domingo, 8 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P1935: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (8): Pára-quedistas em Gandembel massacram bigrupo do PAIGC, em Set 1968

A deslocalização de um permanente efectivo de pára-quedistas foi fundamental para o surgimento de uma fase de muita maior tranquilidade, que resultou numa acentuada diminuição belicista por parte do PAIGC.

Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (1968/69) > Agosto/Dezembro de 1968

Foto 406 > "A maior quantidade de armamento capturado num patrulhamento dos paraquedistas [, em 7 de Setembro de 1968]"

Foto > 407 > "O resultado de um outro patrulhamento"

Foto 408 > "Mais outro resultado de uma deambulação pára-quedista".


Um aquartelamento finalizado, que acaba por ser abandonado com pouco mais de 10 meses de construção. E no seu último período, foi possível propiciar alguns momentos de lazer, mercê de alguns melhoramentos complementares.

Foto 401 >" Uma visão exterior do aquartelamento"

Foto > 402 > "Outra panorâmica externa de Gandembel"

Foto 403 > "Um dos melhoramentos de interior: a messe dos oficiais".

Foto 404 > "Alguns recantos para confraternização" .

Foto 405 > "Uma gazela morta numa das armadilhas, oferecerá um belo ágape"



Assunto: Uma longa vida em Gandembel suspensa da decisão do Comandante-Chefe. E ante tantas adversidades, num ápice tudo se esfuma da forma mais indigna: o abandono. Gandembel/Ponte Balana, de 4 de Agosto às vesperas do Natal de 1968.


Caros Luís e demais companheiros Tertulianos:

A catástrofe de 4 de Agosto foi demasiado punitiva e voraz, criando um profundo sentimento de perda. E, atendendo às circunstâncias com que nos deparávamos no quotidiano, reconheci na pungente dor do luto, que a Companhia perdia temperamento e vivacidade, com as vontades a fenecerem.


Fotos e legendas: © Idálio Reis (2007). Direitos reservados.


VIII Parte da história da CCAÇ 2317, contada pelo ex-Alf Mil Idálio Reis (ex-alf mil da CCAÇ 2317, BCAÇ 2835, Gandembel e Ponte Balana 1968/69) (1). Texto enviado em 28 de Fevereiro de 200. Continuação (1).



20 de Agosto de 1968: reforço de 2 Gr Comb de Páras (2)

Este desalento, talvez mesmo dilaceração, que parecia propender para a resignação em alguns de nós, não era de bom auspício nesta melindrosa fase em que o PAIGC nos fustigava insidiosa e desmesuradamente.

E porque não se antevia que esta torrente de casos dramáticos pudesse ser sustida, a situação parecia atingir proporções já no limite da sustentabilidade. Sentíamo-nos cada vez mais sós, e enfraquecidos, éramos homens pendentes da incerteza do destino.

Tornava-se urgente inverter esta prostração lânguida e taciturna, que só o Comandante-Chefe, soube ou quis ousar confrontar. António de Spínola, que considero ter sido um dos maiores estrategos da guerra colonial, mas apenas na vertente meramente militar, era um homem fortemente obstinado, e ainda que, com insuficiência no reconhecimento dos díspares contrastes que o chão da Província continha, não conhecedor do poder bélico que o PAIGC detinha e até da situação global das suas próprias forças armadas, faz jogar a última cartada que tinha ao seu alcance.


Incumbe os Pára-quedistas para virem actuar nesta zona, permitindo-lhes que tomassem todas as iniciativas que entendessem como as mais adequadas. E, logo no dia a seguir ao doloroso 4 de Agosto, aterra o seu Comandante de Batalhão [, Ten Cor Pára-Quedista Fausto Pereira Marques (2] ]para se inteirar do que os seus homens viriam a encontrar no interior do aquartelamento de Gandembel.

E, nesse mesmo dia, os subalternos são informados que muito em breve, teríamos ao nosso lado e de forma permanente, 2 grupos de pára-quedistas. E o seu aparecimento surge a 20 de Agosto.

