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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26486: As nossas geografias emocionais (43): A Fulacunda do meu tempo (José Claudino da Silva, "Dino", ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART /BART 6520 / 72, Fulacunda, 1972/74) - Parte II


Foto nº 18A > Fulacunda > Obus 10, 5 (2 º Pel Art,  em 10/4/1974; em 1/7/1973, havia o 31º Pel Art, obs 14cm; em 1/7/72, ao tempo da CART 2772, não havia artilharia)


Foto nº  19 > Fulacunda > Foz do rio Fulacunda > Morteiro médio 81


Foto nº 17A > Fulacunda >  Obus 10,5 

Foto nº 20A > Fulacunda : Metralhadora pesada não identificada. (Seria uma arma, de fabrico soviético, apreendidfa ao PAIGC ?).

Foto nº 21 > Metralhadora pesada Browning  (e também antiaérea) 12,7

Foto nº 31A  > Fulacunda > Jipe, com o "Dino" ao volante

Foto nº 22A > Fulacunda >  Foz do rio Fulacunda  (ficava a 2 km do aquartelamento)>  O Dino


Foto nº 35A >  Fulacunda > Foz do rio Fulacunda > Partida de embarcaçáo (civil)


Foto nº 35 > Fulacunda > Foz do rio Fulacunda > Partida de embarcaçáo (civil), 
na maré-alta


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª C/BART 6520/72, 1972/74) > s/d > Fotos do álbum do José Claudino da Silva. Legendagem do editor, sujeita a revisão.


Fotos: © José Claudino da Silva (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]



1. Mais um lote de  fotos de Fulacunda, parte de um conjunto de 36 fotos extraídas de "slides", tirados pelo fotógrafo da companhia, o Armanjdo Oliveira. Enviadas pelo José Claudino da Silva, em 18 de janeiro passado. Sem legendas.


O José Claudino da Silva ("Dino", para os amigos) tem cerca de 6 dezenas de referências no nosso blogue para o qual entrou em 10/10/2017. Natural de Penafiel, vive atualmente na Lixa, Felgueiras. Foi 1º cabo cond auto, 3ª C/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74.

(Seleção, edição e legendagem das fotos: LG)

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terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26485: Humor de caserna (102): o macaco-fidalgo ou "fatango"... "ó meu alferes, parecia que era um gajo... dos turras!" (Alberto Branquinho)



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional de Cantanhez > Iemberém > 9 de dezembro de 2009 > 15h50 > Macaco fidalgo vermelho (ou fatango, em crioulo). Espécie, nome científico: Piliocolobus badius. Em inglês, western red colobus. É uma espécie ameaçada (está "em risco acelerado"= fundamentalmemte devido à caça e à desflorestação.O Piliocolobus badius é uma espécie dos macacos do velho mundo. É freqüentemente caçado por chimpanzés. Em 1994, os macacos dessa espécie infectaram muitos chimpanzés com o vírus Ebola ao serem comidos.

Em 2008 e em 2009 avistavam-se bastantes do perímetro turístico de Iemberém... Aproximavam-se facilmente dos seres humanos à hora das refeições.

Foto (e legenda): © João Graça (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém> Simpósio Internacional de Guileje > 1 de Março de 2008 > Primatas do Cantanhez: o "fatango" (macaco-fdalgo)... Desenhado nas paredes das instalações da AD - Acção para o Desenvolvimento, em Iemberém (Para saber mais, ver  Guia_Mamiferos_Cantanhez_web-res_2017.pdf ).

No Cantanhez, há  o macaco fidalgo vermelho (Piliocolobus badius).  e o  macaco fidalgo preto (Colobus polykomos). Em crioulo, ambos são fatango.

Nomes locais, para o macaco fidalgo vermelho:

Mane (nalu) Nhandjo (fula) - Tugdu-hanz (balanta).

Nomes locais para o macaco fidalgo preto:

Madisom/Dossé (nalu) Bando (fula) - Tugdu-mon (balanta).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Alberto Branquinho (n. 1944, Vila Foz Coa), advogado e escritor, a viver em Lisboa desde 1970; ex-alf mil, CART 1689 / BART 1913, Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), tem mais de 140 referências no nosso blogue; é autor das notáveis séries "Contraponto" e "Não venho falar de mim,,, nem do meu umbigo".

Reproduzimos com a devida vénia mais um dos seus microcontos, um dos meus preferidos, do livro "Cambança Final" (2012).


Alberto, um etólogo (especialista em comportamento animal) ou um primatólogo (especialista em comportamento dos primatas) não faria melhor do que tu: essas duas páginas, com a descrição da dramática interação do macaco - fidalgo e do teu homem, são de antologia.

