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Nota do editor
Último poste da série de 16 de novembro de 2015 Guiné 63/74 - P15372: Parabéns a você (988): José António Viegas, ex-Fur Mil Art do Pel Caç Nat 54 (Guiné, 1966/68)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quinta-feira, 19 de novembro de 2015
quarta-feira, 18 de novembro de 2015
Guiné 63/74 - P15383: Inquérito 'on line' (19): Batota em relação às causas das baixas das NT? Provavelmente não havia... Havia, isso sim, dualidade de critérios e os trâmites normais da burocracia da justiça militar (Abílio Magro / Manuel Amaro / Carlos Vinhal / Luís Graça / José Martins / Jorge Cabral)
Comentários ao poste P15378 (*):
1. Abílio Magro ex-fur mil amanuense, CSJD/QG/CTIG (Bissau, 1973/74)
Os processos eram instruídos nas Companhias e, de acordo com o respectivo "instrutor", a caracterização era efectuada na CSJD/QG/CTIG. [CSJD = Chefia do Serviço de Justiça e Disciplina],
Na CSJD/QG/CTIG, face aos factos constantes do processo (reais ou não) era emitido o respectivo parecer.
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Para ficarem com uma ideia de como a "coisa" funcionava, quero referir o assédio de que fui alvo, em Setembro de 1974, por parte de alguns Capitães Milicianos, comandantes das Companhias que tinham regressado a Bissau e que aguardavam embarque para a Metrópole.
E o assédio tinha em vista a minha colaboração diária (nocturna e paga) a fim de os ajudar na conclusão dos vários processos pendentes na Unidade, sem o que esta não poderia embarcar, denotando os Capitães Milicianos, portanto, algum desconhecimento da matéria em causa.
Noutras circunstâncias tê-los-ia ajudado, com muito gosto e "sem honorários", mas acontecia que eu também estava ansioso para "bazar dali" e, naquela altura, chegava ao fim do dia cansado de tanto queimar papelada e, com o calor das chamas e a fumaça, tinha sempre a garganta seca.
O problema creio que estaria na separação entre combate e... acidente.
Não espero, nem faria sentido, aparecerem hoje os coronéis reformados a dizer que, quando eram capitães (ou alferes), tinham mentido, tinham feito "batota".
No meu Batalhão houve dois casos complicados. O alferes Queiroz (CCAÇ 2616, Buba), morto a levantar uma mina, junto ao quartel, creio que foi considerado em combate. Já o furriel Ferreira, da mesma companhia, morto a levantar uma mina, na estrada Buba-Nhala, terá sido considerado acidente.
Mas creio que os investigadores dos factos e as testemunhas dos mesmos, agiam sempre de acordo com a legislação.
5. Luís Graça / José Marcelino Martins:
E os suicídios, Luís?
Nota do editor:
Supõe-se que muitos dos "instrutores" nada sabiam das consequências futuras para os militares ou seus familiares, pelo modo pouco rigoroso como era instruído o processo. Por outro lado, outros "instrutores", bem mais preparados e conhecedores destes "meandros", lá conseguiam "dourar a pílula", escondendo habilmente alguns factos e, assim, conseguir algum benefício para o militar atingido ou acometido de doença.
Na CSJD/QG/CTIG, face aos factos constantes do processo (reais ou não) era emitido o respectivo parecer.
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Tenho a ideia, não a certeza, que o relato das testemunhas era manuscrito pelo instrutor (Alf. Mil, por norma) e as testemunhas não assinavam, ficando o instrutor responsável por elas. Neste contexto, o processo podia muito bem ser conduzido para o lado mais conveniente, houvesse vontade e engenho para isso.
Para ficarem com uma ideia de como a "coisa" funcionava, quero referir o assédio de que fui alvo, em Setembro de 1974, por parte de alguns Capitães Milicianos, comandantes das Companhias que tinham regressado a Bissau e que aguardavam embarque para a Metrópole.
E o assédio tinha em vista a minha colaboração diária (nocturna e paga) a fim de os ajudar na conclusão dos vários processos pendentes na Unidade, sem o que esta não poderia embarcar, denotando os Capitães Milicianos, portanto, algum desconhecimento da matéria em causa.
Noutras circunstâncias tê-los-ia ajudado, com muito gosto e "sem honorários", mas acontecia que eu também estava ansioso para "bazar dali" e, naquela altura, chegava ao fim do dia cansado de tanto queimar papelada e, com o calor das chamas e a fumaça, tinha sempre a garganta seca.
2. Luís Graça [editor, ex fur mil, arm pes inf, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71]
Não deixa de ser significativo que mais de um terço (22 em 59, ou seja, 37%) dos respondentes ao inquérito 'on line' desta semana, tenham optado pela resposta "Não sei / não tenho opinião"...
A questão é técnica e juridicamente complexa... Poucos de nós, ao fim e ao cabo, lidaram com este problema... Temos, muitos de nós, a experiência das "baixas", dos camaradas que morreram ou foram feridos... Não sabemos, em muitos casos, como é que o processo burocrático se desenrolou, seguindo os trâmites normais da justiça militar...
A alguns de nós causa estranheza ou provoca até revolta ao vermos, nas listas oficiais dos mortos na guerra do ultramar, camaradas nossos, que conhecemos, como o Quaresma, da CART 2716 (Xitole, 1970/72), terem morrido por "acidente"...
A alguns de nós causa estranheza ou provoca até revolta ao vermos, nas listas oficiais dos mortos na guerra do ultramar, camaradas nossos, que conhecemos, como o Quaresma, da CART 2716 (Xitole, 1970/72), terem morrido por "acidente"...
O Quaresma morreu por estar numa zona de guerra e todos os dias armadilhar e desarmadilhar o engenho explosivo colocado numa das entradas do quartel, para a malta poder dormir "mais descansada"... E quantos casos não houve como o do Quaresma ?! Ora é preciso que estes casos venham à luz do dia!...
Se houve "batota", não tive conhecimento.
Os três mortos da minha Companhia, a CCAÇ 2615, foram todos mortos em combate e todos eles considerados como tal.
O problema creio que estaria na separação entre combate e... acidente.
Não espero, nem faria sentido, aparecerem hoje os coronéis reformados a dizer que, quando eram capitães (ou alferes), tinham mentido, tinham feito "batota".
No meu Batalhão houve dois casos complicados. O alferes Queiroz (CCAÇ 2616, Buba), morto a levantar uma mina, junto ao quartel, creio que foi considerado em combate. Já o furriel Ferreira, da mesma companhia, morto a levantar uma mina, na estrada Buba-Nhala, terá sido considerado acidente.
Mas creio que os investigadores dos factos e as testemunhas dos mesmos, agiam sempre de acordo com a legislação.
4. Carlos Vinhal [, editor, ex-fur mil art MA, CART 2732, Mansabá, abril de 1970/março de 1972]
No caso das minas, normalmente a diferença entre morto por acidente ou em combate dependia de a mina ser "amiga" ou do IN.
Na minha Companhia, o Alferes de Minas e Armadilhas morreu ao tentar neutralizar uma mina AP inimiga, sendo considerado morto em combate. Naturalmente, diria eu.
Um camarada, por ironia do destino impedido na Messe dos Oficiais, quando se dirigia para um abrigo para entrar de reforço, caiu abaixo do Unimog, sendo considerado morto por acidente.
Acho que não haveria muita batota, existiriam por vezes situações dúbias que cada um classificava como queria. Os afogados, por exemplo, mesmo a fugir do IN, eram mortos em combate ou por acidente?
Veja-se mais este caso, infeliz, já aqui abordado no blogue:
7 de agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2035: Alf Mil Guido Brazão, da CCAV 2748/BCAV 2922, morto em acidente com arma de fogo, Canquelifá, 22/10/70 (José M. Martins)
(...) 8º VOLUME – Mortos em Campanha
Tomo II
Guiné – Livro 1
1ª Edição (2001) Página 553 (2º registo)
Nome - Guido Ponte Brazão da Silva
Posto - Alferes Miliciano de Cavalaria – Operações Especiais
Numero - 19769668
Unidade - Companhia de Cavalaria n.º 2748
Unidade Mobilizadora - Regimento de Cavalaria n.º 3 – Estremoz
Estado Civil - Solteiro
(...) Freguesia - São Vicente
Concelho São Vicente – Madeira
Local de Operações - Camamelifén [, deve ser gralha: Canquelifá]
Data do Falecimento - 22 de Outubro de 1970, em Canquelifá
Causas da morte - Acidente, com arma de fogo
Local da sepultura - Cemitério da Ajuda – Lisboa
7 de agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2035: Alf Mil Guido Brazão, da CCAV 2748/BCAV 2922, morto em acidente com arma de fogo, Canquelifá, 22/10/70 (José M. Martins)
(...) 8º VOLUME – Mortos em Campanha
Tomo II
Guiné – Livro 1
1ª Edição (2001) Página 553 (2º registo)
Nome - Guido Ponte Brazão da Silva
Posto - Alferes Miliciano de Cavalaria – Operações Especiais
Numero - 19769668
Unidade - Companhia de Cavalaria n.º 2748
Unidade Mobilizadora - Regimento de Cavalaria n.º 3 – Estremoz
Estado Civil - Solteiro
(...) Freguesia - São Vicente
Concelho São Vicente – Madeira
Local de Operações - Camamelifén [, deve ser gralha: Canquelifá]
Data do Falecimento - 22 de Outubro de 1970, em Canquelifá
Causas da morte - Acidente, com arma de fogo
Local da sepultura - Cemitério da Ajuda – Lisboa
Observações: Accionamento de granada – armadilha IN
E os suicídios, Luís?
