Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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segunda-feira, 26 de maio de 2025
Guiné 61/74 - P26846: Parabéns a você (2379): Jorge Narciso, ex-1.º Cabo MMA da FAP (BA 12 - Bissau, 1969/70)
Nota do editor
Último post da série de 18 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26813: Parabéns a você (2378): Joaquim Fernandes Alves, ex-Fur Mil Art da CART 1659 (Gadamael, 1967/68)
domingo, 25 de maio de 2025
Guiné 61/74 - P26845: Tabanca Grande (575): Joaquim Caldeira, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834 (Tite e Fulacunda, 1968/69), que se senta à sombra do nosso poilão no lugar 905
Recordamos que o nosso camarada Aníbal José da Silva, no seu poste Guiné 61/74 - P26825: (Ex)citações (433), referiu o nome do Joaquim Caldeira por ter encontrado na Net um texto da autoria deste. Segundo o relato do Caldeira, comandava, em 4 de Agosto de 1969, a coluna apeada entre Tite e Nova Sintra, que escoltava alguns militares da CCAV 2483, entre os quais o malogrado Soldado Domingos da Conceição Verdade Ventinhas, falecido em virtude dos ferimentos resultantes do accionamento, por ele próprio, de uma mina antipessoal reforçada com TNT. O Aníbal, que caminhava junto do Ventinhas, ficou ferido com gravidade pela projecção de lama que o atingiu especialmente na cara, resultando a perda de visão durante algum tempo e sequelas que ainda hoje se mantêm.
Lembremos o texto do Aníbal José da Silva no P26825:
EMOÇÕES E AMIZADES FORTES
Ao pesquisar na Net informações relacionadas com o aquartelamento de Nova Sintra, na Guiné, tive acesso ao Blogue do Batalhão de Artilharia 1914, que o meu, Batalhão de Cavalaria 2867, rendeu na região do Quínara em Março de 1969.
Nele li as crónicas do Furriel Joaquim Caldeira, da CCAÇ 2314, e numa delas com o título “Um tronco sem pernas e sem braços”, verifiquei que, pelas piores razões, eu era um dos protagonistas da história (ver recorte de imprensa abaixo). Fiquei com muita curiosidade e vontade de falar com o Caldeira.
Através do mensenger do facebook fiz-lhe chegar, em 30/11/2016, a seguinte mensagem:
Amigo Joaquim Caldeira
Peço desculpa por o tratar assim, mas creio que não me levará a mal este tratamento. Não nos conhecemos pessoalmente, muito embora tivéssemos tido um contacto pessoal, no, para mim, trágico dia 04/08/69.
Na net, ao pesquisar informaçoes e relatos sobre Nova Sintra, encontrei as suas crónicas e numa delas a referência àquele dia trágico com o título “Um tronco sem pernas e sem braços”. Eu era o vagomestre da CCAV 2483 sediada em Nova Sintra, que naquela madrugada chuvosa, fomos comboiados de Tite para Nova Sintra, numa coluna apeada que o meu amigo comandava e que segundo refere na crónica “tinha perdido os dois olhos”.
As lesões que sofri nos olhos e de que tenho sequelas, não foram tão graves quanto à aparência daquele dia. Estive quarenta dias no Hospital Militar de Bissau, trinta dos quais internado e dez na consulta externa. Nos primeiros vinte dias não via rigorosamente nada, para além das dores horríveis nos olhos.
E passo a apresentar-me. O meu nome é Aníbal (...) e quero agradecer-lhe o muito que fez por mim naquele dia.
Dias depois o Caldeira telefonou-me, mas não foi possível estabelecer qualquer conversa, tendo ele enviado a seguinte mensagem:
“Boa tarde, sou o Caldeira. Ainda estou comovido com a notícia de que, o homem que ficou cego naquela manhã, afinal vê. Levei quase 50 anos com estes demónios que me atormentavam desde então. Desculpa não ter conseguido falar. È muita emoção para gerir. Temos muito que falar , muitas memórias para recordar. Afinal, consegues ver e estou muito feliz por isso. Em boa hora me lembrei de escrever aquela aventura. Sem isso nunca teria tido paz e sossego. Também nunca cheguei a saber quem foi que pisou a mina. Assim que puder eu ligo. Ficas a pertencer ao meu grupo de combate.
Um abraço sentido,
J Caldeira”.
