1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Janeiro de 2013:
Queridos amigos,
Para todos os efeitos, vale a pena ler estes “Olhares sobre a Guiné”.
Desta feita, temos os contributos dos coronéis Raul Folques, Moura Calheiros e Mira Vaz sobre as atividades dos Comandos e do BCP 12.
Segue-se o consistente dossiê da Marinha, elaborado com muito apuro, a Marinha sente legítimo orgulho pela multiplicidade de operações desde o apoio logístico e levantamentos hidrográficos, fiscalização das vias fluviais e a intervenção dos seus Fuzileiros.
Temos aqui um excelente resumo de consulta obrigatória nos tempos vindouros.
Um abraço do
Mário
Olhares sobre Guiné e Cabo Verde (2)
Beja Santos
“Olhares sobre Guiné e Cabo Verde” é o mais recente volume da coleção Fim do Império, teve como organizadores Manuel Barão da Cunha e José Castanho Paes, DG Edições e Caminhos Romanos, 2012. Colaboraram neste volume cerca de 30 autores que se debruçaram sobre matérias díspares em que o pano de fundo foi a guerra vista fundamentalmente por militares dos três ramos das Forças Armadas. No texto anterior deu-se primazia a atividades terrestres desenvolvidas pelas forças em quadrícula, agora pretende-se destacar a intervenção dos Comandos e do Batalhão de Caçadores Para-quedistas nº12 (BCP12).
Coube ao coronel Raul Folques, que comandou o Batalhão de Comandos da Guiné sumarizar as atividades dos Comandos Guineenses, dando voz a Gabriel José Haik, é como se este estivesse a contar a história de todos os comandos africanos, uma viagem de recordações em que se dá relevo a três operações de indiscutível importância: a Ametista Real, com assalto ao aquartelamento de Cumbamori, a Galáxia Vermelha, em que foi desarticulado o dispositivo inimigo no Cantanhez, e a Neve Gelada, em que conseguiu aliviar a pressão que o inimigo mantinha sobre a guarnição de Canquelifá, quase no termo da guerra.
Muito está escrito sobre a Ametista Real, que decorreu em Maio de 1973, ao tempo em que as forças do PAIGC tinham cercado completamente Guidage. São descritos com detalhe os terríveis combates, que chegaram a ter corpo-a-corpo, em que se temeu sempre a ameaça dos mísseis Strela, e conclui: “Nesta ação, os homens do Agrupamento Centauro, experientes, ardorosos, combatidos e muito calejados, correram risco excessivos, mantendo-se em combate com pertinácia, até à quase exaustão física e à míngua de munições, à chegada a Guidage, se contavam, para cada comando mais abonado, pelos dedos das mãos”.
A Galáxia Vermelha foi lançada na região do Cantanhez Sul, entre 22 de Dezembro de 1973 e 1 de Janeiro de 1974, envolveu quatro companheiros de comandos com reforço com três destacamentos de Fuzileiros, teve apoio de fogo de três pelotões de artilharia e o apoio do Agrupamento AR, seis helicópteros, dois Fiat e um avião DO27 a missão era a de reconhecer, desarticular e destruir as organizações inimigas em Cachamba Balanta, Cachamba Sosso, Cabanta e Darsalame e aliviar a pressão sobre o eixo Cadique-Jemberem e guarnições da região. Embocadas não faltaram, inclusive no dia de Natal. Todos os objetivos da missão foram alcançados.
A Neve Gelada decorreu de 2 a 31 de Março de 1974, o PAIGC tinha montado uma ofensiva sobre Canquelifá, bombardeando-a diariamente com fogo pesado e morteiros 120mm, canhões sem recuo e foguetões, o que levou a guarnição ao limite da resistência física e psíquica. A missão que coube ao Batalhão de Comandos foi a de desarticular os elementos inimigos da região, garantindo a consolidação da posição de Canquelifá. Constituíram-se três agrupamentos que se lançaram sobre a base de fogos do inimigo, este deu uma boa réplica ao assalto, quando retirou o inimigo deixou 26 mortes no terreno, a região foi sujeita a uma batida após a recolha de material deixado pelo inimigo, desde três morteiros de 120mm completos até uma espingarda automática AK 47, a missão foi integralmente cumprida, pois o inimigo foi desarticulado, deixou ser capturado importante material e Canquelifá deixou de estar pressionada.
Raul Folques, a voz de Patrício Haik, deplora a forma como os Comandos Guineenses foram deixados à deriva: “Fomos enganados, manipulados, alguns comprados e, finalmente, abandonados e vendidos”.
Coube aos coronéis Moura Calheiros e Mira Vaz dissertarem sobre o BCP12. Voltando um pouco atrás, é lembrado que quando começou a luta armada havia um pelotão no Aeródromo Base nº 2, em Janeiro de 1964 chegou o segundo pelotão de para-quedistas que interveio na Operação Tridente. Como a situação em geral se deteriorou, o comandante-chefe solicitou ao Ministro da Defesa-Nacional a colocação de uma companhia de para-quedistas. No final de 1966 foram lançadas as primeiras ações simultâneas de heliassalto. Nesse ano foi criado o BCP12, com duas companhias operacionais, com os números 121 e 122. Faz-se um inventário breve das intervenções, com especial destaque aos que tiveram lugar na região Sul. Em Maio de 1968, Spínola assume as funções de comandante-chefe, de imediato reduziu a autonomia operacional à Armada e à Força Aérea, alterou o dispositivo das forças militares no terreno, visando a concentração de meios humanos. O BCP12 passou a intervir mais em missões de reforço de tropas de quadrícula e menos em heliassaltos. Nos finais de Junho de 1969, chegou à Guiné a CCP 123, novamente se inventariam as operações em que participaram as diferentes companhias. Recorda-se a Operação Muralha Quimérica, desenvolvida na região Unal-Guileje, na altura em que se pretendia mostrar aos membros da delegação da ONU a existência de regiões libertadas. Destruiu-se uma Loja do Povo e um hospital, e foram abatidos 30 guerrilheiros e capturados 17. Os para-quedistas participaram ativamente numa das maiores, mais complexas e mais bem-sucedidas operações, reocupação do Cantanhez, quebrou-se o mito da invencibilidade de que o PAIGC aí gozava. É esmiuçada a Operação Grande Empresa cujo sucesso irá ser abandonado depois do cerco de Guidage, do cerco de Guileje e o do ataque brutal a Gadamael-Porto, bem como devido ao aparecimento dos mísseis terra-ar na Guiné. Em Gadamael, as três companhias do BCP12 irão arrostar a fúria de um inimigo altamente apetrechado, aguentou e fez retroceder um inimigo que parecia contar com o abandono de Gadamael. E escreve-se, em jeito de conclusão: “ O BCP12 foi uma unidade fundamental na conduta da guerra na Guiné. Pode mesmo afirmar-se que a leitura da história do BCP12 nos dá uma perceção muito aproximada dos acontecimentos mais importantes ocorridos na guerra, na Guiné, e da forma como esta evoluiu ao longo do tempo”.
E assim chegamos à secção mais coesa, dedicada à Marinha da Guiné. Recorda-se o papel preponderante desempenhado pela Marinha, dada a configuração geográfica do território. Enumera-se as lanchas existentes e como, ao longo da guerra, cresceu a dotação de meios com uma fragata, um navio hidrográfico, mais lanchas de desembarque, sete destacamentos de Fuzileiros, três dos quais basicamente de recrutamento local, bem como um destacamento de mergulhadores sapadores. Em síntese, o papel da Marinha revelou-se determinante no apoio logístico (reabastecimento de forças terrestres de quadrícula), levantamentos hidrográficos, fiscalização das vias fluviais, forças de intervenção que podiam trabalhar isolada ou conjuntamente com o Exército e a Força Aérea, não esquecendo a importância das comunicações, em que as estações radionavais asseguravam as ligações quer entre eles próprios quer com os centros de comunicações do comando-chefe. Descreve-se com alguma minúcia o apoio logístico e naval e as guerras dos rios, a sua colaboração com unidades do Exército. De igual modo são pormenorizadas as operações de fiscalização e o controlo das vias fluviais e o desempenho das lanchas de fiscalização e desembarque, ao longo da guerra. Conta-se a história de uma lancha mártir, a LDM 302, ativa logo em 1964, foi atacada violentamente em Fevereiro de 1965, alvejada em Setembro seguinte, em Dezembro de 1967 foi violentamente atacada com canhão sem recuo, RPG7, metralhadoras pesadas e ligeiras, frente a Porto Coco (rio Cacheu). Depois de muitas peripécias, a lancha acabaria por se afundar. Uma equipa e alguns mergulhadores puseram-na a flutuar e em Junho do ano seguinte estava recuperada. Quase no mesmo local do primeiro afundamento voltou a ser duramente atacada, uma outra lancha recolheu todos os elementos da guarnição, isto quando o incêndio se tinha propagado por toda a lancha. Novamente recuperada, recomeçou a sua missão de fiscalização em Novembro de 1968. Em Fevereiro de 1969 foi duramente atingida na foz do rio Uajá (um dos afluentes do rio Grande de Buba). Foi abatida em finais de Novembro de 1972, até aí esteve no ativo.
(Continua)
____________
Notas do editor
(*) Vd. poste anterior de 18 DE FEVEREIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11111: Notas de leitura (457): "Olhares Sobre Guiné e Cabo Verde", organização de Manuel Barão da Cunha e José Castanho (1) (Mário Beja Santos)
Vd. último poste da série de 19 DE FEVEREIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11115: Notas de leitura (458): Consequências Jurídico-Constitucionais do Conflito Político-Militar da Guiné-Bissau (Francisco Henriques da Silva)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013
Guiné 63/74 - P11133: Memória dos lugares (215): Cameconde (António J. Pereira da Costa, CART 1962, 1968/69) / Manuel Ribeiro , CART 6552/72, 1973/74, a companhia do célebre Lemos, do FC Porto que marcou 4 golos ao Benfica, em 31/1/1971)
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Setor de Cacine > Cameconde > 1968 > Três aspetos gerais do destacamento > Fotos do álbum do nosso camarada António José Pereira da Costa, que era na altura alferes QP da CART 1692/BART 1914 (Cacine, Cameconde, Sangonhá e Cacoca, 1967/69) e mais tarde cap e cmdt das CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74).
Fotos: © António J. Pereira da Costa (2013). Todos os direitos reservados [Edição: LG]
(i) Cameconde, ó Cameconde, terra da morteirada, do foguetão e da canhoada, onde os domingos eram iguais à semana.
Cameconde, local da Guiné onde passei os 13 melhores e piores meses da minha vida, local em que só se saía acompanhado por mais de 20 camaradas devidamente armados, e os destinos eram normalmente para Cacoca, Caboxanque, Cabonepo, Cassomo, Cafála balanta, Cafála Nalú, algumas pequenas incursões no Quitafine... Mas as mais agradáveis eram até à tabanca nova de Cacine pois sempre se podia apreciar alguma bajuda, já que Cameconde não tinha qualquer tipo de população, ou melhor, só Homens (mulheres cá tinha).
(ii) Aproveito para informar o ex- furriel amanuense Abilio Magro de que a companhia que ele assistiu a chegar a Cacine (**) e o destino era S.Tomé e Principe quando saíu da carreira da tiro de Espinho já sabia que o destino final era a Guiné e também não foi render a CCAÇ 3520, mas sim reforçar o sul da Guiné após o abandono de Guileje, na mesma altura também chegou a Cacine uma CCAV que tinha como destino Angola, tendo essa CCAV [8452/72] sido colocada em Gadamael e a nossa em Cameconde e aí sim rendemos a CCAÇ 3520, ficando ainda alguns meses em Cacine até serem rendidos.
Lembro-me bem do Juvenal Candeias, e do ex-capitão Margarido ], da CCAÇ 3520,], de quem guardo um comentário feito por ele em Cameconde, a dizer:
- Vamos embora depressa porque elas agora (, as canhoadas, ) já começam a cair cá dentro!
Para eles um forte abraço pois ainda passei bons momentos com eles, a CCCAÇ 3520, em Cacine.