Tive um no meu Pelotão, mas desconheço como foi classificado...
Abraço.
J.Cabral
J.Cabral
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Nota do editor:
Último poste da série > 18 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15378: Inquérito 'on line' (18): Fazia-se 'batota' com as nossas baixas ? (i) "O embaratecer da guerra levava a que se tentasse reduzir o dispêndio com o pagamento de pensões" (António J. Pereira da Costa); (ii) "Teria de haver sempre duas testemunhas que confirmassem os factos ocorridos e cujas declarações tinham de ser devidamente ajuramentadas" (Abílio Magro)
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Guiné 63/74 - P15382: Efemérides (203): Inauguração de um Memorial de Homenagem aos Combatentes por Portugal na Guerra do Ultramar, levada a efeito na Freguesia de Candelária, Ilha do Pico, Açores, no passado dia 11 de Outubro (José da Câmara)
Candelária - Pico - Açores - Memorial aos Combatentes de Portugal na Guerra do Ultramar
1. Alertados pelo nosso camarada José da Câmara (ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73), que nos enviou a respectiva ligação, aqui reproduzimos, com a devida vénia à Liga dos Combatentes e ao seu Núcleo do Pico, a reportagem da cerimónia de inauguração de um Memorial de Homenagem aos Combatentes por Portugal na Guerra do Ultramar, levada a efeito na Freguesia de Candelária, no passado dia 11 de Outubro.
No dia 11 do corrente mês de Outubro, o Núcleo da Ilha do Pico, com o apoio dos Combatentes da freguesia da Candelária, levou a efeito uma vez mais o Dia do Combatente do Pico, na citada freguesia da Candelária. Com o apoio do Presidente de Junta daquela Freguesia, ergueu-se um memorial em homenagem aos Combatentes por Portugal na Guerra do Ultramar, realçando o nome do Combatente daquela freguesia que tombou ao serviço da pátria no teatro de guerra da Guiné.
A comemoração iniciou-se pelas 11horas com uma Missa em Sufrágio de todos aqueles que perderam a vida ao serviço da Pátria e dos Combatentes regressados, mas já falecidos.
Terminada a missa, houve a cerimónia de inauguração do memorial, tendo a mesma tido a participação de uma Guarda de Honra, por militares da GNR, tendo os toques regulamentares sido executados por trompetes da Banda Filarmónica Lira de São Mateus, que no inicio da cerimónia prestou homenagem à Bandeira Nacional, tocando o Hino Nacional e a Guarda apresentado arma, na forma regulamentar.
Feito o descerramento da lápide do memorial, usaram da palavra a Presidente do Núcleo da Ilha do Pico da Liga dos Combatentes, o representante do senhor Presidente da Direção Central da Liga, deslocado ao Pico para o efeito e o Presidente da Freguesia da Candelária.
Estiveram presentes na cerimónia para além de várias centenas de populares e Combatentes, diversas autoridades civis e militares, salientando-se, os representantes do Comandante do Comando Operacional dos Açores, do Comandante da Zona Militar e Zona Marítima dos Açores, do Comandante Regional dos Açores da GNR e também um representante do senhor Presidente do Governo Regional dos Açores.
Terminadas as cerimónias houve um almoço de convívio, no qual participaram 440 convivas incluindo as autoridades convidadas.
O discurso do Presidente do Núcleo, foi o seguinte:
Excelentíssimo Senhor Diretor Regional do Ambiente em Representação de sua Excelência o Senhor Presidente do Governo Regional dos Açores.
Senhor Presidente da Freguesia da Candelária
Senhor Representante do Senhor Presidente da Direção Central da Liga dos Combatentes;
Senhor representante do Senhor Comandante do Comando Operacional dos Açores.
Senhor representante do Senhor Comandante da zona Marítima dos Açores.
Senhor representante do Senhor Comandante da Zona Militar dos Açores.
Senhor representante do Senhor Comandante Regional da GNR.
Quero agradecer o facto de os comandos aqui invocados, bem como a Direção Central da Liga dos Combatentes, vos ter feito deslocar hoje aqui para participarem neste dia maior dos Combatentes do Pico.
Excelentíssimas demais autoridades militares e civis,
Minhas senhoras e meus senhores!
Combatentes...
Há 27 anos por iniciativa de um pequeno grupo de combatentes efetuava-se o primeiro convívio dos Combatentes do Pico. Convívio que de ano para ano foi crescendo e aumentando o número de participantes, envolvendo familiares, autoridades locais e regionais, de tal modo que hoje é o maior convívio de Combatentes dos Açores e, atrever-me-ia a dizer mesmo do país.
Hoje aqui nesta freguesia da Candelária, no dia que passámos a denominar Dia do Combatente do Pico, estamos inaugurando mais um marco em que se pretende perpetuar a memória dos Combatentes por Portugal, deixando marcado na pedra os nomes daqueles que desta freguesia um dia partiram para servir a Pátria em terras do então ultramar português, tendo somente um deles lá perdido a vida.
Nós que um dia, entre os anos de 1961 e 1974 partimos com destino à guerra e regressámos estamos hoje aqui também para celebrar a amizade e a camaradagem que então se criou em horas, muitas vezes de grande risco.
Comemoramos a vida mas nunca esquecemos aqueles nossos camaradas que como nós um dia partiram e não lograram regressar com vida. Já que perderam a sua ao serviço da Pátria.
Hoje convivemos, mas não esquecemos tantos problemas que a guerra acarretou para as vidas de tantos. Problemas relacionados com a saúde, problemas de ordem psicológica e problemas de ordem familiar.
Passados que foram tantos anos não deixámos de estar marcados;
Marcados muitas vezes pela falta de compreensão daqueles que nos rodeiam, mas também muitas vezes originando sofrimento para os mesmos;
Marcados pelo estigma da guerra. Cujas marcas mais ou menos profundas jamais se apagarão.
Todos nós que sofremos na carne os erros políticos de então, hoje continuamos a padecer dos mesmos, já que os nossos governantes pouco têm feito para minimizar o sofrimento e a injustiça de que muitos Combatentes padecem, por não lhes ser reconhecido que os males de que hoje padecem foram motivados pelo facto de terem participado na guerra.
Cumprimos o nosso dever ao serviço dos considerados interesses vitais do país pelos responsáveis políticos de então. Não seria pois mais que justo o reconhecimento hoje dos sacrifícios então suportados!
Tem sido a Liga dos Combatentes a organizar-se onde tem sido possível para permitir aos Combatentes e às suas famílias um fim de vida mais condigno!
O Núcleo do Pico da Liga dos Combatentes também quer fazer parte dessa rede que se vai montando pelo país fora, através da qual são prestados serviços de apoio médico-psicológico e outros, mas como primeira passo, tem de ter um local onde o possa fazer, o que até ao momento, embora tenham sido feitos vários esforços ainda não se conseguiu. Dentro em breve pensamos que teremos esse local tanto desejado. Já vemos a luz, diria que a meio do túnel!
Para que possamos conseguir este objetivo, precisamos do apoio de todos e esse apoio traduz-se em fazerem-se sócios da Liga dos Combatentes, aqueles que ainda o não são. O pagamento de uma quota de um euro e meio por mês pensamos que não é muito., mas faz toda a diferença. O núcleo não sobrevive sem essa vossa ajuda.
Se formos unidos, poderemos alcançar objetivos que de outra forma serão inatingíveis.
Vivam os Combatentes do Pico.
Vivam todos os Combatentes.
Viva Portugal.
