quinta-feira, 28 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8614: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (20): Rezando pela chuva, lá, no tempo dela; imprecando contra o vento, estival, cá... (Luís Graça)





Guiné-Bissau > Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > Título da foto: Aí está a época das chuvas de 2011 > Data de Publicação: 10 de Julho de 2011 > Data da foto: 26 de Junho de 2011 > Palavras-chave: Segurança alimentar > Legenda:

"Já começou a época das chuvas na Guiné-Bissau com grandes tornados e ventos muito fortes, mas ainda com …pouca chuva, para os agricultores ficarem satisfeitos e iniciarem as suas lavouras e sementeiras.

"Este começo,  atrasado e muito irregular, tem levado a uma diminuição notória do ritmo da lavoura dos planaltos e encostas onde se produzem as culturas de sequeiro (milho, sorgo, milheto, arroz, mancarra, batata doce, mandioca e feijão), o que faz temer uma má colheita este ano. 

"Quanto às bolanhas salgadas, a situação é ainda mais grave, uma vez que é necessário chover muito e de forma concentrada, para diminuir a salinidade e acidez dos solos, pondo a salvo qualquer interrupção brusca do fim do ciclo das chuva".

Foto:  Cortesia de  © AD - Acção para o Desenvolvimento  (2011). Todos os direitos reservados.





1. Cada vez mais a expressão "segurança alimentar" faz sentido e nos põe em sentido... Como alimentar 9 mil  milhões de seres humanos, em 2050, com o planeta azul a "rebentar pelas costuras" ? 


Há muito a ONG AD - Acção para o Desenvolvimento tem um discurso e uma prática neste domínio, dando o exemplo ao Estado, à sociedade civil, ao povo e às elites da Guiné-Bissau... Através da série "foto da semana", no seu sítio institucional, e agora também no Facebook, a sua mensagem chega mais longe. 


Os agricultores guineenses, esses,  esperam a chuva, no tempo dela, como um milagre do céu. Nós, que queremos sol e praia, rogamos pragas ao vento... Para os antigos combatentes que conheceram a Guiné do tempo das chuvas abundantes e milagrosas - ainda não se falava em " mudanças climáticas" nem de avanço do Sara - esta foto tem uma forte carga simbólica, poética e emocional... 


Se é verdade que nem no tempo das chuvas as armas se calavam, também é certo que abrandava a actividade operacional, de um lado e do outro, por imperativo da natureza... As picadas transformavam-se em rios. As colunas logísticas, um inferno. As minas e armadilhas eram arrancadas do chão pela força das águas... As viaturas atascavam-se... Entretanto a savana arbustiva tornava-se uma imensa "seara de capim", verde que rapidamente cobria tudo, homens, animais, arbustos...


Quem não se lembra do tempo das chuvas ? E das medonhas trovoadas tropicais ? E das moranças queimadas por raios, com pessoas e gado calcinados ?... Quem não se lembra dos milhões de insectos, de todos os tamanhos e feitios, que nos "bombardeavam" o prato da sopa, ao jantar, logo que acabava a chuvada da tarde ? Quem é que não veio para a rua, feito criança, com as primeiras chuvadas, apanhar a molha monumental, da cabeça aos pés, um  ritual obrigatório naquelas paragens, para todos os viventes ? Quem, enfim, não estremece de emoção ao rever este  céu carregado, a prenunciar borrasca, algures na Guiné-Bissau de hoje, a "nossa terra verde e vermelha" de ontem  ? 


Entretanto, a guerra recomeçava, com outro vigor, e violência, no tempo seco... Em Dezembro, no leste, tiritava-se de frio, à noite, nos postos de sentinela ou nas emboscadas no mato,  quando as temperaturas baixavam até aos 15 graus...


2. Por outro lado, recebi há dias notícias do nosso amigo Pepito, anunciando a sua chegada à terra da sua mãe (Lisboa), dos seus filhos e da sua esposa Isabel, nestes termos sempre bem humorados e telegráficos, levemente irónicos: 


"Chegada à Metrópole de Graciosa: 16 de Julho de 2011. Amigos Alice e Luís: Estou em Lisboa. Vim tratar da vistoria do veículo de transporte... Vamo-nos encontrar. Abraço. Pepito".