Ficamos sem saber se tratava de  um macaco fidalgo vermelho (Piliocolobus badius).  ou macaco fidalgo preto (Colobus polykomos)... Sáo espécies diferentes, mas em crioulo chamam-lhes fantango..Ainda váo existindo no Cantanhez (pelo menos quando eu lá estive em 2008, e o meu filho, em 2009).  Associam-se para melhor se defenderem mutuamemnte dos predadores. Estão  seriamente em risco e só existem na África Ocidental.

Inclino-me mais para  a hipótese, na tua história, de  ter sido um Colobus polykomos. Foi vítima da sua curiosidade de primata e sobretudo das dificuldades da comunicação com o Homo Sapiens Sapiens, como chamam os zoólogos à espécie a que pertencia (ou pertence, faço votos para que ainda esteja vivo) o teu 1º cabo Garcia... (LG)



O macaco-fidalgo... "ó meu alferes, parecia que era um gajo... dos turras!" 

por Alberto Branquinho




 Fonte: Excertos de Alberto Branquinho  - "Macaco Fidalgo: inimigo ?" In: Cambança final: Guiné, guerra colonial:  contos.  Lisboa,Vírgula,  2013, pp. 81/82. 


(Seleção, digitalização, título: LG) (Com a devida vénia ao autor e à editora)

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Nota do editor:

Último poste da série > 8 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26472: Humor de caserna (101): Dar de beber à dor... (António Reis, ex-1º cabo aux enf, HM 241, Bissau, 1966/68, autor de "A Minha Jornada em África", 2015)

Guiné 61/74 - 26484: História de vida (54): José Claudino da Silva (ex-1º cabo cond auto, 3ª C/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74): de "puto de Senradelas" (Penafiel) a "bate-chapas" (Amarante), de criador do Bosque os Avós (Serra do Marão) a homem de letras...





"E QUANDO SOMOS NÓS QUE FALHAMOS?
Em dezembro de 1972 escrevi 116 postais, aerogramas e cartas para a namorada, familiares e amigos. Recebi 20,
Em dezembro de 1973 escrevi 61. Recebi 21.
Em dezembro de 2024 não escrevi a ninguém.
Recebi 1 da minha neta.
Tudo que escrevi antes, perdeu o valor.






José Claudino da Silva - Página do Facebok, 9 de janeiro de 2025: "Em 2005 acabei o restauro deste carro. Logo a seguir fui despedido. Quando faço algo de jeito..."



José Claudino da Silva

(i) Nasceu no lugar das Figuras, Marecos,  Penafiel,  em 19 de maio de 1950.

(ii) Assume, com frontalidade, que é filho de Mabilde da Silva, e  "de pai incógnito" (como se dizia na época e infelizmente se continua a dizer, nos dias de hoje: que o digam mais de 150 mil portugueses!).

(iii) Foi criado e educado pelos seus avós maternos, José da Silva e Emília da Silva Queirós, tendo ficado apenas ao cuidado da avó, quando o avô faleceu em 1953, quando tinha então 3 anos de idade; a partir daí a família vivia do magro rendimento que a avó conseguia, vendendo peixe pelos lugares da aldeia e de outras aldeias vizinhas.
 
(iv) Ingressou na escola primária de Marecos, aos 7 anos de idade, tendo completado os estudos primários aos 11 anos (1957-1961); guarda uma grata recordação, do seu professor, o sr. Cunha.

(v) Fez a comunhão solene na igreja Matriz de Penafiel.

(vi) Começou a trabalhar ainda aos 11 anos na construção civil, onde esteve três anos; posteriormente, enveredou pela profissão de "chapeiro" (ou "bate-chapas", como se diz no Sul, tendo começado na Garagem Central de Penafiel, profissão essa que manteve, durante 50 anos,  até se reformar (em 2012).

(vii) É através dos ensinamentos do professor Cunha, do padre Albano e principalmente do filho do patrão (e depois gerente da Garagem Central de Penafiel), que começou a ter gosto pela leitura, tendo-se inscrito, para o efeitio, na biblioteca itinerante  da Fundação Calouste Gulbenkian, que visitava regulamente Penafiel; passou a ser  o leitor nº 390, e a ter  acesso gratuito aos livros que não podia comprar.

(viii) Em meados da década de 60 participa nas atividades do recreatório paroquial de Penafiel, numa organização ligada à igreja; passa a interessar-se por música e faz parte de alguns eventos, juntamente com alguns cantores amadores de Penafiel.

(ix) Descobre a poesia através de um amigo, que indo para a tropa faz um poema dedicado ao exército de mães, que veem os filhos partir para a guerra colonial.