(iii) Quanto ao Lemos, ex-jogador do F.C.Porto [, António José de Lemos, n. 1950] (**), acabou a comissão a jogar no UDIB em Bissau, não deixando de ter alinhado no mato até à sua transferência. [ Foto do Lemos, à direita; cortesia do blogue Estrelas do FCP].
(iv) Vi uma foto de um abrigo tirada em 2008 (*) onde se encontra uma pessoa com uma máquina fotográfica na mão junto desse abrigo e quase posso afirmar que esse abrigo se encontra em Cameconde e foi construido pelo pessoal da minha companhia com material fornecido pelo BENG.
Fico aguardar as fotos de Cameconde tiradas e prometidas pelo Professor e cooperante na Guiné até 2012 [, Carlos Afeitos,] para recordar, pois ainda não perdi as esperanças de voltar a Cameconde e assim poder enterrar os meus fantasmas.
Aproveito para me apresentar, sou Manuel Ribeiro, ex-furriel mil da CART 6552, RAL 5, Penafiel, Carreira de tiro de Espinho, Cumeré, Cameconde, Cabedú, Catió, Cumeré e Lisboa. [Partiu de Lisboa em 26/5/1973 e regressou a 5/9/1974; comandante: cap mil inf Fernando Manuel Vialalobos Filipe]
Um forte abraço para todos.
2. Comentário de L.G.:
Caro camarada Manuel Ribeiro: És o mais célebre camarada da CART 6552/72, a tal que que, em vez de aterrar na terra do cacau, foi parar a Cameconde, Cabedu e Cufar, no sul da Guiné... És o mais célebre porque és o único representante dos bravos dessa companhia, que até agora visitou a nossa Tabanca Grande. Ficamos também a saber que, além de ti, há o António José Lemos e o vosso ex-capitão, Fernando Manuel Vialalobos Filipe... Pergunto: o que é feito de vocês ? Têm-se encontrado anualmente ? E o Lemos e o capitão aparecem ?...
Bom, está na altura de te convidar para ficares por aqui mais tempo, sentando-te à sombra do nosso mágico e fraterno poilão. Só precisas de nos mandar as duas fotos da praxe, um endereço de email e, já agora, dizeres em que terra vives (, esta informação é facultativa)... Boa sorte para o teu sonho de voltar a rever Cameconde e Cacine... E responde-me na volta do correio. O nosso endereço é: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com
PS - Sobre o Lemos, escreve o blogue das Estrelas do FCP, este delicioso apontamento biográfico:
(...) "Em 1973 (decorria a época 1972/73) Lemos – que não obtivera o estatuto de 'Atleta de Alta Competição', imprescindível para o subtrair à guerra do 'Ultramar' – foi mobilizado para Cabo Verde pelo Exército Português. Mas o inesperado aconteceu: o avião, que transportava Lemos e a sua 'Companhia de Operações Especiais' fez um 'desvio' na rota e aterrou em… Bissau (Guiné). E todos aqueles soldados que julgavam ir para uma 'guerra' branda no arquipélago das belas mulatas e da romântica morna, lá ficaram naquela que era a colónia portuguesa com a conjuntura militar mais difícil e perigosa. Acresce que, no início do ano de 73, o PAIGC (movimento independentista) incrementara as acções de guerra criando muitas dificuldades às tropas portuguesas que combatia desde Janeiro de 1963. A Guiné estava a 'ferro e fogo' e, talvez por isso, a "Companhia" de Lemos tenha sido desviada para aquele território.
Voltou da Guiné em 1974 ainda a tempo de participar na época de 1974/75, a última que faria pelo F.C. Porto." (...)
_______________
Notas do editor:
(*) Vd. útimo poste da série > 20 de fevereiro de 2013 >Guiné 63/74 - P11127: Memória dos lugares (214): Cameconde, no subsetor de Cacine, o destacamento mais a sul do CTIG... (José Vermelho / Augusto Vilaça / Juvenal Candeias)
(**) Vd. poste de 20 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11125: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (5): Curtas férias em Cacine, CCAÇ 3520 (2)
(...) Entretanto, chega finalmente a Companhia que vinha substituir a CCAÇ 3520. Esta entra em euforia e empenha-se rapidamente nas actividades para recepção dos novos "piras".
Não possuindo máquina fotográfica, vi-me impedido de registar aqueles actos solenes hilariantes.
Os "piras" não acharam muita piada à recepção. Pudera, entraram no avião em Figo Maduro com destino a S. Tomé e, quando aterraram, estavam na Guiné! Pois é verdade, iam para S. Tomé e, a meio da viagem, o Comandante do avião terá recebido ordens para rumar a Bissalanca.
Pertencia a esta companhia o soldado Lemos, ex-futebolista do Boavista e, depois do F.C.Porto, onde ficou célebre por ter marcado 4 golos ao Benfica [, de Eusébio & Companhia, em 31/1/1971] no Estádio das Antas em jogo a contar para o Campeonato Nacional de Futebol, jogo que, por acaso, assisti ao vivo.
Em Cacine, esta Companhia tratou logo de abrir valas por todo lado, pois tendo Guileje sido abandonada e estando Gadamael a ferro e fogo, Cacine seria, muito provavelmente, o "freguês que se seguia".
Entretanto, saído não sei de onde, aparece-me um camarada e pergunta-me:
- Tu é que és o Magro?
Respondi que sim e ele:
- Deves ter uma cunha do "caraças"!
- Então porquê?
- Venho-te substituir. Estava sossegadinho em Bolama e mandaram-me para aqui para te substituir.
Nunca tive conhecimento de cunha alguma e atribuo o facto a pressões que o Dr. Dias terá feito junto do Chefe - Major Mário Lobão, por se encontrar, provavelmente, atafulhado em papelada. Nunca o soube. Aproveitei boleia na LDM que transportou a CCAÇ 3520 para Bissau. Saímos de Cacine ao fim da tarde e chegamos a Bissau na manhã do dia seguinte,
A partir dessa data eu seria, talvez, o Furriel/Sargento que melhor fazia a Guarda de Honra ao Brigadeiro Alberto da Silva Banazol!
Recordo-me de, logo após o meu regresso de Cacine e, estando de Sargento da Guarda, ter dado ordem de: "Apresentar armas!" quando ele se colocou em sentido frente à Guarda, e o ter feito com tal vigor que o homem, depois de bater a pala e desandar, ao passar perto de mim, disse:
- Isso, assim com garra!.
Estavam feitas as pazes! (...)
- Isso, assim com garra!.
Estavam feitas as pazes! (...)
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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013
Guiné 63/74 - P11132: Vivências em tempo de guerra (Hugo Guerra)
1. Mensagem do nosso camarada Hugo Guerra* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 55 e Pel Caç Nat 60, Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70, hoje Coronel, DFA, na reforma) com data de 8 de Fevereiro de 2013:
Amigos e camaradas
Não devem saber, mas depois de ser ferido em São Domingos em março de 1970, fiz-me à vida e fui trabalhar e viver para Angola em Setembro desse mesmo ano.
Como era Regente Agrícola de formação, não tive qualquer dificuldade em arranjar bons empregos e por lá estive até Agosto de 1974 quando optei por reingressar no Exército e vir prá Capital.
Corri Angola de Norte a Sul, exceptuando as Terras do Fim do Mundo, e depois da experiência traumatizante que foi Gandembel/Ponte Balana e São Domingos tive oportunidade de formar opinião comparativa entre as três colónias.
Também passei algum tempo em Moçambique.
Se virem que estas minhas recordações são interessantes para o blogue vamos a isso. Caso contrário, 6ª de papéis.
Um abraço amigo do
Hugo
Vivências em tempo de guerra
- Como está, Senhor Capitão? E os senhores Alferes, sentem-se bem? Está uma óptima tarde para o nosso chazinho, só tenho pena que não possamos ficar mais tempo aqui fora porque os mosquitos não nos largam... Vamos entrar.
Assim falava a Dona, mulher do Gerente da Fazenda Tabi, a maior produtora de banana do Norte de Angola com o à-vontade do seu estatuto, dirigindo-se depois ao subgerente e à mulher deste que também faziam parte deste ritual.
Com o grunhido de assentimento do marido, homem feito nas roças de cacau um São Tomé sempre de chibata na mão e acompanhado do seu fiel cão, entrámos.
Um dos criados, fardado de branco e com luvas da mesma côr, habituado a estas andanças, providenciou as bebidas para todos em copos de cristal e um dos Alferes dirigiu-se ao piano e dedilhou qualquer melodia, que já se sabia fazia os encantos da Dona.
A conversa naquele dia girou à volta do acidente que poucos dias antes tivera lugar, quando um Unimog carregado de militares havia sido alvo de uma emboscada no percurso para as salinas a poucos quilómetros da sede da Companhia, tendo os soldados sido apanhados à mão ( parece que levavam as armas debaixo dos bancos) e não podendo resistir foram dizimados e a viatura queimada.
- Uma desgraça… Um lamentável acidente…
- Um enorme desleixo - disse eu, ainda fresquinho de dois anos de porrada na Guiné.
- Mas eles não foram culpados - logo se levantou a Dona.
Pois não, a culpa é da bandalheira a que se deixa chegar esta situação nas Fazendas onde os Senhores Oficiais são tratados a uísque, gin e tapas, onde os Furriéis têm um belo bar com piscina, jogos de cartas ou de mesa e onde as patrulhas são efectuadas por civis armados.
O ambiente ficou de cortar à faca. Veio-me à cabeça que àquela hora, na Guiné estariam a começar os ataques aos desgraçados que iriam passa a noite em claro a levar e dar porrada e sem lhe passar pela cabeça que noutras paragens como aquela onde agora eu me encontrava se jantava com todos os requintes, se bebiam os melhores vinhos de mesa com café, conhaque e charutos.
Se não estou pirado, esta cena passou-se em Outubro de 1970.
____________
Nota do editor:
(*) Vd. poste de 8 de abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9714: Memória dos lugares (179): Eu e o João Barge na Ponte Balana, em dezembro de 1968 (Hugo Guerra)
Amigos e camaradas
Não devem saber, mas depois de ser ferido em São Domingos em março de 1970, fiz-me à vida e fui trabalhar e viver para Angola em Setembro desse mesmo ano.
Como era Regente Agrícola de formação, não tive qualquer dificuldade em arranjar bons empregos e por lá estive até Agosto de 1974 quando optei por reingressar no Exército e vir prá Capital.
Corri Angola de Norte a Sul, exceptuando as Terras do Fim do Mundo, e depois da experiência traumatizante que foi Gandembel/Ponte Balana e São Domingos tive oportunidade de formar opinião comparativa entre as três colónias.
Também passei algum tempo em Moçambique.
Se virem que estas minhas recordações são interessantes para o blogue vamos a isso. Caso contrário, 6ª de papéis.
Um abraço amigo do
Hugo
Vivências em tempo de guerra
- Como está, Senhor Capitão? E os senhores Alferes, sentem-se bem? Está uma óptima tarde para o nosso chazinho, só tenho pena que não possamos ficar mais tempo aqui fora porque os mosquitos não nos largam... Vamos entrar.
Assim falava a Dona, mulher do Gerente da Fazenda Tabi, a maior produtora de banana do Norte de Angola com o à-vontade do seu estatuto, dirigindo-se depois ao subgerente e à mulher deste que também faziam parte deste ritual.
Com o grunhido de assentimento do marido, homem feito nas roças de cacau um São Tomé sempre de chibata na mão e acompanhado do seu fiel cão, entrámos.
Um dos criados, fardado de branco e com luvas da mesma côr, habituado a estas andanças, providenciou as bebidas para todos em copos de cristal e um dos Alferes dirigiu-se ao piano e dedilhou qualquer melodia, que já se sabia fazia os encantos da Dona.
A conversa naquele dia girou à volta do acidente que poucos dias antes tivera lugar, quando um Unimog carregado de militares havia sido alvo de uma emboscada no percurso para as salinas a poucos quilómetros da sede da Companhia, tendo os soldados sido apanhados à mão ( parece que levavam as armas debaixo dos bancos) e não podendo resistir foram dizimados e a viatura queimada.
- Uma desgraça… Um lamentável acidente…
- Um enorme desleixo - disse eu, ainda fresquinho de dois anos de porrada na Guiné.