De todo o modo, até à sua vinda definitiva, a Companhia Pára-quedista procurou reconhecer a zona, tomar-lhe o pulso, muito em especial a faixa mais nevrálgica, limitada entre a fronteira e a estrada de Aldeia Formosa para Guileje, fazendo-se deslocar de Bissau em helicópteros, com poisos nas imediações de Gandembel ou Aldeia. Fez mediar um tempo que considerou suficiente para conceber os melhores planos estratégicos a adoptar.

E a partir desse 20 de Agosto, como resultou a participação dos pára-quedistas?

No que nos respeita, creio muito convictamente que a sua acção foi de uma extraordinária valia, revelou-se fundamental para o futuro dos homens da minha Companhia, muito em especial no aspecto anímico, e inclusive conseguiu também criar um clima de muita maior segurança para as demais tropas fixas e móveis, que estavam de algum modo envolvidas com Gandembel.

Indubitavelmente, foi capaz de incutir uma outra serenidade a estes desalentados homens, renovar estados de espírito abalados, sobrepujar contrariedades inúmeras, remoçar réstias de esperança, que se revelaram cruciais no aumento da auto-estima. E esta extraordinária proeza, este feito inigualável, ninguém lhe consegue dar a devida dimensão, tão-só o peso e o testemunho da gratidão dos que o sentiram.

Os pára-quedistas eram, inquestionavelmente, a tropa de elite melhor preparada para este tipo de guerra de guerrilhas, na busca perseverante ao agressor. Os seus elementos eram criteriosamente escolhidos, e após uma cuidada preparação, eram integrados em cada grupo de combate de um modo muito específico, pelo que cada grupo era formado por homens com graus de experiência distintos, e assim um recém-chegado tinha uma fácil inserção na disciplina e no empenho táctico-militares que enformava o grupo.

A presença dos 2 grupos de combate, que se revezavam periodicamente e com uma cadência de ordem mais ou menos quinzenal, e que conviveram connosco mais de 3 meses, também foi fundamental no refortalecimento de uma maior estabilidade, no interior do próprio aquartelamento.


Para além de estarmos mais acompanhados, brotou uma empatia especial entre o pessoal, e recriou-se um outro estádio de segurança. O apoio logístico melhorou de forma bastante substantiva, e começámos a ter mais e melhores víveres, dando azo a que aparecesse um outro tipo de alimentação completamente distinta da de outrora, até complementada por bebidas onde inclusive o afamado vinho canforado quase não faltava.

Foi um período de transcendental importância para a Companhia, sem qualquer margem para dúvidas. E muitos sentimentos agrilhoados foram esconjurados.

Contudo, não se julgue, que Gandembel e Ponte Balana ficaram livres dos ataques e flagelações. Os guerrilheiros do PAIGC continuavam apostados em quererem demonstrar que continuavam presentes, pela sua vontade indómita, a sua persuasão agressiva, a sua garra belicista. Mas, pressentiu-se de uma forma deveras vincada, que o seu comportamento táctico se alterou, com as suas acções a serem bem mais calculadas e cuidadosas, produto de circunstâncias bem adversas, deixando de deambular à vontade, e que lhe refrearam em muito o desmesuramento das suas ambições.


30 de Agosto de 1968: 1 bigrupo destroçado pelos pára-quedistas


O mês trágico de Agosto aproximava-se do fim, com a vinda de Spínola no dia 30. Fá-lo muito provavelmente para registar um acontecimento de grandíloqua façanha, num franco gesto de testemunho, do que se passara na antevéspera.

Os pára-quedistas, logo pela madrugada desse dia de chuva, saem de Gandembel em direcção à fronteira, e mesmo junto desta, detectam a presença de um bigrupo numa situação de inactividade. Circundam-no e desferem-lhe um forte ataque, que o destroça quase por inteiro, e apanham-lhe quase todo o armamento.

E logo, retrocedem a caminho de Gandembel. No entanto, outros grupos de guerrilheiros que estavam do outro lado da fronteira, vêm ao seu encalço, e perseguem acirradamente os pára-quedistas, montando-lhes emboscadas após emboscadas. Estes, com um efectivo diminuto para as circunstâncias que se lhes deparavam a cada momento, ripostaram conforme podiam, causando-lhes mais baixas, mas 2 dos seus briosos militares perdem a vida.

