feira, 28 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22323: Notas de leitura (1363): “As Voltas do Passado, a Guerra Colonial e as Lutas de Libertação”, organização de Manuel Cardina e de Bruno Sena Martins; Edições Tinta-da-China, 2018 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Setembro de 2018:

Queridos amigos,
Trata-se de um projeto científico pertinente e não hesito em dizê-lo original, pelas opções temáticas que foram tidas em conta: a partir das datas marcantes da luta anticolonial, dezenas de autores de diferentes áreas de conhecimento puseram-se a questionar a História e o legado desses tempos de mudança. Denunciam-se mitologias e o mais importante é que aqui se esboça um outro modo de contar a memória de uma guerra que se viveu em muitos teatros e que ainda hoje nos contagia pelo cotejo de críticas ideológicas. É por isso uma leitura a que não nos devemos furtar.

Um abraço do
Mário



As voltas do passado, a guerra colonial e as lutas de libertação

Beja Santos


“As Voltas do Passado, a Guerra Colonial e as Lutas de Libertação”, organização de Manuel Cardina e de Bruno Sena Martins, Edições Tinta-da-China, 2018, é uma detalhada evocação, em voz plural, de acontecimentos influentes, eventos selecionados que, como justificam os coordenadores, “têm em comum o facto de terem produzido um lastro memorial presente em discursos e monumentos públicos, em mobilizações sociais, em apropriações políticas. Escolhemos 47 eventos que, tomados em conjunto, podem ser vistos como partes de um caleidoscópio ainda vivo”

É uma tentativa historiográfica para ler um outro modo de contar Portugal e as diferentes nações africanas emergentes da luta anticolonial. Daí o leitor ter oportunidade de recordar em sequência cronológica eventos como o Massacre de Batepá, em São Tomé e Príncipe (1953), o início da vaga de prisões de militantes nacionalistas em Angola e o Massacre do Pidjiquiti, em Bissau (1959), o Massacre do Mueda, Moçambique (1960), a revolta camponesa na baixa de Kasanje, Angola (1961), até ao 25 de Abril, onde terão peso acontecimentos como a libertação dos presos políticos do Tarrafal, a fundação da Associação dos Deficientes das Forças Armadas, o fim do exercício Alcora, as independências de Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Angola e a ponte aérea da TAP, em 1975. 

Obviamente que há textos de bom quilate e outros que não deixarão memória, escritos em água chilra, acontece. Michel Cahen deixa-nos um texto muitíssimo bem elaborado sobre o Massacre do Mueda, em 16 de junho de 1960. É cortante e denunciador da muita mistificação sobre a propaganda de Mueda. O governador de Cabo Delgado não atinou com as razões de fundo que traziam de volta os Macondes à região, eles voltavam para Moçambique porque a independência do Tanganhica os inquietava, na medida em que os fazendeiros europeus do sisal, sob pressão dos sindicatos, tinham aumentado os salários e já não necessitavam de mão-de-obra estrangeira. E escreve Michel Cahen: 

“Não vinham para pedir com clareza a independência, e ainda menos a independência de Moçambique, mas a liberdade para voltarem livremente à sua terra. Pode-se perfeitamente chamar a isto nacionalismo, mas não era nacionalismo moçambicano”

Referindo-se à tese de outra investigação baseada na memória oral, ele trabalhou principalmente com fontes arquivistas coloniais e fontes orais portuguesas. E termina o seu texto de forma primorosa, lembrando que há equívocos que bem retorcidos ganham foro de lenda ao serviço dos poderes do dia:

“Os arquivos coloniais veiculam a narrativa do colonizador. Mas têm uma vantagem: não mudam. Além disso, os atores coloniais que entrevistei nos anos 1980, um após outro, nunca mais tinham vivido em Mueda. Encontrei obviamente várias contradições nas suas narrativas, mas pude confrontá-las. E também utilizei fontes orais africanas.

Não é uma questão de saber ‘quem tem razão’. Este debate é muitíssimo interessante e deverá ser aprofundado. Trata-se, no fundo, de conhecer as condições de produção da memória. Condensarei essas linhas citando este pequeno debate que tive, em 2000, com uma testemunha africana da tragédia de 16 de junho de 1960:
- Houve muitos mortos?
- Sim, muitos! Foram 16!
- Ah! Pensava que eram 600…
- Sim, depois recebemos a orientação de que eram 600.