- Mas eles não foram culpados - logo se levantou a Dona.
Pois não, a culpa é da bandalheira a que se deixa chegar esta situação nas Fazendas onde os Senhores Oficiais são tratados a uísque, gin e tapas, onde os Furriéis têm um belo bar com piscina, jogos de cartas ou de mesa e onde as patrulhas são efectuadas por civis armados.
O ambiente ficou de cortar à faca. Veio-me à cabeça que àquela hora, na Guiné estariam a começar os ataques aos desgraçados que iriam passa a noite em claro a levar e dar porrada e sem lhe passar pela cabeça que noutras paragens como aquela onde agora eu me encontrava se jantava com todos os requintes, se bebiam os melhores vinhos de mesa com café, conhaque e charutos.
Se não estou pirado, esta cena passou-se em Outubro de 1970.
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Nota do editor:
(*) Vd. poste de 8 de abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9714: Memória dos lugares (179): Eu e o João Barge na Ponte Balana, em dezembro de 1968 (Hugo Guerra)
Guiné 63/74 - P11131: Humor de caserna (30): Estou a fazer voar o meu pensamento (Tony Borié) (3): Outra vez guerra?
1. Em mensagem do dia 17 de Janeiro de 2013, o nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), enviou-nos mais este pensamento voador...
O Cifra tem dias que anda de um lado para o outro, “não pára em ramo verde”, como diz o povo, alguns amigos dizem que é stress de guerra, mas não é, desta vez anda mesmo ansioso com o que vê, e os leitores, perdão, primeiro as digníssimas leitoras, que têm a gentileza e a amabilidade de visitar o blogue de “Luis Graça e Camaradas da Guiné”, vão mais uma vez desculpar este texto, é escrito com linguagem mais ou menos educada, não tem qualquer comparação com a linguagem do Curvas, alto e refilão, portanto mais uma vez, perdoem, mas agora dirigindo-se aos amigos antigos combatentes, o Cifra já sabe que vão dizer, se viverem no mundo que fala inglês:
- War again?.
No mundo que fala francês, dizem:
- Nouveau en guerre?.
No mundo que fala germânico, friamente, dizem:
- Wieder Krieg?.
No mundo que fala espanhol, entre dois ou três “zzz”, dizem:
- Guerra de nuevo?.
Os chineses, põem os pauzinhos de parte, se estiverem a comer, e depois dizem:
Perceberam?. Não. Deixem lá, pois o Cifra, também não percebeu!
E nós portugueses dizemos, com uma cara de enjoo:
- Outra vez, guerra?.
Sim guerra, mas desta vez com mágoa, pois reparem nestas fotografias que ilustram o texto, onde esta pobre rapariga, com uma cara de desespero e denunciando alguma angústia, pois pertencia a muito boas famílias, andava a estudar na universidade, portanto ia receber uma educação superior, foi tirada, talvez à força da sua aldeia, verificaram que tinha um corpo desenvolvido, portanto podia receber um treino mais forçado, tiram-lhe toda a roupa que usava na universidade, vestiram-na com uns farrapos, que diziam eram camuflados de guerra, deram-lhe o tal treino forçado, e depois de a usarem no campo de treino, debaixo de obstáculos, em terrenos pantanosos, na floresta, talvez dentro do paiol das munições, pois tinha que ter conhecimento dos diversos tipos de explosivos, a enviaram para a frente de combate, onde está na fotografia, em frente a uma G-3, das modernas, onde ela apesar do treino forçado a que foi submetida, não sabia por onde lhe pegar, sabia só que podia meter o olho através da lente, mas está aflita, pois não sabe onde vai apoiar a sua coronha, pois o seu peito desenvolvido, talvez devido ao treino forçado, não lhe deixa muito espaço livre.
Mais à frente, nesta fotografia, no campo de batalha, onde perdeu parte dos farrapos que compunham o seu uniforme camuflado, desesperada, depois de ter usado todas as munições, suas e de alguns companheiros, vendo-se sem a sua querida G-3, que também perdeu em combate, pois se a tivesse, talvez pegando no cano, que não era lá muito grosso, podia usar a coronha como se fosse um pau, como aqueles que os seus avós usavam em certas regiões de Portugal, a que chamavam uma “moca”, pois a área de combate estava destroçada. De repente, na sua ideia de lutadora, lembro-se das duas granadas que eram as preferidas do Curvas, alto e refilão, e que sempre trazia escondidas no bolso, roubou-lhas e o resultado foi o que se previa, pois o Curvas, alto refilão, às vezes, não era lá muito responsável quando o provocavam e vai daí, atira-se a ela, numa luta de corpo a corpo, e o Curvas, alto e refilão, pensando que era um valentão, lá por ter a medalha “cruz de guerra”, nunca contou com o intenso e forçado treino que ela recebeu, e vai daí, ela dá-lhe um “golpe de rins”, coloca-o debaixo de si, e ele não conseguindo aguentar a pressão do corpo dela, acabou por se render, e ela vitoriosa, sai de cima do Curvas, alto e refilão, acaricia as granadas, em sinal de vitória, com as suas mãos ainda quentes da luta, com um ar de vencedora, abaixa-se de novo, passa-lhe a mão pelo peito e rouba-lhe a medalha “cruz de guerra”, ali na frente de todos!
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Nota do editor:
Vd. último poste da série de 31 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11032: Humor de caserna (29): Estou a fazer voar o meu pensamento (Tony Borié) (2): Ela queria um canhão
O Cifra tem dias que anda de um lado para o outro, “não pára em ramo verde”, como diz o povo, alguns amigos dizem que é stress de guerra, mas não é, desta vez anda mesmo ansioso com o que vê, e os leitores, perdão, primeiro as digníssimas leitoras, que têm a gentileza e a amabilidade de visitar o blogue de “Luis Graça e Camaradas da Guiné”, vão mais uma vez desculpar este texto, é escrito com linguagem mais ou menos educada, não tem qualquer comparação com a linguagem do Curvas, alto e refilão, portanto mais uma vez, perdoem, mas agora dirigindo-se aos amigos antigos combatentes, o Cifra já sabe que vão dizer, se viverem no mundo que fala inglês:
- War again?.
No mundo que fala francês, dizem:
- Nouveau en guerre?.
No mundo que fala germânico, friamente, dizem:
- Wieder Krieg?.
No mundo que fala espanhol, entre dois ou três “zzz”, dizem:
- Guerra de nuevo?.
Os chineses, põem os pauzinhos de parte, se estiverem a comer, e depois dizem:
Perceberam?. Não. Deixem lá, pois o Cifra, também não percebeu!
E nós portugueses dizemos, com uma cara de enjoo:
- Outra vez, guerra?.
Sim guerra, mas desta vez com mágoa, pois reparem nestas fotografias que ilustram o texto, onde esta pobre rapariga, com uma cara de desespero e denunciando alguma angústia, pois pertencia a muito boas famílias, andava a estudar na universidade, portanto ia receber uma educação superior, foi tirada, talvez à força da sua aldeia, verificaram que tinha um corpo desenvolvido, portanto podia receber um treino mais forçado, tiram-lhe toda a roupa que usava na universidade, vestiram-na com uns farrapos, que diziam eram camuflados de guerra, deram-lhe o tal treino forçado, e depois de a usarem no campo de treino, debaixo de obstáculos, em terrenos pantanosos, na floresta, talvez dentro do paiol das munições, pois tinha que ter conhecimento dos diversos tipos de explosivos, a enviaram para a frente de combate, onde está na fotografia, em frente a uma G-3, das modernas, onde ela apesar do treino forçado a que foi submetida, não sabia por onde lhe pegar, sabia só que podia meter o olho através da lente, mas está aflita, pois não sabe onde vai apoiar a sua coronha, pois o seu peito desenvolvido, talvez devido ao treino forçado, não lhe deixa muito espaço livre.
Mais à frente, nesta fotografia, no campo de batalha, onde perdeu parte dos farrapos que compunham o seu uniforme camuflado, desesperada, depois de ter usado todas as munições, suas e de alguns companheiros, vendo-se sem a sua querida G-3, que também perdeu em combate, pois se a tivesse, talvez pegando no cano, que não era lá muito grosso, podia usar a coronha como se fosse um pau, como aqueles que os seus avós usavam em certas regiões de Portugal, a que chamavam uma “moca”, pois a área de combate estava destroçada. De repente, na sua ideia de lutadora, lembro-se das duas granadas que eram as preferidas do Curvas, alto e refilão, e que sempre trazia escondidas no bolso, roubou-lhas e o resultado foi o que se previa, pois o Curvas, alto refilão, às vezes, não era lá muito responsável quando o provocavam e vai daí, atira-se a ela, numa luta de corpo a corpo, e o Curvas, alto e refilão, pensando que era um valentão, lá por ter a medalha “cruz de guerra”, nunca contou com o intenso e forçado treino que ela recebeu, e vai daí, ela dá-lhe um “golpe de rins”, coloca-o debaixo de si, e ele não conseguindo aguentar a pressão do corpo dela, acabou por se render, e ela vitoriosa, sai de cima do Curvas, alto e refilão, acaricia as granadas, em sinal de vitória, com as suas mãos ainda quentes da luta, com um ar de vencedora, abaixa-se de novo, passa-lhe a mão pelo peito e rouba-lhe a medalha “cruz de guerra”, ali na frente de todos!
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Nota do editor:
Vd. último poste da série de 31 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11032: Humor de caserna (29): Estou a fazer voar o meu pensamento (Tony Borié) (2): Ela queria um canhão
Guiné 63/74 - P11130: Álbum fotográfico de Abílio Duarte (fur mil art da CART 2479, mais tarde CART 11/ CCAÇ 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70) (Parte V): Deambulando pela região do Gabu...
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > CART 11 (Nova Lamego, Piche, Paunca, 1969/1970) > Nova Lamego > "Porta de armas"
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > CART 11 (Nova Lamego, Piche, Paunca, 1969/1970) > Nova Lamego (?) > 1969 (?) > "Preparaçao da companhia para uma saída"
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > CART 11 (Nova Lamego, Piche, Paunca, 1969/1970) > "Distribuição da ração de combate"
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > CART 11 (Nova Lamego, Piche, Paunca, 1969/1970) > "Deslocação em coluna auto"
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > CART 11 (Nova Lamego, Piche, Paunca, 1969/1970) > S/l > S/d > "O furriel Cunha, grande amigo do Renato Monteiro"
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > CART 11 (Nova Lamego, Piche, Paunca, 1969/1970) > "O obus [10.5] de Paunca"
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > CART 11 (Nova Lamego, Piche, Paunca, 1969/1970) > "Refrescando-em Paunca, [1970]"
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > CART 11 (Nova Lamego, Piche, Paunca, 1969/1970) > S/l> S/d > O Abílio, "para quem não conhece, posando num... bagabaga"...
Fotos (e legendas): © Abílio Duarte (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]
1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Abílio Duarte, ex-fur mil art da CART 2479 (mais tarde CART 11 e finalmente, já depois do regresso à Metrópole do Duarte, CCAÇ 11, a famosa companhia de “Os Lacraus de Paunca”) (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70) (*).
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Nota do editor
Guiné 63/74 - P11129: (Ex)citações (213): Cameconde, hoje seria um lugar de absurdo, de pesadelo e de loucura... (Alexandre Margarido, ex-cap mil, CCAÇ 3520, Cacine e Cameconde, 1972/74)
1. Comentário, de 20 do corrente, do nosso leitor (e camarada) Alexandre Margarido, ex-cap mil da CCAÇ 3520 (Cacine e Cameconde, 1972/74), ao poste P11127, e a quem a Tabanca Grande cumprimenta e convida para se sentar aqui, debaixo do nosso mágico e fraterno poilão:
Cameconde era um daqueles locais onde apenas os combatentes portugueses conseguiam manter-se durante anos, sem enlouquecerem, face à falta de condições mínimas de subsistência. Inclusive a água e os mantimentos tinham que ser transportados, numa coluna diária por um trilho rasgado na selva.
As altas temperaturas dentro dos abrigos, os insectos, as cobras que deslizavam da selva durante a noite, procurando o calor dessas fortificações, autênticos fornos, a exposição a atiradores e às flagelações por RPG, tudo isso, recuando 40 anos nas minhas memórias, era impensável ser suportado nos dias de hoje.