Comentário do coeditor CV:
Caro Joaquim Caldeira,
Sê bem aparecido na tertúlia e que te mantenhas por cá, assim como nós todos, por muitos e bons anos, são os votos da tertúlia.
Ocupas "administrativamente" o lugar 905 deste já extenso grupo de antigos combatentes e amigos da Guiné que se sentam à sombra deste frondoso "Poilão".
O nosso editor Luís Graça já te disse o essencial sobre o nosso Blogue que é um repositório de memórias contadas na primeira pessoa, pelo que não te vou maçar quanto a isto.
Sendo tu o primeiro representante da tua 2314 na tertúlia, tens a responsabilidade acrescida de nos deixares algo que a perpetue na nossa página, que queremos faça parte da História de Portugal e da guerra na Guiné, em particular. As guerras são uma desgraça, criada nos gabinetes do Poder, que matam a eito, não poupando civis e militares, homens, mulheres e crianças, novos ou velhos. Não queremos que volte a acontecer algo semelhante com e em Portugal e, se possível no mundo inteiro.
É fácil, como já sabes, é só enviares os textos, em word preferencialmente, e as tuas fotos, devidamente legendadas, em formato JPEG. Isto não esquisitice, é só para facilitar o nosso trabalho de edição.
A terminar, não me posso esquecer de deixar-te um abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores.
CV
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Nota do editor
Último post da série de 22 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26833: Tabanca Grande (574): José Manuel Loureiro Cochofel, ex-Fur Mil Inf - Minas e Armadilhas, da CCAÇ 1551 / BCAÇ 1888 (Bambadinca, Fá Mandinga, Xitole e Saltinho, 1966/68), que se senta à sombra do nosso poilão no lugar 904
Guiné 61/74 - P26844: Convívios (1031) Encontro no convento do Varatojo, Torres Vedras: Famílias Crisóstomo & Crispim + amigos e camaradas da Guiné, hoje de manhã (João Rodrigues Lobo, ex-alf mil, BENG 447, Brá, 1967/1971)


Foto nº 6 e 6A > Capela )Na foto bº 61, em primeiro planod e costas, o nosso camarada Estêvão Henriques e a esposa Rosário, que vieram do Seixal, Lourinhã)

1. Mensagem do nosso camaraad João Rodrigues Lobo:
Data - 25 mai 2025 14:19
Assunto -. Encontro no Convento do Varatojo
Boa tarde,
Hoje tive o prazer de conhecer João Crisóstomo e sua esposa Vilma no seu encontro das famílias Crispim e Crisóstomo.
No magnifico Convento do Varatojo, assistiu-se à missa dominical.
(...) "Arquitectura religiosa, maneirista e barroca. Igreja conventual de planimetria maneirista - planta longitudinal, com capelas colaterais encimadas por tribuna num dos lados e sem transepto. Conserva elementos de diversos estilos: gótico - o portal integrado em gablete, os baixos relevos com representação heráldica que o ladeiam (já de um gótico flamejante), e o claustro; no manuelino - tecto mudéjar da portaria, alguns painéis pintados e os portais do claustro e o da capela do S. Jesus; maneirista - o púlpito e os azulejos ponta de diamante; barroco - os azulejos de albarradas, padrão ou figurativo, sendo os da capela-mor joaninos; os da sacristia são atribuídos a Policarpo de Oliveira Bernardes; a talha dos retábulos, sendo o mor do estilo nacional; a da capela de Nossa Senhora das Dores é já rocaille. A tela da capela-mor é do italiano Bacarelli." (...)
Último poste da série > 23 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26837: Convívios (1030): Crispins & Crisóstomos + Amigos & Camaradas da Guiné, Convento do Varatojo, Torres Vedras, domingo, 25 de maio 10h00 (João e Vilma Crisóstomo, Nova Iorque)
Guiné 61/74 - P26843: Recordações de um furriel miliciano amanuense (Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG, Bissau, 1973/74) (Carlos Filipe Gonçalves, Mindelo) - Parte IV: Na Repartição de Autos Víveres, tenho de assinar o ponto todos os dias, trabalha-se das 8h00 às 12h30, e das 15h00 às 18h30, sábado e domingo de manhã... "Estamos em guerra, até em Bissau", dizem-me!...