(x)  Foi à inspeção em 27 de junho de 1970, e começou a fazer a recruta, no dia 3 de janeiro de 1972, no CICA 1 [Centro de Instrução de Condutores Auto-rodas], no Porto, junto ao palácio de Cristal,

(xi) Escreveu a sua primeira carta em 4 de janeiro de 1972, na recruta, no Porto; foi guia ocasional, para os camaradas que vinham de fora e queriam conhecer a cidade, dos percursos de "turismo sexual"... da Via Norte à Rua Escura;

(xii) Passou pelo Regimento de Cavalaria 6, depois da recruta; promovido a 1.º cabo condutor autorrodas, será colocado em Penafiel, e daqui é mobilizado para a Guiné, fazendo parte da 3.ª CART / BART 6250 (Fulacunda, 1972/74),

(xiii) Chegada à Bissalanca, em 26/6/1972, a bordo de um Boeing dos TAM - Transportes Aéreos Militares; faz a IAO no quartel do Cumeré; o dia 2 de julho de 1972, domingo, tem licença para ir visitar Bissau, e fica lá mais uns tempos para um tirar um curso de especialista em Berliet,

(xiv) Um mês depois, parte para Bolama onde se junta aos seus camaradas da companhia; partida em duas LDM para Fulacunda; são "praxados" pelos 'velhinhos' (ou vê-cê-cês), os 'Capicuas", da CART 2772;

(xv) Faz a primeira coluna auto até à foz do Rio Fulacunda, onde de 15 em 15 dias a companhia era abastecida por LDM ou LDP; escreve e lê as cartas e os aerogramas de muitos dos seus camaradas analfabetos.

(xvi) É "promovido" pelo 1.º sargento a cabo dos reabastecimentos, o que lhe dá alguns pequenos privilégio como o de aprender a datilografar... e a "ter jipe"; a 'herança' dos 'velhinhos' da CART 2772, "Os Capicuas", que deixam Fulacunda; o Dino partilha um quarto de 3 x 2 m, com mais 3 camaradas, "Os Mórmones de Fulacunda";

(xvii) "Dino", o "cabo de reabastecimentos", o "dono da loja", tem que aprender a lidar com as "diferenças de estatuto", resultantes da hierarquia militar: todos eram clientes da "loja", e todos eram iguais, mas uns mais iguais do que outros, por causa das "divisas"... e dos "galões"...

(xviii) Faz contas à vida e ao "patacão", de modo a poder casar-se logo que passe à peluda; e ao fim de três meses, está a escrever 30/40 cartas e aerogramas por mês; inicialmente eram 80/100; e descobre o sentido (e a importância) da camaradagem em tempo de guerra.

(xix) Como "responsável" pelo reabastecimento não quer que falte a cerveja ao pessoal: em outubro de 1972, o consumo (quinzenal) era já de 6 mil garrafas; ouve dizer, pela primeira vez, na rádio clandestina, que "éramos todos colonialistas" e que "o governo português era fascista"; sente-se chocado.


O "puto de Senradelas"
na foz do rio Fulacunda, região de Quínata,
Guiné (c. 1972/73

(xx) Fica revoltado por o seu camarada responsável pela cantina, e como ele 1.º cabo condutor auto, ter apanhado 10 dias de detenção por uma questão de "lana caprina": é o primeiro castigo no mato; por outro lado, apanha o paludismo, perde 7 quilos, tem 41 graus de febre, conhece a solidariedade dos camaradas e está grato à competência e desvelo do pessoal de saúde da companhia.

(xxi) Em 8/11/1972 festejava-se o Ramadão em Fulacunda e no resto do mundo muçulmano; entretanto, a companhia apanha a primeira arma ao IN, uma PPSH, a famosa "costureirinha" (o seu matraquear fazia lembrar uma máquina de costura).

(xxii) Coomeça a colaborar no jornal da unidade, os "Serrotes" (dirigido pelo alf mil Jorge Pinto, nosso grã-tabanqueiro), e é incentivado a prosseguir os seus estudos; surgem as primeiras dúvidas sobre o amor da sua Mely [Maria Amélia],
com quem faz, no entanto, as pazes antes do Natal; confidencia-nos, através das cartas à Melym as pequenas besteiras que ele e os seus amigos (como o Zé Leal de Vila das Aves) vão fazendo,

(xxiii) Chega ao fim o ano de 1972; mas antes disso houve a festa do Natal; como responsável pelos reabastecimentos, a sua preocupação é ter bebidas frescas, em quantidade, para a malta que regressa do mato, mas o "patacão", ontem como hoje, era sempre pouco.

(xxiv) Dá a notícia à namorada da morte de Amílcar Cabral (que foi em 20 de janeiro de 1973 na Guiné-Conacri e não... no Senegal); passa a haver cinema em Fulacunda; manda uma encomenda postal de 6,5 kg à namorada; em 24 de fevereiro de 1973, dois dias antes do Festival da Canção da RTP, a companhia faz uma operação de 16 horas, capturando três homens e duas Kalashnikov, na tabanca de Farnan.