Obrigado por manterem vivas essas memórias.(*)
Alexandre Margarido, ex-Capitão Miliciano da CCaç 3520. (**)
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Setor de Cacine > Cameconde > 1968 > Disparo noturno do obus 8.8 > Foto do álbum do António J. Pereira da Costa, que era na altura alferes QP da CART 1692/BART 1914 (Cacine, Cameconde, Sangonhá e Cacoca, 1967/69).
Foto: © António J. Pereira da Costa (2013). Todos os direitos reservados
________________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 12 de fevereiro de 2013 > Guiiné 634/74 - P11091: (Ex)citações (212): Afinal, todos fomos expulsos do Paraíso e condenados à solidariedade (J. L. Pio de Abreu, psiquiatra, ex-alf mil med, CCS/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1971/73)
(**) CCAÇ 3520 - ficha da unidade, segundo a Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974), 7º vol - Fichas das Unidades, Tomo II (Guiné), Lisboa, EME/CECA, 2002:
CCAÇ 3520:
(i) Mobilizada pelo BII 19 (Funchal);
(ii) Parte para o TO da Guiné em 20/12/1971 e regerssa a 37/3/1974;
(iii) Passou por Cacine (mas também Cameconde) e Quinhamel;
(iv) comandantes: cap inf Herberto Amaro Vieira Nascimento; cap mil Jaime Cipriano da Costa Rocha Quaresma; cap mil inf Armando Pimenta Cristóvão; e cap mil grad inf Alexandre Augusto Martins Margarido.
Julgo que a CCAÇ 3520 já não estaria em Cacine quando Cameconde foi atacada na véspera do Carnaval de 1974... Eis aqui um apontamento do Diário da Guiné, do nosso camarada António Graça de Abreu (Lisboa, Editora Guerra e Paz, 2007):
(...) Cufar [CAOP1], 25 de Fevereiro de 1974
Véspera de Carnaval e houve grande folia pelas terras do sul da Guiné. Foram rebentamentos uns atrás dos outros, de manhã à noite. São agora nove horas, às oito ainda os Fiats largavam bombas e mais bombas sobre os refúgios do PAIGC. Os guerrilheiros resolveram atacar Bedanda, três vezes ao longo do dia, mais Caboxanque, duas vezes, Cadique, Jemberém e Cameconde. Em Caboxanque houve três feridos entre a população, nos outros, apenas os estragos materiais do costume. (...).
Segundo o relatório da 2ª rep/QG/CTIG, sobre a situação militar no TO da Guiné em 1974, o PAIGC montou 4 minas A/P na região de Cameconde, a 10 de maio de 1974, e 1 mina A/P no itinerário Cacine-Cameconde, a 20 de maio.
As altas temperaturas dentro dos abrigos, os insectos, as cobras que deslizavam da selva durante a noite, procurando o calor dessas fortificações, autênticos fornos, a exposição a atiradores e às flagelações por RPG, tudo isso, recuando 40 anos nas minhas memórias, era impensável ser suportado nos dias de hoje.
Obrigado por manterem vivas essas memórias.(*)
Alexandre Margarido, ex-Capitão Miliciano da CCaç 3520. (**)
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Setor de Cacine > Cameconde > 1968 > Disparo noturno do obus 8.8 > Foto do álbum do António J. Pereira da Costa, que era na altura alferes QP da CART 1692/BART 1914 (Cacine, Cameconde, Sangonhá e Cacoca, 1967/69).
Foto: © António J. Pereira da Costa (2013). Todos os direitos reservados
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Notas do editor:
(*) Último poste da série > 12 de fevereiro de 2013 > Guiiné 634/74 - P11091: (Ex)citações (212): Afinal, todos fomos expulsos do Paraíso e condenados à solidariedade (J. L. Pio de Abreu, psiquiatra, ex-alf mil med, CCS/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1971/73)
(**) CCAÇ 3520 - ficha da unidade, segundo a Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974), 7º vol - Fichas das Unidades, Tomo II (Guiné), Lisboa, EME/CECA, 2002:
CCAÇ 3520:
(i) Mobilizada pelo BII 19 (Funchal);
(ii) Parte para o TO da Guiné em 20/12/1971 e regerssa a 37/3/1974;
(iii) Passou por Cacine (mas também Cameconde) e Quinhamel;
(iv) comandantes: cap inf Herberto Amaro Vieira Nascimento; cap mil Jaime Cipriano da Costa Rocha Quaresma; cap mil inf Armando Pimenta Cristóvão; e cap mil grad inf Alexandre Augusto Martins Margarido.
Julgo que a CCAÇ 3520 já não estaria em Cacine quando Cameconde foi atacada na véspera do Carnaval de 1974... Eis aqui um apontamento do Diário da Guiné, do nosso camarada António Graça de Abreu (Lisboa, Editora Guerra e Paz, 2007):
(...) Cufar [CAOP1], 25 de Fevereiro de 1974
Véspera de Carnaval e houve grande folia pelas terras do sul da Guiné. Foram rebentamentos uns atrás dos outros, de manhã à noite. São agora nove horas, às oito ainda os Fiats largavam bombas e mais bombas sobre os refúgios do PAIGC. Os guerrilheiros resolveram atacar Bedanda, três vezes ao longo do dia, mais Caboxanque, duas vezes, Cadique, Jemberém e Cameconde. Em Caboxanque houve três feridos entre a população, nos outros, apenas os estragos materiais do costume. (...).
Segundo o relatório da 2ª rep/QG/CTIG, sobre a situação militar no TO da Guiné em 1974, o PAIGC montou 4 minas A/P na região de Cameconde, a 10 de maio de 1974, e 1 mina A/P no itinerário Cacine-Cameconde, a 20 de maio.
Guiné 63/74 - P11128: Inquérito online: "As praxes aos piras, no meu tempo, só lhes fizeram bem"... (6): Noum total de 81 respondentes, mais de metade manifestou uma opinião favorável...
1. Resultados da sondagem que acaba de correr no nosso blogue, de 14 a 20 do corrente: O tema era as praxes (militares). Pedia-se a opinião do leitor em relação à frase "As praxes aos piras, no meu tempo, não lhes fizeram mal"...
Responderam 81 leitores. Os resultados evidenciam um certa fratura relativamente à questão em apreço. De qualquer modo, as respostas negativas poderão estar enviesadas pelas denúncias, nestes últimos anos, de abusos cometidos com as praxes quer académicas quer militares, abusos de que a comunicação social se tem feito eco... Mas também pelas experiências individuais, cá na Metrópole, no período de instrução militar (recruta e especialidade)..
(i) Apenas 1 em cada cada 4 dos respondentes à nossa sondagem discorda do enunciado, revelando por isso uma opinião negativa em relação às praxes a que eram submetidos, no TO da Guiné, os "piras", abreviatura de "periquitos" (ou sejam, os recém-chegados):
(ii) Um em cada cinco não tem opinião sobre o assunto, não se tendo prounciado a favor ou a contra:
(iii) Pelo contrário, mais de metade (53%) dos respondentes manifestou uma opinião favorável às praxes e aos efeitos benéficos sobre os "piras"...
Moçambique > Mueda > CART 2369 (1968/70) > O 2º sargento miliciano Sérgio Neves, irmão do nosso camarada Tino Neves, junto a um mural onde se lê: "Em Mueda, os cordeiros que entram, são lobos que saem. Adeus checas". Recorde-se que o checa, em Moçambique, era o nosso pira ou periquito. (**)
Foto: © Tino Neves (2007). Todos os direitos reservados.[Editada por L.G.]
2. Damos agora mais tempo de antena aos que, tendo respondido à nossa sondagem, manifestaram, em comentários, opinião crítica ou reservas em relação às praxes, nomeadamente no seio da instituição militar.
(i) Henrique Cerqueira [, comentário ao poste P11119]
(...) Em minha opinião qualquer tipo de praxe tem tendência a descambar em abuso.E basta que uma só pessoa saia magoada dessa situação, para que seja considerada por mim uma inusitada situação, a praxe.
Ainda em minha opinião e na nossa sociedade a "iniciação" de qualquer criança para o seu percurso de vida deve ser sempre através do amor, carinho, boa moral , bons exemplos familiares, boa educação. Enfim, muito amor e carinho.Vi na Guiné na altura do Fanado crianças com graves infecções no pénis porque após a circuncisão tiveram que sarar o corte com o pénis metido em terra e completamente sós num retiro forçado. Só para provarem que já eram adultos???... Eu sei lá o quê. Daí, quanto a iniciações, nada prova que seja benéfico no caráter da pessoa.
Em outras situações acontece que grande parte dos praxados fica com "mazelas" ainda que momentâneas.
Assim sendo, e mais uma vez, eu sou contra qualquer tipo de praxe e até contra o que é chamado de "iniciação".
Esta é a minha opinião e não é por qualquer trauma por ter sido violentamente praxado em Tavira. Quanto a mim, e em especial em todos os organismos do Estado, sejam eles militares ou civis, deveriam ser banidas as praxes e severamente castigados aqueles que as praticam .Um jovem ou uma criança quando entra nessas instituições normalmente está tão desamparado e assustad0, já que é um "alvo" apetecível para os potenciais abusadores das praxes. (...)
(ii) C.Martins [, comentário ao poste P11100]
(...) Tem piada que apenas vejo aqui contadas umas brincadeiras sem grande maldade e até com alguma graça. O que eu gostava era de ver contadas aquelas com violentações, humilhações e outras "ções"..sádicas e afins. Desafio qualquer praxista, daqueles puros e pseudo-duros a contar se tem "tomates"..
É que com "pseudo-praxistas" estilo AGA [, António Graça de Abreu,] ou "nosso alfero J.Cabral".
posso eu bem.. É que V. Exas não passavam de uns brincalhões.
Quero realçar que na Guiné nunca fui praxado... É que lá para as bandas do sul não havia tempo nem disposição para isso. Até uma simples voltinha em redor do aquartelamento poderia ser a "morte do artista ou artistas". Como tudo na vida uns mais sortudos do que outros. (...).
2. Damos agora mais tempo de antena aos que, tendo respondido à nossa sondagem, manifestaram, em comentários, opinião crítica ou reservas em relação às praxes, nomeadamente no seio da instituição militar.
(...) Em minha opinião qualquer tipo de praxe tem tendência a descambar em abuso.E basta que uma só pessoa saia magoada dessa situação, para que seja considerada por mim uma inusitada situação, a praxe.
Ainda em minha opinião e na nossa sociedade a "iniciação" de qualquer criança para o seu percurso de vida deve ser sempre através do amor, carinho, boa moral , bons exemplos familiares, boa educação. Enfim, muito amor e carinho.Vi na Guiné na altura do Fanado crianças com graves infecções no pénis porque após a circuncisão tiveram que sarar o corte com o pénis metido em terra e completamente sós num retiro forçado. Só para provarem que já eram adultos???... Eu sei lá o quê. Daí, quanto a iniciações, nada prova que seja benéfico no caráter da pessoa.
Em outras situações acontece que grande parte dos praxados fica com "mazelas" ainda que momentâneas.
Assim sendo, e mais uma vez, eu sou contra qualquer tipo de praxe e até contra o que é chamado de "iniciação".
Esta é a minha opinião e não é por qualquer trauma por ter sido violentamente praxado em Tavira. Quanto a mim, e em especial em todos os organismos do Estado, sejam eles militares ou civis, deveriam ser banidas as praxes e severamente castigados aqueles que as praticam .Um jovem ou uma criança quando entra nessas instituições normalmente está tão desamparado e assustad0, já que é um "alvo" apetecível para os potenciais abusadores das praxes. (...)
(...) Tem piada que apenas vejo aqui contadas umas brincadeiras sem grande maldade e até com alguma graça. O que eu gostava era de ver contadas aquelas com violentações, humilhações e outras "ções"..sádicas e afins. Desafio qualquer praxista, daqueles puros e pseudo-duros a contar se tem "tomates"..
É que com "pseudo-praxistas" estilo AGA [, António Graça de Abreu,] ou "nosso alfero J.Cabral".
posso eu bem.. É que V. Exas não passavam de uns brincalhões.