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Nota do editor
Último poste da série de 13 de outubro de 2015 Guiné 63/74 - P15247: Efemérides (202): Em cerimónia levada a efeito no passado domingo, em Fânzeres, Gondomar instituiu o dia 11 de Outubro como Dia Municipal do Combatente, coincidente com o dia 11 de Outubro de 1961, quando faleceu em campanha, em Angola, o primeiro gondomarense (Carlos Silva)
Guiné 63/74 - P15381: Blogues da nossa blogosfera (71): BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Buba e Nhala, 1973/74)... O próximo encontro do pessoal é em Ponte de Lima, 11 de junho de 2016. Tem 25 mil visualizações de página. Editores: Jaime Ramos e Adalberto Costa Silva, ex-furriéis mil, 3ª companhia
O BCAÇ 4513 tem igualmente uma página no Facebook, mais dinâmica. Julgo que seja mantida pelo Jaime Ramos (que vive em Avintes, Vila Nova de Gaia). Não há nenhuma referência ao nosso blogue (Luís Graça & Camaradas da Guiné) nem à nossa página do Facebook (Tabanca Grande Luís Graça).
1. O blogue do BCAÇ 4513 foi criado no final de 2010. Tem já mais de 25 mil visitas (ou visualizações de página). Traz a lista mominal de todo o pessoal do batalhão (nome completo, posto, e subunidade).
É sobretudo um blogue orientado para os encontros do pessoal. O 1º foi na Mealhada, em 2009. O próximo, o 8º encontro (2016), está marcado para Ponte de Lima, 11 de junho de 2016. Contactos: Marino Costa (telem 932 917 056) e Avelino Brito (telem 961 442 380).
Tem algumas fotos do tempo da comissão no TO da Guiné, a maior parte sem legenda nem referência ao autor. Tomámos a liberdade de selecionar, editar e reproduzir, com a devida vénia, as seguintes (que numerámos de 1 a 5). Lembramos os nossos leitores da importância de identificar a autoria e a proveniência das fotos. Os créditos fotográficos têm de ser acautelados...
Pomos o nosso blogue à disposição do Jaime Ramos, do Adalberto Costa Silva e demais camaradas não para a divulgação de eventos que interessam ao pessoal do batalhão, comio para a partilha de memórias comuns. Como gostamos de dizer, na nossa Tabanca Grande cabemos todos com tudo aquilo nos une e até com aquilo que nos pode separar... Parabéns pelo vosso trabalho. (LG)
Foto nº 1 > Foto s/ legenda nem autor > Julgamos que a foto documenta os trabalhos da estrada Aldeia Formosa-Buba (1973774)
Foto nº 2 > Foto s/ legenda nem autor > Um grupo de combate possivelmente em Aldeia Formosa
Foto nº 3 > Vista aérea de Aldeia Formosa, janeiro de 1973 Foto de JMV [, José da Mota Vieira, fur mil da 3ª C/BCAÇ 4513]; originalmente publicada, juntamente com mais outras 10 fotos de Aldeia Formosa, do mesmo autor, no portal Prof2000, que tem uma excelente galeria de fotos de antigos combatentes; o Prof2000 "é um projecto com serviços de suporte a formação de professores a distância e de apoio às TIC nas escolas", tendo como público-alvo "Escolas, Centros de Formação, Centros Novas Oportunidades, professores, projectos de escola e comunidade educativa em geral".
Foto nº 4 > O Vicente e o José Mota Vieira, 1973. Foto do JMV. Cortesia do autor e do portal Prof2000. O Vicente deve ser o Manuel Gomes Vicente, também fur mil da 3ª companhia.
Foto nº 5 > Vista panorâmica de Nhala > Sem data nem referência ao autor
2. Informação dos editores:
Camaradas do BCAÇ 4513 que nos honram com a sua presença, sob a o poilão da na Tabanca Grande, pedindo desde desculpa se, por lapso, omitimos o nome de mais alguém:
(i) António Manuel Murta Cavaleiro, ex-alf mil inf MA, 2ª C/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74) (desde 12/11/2014)
(ii) José Carlos Ramos dos Santos Gabriel, ex-1.º cabo op cripto, 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Nhala, 1973/74) (desde16/8/2011)
(iii) Fernando Silva da Costa, ex-fur mil trms, CCS/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, 1973/74) (desde 25/10/2009)
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Nota do editor:
Último poste da série > 2 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15314: Blogues da nossa blogosfera (70): Um sítio que merece uma (re)visita: "Entre Fogo Cruzado", do nosso camarada Henrique Cabral, ex-fur mil at inf, CCAÇ 1420/BCAÇ 1857, Fulacunda, Mansoa, Braia, Encheia, Uaque, Jugudul, Bissorã, K10, Olossato, Cutia, K3 e Mansabál (1965/67)
Guiné 63/74 - P15380: Os nossos seres, saberes e lazeres (128): Entre Antuérpia e as Ardenas, e algo mais (7) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Outubro de 2015:
Queridos amigos,
O local para onde fui tem um nome pomposo, a Lorena de Gaume, e para que o viajante perceba que está perto de tudo é indicado que estamos a 192 quilómetros de Bruxelas, 64 da cidade do Luxemburgo e 88 de Metz. Paris fica a 300. A verdade é que a região tem muito encantos e quem escolheu por mim escolheu muito bem, Orval e Montmédy. É uma região porosa entre a França e a Bélgica, andam-se 5 quilómetros e passamos da Bélgica para a França. As Ardenas estão por toda a parte.
Amanhã passaremos por Bastogne, ali lutou-se encarniçadamente na última batalha que aconteceu na Frente Ocidental, durante a II Guerra Mundial. Orval ajuda a pensar a monstruosidade da destruição por um qualquer pretexto revolucionário. Já vi estas destruições em muitos pontos de Inglaterra, de onde desapareceram esculturas magníficas e incendiaram-se abadias, igrejas, conventos.
Amanhã, no meio de planícies imensas, desobedecendo a todas as regras da construção dos grandes monumentos religiosos, vou visitar, intrigado e fascinado, a Basílica de Avioth.
Eu depois conto-vos.
Um abraço do
Mário
Entre Antuérpia e as Ardenas, e algo mais (7)
Beja Santos
À descoberta de Orval
A aldeia onde ficamos chama-se Gérouville, olha-se ao fundo e temos a Lorena francesa, amanhã vamos visitar a primeira localidade que é o ex-libris da região, a Abadia de Orval, até agora, para mim, Orval é o nome de uma bela cerveja fabricada em mosteiros, bem alcoólica por sinal, um gosto de lúpulo incomparável.
O anfitrião fez questão de me mostrar onde nasceu, a escola primária que frequentou, a casa dos avós, e por aí adiante. Gostei da fachada da casa onde ele viveu e de onde partiu para o seminário e mais tarde se fez padre operário. E acho a calçada muito bonita, quando anos terá aquele empedrado?
De Gérouville a Orval são escassos quilómetros, estamos nas Ardenas profundas, a floresta emerge a qualquer momento. Os belgas têm legitimidade em se orgulhar da Abadia de Nossa Senhora de Orval, por aqui andaram os Francos, vieram depois os beneditinos italianos que se instalaram em 1070 e construíram a primeira, a Abadia irá desenvolver-se no tempo de S. Bernardo, em pleno século XII. A velha Abadia não escapou à sanha das tropas revolucionárias que a reduziram a cacos em 1793. Em 1926, os monges trapistas decidiram eleger uma nova Abadia, que é hoje uma casa de meditação, aqui habitam os frades que fazem a cerveja, o queijo e outras iguarias. A visita começa exatamente na nova Abadia de Orval, fixei estas imagens. Depois vimos um filme sobre a longa história de uma abadia que era um referencial da cristandade, uma das jóias da Ordem de Cister. A Abadia conheceu incêndios, que esteve na encruzilhada de guerras até que a Revolução Francesa a prostrou definitivamente. E agora vamos visitar as ruínas dessa abadia beneditina.
Andei por aí a disparar a esmo, selecionei alguma das imagens que vos pode dar conta do que terá sido o esplendor desta arquitetura cisterciense.
Orval tem museu, gostei muito deste contraste entre uma escultura onde pesam os muitos anos e uma fotografia que incita à contemplação, como se o Filho de Deus nos convidasse a meditar e a rezar diante da imagem. Cá fora, em grande despedida uma árvore milenária parece estender braços ao viajante.
A visita ainda não acabou, os cistercienses rezam e trabalham, há que visitar os museus que espelham a sua ciência, a sua devoção.
O dia de viagem ainda não acabou. Depois de umas iguarias, reservam-me algumas surpresas para visitarmos a região que se chama o país da Gaume, há por aqui muito pitoresco, campos lindíssimos, ruínas de castelos, riachos formosos e daqui fomos até ao país de Montmédy.