Marcelo Bittencourt, relativamente aos ataques em Luanda, em 4 de fevereiro de 1961, também adota uma versão que procura remover a poalha da propaganda e a apropriação da aura dourada de quem vem invocar que é o personificador do evento:

“O fator mais importante na vinculação do 4 de fevereiro ao MPLA é o ingresso dos principais protagonistas da ação na legenda, após a detenção destes, como consequência da contraofensiva colonial que se instala em Luanda. Não tiveram de fazê-lo antes da ação que inaugura a luta de libertação angolana. O MPLA havia começado o processo de estruturação da sua rede clandestina em Luanda, no início do ano de 1960, mas passados alguns meses uma nova onda de prisões iria encarcerar seus líderes, como Agostinho Neto e Joaquim Pinto de Andrade.

Desta forma, o 4 de fevereiro é o primeiro e último ato insurrecional, violento e anticolonial a refletir essa constelação de organizações clandestinas ainda muito ligadas aos seus vínculos elementares de solidariedade, fossem eles o bairro, a profissão, a família, a escola ou a associação cultural aos quais estavam ligados. Ou seja, a luta no terreno da história e da memória entre as duas principais forças políticas do nacionalismo angolano nos anos de 1960 parece ser o melhor caminho para entender a gestação e o posterior embate pela paternidade do 4 de fevereiro”
.

O leitor passa a dispor de um conjunto de referências sequencialmente cronológicas, conhecer a criação do Movimento Nacional Feminino, a fuga de cem estudantes das colónias, a revogação do Estatuto do Indigenato, a criação dos Comandos, a Operação Tridente, o início da luta armada em Moçambique, o encerramento em Lisboa da Casa dos Estudantes do Império, Cabral na Conferência da Tricontinental em Havana, em janeiro de 1966, o I Congresso da UNITA, a criação em Cuba das Forças Armadas de Cabo-Verde, que acabarão por ser desviadas para a luta armada na Guiné, o assassinato de Eduardo Mondlane, a Operação Mar Verde, a morte de Josina Machel, o Massacre de Wiriamu, o assassinato de Amílcar Cabral (que o autor erradamente fixa pelas 20h30 de 20 de janeiro), a tomada do quartel de Guilege, a proclamação unilateral da independência da Guiné-Bissau, o fim do exercício Alcora, a independência de Moçambique, de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe e depois de Angola.

De leitura obrigatória para quem pretenda aprofundar o conhecimento do período correspondente à guerra colonial. Haverá textos que vão ficar como referência.
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Nota do editor

Último poste da série de 21 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22303: Notas de leitura (1362): “Itinerários de Amílcar Cabral”, organização de Ana Maria Cabral, Filinto Elísio e Márcia Souto; Rosa de Porcelana Editora, 2018 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P22322: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte X: Op Garrote, 23 de maio de 1966, golpe de mão na região de Madina / Belel



João Crisóstomo (Nova Iorque)


1. Continuação da publicação da publicação das memórias do João Crisóstomo, ex-alf mil, CCAÇ 1439 (1965/67)



CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé,
Porto Gole e Missirá, 1965/67) : a “história”
como eu a lembro e vivi
(João Crisóstomo, luso-americano,
ex-alf mil, Nova Iorque) (*)


Parte X: Dia 23  de Maio de 1966, Operação Garrote: golpe de mão na região de Madina /Belel

 

Como não tenho qualquer memória  desta Operação Garrote , excepto pelo que depois ouvi falar dela, acredito que não participei nesta operação.   Por este motivo vou transcrever  o que me parece mais relevante, tal  como  consta no “relatório”.

(...) A CCAÇ 1439  realizou uma  importante operação, de nome  Garroye  na região de Madina /  Belel. Golpe  de mão da CCaç 1439:  (...) para os bons resultados desta Operação muito contribuiu o guia utilizado, Pedro Pina. 

As NF  divididas em dois escalões, actuaram da seguinte forma: O 1º  escalão desenvolveu um cerco  seguido de assalto tendo apanhado de surpresa o IN. Com o movimento e forças das NT,  o IN não conseguiu reagir imediatamente. Em virtude do acampamento IN estar bastante disperso , o cerco não pode efectuar-se com perfeição tendo parte do IN conseguido esquivar-se à acção das NF. Feito o assalto fizeram-se as baixas  e capturou-se o material que abaixo  se descrimina.

Organizou-se uma força de perseguição dos elementos que conseguiram esquivar-se à acção das NT. Depois de batida toda a zona, iniciou-se o regresso ao quartel  tendo o IN emboscado as NF na região de Madina. Novo  grupo de perseguição  tentou cercar os elementos do IN emboscantes,  tendo-se os mesmos esquivado ao contacto." (...)

Segue-se uma descrição bastante exaustiva dos “resultados”, os quais  se resumem como segue:

(i) destruição do Acampamento IN; baixas infligidas ao IN: 4 mortos confirmados  e feridos confirmados em número não estimado. Foram  capturadas duas mulheres 

(ii) material capturado:  6 espingardas mauser; 3 pistolas metralhadoras de  diversas marcas ; 13 granadas de diversos tipos ;15 carregadores de diversos tipos; 356 munições de varios tipos; 2 livros de escola da PAIGC.