Numa mera operação de patrulhamento, e ante tão-só com apenas 2 grupos de combate em acção, o PAIGC sofre em termos de perda de efectivos, talvez a mais humilhante e significativa derrota desde sempre.

E ao recordar esse dia, vejo um grupo de militares bastante pesarosos, a entrarem em Gandembel, alquebrados pelo peso dos companheiros que tiveram que ser transportados e do armamento capturado. E reconheci mais uma vez, que a guerra que se travava naqueles sítios, desaguava na brutalidade da ingratidão, à custa de vontades indómitas, de porfiados esforços, de abnegações acrisoladas.


7 de Setembro de 1968: a estreia do temível morteiro 120

O mês de Setembro surge entretanto, e na sua 1ª quinzena, o aquartelamento de Gandembel foi sujeito a 2 fortes ataques.

Antes do alvorecer do dia 7, o PAIGC fez-se aproximar, mas a uma distância já relativamente mais afastada (para além da estrada), fortemente armado e empreende uma acção de duplo efeito, primeiramente na base de armamento ligeiro, para fazer incidir depois vários RPG-7 e morteiros 82.

Pela primeira vez, surge um outro tipo de estampido mais forte, proveniente de morteiros, quer na saída após percussão, quer na deflagração em contacto com o solo. Mais tarde, chegaríamos à conclusão que mais uma outra arma se apresentava no arsenal bélico inimigo, chamado morteiro 120.

Uns dias mais tarde, a 11 de Setembro e a partir das 18 horas, o inimigo lança mais um outro ataque, com base essencialmente em lança-rockets. Já em plena noite e próximo ao alvorecer, faz incidir um outro ataque similar ao perpetrado no dia 7, com um maior efectivo e ainda mais incisivo, e com o maior lançamento de sempre de granadas de morteiro 120.

Estes 2 ataques e o forte poder bélico posto em jogo, contêm um nítido sinal de vingança, que felizmente não representaram qualquer dano para os efectivos sitiados. De referir, que o PAIGC se podia certificar facilmente do grau de sucesso que um ataque podia causar, pelo número de helicópteros que vinham a aterrar a fim de procederem às evacuações. E do resultado destas 2 refregas, nenhuma destas aeronaves aterrou. E até este aspecto, beliscava no comportamento e nos objectivos que o PAIGC urdira para esta zona.

Entretanto, já há algum tempo, a partir dos inícios de Agosto, em ataques de curta duração de morteiros 82, vínhamos reconhecendo que as granadas deflagravam cada vez mais próximo das casernas, ou seja, tudo indiciava que a bateria de morteiros parecia ter assestado de vez, a sua pontaria. Nesses 2 fortes ataques, há 3 granadas que caem dentro do aquartelamento, uma das quais em cima de uma caserna-abrigo, sem provocarem quaisquer consequências.

E assim mais 2 novos factos se revelavam, e que causavam um forte motivo de preocupação: a utilização dos morteiros 120 e a incontestada aproximação das granadas do 82. Para quem teve a possibilidade de ver os efeitos desta granada 120, direi que a grande diferença que a distava das 82, é que, para além da sua óbvia potência de deflagração, tinha um poder de penetração enorme e com efeito retardatário. A granada penetrava no solo profundamente, e só então deflagrava, remexendo todo o solo num círculo de um raio de cerca de 3 a 4 metros. Ainda que 2 destas das granadas caíssem dentro do aquartelamento, felizmente sem consequências, julgo que as casernas-abrigo não apresentavam um grau de compactação bastante, para aguentar com este tipo de munições.




PAIGC: pontaria cada vez mais certeira, utilizando postos avançados com rádio


Quanto à aproximação das granadas de calibre 82, viria a ser encontrada a razão para tal, em resultado de mais um patrulhamento dos pára-quedistas, e que teve lugar no dia 15 de Setembro. Um fio condutor, com uma das pontas muito próximo a Gandembel, foi encontrado, e foi sendo enovelado mesmo até à fronteira; foi trazido em 2 grandes rolos. Este fio, servia tão-só para que um elemento avançado que se postava sobre uma árvore de grande porte e que claramente possibilitava uma boa visão do aquartelamento, prestasse informações via rádio-telefone, aos apontadores da bateria de morteiros que estava posicionada em plena Guiné-Conacri, a poucos metros da fronteira.