Atenção, estive em Montmédy, a Basílica que vem abaixo à esquerda é visita especial que faremos amanhã de manhã, chama-se Basílica de Avioth, a chamada Basílica dos Campos, será chave de ouro desta visita em que estamos permanentemente a sair da Bélgica a entrar em França e a regressar à Bélgica, não é surpresa, a Bélgica é um país de formação artificial, esta talhada por onde andamos é bem homogénea, é uma atmosfera francesa, é preciso fazer umas centenas de quilómetros e entrarmos em terras flamengas para perceber que é muito difícil misturar água com azeite… E vamos à última visita do dia, confesso que andei por ali emudecido, é talvez a costela de antigo combatente. Vamos a ver.
A localidade chama-se Belle Fontaine, algo de bizarro aconteceu aqui durante todo o dia, em 22 de Agosto de 1914, mal a guerra tinha começado. Dois contingentes de franceses e alemães confrontaram-se, houve uma pequena carnificina, os franceses consideraram-se vitoriosos. Foi euforia de pouca dura, ali muito perto, um importante exército colonial francês foi praticamente trucidado. Os franceses recuavam, os alemães pareciam vitoriosos, e, tempos depois, todos patinhavam nas trincheiras e de vez em quando matavam-se às centenas de milhar. Comoveu-me a disposição do cemitério, tendo como envolvente um bosque silencioso, os mortos de ambos os lados ali estão a testemunhar o absurdo daquele dia, daquela guerra, a mostrar-nos a vanidade das cobiças, as ramificações do poder guloso. E amanhã as minhas férias vão acabar em beleza, depois da Basílica de Avioth nada me parece valer a pena.
(Continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 11 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15352: Os nossos seres, saberes e lazeres (127): Entre Antuérpia e as Ardenas, e algo mais (6) (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
O local para onde fui tem um nome pomposo, a Lorena de Gaume, e para que o viajante perceba que está perto de tudo é indicado que estamos a 192 quilómetros de Bruxelas, 64 da cidade do Luxemburgo e 88 de Metz. Paris fica a 300. A verdade é que a região tem muito encantos e quem escolheu por mim escolheu muito bem, Orval e Montmédy. É uma região porosa entre a França e a Bélgica, andam-se 5 quilómetros e passamos da Bélgica para a França. As Ardenas estão por toda a parte.
Amanhã passaremos por Bastogne, ali lutou-se encarniçadamente na última batalha que aconteceu na Frente Ocidental, durante a II Guerra Mundial. Orval ajuda a pensar a monstruosidade da destruição por um qualquer pretexto revolucionário. Já vi estas destruições em muitos pontos de Inglaterra, de onde desapareceram esculturas magníficas e incendiaram-se abadias, igrejas, conventos.
Amanhã, no meio de planícies imensas, desobedecendo a todas as regras da construção dos grandes monumentos religiosos, vou visitar, intrigado e fascinado, a Basílica de Avioth.
Eu depois conto-vos.
Um abraço do
Mário
Entre Antuérpia e as Ardenas, e algo mais (7)
Beja Santos
À descoberta de Orval
A aldeia onde ficamos chama-se Gérouville, olha-se ao fundo e temos a Lorena francesa, amanhã vamos visitar a primeira localidade que é o ex-libris da região, a Abadia de Orval, até agora, para mim, Orval é o nome de uma bela cerveja fabricada em mosteiros, bem alcoólica por sinal, um gosto de lúpulo incomparável.
O anfitrião fez questão de me mostrar onde nasceu, a escola primária que frequentou, a casa dos avós, e por aí adiante. Gostei da fachada da casa onde ele viveu e de onde partiu para o seminário e mais tarde se fez padre operário. E acho a calçada muito bonita, quando anos terá aquele empedrado?
De Gérouville a Orval são escassos quilómetros, estamos nas Ardenas profundas, a floresta emerge a qualquer momento. Os belgas têm legitimidade em se orgulhar da Abadia de Nossa Senhora de Orval, por aqui andaram os Francos, vieram depois os beneditinos italianos que se instalaram em 1070 e construíram a primeira, a Abadia irá desenvolver-se no tempo de S. Bernardo, em pleno século XII. A velha Abadia não escapou à sanha das tropas revolucionárias que a reduziram a cacos em 1793. Em 1926, os monges trapistas decidiram eleger uma nova Abadia, que é hoje uma casa de meditação, aqui habitam os frades que fazem a cerveja, o queijo e outras iguarias. A visita começa exatamente na nova Abadia de Orval, fixei estas imagens. Depois vimos um filme sobre a longa história de uma abadia que era um referencial da cristandade, uma das jóias da Ordem de Cister. A Abadia conheceu incêndios, que esteve na encruzilhada de guerras até que a Revolução Francesa a prostrou definitivamente. E agora vamos visitar as ruínas dessa abadia beneditina.
Andei por aí a disparar a esmo, selecionei alguma das imagens que vos pode dar conta do que terá sido o esplendor desta arquitetura cisterciense.
Orval tem museu, gostei muito deste contraste entre uma escultura onde pesam os muitos anos e uma fotografia que incita à contemplação, como se o Filho de Deus nos convidasse a meditar e a rezar diante da imagem. Cá fora, em grande despedida uma árvore milenária parece estender braços ao viajante.
A visita ainda não acabou, os cistercienses rezam e trabalham, há que visitar os museus que espelham a sua ciência, a sua devoção.
O dia de viagem ainda não acabou. Depois de umas iguarias, reservam-me algumas surpresas para visitarmos a região que se chama o país da Gaume, há por aqui muito pitoresco, campos lindíssimos, ruínas de castelos, riachos formosos e daqui fomos até ao país de Montmédy.
Atenção, estive em Montmédy, a Basílica que vem abaixo à esquerda é visita especial que faremos amanhã de manhã, chama-se Basílica de Avioth, a chamada Basílica dos Campos, será chave de ouro desta visita em que estamos permanentemente a sair da Bélgica a entrar em França e a regressar à Bélgica, não é surpresa, a Bélgica é um país de formação artificial, esta talhada por onde andamos é bem homogénea, é uma atmosfera francesa, é preciso fazer umas centenas de quilómetros e entrarmos em terras flamengas para perceber que é muito difícil misturar água com azeite… E vamos à última visita do dia, confesso que andei por ali emudecido, é talvez a costela de antigo combatente. Vamos a ver.
A localidade chama-se Belle Fontaine, algo de bizarro aconteceu aqui durante todo o dia, em 22 de Agosto de 1914, mal a guerra tinha começado. Dois contingentes de franceses e alemães confrontaram-se, houve uma pequena carnificina, os franceses consideraram-se vitoriosos. Foi euforia de pouca dura, ali muito perto, um importante exército colonial francês foi praticamente trucidado. Os franceses recuavam, os alemães pareciam vitoriosos, e, tempos depois, todos patinhavam nas trincheiras e de vez em quando matavam-se às centenas de milhar. Comoveu-me a disposição do cemitério, tendo como envolvente um bosque silencioso, os mortos de ambos os lados ali estão a testemunhar o absurdo daquele dia, daquela guerra, a mostrar-nos a vanidade das cobiças, as ramificações do poder guloso. E amanhã as minhas férias vão acabar em beleza, depois da Basílica de Avioth nada me parece valer a pena.
(Continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 11 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15352: Os nossos seres, saberes e lazeres (127): Entre Antuérpia e as Ardenas, e algo mais (6) (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P15379: Lembrete (14): Lançamento do livro "O Fedelho Exuberante", da autoria do Mário Beja Santos, dia 18 de Novembro, pelas 18 horas, no Auditório do Museu da Farmácia, Rua Marechal Saldanha, n.º 1, ao Calhariz, em Lisboa
C O N V I T E
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Novembro de 2015:
Queridos amigos,
No próximo dia 18, quarta-feira, pelas 18 horas, no auditório do Museu da Farmácia, Rua Marechal Saldanha n.º 1, ao Calhariz, em rua paralela ao elevador da Bica, terá lugar o lançamento do meu livro “O Fedelho Exuberante”.
Quem puder chegar às 17 horas, terá uma visita guiada gratuita conduzida pelo diretor do museu, Dr. João Neto.
Terei a maior das satisfações em contar com a vossa companhia e conversar convosco sobre esta crónica familiar e de costumes de um período a que a historiografia designa por Anos de Chumbo.