Pouco depois é hora de saída, vamos ao almoço na messe, onde há muita conversa e movimentação. Entra-se no refeitório, escolhe-se um lugar vago e sentamo-nos à mesa, já lá estão os pratos e talheres, a comida, o vinho, uma garrafa de água e um «balde de gelo», verifico depois que é «fundamental»! Os veteranos enchem os copos com o gelo para refrescar o vinho!
Chama-me atenção e vai marcar a minha rotina de todos os dias a difusão das emissões da rádio na esplanada da messe. Ouve-se o PIFAS, Programa das Forças Armadas, que antecede o jornal da tarde às 13 horas em direto da Emissora Nacional em Lisboa. O PIFAS é um programa do Comando-Chefe, dizem-me, produzido pelo Departamento APSIC (Acção Psicológica).
“Na Guiné existe apenas uma emissora de rádio, prolongamento da Emissora Nacional. É divertida, tem anúncios locais, passa discos pedidos, ação psicológica, etc.” recorda o ex-militar António Graça de Abreu.
Depois do noticiário das 13:00 da Emissora Nacional, em direto de Lisboa, toda a malta recolhe para a sesta. No pavilhão metálico onde estou alojado, o calor é insuportável, impossível tirar uma soneca.
(*) Último poste da série 22 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26829: Recordações de um furriel miliciano amanuense (Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG, Bissau, 1973/74) (Carlos Filipe Gonçalves, Mindelo) - Parte III: Desembarque e colocação em Bissau, na CEFINT, 1ª Rep QG/CTIG, em Santa Luzia
sábado, 24 de maio de 2025
Guiné 61/74 - P26842: Lembrete (53): Há já 75 magníficos inscritos para o 61º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, 5ª feira, dia 29 de maio, em Algés... "Piras" são 8, e o régulo Manuel Resende pede: "Tragam mais cinco, para gente compor as mesas: 10 x 8 = 80"
O "jovem régulo da Magnífica Tabanca da Linha", Manuel Resende, "autorretrato": dizem os amigos que "não passou pela guerra", ou então que foram os anos que não passaram por ele... (LG)
Último poste da série > 20 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26822: Lembrete (52): Há já 59 magníficos inscritos para o 61º almoço-convívio da Tabanca da Linha, 5ª feira, dia 29 de maio, em Algés... Prazo-limite de inscrição: até ao fim de 2ª feira, dia 26
Guiné 61/74 - P26841: Os nossos seres, saberes e lazeres (682): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (205): Algures, na Renânia-Palatinado, em Idstein, perto de Frankfurt – 5 (Mário Beja Santos)

Queridos amigos,
Só espero não ter abusado da vossa paciência saltando da arte do século XX para a do século XVI, até ser posto na rua não descansei a contemplar grandes nomes do Renascimento e à saída fui contemplar um quadro que sempre me fascinou por Georg Baselitz, obra da década de 1960, já este mestre alemão era motivo de escandaleira. Alguns destes génios da pintura foram referências essenciais para pintores contemporâneos, é o caso de Velásquez, outros têm sido subtraídos de um plano discreto e são hoje glorificados, caso de Andrea Mantegna; diante de um belo quadro de Pieter Bruegel, o Jovem, deixei a memória esvoaçar e recordei uma exposição espantosa intitulada A Firma Bruegel, que visitei no Museu das Belas-Artes de Bruxelas, a história verídica de um empreendimento que meteu várias gerações de Bruegel a reproduzir obras que vinham de Bruegel, o Velho, e que encheram palácios por toda a Europa, nós não ficámos de fora, temos uma dessas obras no Museu Nacional de Arte Antiga. E despeço-me de Der Städel, passo as margens do rio Meno sempre ofuscado por ver a capital do euro completamente iluminada.
Um abraço do
Mário
Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (205):
Algures, na Renânia-Palatinado, em Idstein, perto de Frankfurt – 5
Mário Beja Santos
Depois de uma viagem por obras representativas e movimentos estéticos da primeira metade do século XX e a contemplação de uma exposição da cidade de Amesterdão do tempo de Rembrandt, feita uma pausa para descansar as pernas e tomar um snack, atiro-me para o passado, estou ávido em rever algumas obras-primas que aqui visitei no início do século, penso que não constituiu o núcleo duro da coleção do banqueiro Städel, ele tinha as suas preferências pelos barrocos alemão e flamengo, há para aqui obras da maior importância, é essa a incursão que tenho o prazer de vos mostrar, e despeço-me do Städel olhando uma obra contemporânea de Georg Baselitz, da década de 1960, apreciei sempre este pintor um tanto inclassificável, alvo de escândalos, figurativo e abstracionista, onírico e prosaico, exigente pela leitura dos temas da sua pintura, sente-se a intensidade da sua polivalência, experimentou quase tudo no mundo das artes, desde as artes gráficas à encenação, da escultura ao desenho. Aqui vos deixo um resumo do que mais apreciei até soar a campainha e pôr os visitantes na rua. E mesmo aqui deslumbrei-me com a vista do Meno e a cidade iluminada, mostrarei mais tarde.