Quero realçar que na Guiné nunca fui praxado... É que lá para as bandas do sul não havia tempo nem disposição para isso. Até uma simples voltinha em redor do aquartelamento poderia ser a "morte do artista ou artistas". Como tudo na vida uns mais sortudos do que outros. (...).
(iii) Hélder Sousa [, comentário ao poste P11095]:
(...) Parece que é preciso ter opinião sobre esta 'coisa' da praxe. Ora bem, tenho por aqui um problema, pois não atino com uma resposta certa.
Por um lado percebo que uma 'certa praxe', com graça, com ironia, com civilidade, que não se estribe na humilhação do(s) visado(s) acabe por ajudar a cimentar um 'certo espírito de corpo', seja no meio militar, estudantil, clubístico ou outro qualquer.
Por outro lado entendo que o acto de 'praxar', possibilitando o anonimato ou a cobertura de grupo, pode potenciar a revelação de atitudes ou comportamentos bem primários, cobardes e desumanos.
É portanto, entre estas 'balizas' que a 'coisa' se movimenta e confesso que não tenho opinião 'definitiva' sobre a 'bondade' da praxe. Compreendo quem a defende mas sinto-me afastado da sua aplicação. (...)
______________
Por um lado percebo que uma 'certa praxe', com graça, com ironia, com civilidade, que não se estribe na humilhação do(s) visado(s) acabe por ajudar a cimentar um 'certo espírito de corpo', seja no meio militar, estudantil, clubístico ou outro qualquer.
Por outro lado entendo que o acto de 'praxar', possibilitando o anonimato ou a cobertura de grupo, pode potenciar a revelação de atitudes ou comportamentos bem primários, cobardes e desumanos.
É portanto, entre estas 'balizas' que a 'coisa' se movimenta e confesso que não tenho opinião 'definitiva' sobre a 'bondade' da praxe. Compreendo quem a defende mas sinto-me afastado da sua aplicação. (...)
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Notas do editor:
(*) Último poste da série > 19 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11119: Sondagem: "As praxes aos piras, no meu tempo, só lhes fizeram bem"... (5): "É pela dor que te fazes homem e... bravo guerreiro"... O Ritual da Tucandeira... na Amazónia (Luís Graça)
(*) Último poste da série > 19 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11119: Sondagem: "As praxes aos piras, no meu tempo, só lhes fizeram bem"... (5): "É pela dor que te fazes homem e... bravo guerreiro"... O Ritual da Tucandeira... na Amazónia (Luís Graça)
(**) Luís Graça escreveu sobre este mural o seguinte (excerto):
(...) É um pensamento que é válido
para todas as situações de guerra.
Os jovens, quase imberbes,
os meninos de sua mãe
(como escreveu o grande Pessoa),
que chegam à frente de batalha,
ainda são cordeiros,
inocentes,
virgens,
imaculados...
O horror e a violência da guerra
irão transformá-los em lobos,
em duros,
em violentos,
em conspurcados...
Não necessariamente predadores,
assassinos,
criminosos...
(que é o estereótipo
que o ser humano ainda guarda
do pobre do lobo mau!)...
Mas há, seguramente, uma perda de inocência:
nenhum de nós foi para a Guiné
e veio de lá impunemente,
igual...
Os nossos amigos e familiares deram conta disso:
já não éramos os mesmos,
nunca mais fomos os mesmos...
Acho que é isto
que o inspirado autor do mural de Mueda quis dizer.
É claro que há também aqui
a dose habitual de bravata e de fanfarronice:
é uma frase para intimidar
os 'checas', os 'piras', os 'maçaricos', os novatos...
Também os militares, profissão de risco,
têm a sua ideologia defensiva,
as suas crenças,
os seus talismãs,
os seus mesinhos
(usavam-nos os guerrilheiros
na Guiné,
em Angola,
em Moçambique,
não obstante a sua 'formação' racionalista,
marxista-leninista,
dita revolucionária)...
A bravata e a fanfarronice,
além das praxes e do álcool,
ajudavam-nos, a todos nós,
a lidar com o medo,
as situações-limite,
a morte,
o sofrimento, físico e moral,
a impotência,
o desespero… (...)
In: Luís Graça > Blogpoesia > Quarta-feira, Abril 15, 2009 > Blogantologia(s) II - (78): A guerra como forma (heróica) de suicídio... altruista
para todas as situações de guerra.
Os jovens, quase imberbes,
os meninos de sua mãe
(como escreveu o grande Pessoa),
que chegam à frente de batalha,
ainda são cordeiros,
inocentes,
virgens,
imaculados...
O horror e a violência da guerra
irão transformá-los em lobos,
em duros,
em violentos,
em conspurcados...
Não necessariamente predadores,
assassinos,
criminosos...
(que é o estereótipo
que o ser humano ainda guarda
do pobre do lobo mau!)...
Mas há, seguramente, uma perda de inocência:
nenhum de nós foi para a Guiné
e veio de lá impunemente,
igual...
Os nossos amigos e familiares deram conta disso:
já não éramos os mesmos,
nunca mais fomos os mesmos...
Acho que é isto
que o inspirado autor do mural de Mueda quis dizer.
É claro que há também aqui
a dose habitual de bravata e de fanfarronice:
é uma frase para intimidar
os 'checas', os 'piras', os 'maçaricos', os novatos...
Também os militares, profissão de risco,
têm a sua ideologia defensiva,
as suas crenças,
os seus talismãs,
os seus mesinhos
(usavam-nos os guerrilheiros
na Guiné,
em Angola,
em Moçambique,
não obstante a sua 'formação' racionalista,
marxista-leninista,
dita revolucionária)...
A bravata e a fanfarronice,
além das praxes e do álcool,
ajudavam-nos, a todos nós,
a lidar com o medo,
as situações-limite,
a morte,
o sofrimento, físico e moral,
a impotência,
o desespero… (...)
In: Luís Graça > Blogpoesia > Quarta-feira, Abril 15, 2009 > Blogantologia(s) II - (78): A guerra como forma (heróica) de suicídio... altruista
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013
Guiné 63/74 - P11127: Memória dos lugares (214): Cameconde, no subsetor de Cacine, o destacamento mais a sul do CTIG... (José Vermelho / Augusto Vilaça / Juvenal Candeias)
Guiné > Mapa geral da província ( 1961) > Escala 1/500 mil > Posição relativa de Cameconde, a guarnição militar portuguesa mais a sul, na região de Quitafine, na estrada fronteiriça Quebo-Cacine... Em 1968 era o batalhão que estava em Buba (BART 1896, 1966/68) quem defendia esta importante linha de fronteira...
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
1. Há mais de duas dezenas de referências a Cameconde, no nosso blogue, mas há informação este destacamento, que dependia de Cacine (*). Fomos recolher alguns apontamentos:
Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > c. maio de 72/abril 73) > O José Vermelho, quando passou pela CCAÇ 6, as "Onças Negras".
Foto: © Vasco Santos (2010). Todos os direitos reservados.
(i) José Vermelho, nosso grã-tabanaqueiro nº 471, fur mil, CCAÇ 3520 - Cacine, CCAÇ 6 - Bedanda, CIM - Bolama, 1972/74):
(...) Cameconde era um destacamento de Cacine, distando 6/7 Kms entre si.
Tinha uma forma mais ou menos rectangular, talvez aí de uns 50 por 70 mts., encravado no meio da mata, completamente isolado, sem qualquer população civil.
Era o destacamento das N/T situado mais a sul da Guiné.
Tinha em permanência 1 Pelotão de Artilharia + 1 Grupo de Combate de Cacine, sendo este substituído mensalmente por outro, em regime rotativo.
Era feita uma coluna diária Cacine - Cameconde (com picagem) e volta.
Nos primeiros meses de 1972, também fui um dos "turistas voluntários à força", convidado a visitar Cacoca...isto é...o pouco ou nada que restava dela!
Um abraço para todos os camaradas
José Vermelho [ Comentário ao poste P11109]
(ii) Augusto Vilaça [ex-Fur Mil da CART 1692/BART 1914, Sangonhá e Cacoca, 1967/69]
Quando viemos para Cacine, tínhamos o destacamento, Cameconde, onde tínhamos de estar 15 dias. Quando haviam flagelações, bastava uma "obussada " para que os turras desistissem. Eu tirei a especialidade em artilharia, mais concretamente em armas pesadas, como bazuca, morteiros de 60 ou 120 mm. Chefiava uma secção de 5 homens.
Pergunta do J. Casimiro Carvalho:
Ó Gusto, isso aí deve ser um 10,5 [,. referência a foto, a seguir, do Augusto Vilaça junto a um obus que me parece ser 8.8] ?! Cameconde era com abrigos, casamatas ? Eu estive aí em 73.
Resposta de Augusto Vilaça:
Olá. Quando lá estive, o nosso refúgio eram os abrigos, um em cada quadrado. Como sabes, esses abrigos eram muito frágeis. Felizmente nunca caíu um morteiro neles, senão.....
Comentário de Silvério Lobo:
Amigo augusto estive lá, em 2008, com o Luís Graça, vi um abrigo bem forte, com alguns frases do vosso tempo [Eu e o Silvério Lobo, estivemos em Cacine, não em Cameconde]
Comentário de J. Casimiro Carvalho:
Eu estive de passagem em Cacine. Cameconde tinha casamatas fortificadas e estava desativado. Ou estou enganado ?
[Fonte: Página do Facebook da Tabanca Grande, Grupo Antigos Combatentes da Guiné, 30/7/2012]
Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Setor de Cacine > Cacine, na margem esquerda do Rio Cacine > 2 de Março de 2008 > Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de Março de 2008) > Visita dos participantes ao sul > Por aqui passou a CART 1692... Esta tosca placa em cimento, delicioso vestígio arqueológico dos "tugas", diz-nos que em dois dias, de 16 a 18 de Abril de 1968, foi construído este abrigo, em tempo seguramente recorde, a avaliar pelas "60 bebedeiras neste 'priúdo'... TRABALHO RÁPIDO". Estão também gravados dois topónimos portugueses, Nisa e Alenquer.
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cacine > 2 de março de 2008 > Visita no âmbito do Simpósio Internacional de Guiledje (1-7 março de 2008) > O Silvério Lobo junto a uma "bunker", construído pelas NT em cimento armado (, seguramente pelo BENG...).
Fotos: © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados
(iii) Quem tem estórias, deliciosas, de Cameconde (e de Cacine) é o Juvenal Candeias (, ex-alf mil, CCAÇ 3520, Estrelas do Sul, Cacine e Cameconde e Guileje, 1971/74] [, foto à esquerda]
Reproduzo aqui, a do Viente Piu (**)
(...) Vicente era o Furriel de Minas e Armadilhas do 2º Grupo de Combate da CCaç 3520! Popularmente era conhecido por Piu, alcunha que nada tinha a ver com um temperamento piedoso, mas simplesmente com o seu vício de caçador de passarada!
Era ele, provavelmente, quem mais contribuía para o moral elevado das nossas tropas. Embora não fosse aquilo a que habitualmente chamamos uma figura carismática, o Vicente era a boa disposição permanente e contagiante, que nos permitia rir com gosto e facilidade!
Era o homem sempre pronto a pregar partidas aos camaradas!
O Vasconcelos, Furriel de Artilharia em Cameconde, homem dos obuses 14, era uma das suas principais vítimas! Pequenino e bom de bola, fazia inveja ao Garrincha, de tal modo as suas pernas eram arqueadas, e, segundo o Piu, bastante feias! Por essa razão, andava sempre de calças e só tomava banho à noite e sozinho! Salvo quando o Vicente lhe colocava baldes de água em cima das portas por onde ele ia passar!
Era o homem sempre pronto a pregar partidas aos camaradas!
O Vasconcelos, Furriel de Artilharia em Cameconde, homem dos obuses 14, era uma das suas principais vítimas! Pequenino e bom de bola, fazia inveja ao Garrincha, de tal modo as suas pernas eram arqueadas, e, segundo o Piu, bastante feias! Por essa razão, andava sempre de calças e só tomava banho à noite e sozinho! Salvo quando o Vicente lhe colocava baldes de água em cima das portas por onde ele ia passar!