Durante  a emboscada foram atingidos ligeiramente os soldados da CCaç 1439,   Francisco Assis de Freitas,  nº 334/65, e o soldado de 2ª classe ,da provímciaa, Calubus Pago. nº 218/63l

Pessoal que foi distinguido durante esta Operação:

Alf mil Luís Manuel Zagalo de Matos;

2o Sargento António Manuel Azevedo;

Furriel Mil Eduardo José Ferreira de Oliveira;

1º cabo  276/65 Manuel Fernandes

soldado 607/63Manuel Rosa de Oliveira

Caç nativo Quemó Nanquin

Caç nativo Queba Soncó

1º cabo da P.A. 236/64 Bonco Sanhá

1º cabo da P. A. 240/ 64 -Sori Baldé

Refe5ência elogiosa  à Operação  Garrote  feita pelo Comando de Agrupamento nº 24 (Bafatá, 1965/67):

"Apraz a este comando registar a boa concepção  dos planos estabelecidos, e dentro dos condicionamentos impostos mais pelo terreno  do que pelo IN, o acertado desenrolar da acção  e comportamento da NT bem secundadas  senão igualado ultrapassado  pelos actos individuais de caçadores nativos e elementos da Polícia Administrativa".

Dia 30 de Maio de 1966

 No dia 30 de Maio a CCaç 1439 escoltou o Exmo Cmdt  do BCaç 1888 e official de operações do mesmo de Enxalé a Porto Gole.

As NT sofreram duas emboscadas na região de Besmunha. As NT reagiram convenientemente gtentando um envolvimento e e posteriormente um assalto às posições IN. O IN foi desalojado das suas posições e perseguido, furtando-se ao combate.

O official de operações do BCaç 1888,  foi atingido por rebentamento de uma Granada ofensiva, supõe-se que lançada com dispositivo, pois o IN encontrava-se instalado a mais de 100 metros da Estrada.

(Continua)

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 6 de junho de 2021 > Guiné 61/74 - P22258: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte IXb: Porto Gole: 3 de março de 1966, ataque IN, e visita da "Cilinha"

domingo, 27 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22321: In Memoriam: Cadetes da Escola do Exército e da Escola de Guerra (actual Academia Militar), mortos em combate na 1ª Guerra Mundial (França, Angola e Moçambique, 1914-1918) (cor art ref António Carlos Morais Silva) - Parte V: José Afonso Palla, maj art (Sabugal, 1861 - Angola, 1915)



José  Afonso Palla (1861-1915)


Nome: José Afonso Palla

Posto: Major de Artilharia

Naturalidade: Sabugal - Guarda

Data de nascimento: 24 de Fevereiro de 1861

Incorporação;  1886 na Escola do Exército (nº ? do Corpo de Alunos)

Unidade:  Estado-Maior de Artilharia

Condecorações:

Cavaleiro da Real Ordem Militar de S. Bento de Aviz

Medalha de Valor Militar, Prata

Oficial da Ordem Militar da Torre e Espada de Valor, Lealdade e Mérito

TO da morte em combate: Angola

Data de Embarque:  10 de Março de 1915

Data da morte: 18 de Setembro de 1915

Sepultura:  Cemitério do Alto de S. João - Lisboa

Circunstâncias da morte:

 No dia 18 de Agosto de 1915 o destacamento de Cuanhama, de que o Major Palla era o

comandante da artilharia, foi atacado por cerca de 12 mil  guerreiros nativos que foram

repelidos com baixas. Neste combate foi gravemente ferido. Evacuado para o Lubango

veio a falecer em 18 de Setembro de 1915.




António Carlos Morais da Silva, hoje e ontem


1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um oficiais oriundos da Escola do Exército e da Escola de Guerra que morreram em combate, na I Guerra Mundial, nos teatros de operações de Angola, Moçambique e França (*).

Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva, cadete-aluno nº 45/63 do Corpo de Alunos da Academia Militar e depois professor da AM, durante cerca de 3 décadas; é membro da nossa Tabanca Grande, tendo sido, no CTIG, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972.

Há mais referências à figura de José AfonsoPalla na Net: vd. por exemplo aqui o Almanaque Republicano. Vd. também Assembleia da República.

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 19 de junho de 2021 > Guiné 61/74 - P22296: In Memoriam: Cadetes da Escola do Exército e da Escola de Guerra (actual Academia Militar), mortos em combate na 1ª Guerra Mundial (França, Angola e Moçambique, 1914-1918) (cor art ref António Carlos Morais Silva) - Parte IV: Augusto Valdez de Passos e Sousa (Elvas, 1886 - Angola, 1915), ten inf