Retrato de uma jovem com o seu cabelo solto, Albrecht Dürer, 1497. Dürer frequentou a feitoria de Antuérpia, aqui recebeu encomendas, aqui teve notícia do comércio português, o seu desenho do rinoceronte é fruto dessa relação e desse acervo de encomendas temos uma obra-prima no Museu Nacional de Arte Antiga, S. Jerónimo, uma aquisição do feitor de Antuérpia, Rui Fernandes de Almada.
O geógrafo, Vermeer, 1669. Para ser sincero, era uma das vincadas lembranças que me restava da visita deste museu, um quarto de século atrás. É uma tela pequena, tudo se ilumina, como é obra e graça na pintura de Vermeer da esquerda para a direita, o que permite a quem a contempla ter acesso ao trabalho minucioso do tecido recamado, multicolor, à frente, vemos vividamente um conjunto de objetos, a postura do geógrafo parece a de um modelo, inclinado e a olhar à distância através da vidraça, e depois prende-nos a atenção um sem número de detalhes como aquela estruturação da luz por toda a tela.
Companhia de milícia do distrito XI de Amesterdão sob o comando do capitão Reynier Reael, por Frans Hals e Pieter Codde, 1633-1637. Desde que tive o privilégio de conhecer obras de Frans Hals em Haia, procuro a sua companhia, temos aqui um grupo de gente muitíssimo bem arranjada, o pintor engalanou os dois oficiais, o capitão e o tenente, ricamente vestidos, por aqui me detive, deslumbrado, e sem querer a memória esvoaçou até ao famoso quadro de Rembrandt intitulado A Ronda de Noite, esta rapaziada da tropa queria um registo para todo o sempre, são quadros em que a vivência do grupo é o clamor do poder e da riqueza dos Países-Baixos.
Ecce Homo, por Bosch, ca. 1500. Ainda não é o Bosch do fantástico e do surreal, o que me embevece é esta alucinante profundidade do quadro, a raiva e o escárnio da multidão, a quase humanidade de Cristo que parece tiritar no seu corpo flagelado, curvado, o seu olhar estende-se até à eternidade, totalmente indiferente o conjunto dos seus algozes e da multidão ululante.
Vénus, Lucas Cranach, 1532. Cranach celebrizou-se pela nudeza dos corpos, revela-se um profundo conhecedor da anatomia humana e pela invulgaridade das exposições das figuras, veja-se a escolha da cor do chão em que a deusa assenta os pés, o seu véu transparente, quase translúcido, a evidenciar-se na negridão do fundo da tela.
Retrato do cardeal Gaspar de Borja y Velasco, Velásquez, ca. 1643-1645. Foi um dos maiores retratistas espanhóis, seduziu grandes nomes da pintura até ao presente, caso de Francis Bacon que sentiu atração em distorcer uma destas telas com cardeal, recriando outra pessoa, o pintor espanhol deixa patente o peso dos pormenores, veja-se o nariz cardinalício, o seu olhar penetrante, as faces encovadas, tem majestade, tem pose, mas não nos transmite empatia.
O evangelista S. Marcos, Andrea Mantegna, ca. 1448-1451. Foi um dos maiores do Renascimento italiano, tive a felicidade de ver expostos três quadros seus com o motivo da crucificação de Cristo no Museu das Belas-Artes em Tours, dois emprestados pelo Louvre, a partir de então este genial pintor faz parte das minhas preferências.
Retrato de Simonetta Vespucci como Ninfa, Botticelli, ca. 1480-1485. Botticelli é daqueles pintores que reconhecemos à primeira vista, olha-se para este retrato e de imediato viajamos até ao Nascimento de Vénus, uma das suas obras-primas na Galeria dos Ofícios, em Florença.