Um agradecimento antecipado e o abraço do
Mário
Capa do livro "O Fedelho Exuberante"
Clicar na imagem para facilitar a leitura
____________Nota do editor
Último poste da série de 16 de setembro de 2015 Guiné 63/74 - P15119: Lembrete (13): A apresentação do livro "Cabra-cega: do seminário para a guerra colonial", da autoria de João Gaspar Carrasqueira (pseudónimo do nosso camarada A. Marques Lopes): amanhã, 5ª feira, dia 17, pelas 15h00, na Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA), av Padre Cruz, Lisboa
Guiné 63/74 - P15378: Inquérito 'on line' (18): Fazia-se 'batota' com as nossas baixas ? (i) "O embaratecer da guerra levava a que se tentasse reduzir o dispêndio com o pagamento de pensões" (António J. Pereira da Costa); (ii) "Teria de haver sempre duas testemunhas que confirmassem os factos ocorridos e cujas declarações tinham de ser devidamente ajuramentadas" (Abílio Magro)
1. Dois comentário de António J. Pereira da Costa sobre o tema objeto, esta semana, de inquérito de opinião no nosso blogue ["Fazia-se batota com as causas das nossas baixas (combate, acidentem, doença")]
Quanto à legislação, confesso que nunca a vi, mas acredito que existisse e que fosse com base nela que os advogados da CSJD (Alferes Milicianos) proferiam os seus pareceres que, depois, eram confirmados pelo Chefe (Ten Cor Manuel de Moura) e, seguidamente, despachados pelo Comandante Militar /Brigº Alberto da Silva Banazol).
Teria de haver sempre duas testemunhas que confirmassem os factos ocorridos e cujas declarações tinham de ser devidamente ajuramentadas, isto é: tinham de declarar que juravam por Deus (ou pela sua honra, se não fossem católicos) serem verdadeiras todas as declarações efectuadas (burocracias...)
(...) Era uma vez um granada instantânea com fio de tropeçar
O aquartelamento do Xitole estava bem minado em seu redor. Do lado da pista de aviação, tinha eu mesmo montado um poderoso fornilho às ordens do capitão. Esse fornilho era comandado do abrigo dos furriéis (vd. foto onde estou eu sentado em cima de um bidão). De resto todo o terreno à volta estava semeado de minas A/P m/966 (,,,).
Para a protecção total e permanente do aquartelamento no Xitole só faltava um ponto por armadilhar: a estrada Bambadinca - Xitole - Saltinho... Os ex-combatentes da CCAÇ 12 conheciam-na bem e sabiam onde era a casa de Jamil Nasser, um comerciante libanês que vivia no Xitole (,,,). Pois era exactamente ali, naquela rampazinha que dava acesso ao aquartelamento.
Resolveu-se então que todas as noites essa entrada do quartel fosse armadilhada... Essa operação era sempre feita ao cair do dia. O material era simples: uma granada instantânea e arame de tropeçar, do mesmo tipo daquela granada que um dia matou o macaco.... Lembram-se dessa estória que eu aqui já contei (...)
E lá foi naquele dia o Quaresma, sempre ele, que já tratava por tu essa maldita granada. E como gostava dela, o furriel miliciano Quaresma!
Mais um dia, e novamente o armadilhamento da entrada. Dessa vez ele até foi contrariado, estava a preparar uma galinha para churrasco, lerpou, não comeu…
O quadro é simples: ouve-se um rebentamento, só um. O Quaresma é decapitado (,,,), o Leones fica cego e sem dedos… Ficámos todos em estado de choque:
-Não podia ser!!!
Mas foi: um parte para a eternidade, o outro é evacuado... O Quaresma desta vez tinha falhado, nunca mais armadilharia na vida (...).
[Cor art ref, ex-alf art na CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69; ex-cap art e cmdt das CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74]
(i) Sobre a manipulação dos números, quero afirmar que tal não se deve à acção ou omissão dos vivos que com os feridos ou mortos lidaram. O problema residia na concepção economicista da guerra e na "necessidade" de a gerir com números de merceeiro (hoje diríamos folha de excel).
Ainda recentemente encontrei no blog "A Bigorna" uma frase do Salazar que lhe é atribuída pelo embaixador Franco Nogueira:
25 de Agosto de 1965
Trabalho no Forte do Estoril com o chefe do governo. Conversámos e conversámos sobre o problema ultramarino e a nossa posição internacional. Sobre a luta em África, diz Salazar: «A verdade é que os nossos militares não se têm batido completamente bem, salvo excepções, é claro. Não. Talvez apenas o Schulz na Guiné. Aí tem havido muita pancada. Mas em Moçambique ainda não se meteram bem dentro do assunto. E em Angola andam muito de um lado para o outro, estão sempre a contar as tropas, mas não se atiram aonde o inimigo se encontra».
Sobre a situação política interna: «As oposições, está claro, fazem o jogo americano. É o dinheiro, são os whiskies americanos. Mas há pessoas isentas, de responsabilidade e até da situação, que também vão nas mesmas ideias. Dizem que tudo se resolveria se proferisse uma palavra, uma palavrinha mágica: a de que oportunamente encararíamos a independência de Angola e Moçambique. Se disséssemos isso, tudo se resolveria. Pois têm razão: tudo se resolveria, na verdade, por perda e abandono. Mas tenho receio, temos de caminhar mais depressa. Tenho medo que aqui se perca a paciência.
E temos que baratear a guerra, senão esgotamo-nos, e não aguentamos. E aqui dentro não se teria paciência».
Reparem na última frase.
Foi, portanto, estabelecido o conceito de morte em combate ou por acidente em serviço ou fora dele. A diferença não é clara, às vezes. Creio que as NEP da 1ª Rep/QG/CTIG ou as do COMCHEFE - PesLog devem ter estes conceitos discriminados.
O embaratecer da guerra levava a que se tentasse reduzir o dispêndio com o pagamento de pensões.
(ii) A "manipulação" quantitativa está fora de questão. Nem por doença (adquirida ou agravada em serviço) como foi o caso das hepatites que, a dada altura, obrigaram a criar um "pavilhão" no HM 241, nem por acidente, nem em combate.
O problema resulta da qualificação "em combate",
Há muitos casos de acidente puro, como sempre sucede.
A doença poderia ser devida a uma situação de campanha que a agravava ou que a iniciava. Seria um caso de doença em campanha, sendo que ninguém adoece devido ao combate.
Todavia persistem dúvidas como por exemplo os mortos/feridos a montar minas. Estavam a combater ou tiveram um acidente com arma de fogo?
Não me restam dúvidas de que um sapador morto/ferido com uma mina IN estava a combater, mas há quem queira considerar que teria havido "erro humano" na manipulação do engenho...
Já a contagem dos mortos/feridos sofridos pelo IN levanta dúvidas. Por isso, a dada altura ainda nos anos 60 só contavam os mortos que o IN deixava e por isso ele procurava lavá-los ou os feridos que se traziam ou evacuavamm conforme os casos.
As estimativas não passavam disso mesmo.
Nunca chegámos aos números que o IN apregoa(va) e que levavam a uma verdadeira carnificina.
Creio que o que está em causa e poderemos questionar é a relação dos ferimentos/mortes com o combate e campanha.
Creio que as NEP do QG/CTIG-1ª REP definiam explicitamente esta situação ao falarem de baixas devidas ou não devidas ao combate. Aí tudo passava para o relatante e para o que efectivamente tinha sucedido.
2. Comentário do Abílio Magro, ex-fur mil amanuense,
(i) Sobre a manipulação dos números, quero afirmar que tal não se deve à acção ou omissão dos vivos que com os feridos ou mortos lidaram. O problema residia na concepção economicista da guerra e na "necessidade" de a gerir com números de merceeiro (hoje diríamos folha de excel).
Ainda recentemente encontrei no blog "A Bigorna" uma frase do Salazar que lhe é atribuída pelo embaixador Franco Nogueira:
25 de Agosto de 1965
Trabalho no Forte do Estoril com o chefe do governo. Conversámos e conversámos sobre o problema ultramarino e a nossa posição internacional. Sobre a luta em África, diz Salazar: «A verdade é que os nossos militares não se têm batido completamente bem, salvo excepções, é claro. Não. Talvez apenas o Schulz na Guiné. Aí tem havido muita pancada. Mas em Moçambique ainda não se meteram bem dentro do assunto. E em Angola andam muito de um lado para o outro, estão sempre a contar as tropas, mas não se atiram aonde o inimigo se encontra».
Sobre a situação política interna: «As oposições, está claro, fazem o jogo americano. É o dinheiro, são os whiskies americanos. Mas há pessoas isentas, de responsabilidade e até da situação, que também vão nas mesmas ideias. Dizem que tudo se resolveria se proferisse uma palavra, uma palavrinha mágica: a de que oportunamente encararíamos a independência de Angola e Moçambique. Se disséssemos isso, tudo se resolveria. Pois têm razão: tudo se resolveria, na verdade, por perda e abandono. Mas tenho receio, temos de caminhar mais depressa. Tenho medo que aqui se perca a paciência.
E temos que baratear a guerra, senão esgotamo-nos, e não aguentamos. E aqui dentro não se teria paciência».
Reparem na última frase.
Foi, portanto, estabelecido o conceito de morte em combate ou por acidente em serviço ou fora dele. A diferença não é clara, às vezes. Creio que as NEP da 1ª Rep/QG/CTIG ou as do COMCHEFE - PesLog devem ter estes conceitos discriminados.