(xxv) É-lhe diagnosticada uma úlcera no estômago que, só muito mais tarde, será devidamente tratada; e escreve sobre a população local, tendo dificuldade em distinguir os balantas dos biafadas; em 20/3/1973, escreve à namorada sobre o Fanado feminino, mas mistura este ritual de passagem com a religião muçulmana, o que é incorreto; de resto, a festa do fanado era um mistério, para a grande maioria dos "tugas" e na época as autoridades portuguesas não se metiam neste domínio da esfera privada; só hoje a Mutilação Genital Feminina passou a a ser uma "prática cultural" criminalizada.

(xxvi) Depois das primeiras aeronaves abatidas pelos Strela (em março/abril de 1973), o autor começa a constatar que as avionetas com o correio começam a ser mais espaçadas; o primeiro ferido em combate, um furriel que levou um tiro nas costas, e que foi helievacuado, em 13 de abril de 1973, o que prova que a nossa aviação continuou a voar depois de 25 de março de 1973, em que foi abatido o primeiro Fiat G-91 por um Strela, pilotadio pelo nosso grão-tabanqueiro Miguel Pessoa, hoje cor piçav ref.

(xxvii) Vai haver uma estrada alcatroada de Fulacunda a Gampará; e Fulacunda passa a ter artilharia  (obus 14); 

(xxviii) O "Dino"  faz 23 anos em 19 de maio de 1973; a 21, sai para Bissau, para ir de férias à Metrópole; um grupo de 10 camaradas alugam uma avioneta, civil, que fica por um conto e oitocentos escudos [equivalente hoje a 443 €].

(xxix) Num das suas cartas ou aerogramas, faz considerações sobre o clima, as chuvas; em 19/5/1973; vem de férias à Metrópole, com regresso marcado para o início de julho de 1973: regista com agrado o facto de o pai, biológico, ter trazido a sua tia e a sua avó ao aeroporto de Pedras Rubras para se despedirem dele.

(xxx) Vê, pela primeira vez, enfermeiras, brancas, paraquedistas; apercebe-se igualmente da guerra psicológica; queixa-se de a namorada não receber o correio; manda um texto para o jornal "O Século" que decide fazer circular pelo quartel e onde apela a uma maior união do pessoal da companhia, com críticas implícitas ao capitão Serrote por quem não morre de amores: na sequência disso, sente-se "perseguido" pelo seu comandante...

(xxxi) Vai de baixa médica para Bissau, mas não tem lugar no HM 241; passa o Natal de 73 e o Ano Novo de 1974 nos Adidos; conhece a "boite" Chez Toi onde vê atuar alguns elementos do grupo musical Pop Five Music Incoporated, a cumprir o serviço militar na Guiné;

(xxxii) Grande ataque, em 7/1/1974, ao quartel e tabanca de Fulacunda com canhões s/r, resultando danos materiais, feridos entre os militares e a população e a morte de uma criança.

(xxxiii) Faltam 5 meses para acabar a comissão... e há mais uma "crise" nas relações com a namorada;

(xxxiv) Em fevereiro de 1974, comunca à namorada que tem, já algum tempo, um pequeno negócio: venda de  uísque, tapetes, tabacos de marcas que não há na cantina, isqueiros Ronson, etc.

(xxxv) Neste período escreveu centenas de cartas, aerogramas e postais pra familiares, namorada e amigos; ele estima em mais de 800; possui a maioria delas pois pediu que as guardassem, e prometeu que  jamais as iria reler.
 
(xxxvi) Regressa  à vida civil em 26 de setembro de 1974.

(xxxvii) Casa-se, na  igreja paroquial de Figueiró, Amarante, no dia 6 de setembro de 1975,  com Maria Amélia Moreira Mendes; o casal tem hoje dois filhos do sexo masculino e uma neta.

(xxxviii) Ganha, entretanto, o primeiro prémio dum concurso televisivo da SIC (Paródia Nacional, 1997)

(xxxix) Em maio de 2005, estando  desempregado, aproveita para tirar um curso de utilização de computadores; volta a trabalhar em 2006 na mesma profissão, mas agora na reconstrução de automóveis clássicos, para a empresa Solitay Drivers.

(xl) No ano lectivo 89/90 fez o 6º ano no agrupamento de escolas Dr. Leonardo Coimbra na Lixa (curso nocturno); em  2005 concluiu o 9º ano de escolaridade através do CNO (Centro de Novas Oportunidades) na Associação Comercial de Amarante; e em 2009 completa o 12º ano, novamente através do CNO na escola secundária de Amarante, ano em que voltou a ficar desempregado.

(xli) Em 2007 publica o seu primeiro livro (poesia); depois um livro de ficção (o romance “Desertor 6520”, 2013) e, mais recentemente um livro de memórias ("O puto de Senradelas", 2023).

(xlii) Já escreveu dezenas de poemas, crónicas e artigos de opinião para o jornais da região; os primeiros textos que escreveu resumiam-se a algumas cartas e quadras que destruiu quando ele próprio ingressou na vida militar a 3 de janeiro de 1972; 
 
(xliii) Trabalhou e viveu em Amarante, residindo hoje na Lixa, Felgueiras, onde foi vizinho do nosso grã-tabanqueiro, o padre Mário da Lixa (1937-2022), ex-capelão em Mansoa (1967/68), com quem, de resto, colaborou  em iniciativas culturais, no Barracão da Cultura.