Retrato do Papa Júlio II, por Rafael, 1511/12. Pintor de encomendas papais, Rafael encheu o Vaticano de obras e este quadro de alguém que protegeu as artes é uma forma de imortalidade que também Miguel Ângelo ajudou com a poderosa escultura de Moisés junto do túmulo papal na Igreja de S. Pedro em in Vincoli, não muito longe do Fórum Romano.
Praça de S. Marcos em Veneza, Giacomo Guardi, ca. 1870-1810. Esta é a Praça de S. Marcos antes da chegada de Napoleão Bonaparte que mandou fechar o fundo com a chamada galeria napoleónica, neoclássica, que deu a esta praça uma formosura ímpar. Giacomo Guardi era descendente de Francesco Guardi, a maior coleção de obras em coleção particular dele está em Lisboa, no Museu Gulbenkian.
A Virgem e o Menino com S. João Batista e Isabel, Bellini, ca. 1490-1500. É preciso ser dotado de uma finura genial para que esta composição possuir o poder magnético de nos estontear com aqueles tons azuis intensos que ganham um estranho recorte com aquele fundo de azul do céu cheio de nuvens, e como nada destoa na simetria da composição com a indumentária pobre de S. João Batista enlevado diante daquele, como diz o Evangelho, de que ele não era digno de desatar as sandálias.
A adoração dos Reis Magos numa paisagem de inverno, Pieter Bruegel, o Jovem, ca. 1630. Mal sabia o pai deste que se transformara no promotor de uma firma de consecutivas cópias que eram encomendadas pela aristocracia e a grande burguesia. O filho de Pieter Bruegel, o Velho, também não frutava a introduzir variantes, e consegue fazer conjugar, com sucesso pleno, esta mistura de religiosidade com cenas da vida quotidiana, dando um cuidado realce à neve.
Retrato da infanta Margarida, por Velásquez, 1651-1673. Uma obra pictórica de génio fala por mil palavras, esta infanta aparece num conjunto de obras-primas, confesso que a que mais gosto é Las Meninas, que está no Museu do Prado, a infanta de Espanha rodeada da sua Corte no primeiro plano, uma tela cheia de profundidade quando ao fundo se abre uma porta por onde discretamente o pintor sai.
Oberon, por Georg Baselitz, 1963 – 1964. Já se ouvem os chamamentos das 17h45, os senhores visitantes são convidados a sair, e despeço-me desta memorável visita a Der Städel contemplando o Oberon de Baselitz, este mítico rei das fadas que também atraiu Shakespeare que deu intenso vigor na sua comédia Sonho de Uma Noite de Verão, o mesmo Oberon que entusiasmou o músico Weber, o seu Oberon é peça de reportório dos concertos. O que aqui me facina é a multiplicidade de figuras que parecem exatamente saídas de um sonho, fazem parte de um formulário de Baselitz de expor temas em completa rutura com a vida quotidiana. E agora vou ver Frankfurt ao anoitecer.
(continua)
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Nota do editor
Último post da série de 17 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26811: Os nossos seres, saberes e lazeres (681): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (205): Algures, na Renânia-Palatinado, em Idstein, perto de Frankfurt – 4 (Mário Beja Santos)
Guiné 61/74 - P26840: Agenda Cultural (886): Entrada livre... O nosso grão-tabanqueiro, luso-guineense, Mamadu Baio & Amigos (incluindo o João Graça, violino, mais 5 guineenses), amanhã, dia 25, no Palácio Baldaya, Estrada de Benfica, 701, Lx, às 17h30, na 16ª edição do festival "Junta-Te Ao Jazz"... Encerra, às 18h30, com o grande Paulo Flores, a voz angolana do kizomba, do semba, da resiliência e da esperança
Cartaz (foto de cima) da 16ª edição do "Junta-Te Ao Jaaz", que está a decorrer, de 23 a 25 de maio de 205, no Palácio Baldaya, Estrada de Benfica, 701, Lisboa.
1. Estão a ser dias cheios de boa música e grandes nomes do jazz e soul. Entrada livre.
(i) Selma Uamusse (com a sua "poderosa fusão de ritmos africanos com jazz e eletrónica").
Lisboa > Bairro da Graça > 2022 > O Mamadu Baio (lê-se: Baiô) e alguns dos músicos com que toca(va), em Lisboa