A argúcia e a sageza do inimigo, comprovavam-se também nestas ciladas ardilosas. Mas o desfeito deste sofisticado propósito, continha em si, mais uma forte ceifada nas suas desmedidas ambições. E o PAIGC, ante todas estas afrontas e ao fazer uso desses ataques de grande envergadura, reconhecendo que as NT não são atingidas, sente que a sua hegemonia vem sofrendo fortes reveses, e começa a denotar medo de a perder, e resguarda-se cada vez mais. Talvez mesmo, retire efectivos para outras frentes, deixando obviamente um contingente para quaisquer eventualidades que pudessem bem surtir.







O nosso destino nas mãos de um homem obstinado, Spínola


E Spínola parecia viver em sincronia com o pulsar das vivências de Gandembel, pois que neste mesmo dia se digna mais uma vez nos visitar. E este posicionamento do Comandante-Chefe causa-me alguma perplexidade. Se, associo os acontecimentos de 4 de Agosto, a uma tomada de posição pelo abandono, será que passados 40 dias, propende para uma outra de cariz bem diferente?

Julgo hoje, que o dossiê Gandembel/Ponte Balana, o agarrou a mão firme, e qualquer destino a reservar, estava suspenso de uma única decisão: a sua.

E a vida em Gandembel continuava muito mais calma e tranquila, com a Companhia na manutenção dos 2 postos e a prestar-lhes todo o apoio logístico; também fazia as suas deambulações, vigiando o Balana e o Changue-Iaia.


Por sua vez, os pára-quedistas continuavam a assumir os seus patrulhamentos, com muita assiduidade, procurando sempre ir ao encontro de eventuais alojamentos do inimigo. E mais algumas vezes se deparou com alguns grupos, causando-lhes acentuadas baixas, capturando-lhe muito e diverso tipo de armamento. Eram militares com objectivos bem claros e precisos, jamais se furtando à luta, firme e persistentemente.

E o PAIGC, suspicazmente, tomou consciência plena desta forma de actuação, e a sua movimentação cada vez mais se coibia. Para além desse enorme ronco de fins de Agosto, outros se sucederam com grande sucesso. A sua presença nesta zona, de um valor militar insuperável, não permitiu facilitismos ao PAIGC, pois rara era a vez que não tinha contactos com o inimigo, sempre em sua perseguição.




8 de Novembro de 1968: o 8º morto da companhia, o Joaquim Alves


Alguém que ouse escrever esta epopeia da presença dos pára-quedistas em Gandembel, porventura das maiores que a guerra colonial conheceu, e julgo que também omitida. Aos seus principais fautores, que foram homens que por completo lhes perdi o rasto, ainda que hoje ouço soar os seus nomes, como elementos da maior referência nas Forças Armadas, como o Bação Lemos, o Avelar de Sousa, o Almeida Martins, o Terras Marques e outros, só para lhes transmitir que a memória dos meus homens permanece acesa.

De todo o modo, o PAIGC queria demonstrar que estava na liça, e de quando em vez, enviava algumas morteiradas, entre as quais algumas de 120 para nos causar maior susto.

Entretanto, chega o dia 8 de Novembro em que falece o 8º elemento da Companhia, o soldado Joaquim Alves, também da freguesia de Seroa, concelho de Paços de Ferreira. O PAIGC desencadeia fortes ataques aos 2 postos fixos, em simultâneo. Gandembel, sofre 4 ataques nesse dia, todos com grande potencial de fogo, onde se salientou um massivo lançamento de morteiros 120.

O Joaquim Alves, que tentava ajudar a retirar um camarada da exígua parada, é surpreendido pela deflagração de uma morteirada 82, e um minúsculo estilhaço penetra-lhe o coração. O outro companheiro, sofre ferimentos ligeiros. E este foi o último grande ataque sofrido no aquartelamento de Gandembel.

E, passaram-se cerca de 2 semanas, sem qualquer flagelação. E neste clima de maior serenidade, os pára-quedistas abandonam a sua permanência efectiva, não deixando contudo de virem desde Bissau, em desempenho de missões por terrenos que tão bem conheciam. Para nós, era fundamental dar continuidade a estas surtidas, pois que nos sentíamos mais amparados.