(xliv) Teve a iniciativa da criação, por volta de 2018,  do Bosque dos Avós na Serra do Marão (Aboadela, Amarante).

(xlv) Foi o autor da exposição fotodocumental "A Vida de Um Soldado",  Casa da Cultura Leonardo Coimbra (Lixa, Felgueiras, 29/11 - 31/12/ 2024),

(xlvi) Tem página no Facebook (desde setembro de 2017).

(xlvii)  É membro n.º 756 da nossa Tabanca Grande (desde 
 

Fontes consultadas:





 (Recolha, revisão / fixação de texto: LG)
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Nota do editor:

Último poste da série > 14 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26387: História de vida (53): Mário Gaspar ex-fur mil art, MA, CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68), lapidador de diamantes reformado... mas começou por ser um "rapaz de Alhandra"

Guiné 61/74 - P26483: As nossas geografias emocionais (42): A Fulacunda do meu tempo (José Claudino da Silva, "Dino", ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART /BART 6520 / 72, Fulacunda, 1972/74) - Parte I

 

Foto nº 25A > O José Claudino da Silva, 1º cabo condutor auto,  â entrada da vila de Fulacunda, ao volante de um Unimog 411





Foto nº 9 e 9A > Fulacunda > Aquartelalmento > A "brigada da limpeza"


Foto nº 8B > Fulacunda > Parte do aquartelamento


Foto nº 4 > Fulacunda > Vista parcial da parada, foto tirada do fortim ou do depósito de água.



Foto nº 4A > Fulacunda > Pau da bandeira, parte da parada e edifício do comando e secretaria



Foto nº  7 > Fulacunda > Parte do aquartelamento... Vista do alto do fortim ou 
do depósito de água.


Foto nº 7A > Fulacunda > Capela


Foto nº 7B > Fulacunda > Caserna



Foto nº 5 >  Fulacunda > Exterior do aquartelamento


Foto nº  11   > Fulacunda > Aquartelamento > Casernas


Foto nº 11A > Fulacunda > Aquartelamento > Casernas, vista do alto do fortim do depósito de água.


Foto nº 8 >Fulacunda > Aquartelamento > Parada, vista do alto do fortim ou do depósito de água.


Foto nº 2 > Fulacunda > Exterior  do aquartelamento


Foto nº 12   > Fulacunda, Fortim > O Dino, de sentinela.

 ("O meu amigo fotógrafo andou comigo a tirar 'slides'. Ainda não sei bem o que é isso mas parece que são fotos de ver projectadas num lençol", escreveu ele em carta para a namorada).


Foto nº 10 > Fulacunda > Aquartelamento > Pau da bandeira, parada e caixote do lixo. Vê-se que é um quartel de construção recente, com aspeto impecável e recolha de lixo regular.


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª C/BART 6520/72, 1972/74)  >  s/d >  Fotos do álbum do José Claudino da Silva. Legendagem do editor, sujeita a revisão.


Fotos: © José Claudino da Silva  (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]



José Claudino da Silva,
 "chapeiro" em Amarante,
 agora escritor; é também o criador
do Bosque dos Avós,  na serra do Marão.

1. Fotos de Fulacunda: seleção de um lote de 36 fotos extraídas de "slides", tirados pelo fotógrafo da companhia. Enviadas pelo José Claudino da Silva, em 18 de janeiro passado. Sem legendas.


O José Claudino da Silva ("Dino", para os amigos) tem cerca de 6 dezenas de referências no nosso blogue para o qual entrou em 10/10/2017

(i) natural de Penafiel, começou a trabalhar aos 11 anos de idade, na construção civil;

(ii) residente em Amarante;

(iii) bate-chapas, reformado;

(iv) ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART /BART 6520 / 72, Fulacunda, 1972/74; 

(v) "self made man" ou "homem que se fez a si próprio", concluiu em  2009 o 12º ano   através das programa das "Novas Oportunidades";

(vi) escritor, é autor de três livros, um de poesia (2007) e outro de ficção (2016), e mais recentemente um outro, de memórias  da infância e adolescência ("O *uto de Senradelas",  2023);

(vii) membro nº 756 da nossa Tabanca Grande;  

(viii) é autor da novável série "Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva".


(Seleção, edição e legendagem das fotos: LG)
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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26482: A Nossa Poemateca (8): José Gomes Ferreira (Porto, 1900 - Lisboa, 1985), por Mário Gaspar





José Gomes Ferreira (Porto, 1900 - Lisboa, 1985)

1. Foram-nos enviados dois poemas do José Gomes Ferreira,  pelo Mário Gaspar,  muito antes da pandemia ... Já transcrevemos o teor da mensagem  (*) em que o nosso camarada, ex-fur mil, CART 1659 (Gadamael e Ganturé, 1967/68), fala da sua intância e do meio operário em que foi criado, em Alhandra, e em que tomou o gosto pela leitura de  grandes escritores, neorrealistas, como o Soeiro Pereira Gomes e o Alves Redol... 