O embaratecer da guerra levava a que se tentasse reduzir o dispêndio com o pagamento de pensões.
Guiné > Zona Leste > Setor L1 (Bambadinca) > Xitole > CART 2716 (1970/72) > Da esquerda para a direita, os fur mil David Guimarães e Joaquim Manuel da Palma Quaresma, sapadores, junto ao abrigo de sargentos. Este último morreu por "acidente", em 20/10/1970. Todas as noites armadilhava a entrada para o quartel, junto à casa de Jamil Nasser, o comerciante libanês. (**)
Foto: © David J. Guimarães (2005). Todos os direitos reservados. ]Edição de LG].
O problema resulta da qualificação "em combate",
Há muitos casos de acidente puro, como sempre sucede.
A doença poderia ser devida a uma situação de campanha que a agravava ou que a iniciava. Seria um caso de doença em campanha, sendo que ninguém adoece devido ao combate.
Todavia persistem dúvidas como por exemplo os mortos/feridos a montar minas. Estavam a combater ou tiveram um acidente com arma de fogo?
Não me restam dúvidas de que um sapador morto/ferido com uma mina IN estava a combater, mas há quem queira considerar que teria havido "erro humano" na manipulação do engenho...
Já a contagem dos mortos/feridos sofridos pelo IN levanta dúvidas. Por isso, a dada altura ainda nos anos 60 só contavam os mortos que o IN deixava e por isso ele procurava lavá-los ou os feridos que se traziam ou evacuavamm conforme os casos.
As estimativas não passavam disso mesmo.
Nunca chegámos aos números que o IN apregoa(va) e que levavam a uma verdadeira carnificina.
Creio que o que está em causa e poderemos questionar é a relação dos ferimentos/mortes com o combate e campanha.
Creio que as NEP do QG/CTIG-1ª REP definiam explicitamente esta situação ao falarem de baixas devidas ou não devidas ao combate. Aí tudo passava para o relatante e para o que efectivamente tinha sucedido.
CSJD/QG/CTIG (Bissau, 1973/74):
Pelo que me recordo dos meus tempos [de furriel mil amanuense] da CSJD/QG/CTIG [Chefia do Serviço de Justiça e Disciplina do Quartel General do Comando Territorial Independente da Guiné], a caracterização das Doenças, Ferimentos e Mortes está correctamente descrita por um tal "Mendes", num comentário ao "post" do António Duarte.
Quanto à legislação, confesso que nunca a vi, mas acredito que existisse e que fosse com base nela que os advogados da CSJD (Alferes Milicianos) proferiam os seus pareceres que, depois, eram confirmados pelo Chefe (Ten Cor Manuel de Moura) e, seguidamente, despachados pelo Comandante Militar /Brigº Alberto da Silva Banazol).
Teria de haver sempre duas testemunhas que confirmassem os factos ocorridos e cujas declarações tinham de ser devidamente ajuramentadas, isto é: tinham de declarar que juravam por Deus (ou pela sua honra, se não fossem católicos) serem verdadeiras todas as declarações efectuadas (burocracias...)
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Nota do editor:
(*) Vd. poste de 17 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15375: Inquérito 'on line' (17): Um maioria relativa (n=13) admite que se fazia batota com as causas das nossas baixas (combate, acidente ou doença)... Num total de 25 respostas, há 10 que respondem não saber ou ter opinião... O prazo termina 5ª feira, 19, ao meio dia.
(**) Vd. poste de 18 de novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2278: Estórias do Xitole (David Guimarães, ex-fur mil, CART 2716, 1970/72) (1): A triste sorte do sapador Quaresma... morto por aquela maldita granada vermelha
O aquartelamento do Xitole estava bem minado em seu redor. Do lado da pista de aviação, tinha eu mesmo montado um poderoso fornilho às ordens do capitão. Esse fornilho era comandado do abrigo dos furriéis (vd. foto onde estou eu sentado em cima de um bidão). De resto todo o terreno à volta estava semeado de minas A/P m/966 (,,,).
Para a protecção total e permanente do aquartelamento no Xitole só faltava um ponto por armadilhar: a estrada Bambadinca - Xitole - Saltinho... Os ex-combatentes da CCAÇ 12 conheciam-na bem e sabiam onde era a casa de Jamil Nasser, um comerciante libanês que vivia no Xitole (,,,). Pois era exactamente ali, naquela rampazinha que dava acesso ao aquartelamento.
Resolveu-se então que todas as noites essa entrada do quartel fosse armadilhada... Essa operação era sempre feita ao cair do dia. O material era simples: uma granada instantânea e arame de tropeçar, do mesmo tipo daquela granada que um dia matou o macaco.... Lembram-se dessa estória que eu aqui já contei (...)
E lá foi naquele dia o Quaresma, sempre ele, que já tratava por tu essa maldita granada. E como gostava dela, o furriel miliciano Quaresma!
Mais um dia, e novamente o armadilhamento da entrada. Dessa vez ele até foi contrariado, estava a preparar uma galinha para churrasco, lerpou, não comeu…
O quadro é simples: ouve-se um rebentamento, só um. O Quaresma é decapitado (,,,), o Leones fica cego e sem dedos… Ficámos todos em estado de choque:
-Não podia ser!!!
Mas foi: um parte para a eternidade, o outro é evacuado... O Quaresma desta vez tinha falhado, nunca mais armadilharia na vida (...).
terça-feira, 17 de novembro de 2015
Guiné 63/74 - P15377: Agenda Cultural (437): "A Rua Suspensa dos Olhos", ternurenta coletânea de estórias e memórias, de Ábio de Lápara (pseudónimo literário de José A. Paradela): sessão de lançamento, domingo, dia 22, às 16h, na Biblioteca Municipal de Ílhavo
Conviet para o lançamento do livro. Vd. Facebook de Ábio de Lápara
"A Rua Suspena dos Olhos", de Ábio de Lápara (pseudónimo literário de José António Boia Paradela) Capa e ficha técnica.
Excerto do livro de estórias e memórias "A Rua Suspensa dos Olhos" (pp. 7-9), de Ábio de Lápara, com a devida vénia. O ivro poderá ser encomendado através do correio eletrónico de José Paradela. As receitas provenientes da venda dos seus livros têm fins de beneficência.
José A. Paradela. Foto de LG (2007) |
O José António Paradela é irmão de Tibério Paradela, que se estreou na escrita com o romance "Neste Mar é Sempre Inverno" (ed. autor, Aveiro, agosto de 2014, 262 pp.), e é grande amigo de infância de Valdemar Aveiro, o capitão Aveiro, um dos míticos capitães da pesca do bacalhau, de quem já aqui publicámos notas de leitura dos seus livros.
Todos os três são por sua vez conterrâneos e amigos do nosso camarada Jorge Picado. o único de resto que não andou na pesca do bacalhau. (Em contrapartida, fez um comssão na Guiné como cap mil, CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, na CART 2732, Mansabá e CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72).
Um simples olhar de relance pelo índice do livro, de 164 pp., permite advinhar quanto humanidade, ternura, inocência, traquinice, generosidade e poesia havia na rua suspensa dos olhos...Com a autorização do autor, iremos publicar aqui, no todo ou em parte, o relato da sua viagem de seis meses na safra do bacalhau, nas costas da Terra Nova e da Groenlândia, quando ainda adolescente, aos 16 anos, e dois anos depois de ter frequentado, com boas notas, a Escola Profissional de Pesca, em Pedrouços, Lisboa, é chamado para embarcar e fazer "A Viagem":...
"Corria [, então, ] o ano de 1954, longe ainda dos tempos da emigração maciça e da guerra colonial" (p. 92). Sim, porque filho de marinheiro ou de pescador, naqueles tempos que não favoreciam nem promoviam a mobilidade social, só podia ser marinheiro ou pescador... Contrariando o estino, perdemos se calhar um mau marinheiro e ganhámos um promissor escritor,um grande arquiteto, e ainda um melhor amigo...
2. Tenho pena de não poder estar no domingo na sessão do lançamento do livro do Zé António, em Ílhavo, mas reservo-me para a próxima sessão em Lisboa. Aí apresentarei, com todo o gosto, ao vivo, a minha "nota de leitura" desta ternurenta coletânea de estórias que são, ao fim e ao cabo, também as da infância de muitos de nós, sobretudo dos mais velhos, daqueles de nós que nasceram em meados dos anos 30, e fizeram-se homens na dureza das condições de vida e de trabalho das décadas de 1940 e 1950.