E o PAIGC, parecia deixar transparecer que Gandembel deixava de ser um dos seus objectivos principais. E ficávamos inquietos e ansiosos, quando deixava passar alguns dias, sem mostrar a sua presença, pois para nós era prenúncio que talvez andassem a gizar uma outra aventura de maior gabarito.


A época das chuvas a chegar ao fim

Na verdade não foi assim. A época das chuvas terminava, e apenas me recordo que no princípio de Dezembro, fomos num espaço de tempo da ordem de 2 dias consecutivos (mais de 48 horas), prendados com inúmeras detonações de morteiros 82, de um modo muito especial, porquanto eram bastantes espaçadas, com despoletamentos intervalados da ordem dos 10 minutos. E até a bateria de morteiros também denotava que o grau de precisão se tinha adulterado.

(Continua)

Até breve. Um cordial abraço do Idálio Reis.

___________

Notas de L.G.:

(1) Mais uma vez chamo a atenção dos nossos amigos e camaradas de Guiné para a importância excepcional deste documento (inédito) que temos vindo a publicar, da autoria do Idálio Reis. Noutro país, já teria sido publicado em livro e seria seguramente um best-seller, e guião de um filme.

O Idálio Reis e os esquecidos mas heróicos sobreviventes de Gandembel/Balana merecem esta homenagem (pública) de Portugal e dos portugueses. Do lado dos guineenses, deve também prestar-se homenagem à persistência, à determinação, ao génio organizativo, à vontade de vencer e à coragem dos combatentes do PAIGC que pagaram um alto preço pela conquista de Gandembel/Balana, posição abandonada pelos portugueses em Janeiro de 1969.

Gandembel/Balana (1968/69) terá sido a mais silenciosa, prolongada e feroz batalha de toda a guerra, preparando o caminho para a fulgurante ofensiva do PAIGC em Maio/Junho de 1973, contra Guidaje, Guileje e Gadamael... O Idálio contou os ataques e flagelações neste curto tempo (para eles, um eternidade!) em que os homens-toupeira da CCAÇ 2317 construiram Gandembel/Balana, de raíz, com pás e picas, e defenderam-na, com unhas e dentes: mais de três centenas e meia!...

O nosso blogue faz o que pode e deve para dar a conhecer este documento (ou melhor: podia e devia fazer mais pela divulgação deste documento que tem aparecido com alguma descontinuidade ou irregukaridade). Trata-se de um texto memorialístico, extenso, de grande riqueza humana, sociológica e historiográfica, escrito por uma homem dotado de excepcional capacidade de observação e de análise, mas também de serenidade e humanidade (que não mistura a razão e coração), o nosso camarada Idálio Reis, e que é acompanhado de surpreendentes imagens que falam por si. Julgo que a escrita e a fotografia ajudaram o Idálio a sobreviver, fisica e mentalmente, ao pesadelo quotidiano de Gandembel/Balana.

Um dia quando formos à Guiné-Bissau, camaradas, temos a obrigação de lá pôr um ramo de flores, em Gandembel e em Balana, aí onde tantos homens, de um lado e de outro, sofreram e morreram (Do lado do português, pode perguntar-se: Why? Porquê ? Para quê ?).

Se não pudermos lá ir, iremos no mínimo pedir ao Pepito que o faça por nós, e que lá deixe numa árvore esta mensagem... E que não se esqueça de Gandembel/Balana, integrando-as no seu/nosso Projecto Guiledje.

Um forte e comovido abraço para o Idálio Reis e para os demais homens-touopeira, os homens de nervos de aço, da CCAÇ 2317, onde quer que eles estejam.