(...) Data: 29 de janeiro de 2017 às 04:16

Assunto: Dois Poemas de José Gomes Ferreira

(...) Que tal a figura de Soeiro Pereira Gomes, o "Gineto" ? Esse rapaz, de Alhandra e que nasceu numa bateira no rio que amo – o meu Tejo – "meninos que nunca foram meninos" e tinham de suportar o calor do tijolo e telha queimada sobre as costas. Os telhais existiram mesmo.

Estive lá. Pois o "Gineto", do livro "Esteiros", de Soeiro Pereira Gomes, tornou-se no maior atleta da época, o nadador que venceu as ondas do Canal da Mancha, Joaquim Baptista Pereira foi meu amigo. Ainda é um grande Amigo.(...)

(...) Tanto que aprendi... Conheci um senhor da nossa literatura, Alves Redol. Reunia com ele (...).

(...) Mas dá gosto termos estes poemas. Portugal é pobre, mas rico na literatura. Grandes senhores e esquecidos. Cada dia mais um. José Gomes Ferreira foi outro que conheci. (...)

Aqui vão para a nossa série "Poemateca" (**). O Mário não cita a fonte. Procurámos colmatar essa lacuna. E ficámos a saber que o poeta nasceu em Santo Ildefonso, Porto. De qualquer modo, nesta série , os poetas e os poemas selecionados são sempre uma escolha pessoal e livre dos nossos camaradas. O Mário manda-nos regularmente poesia, e mandou-nos muita, durante a pandemia de covid-19. Não mo agradeco. Faço-o agora.



Viver Sempre Também Cansa!

por José Gomes Ferreira



O sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinza, negro, quase verde...
Mas nunca tem a cor inesperada.

O Mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.

As paisagens também não se transformam.
Não cai neve vermelha,
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua.

Tudo é igual, mecânico e exacto.

Ainda por cima os homens são os homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação.

E há bairros miseráveis, sempre os mesmos,
discursos de Mussolini,
guerras, orgulhos em transe,
automóveis de corrida...

E obrigam-me a viver até à Morte!

Pois não era mais humano
morrer por um bocadinho,
de vez em quando,
e recomeçar depois, achando tudo mais novo?

Ah! se eu pudesse suicidar-me por seis meses,
morrer em cima dum divã
com a cabeça sobre uma almofada,
confiante e sereno por saber
que tu velavas, meu amor do Norte.

Quando viessem perguntar por mim,
havias de dizer com teu sorriso
onde arde um coração em melodia:
"Matou-se esta manhã.
Agora não o vou ressuscitar
por uma bagatela."

E virias depois, suavemente,
velar por mim, subtil e cuidadosa,
pé ante pé, não fosses acordar
a Morte ainda menina no meu colo...


In: José Gomes Ferreira - "Viver Sempre também Cansa" (publicado originalmente na "Presença, folha de arte e crítica", ,julho-outubro,1931)


Devia Morrer-se de Outra Maneira

por José Gomes Ferreira



Devia morrer-se de outra maneira. 
Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.
Ou em nuvens. 

Quando nos sentíssemos cansados, 
fartos do mesmo sol, a fingir de novo todas as manhãs, 
convocaríamos os amigos mais íntimos com um cartão de convite 
para o ritual do Grande Desfazer: 
"Fulano de tal comunica a V. Exa. que vai transformar-se
 em nuvem hoje às 9 horas. Traje de passeio".

E então, solenemente, com passos de reter tempo, 
fatos escuros, olhos de lua de cerimónia, 
viríamos todos assistir à despedida.
Apertos de mãos quentes. 
Ternura de calafrio.
 "Adeus! Adeus!" 

E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento, 
numa lassidão de arrancar raízes... 
primeiro, os olhos... em seguida, os lábios... 
depois os cabelos... a carne, em vez de apodrecer, 
começaria a transfigurar-se em fumo... 
tão leve... tão subtil... tão pólen... 
como aquela nuvem além vêem? 

Nesta tarde de Outono ainda tocada por um vento de lábios azuis… 


In: José Gomes Ferreira, "Poeta Militante I, II e III"  (
1978)

(Revisão / fixação de texto, notas: LG)


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Notas do editor:


(**) Último poste da série > 21 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26410: A Nossa Poemateca (7): Adília Lopes (1960-2024): "Os amores / que não tive / (e foram muitos) /moeram-me / o juizo"...