O Vasconcelos veio à Metrópole de férias e terá conhecido, numa festa, uma miúda por quem se apaixonou! Quem escolheu para confessar a sua paixão? Exactamente o Piu, que explorou exaustivamente a situação, obtendo informação detalhada! Estava em marcha mais uma partida!
O correio enviado diariamente por Cameconde aguardava transporte em Cacine. A correspondência chegava e partia de Cacine, na melhor das hipóteses uma vez por semana, em avioneta Dornier 27. O pessoal que estava destacado em Cameconde recebia o correio no dia seguinte, através da coluna auto que todas as manhãs ligava os dois aquartelamentos.
Com alguém em Cacine feito com o Piu, o Vasconcelos começou a receber correspondência da sua paixão, aerogramas que eram escritos e falsificados em Cameconde pelo Piu, vinham a Cacine e voltavam a Cameconde, sempre que havia correio geral a distribuir. Naturalmente que as respostas do Vasconcelos nunca passavam de Cacine, voltando a Cameconde, onde eram entregues ao Piu.
O detalhe da tramóia incluía carimbos e restantes pormenores que faziam acreditar no realismo da correspondência! O conteúdo, inicialmente erótico, posteriormente pornográfico, com inclusão de sexo virtual, era do conhecimento de todos, apenas o Vasconcelos desconhecia a partida! Estava cada vez mais apaixonado… e continuava a confessá-lo ao Piu com quem, ainda por cima, comentava o correio que recebia da sua paixão!
A partida durou as semanas que o Piu entendeu e quando se fartou… escreveu uma última missiva, identificando-se, descompondo o Vasconcelos e chamando-lhe alguns nomes que pouco abonavam a sua masculinidade!
Acabou, assim, deste modo abrupto, um passatempo que animou, durante algum tempo, o destacamento de Cameconde, buraco do… cú do mundo, onde nada existia e nada acontecia, para além de umas bazucadas com maior frequência que a desejada! (...)
A partida durou as semanas que o Piu entendeu e quando se fartou… escreveu uma última missiva, identificando-se, descompondo o Vasconcelos e chamando-lhe alguns nomes que pouco abonavam a sua masculinidade!
Acabou, assim, deste modo abrupto, um passatempo que animou, durante algum tempo, o destacamento de Cameconde, buraco do… cú do mundo, onde nada existia e nada acontecia, para além de umas bazucadas com maior frequência que a desejada! (...)
(iv) Sobre esta região, o Quitafine, leia-se o excelente enquadramento feito pelo Juvenal Candeias [, foto à direita, então alf mil da CCAÇ 3520] (***):
(...) A região do Quitáfine, a Sul de Cacine, era considerada o santuário do PAIGC, que aí estava fortemente instalado e provido de dispositivos de segurança, que tornavam os nossos movimentos impossíveis, salvo com utilização de meios excepcionais. Trilhos minados e sentinelas avançadas, permitiam-lhes uma tranquilidade apenas quebrada pelos obuses de 14 cm, disparados do nosso destacamento de Cameconde!
Os efectivos de que dispunham com um grupo especial de 20 lança-granadas, responsável pelas constantes flagelações a Cameconde, apoiado por um bigrupo disperso pela zona de Cassacá e Banir (onde se supunha estar o comando), eram reforçados por uma vasta população armada em auto-defesa, distribuída, entre outras, pelas tabancas de Ponta Nova, Bijine, Dameol, Cassacá, Banir, Campo, Cassebexe e Caboxanque.
O PAIGC furtava-se sistematicamente ao contacto, optando por uma estratégia defensiva de protecção às populações que controlava, privilegiando as flagelações e a colocação de engenhos explosivos! Quem circulava a Sul de Cambaque (que distava cerca de 3 Km de Cameconde) tinha como certo algumas surpresas no trilho! Provavelmente um campo de minas e a seguir (algum humor-negro), munições de Kalash espetadas no chão formando a palavra PAIGC!
O Quitáfine permitia ainda, ao PAIGC, um reabastecimento regular e seguro, processado a partir da República da Guiné, através de vários rios, em especial o Caraxe e o Camexibó! Ao dispositivo militar juntava-se uma mata densa intransponível!
Os pára-quedistas, após uma operação no Quitáfine, só à noite conseguiram chegar a Cameconde, com grande dificuldade e orientados pelo clarão da queima de cargas de obus, em cima dos abrigos! O grupo de Marcelino da Mata, largado de helicóptero, fez um golpe de mão a Cabonepo, a base do PAIGC mais a Norte do Quitáfine, onde estaria instalado um posto transmissor. Quando chegou, após lenta progressão através da mata… não havia lá nada… a base tinha sido abandonada momentos antes!
O Quitáfine era, efectivamente, o santuário do PAIGC, desde o início da guerra! Foi ali que se realizou, na tabanca de Cassacá – a 15 Km de Cacine e a 8 Km de Cameconde -, em meados de Fevereiro de 1964, o 1º Congresso do PAIGC, com a presença de Amílcar Cabral, Luís Cabral, Aristides Pereira e outras individualidades do Partido!
O PAIGC furtava-se sistematicamente ao contacto, optando por uma estratégia defensiva de protecção às populações que controlava, privilegiando as flagelações e a colocação de engenhos explosivos! Quem circulava a Sul de Cambaque (que distava cerca de 3 Km de Cameconde) tinha como certo algumas surpresas no trilho! Provavelmente um campo de minas e a seguir (algum humor-negro), munições de Kalash espetadas no chão formando a palavra PAIGC!
O Quitáfine permitia ainda, ao PAIGC, um reabastecimento regular e seguro, processado a partir da República da Guiné, através de vários rios, em especial o Caraxe e o Camexibó! Ao dispositivo militar juntava-se uma mata densa intransponível!
Os pára-quedistas, após uma operação no Quitáfine, só à noite conseguiram chegar a Cameconde, com grande dificuldade e orientados pelo clarão da queima de cargas de obus, em cima dos abrigos! O grupo de Marcelino da Mata, largado de helicóptero, fez um golpe de mão a Cabonepo, a base do PAIGC mais a Norte do Quitáfine, onde estaria instalado um posto transmissor. Quando chegou, após lenta progressão através da mata… não havia lá nada… a base tinha sido abandonada momentos antes!
O Quitáfine era, efectivamente, o santuário do PAIGC, desde o início da guerra! Foi ali que se realizou, na tabanca de Cassacá – a 15 Km de Cacine e a 8 Km de Cameconde -, em meados de Fevereiro de 1964, o 1º Congresso do PAIGC, com a presença de Amílcar Cabral, Luís Cabral, Aristides Pereira e outras individualidades do Partido!
A CCaç 3520 tinha chegado ao porto de Cacine, a bordo da LDG Montante, em 24 de Janeiro de 1972, para render a CCaç 2726 – companhia açoriana comandada pelo Capitão Magalhães -, o homem que retorcia as pontas do bigode com cera e a quem o tabaco nunca faltava! Dizia-se mesmo, à boca pequena, que, quando o tabaco acabava em Cacine, o PAIGC deixava, no mato, uns macitos para o Capitão! Rumor ou realidade… ninguém sabe! Ficou por provar!
Decorria ainda o período de sobreposição, que se prolongou até 22 de Fevereiro, quando foram recebidas instruções de Bissau, para ser preparada uma operação ao Quitáfine – Cabonepo e… Cassacá! (...)
Plano de retração das guarnições militares portuguesas, no pós-25 de abril. Região sul. Cameconde e Gadamael foram desativados no mesmo dia, 19 de julho de 1974. Cacinbe, uns dias mais tarde, a 12 de agosto. Nesta lista há 3 aquartelamentos que pertenciam ao leste, não ao sul: Bambadinca, Mansambo e Xime. Reprodução (parcial) da página 54 (de um total de 74) do relatório da 2ª rep/CC/FAG, publicado em 28 de fevereiro de 1975, e na altura classificado como "Secreto".
Sangonhá e Cacoca já tinham sido abandonados no início do consulado de Spínola, no 2º semester de 1968, como conta aqui o António J. Pereira da Costa, numa das histórias da sua "guerra a petróleo", e quando ele foi alferes QP da CART 1692.
[ Digitalização do documento: Luís Gonçalves Vaz (2012) / Edição das imagens: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2012) ]
________________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 17 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11107: Memória dos lugares (213): Gadamael Porto, vestígios da presença das NT (CART 1659, CART 6252...). Fotos de 2011 (Carlos Afeitos, professor, cooperante)
(*) Último poste da série > 17 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11107: Memória dos lugares (213): Gadamael Porto, vestígios da presença das NT (CART 1659, CART 6252...). Fotos de 2011 (Carlos Afeitos, professor, cooperante)
(**) Vd. poste de 16 de outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5113: Histórias de Juvenal Candeias (5): Vicente, o Piu
(***) Vd. poste de 16 de setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4961: Histórias de Juvenal Candeias (4): Há periquitos no Quitáfine-
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Guiné 63/74 - P11126: VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (2): Estão abertas as inscrições (A Organização)
VIII ENCONTRO NACIONAL DA TABANCA GRANDE
Caros camaradas
Como foi dito no poste anterior, o nosso Encontro de 2013 ficou marcado para o dia 22 de Junho de 2013.
Em relação ao almoço a situação é pacífica, recebemos até já a ementa que publicamos mais abaixo, mas quanto às dormidas há que ter em atenção a seguinte mensagem de trabalho que hoje mesmo recebemos do nosso camarada Joaquim Mexia Alves:
Bom dia meus amigos
Avancemos, então!
Fui informado que para esse fim de semana está um pedido no Hotel, ainda não confirmado, para 90 quartos, pelo que quem quiser pernoitar no Hotel é bom que avance desde já com a reserva.
De qualquer modo o meu genro Rui Burguete, vai falar com os outros estabelecimentos hoteleiros de Monte Real para arranjar preços para essa/s noites também.
Um abraço
Joaquim
Posto isto, quem tiver preferência por ficar instalado no Palace Hotel de Monte Real, não perdia nada se avançasse já com o seu pedido de reserva.
Fica o alerta.
Segue-se a ementa deste ano:
As inscrições estão desde já abertas.
O ano passado, talvez com o incentivo da oferta do livro do nosso camarada Idálio Reis, pulverizamos o recorde de presenças, 181.
Apesar da crise que a todos afecta, gostaríamos de ter este ano uma boa afluência e rever alguns camaradas que nos últimos Encontros não puderam comparecer.
Pela Comissão organizadora do Encontro
Carlos Vinhal e Joaquim Mexia Alves
Em tempo:
Por motivos alheios à organização do evento, a data do nosso Encontro será no dia 8 de Junho, logo antecipado duas semanas em relação à data inicial.
Haverá alojamento no Palace Hotel de Monte Real para quem o solicitar na altura da inscrição para o almoço. Os preços foram alterados para 45 e 55 euros (single e duplo, com pequeno almoço incluído).
____________
Nota do editor:
Vd. poste anterior de 17 DE FEVEREIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11108: VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (1): O nosso convívio anual vai-se realizar no próximo dia 22 de Junho de 2013 em Monte Real (A Organização)
Guiné 63/74 - P11125: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (5): Curtas férias em Cacine, CCAÇ 3520 (2)
1. Em mensagem do dia 24 de Janeiro de 2013, o nosso camarada Abílio Magro (ex-Fur Mil Amanuense (CSJD/QG/CTIG, 1973/74), enviou mais uma peripécia para a sua série Um amanuense em terras de Kako Baldé.
Um Amanuense em terras de Kako Baldé
(Para quem não sabe, Kako Baldé era o nome por que era conhecido, entre a tropa, o General Spínola. Kako – (caco) lente que o General metia no olho. Baldé – Nome muito comum na Guiné)
4.2 – Curtas férias em Cacine – CCAÇ 3520
Decorria o mês de Junho de 1973. Eu ainda era muito "pira", não tinha completado ainda 3 meses de Guiné. Vinha do "ar condicionado" e encontrava-me em Cacine, no meio de grande confusão, tropas pára-quedistas, fuzileiros, Marcelino da Mata, etc.
Felizmente em Cacine não faltava nada. Não faltava cerveja morna, não faltava uma pedra de gelo, por cabeça, às refeições, não faltava o arroz de "rolhas" (arroz com muito colorau e meia dúzia de rodelas de salsicha), etc., etc..