De resto, este não é o seu primeiro nem será o último. Se não erro, é o terceiro... E é bom recordar que o Zé António, como bom ilhavense, é, também ele, filho e neto de gente do mar, tendo passado, aos 16 anos, pela pesca do bacalhau, e feito a tal "viagem" que muitos dos seus antepassados fizeram ao longo de 13 séculos (!), desde talvez o séc. VII... Essa viagem foi também a sau tropa, a sua guerra da Guiné... Uma experiência, duríssima, de seis meses, que o marcou para sempre... Homem de múltiplos talentos, escreveu um primeiro livro, a pensar nos amigos, com o belíssimo título Uma Ilha no Nome: Crónica dos Dias Líquidos, que eu tive a honra e o prazer de prefaciar. (LG)
"A Rua suspensa dos olhos", de Ábio de Lápara (Aveiro, ed. de autor, 2015):
índice elaborado por LG
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Nota do editor:
Último poste da série > 15 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15369: Agenda cultural (436): 124.ª Tertúlia do Fim do Império, a levar a efeito no próximo dia 18 de Novembro de 2015, no Centro de Apoio Social - Oeiras (IASF), durante a qual serão apresentados dois livros e inaugurada uma exposição de fotografias sobre Timor (Manuel Barão da Cunha)
Guiné 63/74 - P15376: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (29): De 08 a 16 de Abril de 1974
1.
Em mensagem do dia 14 de Novembro de 2015, o nosso camarada António
Murta, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), enviou-nos a 29.ª página do seu Caderno de Memórias.
Da História da Unidade do BCAÇ 4513: O reconhecimento de Sua Excelência
ABR74/08 – (...) De Sua Excelência o General Governador e Comandante-Chefe, foi recebida uma mensagem, manifestando o seu apreço pelo esforço desenvolvido pelo pessoal empenhado na segurança e trabalhos das duas frentes de estrada A. FORMOSA-BUBA.
Das minhas memórias:
15 de Abril de 1974 – (segunda-feira) – A estrada. Sempre a estrada
Em carta para a Metrópole refiro a dado passo: “Neste momento estão, ao todo, 7 grupos de combate em Nhala. Três, para além dos da minha Companhia, devido às obras da estrada nova. As máquinas ficam no mato a cerca de 9km daqui e temos de pernoitar lá para as proteger. Ainda mais, junto a um corredor do PAIGC. Passam-se, assim, 26 horas fora do aquartelamento”.
Era mesmo assim. Depois do encontro das duas frentes de trabalho ocorrido no passado dia 7 e com as máquinas a operar cada vez mais longe, para além das picagens de manhã cedo e da protecção às obras ao longo do dia, ainda tínhamos que dormir no mato para proteger a maquinaria. Era necessário rodar os grupos de combate nestas rotinas. Daí o reforço da tropa em Nhala.
E como era dormir no mato, em campo aberto, quase em cima de um trilho do inimigo? E, já agora, como era a última refeição do dia em tais circunstâncias? Tentarei dar uma ideia a seguir. Antes, referir que a preparação, de véspera, para um dia tão longo, era feita com mil cuidados e muitas preocupações. A Engenharia construíra no local de pernoita um abrigo à superfície, apenas com terra, que parecia uma LDG com uma barreira de segurança que a dividia em duas. Era assim uma espécie de barca do inferno mas, para não associar o Gil Vicente a um empreendimento sem grandiosidade, chamar-lhe-ei “LDG” em terra.
Antes de escurecer instalávamo-nos na “LDG” e organizávamo-nos como num destacamento, de modo estratégico e com sentinelas toda a noite em rotação. Dada a proximidade da mata nas nossas costas, o que eu mais temia era um assalto. E nós éramos apenas um grupo de combate desfalcado. Instruía todos para essa eventualidade. Recordo bem que, a pensar nessa situação extrema, arranjei de véspera uma saca velha de farinha e nela carreguei seis ou sete granadas defensivas (um peso do caraças, para além das que sempre usei à cintura), e que foi a minha cabeceira no dia das fotografias que junto.
Da mata à nossa frente, muito para além da estrada, e onde por mais de uma vez foram vistos vultos em movimento na orla, o meu receio era a flagelação prolongada. Mas também essa hipótese foi acautelada com maior quantidade de granadas.
Outro receio fundamentado era que, de manhã, com a chegada dos novos grupos de combate e as viaturas que nos levariam de regresso, fôssemos atacados aproveitando a inevitável confusão e excesso de homens no terreno, como já ocorrera noutros locais. Mas nem de noite nem de manhã aconteceu nada. Também poderíamos ser emboscados na correria maluca de regresso a Nhala, duas ou três viaturas com um pelotão mal dormido, desacautelado de cuidados. Enfim, mesmo ao almoço não estávamos livres de nos engasgarmos e morrermos asfixiados com as salsichas da bianda...
Imagem de satélite do Google Earth (2013), com a devida vénia, onde realcei a branco a estrada de A. Formosa-Buba (1973-74). A linha que tracei do “carreiro” de Uane é aproximada e intercepta a estrada (círculo vermelho) a, mais ou menos, 9 km de Nhala. Do lado de Buba não recordo a localização dos carreiros. As imagens que se seguem referem-se a uma das dormidas no mato na zona do círculo vermelho.
Foto 1: Abril de 1974 – Local de concentração das máquinas da Engenharia após mais um dia de trabalho. É aqui que iremos passar a noite para a sua protecção. Em primeiro plano, parte do pessoal de um grupo de combate da CCAÇ 18, creio, que estiveram com o meu grupo na protecção às obras durante o dia, e que agora se preparam para regressar a A. Formosa, deixando-nos sós. Vê-se uma White dos nossos camaradas da Cavalaria que os vão acompanhar. Tirando este bocadinho de terreno com sombras, onde até se podia fazer um piquenique, tudo em redor é inóspito e desolador. Um cenário de matas e terras revolvidas, quase apocalíptico. Em contraponto, o humor do pessoal parecia desenquadrado, como se não estivessem ali para o que se sabia. E quando assim era, significava que nada de mal nos acontecia. E não aconteceu.
Foto 3: Todo o pessoal abandona o local e regressa a A. Formosa. Esta White teve um dia uma fraqueza de ânimo mesmo à minha frente, em Nhala. Mais tarde contarei o episódio.
Foto 4: O meu grupo de combate dispersa-se e toma a última refeição do dia, antes de se abrigar para passar a noite. Que virá rápida. De pé, da esquerda para a direita: Furriel Oliveira, Rui Pereira, Furriel Pastor e 1.º Cabo “Tarouca”. Sentados: Manuel Gomes, à esquerda, e o Baptista à direita. O do centro não recordo o nome.
Foto 6: Este é o Victor, andrajoso mas de grande carácter e bonomia. E safado. Foi preciso a película dos slides fazer o périplo Guiné-Metrópole-Espanha-Metrópole-Guiné, para eu perceber aquele riso sarcástico: tinha as calças rotas e uma exposição indecorosa. Na altura, com o cantinho de uma lâmina raspei do slide as indecências. Quer dizer, estraguei o slide.
Foto 7: O grande e eficiente bazuqueiro do grupo, “Mafra” (por ser de lá). Ao fundo vê-se o 1.º Cabo maqueiro, Custódio.
Foto 8: O Alferes António Murta a dar corda a uma lata de feijoada, creio. O que recordo bem é que no final do repasto comi duas ou três mangas apanhadas ali próximo (Samba Sabali?). Fora o conselho de alguém para que passasse a noite sem ter frio...
Foto 9: Rapazes do melhor que havia, e eram muitos no meu grupo. Da esquerda para a direita: José Gomes, “Mafra”, Victor e Osório (de costas). O Osório é de Coimbra e encontrei-o uma vez, para alegria de ambos. Pena que não tenha fotografado a totalidade do grupo, mas nem sei se tinha película para todos. Nem os custos eram como os de hoje.
Foto 10: O Sol ainda não espreita. Uns dormem, outros vigiam. Eu recomeço a fotografar. Esta imagem foi captada da barreira que divide em dois o grande abrigo: “LDG” em terra, lado do morteiro. E de Nhala.
Foto 11: Ainda do lado do morteiro, com o pessoal já despertar. A humidade nos ossos ficaria ainda por muito tempo.
Foto 12: O lado oposto da “LDG” com o “posto de comando” em primeiro plano, onde se vê o Furriel Oliveira a tomar o pequeno-almoço junto à minha cama. Na minha cabeceira é visível o cordão da saca das granadas defensivas. Felizmente, teria de carregar com elas de novo no regresso. Próximo, vê-se o “posto de rádio”, com o operador ainda a dormir. Lá para onde o nevoeiro ainda tudo cobre, a meia dúzia de quilómetros, fica Mampatá.