Guiné 61/74 - P26481: Notas de leitura (1771): A colonização portuguesa, um balanço de historiadores em livro editado em finais de 1975 (5) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 29 de Setembro de 2023:

Queridos amigos,
O historiador Hermann Kellenbenz faz um tipo de relatório de situação sobre aspetos histórico-económicos da expansão ultramarina portuguesa, não emite juízos quanto a um sugerido balanço. Reconheça-se o interesse pelo que escreve quanto a formas de povoamento, de presença portuguesa em fortalezas e postos de África, a natureza do comércio oriental, as etapas da colonização brasileira, o modo como os portugueses influíram no comércio mundial devido ao açúcar, às especiarias, ao ouro, às madeiras e ao comércio negreiro. O autor observa a falta de recursos humanos, e daí o abandono das praças do Norte de África, onde a beligerância era constante e os proventos baixos; como a presença portuguesa em África foi alterando as redes de negócio do ouro; as mudanças operadas após o descobrimento da rota do Cabo que trouxe uma cascata de preciosidades a Lisboa; e o bom exemplo da pimenta que era distribuída por toda a Europa, se bem que Portugal não possuísse o monopólio das especiarias e muito menos dos metais preciosos. Enfim, uma estimulante análise da vertente histórico-económica dos Descobrimentos portugueses. E assim se chegou ao fim da apreciação do livro Balanço da Colonização Portuguesa, que nos suscitou a curiosidade por ter sido editado precisamente em 1975.

Um abraço do
Mário



A colonização portuguesa, um balanço de historiadores em livro editado em finais de 1975 (5)

Mário Beja Santos

Iniciativas Editoriais foi uma editora altamente conceituada, dirigida por José Rodrigues Fafe, os temas sociopolíticos foram o seu polo atrativo. Lançou um projeto aliciante, o de juntar um conjunto de profundos conhecedores da historiografia da expansão/colonização portuguesa e pedir-lhes uma apreciação em jeito de balanço, estávamos no ano de 1975.

Responderam ao pedido vários historiadores e investigadores, já aqui se falou dos textos de Banha de Andrade, Frédéric Mauro, Charles Ralph Boxer e Joel Serrão. Vamos hoje despedirmo-nos com o contributo do historiador alemão Hermann Kellenbenz, intitulado Aspetos histórico-económicos da expansão ultramarina portuguesa.

Ele começa por várias interrogações: como foi possível a um país tão pequeno criar condições de povoamento nas suas possessões ultramarinas? Como foi financiada a expansão ultramarina? O que significou a expansão para a economia portuguesa? De que modo se enquadrou a expansão na economia europeia? Qual o seu significado para os territórios ultramarinos?

Procurando responder, conduz-nos às condições climático-geográficas do país, de terra pobre, com períodos consideráveis de seca e de chuva irregulares, o que pode explicar a concentração demográfica nas zonas costeiras; foi sempre permanente a escassez demográfica, apesar das conquistas feitas no Norte de África não foi possível penetrar no Norte de Marrocos, mas tudo sempre numa cadeia infindável de dificuldades, e a partir de 1541 perderam-se uma a uma as possessões conquistadas; os arquipélagos da Madeira e dos Açores eram áreas relativamente pequenas, suscitou poucos problemas, mas vieram colaborações do continente europeu e cedo se começou a utilizar a mão-de-obra escrava; os flamengos tiveram um papel importante no povoamento dos Açores e foram feitas concessões no povoamento de Santiago e outras ilhas de Cabo Verde; os povoadores que se apresentaram na Senegâmbia e S. Tomé eram descendentes dos judeus degredados; não havendo, pois, condições de povoamento intensivo e alargando-se o espaço da presença portuguesa em África e depois no Oriente, encontrou-se solução a criação de postos de apoio tanto militares como comerciais, caso de Arguim ou São Jorge da Mina; a partir de 1503, Cochim na zona orienta da Índia, tornou-se o principal reduto dos portugueses, o governador-geral Afonso de Albuquerque, o primeiro vice-rei da Índia, favoreceu a mistura de mulheres muçulmanas hindus em casamentos com portugueses.

Proposto escrever em que termos os portugueses estavam presentes no longínquo oriente, o historiador observa que a situação do Brasil era completamente diferente, recorreu-se aos sistemas de donatorias e sesmarias, os donatários eram principalmente mercadores, funcionários públicos, gente que se tinha distinguido na Índia, sem necessariamente descenderem de famílias aristocráticas. Passando para a questão do financiamento, o autor releva o espírito empreendedor dos portugueses, nomeadamente os da costa algarvia e o povo de Lisboa, chamo a atenção para a contribuição de burgueses como Fernão Gomes e Martim Anes Boa Viagem, no entanto, o financiamento dos Descobrimentos competia em primeiro plano à Coroa, e tece a seguinte consideração: “Os reis portugueses demonstraram um alto grau de inteligência acolhendo estrangeiros com capital e espírito empreendedor e dando-lhes a possibilidade de participar nos Descobrimentos.” – e refere nomes como o do veneziano Cada Mosto, o de genovês Antonio de Nola, e enumera também outros nomes de italianos e de alemães. A sede da organização da Coroa era a Casa da Índia que foi dissolvida em 1549, para facilitar a entrada de capital estrangeiro. Mas havia um senão: o aparelho financeiro da Coroa não se desenvolvera de acordo com as exigências crescentes das expedições ultramarinas – daí a dívida galopante e a incapacidade de lhe pôr termo dada a vida luxuosa que se praticava.