A CCAÇ 3520 era um Companhia farta. Farta de ali estar, farta de comer arroz de "rolhas", farta de esperar pela rendição.
Julgo que não cheguei a completar 4 semanas de "férias" naquela "estância balnear", mas foi o suficiente para imaginar uma estadia de 23 meses!
Tenho ideia de só ter comido arroz de "rolhas" durante aquele período. Posso estar enganado.
Comecei a dar mais valor ao "pessoal do mato".
Antes 527 serviços de Sargento da Guarda!
O Major Leal de Almeida lá continuava a fazer incursões por Gadamael e levava habitualmente consigo o outro Furriel.
O Major, além de me ter pedido, no início, para lhe dar um jeito no "estaminé", pouco mais me pediu para fazer. Apenas um ou outro "mail" para Bissau.
E eu..., andava por ali a ver as "bajudas"...!
Certo dia, ao fim da tarde, regressados os dois, via fluvial, a Cacine, o outro Furriel, visivelmente exausto, sujo e suado, vem ao meu encontro e, completamente alterado, atira-me:
- Porra, anda aqui um "gajo" a esfarrapar-se todo e a arriscar o "coiro" e tu aqui a "coçá-los"!
Eu, que nunca gostei que me falassem "de cima da burra" nem com aqueles modos e que, nestas situações, tinha o hábito de responder com alguma agressividade verbal, contive-me (acreditem que a cerveja morna faz um efeito "bestial") e, calma e sarcasticamente, retorqui-lhe:
- Djubi, eu sou Amanuense e não tenho lá muita queda para herói! Já viste bem este "cabedal"?! Além disso o Major nunca me "convidou para a festa"!
Deu meia volta a resmungar e não me recordo de ter tido mais qualquer conversa com ele.
Entretanto, eu ia jogando a "lerpa", bebendo umas "bejecas" mornas e convivendo com os Sargentos pára-quedistas (ah gente do "catano"!).
Recordo-me bem de um convívio nocturno na "messe" de Sargentos. Houve de tudo! Aguardente, fados, poesia, etc., tudo a roçar o "hard-core", claro! Gente espectacular, camaradagem excelente e com uma disciplina extraordinária, nomeadamente com o armamento.
Guardei na memória alguns versos de um fado cantado pelos "páras" com música do hino académico - "Amores de Estudante" e que, salvo erro, rezavam assim:
Quero, quero ir para Lisboa
Ai, ai, eu quero
Nem que seja de canoa
Eu quero ir
P'ra terra santa querida
Dizer adeus a esta merda
P'ro resto da minha vida
Pára-quedistas, homens nobres
Tanto ricos como pobres
Avançando pela mata
...
(e de mais não me recordo)
Ficou-me também na retina a imagem do 1º Sargento pára-quedista Vicente, evacuado para Cacine vindo de Gadamael, com um tiro numa perna, a aguardar evacuação para Bissau e com quem tinha convivido alegremente naquela noite.
A minha "guerra" lá foi continuando com a "lerpa", "as bejecas" mornas, o convívio com os "páras" e a excelente qualidade das instalações, nomeadamente o "balneário" de arrojado design e equipamento de conceituadas marcas.
O chuveiro apresentava uma característica completamente inovadora - era semi-automático, comandado por voz! Isto é: Em cima havia um bidão de lata que continha água e um furo na base inferior tapado com uma rolha acoplada à ponta de um pau. O "fabiano" que queria tomar banho tinha de "aparelhar" com outro que tivesse a mesma intenção. O primeiro colocava-se debaixo do bidão e o outro encarrapitava-se de modo a chegar ao pau. Quando o de baixo queria água, dizia: - "abre!" e a água caía. Se queria parar, dizia: - "pára", e a água parava! (sistema altamente sofisticado para a época). Findo o duche, era só trocar de posições e a coisa funcionava bem.
Entretanto, chega finalmente a Companhia que vinha substituir a CAÇ 3520. Esta entra em euforia e empenha-se rapidamente nas actividades para recepção dos novos "piras".
Não possuindo máquina fotográfica, vi-me impedido de registar aqueles actos solenes hilariantes.
Os "piras" não acharam muita piada à recepção. Pudera, entraram no avião em Figo Maduro com destino a S. Tomé e, quando aterraram, estavam na Guiné!
Pois é verdade, iam para S. Tomé e, a meio da viagem, o Comandante do avião terá recebido ordens para rumar a Bissalanca.
Pertencia a esta companhia o soldado Lemos, ex-futebolista do Boavista e, depois do F.C.Porto onde ficou célebre por ter marcado 4 golos ao Benfica no Estádio das Antas em jogo a contar para o Campeonato Nacional de Futebol, jogo que, por acaso, assisti ao vivo.
Em Cacine, esta Companhia tratou logo de abrir valas por todo lado, pois tendo Guileje sido abandonada e estando Gadamael a ferro e fogo, Cacine seria, muito provavelmente, o "freguês que se seguia".
Entretanto, saído não sei de onde, aparece-me um camarada e pergunta-me:
- Tu é que és o Magro?
Respondi que sim e ele:
- Deves ter uma cunha do "caraças"!
- Então porquê?
- Venho-te substituir. Estava sossegadinho em Bolama e mandaram-me para aqui para te substituir.
Nunca tive conhecimento de cunha alguma e atribuo o facto a pressões que o Dr. Dias terá feito junto do Chefe - Major Mário Lobão, por se encontrar, provavelmente, atafulhado em papelada. Nunca o soube.
Aproveitei boleia na LDM que transportou a CCAÇ 3520 para Bissau.
Saímos de Cacine ao fim da tarde e chegamos a Bissau na manhã do dia seguinte,
A partir dessa data eu seria, talvez, o Furriel/Sargento que melhor fazia a Guarda de Honra ao Brigadeiro Alberto da Silva Banazol!
Recordo-me de, logo após o meu regresso de Cacine e estando de Sargento da Guarda, ter dado ordem de: "Apresentar armas!" quando ele se colocou em sentido frente à Guarda, e o ter feito com tal vigor que o homem, depois de bater a pala e desandar, ao passar perto de mim, disse:
- "Isso, assim com garra!".
Estavam feitas as pazes!
____________
Nota do editor:
Vd. último poste da série de 6 DE FEVEREIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11067: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (4): Curtas férias em Cacine, CCAÇ 3520
Um Amanuense em terras de Kako Baldé
4.2 – Curtas férias em Cacine – CCAÇ 3520
Decorria o mês de Junho de 1973. Eu ainda era muito "pira", não tinha completado ainda 3 meses de Guiné. Vinha do "ar condicionado" e encontrava-me em Cacine, no meio de grande confusão, tropas pára-quedistas, fuzileiros, Marcelino da Mata, etc.
Felizmente em Cacine não faltava nada. Não faltava cerveja morna, não faltava uma pedra de gelo, por cabeça, às refeições, não faltava o arroz de "rolhas" (arroz com muito colorau e meia dúzia de rodelas de salsicha), etc., etc..
A CCAÇ 3520 era um Companhia farta. Farta de ali estar, farta de comer arroz de "rolhas", farta de esperar pela rendição.
Julgo que não cheguei a completar 4 semanas de "férias" naquela "estância balnear", mas foi o suficiente para imaginar uma estadia de 23 meses!
Tenho ideia de só ter comido arroz de "rolhas" durante aquele período. Posso estar enganado.
Comecei a dar mais valor ao "pessoal do mato".
Antes 527 serviços de Sargento da Guarda!
O Major Leal de Almeida lá continuava a fazer incursões por Gadamael e levava habitualmente consigo o outro Furriel.
O Major, além de me ter pedido, no início, para lhe dar um jeito no "estaminé", pouco mais me pediu para fazer. Apenas um ou outro "mail" para Bissau.
E eu..., andava por ali a ver as "bajudas"...!
Certo dia, ao fim da tarde, regressados os dois, via fluvial, a Cacine, o outro Furriel, visivelmente exausto, sujo e suado, vem ao meu encontro e, completamente alterado, atira-me:
- Porra, anda aqui um "gajo" a esfarrapar-se todo e a arriscar o "coiro" e tu aqui a "coçá-los"!
Eu, que nunca gostei que me falassem "de cima da burra" nem com aqueles modos e que, nestas situações, tinha o hábito de responder com alguma agressividade verbal, contive-me (acreditem que a cerveja morna faz um efeito "bestial") e, calma e sarcasticamente, retorqui-lhe:
- Djubi, eu sou Amanuense e não tenho lá muita queda para herói! Já viste bem este "cabedal"?! Além disso o Major nunca me "convidou para a festa"!
Deu meia volta a resmungar e não me recordo de ter tido mais qualquer conversa com ele.
Entretanto, eu ia jogando a "lerpa", bebendo umas "bejecas" mornas e convivendo com os Sargentos pára-quedistas (ah gente do "catano"!).
Recordo-me bem de um convívio nocturno na "messe" de Sargentos. Houve de tudo! Aguardente, fados, poesia, etc., tudo a roçar o "hard-core", claro! Gente espectacular, camaradagem excelente e com uma disciplina extraordinária, nomeadamente com o armamento.
Guardei na memória alguns versos de um fado cantado pelos "páras" com música do hino académico - "Amores de Estudante" e que, salvo erro, rezavam assim:
Quero, quero ir para Lisboa
Ai, ai, eu quero
Nem que seja de canoa
Eu quero ir
P'ra terra santa querida
Dizer adeus a esta merda
P'ro resto da minha vida
Pára-quedistas, homens nobres
Tanto ricos como pobres
Avançando pela mata
...
(e de mais não me recordo)
Ficou-me também na retina a imagem do 1º Sargento pára-quedista Vicente, evacuado para Cacine vindo de Gadamael, com um tiro numa perna, a aguardar evacuação para Bissau e com quem tinha convivido alegremente naquela noite.
A minha "guerra" lá foi continuando com a "lerpa", "as bejecas" mornas, o convívio com os "páras" e a excelente qualidade das instalações, nomeadamente o "balneário" de arrojado design e equipamento de conceituadas marcas.
O chuveiro apresentava uma característica completamente inovadora - era semi-automático, comandado por voz! Isto é: Em cima havia um bidão de lata que continha água e um furo na base inferior tapado com uma rolha acoplada à ponta de um pau. O "fabiano" que queria tomar banho tinha de "aparelhar" com outro que tivesse a mesma intenção. O primeiro colocava-se debaixo do bidão e o outro encarrapitava-se de modo a chegar ao pau. Quando o de baixo queria água, dizia: - "abre!" e a água caía. Se queria parar, dizia: - "pára", e a água parava! (sistema altamente sofisticado para a época). Findo o duche, era só trocar de posições e a coisa funcionava bem.
Entretanto, chega finalmente a Companhia que vinha substituir a CAÇ 3520. Esta entra em euforia e empenha-se rapidamente nas actividades para recepção dos novos "piras".
Não possuindo máquina fotográfica, vi-me impedido de registar aqueles actos solenes hilariantes.
Os "piras" não acharam muita piada à recepção. Pudera, entraram no avião em Figo Maduro com destino a S. Tomé e, quando aterraram, estavam na Guiné!
Pois é verdade, iam para S. Tomé e, a meio da viagem, o Comandante do avião terá recebido ordens para rumar a Bissalanca.
Pertencia a esta companhia o soldado Lemos, ex-futebolista do Boavista e, depois do F.C.Porto onde ficou célebre por ter marcado 4 golos ao Benfica no Estádio das Antas em jogo a contar para o Campeonato Nacional de Futebol, jogo que, por acaso, assisti ao vivo.
Em Cacine, esta Companhia tratou logo de abrir valas por todo lado, pois tendo Guileje sido abandonada e estando Gadamael a ferro e fogo, Cacine seria, muito provavelmente, o "freguês que se seguia".
Entretanto, saído não sei de onde, aparece-me um camarada e pergunta-me:
- Tu é que és o Magro?
Respondi que sim e ele:
- Deves ter uma cunha do "caraças"!
- Então porquê?
- Venho-te substituir. Estava sossegadinho em Bolama e mandaram-me para aqui para te substituir.