Vd. posts anteriores:

16 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1530: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (1): Aclimatização: Bissau, Olossato e Mansabá

9 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1576: Fotobiografia da CAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (2): os heróis também têm medo

12 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1654: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (3): De pá e pica, construindo Gandembel

2 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1723: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (4): A epopeia dos homens-toupeiras

9 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1743: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (Idálio Reis) (5): A gesta heróica dos construtores de abrigos-toupeira em Gandembel

23 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1779: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (6): Maio de 1968, Spínola em Gandembel, a terra dos homens de nervos de aço

21 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1864: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (7): do ataque aterrador de 15 de Julho de 1968 ao Fiat G-91 abatido a 28

(2) Batalhão de Caçadores Pára-quedistas nº 12 > Vd. respectiva página na Net e a sua actuação na Guiné:

(...) "A partir de meados de 1968 e com o General António Spínola como novo Comandante-Chefe na Guiné, o modo de emprego dos Pára-quedistas foi alterado.

"As Companhias do BCP passaram a integrar os então criados Comandos Operacionais (COP) com outras forças militares, sob o comando de um oficial superior. Muitas vezes oficiais Pára-quedistas desempenharam essas funções. As forças eram então empenhadas, durante largos períodos, conjuntamente com as Unidades de quadrícula do Exército. As companhias do BCP 12 foram assim muitas vezes atribuídas de reforço às unidades instaladas junto às fronteiras com o Senegal e a Guiné-Conakry.

"Foram inúmeras as operações desencadeadas neste período: a operação JUPITER, com 4 períodos no corredor de Guileje, no âmbito do COP 2, a operação TITÃO com o COP 6, a operação AQUILES I, com o CAOP 1, a operação TALIÃO, com o COP 7, entre tantas outras, com bons resultados.

"Merece particular destaque a operação JOVE, realizada em Novembro de 1969 com forças das CCP 121 e 122. No dia 18 de Novembro a CCP 122 capturou o Capitão Pedro Rodriguez Peralta, do Exército Cubano, comprovando a ingerência de forças militares estrangeiras na guerra na Guiné.

"Apesar das CCP continuarem a ser atribuídas aos COP que se iam activando consoante as necessidades, o Comando do BCP esforçou-se por continuar a levar a cabo algumas operações independentes, actuando como força de intervenção em exploração de informações obtidas e seria neste tipo de operações que se obtiveram alguns dos melhores resultados do Batalhão.

"Apesar dos esforços a situação na Guiné continua a degradar-se. A pressão que os guerrilheiros vinham exercendo sobre os aquartelamentos no Sul do território começou a dar resultados. Em Maio de 1973 os guerrilheiros desencadeiam fortes ataques a Guileje obrigando mesmo ao abandono do aquartelamento dos militares do Exército. Nas proximidades, Gadamael Porto fica em posição delicada com flagelações frequentes de armas pesadas. A 2 de Junho as CCP 122 e CCP 123 são enviadas para Gadamael, seguindo-se no dia 13 a CCP 121. O próprio comandante do BCP 12, Tenente-Coronel Araújo e Sá tinha assumido o comando das forças que com a guarnição do Exército constituiram o COP 5. A posição de Gadamael Porto é organizada defensivamente com abrigos, trincheiras e espaldões, simultaneamente são desencadeadas acções ofensivas sobre os guerrilheiros. A resistência e a determinação das Tropas Pára-quedistas acabaram por surtir efeito e o ímpeto inimigo foi quebrado - Gadamael Porto não caiu. A 7 de Julho as CCP 121 e 122 regressam a Bissau e a 17 é a vez da CCP 123, a operação DINOSSAURO PRETO tinha terminado" .(...).

2 comentários:

Anónimo disse...

Sr. Idálio: Enfim, não percebo nada de tropa. Nasci já depois depois do 25A... Mas gostava de saber qual era a importância estratégica dessa posição que o senhor defendia no sul da Guiné, com os seus homens alguns dos quais pagaram caro com a vida (oito, pelo menos, até aqui). E por que é que o General Spínola vos obrigou a aguentar essa posição que se sabia ser insustentável? Ele podia ser obstinado, mas não seria burro. Você mesmo o considera um grupo cabo de guerra. Um jovem paisano, que admira o sacrifício da geração dos seus pais).

Anónimo disse...

Eu queria dizer "grande cabo de guerra" (é assim que se diz dos generais, não é?). Já agora: chegou a falar com ele, pessoalmente, nesse tal sítio, Gandembel ? Vê-se que há em si, em relação a ele, um mix de amor-ódio, de admiração-repulsa... Estarei certo ? Celso, o jovem pós 25A.