Foto 13: Em tempo de guerra também se limpam armas, e o Fur. Oliveira esmera-se. Está na hora de “desembarcar” e montar guarda às viaturas que entretanto chegarão para nos levarem de regresso a Nhala. Não tarda, a nossa tranquilidade vai ser perturbada pela chegada, sempre caótica, dos grupos que nos virão render em jornada igual. Mas a nossa alegria vai ser muita ao vê-los chegar. Por nós, está cumprida a missão.
(continua)
Texto e fotos: © António Murta
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Nota do editor
Poste anterior de 10 de novembro de 2015 Guiné 63/74 - P15348: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (28): De 01 a 7 de Abril de 1974
CADERNO DE MEMÓRIAS
A. MURTA – GUINÉ, 1973-74
29 - De 8 a 16 de Abril de 1974
Da História da Unidade do BCAÇ 4513: O reconhecimento de Sua Excelência
ABR74/08 – (...) De Sua Excelência o General Governador e Comandante-Chefe, foi recebida uma mensagem, manifestando o seu apreço pelo esforço desenvolvido pelo pessoal empenhado na segurança e trabalhos das duas frentes de estrada A. FORMOSA-BUBA.
Das minhas memórias:
15 de Abril de 1974 – (segunda-feira) – A estrada. Sempre a estrada
Em carta para a Metrópole refiro a dado passo: “Neste momento estão, ao todo, 7 grupos de combate em Nhala. Três, para além dos da minha Companhia, devido às obras da estrada nova. As máquinas ficam no mato a cerca de 9km daqui e temos de pernoitar lá para as proteger. Ainda mais, junto a um corredor do PAIGC. Passam-se, assim, 26 horas fora do aquartelamento”.
Era mesmo assim. Depois do encontro das duas frentes de trabalho ocorrido no passado dia 7 e com as máquinas a operar cada vez mais longe, para além das picagens de manhã cedo e da protecção às obras ao longo do dia, ainda tínhamos que dormir no mato para proteger a maquinaria. Era necessário rodar os grupos de combate nestas rotinas. Daí o reforço da tropa em Nhala.
E como era dormir no mato, em campo aberto, quase em cima de um trilho do inimigo? E, já agora, como era a última refeição do dia em tais circunstâncias? Tentarei dar uma ideia a seguir. Antes, referir que a preparação, de véspera, para um dia tão longo, era feita com mil cuidados e muitas preocupações. A Engenharia construíra no local de pernoita um abrigo à superfície, apenas com terra, que parecia uma LDG com uma barreira de segurança que a dividia em duas. Era assim uma espécie de barca do inferno mas, para não associar o Gil Vicente a um empreendimento sem grandiosidade, chamar-lhe-ei “LDG” em terra.
Antes de escurecer instalávamo-nos na “LDG” e organizávamo-nos como num destacamento, de modo estratégico e com sentinelas toda a noite em rotação. Dada a proximidade da mata nas nossas costas, o que eu mais temia era um assalto. E nós éramos apenas um grupo de combate desfalcado. Instruía todos para essa eventualidade. Recordo bem que, a pensar nessa situação extrema, arranjei de véspera uma saca velha de farinha e nela carreguei seis ou sete granadas defensivas (um peso do caraças, para além das que sempre usei à cintura), e que foi a minha cabeceira no dia das fotografias que junto.
Da mata à nossa frente, muito para além da estrada, e onde por mais de uma vez foram vistos vultos em movimento na orla, o meu receio era a flagelação prolongada. Mas também essa hipótese foi acautelada com maior quantidade de granadas.
Outro receio fundamentado era que, de manhã, com a chegada dos novos grupos de combate e as viaturas que nos levariam de regresso, fôssemos atacados aproveitando a inevitável confusão e excesso de homens no terreno, como já ocorrera noutros locais. Mas nem de noite nem de manhã aconteceu nada. Também poderíamos ser emboscados na correria maluca de regresso a Nhala, duas ou três viaturas com um pelotão mal dormido, desacautelado de cuidados. Enfim, mesmo ao almoço não estávamos livres de nos engasgarmos e morrermos asfixiados com as salsichas da bianda...
Imagem de satélite do Google Earth (2013), com a devida vénia, onde realcei a branco a estrada de A. Formosa-Buba (1973-74). A linha que tracei do “carreiro” de Uane é aproximada e intercepta a estrada (círculo vermelho) a, mais ou menos, 9 km de Nhala. Do lado de Buba não recordo a localização dos carreiros. As imagens que se seguem referem-se a uma das dormidas no mato na zona do círculo vermelho.
Foto 1: Abril de 1974 – Local de concentração das máquinas da Engenharia após mais um dia de trabalho. É aqui que iremos passar a noite para a sua protecção. Em primeiro plano, parte do pessoal de um grupo de combate da CCAÇ 18, creio, que estiveram com o meu grupo na protecção às obras durante o dia, e que agora se preparam para regressar a A. Formosa, deixando-nos sós. Vê-se uma White dos nossos camaradas da Cavalaria que os vão acompanhar. Tirando este bocadinho de terreno com sombras, onde até se podia fazer um piquenique, tudo em redor é inóspito e desolador. Um cenário de matas e terras revolvidas, quase apocalíptico. Em contraponto, o humor do pessoal parecia desenquadrado, como se não estivessem ali para o que se sabia. E quando assim era, significava que nada de mal nos acontecia. E não aconteceu.
Foto 2: Lamentavelmente desfocada, mas única, esta fotografia de mais alguns elementos do grupo de Cavalaria.
Foto 3: Todo o pessoal abandona o local e regressa a A. Formosa. Esta White teve um dia uma fraqueza de ânimo mesmo à minha frente, em Nhala. Mais tarde contarei o episódio.
Foto 4: O meu grupo de combate dispersa-se e toma a última refeição do dia, antes de se abrigar para passar a noite. Que virá rápida. De pé, da esquerda para a direita: Furriel Oliveira, Rui Pereira, Furriel Pastor e 1.º Cabo “Tarouca”. Sentados: Manuel Gomes, à esquerda, e o Baptista à direita. O do centro não recordo o nome.
Foto 5: O Furriel Oliveira faz a distribuição de água.
Foto 6: Este é o Victor, andrajoso mas de grande carácter e bonomia. E safado. Foi preciso a película dos slides fazer o périplo Guiné-Metrópole-Espanha-Metrópole-Guiné, para eu perceber aquele riso sarcástico: tinha as calças rotas e uma exposição indecorosa. Na altura, com o cantinho de uma lâmina raspei do slide as indecências. Quer dizer, estraguei o slide.
Foto 7: O grande e eficiente bazuqueiro do grupo, “Mafra” (por ser de lá). Ao fundo vê-se o 1.º Cabo maqueiro, Custódio.
Foto 8: O Alferes António Murta a dar corda a uma lata de feijoada, creio. O que recordo bem é que no final do repasto comi duas ou três mangas apanhadas ali próximo (Samba Sabali?). Fora o conselho de alguém para que passasse a noite sem ter frio...
Foto 9: Rapazes do melhor que havia, e eram muitos no meu grupo. Da esquerda para a direita: José Gomes, “Mafra”, Victor e Osório (de costas). O Osório é de Coimbra e encontrei-o uma vez, para alegria de ambos. Pena que não tenha fotografado a totalidade do grupo, mas nem sei se tinha película para todos. Nem os custos eram como os de hoje.
Foto 10: O Sol ainda não espreita. Uns dormem, outros vigiam. Eu recomeço a fotografar. Esta imagem foi captada da barreira que divide em dois o grande abrigo: “LDG” em terra, lado do morteiro. E de Nhala.
Foto 11: Ainda do lado do morteiro, com o pessoal já despertar. A humidade nos ossos ficaria ainda por muito tempo.
Foto 12: O lado oposto da “LDG” com o “posto de comando” em primeiro plano, onde se vê o Furriel Oliveira a tomar o pequeno-almoço junto à minha cama. Na minha cabeceira é visível o cordão da saca das granadas defensivas. Felizmente, teria de carregar com elas de novo no regresso. Próximo, vê-se o “posto de rádio”, com o operador ainda a dormir. Lá para onde o nevoeiro ainda tudo cobre, a meia dúzia de quilómetros, fica Mampatá.
Foto 13: Em tempo de guerra também se limpam armas, e o Fur. Oliveira esmera-se. Está na hora de “desembarcar” e montar guarda às viaturas que entretanto chegarão para nos levarem de regresso a Nhala. Não tarda, a nossa tranquilidade vai ser perturbada pela chegada, sempre caótica, dos grupos que nos virão render em jornada igual. Mas a nossa alegria vai ser muita ao vê-los chegar. Por nós, está cumprida a missão.
(continua)
Texto e fotos: © António Murta
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Nota do editor
Poste anterior de 10 de novembro de 2015 Guiné 63/74 - P15348: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (28): De 01 a 7 de Abril de 1974
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