Nunca tive conhecimento de cunha alguma e atribuo o facto a pressões que o Dr. Dias terá feito junto do Chefe - Major Mário Lobão, por se encontrar, provavelmente, atafulhado em papelada. Nunca o soube.
Aproveitei boleia na LDM que transportou a CCAÇ 3520 para Bissau.
Saímos de Cacine ao fim da tarde e chegamos a Bissau na manhã do dia seguinte,
A partir dessa data eu seria, talvez, o Furriel/Sargento que melhor fazia a Guarda de Honra ao Brigadeiro Alberto da Silva Banazol!
Recordo-me de, logo após o meu regresso de Cacine e estando de Sargento da Guarda, ter dado ordem de: "Apresentar armas!" quando ele se colocou em sentido frente à Guarda, e o ter feito com tal vigor que o homem, depois de bater a pala e desandar, ao passar perto de mim, disse:
- "Isso, assim com garra!".
Estavam feitas as pazes!
____________
Nota do editor:
Vd. último poste da série de 6 DE FEVEREIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11067: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (4): Curtas férias em Cacine, CCAÇ 3520
Guiné 63/74 - P11124: Álbum fotográfico de Abílio Duarte (fur mil art da CART 2479, mais tarde CART 11/ CCAÇ 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70) (Parte IV): A guerra e a fome que chegam à região de Gabu...
Guiné > Zona leste > Algures, s/d > "Restaurante Michelin: o furriel Cunha, o alferes Fagundes e outros camaradas"... [e os djubis à espera dos restos do tacho...]
Guiné > Zona leste > CART 11 (1969/70) > Pirada > Padaria... [Podia faltar tudo, menos o pão fresco, o "casqueiro"]
Guiné > Zona leste > Algures, s/d > Soldados da CART 11 assando peixe no mato [... Nunca vi homens tão frugais como os fulas que, sendo desarranchados, levavam para o mato, para operações, uma mão chão cheia de arroz cozido, embrulhado num lenço...]
Guiné > Zona leste > Algures, s/d > Uma aldeia atacada e destruída pelo IN (1) [...Decididamente o PAIGC elegeu o chão fula, o leste, como terra de ninguém... Afinal os fulas eram os aliados 'naturais' dos tugas...]
Guiné > Zona leste > Algures, s/d > Uma aldeia atacada e destruída pelo IN (2) [... A mesma desolução que conheci na outra ponta do leste, no regulado do Corubal...]
Guiné > Zona leste > CART 11 (Nova Lamego, Piche, Paunca, 1969/1970) > Fotos do álbum do Abílio Duarte.
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Fotos (e legendas): © Abílio Duarte (2013). Todos os direitos reservados. (*) [Edição e legendagem complementar: L.G.]
1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Abílio Duarte, ex-fur mil art da CART 2479 (mais tarde CART 11 e finalmente, já depois do regresso à Metrópole do Duarte, CCAÇ 11, a famosa companhia de “Os Lacraus de Paunca”) (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70) (*).
Ao ver a foto da aldeia fula destruída (em baixo) bem como da foto de cima (com os putos fulas esperando pacientemente os restos da comida dos tugas), possivelmente nas regiões fronteiriças de Pirada ou de Paunca (ou, talvez, Piche, desguarnecida com a retirada de Madina do Boé, Beli e Cheche, no princípio de de 1969), lembrei-me de outras tabancas, que conheci na mesma altura do Abílio, nos regulados de Joladu, Badora, Corubal... e veio-me à memória um poema que, a propósito, escrevi e que publiquei há um ano atrás, dedicado aos bravos fulas da minha CCAÇ 12 (, na realidade, uma irmã gémea da CCAÇ 11).
(...) Não reconheces os sinais de guerra,
O feroz combate em noite de luar,
O cavalo de frisa,
Os pássaros de morte,
Os jagudis no alto da árvore descarnada,
A terra desventrada, ensaguentada,
O arame farpado, aqui e acolá cortado,
O colmo das moranças, carbonizado,
O medo que se sente mas não se vê,
As cápsulas de 12.7 da Degtyarev,
Um par de chinelos,
Os caracteres chineses dos invólucros, amarelos,
Das granadas de RPG… (...) (**)
__________________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 15 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11097: Álbum fotográfico de Abílio Duarte (fur mil art da CART 2479, mais tarde CART 11/ CCAÇ 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70) (Parte III): A nossa messe, no Quartel de Baixo, em Nova Lamego, decorada pelo famoso Pechincha, fur mil op esp e desenhador de profissão
(**) Vd. poste de 28 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9413: Blogpoesia (175): Elegia para uma triste tabanca fula (Luís Graça)
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 15 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11097: Álbum fotográfico de Abílio Duarte (fur mil art da CART 2479, mais tarde CART 11/ CCAÇ 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70) (Parte III): A nossa messe, no Quartel de Baixo, em Nova Lamego, decorada pelo famoso Pechincha, fur mil op esp e desenhador de profissão
(**) Vd. poste de 28 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9413: Blogpoesia (175): Elegia para uma triste tabanca fula (Luís Graça)
por Luís Graça
Poema dedicada
aos valorosos soldados fulas
da CCAÇ 12 (1969/71),
de Badora, do Cossé, do Corubal
E de repente
Tudo te é estranho,
O muro que corta, rente,
A brisa da manhã,
A fonte onde ainda ontem
Os jubis tomavam banho,
O poilão aonde ias rezar,
À tua maneira,
Ao teu irã,
A ponta onde colhias a manga e o abacaxi,
O macaco-cão que ora chora ora ri…
De repente
Não sabes donde vens,
Não sabes quem és,
Aqui de camuflado e de G-3,
Nem a verdadeira razão para matar e morrer,
Não sabes o que fazes neste lugar,
Triste tuga entre tristes fulas,
Abaixo do Trópico de Câncer,
A 11 graus e tal de latitude norte.
Não reconheces os sinais de guerra,
O feroz combate em noite de luar,
O cavalo de frisa,
Os pássaros de morte,
Os jagudis no alto da árvore descarnada,
A terra desventrada, ensaguentada,
O arame farpado, aqui e acolá cortado,
O colmo das moranças, carbonizado,
O medo que se sente mas não se vê,
As cápsulas de 12.7 da Degtyarev,
Um par de chinelos,
Os caracteres chineses dos invólucros, amarelos,
Das granadas de RPG…
Um triste cão vadio ladra
Ao cacimbo fumegante
E o seu latido lancinante
Ecoa pela bolanha fora.
A seu lado, a única velha,
Que não se foi embora,
Com a sua máscara impassível
De séculos de dor.
Mais tarde saberás
- Mas nunca o saberão, de cor,
Os jovens pioneiros com os seus lenços multicolores -,
Que por aqui passou
Mamadu Indjai,
Hoje valoroso, amanhã insidioso,
Combatente da liberdade da pátria,
Hoje herói, amanhã traidor.
Diz-me, mãe e pitonisa,
Onde estão as mulheres com os balaios à cabeça
E os seus filhos às costas ?
Onde estão as gentis bajudas,
Cujo sorriso nos climatizava os pesadelos ?
Onde estão o régulo e os suas valentes milícias ?
Para que lado corre o Rio Corubal
E donde vêm aqueles sons de bombolom?
Diz-me, homem grande,
Onde fica o Futa Djalon ?
E de que ponto cardeal
Sopram os ventos da história, afinal ?
Dizes-me para que lado fica Meca, meu irmão ?
E, no seu conciliábulo,
O que sobre nós decidirão,
Os nossos deuses, o teu e o meu ?
Diz-me onde está o velho cego, mandinga,
A quem demos boleia,
Em Bambadinca,
Que tocava kora
E nos contava histórias
De velhos e altivos senhores,
Agora prisioneiros no seu chão ?
Passei, na madrugada de um dia qualquer,
Pela tua tabanca, abandonada,
Do triste regulado do Corubal,
De que já não guardo o nome,
Na memória.
Tabanca onde passámos sede e fome,
Sinchã qualquer coisa,
Agora posta a ferro e fogo,
Que importa, minha irmã,
O topónimo para a história ?!...
Venho apenas em teu socorro,
Irmãozinho,
Quando as cinzas ainda estão quentes
No forno da tua morança,
Da morança que também fora minha…
Raiva, sim, meu camarada,
Como eu te compreendo…
Mas vingança, para quê ?
De guerra em guerra se chega à vertigem do nada!
A um espelho partido me estou vendo,
E a mim mesmo me pergunto-me quem sou eu
Triste tuga entre tristes fulas, ai!,
Para te dar lições de história ?!
Quem somos, ao fim e ao cabo, nós, os dois ?
Saberei apenas, muito anos depois,
Que fuzilaram o Mamadu Indjai!…
Tudo te é estranho,
O muro que corta, rente,
A brisa da manhã,
A fonte onde ainda ontem
Os jubis tomavam banho,
O poilão aonde ias rezar,
À tua maneira,
Ao teu irã,
A ponta onde colhias a manga e o abacaxi,
O macaco-cão que ora chora ora ri…
De repente
Não sabes donde vens,
Não sabes quem és,
Aqui de camuflado e de G-3,
Nem a verdadeira razão para matar e morrer,
Não sabes o que fazes neste lugar,
Triste tuga entre tristes fulas,
Abaixo do Trópico de Câncer,
A 11 graus e tal de latitude norte.
Não reconheces os sinais de guerra,
O feroz combate em noite de luar,
O cavalo de frisa,
Os pássaros de morte,
Os jagudis no alto da árvore descarnada,
A terra desventrada, ensaguentada,
O arame farpado, aqui e acolá cortado,
O colmo das moranças, carbonizado,
O medo que se sente mas não se vê,
As cápsulas de 12.7 da Degtyarev,
Um par de chinelos,
Os caracteres chineses dos invólucros, amarelos,
Das granadas de RPG…
Um triste cão vadio ladra
Ao cacimbo fumegante
E o seu latido lancinante
Ecoa pela bolanha fora.
A seu lado, a única velha,
Que não se foi embora,
Com a sua máscara impassível
De séculos de dor.
Mais tarde saberás
- Mas nunca o saberão, de cor,
Os jovens pioneiros com os seus lenços multicolores -,
Que por aqui passou
Mamadu Indjai,
Hoje valoroso, amanhã insidioso,
Combatente da liberdade da pátria,
Hoje herói, amanhã traidor.
Diz-me, mãe e pitonisa,
Onde estão as mulheres com os balaios à cabeça
E os seus filhos às costas ?
Onde estão as gentis bajudas,
Cujo sorriso nos climatizava os pesadelos ?
Onde estão o régulo e os suas valentes milícias ?
Para que lado corre o Rio Corubal
E donde vêm aqueles sons de bombolom?
Diz-me, homem grande,
Onde fica o Futa Djalon ?
E de que ponto cardeal
Sopram os ventos da história, afinal ?
Dizes-me para que lado fica Meca, meu irmão ?
E, no seu conciliábulo,
O que sobre nós decidirão,
Os nossos deuses, o teu e o meu ?
Diz-me onde está o velho cego, mandinga,
A quem demos boleia,
Em Bambadinca,
Que tocava kora
E nos contava histórias
De velhos e altivos senhores,
Agora prisioneiros no seu chão ?
Passei, na madrugada de um dia qualquer,
Pela tua tabanca, abandonada,
Do triste regulado do Corubal,
De que já não guardo o nome,
Na memória.
Tabanca onde passámos sede e fome,
Sinchã qualquer coisa,
Agora posta a ferro e fogo,
Que importa, minha irmã,
O topónimo para a história ?!...
Venho apenas em teu socorro,
Irmãozinho,
Quando as cinzas ainda estão quentes
No forno da tua morança,
Da morança que também fora minha…
Raiva, sim, meu camarada,
Como eu te compreendo…
Mas vingança, para quê ?
De guerra em guerra se chega à vertigem do nada!
A um espelho partido me estou vendo,
E a mim mesmo me pergunto-me quem sou eu
Triste tuga entre tristes fulas, ai!,
Para te dar lições de história ?!
Quem somos, ao fim e ao cabo, nós, os dois ?
Saberei apenas, muito anos depois,
Que fuzilaram o Mamadu Indjai!…
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