Recorde-se que os funcionários públicos do Ultramar (se não todos, pelo menos algumas categorias, como professores, médicos, militares, etc.), ao fim de 4 anos de serviço, tinham direito a uma licença dita graciosa, cuja duração podia ir até aos seis meses, com viagens pagas no todo ou em parte pelo erário público... Continuavam a receber o seu vencimento, não sei se na totalidade ou em parte... 


Os pais do Pepito, ele jurista, ela professora no Liceu Honório Barreto, beneficiavam naturalmente deste "privilégio" do funcionalismo público ultramarino... Fixaram-se na Guiné em 1949, mas mantendo casa em Lisboa. O Pepito e os seus irmãos, enquanto crianças e adolescentes, devem ter acompanhado os pais, numa ou mais viagens à Metrópole, em gozo de licença graciosa... Enfim, deve ser esse o sentido (figurado) do título da mensagem...


Aproveito o ensejo para desejar ao Pepito, à Isabel e ao resto da família, incluindo a nossa Clara Schwarz, a decana da nossa Tabanca Grande, a caminho dos seus corajosos e maravilhosos 97 anos de vida, os mais ardentes votos de boa, prazenteira, descontraída, feliz e saudável estadia na Tabanca de São Martinho do Porto, com muito sol e a brisa q.b., que refresca a casa e faz cantar os pinheiros que a protegem, tornando ainda mais fantástica e poética a vista que se desfruta desse lugar mágico (uma das mais belas vistas do Portugal litoral, ao fim da tarde: de um lado, o Atlântico, as Berlengas; do outro, a baía de São Martinho do Porto)... 


Espero poder em breve ir lá dar-vos um abraço, a vocês e ao vizinho JERO, outro  apaixonado de São Martinho do Porto (e residente de verão)... Claro, eu, a Alice, se possível a Joana (entretanto, em viagem por Itália), e obviamente o João, se os Melech Mechaya deixarem, passe a publicidade  (...Nesta noite, ele está a tocar, com os Melech Mechaya, em Alcains, Castelo Branco; no dia 13, vai estar em grande, em Sagres, no Superbock Surf Fest, na praia do Tonel, a tocar para um público esperado de mais de 10 mil; e depois a 21 e 28, em Espanha...). Em suma, vamos ter que gerir muito bem, como acontece todos os anos em Agosto, as nossas "agendas sociais"... Brincadeira aparte,  aquele xicoração lusoguineense! Luís Graça

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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8480: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (19): Em louvor da Ajuda Amiga e do Carlos Fortunato, divulgador de tecnologias simples e amigas do ambiente



2 comentários:

Hélder Valério disse...

Caros camarigos

Sem dúvida que a foto é bastante explícita, pelo menos para nós, que conhecemos esse rápido escurecimento do céu, o vento forte e as bátegas de água como se fossem baldes a despejar sobre a nossa cabeça.

Pois claro que também eu experimentei o 'banho da chuva', para tirar a 'lica', dizia-se. E sabia bem, pois claro...

Espero que esta foto sirva para ilustrar melhor aos nossos familiares e amigos as 'imagens' de que muitas vezes falámos.

Quanto à necessidade imperiosa da água da chuva, para as colheitas, para as bolanhas, para a limpeza geral dos terrenos isso está bem vincado no texto.

Abraço
Hélder S.

Juvenal Amado disse...

Também tomei banhos de chuva. O pior era a terra que o vento levantava antes e que descia junto com dita.
Esta bela foto demonstra quanto pequenos somos perante a natureza e sua revolta.
Lamentavelmente a Guiné - Bissau está desertificar-se, mas como será que povo tão pobre não cometa crimes contra o meio ambiente?
Quando a fome aperta hoje, quem se preocupa com o dia de amanhã?
As autoridades da Guiné preocuparam-se com as suas guerras, onde nunca faltou dinheiro para armas e uniformes todos engalanados . Chego a pensar que são árvores de Natal tão cheios de brilhante estão.
Obrigar o povo a passar fome e respeitar o meio ambiente são duas coisas que não combinam.
O Pepito e a AD são barco que rema contra a maré.
No Leste no tempo do cacimbo havia frio mesmo. De noite usava o ponche
por causa da humidade e era agradável deitar-me com uma manta fula por cima com motivos árabes a preto.
Essa manta veio comigo, um dia caiu da janela onde estava a arejar e o meu cão fez dela cama.
Deixei-a estragar e hoje tenho muita pena.
Um abraço