Qual o significado económico destas possessões ultramarinas? Ceuta rapidamente perdeu importância comercial que até aí detivera; as ilhas do Atlântico revelavam-se economicamente importantes, a Madeira fornecia madeira, urzela e peixe, o açúcar virá depois, será exportado para os mercados da Europa Central; os Açores tornaram-se produtores de cereais, exploravam a produção de tinta-pastel que era exportada sobretudo para os flamengos; Cabo Verde não se prestava muito à cultura da cana do açúcar, na Ilha do Fogo desenvolveu-se a cultura do algodão bem como a criação de gado bovino e cavalar e em ilhas inabitadas praticou-se a criação de gado caprino; em S. Tomé, em 1512, desenvolveu-se a cana açucareira, havia um total de 60 engenhos e 300 escravos; mas é importante relevar que Cabo Verde passou a ter um importante papel no comércio ultramarino português, devido ao ouro e aos escravos. Kellenbenz alarga-se na descrição deste fenómeno económico na costa ocidental africana, mas também no reino de Monomotapa, na África Oriental, aqui se adquiriu muito ouro que também vinha do longínquo oriente, de Sumatra e da Malásia. E dá enfâse ao tráfico africano de escravos, da maior importância a partir do último quartel do século XV, não deixando igualmente de mencionar o comércio da pimenta e a malagueta, mas não deixa de referir que a pimenta africana ficava muito aquém da pimenta vinda da Índia Oriental. Tece uma larga exposição sobre todo este comércio para depois mencionar o Brasil, primeiro pela exploração açucareira, com destaque para Pernambuco e Baía, depois o comércio do pau-brasil, muito apreciado em Lisboa, Antuérpia e Amesterdão.

Outra questão a responder à pergunta das consequências da expansão portuguesa na economia europeia. O autor afirma que é difícil estabelecer uma nítida separação entre a parte portuguesa e a espanhola, procura, no entanto, aferir o carregamento dos barcos e os portos a que se destinava tal carga, de Antuérpia a Danzig, e indiscutivelmente traziam novidade: “Os produtos que chegavam à Europa, as mercadorias africanas e asiáticas, alteraram completamente a antiga rota do Mediterrâneo. Os produtos vindos das ilhas do Atlântico e Brasil eram completamente novos. A importação de especiarias orientais é o setor mais interessante na rota do Cabo, alteravam-se as regras da concorrência e com o tempo o comércio no Mediterrâneo foi-se desvanecendo. E importa não esquecer que Portugal não possuía o monopólio das especiarias, Portugal era forçado a vendê-las para comprar os produtos apetecidos em África e na Ásia, acontecerá o mesmo com os nossos metais preciosos.” E daí a nova questão: como é que se verificou o domínio português na economia das regiões subjugadas: nas ilhas atlânticas houve povoamento, eram terra-virgem; nos pontos africanos era necessário apoio militar, e o autor recorda que os portugueses que vivam fora das fortalezas eram na sua maioria exilados, reclusos ou ventureiros, caso dos tangomaos na Guiné; e no tráfego de escravos faziam-se acordos com chefaturas africanas; recorda que o movimento comercial português no Índico devem ser observadas à luz da ligação com a viagem ao Oriente, era simultaneamente um sistema de alianças mas também podia envolver crueldade e intimidação; e tece considerações sobre a missionação fundamentalmente no Brasil e nalgumas parcelas do Oriente. Kellenbenz não formula qualquer juízo sobre qual o balanço da colonização portuguesa, a não ser estes tópicos de interações socioeconómico-culturais, tanto em África como no Oriente e Brasil.

Damos assim por findo um conjunto de sumulas em torno de uma iniciativa bem curiosa de se fazer um balanço da colonização portuguesa em pleno ano de 1975.

Para que conste.

Hermann Kellenbenz
Exploração açucareira no Brasil
Vista do Castelo de São Jorge da Mina, figura do século XVII, a fortaleza já está em poder dos holandeses
O tão apetecido pau-brasil comercializado por toda a Europa
Como se organizava uma missão jesuítica no Brasil, século XVII
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Notas do editor:

Vd. post de 3 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26455: Notas de leitura (1769): A colonização portuguesa, um balanço de historiadores em livro editado em finais de 1975 (4) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 7 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26471: Notas de leitura (1770): O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, a governação de Vellez Caroço, totalmente distinta das anteriores (13) (Mário Beja Santos)